Sinopse
O
livro Os Humarantes, é uma
compilação de três episódios âncoras independentes e complementares:
Episódio I – Navan: O Despertar dos
Deuses (14 capítulos) (2009)
O personagem principal é um jovem
astro-biólogo que retorna do espaço, trazendo resultados de experimentos de
laboratório e de coletas por ele realizadas em cavernas lunares. Com a ajuda de
outros amigos cientistas e militares que vivem e trabalham em profundas
estações submarinas, eles se deparam com um curioso fenômeno envolvendo
partículas que foram retiradas das amostras lunares. Uma posterior investigação
com outros eventos naturais que parecem interligados, os leva a um inusitado
contato com uma civilização avançada e semelhante aos seres humanos, co-existindo
em segredo no interior de montanhas em regiões abissais dos oceanos. Após o
impacto que essa descoberta provoca na sociedade, eles se deparam com
declarações que mudará o destino da humanidade e de tudo que se refere às
origens da vida na Terra e ao seu futuro. O que eles não sabiam, é que uma poderosa ameaça retornava ao planeta.
Episódio II - A Revelação (4 capítulos)
(2011/2012)
Este episódio se apresenta como um
importante elo na construção dos mistérios, que aos poucos vão sendo revelados
mediante uma série de eventos temporais. Conta a história de um povo
extraterrestre, de vida simples e que faz uso de tecnologia rudimentar para
sobreviver. Não obstante as suas limitações, a cultura desse povo está
diretamente associada a antigas lendas, que se referem as suas prováveis
origens e transmitida por gerações de forma oral e pictográficas. O personagem
principal é achado desmaiado em uma planície freqüentada por caçadores e
coletores de sementes e frutos. Ele é reconhecido pelos anciões como um mensageiro
de um clã vizinho e experimenta o drama de ter perdido a memória. Uma
conspiração que envolve seres de aparência humana e intimamente ligados a uma
antiga cultura do Planeta Terra, se esforçam contra o tempo para evitar que ele
e seu povo sejam mortos. Os anciões decidem pedir a ajuda de um velho e
enigmático eremita que vive no alto das montanhas geladas e com a participação
de outros três personagens, conseguem, com coragem e humor, enfrentar desafios
e selar uma amizade que será novamente vivenciada numa futura existência.
Episódio III - A Luz de Áxis (20
capítulos) (2013)
A raça humana atingiu o seu apogeu como
civilização, mas até isso acontecer foram necessários extremos sacrifícios e um
deles foi abandonar o mundo em que vivia: O Planeta Terra.
Também
embarcou nessa viagem, todo o conhecimento cultural, científico e genético
disponíveis. Em uma pequena galáxia distante milhões de anos luz, um novo lar
se apresenta como uma segura esperança de futuro. Não demorou muito para que os
humanos descobrissem que nessa remota região do universo, eles não estavam
sozinhos. Com o tempo, uma vez estabelecida em vários mundos, a supremacia dos
humarantes, como é conhecida a antiga raça humana, é reconhecida pelos
habitantes dos sistemas planetários e galáxias vizinhas. Um pacto diplomático,
com objetivo de facilitar acordos comerciais e conhecimentos tecnológicos, foi
firmado como muitos governos e posteriormente, serviu de base para a criação de
uma federação. Os principais objetivos era manter a ordem e defesa, apaziguar
conflitos, conservar e auxiliar mundos e seres em desenvolvimento, respeitando
o curso natural de suas evoluções. Mas uma antiga ameaça volta a atormentar os
humarantes. Dessa vez mais forte, numerosa e com a participação de seres com
estratégias e habilidades jamais imaginadas por eles. A intenção do inimigo era
matar, escravizar e punir os humarantes, simplesmente para atrair a atenção dos
deuses cocriadores e seus aliados. Era preciso lutar e superar as limitações,
confiar na tecnologia e no próprio instinto de sobrevivência, numa batalha que
seria a última de sua história.
Episódio I
O DESPERTAR DOS DEUSES
Capítulo
1
A NOVA ERA
Devido às alterações climáticas, o Planeta
Terra esfriou, e grandes partes dos seres vivos que nele habitavam foram drasticamente
reduzidos e extintos. A população de humanos é de menos de dois bilhões de
pessoas, que se uniram com a formação de um conselho global, iniciada há quase
três séculos, representada por líderes de todos os povos sobreviventes dos
cinco continentes.
O
Conselho dos Clãs, como é conhecido, decidiu promover esforços no
desenvolvimento das tecnologias e bens científicos, preservação da memória
cultural e natural de todo o planeta.
Extintos também, foram as divisões
geopolíticas, os sistemas monetários, jurídicos e de consumo. A humanidade teve
que aprender a conviver com as diferenças que tanto causaram intolerâncias,
guerras e sofrimentos. Este aprendizado gerou
uma cultura de paz e o surgimento uma nova civilização, unida por um único
ideal: garantir a sua existência.
Durante os vários séculos que sucederam o
início da Era Glacial, centenas de cidades foram construídas em diversas
regiões do Planeta Terra, sendo em sua grande maioria, semi-subterrâneas e
interligadas por túneis. Destacam-se também, as construções de algumas estações
experimentais no fundo dos oceanos e na Lua.
Nesta sociedade, adota-se um criterioso
controle de natalidade, uma vez que a longevidade e a qualidade de vida das
pessoas superaram as expectativas.
O avanço da tecnologia foi a principal
responsável pelo desenvolvimento da ciência em suas mais variadas
especialidades. Foi dada também, especial atenção à biodiversidade ainda
existente no planeta. Muitos animais e plantas são observados, estudados e
preservados, sejam em ambientes artificialmente projetados chamados de
biosferas ou em estado selvagem.
Dos grandes avanços tecnológicos, três se
destacaram: robótica, transporte e espacial. A robótica participa de todas as
atividades, principalmente as que expõem diretamente o ser humano em trabalhos
que exijam precisão ou que possam causar riscos de morte. São também comuns em
ambientes inóspitos, desconhecidos ou monitorados.
No convívio com as pessoas, os robs, como
são chamados, são dedicados guardiões, trabalhadores e companheiros, sendo
muitos deles carismáticos e famosos.
O transporte alcança a sua magnitude em
superar as distâncias com o menor tempo e segurança, favorecendo o
deslocamento, a manutenção e a integração entre as cidades e estações. A
espacial contribui entre outras coisas, para um melhor conhecimento do
universo, desenvolvendo pesquisas e explorações avançadas no Sistema Solar.
Com exceção dos transtornos provocados
pela fúria da natureza como terremotos, maremotos, inundações e instabilidade
do clima, a humanidade convive em perfeita harmonia.
Apesar de cultivar a ciência e a
tecnologia como prioridades, outros grupos se dedicam as artes, a literatura, a
filosofia, a arquitetura, as práticas esportivas e viagens de lazer.
A lingüística é curiosa, os clãs
conservaram seus antigos idiomas e dialetos, apesar de ter sido criada uma
linguagem unificada de caráter mais prático e público. São comuns as pessoas de
Clãs distintos, falarem entre si em suas próprias línguas e se compreenderem
sem ajuda do copy, um aparelho que facilita a tradução simultânea, ou dos robs,
que conhecem todos os idiomas, sejam os extintos, tradicionais ou
contemporâneos.
Um avançado sistema de comunicação, conhecido como Rede Humanity, mantém
todos os clãs interligados e informados de tudo o que acontece, com notícias
que podem ser acompanhadas em tempo real. Com raras exceções, não existe sigilo
de informações, e o sistema se encarrega de fornecer detalhes de qualquer
evento, seja referente às previsões e mudanças do clima, até os nascimentos de
seres vivos obtidos com os recursos da engenharia genética, sendo este último,
um dos mais apreciados pela humanidade. Recriar espécies de animais ou vegetais
extintos e conservar os seus códigos genéticos, é motivo de comemoração. Outro
assunto, de muita audiência, é sobre as pessoas dos diversos clãs que estão
motivadas em serem voluntárias nas viagens de exploração para outros mundos, já
existindo inclusive, formações de colônias nos Planetas Marte e Ceres.
Capítulo
2
RETORNO A
TERRA
Um cientista, natural da Cidade de Palmeira dos Ventos, povos da antiga
América do Sul, e aos 30 anos de idade, o astro-biólogo de nome Dr. Asa, do Clã dos Abas, retorna da Lua, mas precisamente
da Estação Lunar Meteora, construída no interior da Cratera Daedalus, trazendo resultados de experimentos de
laboratório e de coletas por ele realizadas em caverna lunares.
Havia mais de seis meses que o Dr. Asa se dedicava em trabalhos de
campo, e estava ansioso para retornar ao Planeta Terra. Planejava concluir as
suas pesquisas e descobertas, apresentá-las a comunidade científica, e
principalmente rever a família e os amigos.
Avisado de que o transporte com destino ao Planeta Terra o aguardava, o
Dr. Asa seguiu para a plataforma de desembarque. Ao chegar à nave, ele foi
acomodado por robs auxiliares de vôo em uma cápsula especial, usada em viagens
de deslocamentos rápidos no espaço sideral.
Minutos antes de seguir viagem, o Dr. Asa recebeu um comunicado de que
deveria atender um chamado de visita à Estação Oceânica Niflheim, na região de Norskehavet.
Ao confirmar a mensagem liberando a partida da nave, a mesma se ergue do
solo lunar e lentamente segue para fora dos limites da gravidade, precipitando-se
para o espaço em ritmo contínuo e acelerado em direção ao Planeta Terra. Em
outras épocas, esta viagem levaria alguns dias, no entanto os 384.405
km que separa o Planeta Terra da Lua, são realizados em apenas 1 hora.
Após ajustar o ângulo de reentrada na
atmosfera terráquea, o Comandante da Nave Daedalus I, Arcturus,
44 anos, do Clã dos Sem, povos do antigo
Oriente Médio, solicita a Estação Oceânica Niflheim para providenciar o
transporte marítimo para conduzir o cientista que chega da Lua.
Avistar o Planeta Terra do espaço sempre encanta, e com o Dr. Asa não é
diferente. Desde criança, ele sonhava em fazer parte da equipe lunar, revelando
a sua vocação para ciências pouco convencionais e de difícil análise. Porém,
uma certeza deixa o jovem astro-biólogo à frente de desvendar um mistério, que
poderá mudar o destino da humanidade e de tudo que se refere às origens da vida
na Terra e ao seu futuro.
A raça humana no início da Era Glacial, convivia com a possibilidade de
ser definitivamente extinta, de não ter opções de fuga, mediante as incertezas
e distantes possibilidades de encontrar planetas favoráveis à vida, ou pior, de
não conseguir chegar a tempo devido aos poucos recursos tecnológicos e das
privações inevitáveis de uma longa viagem ao desconhecido.
Na Estação Oceânica Niflheim, um antigo amigo do Dr. Asa o aguardava.
Trata-se do Dr. Sargaço, do Clã dos Aegir,
da Cidade de Midgard, povos da antiga
Europa.
Aos 53 anos, o Dr. Sargaço
se dedica à bioquímica, desenvolvendo estudos nas regiões abissais dos oceanos.
Um pouco atrapalhado quando tem a sua curiosidade aguçada, ele tem realizado
importantes pesquisas. Mas o que se destaca neste cientista é o bom humor, ele chegava
até em sugerir os nomes mais engraçados para as poucas crianças que nasciam,
mas nunca conseguia, pois os nomes próprios ficam a critério das próprias
pessoas, que escolhem como querem ser chamadas.
Os nomes são identificados quando o jovem já define em estudos
vocacionais, em que atividades pretendem seguir na Aldeia Global. Ao escolher o
nome, completa-se um ritual no clã de origem que foi sendo praticado ao longo
dos séculos, estabelecendo-se naturalmente, incorporando-se à nova cultura
humana. Essa tarefa de dar nomes aos filhos nos tempos antigos era privilégio
dos pais.
A origem de não adotar sobrenomes, surgiu devido às primeiras recriações
de importantes grupos de DNA humano,
clonados dos corpos encontrados
conservados em solos congelados. Foram modificados geneticamente, para ampliarem
os sentidos naturais e não desenvolver doenças.
As incertezas das origens étnicas destes clones, de não haver vestígios
em seus códigos genéticos de memória social da matriz humana que os gerou, os
sobrenomes ancestrais foram subtraídos, facultando ao “órfão” clonado o direito
de escolha do seu nome.
Posteriormente, por um gesto de solidariedade coletiva, foi adotado por
toda a humanidade, usando-se apenas um nome próprio com a citação do clã a qual
pertence ou escolheu.
Algumas vezes, foi possível identificar semelhanças genéticas com grupos
de diversos clãs, inclusive físicas. Mas o ser clonado, apesar de extremamente
amado, aceito e respeitado por todos os clãs do mundo, não possuía uma raiz
cultural e familiar tradicional que o legitimasse.
Com o passar dos anos, foi criada uma assembléia de “órfãos”, que
aspirava a criação de um clã e uma referência territorial. O pedido foi aceito,
havendo nesta época a disponibilidade de se implantar uma nova colônia fora do
Planeta Terra. A notícia provocou euforia entre os “órfãos”, que em sua grande
maioria decidiu que esta nova colônia fosse habitada por eles. Então, com o
apoio e sugestão do Conselho dos Clãs, foi construída a Colônia de Nathan no
Planeta Ceres, localizado entre Marte e Júpiter, povoada por dezenas de novos
clãs, sendo o Clã dos Adâmicos o mais antigo e tradicional. Surgiu assim, mais
uma nova identidade cultural, suprindo também um sentimento de “vazio” que
havia entre os “órfãos”, principalmente em relação à ausência de
territorialidade própria que perdurou durante séculos. A Colônia de Nathan, antes construída e habitada
por robs, foi a terceira experiência bem sucedida da presença da raça humana
fora do Planeta Terra, sendo posterior a Marte e a Lua.
O trabalho do Dr. Asa e da sua equipe, está relacionado com uma
tecnologia que coleta vestígios de DNA em solo terráqueo, no qual foi possível
recriar seres vivos, inclusive humanos. No entanto, não era compatível com a
pesquisa em território lunar, devido às bruscas alterações de temperatura e
pelo conceito da não sobrevida destes ácidos.
Um novo aparelho foi desenvolvido pela equipe de engenharia do Dr. Asa,
adaptado para coletar, analisar e identificar as mais ínfimas estruturas
microscópicas até então, nunca utilizado na Lua.
Os primeiros testes indicavam que além dos componentes já conhecidos na
geologia lunar, existiam alguns elementos desconhecidos de carbono orgânico
diamantificado, cujo interior sugeria a presença de outros compostos.
O desenvolvimento de novos experimentos será realizado em laboratórios
biosféricos no Planeta Terra, uma vez que, segundo a teoria do Dr. Asa, haveria
um possível indício de alteração destes elementos. No entanto, tudo ainda
estava no campo da especulação, mas com fortes razões para se investigar.
Era fim de tarde quando o Dr. Asa chegou à região de Norskehavet,
podendo avistar emergido, o submarino Niflheim I. Ao desembarcar, o cientista foi recebido por um
pelotão de robs acompanhados pela Capitã Iara,
25 anos, do Clã dos Nü Wa,
Cidade de Shen Nong, antiga Ásia.
As formalidades na nova sociedade humana são mais evidentes em
cerimônias religiosas e nos rituais dos nomes. A liberdade de expressão e as
manifestações de cordialidade e afeto são espontâneas entre as pessoas, sejam
desconhecidas ou amigas. No caso do Dr. Asa e da Capitã Iara, seus sentimentos
já superaram o campo da amizade. Ambos vivem uma paixão mal resolvida e
solitária devido a dedicação ao trabalho, que apesar dos mundos opostos em que
passam a maior parte do tempo, a lua e o oceano, os seus planos de uma vida a
dois sempre são adiados.
A Capitã Iara vai correndo ao encontro do Dr. Asa. Eles se beijam e
abraçam saudosamente. O vento forte e o frio intenso abreviam esse esperado momento,
quando um soldado rob se aproxima indicando o caminho para o interior do
submarino, que submergiu minutos após a decolagem do Daedalus I.
Conduzindo o Dr. Asa pelas mãos, a Capitã Iara segue para acomodações
mais confortáveis e discretas e lhe oferece um chá. Sentados lado a lado,
observam a paisagem marinha através da transparência do mezanino.
- Que bom que você voltou. Estava com saudades.
Com um sorriso maroto, o Dr. Asa responde:
- Ainda bem que Sargaço solicitou a
minha presença!
A Capitã Iara retribui com um
sorriso e seus olhos brilhavam de satisfação.
- Ele é um bom amigo e gosta quando
estamos juntos! Mas na verdade, Sargaço descobriu algo do seu interesse!
- Você sabe o que é? – pergunta o Dr.
Asa.
- Temos poucas informações. Sargaço está
acompanhando as explorações. Descobriram um compartimento nas Montanhas de
Netuno, que tudo indica ter sido construído por outra civilização.
- Pelos ancestrais?
- Achamos pouco provável.
- Quanto segredo. Como ele está?
- Está bem. É um incansável. Vez ou
outra realiza explorações fora dos limites da estação, volta para o laboratório
e ainda conserva o senso de humor para as primeiras horas do dia seguinte. Você
havia me dito que iria tirar algumas semanas de folga?
- É verdade! Sei que combinamos fazer
isto juntos. Mas descobrir algo que não pode ficar para depois.
- Do que se trata?
- Encontrei vestígios de carbono
orgânico, minúsculos fragmentos de diamantes.
- Estes fragmentos são encontrados em
meteoros, com certa freqüência.
- Sim. Mas estes são diferentes!
Possuem combinações protegidas no núcleo como sementes prontas para germinar.
Preciso fazer testes em terra.
A Capitã Iara o abraça e fala com a voz animada:
- Você é um homem de sorte. Amanhã já
estou de folga e vou colar em você como um peixe-piloto.
- Que tal como um polvo? – sorrir.
A descontração do casal é interrompida
quando é anunciada a aproximação da Estação Oceânica Niflheim, em profundas
regiões abissais. Tudo é muito escuro, mas por pouco tempo. O Dr. Asa se empolga.
- A visão da
estação nas profundezas do oceano é algo impressionante!
A capitã não perde tempo em responder.
- Para mim, a
melhor visão do universo é você!
O Dr. Asa retribui com um olhar carinhoso.
Existem algumas semelhanças da arquitetura
das estações submarinas com as estações instaladas no espaço. Em pouco tempo, a
tripulação começa a vislumbrar belos feixes de luzes que saem das montanhas,
como se estivessem iluminando o caminho como um farol e dando as boas-vindas. O
submarino também se ilumina, respondendo com outros feixes de luzes, um
verdadeiro espetáculo no fundo do mar.
Ao desembarcarem na estação, eles são recepcionados pela Comandante Ondina, 35 anos, Clã dos Germanvs, antiga Europa, acompanhada do iminente cientista Dr.
Sargaço, sempre com
um sorriso contagiante.
- Asa! Que bom que está
de volta! Soube que saiu de férias?
- Olá Sargaço! Minha
folga é de poucas semanas, você sabe como é difícil para mim ficar muito tempo
submerso.
- Vamos lá! Faz muitos meses que não dou um abraço no meu velho amigo!
Seja bem-vindo ao mundo dos peixinhos!
- Você conseguiu?
- Sim! Finalmente
resolvemos o problema da aversão à pressão, mas precisamos de novos testes. No
momento encontram-se no campo experimental na área externa, te mostro depois.
- Sá! Parabéns! Você é o mestre da persistência!
- Não precisa agradecer.
Essa é a minha diversão, lembre-se que somos da mesma escola de malucos – sorrir.
- E quanto aos seres
humanos? Quando poderemos nadar livremente em águas profundas? – pergunta o Dr.
Asa.
- Bem! Como você sabe,
precisamos de voluntários!
- Não me olhe desse
jeito. Sabe que eu não funciono bem no fundo do mar.
- Sei disso, amigo. A pressão
submarina não lhe faz bem. Trouxe o material?
- Sim! Já foi
transportado para o seu laboratório, espero que lhe seja útil.
- Com certeza será! A
gravidade zero faz maravilhas nas nossas combinações.
- Sá! Trouxe algumas amostras
coletadas no solo lunar. São partículas de carbono em sua maioria e um composto
de substâncias microscópicas. Poderia solicitar a sua equipe para evoluir
nestas análises?
- Claro, meu amigo! Você
sempre procurando por sinais de vida no espaço!
- A origem da vida na
Terra, sempre será um mistério a ser desvendado.
- E se depender de mim,
será! Está com fome?
- Um pouco, qual é o
cardápio?
- O seu predileto! Fiz
com capricho, vamos! Acompanhe-me, temos muito que conversar! Ah, falando nisso
eu já te contei a piada do tubarão banguela?
- Já sim, amigo! – sorrir.
O Dr. Asa olha para a Capitã Iara, que
neste momento conversa discretamente com a Comandante Ondina ao lado de outro
oficial que chegou no dia anterior.
- Viu como a vida marinha
está deixando a sua amada mais bonita?
- Percebo uma melancolia
em seus olhos! – diz o Dr. Asa.
- Claro! A mulher quer
casar e quem sabe ter um filho, enquanto você fica saltando na lua!
- Sá! É por pouco tempo,
sabe disso! Não tivemos uma oportunidade como a sua de trabalhar no mesmo lugar
da pessoa que gosta.
- Eu estou brincando, não
borbulha! Mas você tem razão, estamos sempre juntos e compartilhamos o mundo
submarino! Uma maravilha!
- Ondina é uma mulher
incrível Sá! E você também é um homem de sorte!
- Somos, somos sim! Homem
do espaço!
O Dr. Sargaço envolve o braço sobre o
ombro do amigo e segue para o refeitório da estação.
Houve uma pequena confraternização com
toda a equipe do Dr. Sargaço e conversaram bastante sobre os progressos
alcançados nas pesquisas e principalmente pela descoberta misteriosa nas
Montanhas de Netuno.
- Está gostando da noite
abissal?
- Sa! Não me faça rir,
que noite? Estamos no fundo do oceano, aqui é sempre noite!
- Assim como o espaço?
- É! mais ou menos! Bom!
Vou me recolher, sendo assim, “boa noite!”.
- Boa noite Asa! Amanhã
terá o dia todo de passeio pelas montanhas, serei seu guia de turismo!
- Tudo bem! “O dia todo!”
– diz o Dr. Asa, resmungando baixo.
Em suas acomodações, o Dr. Asa
descansa da sua jornada e já está quase adormecendo quando é despertado por um
beijo suave da Capitã Iara.
- Dormindo, meu querido?
- Apenas relaxando um pouco!
O Dr. Asa olha para uma janela escura e
senti falta de ver o infinito e as estrelas que está acostumado em admirar da
estação lunar. Pensava como deveria ser difícil para a Capitã Iara a vida
naquela estação submersa, como são dedicados e entusiasmados todos que ali
trabalhavam.
- Tenho uma surpresa! – diz
a capitã.
- É? Qual?
- A comandante já liberou
minha licença!
- Ah! Isso é muito bom!
- Então! Agora estamos
juntos! – disse a Capitã Iara com sensualidade, apagando a luz do aposento.
Em outras acomodações, o Dr. Sargaço e a
Comandante Ondina conversam descontraidamente e aos risos.
- Sá! Suas piadas estão
cada vez mais picantes!
- Falando em picante,
tenho uma receita nova de um prato fantástico: Manjar das Sereias!
- Verdade? De todos os
seus talentos, este de chefe de cozinha é o melhor! E quando é que vou provar
esta iguaria?
- Assim que o apaixonado
casal for para superfície.
- Realmente! Eles formam
um belo casal. O que fará amanhã? – pergunta a Comandante Ondina.
- Vou com Asa e Iara para
as Montanhas de Netuno.
- Se o conheço bem, Asa
vai ficar muito entusiasmado.
- Sim! Diz respeito ao
trabalho dele, tenho certeza que aquilo não é desse mundo.
- Tenha cuidado meu
querido, é algo desconhecido que não sabemos seus efeitos!
- Tomei todas as
providências! Por isso não segui adiante com a investigação sem a presença de
Asa! Além disso, os robs estão realizando um excelente trabalho! Em breve
estaremos famosos no noticiário da Rede Humanity!
Risos,
carinhos, e outra vez, mais uma luz se apaga na Estação.
Capítulo 3
O REINADO DAS ÁGUAS
Após horas de um sono revigorante, o Dr.
Asa desperta, e de sobressalto toma um susto. Sentando na cama de frente para
uma grande janela, observa uma parte da paisagem escondida nas profundezas do
oceano abissal. Uma luz tênue e agradável, idêntica ao amanhecer, ilumina todo
o cômodo. Pequenos peixes coloridos nadam junto à janela. Ao longe, avistam-se
alguns paredões de montanhas e animais estranhos cruzando um vasto vale. O Dr. Asa
olha de lado e percebe que a Capitã Iara não se encontra, levanta-se e vai até
janela. O Dr. Sargaço entra no quarto esbanjando bom humor.
- Bom dia homem do espaço! Que cara é
essa? Não dormiu bem?
- Bom dia Sá! Mas o que é isto?
- Isto meu caro amigo! É
o nosso dia! – gesticulou o Dr. Sargaço, abrindo os braços em frente da janela,
cheio de orgulho.
- Como conseguiu? – pergunta
o Dr. Asa.
- Bioflorescência!
Avançamos muito neste campo! Numa biosfera da superfície, foram desenvolvidas
pesquisas semelhantes com bactérias que atacavam insetos e os faziam brilhar,
atualmente tem sido utilizado para várias atividades.
- Fantástico! Até onde
vai?
- A extensão atinge um
raio de três quilômetros, poderíamos ampliar a luz, mas não queremos perturbar
a fauna abissal.
- É possível ver alguns
animais maiores?
- Claro! Aparentemente as
luzes os deixam curiosos, pelo menos nos menos sensíveis. Esta luminosidade
contribui para não alterar muito os ciclos hormonais dos humanos nas estações
submersas, além de dar a idéia de tempo, pois está em sintonia com a luz da
superfície!
- Ela fica mais intensa
ao passar do dia?
- Ainda não. Ela é uma
luz fria, mais podemos diminuir e lhe proporcionar um belo entardecer - risos.
- Sá! Esses são os seus peixinhos?
- Você é muito observador homem do
espaço! – diz o Dr. Sargaço com uma ironia cômica.
- Sá! Por que eles nadam junto ao
vidro da janela?
- Na verdade amigo, o controle de
pressão que permite a vida destes peixes aqui não foi orgânico e sim no espaço
físico, a exemplo deste em que vivemos aqui dentro. Estes peixes são de origens
tropicais, vivem em corais de águas rasas e lá fora só podem nadar até 5 metros
de extensão a partir daqui! A cada metro existe um intervalo de pressão de
oxigênio puro, que resumindo, funciona como uma mola hidráulica. Estamos
fazendo alguns ajustes.
- Quer dizer que é uma barreira
invisível de pressão?
- É isso mesmo! E os seres abissais
também não podem penetrar.
- E quanto à questão dos humanos e de
voluntários? Acho isso bastante arriscado.
- Não precisa. Eu mesmo testei. A
Comandante quase vai à loucura! Podemos passear a vontade neste corredor pela
plataforma. É como se fosse um destes aquários oceanográficos que as pessoas
costumam freqüentar.
- Sá! Você é um gênio!
- Quem sabe um dia eu não consiga
fazer isso na sua adorada Lua. Já pensou? Um belo dia cheio de pássaros
cantando na sua janela? – explode em gargalhadas.
- Não ouso duvidar. Você viu a Iara?
- Estava logo cedo com Ondina. Estão
passando o comando do submarino Niflheim I para outro oficial recém chegado. Sua garota está
livre. Então! Vão passar as férias em Palmeira dos Ventos ou Shen Nong?
- Sá! Você não me chamou aqui para
mostrar apenas esse belo pôr-do-sol não é?
- Relaxe! Claro que não! Tudo não
passa de uma série de coincidências favoráveis que chamo de sorte.
- Sorte? – o Dr. Asa abre um largo
sorriso.
- Isto mesmo sorte! Não é todo dia
que você encontra numa mesma visita uma linda e apaixonada garota de olhos
puxados, amigos prediletos, um belo amanhecer nas profundezas do oceano,
peixinhos coloridos alegrando a sua janela, um delicioso café da manhã feito
com as sobras do seu prato predileto do último jantar e...
- E...
- Um mistério incrível! – fala o Dr.
Sargaço com voz baixa e aproximando-se do amigo.
- Que mistério?
- Não quis divulgar a notícia sem
antes conferir com você e ela. Que agora, não precisa se preocupar com o seu
posto.
- Como assim?
- Quero dizer que Iara pode está em
nossa companhia nesta investigação.
- Nas Montanhas?
- Sim! Vou te contar depois do café!
Está com fome?
- Um pouco!
- Então! Vamos fazer o que a vida tem
de melhor, comer bem! E depois iremos ao laboratório! Vamos se apronte! Estarei
aguardando no salão! – ao sair do cômodo, o Dr. Sargaço retorna e olha para o
Dr. Asa e pergunta com um semblante de dúvida no rosto:
- Asa! Eu
já te contei a piada do peixe lanterna que também saiu à procura de um homem?
- Não Sá! Essa é nova,
pelo menos na versão.
- Tudo bem! Conto depois! – risos.
Posteriormente, todos estão juntos no refeitório apreciando o café da
manhã.
O Dr. Sargaço orienta a sua equipe em priorizar as análises iniciais do
material trazido da Lua pelo Dr. Asa. A Comandante Ondina ordena ao posto de
desembarque que prepare um módulo submarino que será pilotado pela Capitã Iara.
O Dr. Sargaço após se refestelar pergunta:
- Asa meu querido! Como está o Projeto Halley?
- Pelo visto, você não
assiste regularmente a Rede Humanity.
- Então! Sabe como é!
Muito trabalho! Não fico com a cabeça no mundo da lua!
- O cometa se aproxima, e
se tudo correr bem, a equipe chegará em algumas semanas! Continuam na
retaguarda do cometa e acho que desta vez eles não vão dar outra volta no
Sistema Solar – explica o Dr. Asa.
- De volta a velha Terra?
Incansáveis robs! Vão ficar surpresos em saber que os atuais estão bem mais
sofisticados! – comenta a Capitã Iara.
- Há quanto tempo estão
no espaço? – pergunta o Comandante Ondina
- Vai completar 228 anos. Graças a
este projeto conseguimos entender muita coisa sobre Sistema Solar, vai permitir inclusive, que a raça humana em
um futuro não muito distante possa estender suas fronteiras para além da Nuvem de Oort. Agora Sá! Você pode contar o real motivo da
minha vinda aqui?
- Bem! Como havia lhe dito ontem,
algumas semanas atrás tivemos fortes abalos sísmicos nesta região, sendo o
epicentro identificado nas Montanhas de Netuno.
- Pois é! Fiquei sabendo do fato na
Lua e muito me preocupou em saber se vocês estavam bem – comenta o Dr. Asa.
- Felizmente não houve grandes
transtornos. Mas devido à instabilidade dos abalos, toda estação está sob
alerta de evacuação. O último evento – continua o Dr. Sargaço - Provocou a
abertura de uma gigantesca fissura que leva há muitas centenas de metros abaixo
da montanha. Estive lá com Ondina faz alguns dias para avaliar as proporções da
abertura, descobrimos que havia algo de diferente no seu interior que
possivelmente foi revelada devido aos tremores.
- Conseguiram descobrir do que se
trata?
- Esta é a questão! Não fomos
adiante. Decidimos enviar robs. Eles entraram por uma galeria que surgiu em uma
das laterais internas da montanha. Ostentava uma curiosa arquitetura que
supomos ser alienígena. Veja as imagens!
O Dr. Sargaço indica uma tela que mostra imagens do local.
- Encontraram também, como pode
perceber, esta cortina de energia que por incrível que pareça, tem o mesmo
propósito de isolar água e ar, controlando a pressão, semelhante o que fiz com
os peixinhos, sendo o processo muito mais avançado. Esta cortina não impõe
resistência e pode-se transpor com tranqüilidade, chegando para o acesso até
outro compartimento.
- Um compartimento de ar? – pergunta
o Dr. Asa.
- Literalmente, oxigênio puro – responde
o Dr. Sargaço – E com pressão atmosférica de 1013Mb.
- Nível do mar? – surpreende-se o Dr.
Asa - Então Sá! O que vocês fizeram?
- Por enquanto não fizemos muito.
Comunicamos ao Conselho dos Clãs que incentivou a exploração do ambiente e me
concedeu o privilégio de formar uma equipe. Que você, Iara e Ondina fazem parte
dela. Os restantes dos trabalhos estão sendo realizados pelos robs que analisam
as condições de riscos.
- Estas informações só descobrimos
ontem Asa – diz a Comandante - E imediatamente enviamos uma mensagem para
Estação Meteora convocando a sua presença.
- Teve gente que adorou! – brinca o
Dr. Sargaço olhando para a Capitã Iara que retribui com um sorriso acanhado.
- Mas tudo isso é
muito interessante? – comenta o Dr. Asa.
- Pois é! Muito
interessante! No entanto temos que considerar muitas hipóteses, por exemplo: Há
milhões de anos atrás os oceanos desta região eram diferentes. Possivelmente as
Montanhas de Netuno foram submersas posteriormente – diz o Dr. Sargaço.
- Mas Sá! E esta
tecnologia usada para separar água e pressão? – indaga a Capitã Iara.
- Nesse ponto
começa o mistério! Será que existiu alguma civilização na Terra que antecede o
próprio surgimento do homem?
- Extraterrestres
você quer dizer? – comenta a capitã.
- Não
necessariamente Iara, apesar de estarmos sob o que seria o Mar Glacial Ártico,
existe uma antiga lenda que trata sobre um continente perdido.
- Atlântida? – pergunta
a Comandante Ondina.
- Estamos um
pouco à frente do limite norte do Oceano Atlântico. E tudo indica que esta
civilização é mais antiga e avançada do que a suposta Atlântida. Isto se realmente algum dia existiu – completa o Dr.
Sargaço.
- Bem! O que
faremos então? – pergunta o Dr. Asa.
- Temos que ir
até o fim deste mistério – diz o Dr. Sargaço.
- Já temos um
módulo pronto para vocês, eu ficarei acompanhando da Estação – Diz a
comandante.
Minutos depois, o Dr. Asa e a Capitã Iara
seguem para a área de desembarque. A Comandante Ondina aproxima-se do Dr.
Sargaço segurando levemente em seu braço.
- Meu querido tenha bastante cuidado.
- Ondina, minha sereia! Entendo a sua
preocupação! – Responde o Dr. Sargaço – Está tudo bem!
- Sá! Você sabe que houve abalos
recentes e os intervalos estão sempre instáveis! Fique sempre em contato! – alerta
a comandante.
- Teremos cuidado! Você e a central
de comunicação acompanharão tudo. Quanto aos abalos, me preocupa o fato de um
novo evento fechar a fissura e perdermos a oportunidade de compreender melhor
do que se trata.
- Boa sorte, meu querido – beija-o
- Obrigado! Mas lembre-se que eu
tenho que voltar para fazer aquele jantar – Escapa um leve sorriso.
Um módulo iluminado parte da estação em direção às Montanhas de Netuno.
- Olha só aquilo! Um
tubarão albino – aponta o Dr. Asa, entusiasmado.
- Têm muitos deles por
aqui! A fauna abissal é bem numerosa nestas águas. Você precisa ver as espécies
de peixes quimeras e os polvos. São bem comuns fora do alcance da luz e alguns
são bem grandes – explica o Dr. Sargaço.
- Impressionante como não
congelaram! – comenta o Dr. Asa.
- A atividade vulcânica
submarina libera bastante calor e colabora com a vida aqui em baixo, inclusive
para milhões de bactérias e plânctons, tudo é uma questão de adaptação – diz o
Dr. Sargaço.
- Parece que chegamos ao
limite da cortina da sua luz do dia Sargaço – alerta a Capitã Iara.
Passaram-se 40 minutos até chegarem as
Montanhas de Netuno. Ao contrário das naves que transitam no espaço e nos céus,
houve pouco progresso na velocidade dos transportes aquáticos, porém, muito
significativo em relação aos que existiam antigamente.
- Lá está! As Montanhas
de Netuno! Conseguem enxergar as luzes dos robs? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Sim! Estamos vendo! – diz
o Dr. Asa.
Após um contato preliminar com os robs, o
módulo submarino penetra na fissura da montanha e segue em direção a galeria.
- Lá está a cortina! – alerta
o Dr. Sargaço.
- Entramos em algum tipo
de correnteza ou é apenas impressão? – comenta o Dr. Asa.
- Não
é impressão – explica a Capitã Iara – É possível que existam muitas correntes
subterrâneas ainda desconhecidas nesta vasta região.
O módulo atravessa a cortina e passa a
emergir sob um pequeno lago. Após percorrer 100 metros aproximadamente, o
módulo ancora em um píer construído pelos robs para facilitar o desembarque. Os
tripulantes saem admirados com o que vêem. Olham para todos os pontos da
galeria e tentam se concentrar em cada detalhe, ao mesmo tempo em que ensaiam
uma tentativa de explicação.
Uma área que se poderia dizer que foi uma
caverna se revela. O teto é todo formado de cristais, com paredes e piso de uma
riqueza de detalhes impressionantes. A arquitetura não se assemelha com nenhuma
obra conhecida na Terra, o que reforça a teoria do Dr. Sargaço de ser
alienígena.
- Como podem observar
amigos. Aqui não temos vestígios de nenhuma influência anterior ou posterior a
nossa civilização – diz o Dr. Sargaço.
- Será que sempre foi
assim submerso? – pergunta a Comandante Ondina que tudo acompanha da Estação.
- A julgar pela cortina
de pressão acredito que não! Essa cortina foi uma tentativa bem sucedida de
proteger o interior da caverna e dos que provavelmente viveram aqui – comenta o
Dr. Sargaço.
- Sá! Já temos resultados
concretos de várias leituras dos infravermelhos dos robs, já podem avançar – avisa
a comandante.
Ao seguirem para outro compartimento da
caverna, a equipe observa as luzes produzidas pelos aparelhos de leitura dos
robs e de outras fontes destinadas a iluminar cada setor conquistado.
- Sá! Penso que deva
existir alguma armadilha por aqui ou um sistema de segurança – comenta a
Capitã.
- Bem! Até agora os robs
não identificaram nada de hostil.
Por alguns instantes, o Dr. Asa pára a
caminhada e abaixa a cabeça.
- Sentindo os efeitos da
ausência prolongada da Lua meu amigo?
- Sim. Não posso ficar
mais de três dias nestas profundezas.
- Acalme-se! Em breve já
poderá ir para a superfície. Você terá relatórios freqüentes de nossas atividades
aqui.
- Eu sei. Essas descobertas
poderão trazer surpresas. Gostaria de permanecer mais tempo aqui. Não se
preocupe! Quando fizer necessária a minha presença eu voltarei.
Enquanto isto no laboratório da Estação, a
equipe do Dr. Sargaço inicia as análises das amostras trazidas da Lua pelo Dr.
Asa, que estão inseridas numa minúscula cápsula de metal cuidadosamente vedada.
Os técnicos se posicionam para efetuar as análises e uma campânula de vidro,
desce protegendo o material. Ao abrir a cápsula, ficam confusos com o que vêem.
São miríades de fagulhas suspensas e iluminadas de azul, parecendo
microscópicos vaga-lumes. Também observam atividades e reações em culturas
experimentais no laboratório e uma intensa atividade de animais marinhos na
área externa da estação, exatamente posicionados, onde se localiza o
laboratório. O evento foi imediatamente comunicado a Comandante Ondina que pede
para os técnicos recolherem o material para a cápsula.
- Asa! Aqui é Ondina!
Responda!
- Prossiga Ondina!
- Suas amostras lunares
provocaram alguma reação estranha no laboratório!
- Que tipo de reação?
- Veja você mesmo! Estou
transmitindo as imagens.
Um rob aproxima-se do grupo e projeta as
imagens em três dimensões.
- Com mil tubarões! Olha
só isso! – espanta-se o Dr. Sargaço.
- Que luzes lindas! – comenta
a Capitã Iara.
- Asa! Tem alguma idéia
do que seja isso?
- Não, Ondina! Nenhuma! O
que eu trouxe foram partículas de poeira contendo microscópicos compostos
orgânicos!
- Sá! Olha só como os
animais no exterior da estação reagiram! Estão eufóricos! Algo os atrai como um
encanto! – relata a comandante.
- Interessante! – diz o
Dr. Sargaço.
- Asa! Ordenei por medida
de segurança fechar a cápsula! Tudo voltou ao normal!
- Ondina! Assim que for
possível retornarei ao laboratório!
A equipe de exploradores se depara com uma
parede lisa de cristal e os robs identificam sinais de atividade no recinto.
Subitamente, todas as luzes e fontes de energia se apagam, os robs e os
aparelhos desligam. Uma escuridão se acerca de todos. A Comandante Ondina perde
o sinal de contato na central de comunicação da estação e fica aflita.
- Sá! O que está havendo?
- Não sei Iara! Os robs
avisaram sobre alguma atividade e imediatamente tudo parou!
- Nenhum rob responde! – comenta
o Dr. Asa.
- Nada funciona amigos!
Perdemos o contato com a central! – completa o Dr. Sargaço.
- Essa escuridão! Isso
não é bom! – diz a Capitã Iara.
- Bem! É melhor mantermos
a calma!
- Mas Sá! Não enxergamos
nada! Estamos expostos ao desconhecido, sem proteção!
- Asa, meu amigo!
Desconfio que algo vá acontecer!
- Como sabe?
- Olhe à frente! Consegue
ver aquele ponto de luz?
- Não vejo nada!
- Precisa comer mais
cenoura!
- Sá! Não brinca!
- Mas eu não estou
brincando! Olha só a luz ali! Consegue perceber agora?
- Sim! Eu a vejo! – comenta
a Capitã Iara.
Um zunido estranho ecoa, uma voz masculina
se pronuncia em seguida.
- Tenha calma, meus
amigos! Estão seguros!
O ponto de
luz se alarga e ilumina toda a parede de cristal, do piso ao teto. O Dr.
Sargaço olha para os robs e nota que eles continuam desligados. A estranha voz
retorna.
- Não se preocupem! São
meus convidados!
- Quem é você? – pergunta
o Dr. Sargaço.
A parede começa a tomar uma forma líquida
como se desintegrasse. Uma imagem humanóide disforme começa a se ajustar
transpassando-a. Surgi então um ser de quase dois metros de altura, de
estrutura esbelta e bem postada, adiantando-se em pequenos passos.
- Meu nome é
impronunciável em suas línguas. Mas para manter as suas tradições podem me
chamar de Netuno. Você é o Dr. Sargaço eu presumo?
- Sim! É o meu nome! Já
mim conhece?
- Conheço o seu trabalho
e já o observo há muito tempo nessa região, assim como a Capitã Iara, a
Comandante Ondina e toda tripulação da estação!
- Então deve conhecer o
meu amigo aqui do espaço?
O Dr. Asa olha para o Dr. Sargaço com em
certo espanto.
- Sim! Conheço o Dr. Asa
e ele é exatamente a presença que muito gostaria que aqui também estivesse.
- Quem é você? – pergunta
o Dr. Asa.
- Há muitas perguntas e respostas.
Mas posso lhes garantir que não somos hostis.
- Somos? – indaga a
Capitã Iara.
- Permita-me aproximar-me
mais um pouco?
- Sim! Fique a vontade!
Afinal a montanha é sua – responde o Dr. Sargaço abrindo os braços
receptivamente e olhando para cima.
O Dr. Asa e a Capitã Iara se entreolham.
- Aprecio seu senso de
humor apurado, Dr. Sargaço – diz Netuno.
- Pode me chamar apenas
de Sargaço!
- Como queira.
Netuno se aproxima e aos poucos é possível
visualizá-lo com nitidez. Usa um tipo de túnica de cor vermelha sobre o corpo.
E chegando há pouco mais de três metros pára e abaixa um tipo de capuz.
Pela aparência, se confirma ser de um tipo
humanóide, de pele branca e face com traços delicados. Os olhos ligeiramente
arqueados de íris cor verde-esmeralda, contrastando com uma cor rósea tênue do
globo ocular. Possui o rosto afilado, cabelos finos imaculadamente brancos e
penteados para trás. Tem um semblante tranqüilo e amistoso que inspira
confiança e tranqüilidade.
- Espero que não os tenha
assustado. Não foi minha intenção.
- Não assustou muito.
Achei a sua entrada em grande estilo – diz o Dr. Sargaço.
Netuno esboça um sorriso ao que se nota
dentes muito brancos e pequenos.
- Por que nossos robs
estão desativados? – pergunta a Capitã?
- Eles estão bem – responde
Netuno – Apenas não queremos arriscar a possibilidade de reações indesejáveis
de defesa. A energia que aqui foi gerada com a minha chegada, também de certa
forma, inibiu a energia utilizada por estas belas máquinas. Deixe-me apresentar.
Sou um dos conselheiros do Rei das Águas, designado para interagir com os
humanos!
- Conselheiro? Rei? – pergunta
o Dr. Asa.
- Sim! Estamos próximos à
entrada da civilização mais antiga que habita este planeta até o momento!
- Que civilização? Atlântida?
– pergunta a capitã.
- Apesar de ter realmente
existido, consideramos uma das mais recentes! Somos do povo Aumarante,
descendentes do Planeta Sinos.
- Sinos? De que
constelação? – pergunta o Dr. Asa.
- Perdão! Não me fiz
claro o suficiente. Sinos é como o nosso povo chama o Planeta Marte.
- Marte? – surpreende-se
o Dr. Asa.
- Sim, Asa. Posso assim
lhe chamar?
- Claro! Mas Marte de
quanto tempo?
- Bilhões de anos, jovem
amigo. Bilhões de anos – responde o Conselheiro Netuno.
- Mas há quanto tempo estão aqui no Planeta Terra
e por que vieram para cá? – pergunta
a Capitã Iara.
- Para sobreviver, jovem
Iara. Como disse. Há muito que saber inclusive o real motivo de estarem aqui.
Responderei todas as perguntas. Mas antes preciso que nos perdoe em chamá-los
atenção desta forma até este mundo.
- Você quer dizer os
maremotos? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Não, Sargaço. Não temos
relação com estes tremores, pelo menos diretamente.
- Como assim diretamente?
- A fissura é uma das
muitas aberturas que temos nestes oceanos. Foi aberta deliberadamente para que
aqui viessem. Conhecemos o poder da curiosidade humana de investigar.
- Então Netuno. Aqui
estamos! Fico aliviado em saber que não são os nossos vizinhos do fundo do mar
os responsáveis pelos tremores. E sim os deslocamentos naturais das placas
subterrâneas – diz o Dr. Sargaço.
- Sim, Sargaço.
Exatamente isto. No entanto não há motivos para alívios.
Ao concluir estas palavras, uma imagem
holográfica aparece na parede de cristal.
Um ser semelhante ao Conselheiro Netuno,
ostentando uma vestimenta altiva e segurando um objeto na mão, tipo um bastão,
demonstra uma iminente hierarquia. Aparentando ser mais velho, possui as mesmas
feições amistosas do Conselheiro Netuno.
- Amigos! Quero lhes apresentar
o nosso Rei das Águas.
- Navan! Sejam bem-vindos
humanos – saúda o rei.
- Obrigado, majestade – responde
todos ao seu tempo.
- Preciso que transmitam
aos seus líderes os meus sinceros sentimentos de alegria e amizade. Em breve
teremos com eles a missão de decidir o destino da raça humana e aumarante. O
Conselheiro Netuno está encarregado de revelar um grande e nefasto destino, que
a todos nós estará reservado caso não nos unirmos. - Navan! – ergue o bastão o
rei e o Conselheiro Netuno responde:
- Navan, Majestade.
As luzes acedem, os robs se movimentam e
as comunicações são restabelecidas.
- Sá! Responda!
- Ondina! Que prazer em
ouvir sua voz!
- O que houve? – pergunta
aflita a comandante.
- É uma longa história!
Estaremos retornando em breve! Ponha mais pratos na mesa, temos companhia para
o jantar! Surpresa das boas! – diz o Dr. Sargaço que olha para o Conselheiro
Netuno e pisca um dos olhos.
O Conselheiro Netuno sorrir e olha para o
Dr. Asa e a Capitã Iara, que balançam a cabeça desaprovando o comportamento
informal do Dr. Sargaço.
- Sá! Como pode afirmar
que o Conselheiro Netuno retornará conosco? – pergunta a Capitã Iara.
- Intuição minha querida!
Intuição! Saiba que isto não é só um privilégio das mulheres – sorrir.
O Dr. Asa e a Capitã olham para o
Conselheiro Netuno e este com um balanço de cabeça, confirma a sua intenção.
- Sim, Iara. Terei que ir
com vocês. Inclusive percebo o mal estar do Dr. Asa. Sei como amenizar os seus
sintomas. Mas acho melhor fazê-lo na estação. Pretendo na superfície, entrar em
contato com os seus líderes e explicar melhor a nossa aparição. Mas não irei
sozinho.
Ao fazer um sinal com as mãos, surgi mais
dois seres aumarantes usando túnicas brancas. Um deles percebe-se que é do sexo
feminino, com as mesmas feições do Conselheiro Netuno e com um olhar ainda mais
doce, cabelos igualmente brancos sendo mais compridos e com um andar suave e
discreto. Revela gestos delicados ao cruzar seus braços sob o busto que se
percebe. O outro é mais jovem, menor um pouco, com as mesmas características
fisionômicas do Conselheiro Netuno.
- Amigos! Quero lhes
apresentar a minha família! Esta é minha esposa Danann e o meu filho Nuada.
Ambos fazem novas
reverências.
- Estamos felizes por
estarem aqui. Sejam bem-vindos – diz Danann.
- É uma grande honra para
nós – completa Nuada.
A central de comunicação da estação faz um
novo contato.
- Sá! Está me escutando?
- Sim, Ondina, perfeitamente!
- Você diz que tem uma
surpresa para mim, espero que seja melhor do que eu tenho para você!
- Como assim Ondina?
- É melhor vocês saírem
da caverna e subirem para a sub-superfície!
- Está bem! Já estamos
indo!
- Então Netuno. Acredito
que irá nos acompanhar – diz o Dr. Sargaço.
- Sim! Já está tudo
preparado. Encontraremos-nos na estação.
Os aumarantes desaparecem pela parede de
cristal que se desfaz. O Dr. Asa e seus amigos seguem para o módulo, sendo
acompanhados pelos robs que também pilotam seus transportes. Partem para fora
da caverna atravessando a barreira de pressão e reentrando em águas abissais.
Os robs comunicam atividades externas e
entram em posição de defesa. A Capitã Iara pede cautela e suspende a ação.
Todos ficam sem acreditar no que vêem.
Posicionados no entorno da fissura encontram-se centenas de estranhos
submarinos aumarantes, que aguardam a saída do módulo e seguem em escolta. No
caminho, se encontram com outras dezenas de módulos da estação, enviados pela
Comandante Ondina, como medida de precaução. No painel holográfico do módulo
submarino aparece a imagem da Comandante Ondina.
- Então Sá! Gostou da
recepção?
- Nossa que espetáculo!
Pelo visto andou fazendo novas amizades.
- Sim! Recebemos
instruções dos aumarantes do que estava acontecendo! Sinceramente estou
transtornada de surpresa! A tripulação da estação está ansiosa, mas tranqüila!
Estamos preparando uma recepção!
- Ótimo! Faça isto! Eles
estão em missão de paz!
Nesta ocasião, o submarino do Conselheiro
Netuno aproxima-se e acena com luzes, o que é prontamente respondido pela
Capitã Iara.
- Estranho! – diz a
capitã – Eles conhecem nossos códigos de sinais luminosos.
- Pelo visto – diz o Dr.
Asa – Eles conhecem muito de nós.
Durante o percurso, os submarinos
aumarantes e os guiados pela escolta de robs interagem em animadas comunicações
de luzes, num verdadeiro cortejo de movimentos.
Ao chegarem à Estação Niflheim, todos se reúnem na área
de desembarque aguardando a chegada da família aumarante. No interior da
estação, os visitantes são conduzidos por robs e recebidos pela Comandante
Ondina e uma parte da tripulação.
- Sejam bem-vindos.
Com um gesto de simplicidade e reverência,
a família aumarante agradece.
- É uma satisfação
conhecê-la pessoalmente Comandante Ondina – Diz o Conselheiro Netuno – Essa é
minha família.
- Estejam todos à
vontade. Por favor, queiram me acompanhar para melhores acomodações.
A escolta aumarante fica posicionada na
área externa da estação. O Conselheiro Netuno e sua família passam por entre a
tripulação que os observa curiosa, e de certa forma, temerosa com a
desconhecida raça de seres jamais imaginados existirem naquelas regiões.
A Estação Niflheim entra em contato com a
sede do Conselho dos Clãs. Todos se preparam na Acrópole da Cidade de Palmeira
dos Ventos para receber os aumarantes e as suas informações, que serão
transmitidas mediante a cobertura da Rede Humanity e com interatividade global
de todos os clãs, povos e colônias.
Capítulo 4
CERES
Enquanto
os acontecimentos no Planeta Terra dirigem todas as atenções para os aumarantes
e suas incríveis declarações, as vidas nas colônias humanas seguem o cotidiano
normal. A notícia da descoberta de outra civilização existente no fundo dos
oceanos ainda não havia sido divulgada.
No Planeta Ceres, os membros do Clã dos
Adâmicos encontram-se felizes com a recente união dos seus filhos. O casal,
cujos nomes são Ébano, 33 anos e Efígie, 23 anos, compartilham de momentos a
sós nos primeiros dias casados.
- Aceita um
chã? – diz Efígie.
- Sim! – responde
Ébano.
O casal encontra-se num terraço residencial
próximo a um pequeno jardim. Enquanto conversam, admiram a noite ceriana,
degustando o chá que eles orgulhosamente cultivam e que possuem aromas e sabores
especiais.
- Tenho boas
lembranças da Terra – disse Ébano – Às vezes tenho vontade de passar algum
tempo por lá.
- Eu não
tenho nenhuma lembrança. Conheço a Terra apenas por imagens. Sou uma Ceriana
legítima! – sorrir Efígie.
- Você me
acompanharia numa viagem? – pergunta Ébano.
- Seria uma
lua de mel?
- Claro!
Por que não? Poderíamos conhecer lugares incríveis e diferentes de Ceres!
- Seria
maravilhoso. Mas temo deixar meu pai sozinho por muito tempo.
- Entendo –
responde o marido com um semblante desanimado.
- Não fique
assim. Se você quer tanto ir a Terra poderemos fazer a viagem, mas não podemos
ficar por anos, no máximo uma primavera.
- Deixei muitos
amigos quando era criança. Gostaria muito de revê-los.
- Temos
muitos amigos aqui em Ceres – diz Efígie.
- Gosto dos
meus amigos cerianos. São especiais. É que existem cheiros e sabores que só o
Planeta Terra possui. Existem flores e animais em diversidade e um pôr-do-sol
muito bonito. Nosso mundo possui as suas belezas, mas o Planeta Terra é simplesmente
fantástico. Gostaria que nossos filhos nascessem lá – comenta Ébano.
- Imagino
como deve ser difícil para um terráqueo viver longe de sua terra natal. Mas
Ébano, somos felizes aqui em Ceres. Temos um mundo construído especialmente
para nós. Somos uma garantia de continuidade da raça humana, a fronteira mais
distante.
- Não me
considero um terráqueo. Sou um ceriano e me orgulho disso. Apenas gostaria de
rever o Planeta Terra nem que seja mais uma vez e poder compartilhar desta
viagem com você.
- Falarei
com meu pai. Ele entenderá. Tenho certeza que aprovará a nossa viagem – diz Efígie.
- Faria
isto por mim?
- Desde o
dia em que a minha mãe faleceu, ele está muito solitário. E apesar de ser muito
apegada ao meu pai, também queria sair um pouco de Ceres, de preferência com
uma excelente companhia como você. Mas os filhos, gostaria de tê-los aqui –
Sorrir novamente.
- Tudo bem.
Estamos acertados. Viajaremos para o Planeta Terra na próxima estação – decide
Ébano.
- Quer mais
um pouco de chá? – oferece Efígie.
- Sim. Um
pouco mais, está muito bom.
Ao se levantar, Efígie põe a mão na testa
e perde os sentidos. Surpreso, Ébano a segura impedindo que caísse no chão, e
ao fazer isto, também sente os mesmos sintomas e ambos desmaiam. Um rob da
categoria AD, os auxiliares domésticos, entra no recinto e encontra os dois no
chão. O fato é comunicado para outro rob que auxilia o pai de Efígie nas
culturas de chá e cogumelos em uma das biosferas próximas.
- Mestre!
Tenho uma mensagem do Rob Iron!
- O que
houve?
- Sua filha
e seu genro foram encontrados inconscientes! Robs médicos já seguiram para a
sua residência!
- Contate o
Rob Iron!
- Sim,
Mestre!
O rob da categoria AC, auxiliares de
colheitas, faz uma ponte de comunicação do mestre com o rob da casa onde o casal
se encontra.
- Iron! O
que houve?
- Mestre
Tálio! Os dois estavam desmaiados! Não encontramos nada de anormal além dos
copos de chá! Os médicos já analisaram os resíduos do líquido e não há sinais
de envenenamento, estão sendo reanimados!
- Já estou indo
para casa! Quando acordarem avise que estou chegando!
- Sim,
mestre!
Ao chegar à sua residência, o Mestre Tálio
encontra o casal um pouco refeito do mal estar.
- Filha!
- Pai!
- O que
houve?
- Uma
visão!... Horrível!
Há várias gerações desde o nascimento dos
primeiros cerianos, que as aptidões extra-sensoriais vêm se desenvolvendo neste
grupo de seres humanos, que são estudados pelos poucos cientistas que existem
no planeta. Não se sabe ao certo se estas habilidades são devido a um indício de
prováveis mutações genéticas ou adquiridas, estimuladas por influência da
atmosfera ceriana.
- Como era
essa visão filha?
- Não sei
direito pai! Sugiram muitas luzes de cores diferentes seguidos de explosões!
Senti muita angústia!
- Também
tive as mesmas visões mestre! – comenta Ébano ao sogro.
- Venham
vocês dois! Precisam descansar, depois conversamos!
O Mestre Tálio, 71 anos, é o líder supremo
do Conselho de Ceres e também representa o Clã dos Adâmicos, possui avançados
conhecimentos agrícolas e sentidos aguçados. Ele já havia experimentado os
sintomas parecidos com o do casal, no entanto, por ser mais desenvolvido, teve
domínio sobre estas reações. Sem perder tempo, ele se dirigiu para o comando
das forças de defesa de Ceres, onde funciona a central de comunicação e os
núcleos de ciências.
Ao chegar, encontra um grupo de cientistas
analisando dados de uma onda eletro-magnética desconhecida, que se deslocou
próximo ao Planeta Ceres. O setor de defesa, liderado pelo Comandante Lítio, 48
anos, do Clã dos kami, recebe
informações preliminares dos cientistas
- Lítio! O
que houve?
- Ainda não
sabemos ao certo Mestre Tálio! Um intenso deslocamento de uma onda
eletro-magnética atingiu parcialmente a órbita de Ceres! E as nossas
comunicações estão comprometidas!
- De onde
veio? Qual a sua origem?
- Foi
detectada uma massa de origem desconhecida próximo ao Planeta Júpiter! No
entanto, nada foi observado nesta região pelos telescópios de fronteira! As
duas estações espaciais que fazem o monitoramento em sua órbita foram
destruídas! Os fragmentos foram atraídos pela gravidade e queimados na
atmosfera!
- Houve
registros ou alguma comunicação com os robs?
- Nenhum
mestre! Acreditamos que não houve tempo! Esta força provavelmente anulou os
nossos robs!
- Mas como
pode ser? Uma massa invisível?
- Os
cientistas têm uma teoria de como esta massa se encontra invisível e não emiti nenhuma onda ou
sinal!
- Prossiga! – diz o Mestre Tálio.
- Baseamos as nossas conclusões na
teoria do reflexo da luz! Vemos os objetos porque a luz se reflete nos mesmos!
Esta massa ou corpo celeste não absorve a luz, o tornando invisível! Os
elétrons do seu campo vibram e se ajustam com a mesma intensidade de onda da
luz nele projetada!
- E quais são as conseqüências além
da interrupção das comunicações?
O Comandante Lítio olha para o Mestre
Tálio com preocupação.
- Tudo leva a crer que essa onda
provocou uma perturbação no cinturão de asteróides, que foram lançados aos
milhares em nossa direção! Os cientistas identificaram e calculam outra rota
instável destes meteoros! Uma grande quantidade deles já atingiu o Planeta
Júpiter! Estamos em perigo e já ativei o alarme!
- Precisamos sair da superfície de
Ceres em poucas horas o mais rápido possível! A colônia será destruída! Não
conhecemos ao certo a dimensão dos estragos!
- Avisaremos os clãs para seguirem
aos abrigos profundos! Ficaremos confinados até chegar à ajuda! – ordena o
Mestre Tálio.
Sinais de socorro foram enviados ao Planeta Marte que também detectou o
fenômeno, passando a calcular a direção e extensão da onda eletro-magnética,
retransmitindo todos os acontecimentos para o Planeta Terra.
Na colônia de Ceres, centenas de humanos embarcam em vagões de
transporte com destino aos abrigos de emergência, projetados e preparados para
estas ocasiões, e que nunca foram utilizados em circunstâncias tão inusitadas.
Os transportes chegam a abrigar 500 pessoas por viagem e seguem em velocidade
para o interior do planeta.
Uma comoção geral assola os habitantes, tudo tem que ser deixado para
trás, pois não houve tempo hábil para uma evacuação tranqüila e planejada. As
pessoas chegam à beira do desespero.
Ainda mal se completava a evacuação, os primeiros fragmentos já começam
a queimar na atmosfera e cair no Planeta Ceres. A cidade sofre com os primeiros
impactos e centenas de pessoas que se atrasaram em atender o chamado de alarme
começam a morrer. As cúpulas de proteção das vilas que abrigam os clãs e
biosferas explodem, provocando grandes incêndios. As chamas modificam o cenário
da colônia.
Após algumas horas tudo está destruído, a atmosfera saturada e o povo
ceriano refugiado no subterrâneo a espera de socorro.
Nos abrigos, existe uma complexa estrutura que permite a sobrevivência
humana por muitos meses. No entanto, devido os efeitos de proporções
desastrosas acontecidas na superfície do planeta, comprometeu uma maior
eficiência de sobrevida.
Os meteoritos danificaram todas as estruturas externas de comunicações,
inclusive as orbitais, onde dezenas de satélites emitiam e recepcionavam os
sinais vindos de Marte, Lua e Terra, além de outras pequenas naves tripuladas
por robs em áreas de fronteiras planetárias.
Os abrigos cerianos, seguindo o padrão das outras colônias, foram as
primeiras formas de moradia no planeta. Com o tempo e o avanço das construções
na superfície, estes abrigos serviram para dar apoio em construir outra cidade
no interior do planeta, prevendo inclusive a possibilidade de proteger seus
habitantes no caso de mudanças atmosféricas bruscas. Por está próximo do
cinturão de asteróides, os cerianos convivem diariamente com centenas de
meteoritos que se queimam na atmosfera e outros que atingem o solo, mas nunca
se cogitou entre os cientistas a tragédia que agora se apresenta. Na cidade subterrânea existem fontes de
energias renováveis, água, oxigênio, alimentos e um sistema de controle de
temperatura. Até então, poucos cerianos se encarregavam de freqüentar estes
ambientes, sendo a maior parte dos trabalhos realizados por robs.
Os impactos provocados pelos meteoritos bloquearam as principais
entradas para os abrigos, não havia mais saída por estas passagens que levariam
meses para serem reabertas. Antigos túneis auxiliares seriam utilizados
mediante procedimentos arriscados, pois ainda não se conhecia os pontos não
afetados que poderiam ser seguidos com segurança.
Tudo estava extremamente difícil com a
perda dos robs engenheiros e de outras máquinas indispensáveis à manutenção e
trabalhos diversos, que se encontravam em sua maioria destruídos na superfície.
O povo ceriano se deparava pela primeira
vez diante de um novo paradigma, pois teriam, mesmo com o auxílio dos poucos
robs, de utilizar a mão de obra humana para várias atividades fundamentais à
sua sobrevivência, expondo o que se tinha de mais nobre no propósito
fundamental da existência dos robs: proteger a vida humana.
Capítulo
5
MARTE
A colonização humana existente no Planeta Marte, seguiu uma motivação
diferenciada dos Cerianos. As pessoas que concluíam os testes vocacionais
realizados nos Planetas Terra e Ceres, eram destinadas as várias funções e as que
sinalizavam tendências mais exaltadas e de posturas mais aguerridas, eram
convidadas para exercerem atividades em Marte.
Constitui os marcianos em sua maioria, a
formação perfeita para soldados, tornando as muitas colônias no planeta
extremamente bélicas. Todos os investimentos em pesquisas e atividades estão
voltados para as operações de salvamento, defesa e guerra. Apóiam
sistematicamente o Planeta Ceres e outras colônias humanas já existentes ou em
fase de implantação. No Planeta Terra, apenas os robs especializados
desempenham atividades similares.
Em Marte, os robs são pouco utilizados em
exercícios de manobras. Possuem uma programação bem definida no que concerne à
defesa dos humanos e do seu patrimônio. São por razões práticas, os primeiros
soldados que chegam aos destinos de conflitos ou de emergências, pois são
lançados em naves mais velozes e não compatíveis com a tripulação humana. O
sentimento que motivam os marcianos é da constante iminência de se precisar
atuar em conflitos nunca antes existentes em nosso sistema solar.
O Planeta Marte não é uma prisão, um
exílio ou um mundo de pessoas violentas, ao contrário, é bastante harmonioso.
Apenas foi com o passar dos anos, uma solução de convivência pacífica de muitos
homens e mulheres que conservam e cultuam o espírito da guerra. Essa cultura
não é imposta aos nascidos em Marte e é bastante comum a migração de marcianos
para o Planeta Terra e Ceres, daqueles que amam a sua terra natal, mas cujas
aspirações e natureza não são “compatíveis” com as tendências que outrora gerou
essa postura cultural dos seus habitantes.
São povos felizes e orgulhosos pela sua condição. As colônias oferecem
todas as opções disponíveis para a permanência e convivência pacífica.
Costumam vir ao Planeta Terra com grande regularidade. São bem recebidos
pelos terráqueos, mas causam certo temor em algumas crianças e jovens. Não se
caracteriza preconceito, mas é fácil identificar um marciano. Eles expõem suas
excentricidades nas roupas, a cor vermelha é constante, no uso de metais e
colares diversos oriundo do solo local.
Geralmente são mais altos e robustos.
Alguns usam cabelos grandes sem muitos cuidados, às vezes soltos outros
amarrados. Há os que são carecas e os que também fazem parte de uma minoria que
não adota nenhuma das posturas citadas. No entanto, existe no olhar e no jeito
calado e discreto de se apresentar, um comportamento típico deste interessante
povo, que são capazes de sacrificar as próprias vidas em defesa da humanidade.
No Complexo de Summerland, oficiais
e soldados se agitam. As primeiras comunicações e imagens recém chegadas de
Ceres fazem engrossar as fileiras de voluntários para o embarque de socorro com
destino ao planeta. A angústia da possibilidade de ter perdido amigos e
familiares, aliados a falta de informações detalhadas, conduz metade do efetivo
de soldados robs para as plataformas nas luas marcianas de Fobos e Deimos.
Das cúpulas de observação do
complexo, são facilmente avistados os brilhos das naves partindo das luas em
altas velocidades. Na superfície de Marte, os aglomerados de caças começam
disciplinarmente a se deslocarem em meio à poeira e gases liberados nas
plataformas. Sobem os primeiros grupos de naves
cargueiras,
hospitalares e cruzadores de guerra repletos de robs e humanos, alterando a
paisagem do céu marciano.
Como um farol, um satélite artificial emite um sinal luminoso de alerta
circulando a órbita do planeta. Esta luz só se apagará, quando se estabelecer à
normalidade.
Ainda no Complexo de Summerland, o alto comando militar reunido
com os cientistas e técnicos, analisam as poucas informações que foram
possíveis captar do Planeta Ceres, enviadas pelas estações de fronteiras e que foram retransmitidas para o
Planeta Terra.
O Conselho de Clãs Marciano é liderado
pelo Mestre Menés, 80 anos, do Clã dos Tinis. Ele
é admirado pela sua inteligência e natural vocação de conduzir o
desenvolvimento da colônia, que é considerada a mais próspera do sistema solar.
Alguns chegam afirmar que em muito breve, a colônia ganhará o status de cidade.
É conhecida também por possuir um avançado
e eficiente arsenal militar de grande poder de destruição. As suas armas são
projetadas para garantir a segurança e a proteção da raça humana, missão que é
cumprida com orgulho e esmero.
Ao entrar na sala de comando, o Mestre Menés é recebido por um dos
oficiais superiores, o General Ares,
42 anos, do Clã dos Tholis.
- Mestre Menés! Que bom que esteja
aqui!
- Como vai general? Parece que não
temos boas notícias?
- Não mestre! Infelizmente não!
- Todos os clãs estão querendo saber
o que houve de fato em Ceres! Como sabe, temos parentes e amigos!
- Mestre Menés! O que aconteceu ou
ainda acontece em Ceres são desconhecidos! Recebemos informações pouco
conclusivas do evento, mas o suficiente para confirmar que a superfície do
planeta e toda extensão de solo da colônia foram destruídas!
- Onde está o General Nergal?
- Seguiu com os cruzadores dando
cobertura as demais naves de apoio! Estava em Marte de passagem, comunicou que
pensava fazer uma visita a Terra e rever parentes e amigos!
- Pelo que sabemos! Faz muito tempo
que Nergal se encontra no espaço!
- Sim mestre! O espaço é a sua área
de comando!
O Mestre Menés olha para o general e depois caminha com discrição para
um painel que mostra as últimas imagens do Planeta Ceres. Ele Cruza os braços,
fecha os olhos lentamente e pergunta:
- General Ares. Existe alguma chance
de sobreviventes? Temos novas conclusões do que aconteceu?
- Mestre! Temos muita confiança
nisto, inclusive captamos sinais de socorro típicos dos abrigos. Certamente
houve muitas mortes, mas acredito que a maioria esteja viva, por isso enviamos
o maior contingente de apoio possível. Em princípio, o que houve com o Planeta
Ceres é que ele foi atingido por milhares de meteoritos e que provavelmente,
foram espalhados do Cinturão Kuiper por uma força ainda desconhecida.
- Este fenômeno é comum general?
- Não, mestre. Nunca foi observado.
Inclusive qualquer força de impacto desta natureza no cinturão de asteróides ou
em Oort, deveria preceder de uma maior extensão no deslocamento dos meteoritos.
- Como assim general?
- Diversos fragmentos não se
dispersaram de forma aleatória e seguiram uma rota em direção aos Planetas Júpiter
e Ceres respectivamente.
- E os outros planetas?
- Os demais planetas estão seguros em
seus períodos orbitais e não serão atingidos. Inclusive Marte e Terra.
- Quer dizer que os meteoritos
seguiram exclusivamente para Júpiter e Ceres?
- Em princípio sim. O Planeta Júpiter
foi o mais atingindo, estava praticamente à frente desta força eletro-magnética
que curiosamente não atingiu os meteoros, apenas os arrastaram. Se não fosse à
coincidência de alinhamento da órbita de Júpiter, apesar da considerada
distância que os separa, os danos na superfície ceriana seriam desastrosas.
- Então quer dizer que os meteoros
surgiram com esta força eletro-magnética?
- Parece estranho Mestre. Mas no
momento é a única explicação razoável.
- Os meteoros ainda estão caindo na
atmosfera de Ceres?
- Pelo que observamos de nossos
telescópios de fronteiras, não. Mas ainda estão chegando novas imagens e
informações.
- General Ares. Faz alguns meses que
uma expedição científica partiu de Marte em direção ao Planeta Makemake.
- É verdade mestre! A Expedição Rapanui seguiu com uma nova missão de
tentar implantar outra colônia humana no sistema solar, um passo a mais na
fronteira! Muitos voluntários de Marte, Terra, e Ceres estão presentes, além de
centenas de robs!
- Sabem se foram atingidos pelos
meteoros?
- Soubemos há pouco que não. Neste
período, as órbitas do Planeta Makemake e do Planeta Éris ficam muito próximas.
Eles aproveitaram uma vantagem magnética para acelerar a chegada ao destino. E
exatamente por estarem próximos à Éris não foram atingidos.
-
Eles
sofreram algum efeito da onda eletro-magnética?
-
Não
mestre! Estão em segurança!
O General Ares se mantém como um típico marciano, com uma postura
discreta e prudente. Possui receios de comentar informações que ainda não foram
devidamente confirmadas. No entanto o Mestre Menés exerce o seu papel de líder
dos clãs marcianos e precisa de toda informação possível para saber como lidar
com os ânimos da população. Esta situação é perfeitamente percebida entre os
olhares dos dois homens. Mas a situação hierárquica do Mestre Menés é absoluta.
- General! Sabe que represento também
o seu clã e entendo a sua resistência em revelar informações contundentes. Mas
quero que saiba que estou aqui no momento para apenas compartilhá-las com você.
- Obrigado, Mestre. Estou feliz que
esteja aqui do meu lado e agradeço a sua compreensão.
- Precisamos – continua o mestre -
Reunir todas as nossas habilidades de compreensão e agir com precisão.
- Mestre! Estou recebendo sinais de contato
com a expedição Rapanui.
Há vários anos que a raça
humana pretende estender seus conhecimentos para além do Planeta Ceres e os
recentes avanços tecnológicos, têm demonstrado possibilidades de se testar
novos modelos de colonização frente às adversidades atmosféricas de alguns
planetas.
A Expedição Rapanui é liderada pela Comandante Ísis, uma marciana de 37
anos, do Clã dos Quemi. Tem como missão
conduzir cientistas, robs e voluntários humanos para criar uma base de pesquisa
no Planeta Makemake. Esta expedição fornecerá subsídios que possam justificar
ou não uma futura colonização.
A Comandante – continua o general - Informa que o Planeta Éris teve sua luz intensificada.
- O que será então?
- Possivelmente uma hiper atividade
em seu núcleo. Seu brilho vermelho é tão intenso que pode ser percebido
facilmente ao olhar para o céu.
- Certamente isto também não é
comum?
- Não, mestre – continua – A exemplo
do nosso satélite farol que neste momento circula a órbita de Marte, o Planeta
Éris se comporta como se enviasse um sinal de alerta. É óbvio que esta
possibilidade é remota, pois nunca captamos sinais inteligentes que pudesse
viver num ambiente de crosta e atmosfera desfavoráveis.
- Existe outro fenômeno que nos
intriga – continua o General – Trata-se de uma massa invisível, também de
constituição eletromagnética, que passou muito próximo de Ceres e que
possivelmente tenha sido a responsável por tudo A Comandante Ísis chama de
matéria escura.
- Uma massa invisível?
- Sim, mestre. Um corpo celeste se
deslocando no espaço sideral.
Neste instante, novas comunicações chegam da Expedição Rapanui.
- Ares! Temos confirmação de
antecedentes deslocamentos da matéria escura.
- Pode falar Ísis!
- Essa coisa não provocou nenhuma
perturbação em Oort! Na verdade, surgiu misteriosamente depois dela, já em área
do nosso sistema solar.
- Ísis! Estou com o Mestre Menés aqui
comigo. Pode explicar melhor suas conclusões?
- Mestre Menés há quanto tempo?
- Saudações Ísis! Precisamos de
mais informações!
- Mestre! É um fenômeno estranho! A massa
escura deixou um rastro de desaceleramento evitando colidir com Júpiter,
desviando velozmente e chegando próximo a Ceres. Registramos alguma intervenção
contra-magnética oriundo do Planeta Éris que alterou o destino dos meteoros.
- Comandante! Existe uma ação inteligente
nestes fenômenos?- pergunta o mestre.
- É difícil de afirmar! No entanto,
se tivesse atingido em sua totalidade, os efeitos em Ceres culminariam em
extinção e a Rapanui sofreria um dos maiores desastres da história espacial
humana!
- Ísis! Temos confirmação do
deslocamento da matéria escura e dos meteoros? – pergunta o general.
- Não, Ares! Os meteoros que não
explodiram em Júpiter e em Ceres deslocou-se para outros pontos que no momento
não representam riscos para a Terra e demais colônias! Aparentemente o Cinturão
de Asteróides e Oort encontram-se estáveis!
- Enviamos socorro para Ceres!
Corremos o risco de encontrar vestígios? – pergunta o mestre.
- Não, senhor! O que for encontrado
será facilmente destruído e desviado por nossas armas!
- E quanto a matéria escura? – pergunta
o general.
- A matéria escura estacionou próxima
de Ceres!
- Parou?
- Sim, Ares! Há momentos em que
desaparece completamente de nossos radares! Recomendo que a esquadra que segue
para Ceres fique atenta quanto a este fato!
- Obrigado Ísis! – diz o general –
Avisaremos imediatamente a Nergal!
Capítulo 6
A REDE HUMANITY
Os eventos acontecidos no Planeta Ceres, o
deslocamento de socorro das tropas marcianas e a descoberta da matéria escura,
já mobilizam todos os terráqueos na busca de entendimentos dos fatos adversos
que comprometam à proteção da raça humana.
O Conselho dos Clãs já se encontra reunido
na Acrópole de Palmeira dos Ventos, terra natal do Dr. Asa, que acompanhados
dos seus amigos cientistas e da família aumarante, aguarda o anúncio da Rede
Humanity que transmitirá para toda a raça humana na Terra, colônias e demais
naves em trânsito no espaço, o pronunciamento do Mestre Clístenes, 77 anos, do
Clã de Olímpia.
- Povo Humano! Saudações fraternas!
Acredito que seja do conhecimento geral os fatos que se seguem nos últimos dias
e que de forma inusitada e surpreendente, desafia a nossa compreensão!
Compartilhamos mais uma vez de angústias que diz respeito a nossa
sobrevivência, do direito de existir e de perpetuar as nossas heranças nas
fronteiras do tempo. Como foi anunciado, a Rede Humanity transmitirá
integralmente a revelação de fatos novos, esclarecedores e por que não dizer,
impressionantes! Temos entre nós, um ilustre representante de outra espécie, de
um mundo desconhecido, e que se apresenta com o nome de Netuno. Ele é membro de
um conselho real e foi designado para intermediar os contatos com a raça
humana! É importante salientar, que o Conselho dos Clãs nunca soube da
existência desta civilização, que se apresenta amigável e prestativa em
responder todas as perguntas pertinentes à decisão de se deixar revelar a sua
origem e história. Mais do isso! Consideramos este encontro como uma união de
forças, para enfrentar uma ameaça que em breve afligirá não somente o Planeta
Terra, mas todo o nosso sistema solar, inaugurando uma nova era, e que mais uma
vez exigirá sacrifícios e união! Peço a todos que recebam respeitosamente, o
Conselheiro Netuno e sua família!
Neste momento, todos os líderes dos clãs
presentes na assembléia se levantam e demonstram em demorada e entusiasmada
salva de palmas a receptividade típica dos terráqueos.
Após um breve agradecimento, o Conselheiro
Netuno e família tomam acento no plenário. Um seleto grupo de jornalistas
organiza as perguntas que serão formuladas, utilizando a linguagem pública
oficial da humanidade.
Rede Humanity: –
Conselheiro Netuno. Ao entrar em contato com os nossos cientistas no mundo
marítimo abissal, o senhor afirmou que o seu nome era impronunciável em nossas
línguas e que adotou um codinome típico das nossas mitologias. Revelou também,
que pertencente a uma raça chamada de aumarante?
Conselheiro Netuno: – Sim é
verdade! Ao fazer parte do Conselho Real Aumarante, mantemos uma tradição milenar
de expressão e comunicação complexa que se reflete não apenas na fonética, mas
em gestos simples e peculiares que se complementam com transmissões
telepáticas. Conhecemos todas as línguas e dialetos humanos atuais e extintos.
Somos da raça aumarante, descendentes dos aumarinos. E que se desenvolveu e
evolui neste planeta há milhões de anos atrás. Quanto em adotar o nome Netuno,
lembro que em outras épocas da história do Planeta Terra, interagimos
discretamente com os humanos, e destas relações, surgiram lendas e nomes
mitológicos inspiradas em nós e que até hoje existem.
RH – O senhor comentou que os
nossos cientistas estavam na entrada de uma das civilizações mais antigas do
Planeta Terra e que no momento foi cogitada a possibilidade de ser da lendária
Atlântida?
CN – Sim! O mundo aumarante é
uma das mais antigas civilizações deste planeta. Com exceção a que nos antecede
a origem aumarina. Os atlantes realmente habitaram esse mundo, mas sucumbiram
diante de ofensivas extraterrestres. Não eram aumarantes e sim deluvianos.
Habitantes de um antigo planeta co-irmã orbital da Terra, chamado de Theia e
que foi destruído. Tentavam sobreviver neste mundo. Nesse remoto período, a
Terra passava por importantes transformações em sua estrutura geológica e
climática, completando a sua evolução planetária para o florescimento da raça
humana. Foram tempos difíceis para muitos outros seres de origem não terráquea,
condenados aqui a viverem. Existia uma nova biosfera que se formava e que se
adaptava mesmo diante de fenômenos como o deslocamento de continentes, mudanças
climáticas, inundações de regiões, extinção e surgimento de novas espécies
vegetais e animais. Muito diferente da atmosfera composta de substâncias
incompatíveis com a vida outrora existente. Houve uma época na história deste
planeta, que algumas raças de outros mundos trazidas por seres hostis, foram
aqui deixadas para a morte e que apesar dos esforços e conhecimentos que
possuíam, não resistiram por muito tempo. Do fundo dos mares, os aumarantes já
existiam, testemunhando e registrando todos estes acontecimentos. Já tínhamos
uma tecnologia avançada que permitia sustentar a nossa sobrevivência. Uma fonte
de energia garantia a nossa segurança e apesar de tudo, ainda existiram perdas
irreparáveis em nosso povo. Em breve, toda a história existente neste e em
outros mundos estarão à disposição da raça humana.
RH – Como os
outros seres que viviam na Terra foram destruídos? Guerras? Doenças?
CN – Um pouco de cada. Após a
investida de um meteoro na atmosfera da Terra, os poucos sobreviventes não
tinham condições de viver em um ambiente hostil e insalubre. A luta pela vida
se brutalizou. Os deluvianos eram mais fortes em relação aos outros seres, mas
mesmo assim não resistiram.
RH - Mas os
aumarantes sobreviveram?
CN – Sim, sobrevivemos.
Infelizmente não podíamos interferir, nem tampouco, auxiliar diretamente no
destino destes seres, apesar de tentarmos. Promover o florescimento da raça
humana era um dos nossos propósitos. Colaboramos para que essa evolução
chegasse a um nível de consciência mais avançado e muito nos impressionou a
rapidez do desenvolvimento e da capacidade humana de adaptação e resistência.
RH – Os aumarantes são
extraterrestres? É do planeta Marte?
CN – Não. Somos terráqueos como vocês. Nossa
origem aumarina é do Planeta Sinos, conhecido entre os humanos como Marte. Na
verdade, somos o que podemos dizer os primeiros habitantes do Planeta Terra.
RH – E nós humanos? Somos
também de origem extraterrestres?
CN – Não. Os humanos são o que
consideramos a raça legítima deste planeta. Sua origem foi planejada para aqui
ser desenvolvida e evoluída.
RH – Quem trouxe outras raças
para cá e depois às exterminou?
CN – A mesma que obrigou a
refugiar nossos ancestrais aumarinos na Terra. A Danu Lilith, um ser poderoso, uma deusa, o demônio feminino da escuridão, a face da
morte, o vento do mal.
RH – O que aconteceu em Marte?
CN – Foi atacada pelos
draconianos que servem o império da Danu Lilith nesta dimensão. Houve
resistência heróica dos aumarinos, mas pouco se podia fazer fora do ambiente
aquático. Eram vulneráveis e seus corpos delicados e frágeis para ações
extremas. A evolução ainda dava seus primeiros passos na formação dessa raça.
RH – Os aumarinos viviam na
água?
CN – Sim. Sua origem era
aquática, mas ao contrário da raça humana, existiu para viver e evoluir
exclusivamente nesse ambiente. Possuía uma natureza anfíbia permanente.
RH – Havia água em Marte em
épocas remotas?
CN – Sim.
Muita água. Com densidade e qualidade que atendia a sobrevivência aumarina. Seus
próprios cientistas comprovaram a existência de água em Marte há centenas de
anos atrás.
RH – Por que foram atacados?
Colonização extraterrestre? Submissão à questão da sobrevivência de outros
seres? Não havia possibilidade de co-existência?
CN – Podemos resumir no fato
da Danu Lilith querer domínio absoluto deste sistema, que é a primeira
fronteira de passagem do seu mundo. Quanto à co-existência com os draconianos
era impossível. A Danu Lilith queria se apoderar de algo mais precioso, e
destruía tudo que se opusesse à conquista do seu desejo.
RH – O que a Danu Lilith
queria?
CN – Subjugar o Dagda, a fonte
da criação e existência da raça aumarina. A Danu Lilith queria também se
apoderar da água do Planeta Sinos que também era utilizada para potencializar um portal
para o seu mundo.
RH – O quem vem a ser um
Dagda?
CN – Em palavras mais simples,
são deuses co-criadores. Uma forma de vida superior e que possui seus próprios
mecanismos de evolução. Um criador e gestor de mundos. Os dagdas são
deuses bons e o nosso não arriscaria expor a raça aumarina num conflito de forças
injustas por muito tempo.
RH – E conseguiram se apossar
do Dagda? Do seu deus e criador?
CN – Sim! Ele se permitiu
subjugar aos caprichos da Danu Lilith a pedido de outra deusa, em troca de
manter a sua obra de criação, ficando sob a guarda dos draconianos!
RH – E como se deu a
destruição do Planeta Sinos e de seus ancestrais?
CN – Como era de se esperar, a
Danu Lilith não cumpriu o acordo e aprisionou o nosso Dagda, lançando
destruição em Sinos.
RH – Como se deu esta
destruição?
CN – Usam sempre a mesma ação!
Movem meteoros ou outros corpos celestes em órbitas próximas, que destroem a
face dos planetas. Nossa atmosfera não resistiu e nossos mares secaram, houve
extinção em massa não só de aumarinos como de toda a biodiversidade existente
em Sinos. Fizeram isto aqui na Terra também, como eu havia dito anteriormente.
RH – Como conseguiram vir para
o Planeta Terra?
CN – A Danu Lilith tem uma
irmã. Que se desenvolvia nesta dimensão, que possui uma natureza diferente das
sombras que escraviza e mata. Ela gera vidas como o nosso Dagda, é uma herdeira
direta do domínio deste ponto do espaço, predestinado à criação. Estava com o
nosso Dagda em semear vida e prosperidade a este sistema solar. A Danu Lilith
não aceitava a união deles e mostrou a sua face sombria. Quando o nosso Dagda
foi aprisionado, a sua irmã conhecendo bem a natureza da Danu Lilith se
antecipou e ordenou a retirada dos poucos aumarinos que ainda existiam antes da
destruição final. Essa tarefa de salvamento foi executada pelos deluvianos, que
os trouxe para o Planeta Theia.
RH – Quem são
de fato os deluvianos?
CN – Eram extraordinários
seres humanóides. Que apesar da sua altura em comparação com as estaturas
conhecidas na Terra, tinham boa aparência. Serviam à deusa boa e ao nosso
Dagda. Zelavam por este sistema solar antes de serem dominados pelos
draconianos. Viviam provisoriamente no Planeta Theia, onde trabalhavam a
preparação de um planeta vizinho para uma obra de criação da deusa boa, a
Terra.
RH – Como os
deluvianos vieram parar no Planeta Terra?
CN – A Danu Lilith já tinha o que queria, o nosso
Dagda. E no início, não sabia o que a irmã fazia, pois ela não representava
ameaça. A Danu Lilith soube depois pelos draconianos que o nosso Dagda
conhecia as intenções de socorro do povo aumarino pela deusa boa e isto
provocou sua ira. Ela não queria nenhuma criação do nosso Dagda prosperando
neste sistema.
RH – Por quê?
CN – Nunca soubemos. Existem razões na existência
destes deuses que não conhecemos. A Danu Lilith enviou um cometa que destruiu
Theia. Uma destas partes se chocou com a Terra que nessa época não havia vida.
Antes disso os draconianos mataram, aprisionaram e escravizaram os deluvianos
que passaram a viver com eles no Planeta Dracon. Essa co-existência forçada
durou milhões de anos, mas os deluvianos nunca perderam a crença e a esperança
de que a deusa boa em que serviam ainda existia, pois nunca souberam do seu
destino. Achavam que a Danu Lilith também havia subjugado ou assassinado a
própria irmã, tirando-a definitivamente do seu caminho. Em determinados
momentos na história do Planeta Dracon, houve várias rebeliões do povo
deluviano que foram mais uma vez perseguidos e mortos pelos draconianos. Um
grupo importante dos deluvianos rebelados foi condenado a viver sem recursos no
Planeta Terra, que já possuía um estágio avançado de evolução. O planeta já
comportava uma curiosa existência de vida inferior que segundo a lenda, foi
possível existir devido aos fragmentos da deusa boa. Os seres existentes se
desenvolviam em estágios sofridos e selvagens, procedimentos de criação
incomuns para estes deuses. Ao serem largados na Terra, nós do povo aumarante
descendentes dos aumarinos, já prosperávamos escondidos no fundo dos oceanos e
lagos. Prestamos discretamente solidariedade aos desprotegidos e admiráveis
gigantes deluvianos. Durante todo esse tempo, a Danu Lilith abandonou essa
dimensão e nunca mais houve qualquer referência de onde se encontrava. Após
centenas de anos, os draconianos receberam instruções da Danu Lilith para
saírem deste sistema solar e seguirem para outras ambiências da constelação,
provavelmente para atormentar outros povos. Os draconianos sabiam que os
deluvianos milagrosamente construíram uma civilização. Eles não queriam deixar
vestígios de vida consciente neste sistema solar, pois as outras formas de vida
eram destinadas ao simples hábito de caçar. Alteraram a rota de um cometa
direcionando-o para a Terra. Como conseqüência, houve uma grande perda de
biodiversidade e uma extinção de grandes proporções que mais uma vez atingiu o
frágil Planeta Terra. O povo aumarante desenvolveu naves que permitiram a fuga
de muitos deluvianos para o espaço, mas nunca se soube se realmente chegaram ao
seu destino. Não poderíamos emitir sinais de comunicação e entregar a nossa
posição aos draconianos. Assim como nós, os deluvianos também tinham a sua
fonte de vida, o seu Dagda, mas estavam a serviço e proteção da deusa boa. A
Danu Lilith isolou o nosso sistema solar de qualquer possibilidade de percepção
de outros deuses, que devido a sua natureza nômade e a infinita dimensão do
universo, não perceberam suspeitas do que aconteceu neste sistema. Não havia
esperanças de contar com a ajuda de outros deuses bons e poderosos, pois a
noção de espaço e tempo destes seres faz destes acontecimentos por mim narrados
em um período muito curto. Nas suas escalas temporais, resumi-se apenas em
algumas dezenas de anos. E tudo isto só faz confirmar como ainda é efêmera a
resistência e longevidade dos nossos corpos.
RH – Como se desenvolveu a
existência aumarante?
CN – Quando Theia foi
destruída, a deusa boa sabia que sofreria represálias da irmã má. Ela é a mais
jovem e não possui uma natureza hostil. Temendo a própria destruição ou de ser
subjugada também, usou de uma estratégia inteligente. Os fragmentos de Theia e
de uma parte da Terra se misturavam numa poeira cósmica e devido à resistência
do primitivo Planeta Terra, ela forçou e condensou com ajuda gravitacional, uma
agregação de partículas que foi tomando forma de um pequeno planeta! Muita
energia e tempo foram utilizados nesta operação, a deusa boa tinha que se
esconder e ao menor sinal de demonstração imediata de poder e força seriam
percebidos, pois produzir vida faz parte de sua essência divina. A deusa
escondeu-se neste planeta anão e depois posicionou e alinhou o seu eixo, o que
colaborou para o início da formação das primeiras formas de vida primitiva no
Planeta Terra. A deusa se exauriu durante bilhões de anos, transferindo vida
para a Terra e em seu refúgio, manteve o povo aumarino em estado de letargia,
até que este Planeta permitisse as condições para sobrevivência. Os primeiros
aumarinos que viverem na Terra sabiam que não teriam as mesmas condições de
sobrevivência que existia no Planeta Sinos. A deusa boa conhecia esta situação
e uniu geneticamente a espécie aumarina à outra espécie de seres por ela recém
criados para viver na Terra: a espécie humana. Mas antes que os humanos de fato
evoluíssem, os aumarantes já haviam se estabelecido como civilização. A nossa
estrutura e aparência física é muito diferente dos nossos ancestrais aumarinos
que viviam em Sinos, apesar de guardamos algumas heranças genéticas, não somos
anfíbios, respiramos o mesmo ar e nossa vitalidade depende da água pelas mesmas
razões e necessidades que a raça humana. A missão de proteger aumarinos e
humanos foi o que gerou e justificou a nossa existência. A deusa boa se manteve
em continuar a sua evolução sagrada, lançando todo o seu poder para a concretização
da vida neste planeta.
RH – Como são fisicamente
estes deuses?
CN – São esferas luminosas. A
exemplo das muitas estrelas que existem no universo. A sua luz é pura energia
de vida e quando estão perto de suas obras emitem sons e aromas sutis,
demonstrando felicidade pelo nosso progresso, assim como os bons pais ficam
felizes ao verem seus filhos crescendo e se desenvolvendo. São simplesmente
seres fantásticos. Por isso adotamos a humilde homenagem de chamá-los de
deuses. No caso da deusa boa a sua cor é azul brilhante e o nosso Dagda é de
cor vermelha. Acreditamos que no universo devam existir diversos padrões de
cores para a idade e natureza destes seres divinos. Eles são formas de vidas
complexas, de desconhecidas dimensões e estruturas que vão além da atual
compreensão humana e aumarante, apesar de termos o privilégio de sabermos um
pouco mais.
RH – Quer dizer que esta deusa
boa é responsável pela vida na Terra?
CN – Sim! Tudo neste planeta
nasceu da sua energia divina! Ela é a mãe da Terra, dos aumarantes e dos humanos.
RH – Como esta deusa se move?
E onde ela se encontra uma vez que não foi aprisionada, apenas se escondeu?
CN – Estamos muito próximos
destas respostas. Como eu havia dito, a sua aproximação com o Planeta Terra se
deu em seu “abrigo ou casulo” em forma de um planeta anão, iniciando o processo
de transmissão de vida para este mundo. Quando os aumarinos foram socorridos
pelos deluvianos a pedido da deusa boa e durante a difícil viagem, todos os
aumarinos foram postos em estado de letargia num processo semelhante ao do
congelamento. Quando os draconianos atingiram Theia, a deusa acolheu os
aumarinos ao mesmo tempo em que se escondia e sofria por não poder ajudar os
deluvianos que estavam sob a sua proteção. Mas para ela, os aumarinos foram à
causa do nosso Dagda se entregar a Danu Lilith, era uma questão de amor e honra
salvá-los. Apesar de todo o sofrimento que os deluvianos passaram, eram
conscientes que deveriam servir a deusa boa, mesmo que isto lhe custasse às
próprias vidas. Ela esgotou toda a sua força em criar a vida neste planeta e à
raça humana é a sua obra prima, a sua continuação divina. Todo esse esforço, e
por está refugiada dentro do seu casulo, foi gradativamente perdendo sua massa
energética, ficando menor e seu brilho esvaecendo. Como último ato de
sobrevivência ela se projetou para o Planeta Terra e vive desde os tempos
imemoriais sob a nossa proteção, no mesmo estado latente em que um dia nossos
ancestrais estiveram. A deusa e os aumarantes dividem o mundo submarino,
acompanhando a evolução do planeta e o florescimento da raça humana, ao mesmo
tempo, em que aprimoramos a nossa evolução. Durante milhões de anos, sempre nos
preocupamos em não dar sinais de nossa existência à raça humana, pois temíamos
uma nova investida da Danu Lilith ou dos draconianos.
RH – De onde partiu a deusa
boa ao se lançar a Terra? Onde se encontra o seu casulo?
CN – A humanidade a conhece
bem. Encontra-se todo o tempo ao redor da Terra influenciado e inspirando a
vida das pessoas, dos mares e de todo o planeta. É vista mais bela à noite e já
foi visitada muitas vezes.
RH – O senhor que dizer que o
casulo da deusa é a nossa lua?
CN – Sim! Exatamente! A nossa
Lua, estéril e sem brilho próprio, cuja fonte agora se encontra na Terra. E o
nosso Dagda que tem a sua fonte confinada há milênios, sinaliza a sua
localização iluminando todo o Planeta Éris, no fim do nosso sistema solar.
RH – O senhor falou da Deusa
Danu Lilith. Como os aumarantes chamam a deusa boa? Como se chama o seu Dagda?
CN – Na língua aumarante é
conhecida carinhosamente de deusa boa, mas o seu nome divino é Danu Luna em
homenagem a raça humana que a chamam de lua. O nosso deus é o Dagda Navan, que
em antiga linguagem aumarina significa “o deus bom da prosperidade”. São nomes
escolhidos pelas nossas tradições e certamente em suas origens estes deuses
devem ser conhecidos por outros nomes.
RH – Os aumarantes foram
modificados geneticamente com o tempo, mas a sua aparência e de sua família é
muito agradável aos olhos e muito próximo a imagem humana. Existem outras
formas?
CN – Obrigado pelos sinceros
elogios. A nossa modificação genética tinha um propósito, não poderíamos ter as
mesmas fraquezas de nossos ancestrais do mundo anfíbio. Como havia dito, a
nossa presença no fundo dos oceanos é por uma questão de sobrevivência e há
milhões de anos que gostaríamos de dividir este belo mundo com a raça humana,
que consideramos como irmãos mais novos. Em muitas constelações, a forma
humanóide é considerada a mais atraente e harmoniosa. Existem outras formas
muito interessantes e bonitas, mas a humanóide é inclusive a preferida entre os
deuses.
RH – Os deuses tomam a forma
humana?
CN – Sim. Geralmente tomam a
forma dos seres que criaram e que partiram da sua fonte. Isto vale para a Danu
Luna, Danu Lilith, o Dagda Navan e outros deuses existentes.
RH – O senhor falou que a Danu
Luna está entre nós?
CN – Sim. Protegida por fontes
de energia que garantem a sua letargia e poupam as suas forças. Há milhões de
anos que não a vemos na forma humana.
RH – Em outras palavras. A
Danu Luna encontra-se adormecida e mantida viva pelo povo aumarante?
CN – Estava adormecida.
Começou a ganhar um pouco de massa pulsante e emitir uma fraca luz. Isto
provocou uma grande euforia no mundo aumarante. A Danu Luna percebeu o sinal
emitido pelo nosso Dagda Navan, que foi possível graças às formas de energias
muito antigas que irradiaram as águas abissais nos últimos dias. Quanto em
mantê-la viva, devo dizer que é realizado com a colaboração de todos os seres
vivos deste planeta. A luz que mantém a criação e a vida na Terra segue um
ciclo de retorno a sua fonte. Somos parte desta força divina doado pela deusa e
que durante a nossa existência, vamos interagindo com outras modalidades de
energias. Acumulamos durante toda uma existência uma infinidade de forças
oriundas de uma única fonte e que a ela retorna ao extinguir o corpo físico,
realimentado-a constantemente. A contrapartida da garantia da nossa existência
é manter viva a Danu Luna e sua fonte. Em outras eras da história da
humanidade, a deusa perdeu muita energia tentando equilibrar as forças da
natureza devido ao mau uso dos recursos naturais pelo homem. Houve perda de
biodiversidade, poluição do ar, dos mares, desflorestamento e outras ações
nefastas. Nós aumarantes, também sentimos os efeitos destes atos inconseqüentes
do passado e muito fizemos para poupar a sobrevida da deusa, a nossa e da
humanidade. Muitas reações na estrutura energética do Planeta Terra tiveram sua
origem agravada por estes fatores que citei.
RH – Se a Deusa Danu Luna
estivesse em seu estado normal à vida na Terra seria diferente?
CN - Posso lhes garantir que
nunca foi imaginada uma versão tão perfeita do que seria literalmente o paraíso
na Terra.
RH – As outras raças que foram
trazidas pelos draconianos? De onde vieram?
CN – Viajantes de outros
mundos em trânsito pelo nosso sistema solar foram capturados inescrupulosamente
pelos draconianos. A ordem da Danu Lilith era sentenciosa. Nenhuma forma de
vida inteligente deveria habitar neste sistema. Sem suas naves, seus
equipamentos e apenas com o conhecimento adquirido como bagagem, foram cruelmente
largados num planeta hostil com outros seres que como eles. Tentavam sobreviver
na esperança de serem resgatados, fato que nunca aconteceu, principalmente após
o impacto do meteoro. Devo lembrar que apenas alguns dos deluvianos tiveram
ajuda dos aumarantes em sair do Planeta Terra, mas que nunca foi confirmada a
sua sobrevida. Este sistema solar com o passar do tempo tornou-se um ponto
hostil e evitado de se transitar por diversas formas de vida inteligente,
apesar de acreditarmos que seja observada e estudada a distância.
RH – Que forma de energia provocou
o despertar da Deusa Danu Luna no mundo abissal? Como se manifestou?
CN – Os fragmentos de energia,
que anunciou o despertar da Danu Luna e que se encontrava em cavernas lunares,
foram coletados e conduzidos ao nosso mundo pelo cientista Dr. Asa.
Neste momento, houve uma exaltação do
público diante desta afirmação. O Dr. Asa ficou confuso, sem entender direito o
que havia feito, pois o seu único propósito em conduzir as amostras lunares
para o Planeta Terra se resumia em análises laboratoriais e experiências
controladas. A Capitã Iara segura a sua mão tranqüilizando-o. O Mestre
Clístenes pede silêncio no recinto e finalmente à entrevista prossegue.
RH – O Dr. Asa tem
conhecimento destes fatos? Esta energia foi trazida deliberadamente?
CN – Não! Em absoluto! O Dr. Asa desconhecia a
natureza do que havia coletado. Cumpria o seu trabalho como astro-biólogo
investigando possíveis
evidências
que colaborassem para um maior conhecimento do surgimento da vida no universo.
Aconteceu que ele foi feliz em suas coletas nas cavernas lunares e as amostras
foram trazidas para a Terra. Mas antes se dirigiu para a Estação Oceânica Niflheim, região muito próxima a uma das
principais entradas do Reino das Águas, uma das cidades aumarantes. Foi então
que percebemos uma alteração na fonte esférica da Danu Luna e posteriormente,
uma intensa atividade dos animais aquáticos ao redor das Montanhas de Netuno. A
fonte de energia partia da estação abissal.
RH – Esta energia é maléfica
para a humanidade? Para os aumarantes?
CN – Pelo contrário. Esta
energia foi que gerou a vida na Terra quando a Danu Luna operava a sua criação.
Uma infinidade de fragmentos desta energia ficou retida na Lua em estado
latente. Se algum dia a Lua possuir uma atmosfera adequada, estes fragmentos
energéticos produzirão reações químicas e físicas reanimando muitas formas de
vida. Ao chegar muito próximo do nosso mundo, estas estruturas se manifestaram
luminosamente, reconhecendo condições para se desenvolverem.
O Mestre Clístenes interrompe a entrevista
e pergunta à equipe de cientistas a confirmação destes fatos. O Dr. Sargaço se
manifesta:
- Mestre
Clístenes e prezados membros deste conselho. Sou o Dr. Sargaço, Clã dos Aegir, Cidade de Midgard e
chefe de pesquisa da Estação Oceânica Niflheim. Confirmo as informações do Conselheiro Netuno. Quando estávamos
nas cavernas das montanhas abissais, a Comandante Ondina nos informou que as
amostras deixadas pelo Dr. Asa em nosso laboratório e que estavam dentro de
cápsulas apropriadas, manifestaram intensas atividades de vida e de luz.
Miríades de micro fagulhas azuis flutuavam no interior de uma cúpula
transparente de segurança, provocando espanto dos nossos técnicos.
Imediatamente houve o recolhimento das amostras até o nosso retorno, para que novas
teorias fossem concebidas. Mas diante de uma descoberta maior que foi a
revelação do povo aumarante e dos fatos que acontecem no Planeta Ceres, resolvemos
adiar estas análises. Confirmamos também que houve uma curiosa aglomeração de
animais marinhos de várias espécies sob a estação, inclusive de predadores e
suas presas, que pareciam indiferentes às suas condições na cadeia alimentar.
Estavam eufóricos e confusos e até então, não tínhamos entendido o fato que os
levariam a reagir com um comportamento tão inusitado. Estas amostras lunares
continuam acondicionadas em nosso laboratório na estação abissal.
O Mestre Clístenes faz um sinal para que o
moderador da Rede Humanity prossiga com a entrevista.
RH – Existe alguma relação
destes fatos ocorridos na Terra, mas precisamente no fundo do mar, com os
atuais acontecimentos no Planeta Ceres? E com o fato de finalmente o mundo
aumarante se revelar?
CN – Sim. Estamos diante de um
momento decisivo para a vida dos nossos povos e deste sistema solar. Nós
aumarantes, estamos apreensivos em saber se a raça humana dará credibilidade
para as nossas revelações e se aceitará a nossa co-existência, uma vez que já é
conhecida a nossa presença nesse mundo. Compartilhar da garantias de paz entre
nossos povos e de unir forças em combater um antigo inimigo, que muito
atormentou e comprometeu a vida neste planeta. A diversidade cultural dos seres
humanos, a capacidade de amar, de enfrentar as ameaças e conquistar a paz, dos
gestos dignos de eterna celebração, faz dos humanos uma das criações mais
significativas e prósperas do universo.
A raça humana mesmo desconhecendo a sua
verdadeira origem, conserva em seu íntimo a existência e o culto de um ser superior.
Um deus que os criou e os anima em força e vida, que favoreceu o
desenvolvimento da inteligência, da intuição e da autoconsciência como
criatura, superando limites e preparando-se para dar um importante passo no seu
grau de evolução. O povo aumarante finalmente revelou-se, mas principalmente,
por que não podemos mais nos privar de um destino que há muito tempo foi
profetizado e aguardado em nosso mundo, os filhos legítimos da deusa estão
prontos para defendê-la. Nós aumarantes, incontestes admiradores e guardiões da
raça humana, estamos felizes por este momento e não pouparemos esforços pela
preservação deste mundo.
RH – O material trazido da Lua
pelo Dr. Asa e que despertou a Deusa Danu Luna de sua letargia, foi o responsável
pelos fatos que provocou as ações desastrosas no Planeta Ceres? Como formas de
vida tão pequenas podem provocar reações em pontos tão distantes?
CN – O que aconteceu no
Planeta Ceres não foi provocado pelo material trazido da Lua, mas tem relação
com ela. A antiga e famosa teoria do caos faz sentido neste momento.
Quando as fagulhas de vida entraram em contato com a crosta terrestre, elas
emitiram um sinal para a sua fonte, para a sua rainha, como abelhas operárias
prontas para o trabalho. Este chamado despertou o instinto adormecido da Danu
Luna que há milhões de anos não possuía contato com elas. O sinal anulou
parcialmente o campo de energia, um tipo de concha que criamos para proteger a
Danu Luna e que reagiu ao chamado das fagulhas. Apesar de enfraquecida e ainda
não reanimada, a esfera azul acendeu e a sua energia aos poucos começou a se
restabelecer. Estes eventos não estão somente aliados ao fato da presença das
fagulhas de vida, mas a um sinal enviado pelo Dagda Navan. A simples
percepção da presença aumarante e humana e os sons da natureza, aceleram a cada
segundo o despertar da Danu Luna, inspirando-a segurança.
RH – Como sinais tão fracos
podem ser percebidos em regiões tão distantes do nosso sistema solar?
CN – Já dizia um dos extraordinários
seres humanos evoluído deste planeta: “As coisas invisíveis são a maioria” A
evolução permite nosso avanço em perceber melhor à grandiosidade e beleza que
está oculto em nossa volta e que transcende os cinco sentidos presentes nos
humanos. O desenvolvimento gradual dos demais sentidos rompe as barreiras do
desconhecido, mostrando uma realidade mais próxima da verdade. Por mais belo
que seja o mundo no momento, a raça humana por enquanto, enxerga apenas uma
parte insignificante do todo. Existe uma complexa e diversificada rede de vidas
que interagem entre si em todo universo e que nos rodeiam, inclusive aqui nesta
assembléia, como por exemplo, seres astrais e etéreos. Quando falamos no
Planeta Ceres, nosso pensamento e a sua imagem logo nos chega à mente, se
pensamos em alguém, em um parente, um amigo, logo nos chega a sua imagem. A
força do pensamento é uma dádiva adormecida nos seres humanos e que um dia será
plenamente desenvolvido. A matéria como muitos cientistas aqui presentes sabem,
possuem desdobramentos em estágios atômicos e subatômicos, e tudo isto emite
energia, é vivo. Seres poderosos como as Danus e os Dagdas estão além dos
estados de matéria conhecidos por nós, pois a sua constituição ainda é um
mistério para a nossa ciência. Não obstante, a nossa intuição e percepção
percebem e vislumbram a sua natureza, assim como as fagulhas de vida que estão
no laboratório da estação abissal. O sinal aparentemente fraco para nós é mais
do que suficiente para que outros seres da mesma natureza captem e compreendam.
RH – Como o senhor explica o
que aconteceu no Planeta Ceres? A investida em nossa colônia humana e o fato da
Expedição Rapanui não ser destruída pelos meteoros?
CN – Houve uma contra-ação
enviada do Planeta Éris que desviou os meteoros da rota da expedição, a esfera
vermelha do Dagda atuou e quanto a isto, não temos conhecimento de como
aconteceu. Também evitou a tempo, que o Planeta Ceres fosse totalmente
destruído. O mundo aumarante confirmou que os draconianos estão de volta, mas
sem a presença da Danu Lilith. Os draconianos já sabem que o planeta que
destruíram se recuperou e que uma nova civilização surgiu e se desenvolveu
tecnologicamente, que se desloca entre planetas, ampliando fronteiras. E les temem a ira da Danu Lilith por achar que as
suas ordens não foram cumpridas. Eles ainda não foram ao Planeta Éris conferir
o estado da esfera e também se tem a impressão, que não perceberam a misteriosa
contra-ação. Apesar de recém chegados, em breve captarão as nossas transmissões
e os sinais da Danu Luna. Saberão da existência de uma raça desconhecida num
planeta que julgavam não existir mais vida.
RH – O que o senhor diz sobre
a matéria escura estacionada entre o Planeta Ceres e Júpiter?
CN – São com certeza os
draconianos. O Planeta Dracon também chamado por nós aumarantes de “a Lua Negra
de Lilith”, se desloca mediante um campo de força trazido da sua dimensão. É
extremamente maléfico. Eles aprenderam a utilizar estas forças a serviço da
deusa má.
RH – Então o que o senhor tem
a dizer para que possamos proteger-nos?
CN – A raça humana e aumarante
estão em perigo! Esperamos que nossas forças de defesa e ataque sejam
eficientes, principalmente a marciana, para enfrentar os draconianos! Eles são
cruéis e impiedosos, o povo de Ceres não será poupado!
RH – O senhor considera que já
estamos em guerra?
CN – Sim! Apesar de ainda não
declarada. A ameaça bateu em nossa porta. Devemos ficar atentos às investidas
dos draconianos e na pior das hipóteses, da própria Danu Lilith.
RH – A tecnologia bélica dos
draconianos supera a dos humanos?
CN – Não sabemos afirmar. Não
acompanhamos esse processo, mas devido a sua antiguidade em relação aos
humanos, devem ter avançado neste aspecto. O maior poder dos draconianos se
concentra no que foi disponibilizado pela Danu Lilith. Em todo caso, percebemos
que existe algum comportamento comedido entre os draconianos, estão muito
quietos, já deveriam ter agido. Acho que eles estão supressos com que
descobriram e acredito que haja esperança de um possível equilíbrio de forças.
RH – Eles estão observando
nossos movimentos? Estudando o inimigo?
CN – Certamente! Acredito
nessa possibilidade. E isto pode ser favorável para nós pelo menos por
enquanto. Não é comum esta atitude draconiana. Sabem que a esfera do nosso
Dagda está ativa e certamente já avistaram as tropas marcianas em curso. Ainda
não conhecem a natureza do inimigo e do seu poder, farão algum tipo de contato,
tentarão nos intimidar. São tão inescrupulosos que podem até convidar a se
juntar as suas forças. Devem interceptar nossas comunicações, mas desconhecem o
idioma e ficarão confusos. O hábito atual que tem os humanos de falarem em suas
próprias línguas tradicionais e serem ao mesmo tempo compreendidos, devem adiar
um pouco o entendimento deles.
RH – O senhor disse que os
humanos terão o apoio dos aumarantes! Como se dará?
CN – A raça aumarante apesar
de não se orgulhar disto, possui também um poderoso arsenal bélico. Temos naves
não tripuladas que serão muito eficientes. Podemos enviá-las para ajudar os
marcianos e uma grande quantidade ficará para proteger a Terra onde juntaremos
forças em todos os pontos críticos do planeta.
RH – Como podemos evitar a
fúria da Danu Lilith, uma vez que existe a oportunidade de derrotarmos os
draconianos?
CN – É imprescindível que
levemos a deusa boa para a lua. Em seu antigo ambiente ela conseguirá recuperar
suas energias. Sugiro que essa missão seja executada pela equipe do Dr.
Sargaço.
RH – O que acontecerá quando a
deusa chegar à Lua?
CN – Saberá agir contra as
investidas da Danu Lilith. Ela também possui grandes poderes e assimilará todo
o conhecimento e a força humana e aumarante. Não será mais uma deusa frágil e
assustada e sim uma deusa forte, determina em defender suas crias.
Capítulo 7
OS
SOBREVIVENTES
Após vários dias, o povo ceriano encontra-se
empenhado em localizar os túneis de acesso para a superfície. Dezenas de grupos
foram organizados e destinados em explorar saídas alternativas e, ao chegar à
superfície, avaliar melhor a extensão da destruição dos meteoritos na colônia.
Na área central do refúgio subterrâneo, os
cerianos se acomodam para ouvir o Mestre Tálio. Em sua companhia está a sua
filha Efígie, aflita pela ausência do seu marido Ébano, que se juntou a um
grupo específico, cuja missão seria encontrar por antigas trilhas subterrâneas,
a Estação de Comunicação que se localiza em uma das montanhas próximas a
Colônia de Nathan.
A dúvida ainda é muito presente nos
sentimentos do povo ceriano. A falta de informação do que realmente aconteceu
na superfície, à incerteza de sobrevida das muitas pessoas que não conseguiram
embarcar nos transportes com destino ao subterrâneo e principalmente, se os
sinais de socorro enviados para a colônia de Marte e o Planeta Terra atingiram
os seus destinos.
O Mestre Tálio inicia um pronunciamento:
– Povo de Ceres! Todos os esforços estão sendo
feitos para que possamos redobrar as nossas esperanças em superar esta
catástrofe que se abateu em nosso planeta. Agradecemos e parabenizamos todos os
clãs pelo empenho, solidariedade e o devotado equilíbrio em manter nossas
forças, físicas e mentais unidas. Há vários dias, muitos dos nossos homens,
mulheres e robs, partiram na tentativa de atingir a superfície em busca de
socorro. Tenho uma segura intuição de que nossas comunicações para Marte foram
recebidas. Assim sendo, muito em breve teremos com os nossos irmãos marcianos o
tão esperado socorro. Peço que todos continuem colaborando com as suas
atividades coletivas e mais uma vez, lhes garanto que apesar desta calamidade,
possuímos nesta colônia todas as condições disponíveis para sobrevivermos por
um considerável tempo. Manteremos informados os diversos clãs aqui presentes,
de todo o progresso conquistado pelos nossos irmãos que partiram em exploração.
O Comandante Lítio se aproxima
discretamente do Mestre Tálio e faz algum comentário em voz baixa. O mestre
ensaia um semblante preocupado com o pedido do comandante, olha para o povo
ceriano e continua:
- Meus
irmãos! – fala com voz consternada – Em nome da nossa própria sobrevivência,
solicitamos humildemente a todos os clãs, que disponibilizem os seus filhos
iniciados adultos e saudáveis, que avançaram nas faixas de desenvolvimento
psíquicos e intuitivos, para compor os grupos de defesas.
Um burburinho se escuta entre as pessoas,
gerando um princípio de tumulto. Um dos líderes de clãs pede a palavra:
- Mestre!
Concordamos em ceder muito dos nossos intuitivos em acompanhar os grupos de
exploração. Eles não possuem experiências em técnicas militares, são templários
e agricultores.
- Sei disso
– responde o Mestre Tálio – Eu também não simpatizo com este pedido, mas não
posso recusar diante dos sinceros argumentos e apoio do Comandante Lítio!
Nossas tropas são formadas por robs e como sabem, centenas deles foram
destruídos no solo e na órbita de Ceres! Uma grande maioria se sacrificou em
proteger nossas vidas, inclusive no momento do alarme que nos trouxe até aqui.
Precisamos reforçar esta lacuna aberta e manter nosso povo seguro, caso haja
necessidade. Não serão simples soldados e sim, soldados com faculdades
especiais.
Os líderes dos clãs ficam em silêncio.
Eles expressam um sinal simbólico com as mãos, que significa um pedido de tempo
para reflexão e deixam o local para se reunirem e decidirem em seus próprios
clãs.
- Obrigado,
mestre. Sei que foi difícil fazer isto – diz o Comandante Lítio.
- Entendo
as suas intenções Lítio. Vivemos momentos difíceis. A pacata rotina do povo
ceriano foi quebrada. O momento é de sacrifícios pelo bem de todos.
- Prometo
mestre. Que não vou expor os templários em demasia. Mas é que eu não...
- Meu amigo
– interrompe o mestre – Não precisa se justificar. Confio em sua experiência e
sabedoria, assim como sei, que confiará nos templários.
- Sim
mestre – respira aliviado o comandante – Conheço a capacidade de muitos
templários, inclusive daqueles que foram à Marte.
- Pelo
visto, comandante. Alguns dos nossos cerianos sofreram influências dos
guerreiros marcianos – fala o mestre, com a voz cansada.
- São
jovens, mestre. Possuem faculdades psíquicas tão avançadas quanto as suas
curiosidades de aprender. Posso lhe garantir que as influências foram positivas
e os marcianos muito gentis.
- Houve um tempo comandante, em que no Planeta Terra havia uma ordem de
templários guerreiros. Estes homens lutavam com outros homens igualmente bravos
e determinados em proteger suas crenças e territórios. As suas existências
influenciaram significativamente na antiga história da humanidade. Não me
agrada que venha existir aqui em Ceres uma ordem desta natureza.
- Entendo
mestre. E concordo com o seu pensamento. Mas o senhor sabe que não é esta a
minha intenção.
- Não me preocupo com suas
intenções Lítio. Sou seu amigo e o conheço bem você. Também acho que nossos
templários não vislumbram estas possibilidades. Mas lembrando do passado do
nosso povo terráqueo e dos antigos registros, que
nos leva a
um mundo em que as pessoas foram dominadas por déspotas. Pessoas humilhadas e
separadas dos seus clãs. Jovens homens se viram obrigados a erguer suas espadas
e escudos em busca de uma liberdade e paz, atalhada pela guerra e sofrimento.
Estes sentimentos encontram-se adormecidos em nossa natureza humana.
- Sei bem o
que diz mestre – confirma o Comandante Lítio – Quando estou perto de um soldado
marciano, percebo claramente as suas preocupações. Mas apesar de cultuarem os
valores do guerreiro, os marcianos pensam na paz.
- Admiro os
marcianos – diz o mestre – São como glóbulos brancos que defendem o organismo
de doenças.
- Apesar de
serem vermelhos? – brinca o comandante, quebrando o clima de preocupação.
- Sim – sorrir
o mestre – Apesar de serem “vermelhos”
Ao retornar aos aposentos, o mestre
encontra sua filha envolvida em pensamentos e preocupações.
- Minha
filha?
- Pai!
- Não sofra
tanto. Ébano é um homem inteligente e sabe o que está fazendo. Será um bom
líder em breve.
- Eu sei
meu pai. Mas tudo isso é tão intenso e novo para nós. Essa sensação de
impotência nos consome. Estive visitando alguns clãs, as pessoas choram e
sofrem pelas perdas dos seus parentes e amigos, a desesperança nos invade a
alma.
- Minha
filha. Você tem poderes avançados e sabe tanto quanto eu que seremos socorridos
– conforta o mestre.
- Sei disso,
pai. Mas também sabemos que não são apenas os meteoritos que nos ameaçam.
Apesar de estarmos aqui em baixo, existe algo muito ruim lá fora que não
sabemos como lidar. Foi por isso que Lítio pediu para convocar templários paras
as forças de defesa.
- Em breve saberemos
minha filha. Por isso que a missão de Ébano é tão importante.
- O senhor
acha que ele vai localizar o túnel certo?
- Tenho
absoluta certeza que sim. Acho até que ele está mais próximo do que imaginamos.
Existe uma eficiente unidade de comunicação no interior de uma das montanhas
que circulam a nossa colônia. Quando for ativada, saberemos o que aconteceu lá
fora e como agir. Agora procure descansar um pouco. Preciso me reunir com o
nosso clã e receber voluntários para o comandante.
- Não
consigo descansar. Irei com o senhor, estarei melhor ao seu lado – Abraça o pai
demoradamente.
O passar das horas e dos dias, só faz
aumentar as expectativas dos cerianos. Os clãs finalmente concordaram em
liberar seus filhos templários para a convocação das forças de defesas. Dezenas
de grupos retornam dos túneis, sem boas notícias, fatigados, feridos, doentes e
sem esperanças.
Foram inúmeras, as tentativas frustradas
de reabrir as passagens para superfície. Muitos grupos retornaram sem os robs e
estes, sem os humanos. As comunicações internas são deficientes, os sinais são
bloqueados pelos minérios de rochas magnéticas, causando interferências
prolongadas. Há pouca água, comida e oxigênio nos cilindros para prosseguir nos
túneis mais distantes, escuros e quentes.
Os robs em sua grande maioria não são
especialistas nestas atividades. As suas fontes de energias são exauridas e
muitos ficam nos caminhos descarregados, despencando do alto das cavernas em
escaladas arriscadas para conduzir e amarrar cordas.
Na escuridão destes antigos túneis, nunca
explorados por estas equipes de cerianos, escuta-se lamúria, choros e gritos.
Pequenos seres venenosos até então desconhecidos, viventes do mundo subterrâneo
e da escuridão os ataca. Espécies de fungos provocam terríveis e sufocantes
reações alérgicas. Muitas vidas são perdidas e poucos tentaram heroicamente
prosseguir, com incertezas e lembranças delirantes.
Um destes homens é Ébano. Ele percorre túneis
escuros guiado apenas com os poderes de sua intuição, fazendo-o desviar
antecipadamente dos perigos. Um rob doméstico ainda o distrai nesta jornada,
sendo carregado nas costas, pois sua fonte de energia não mais permite caminhar
nem produzir iluminação, apenas uma fraca luz em seus olhos.
- Então
amiguinho, não vai desligar agora! Estamos muito próximos da entrada da unidade
de comunicação!
Uma fraca voz eletrônica responde:
- Você
sempre foi bom nestas brincadeiras de andar no escuro Éba!
- É verdade
– responde Ébano – Fazíamos muito isso juntos quando eu era criança! Mas não
fale! Economize energia!
- Ainda bem
que você cresceu! Assim pode me carregar, não gostaria de terminar minha
existência rob aqui nesse buraco!
- O que
isso Iron! Você acha que eu o deixaria aqui? Levaria você, mesmo desligado!
- Então se
apresse! Está muito próximo disto acontecer!
- Agüente
firme! Só mais um pouco! Ao chegarmos, farei uma recarga demorada para você, um
bom descanso para mim! Falando nisso! Que tal nos acompanhar quando formos a
Terra?
Nenhuma
resposta é dita.
- Iron!
Iron!
Ébano pára a caminhada e mesmo sem
enxergar, fica com o rosto de frente para o empoeirado e arranhado amigo
cibernético. Encosta a sua testa a dele e respira forte.
- Descanse
um pouco meu amigo. Vou tirar a gente daqui!
Ébano põe novamente o rob nas costas e
prossegue a sua jornada. Horas depois, percebe uma pequena lufada de vento no
rosto e tropeça em algo semelhante a cabos de força. Recupera-se da queda e do
susto, e tateando as mãos no solo acha o rob que caiu, amarrando-o nas costas.
Ébano continua se guiando no escuro.
- Acho que
são os antigos cabos de fontes térmicas. Estou perto – anima-se em voz alta.
Ele percebe que o piso não é mais
pedregoso e rústico. A linha de cabos se torna mais complexa e Ébano se levanta
extremamente exausto e debilitado. Ao ficar de pé, luzes automáticas se acedem
iluminando um corredor. Na parede, ele ver um painel com instruções para o uso
de elevadores de emergência. Ele põe as mãos na cabeça e comemora com esforço.
Chama a atenção do Rob, mas sem sucesso. Caminhando em direção a um dos
elevadores, que possuem vários acentos com travas de segurança corporal, ele prende
o rob e senta em outra. Logo depois, aciona uma alavanca que o precipita para o
alto com velocidade.
Ébano chega desmaiado nas instalações da
estação de comunicação da montanha e ao acordar, observa alguns robs lhe
prestando os primeiros socorros. Ele se levanta atordoado, olha para o
companheiro Rob, que ainda desligado recarrega suas baterias, mostrando sinais
de ativação e dando pequenos soluços eletrônicos. Outro rob se aproxima.
- Irmão
Ébano. Está se sentindo melhor?
- Sim
amigo. Estou melhor, é um prazer em vê-los.
- O senhor
precisa descansar um pouco, está muito debilitado. Beba este tonificante, por
favor.
- Obrigado
E como está o meu amigo?
- Ele vai
ficar bem. Sofreu muitas avarias. Deu tudo de si.
- É um bom
RD.
- Positivo
senhor! Os modelos antigos são mais resistentes.
- Necessito
enviar um sinal para Marte – diz Ébano eufórico.
- Calmo
senhor. Nós já o fizemos. Os meteoritos não abalaram esta unidade, a montanha
nos protegeu.
- Existem outros
robs intactos?
- Positivo
senhor! Inclusive já estamos consertando alguns, temos recursos para isto, há
um laboratório.
- Pediram
ajuda? Marte respondeu?
- O senhor
mesmo pode conferir. Siga-me, por favor.
Ébano entra em um elevador panorâmico.
Durante a subida, ele observa a haste enorme de uma antena que foi liberada
pelos robs de comunicação e projetada para fora das rochas no pico da montanha.
Do alto, o cenário revela para Ébano a dimensão do estrago que sofreu a Colônia
de Nathan. Observa mesmo distante, centenas de robs e máquinas trabalhando nas
entradas dos túneis bloqueados. Ele chega ao salão de comunicação, e outro rob
de origem marciana se aproxima:
- Irmão
Ébano. Que bom que se recuperou. Precisamos responder aos cruzadores marcianos.
- Estão
aqui? Os Cruzadores?
- Positivo
senhor. Inclusive os hospitalares, praticamente todo contingente de robs
marcianos veio para Ceres.
- Há
humanos?
- Chegaram
há poucos minutos. Estão na órbita do planeta, aguardando uma comunicação,
senhor.
O rob ativa o painel de controle e uma
imagem holográfica surgiu no centro do salão.
- Saudações
fraternas Ceres! Aqui é o General Nergal, do Clã dos Ma'adim Vallis!
- Saudações General! Sou Ébano, templário do Clãs dos
Adâmicos!
- Estamos
muito próximos meu amigo! Qual é a situação?
- General!
Tivemos muitas mortes! Foi tudo muito rápido, o povo ceriano encontra-se
refugiado no interior do planeta!
- Foi o que
imaginamos! Recolhemos os mortos da superfície, não temos ainda identificação
de todos!
- General!
Precisamos tirar os que estão no subsolo. Existem muitos perigos lá embaixo! -
diz Ébano, aflito.
- Calma meu
rapaz. Já estamos providenciando a abertura das passagens e enviamos robs
voadores nos túneis para a retirada dos mortos. Os feridos já recebem os
primeiros socorros. Também mapeamos e isolamos algumas áreas. O que houver de
hostil vai ser eliminado e desinfetado. Tem notícias do Mestre Tálio?
- Está
vivo, senhor. Assim como os demais mestres de clãs.
- É uma boa
notícia, templário. Agora me escute com atenção! Mantenha a calma e siga para a
plataforma da montanha, estamos envergando a curva orbital, chegaremos em
instantes.
- Sim
senhor – responde Ébano aliviado.
No interior dos abrigos, são escutados
pequenos tremores. O povo ceriano se assusta, mas logo se conforta aliviado com
a presença dos robs marcianos voadores, que iluminam cada ponto do subterrâneo.
Uma euforia de alegria contagia a todos. Os sobreviventes estão salvos. O
Mestre Tálio com a sua filha comemoram a notícia que Ébano está vivo, que
conseguiu chegar à superfície.
As passagens dos túneis são finalmente
abertas, o dia amanhece com um colorido de luzes de naves marcianas que chegam
do céu. Uma fina camada de neblina começa a se dissipar. A superfície ceriana
passa a ser vasculhada por uma frota de naves de combate e reconhecimento.
No início da noite, todos os humanos da
colônia já foram medicados e imediatamente transportados para as naves
hospitalares, estacionadas na órbita do planeta.
O General Nergal encontra-se na sala de
comando do Cruzador Centauro, observando o Planeta Ceres. Tinha completado
parte da sua missão, pois deverá seguir com os sobreviventes para Marte, opção
mais segura no momento, pois arriscado seria transportá-los para o Planeta
Terra, o que implicaria em mais alguns dias de viagem para o já debilitado povo
ceriano.
Soldados marcianos e robs fazem as últimas
avaliações da situação em solo. Relacionam os prejuízos e o que pode ser
aproveitado ou recuperado. Uma nave cargueira recolhe e acondiciona o patrimônio
científico e cultural da Colônia de Nathan. A atividade de embarque de
materiais é constante e cuidadosa. Nas montanhas e em diversos pontos do
planeta e em sua órbita, sofisticadas máquinas de monitoramento e vigilância
são posicionadas.
Em naves hospitalares, o povo ceriano
ainda encontra-se atordoado com os recentes acontecimentos. Estão tristes por
abandonar os seus lares de forma tão abrupta, mas ao mesmo tempo felizes em
saberem que não pereceriam enclausurados nos subterrâneos do planeta. Entre
eles se encontra o Mestre Tálio, reunido com a sua filha e genro, vendo o Rob
Iron se recuperar satisfatoriamente de suas avarias.
Foram necessários alguns dias para que as
operações no Planeta Ceres fossem concluídas. Soldados e robs se preparam para
retornar ao espaço. Os líderes dos clãs estão reunidos com os templários e os
comandos militares de Marte e Ceres. O General Nergal recebe atenciosamente
cada um dos líderes para comunicar as novas ações a serem realizadas. O Mestre
Tálio se aproxima sorridente do General Nergal.
- General,
que bom revê-lo!
- Mestre
Tálio! Fico feliz que esteja bem! – retribui com um forte abraço – Quero me
desculpar por ainda não ter tido com o senhor e com seu povo nestes últimos
dias.
- Não precisa
se desculpar meu amigo. Sabemos como foi difícil e trabalhoso este resgate.
Nosso povo está eternamente grato pelas gentilezas e atenções.
- Eternamente
é muito tempo mestre – sorrir o general – Fizemos a nossa obrigação, além do
mais não deixaríamos nossos irmãos cerianos se auxílio. O fato de está próximo
a Marte facilitou a nossa chegada com rapidez à Colônia de Nathan.
- Sabemos
do poder da generosidade marciana, general. Mas pelo que podemos observar,
existe uma grande frota de cruzadores e caças em toda órbita do Planeta. Creio
que exista algo mais, ainda oculto para nós, nestes acontecimentos além da
operação de socorro. Pressentimos uma atmosfera hostil.
- Os
intuitivos cerianos – responde o general com satisfação – Nada lhes foge aos
seus instintos apurados. Lembro muito do meu Tio Sargaço comentando a admiração
pelo seu povo. Mas respondendo a sua pergunta mestre, realmente existe algo
muito hostil.
-
Infelizmente general – diz o mestre – Nossos poderes intuitivos não foram
eficientes para evitar com bastante antecedência, as muitas mortes do nosso
povo.
- Não se
lamente amigo mestre. Suas intuições o salvaram. Reunir todos aqui para melhor
explicar o que acontece neste sistema. Recebemos instruções e informações do
Planeta Terra e posso lhe garantir que ficará supresso.
- Já ouvir
falar muito do seu tio. O Dr. Sargaço, um iminente cientista que praticamente
dedicou a sua vida nas profundezas do oceano.
- Pois é
mestre – diz o general – O meu tio está envolvido até o pescoço em muitos dos
acontecimentos inéditos.
- Seu Tio?
– indaga o mestre.
- O meu tio
e os seus amigos mais próximos. Conhece o Dr. Asa?
- Já ouvi
falar de muitos cientistas da Terra, apesar de não ter com eles nenhum contato
pessoal. Como o seu Tio Sargaço no fundo dos oceanos, dediquei-me ao progresso
do povo ceriano.
- Uma
grandiosa obra mestre. Uma grandiosa obra – elogia o general com simpatia.
O General Nergal levanta os olhos sobre o
ombro do Mestre Tálio e ver chegando o Comandante Lítio, que se aproxima com
alguns homens.
-
Comandante Lítio! – estende a mão o general.
- General!
Finalmente estamos prontos!
- Sem a sua
ajuda e experiência, teria sido muito mais difícil comandante. Meus parabéns!
- As
ordens, general. Tenho aqui alguns homens que gostaria de apresentar – continua
o comandante – São templários dos diversos clãs de Ceres.
- Ah sim!
Os templários – se entusiasma o general – Tivemos a honra de conhecer alguns
deles em Marte.
- Foram
convocados para compor as forças de defesas enquanto estávamos refugiados nos abrigos
subterrâneos – diz o comandante.
- Entendo –
diz o general olhando para cada um deles como se estivesse em poucos segundos,
tentando achar algum perfil de soldado em suas almas.
O Comandante Lítio percebendo a situação
se antecede em poupar o general de comentários.
-
Certamente. Não são como os valorosos e treinados soldados marcianos nas artes
militares, mas desde a chegada da frota que eles decidiram em colaborar.
O general olha para o Mestre Tálio que faz
um discreto movimento afirmativo com a cabeça.
- Pois não
comandante – disse o general – Toda a ajuda em bem-vinda e a boa vontade dos
templários se equiparam à destreza dos nossos soldados. Ainda não havíamos tido
esse tipo de experiência, mas em Marte soube que alguns dos seus templários
mantêm fortes laços de amizades com alguns dos nossos soldados.
- Senhor
General – adianta-se Ébano – Permita-me um comentário.
- Este é o
meu genro Ébano – apresenta Mestre Tálio ao general.
- Sim
Ébano. Você foi o primeiro contato que tivemos com humanos em Ceres. Foi muito
corajoso templário, em se arriscar pelos antigos túneis.
- Obrigado
general. Mas era uma questão de sobrevivência, havia pouco o que fazer.
- Entendo.
Mas você iria fazer um comentário?
- Sim
senhor – continua Ébano – É que em nossas visitas ao Planeta Marte, realmente
fizemos muitas amizades. Faz parte do nosso aprendizado como neófitos, conhecer
e estudar as diversas culturas humanas. Marte é a mais próxima fonte de
convivência real de uma cultura diferenciada. Participamos com o consentimento
do Mestre Menés e do General Ares, de alguns treinamentos e táticas militares.
- É o que
temos de melhor – diz com humor o general e todos ensaiam um sorriso.
- Também – continua
Ébano – Cedemos um pouco dos nossos conhecimentos. Percebemos que esta
convivência é promissora na união de forças.
O general põe os braços para trás e
determina.
- Sendo
assim. A nova força ceriana é integrada às forças marcianas sob as orientações
do Comandante Lítio.
- Sim
senhor, general – responde o comandante.
- Bem, preciso
fazer um pronunciamento, nos veremos em breve. O Mestre Tálio pode me
acompanhar?
- Sim
general. Será uma honra.
O General Nergal se posiciona no centro da
sala de reuniões, que possui uma elevação maior que o piso onde sem encontra os
demais presentes. Os chefes dos clãs assumem outra área em formato de arco, no
mesmo nível de onde se encontra o general.
As luzes vão diminuindo gradativamente,
apenas se vê uma mancha de luz vermelha abaixo da poltrona do general. Aos
poucos, imagens vão surgindo nas laterais do teto. São os rostos de autoridades
da Terra, Marte e de outras pessoas envolvidas diretamente com os fatos.
Desta vez a Rede Humanity não tem acesso
aos sinais, não por censura, mas por segurança militar. Uma vez que todos os
humanos do sistema solar, com exceção dos cerianos, já conhecem a real situação
dos fatos, foi reproduzida a entrevista do Conselheiro Netuno.
Após alguns minutos, todas as imagens
estão nítidas e com boa acústica. As apresentações prosseguem:
Mestre Clístenes – Soberano líder da Terra
e da humanidade;
Comandante Arcturus –
Defesa de fronteira da Terra;
Comandante Ondina
– Defesa submarina da Terra;
Capitã Iara – Comando de frota submarina;
Dr. Asa – Cientista chefe da Estação Lunar
Meteora;
Dr. Sargaço – Cientista chefe Estação Oceânica Niflheim;
Mestre Menés – Soberano líder de Marte;
General Ares – Comando militar de Marte;
General Nergal – Comando Militar de
fronteira de Marte e Ceres;
Comandante Ísis - Expedição Rapanui;
Mestre Tálio – Soberano líder de Ceres;
Comandante Lítio – Comando Militar de
Ceres.
Tudo o que havia passado até o presente
momento foi elaboradamente resumido para a compreensão dos cerianos, que atônitos
acompanhavam dos seus aposentos, espalhados por diversas naves de campanha. As
orientações confirmavam o retorno imediato da frota para o Planeta Marte. Naves
terráqueas já estariam em curso para cabotagem e reconduzir o povo ceriano ao
Planeta Terra.
Ao finalizar as primeiras instruções, o
Mestre Clístenes apresenta o Conselheiro Netuno como o representante da raça
aumarante.
A reação dos cerianos é silenciosa e
comovente, ao saberem que os aumarantes passaram milhões de anos refugiados no interior
do Planeta Terra para proteger a humanidade. Que um ser superior, até então
desconhecido, era o responsável pela existência humana. Lembraram do sofrimento
nos abrigos subterrâneos no Planeta Ceres, das perdas irreparáveis e de uma
nova ameaça que se aproxima.
- Saudações
fraternas, humanos do Planeta Ceres – inicia o Conselheiro Netuno - - Quero
prestar a minha sincera solidariedade em nome de todo o povo aumarante. Estamos
agora unidos em eliminar um mal que tanto atormentou as nossas existências.
Aproxima-se o momento em que este sistema solar se verá livre da tirania e
subjugo de forças, que usam um poder do mais forte para dominar, matar e
humilhar os mais fracos. Perdoem-nos por passarmos tantas eras nas suas
convivências e nunca nos revelarmos. Precisávamos respeitar o tempo das coisas,
da evolução e principalmente o das nossas divindades. Um novo tempo surgirá
para nós, humanos e aumarantes. E uma nova ordem de paz e harmonia, habitará os
nossos mundos. Obrigado a todos. Navan!
Capítulo 8
OS
DRACONIANOS
Durante o pronunciamento e apresentação do Conselheiro Netuno no Planeta
Terra, uma tríade de irmãos alienígenas, líderes draconianos de cujos nomes são
Dracórius, Detra e Draves, captam e acompanham as transmissões humanas oriundas
de diversas fontes, na tentativa de decodificá-las. Eles habitam ocultos num
planeta anão, escuro, de geografia montanhosa e com autonomia de deslocamento
pelo espaço. O Planeta Dracon ou a Lua Negra de Lilith, como chamam os aumarantes,
se encontra protegido por uma barreira de energia desconhecida, estacionada
entre os planetas Ceres e Júpiter. Sombrios e determinados, eles analisam o que
se passou neste sistema solar enquanto estavam ausentes.
- Então
Dracórius. Quem são estes seres? – pergunta uma voz gutural.
- Ainda não
sei Draves. Não são de outros quadrantes. Não ousariam penetrar em nossos
domínios. Tenho a impressão que estes seres se desenvolveram aqui, neste
sistema.
- Mas não
deixamos nada! Matamos tudo!
- Já faz
muito tempo da última vez que estivemos aqui. Algumas formas de vida conseguem
se desenvolver em curtos períodos – comenta Dracórius.
- Também
não viverão o suficiente! – diz Detra, o terceiro irmão draconiano – Teremos um
pouco de diversão. Faz um bom tempo que não caçamos neste sistema.
- É melhor
não se precipitar Detra. Ainda não sabemos com que estamos lidando. Essa
linguagem! – irrita-se Dracórius - É difícil de decodificar em pouco tempo. Não
existe nada que nos guie a uma pista segura que explique o que eles fazem aqui.
- Eu sei
com que estamos lidando – disse Draves – Uma oportunidade arriscada de colar as
nossas cabeças quando a deusa souber.
- Daremos
uma solução nisto – tranquiliza Dracórius – Podemos oferecê-la novos escravos para
servir aos seus propósitos.
- Não seja
ingênuo! – fala Detra – Ela deu ordens para eliminar tudo! E o que fizemos?
-
Eliminamos – responde Dracórius – Montamos um cinturão de asteróides. Isolamos
todas as possibilidades deste sistema emitir o menor sinal de vida para outros pontos
do universo!
- Mas não
funcionou! – continua Detra - O Deus Navan interferiu! Ainda se mantém vivo e
concentra muita força!
- O Deus
Navan não pode fazer mais do que isso! – disse Draves – Está aprisionado. Mas
concordo com Detra, a deusa vai se enfurecer.
- Calem-se
os dois! Sou o mais velho! E tenho a autoridade concedida pela deusa em
decidir! – Grita Dracórius, com firmeza.
Enquanto os irmãos discutem, as
transmissões continuam chegando e a pista que eles tanto esperavam se revelou,
pois ao escutarem o nome Navan pronunciado pelo Conselheiro Netuno, os irmãos
draconianos se surpreendem:
- Navan! Você
escutou isso Dracórius! – alerta Detra, empolgado.
- Navan?
Não é possível! Só os aumarinos pronunciavam esta palavra – completa Draves.
Dracórius fica em silêncio e os seus olhos
se enfurecem de ódio.
- Isso não
estava em nossos planos! A deusa retornará em breve e não vai gostar disso! –
comenta Detra.
-
Dracórius! Precisamos agir! Este sistema está dominado! Uma civilização
prosperou e evolui em tecnologias! – disse Draves – Certamente possuem meios de
defesas e armas por nós desconhecidos.
- Não pense
Dracórius! – grita Detra - Destrua-os!
- Nenhum
aumarino ou qualquer outra raça foram deixados para trás. De onde vêm estes
seres? – questiona Draves.
- O Deus
Navan não teria forças para produzir nada onde o deixamos – conclui Dracórius,
quebrando o silêncio.
- Então é
uma geração espontânea que surgiu? – pergunta Draves.
- Seja lá o
que são, tem que ser destruídos! – insiste Detra, eufórico e delirante.
- Não é
espontânea. Falhamos em alguma coisa. – diz Dracórius, com serenidade e
decepção.
- Este ser
de nome Netuno – comenta Draves – É diferente da maioria. É único entre os
seus. Foi ele que pronunciou o nome Navan.
- Isso tudo
é muito estranho – indaga Dracórius – Não é aumarino.
- Serão
filhos da Deusa Luna? – Detra se aproxima dos fatos – Ela não foi encontrada
quando eliminamos os aumarinos.
- Não pode
ser. Ela foi destruída na tentativa de salvar os aumarinos. Nada poderia sobreviver
aquele impacto! – disse Dracórius cruzando os braços.
- Você a
viu? – pergunta Detra com desdém – Acho que a subestimamos. Ela pode ter dado
um jeito de esconder-se, fugir e até de proteger a vida dos aumarinos, mesmo
que seja uma parte insignificante deles.
- Ele pode
ter razão Dracórius. A Deusa Luna era frágil, mas poderosa – completa Draves –
Estas criaturas podem ser obras da sua criação ou vestígios dela.
- Eles
ocupam quatro planetas neste sistema estelar. Habitaram o Planeta Sinos,
criando cidades – observa Dracórius, utilizando avançados recursos de
investigação.
- Três! – corrige
Detra, sorrindo sarcasticamente – Uma, destruímos! É um bom começo!
- A nossa
reentrada trouxe uma pequena parte dos asteróides lançados sobre nós. Não foi
uma ação deliberada da nossa parte – conclui Draves – Escapamos por pouco
daquele sistema. Não podemos permitir que outros seres conscientes evoluam sem
controle.
- Não
esqueça que identificamos um grupo de naves deles seguindo para outro planeta!
Bem próximo onde se encontra o Deus Navan! – alerta Detra.
Dracórius se afasta dos irmãos em silêncio
e permanece assim durante alguns minutos.
- Você
pensa demais Dracórius! – provoca Detra, com firmeza – Temos que destruí-los!
- Às vezes
tenho vontade é de te destruir Detra! – grita Dracórius, se virando em direção
ao irmão com fúria. O seu semblante se transforma e o seu corpo emite uma
camada de luz vermelha escura.
- Penso que
seria melhor se fosse ao contrário! Mas se tentar me matar sabe bem quais são
as conseqüências. Estamos unidos pela mesma força vital fornecida pela deusa,
se um de nós morre, os outros dois ficam mais fracos – avisa Detra com ironia.
- A deusa
errou em fazer isto! Não confiou dar poderes absolutos a um só! É lamentável!
Senão você já estaria morto! – ameaça Dracórius, rancoroso.
- Não
conhecemos os poderes destas raças Dracórius! – disse Draves – Arriscaria em
atacá-los?
- Detesto
admitir mais o idiota do Detra tem razão – comenta Dracórius - Recebemos ordens
da rainha para destruir tudo, ela tem os seus planos para este sistema. Essa é
uma das passagens mais seguras para o seu reino. Mas se falharmos na tentativa
de destruí-los? Vamos expor a deusa? E quanto a nós? Perderemos o dom da eterna
longevidade? De não envelhecermos? A energia da deusa nos mantém vivos e fortes,
mas lembre-se que não somos imortais! Existem centenas de naves retornando
daquele planeta. Muitos daqueles seres se protegeram no subterrâneo, se
refugiaram, morreram, são corpos frágeis sem proteção, não teremos dificuldades
em destruí-los.
- Que tal
começar a caçada com eles! – sugere Detra, decidido - Podemos testar e conhecer
os seus poderes de defesa e ataque. Entender como funcionam. Nessa investida eu
faço questão de ir! E lhes garanto que nada sobreviverá!
- Não! – discorda
Draves – Vamos iniciar um contato, persuadi-los, conhecer suas fraquezas.
Podemos poupar muita energia até conhecer melhor a sua tecnologia.
- Você
realmente é um estraga prazer Draves! – diz Detra, com os braços estirados
sobre um tipo de mesa de pedra vulcânica, com a cabeça abaixada e balançando-a
negativamente.
- Se
prefere assim! Então cumpra você mesmo! E faça bem feito! – fala Draves ao
irmão – Mas lembre-se! Ao menor sinal de reação e fraqueza os destruiremos! É
melhor que não esteja por perto!
- Está
decidido! – disse Dracórius - Será o que faremos! Tentaremos fazer contato com
aquele a que chamam de Netuno. Muito em breve decodificaremos parte da
linguagem deles, mas de início usaremos a língua draconiana. Se for um aumarino
se revelará!
Capítulo 9
O CONTATO
No espaço, já fora da órbita
do Planeta Ceres, centenas de caças pilotados por soldados marcianos robs,
protegem as naves hospitalares e de campanhas onde se encontram os Cerianos.
Outras dezenas de cruzadores se posicionam ao seu redor. Faltam poucas horas
para que os restantes dos soldados retornem do planeta para que finalmente a
frota siga para a Terra.
Os Generais Nergal e Ares planejam a
possibilidade de definir uma nova rota para que a frota marciana possa ainda se
encontrar com as frotas terráqueas, para então procederem a transferência dos
Cerianos para o Planeta Terra, evitando um primeiro desembarque em Marte.
Nas naves de campanha, os templários
encontram-se reunidos em meditação e entre eles, o Mestre Tálio e seu genro
Ébano. As habilidades psíquicas e intuitivas dos templários estão ativadas e
perceptíveis a qualquer sinal hostil. Observando-os há poucos metros, Efígie e
o Rob Iron conversam descontraídos.
- Iron! Faz
algum tempo que vejo você às voltas com um rob marciano.
- É verdade
senhora – responde – Nos conhecemos na unidade de comunicação. Eles nos
encontraram inconscientes e nos prestaram os primeiros socorros.
- Sei
disso. O que me deixa curiosa é que não são muito comuns estas amizades entre
robs!
- Minha senhora. Estas amizades são mais comuns do que os humanos
imaginam. Temos nossos sinais e linguagens próprias que surgiram espontaneamente,
se assim podemos dizer. É que na maioria do tempo, estamos a servir nossos
queridos humanos e muitas vezes estes relacionamentos entre robs não são
percebidos. Ele é um rob médico marciano e um admirador dos modelos robs mais
antigos como eu. Estávamos trocando informações de como são diferentes as
nossas atividades e como foi a minha experiência nos túneis.
- Interessante
– diz Efígie, sorrindo – Inclusive percebo sem querer ofender, que você está
mais esperto depois desta experiência.
- Jamais me
sentirei ofendido com as suas palavras minha senhora. E se estou mais esperto,
devo ao rob marciano. Ele aperfeiçoou os meus programas, estou mais interativo
e rápido em meus processos.
- Sério! – surpreende-se
Efígie, com alegria – Muito boa essa notícia. Ébano já sabe disto?
- Sim. Ele
já sabe, foi o primeiro a perceber, convive comigo desde criança. Costumava
dizer que sou o irmão mais velho dele. Por isso nunca permitiu que eu fosse
modificado para outra estrutura mais moderna, mesmo mantendo a memória padrão.
- Acho
incrível a presença dos robs em nossas vidas – disse Efígie – Não consigo
imaginar como era ou seria o mundo sem vocês.
- Pensamos
da mesma forma minha senhora. Como seria a nossa existência sem os humanos?
Falando nisso. Será que os aumarantes possuem robs?
Efígie se abaixa, segura o rob pelos
braços e sorridente diz:
- Você está
ficando um robô muito espertinho sabia?
- Obrigado
pelo elogio, senhora.
Efígie pára o olhar no tempo, sua pele
esmaece e sente tonturas. Esforça-se para não desmaiar. O Rob Iron a ampara com
cuidado.
- Minha
senhora! Não está bem?
- Não
amiguinho. Os meus sentidos estão vibrando.
- Sente-se
minha senhora. Por favor.
Efígie obedece ao Rob Iron. À sua frente
chega o Mestre Tálio, que põem as mãos sobre a cabeça da filha emanando forças
vitais.
- Sente-se
melhor?
- Sim pai,
obrigada. Está acontecendo outro evento não é?
- Sim
filha. Eu os templários já captamos muitas coisas.
- Mais
sofrimento?
- Calma
filha! Fique aqui com o rob, preciso avisar ao General Nergal!
No salão do comando do Cruzador Centauro,
um rob se aproxima do general.
- Senhor! O
mestre Tálio deseja falar.
- Prossiga!
– ordena o general.
Uma imagem
holográfica surge no centro do comando.
- Mestre
Tálio!
- General!
Captamos sinais oriundos da massa invisível.
O general
fica atento.
- Mestre
Tálio! Apesar de não possuir os poderes psíquicos dos cerianos, eu percebi que
eles estavam ali o tempo todo nos observando!
- Agora o senhor
tem a confirmação general.
- Já faz
algum tempo que acompanhamos o seu deslocamento em nossa direção. O senhor tem
mais alguma informação adicional?
- Sim
general. Um sinal mental revela um desejo de contato com o aumarante. O centro
de comunicação deverá receber alguma mensagem.
Um oficial se aproxima do general e
confirma a informação.
- Mestre!
Já temos a confirmação! Nada é dito de forma compreensível, além do nome Netuno.
- Eles
devem está falando em língua própria general – orienta o Mestre Tálio.
O general ordena a central de comunicação,
abrir um canal com o Planeta Terra.
- Senhor! O
canal com a Terra está livre – avisa
oficial de comunicações.
- General
Nergal!
- Saudações
excelência! – continua o general – Mestre Clístenes. Temos um inicio de contato
com os draconianos e até o momento não existe sinal de reações hostis, pedem para
contatar o aumarante Netuno.
- Ele se
encontra no submarino na companhia do Dr. Asa, Sargaço e da Capitã Iara –
informa o mestre - Seguem para a Estação Oceânica Niflheim. De lá, partem para
ao mundo aumarante.
- Como o Conselheiro
Netuno havia previsto, existem dificuldades de comunicações com os draconianos.
Já estávamos prontos para partir com o povo ceriano e agora, já não podemos.
- General
Nergal. Aguarde um pouco. Pedirei ao Conselheiro Netuno para ser o nosso
intérprete, certamente ele conhece a linguagem draconiana.
- Ficarei
aguardando mestre, Obrigado.
O oficial de comunicações avisa ao General
que já existe movimentação.
- General!
Algo acontece lá fora!
O general se aproxima da janela panorâmica
e acompanha as imagens do espaço exterior. Ver os outros cruzadores, naves
hospitalares, cargueiros e caças robs. Observa que próximo ao Planeta Ceres,
surgiu uma espaçonave esférica de formas bizarras, revestidas de rochas polidas
brilhantes e pontiagudas, emitindo sinais luminosos disformes.
- Estão
querendo chamar nossa atenção. Comunicação! Emita sinais luminosos similares na
mesma freqüência e abra um canal com todos os oficiais e comandos marcianos!
- Senhor! O
General Ares e Mestre Menés estão no canal!
- Amigos!
- Nergal!
Estamos recebendo os primeiros sinais! Parece que o clima esquentou! – comenta
o General Ares.
- As coisas
aqui estão ficando tensas!
- General
Nergal. Como está o povo ceriano?
- Estão bem
no momento Mestre Menés. Apreensivos como todos nós. Não sabemos ainda como
agir, mas seja lá como for, estamos preparados.
- General –
continua o Mestre Menés – Não subestime o poder dos templários, ordene para que
eles se dividam nos cruzadores e no apoio aos caças robs. Os seus poderes
intuitivos se potencializam em situações extremas e adversas.
- Farei
isto, Mestre. Obrigado pelo apoio, fique conosco.
- Estamos com
vocês, General! Boa sorte!
- Nergal!
Já tem visão da nave draconiana? – pergunta o General Ares.
- Positivo!
Ela tem quase a mesma proporção dos nossos cruzadores. Não detectamos formação
de naves de ataque ao seu redor, apenas este tipo estranho que surgiu da massa
escura.
Antes do submarino chegar à estação
abissal, o Conselheiro Netuno já havia recebido a mensagem do Mestre Clístenes
sobre o contato draconiano. Ao desembarcarem, foram recebidos pela Comandante
Ondina.
A tripulação e o conselheiro estão
silenciosos e preocupados. A frota marciana é preparada para conflitos e para a
guerra, mas a possibilidade de ter o povo ceriano exposto a novos sofrimentos
incomoda a todos os humanos e aumarantes. Todos se compadecem com a resistência
e força desse povo pacato e hospitaleiro.
A Comandante Ondina encaminha o
Conselheiro Netuno para a sala de comunicação da estação e um canal é aberto
com o comando maior das tropas marcianas.
- Senhor!
Já temos contato com o conselheiro! – Avisa o oficial de comunicação.
- General
Nergal. Saudações.
-
Saudações, Conselheiro Netuno.
- General.
O povo aumarante está solidário às tropas marcianas. Já recodificamos a
linguagem draconiana para a compreensão humana, será traduzida simultaneamente
para o conselho dos 12.
-
Conselheiro. Agradecemos o povo aumarante pela ajuda. O sinal para os
draconianos, transmitidos da massa escura, será aberto assim que o senhor
desejar.
- Pode
abrir o sinal, general. Estamos prontos.
Na Terra, em Marte, na Lua e em toda frota
marciana e Expedição Rapanui, nunca o sentido da palavra silêncio foi tão bem
compreendida. Com um pouco mais de concentração, os templários poderiam escutar
o ensurdecedor som dos corações humanos aflitos, palpitando descompassado e
ofegante. O General Nergal, firme e sereno, olha para o oficial de comunicação
e discretamente ordena com um balançar de cabeça para que abra o sinal.
Segundos de expectativas e finalmente o Conselheiro Netuno fala em linguagem
draconiana.
- Navan
Dracória – Inicia suavemente, com a voz tranqüila e amigável que lhe é
peculiar.
- Sou
Draves! Membro do comando draconiano, dominador deste sistema! Quem são vocês?
- Somos da
Raça Humana. Os legítimos herdeiros e dominadores deste sistema solar.
- Com que
autoridade se declaram herdeiros deste sistema?
- Somos
criações da Deusa Luna.
- Não reconhecemos
nenhuma Deusa Luna!
- Não reconhecem
mais a irmã de sua deusa?
- A irmã da
deusa não mais existe! A sua luz apagou! Nós a destruímos!
- Mas seus
filhos renasceram na força das fagulhas de sua luz.
- Luz? Nada
foi deixado vivo neste sistema!
- A
esperança sobreviveu. O destino sagrado se cumpriu. Mesmo diante da opressão e
do sofrimento.
- Sabemos
que não é humano. Onde aprendeu nosso idioma?
- Foi
passado pela tradição do meu povo por milhões de gerações.
- Seu povo?
Existem mais de sua raça?
- Quantos
forem necessários.
- Não são
aumarinos com certeza. Como se chama a sua raça?
- Somos
descendentes dos aumarinos. Criação do Deus Navan. Somos os aumarantes.
-
Aumarinos, aumarantes ou humanos, para nós não há diferença. Deixem
imediatamente este sistema ou sofreram conseqüências mortais!
- Quem
invade e ameaça nossos povos são vocês draconianos. Ordem errante do mal. Sem lar,
sem destino certo, uma espécie infeliz e decadente que vive sob o julgo de uma
deusa ilegítima de outra dimensão, que destrói a vitalidade de mundos livres e
de povos frágeis para manter viva a sua tirania.
- Cuidado
com as palavras aumarante, podem ser as suas últimas.
- Cuidado
com as suas ameaças draconiano, poderão também ser as suas últimas. Ordenamos
que se retirem deste sistema imediatamente! Não toleramos mais os seus
desmandos e ameaças, estamos em nossa casa.
- O seu
deus! Que chamam de Navan, está em nosso poder! E nada poderá fazer!
- O nosso
deus nunca esteve em seu poder e no de ninguém! Vocês é que são prisioneiros do
poder da sua Deusa. Apoderaram-se da esfera que irradiava vida e prosperidade
ao Planeta Sinos.
- Onde está
o seu povo?
- Onde está
o seu?
- Você
aumarante! Responde pela autoridade suprema dos humanos? Quero falar com o
líder dos humanos!
- Tenho a
autoridade de responder pela liberdade e pelos líderes humanos que protegemos
por milhões de anos.
- Não há
mais nada o que fazer aumarante! Decretou a morte para o seu protegido povo
humano! Somos mais antigos e mais fortes! Serão exterminados para sempre!
- O que vão
fazer? Atirar pedras? Como faziam com os indefesos aumarinos, deluvianos e
outras raças pacíficas que aqui estiveram?
- Seria
desnecessário aumarante! Não vou privar nossos guerreiros de tão salutar
diversão!
- Você
chama aqueles transtornados seres de guerreiros? O dia chegou draconiano!
Saberão o que são guerreiros de verdade!
- Que assim
seja! Malditos! E que a caçada comece! Obrigado pela bela recepção! – diz
Draves com sarcasmo.
- Navan
Dracória! Navan!
Fecha-se o sinal.
- General
Nergal! – diz o Conselheiro Netuno – Ficou claro que nenhumas das partes
desejam se submeter. O draconiano Draves possui a mesma natureza hostil dos
seus dois irmãos, apesar de que, segundo antigas histórias aumarantes, ele
viria a ser o mais precavido.
Seu outro
irmão é Detra, inconseqüente e impulsivo, a melhor das suas virtudes é a
maldade. São liderados por Dracórius, irmão mais velho, imprevisível e orgulhoso,
a personificação da tirania.
- Eles são
imortais? – Pergunta o General Nergal com desconfiança.
- Não. Seus
corpos se regeneram devido à intervenção e compensação em servir a sua deusa,
posso lhe garantir que não são imortais. As suas vitalidades se completam, se
um irmão for destruído, os outros dois enfraquecem. No entanto, apenas o poder
da força de um único draconiano desta irmandade é extremamente maior do que se
possa conhecer.
- Não são
imortais para mim é uma grande vantagem – responde o General Nergal.
- O que é
Dracória?- pergunta o Mestre Menés.
- Um antigo
reinado mestre. Dracória não habita esta constelação. Encontra-se a milhões de
anos luz de onde estamos. O seu sistema é formado por 35 planetas mantido por
uma estrela de dimensões 500 vezes maior que o nosso sol. Esta região dar
acesso a um dos portões dimensionais mais utilizados pela deusa má.
Os seres
que lá vivem são como criações, cuja fonte de vida é retirada. A deusa se
enfraquece de sobremaneira, todas as vezes que transpõem do seu universo
desconhecido. Acreditamos que algo acontece em outras áreas do universo, que
faz com que este ser venha refugiar-se ou entrar pelo nosso sistema solar, a
ponto de não querer nenhuma forma de vida inteligente evoluindo.
-
Conselheiro – pergunta o General Nergal – Quem são os guerreiros que Draves se
referiu? São soldados?
- Não são
soldados. São escórias genéticas de Dracória, clonadas por métodos
desconhecidos e em quantidades, cuja principal razão de existir é “alimentar” e
servir a deusa, que suga as suas energias vitais até a morte, quando se faz necessário.
Servem à irmandade draconiana em inúmeros trabalhos, entre eles, de manter
funcionando a Lua Negra e ao combate sem honra. Sua única diversão é matar
seres desprotegidos e se vangloriar dos feitos.
- Então são
orgânicos? Podem ser feridos e mortos?
- Sim.
Podem ser exterminados - afirma o Conselheiro Netuno – Estas informações são
muito conhecidas pelo povo aumarante. Os deluvianos nos repassaram, conheciam
as fraquezas dos draconianos.
-
Conselheiro Netuno – insiste o General Nergal – Eles parecem muito seguros de
sua antiguidade e tecnologia bélica. O povo aumarante conhece suas forças de
ataque?
- Quase
nada – esclarece o Conselheiro Netuno – Provavelmente continuam usando as
esferas.
- Esferas?
– diz o General Nergal curioso.
- Sim! – continua
o Conselheiro Netuno – Se deslocam com grande facilidade. Foi inspirado em
modelos de defesas naturais utilizados pelos deuses! Sua eficiência varia de
acordo com o material utilizado e o fato de ser conduzido ou não por seres
orgânicos, criando algumas limitações! Nós aumarantes, também desenvolvemos
naves esféricas de ataque baseados nestas histórias!
- Temos
chances com estas máquinas num confronto? – indaga o General Nergal.
- As
esferas de defesas aumarantes são guiadas a distância. Poupando assim, muitas
vidas em combates. O fato dos humanos utilizarem robs soldados em seus caças também
é uma vantagem em relação aos draconianos, resta saber se são suficientes.
- Estamos
prontos em sacrificar nossas vidas se necessário – afirma o general.
- Sabemos
disto, General Nergal. No entanto, encontra-se em desvantagem pela distância do
Planeta Terra, onde há garantias de um maior contingente de forças tecnológicas
humanas e aumarantes.
- Confiamos
em nossa tecnologia e estratégias – responde o general.
- Também
confiamos, general. Sendo assim, não teríamos enfrentado as ameaças de Draves
com tanta convicção.
Enquanto o General Nergal, o Conselheiro
Netuno e os demais membros do Conselho dos 12 avaliam a situação e a formação
de uma melhor estratégia de defesa e ataque; na Lua Negra: Dracórius e Draves
preparam uma nova investida de tentar intimidar os humanos.
- Estão
muito confiantes estes seres humanos! - diz Dracórius – Já codificamos a sua
linguagem?
- Algumas –
responde Draves?
- Algumas?
– Como assim?
- Eles
falam entre si em diversos idiomas, encontramos um padrão e similaridades colhidas
das últimas transmissões. Acredito ser mais útil aos nossos propósitos.
- Então
vamos usá-la. Aquele humano que atende por Nergal, que fala com o aumarante.
Deve ser o líder deles. Localize a sua posição exata e me faça uma
transferência – ordena Dracórius.
No momento em que o General Nergal
conversa com o Mestre Ares, o ambiente do salão de comando escurece e as fracas
luzes de emergência quase não iluminam. Há aproximadamente 10 metros de onde se
encontra o General uma fonte de energia se materializa em poucos segundos,
fazendo surgir um ser alto, usando uma vestimenta de cor roxa com estranhos
símbolos sob um círculo negro. Com um movimento das mãos, atrai com um feixe de
luz um dos soldados que não tem tempo de se defender. O soldado fica imóvel, de
pé, com os olhos revirados em visíveis espasmos. O feixe luminoso interliga-os
em pensamentos.
- Nergal –
apresenta-se Dracórius, usando a voz do soldado – Afaste os seus guerreiros!
O general,
surpreso, faz um sinal pra os soldados se afastarem.
- Quem é
você?
- Sou
Dracórius! O aumarante já deve ter me apresentado!
- Liberte este
soldado! Está matando-o! – grita o general.
- Tenho
pouco tempo humano e uma proposta! Junte-se a nós e lhes garanto que a deusa será
grata pela sua colaboração. Não há como vocês vencerem!
- Nunca
draconiano! – responde o general – É muita ousadia sua vir onde não foi
chamado!
- Sua
tecnologia e conhecimento serão úteis e bem-vindos! Nossos problemas não são
com os humanos e sim com os aumarinos!
- Não
existem aumarinos! – responde o general – Ordenando disparos.
A munição não faz efeito no corpo de
Dracórius e o soldado começa a sangrar e ferver. Num impulso, o general joga em
Dracórius um copo cheio de chá, o efeito é imediato. O soldado cai e Dracórius
ainda tendo a sua imagem desmaterializando da o ultimato:
- Essa foi
a nossa última proposta Nergal. Se tiver sorte nos veremos novamente.
- Fora
draconiano! – grita o General Nergal.
As luzes se restabelecem. O general corre
em socorro do soldado ordenado chamar os médicos, um oficial segura o general
não o deixando prosseguir.
- Senhor!
Não toque nele pode ser perigoso!
O general aceita a sugestão. Minutos
depois, um médico atesta a morte do soldado marciano.
- Sinto
muito senhor. Ele se foi – diz o médico – Os efeitos dos disparos foram
estranhamente transferidos para este jovem soldado.
- Maldição!
– grita o general enfurecido.
- Senhor! O
general Ares no canal – diz o oficial de comunicação.
- Nergal! O
que houve?
O general resume o fato e divide a
indignação com o amigo.
- Era um
valoroso soldado Nergal. Sua morte não será impune.
- A água
criou um tipo de curto circuito em sua energia – Diz o General Nergal.
- General –
Entra o Conselheiro Netuno em outro canal – Os corpos destes draconianos são
mantidos pela força da deusa má. O contato direto com este elemento produz uma
reação alérgica chamada urticária aquagênica, além disso, o conteúdo da erva usada
para o chá potencializou a ação. Elementos que provém da criação da Danu Luna
provocou este tipo de reação no campo energético de Dracórius, mas não o
suficiente para enfraquecê-lo. A morte do soldado não foi em vão general. Na
tentativa prevista e mal sucedida do draconiano em explorar seus sentimentos de
poder, revelou uma fraqueza desconhecida até por nós aumarantes.
Ainda visivelmente irritado o General
Nergal responde:
- Com todo
respeito Conselheiro. Não trouxemos água e ervas suficientes para esta guerra.
E este soldado também é criação da deusa.
- General –
continua o Conselheiro Netuno – Entendo a sua revolta, mas o draconiano se
arriscou muito em fazer isto. Perdeu um pouco da sua vitalidade, em se utilizar
do corpo do soldado. Dracórius em breve se restabelecerá, é o mais forte. Para
tudo há um preço general e eles mostraram que gostam de apostar alto. Ele
queria ver de perto um ser humano, avaliar sua energia e força, conhecer seus
pensamentos. Aconselho fechar todos os canais de comunicação imediatamente, inclusive
a linguagem pública que eles já decodificaram. Eles possuem uma fonte que
permite isto, assim como nós aumarantes.
O oficial de comunicação faz um sinal para
o general concordando com o conselheiro.
- Sendo
assim. Usaremos as diversas línguas da terra em nosso favor nas comunicações –
ordena o general.
Um oficial
rob se aproxima.
- Senhor
general! Podemos utilizar a linguagem rob nos caças.
- Linguagem
rob?
- Sim
senhor. Desenvolvemos por acaso, uma comunicação eletrônica discreta e
eficiente. Suas ordens serão cumpridas com melhor eficiência se eu
retransmiti-las aos caças.
- Nunca soubemos
desta linguagem? – disse o general, curioso.
- Uma
linguagem a serviço dos humanos senhor. Como agora está sendo oferecida –
explica o rob.
- Pode
funcionar senhor – concorda o oficial de comunicação – Os alienígenas decodificam
rápido a linguagem humana. Estou quase sem opções.
- Podem
usar – diz o general, com alguma desconfiança de que funcione.
- Sábia
decisão, senhor – conclui o rob.
-
Comunicação! Abra um canal exclusivo deste oficial rob para os caças robs –
Ordena o general.
Todos os canais de comunicações passam a
utilizar exclusivamente da riqueza lingüística da humanidade. Os caças robs
entram em formação de combate e se mostram bem confiantes com a decisão do
General Nergal em usar os seus sinais eletrônicos.
A nave draconiana que partiu da Lua Negra,
atravessando a cortina escura, começa a girar em seu próprio eixo. Rochas
pontiagudas se projetam formando um tipo de estrela. Pouco depois, começa a se
fragmentar em milhares de esferas negras. Uma grande parte destas esferas
formam uma barreira de proteção a um núcleo de onde Detra comanda. Do lado
humano, soldados marcianos e voluntários cerianos estão juntos na batalha
apoiando os robs, pois a missão de proteger a humanidade chegou ao sacrifício
de suas próprias vidas e neste aspecto, os draconianos já iniciaram com o povo
de Ceres e com o soldado marciano. A tolerância se esvaiu.
Desenha-se no espaço o que será o início
do maior conflito até então testemunhado neste sistema solar. Mais uma vez,
forças opostas se enfrentam na disputa dos seus interesses. Todos os milhões de
anos que se passaram desde a chegada da Deusa Luna até progresso aumarante e
humano, vai ser posto a prova. A humanidade se uniu em pensamentos, em força e
esperança contra a tirania draconiana, que sem perder tempo, se lançam em
direção às naves marcianas.
Capítulo 10
O CONFRONTO
As centenas de esferas pilotadas por draconianos se aproximam em grande
velocidade. A frota marciana protege as naves de campanha na qual se encontra o
povo ceriano, ficando entre as dezenas de cruzadores e caças conduzidos por
robs e humanos.
Na sala de comando, o General Nergal
ordena apenas a partida dos caças robs para interceptar os draconianos no
caminho. O oficial rob reproduz estas ordens em linguagem eletrônica.
Ao se aproximarem o suficiente do ponto de
alvo, os caças robs saem da formação original e assumem posições evasivas em
vários sentidos. Alguns se deixam retardar, outros sobem e os demais partem
pelos flancos alternando-se em alguns momentos, tornando-se alvos difíceis de
acertar.
As esferas draconianas lançam um tipo de
raio de pouca visibilidade, que é identificado pelo sistema de defesa dos
radares dos caças, que desviam com destreza. Ao sinal do general, os caças
marcianos atiram mísseis em seus campos de visão e mais uma vez, fazem manobras
evasivas retornando. Os mísseis se abrem lançando grandes quantidades de um
produto gelatinoso que à distância, parece com nuvens ou fumaça. Os draconianos
interpretam como vestígios de explosões de alvos destruídos e seguem direto. Ao
passarem por estas substâncias, que contém um poderoso reagente químico de
natureza ácida, eles não percebem que os mesmos colam na estrutura de suas
naves, provocando instantâneas corrosões nas esferas. Antes mesmo de completar
o derretimento elas explodem em sua maioria. As demais esferas percebendo a
armadilha fatal reduzem a velocidade ou desviam, no entanto, não percebem que
atravessando a cortina de destroços das explosões de suas próprias máquinas,
estão no alvo dos canhões eletromagnéticos e pequenos
mísseis nucleares dos caças robs, que os destroem e posteriormente se alinham
na formação original.
Esse primeiro evento vitorioso é
comemorado por toda a equipe da frota, inspirando segurança em saber que as
armas e logísticas marcianas estão sendo eficientes.
Surge então, uma segunda investida de
outras esferas draconianas que também passam a adotar um sistema de ataque
evasivo, seguindo por outros pontos. Os caças robs se espalham e tomam a
direção das esferas deixando-se visualizar. O inimigo enfurecido parte de
frente, disposto em retribuir o prejuízo, porém, uma nova ordem do comando faz
com que os caças momentaneamente se apaguem e ao reacenderem, se quadruplicam
em imagens holográficas perfeitas, causando espanto nos guerreiros draconianos
que se confundem em qual alvo é real. Como era de se esperar, esta dúvida
favorece os caças robs que destroem 60% das esferas inimigas.
Na lua negra, Dracórius e Draves assistem
todo o confronto. Ficam imóveis e silenciosos, admirados com a força de combate
humana, pois não estão acostumados a perderem e reconhecem que encontraram mais
um adversário perigoso.
- Perdemos
a noção do tempo em nossas viagens – comenta Dracórius.
- Nunca
tivemos ao certo essa noção – completa Draves – Mas passamos muito tempo sem
rever este ponto do universo.
- Não havia
mais nada por aqui. Estão muito distantes de qualquer outra civilização superior
que os possam ter ajudado. A deusa ordenou o nosso retorno.
- Pelo
menos sabemos que uma civilização ajudou estes humanos. Os aumarantes!
- Não faz
diferença! Uma raça floresceu primeiro que a outra, saiu em vantagem e se uniu
– ressalta Dracórius.
- Há algo errado
em tudo isso irmão! Mesmo que os aumarinos conseguissem sobreviver ao massacre,
não teriam recursos para se manterem, não havia um planeta na época que pudesse
lhes favorecer abrigo! Este terceiro planeta que chamam de Terra, que hoje
possui uma maior quantidade de massa líquida, passou milhões de anos para ter
condições, ainda precárias, de se desenvolver uma civilização como esta.
- Deixamos
muitas raças perecerem nesse mundo. Inclusive os deluvianos! – indaga Dracórius
– A não ser que!
- A irmã da
deusa! Ela pode está viva! – surpreende-se Draves.
- Sim! Ela
pode está viva e ser a causa de tudo isto! Aquele corpo celeste que chamam de
Lua, o aumarante falou Danu Luna, faz sentido! Ela escondeu-se e alguém a
protegeu!
- Então ela
deve está entre eles! Na maldita Lua ou no Planeta Terra?
- No
planeta! – responde Dracórius com firmeza – E tenho certeza que ela está
debaixo de toda aquela água, onde também se encontra a raça aumarante! Senti na
própria pele esta certeza no meu encontro com o Nergal.
Dracórius se afasta do irmão e caminha
pensativo, olhando para o alto, como se procurasse uma resposta definitiva e
uma solução para os seus problemas.
- O que
está pensando? – Pergunta Draves.
- O óbvio!
– Responde o irmão sorrindo com sarcasmo – Chame Detra! Antes que ele se
empolgue demais em guerrear com os humanos. Já vimos o suficiente, conhecemos
algumas de suas armas e estratégias, foi um bom teste, deixe-os confiantes
comemorando esta vitória, afinal não perdemos nada, só ganhamos!
No núcleo da nave draconiana, Detra
encontra-se incontrolável de raiva e desejo de vingança. Ignora o chamado de
Draves para que retorne imediatamente com os guerreiros que sobraram para a lua
Negra.
- Humanos!
Se pensarem que eu vou desistir estão enganados! Quero sentir o prazer de
vê-los sofrer! Malditos!
A Nave draconiana começa novamente a girar
progressivamente em seu eixo, criando um campo de energia brilhante e azul.
Após atingir uma incrível rotatividade lança uma esfera de energia em direção a
frota marciana.
- Senhor! A
nave draconiana atacou!
- Prepare os
escudos! Espalhem a frota!
- Não será
possível senhor! Aquela coisa vem em grande velocidade!
Um sinal eletrônico dos caças robs é
insistentemente produzido. O general pergunta ao oficial rob o que está
acontecendo.
- Senhor!
Uma grande quantidade de caças estão conectando as suas estruturas. Pedem
permissão para agir.
- Agir! O
que eles querem fazer?
- Vão
interceptar a ofensiva, senhor.
O general
baixa um pouco a cabeça, pondo a mão na testa suada.
- Senhor! -
Insiste o oficial rob – Não há tempo.
O general balança a cabeça afirmativamente
olhando para oficial rob, que imediatamente libera o grupo de caças para agirem
por conta própria. No salão de comando, todos ficam curiosos para entender o
que os robs estão pretendendo. O oficial rob esclarece:
- Senhor!
Esse grupo ainda possui muita carga de energia e munição, quase não atacaram as
esferas draconianas, estavam na retaguarda dos outros caças como garantia. Vão
se unir em um único bloco de força.
O General Nergal, em silêncio, acompanha
os caças robs unido suas energias e se chocando com precisão na bola de fogo
azul enviada por Detra. Uma grande explosão acontece e os seus efeitos se
precipitam num círculo de energia eletro-magnética que se espalha no vácuo.
A energia da frota marciana, assim como
os dos caças robs são desligados. Fortes tremores são sentidos no interior dos
cruzadores e demais naves, o povo ceriano se desespera.
O sistema de iluminação é restabelecido.
Do salão de comando, observa-se apenas poeira de destroços. A ameaça de Detra
falhou mais uma vez, mesmo sendo favorecido pela destruição de dezenas de caças
robs.
- Senhor!
Temos 100% de força novamente – Avisa um oficial rob.
- Envie o
meu cartão de visitas para aqueles desgraçados! Faça uma seqüência no canhão de
plasma e atirem naquela esfera imunda!
Em sua nave, Detra se espanta com a
determinação dos soldados humanos, sem ainda desconfiar que sejam robs. Observa
a chegada das luzes também azuis em sua direção. Reconhece a natureza plásmica
da contra-ofensiva marciana e resolve abandonar a esfera, sabendo que a mesma
não terá tempo de deslocamento e não suportará o impacto, pois a energia que
ainda resta e que foi gerada e utilizada no último ataque, não poderá mais
manter um escudo de proteção segura.
Na lua negra, os irmãos mais uma vez
chamam Detra em retornar, ele se recusa afirmando que descerá no Planeta Ceres
e matará os humanos que lá estão e pede reforços.
Detra se precipita em grande velocidade
para fora da nave. E na fuga, consegue sair ileso da explosão provocada pelo
impacto. O comando marciano comemora precipitadamente e percebe a intenção do inimigo
que segue com as esferas restantes, para a Colônia de Nathan, no Planeta Ceres.
Os caças robs que já estão no campo de batalha no espaço, permanecem em defesa
dos cruzadores.
Outros caças, pilotados por robs e
templários, partem dos cruzadores em direção ao planeta, liderados pelo
Comandante Lítio e acompanhado por Ébano e o Rob Iron. Em solo ceriano, os
soldados que não puderam subir durante o conflito, lá permaneceram assistindo
os eventos luminosos no céu, observando as explosões e os milhares de
fragmentos que queimam ao entrar em contato com a atmosfera.
O
entardecer já havia chegado, quando as transmissões da ponte de comando
informavam aos soldados que estão no planeta as intenções do inimigo. As luzes
da colônia estavam acesas quando as primeiras esferas inimigas realizavam os
primeiros disparos, porém nada havia de humano naquele ambiente, nenhuma nave
cargueira, nenhum soldado. Os draconianos percebem a chegada dos caças que os
seguem desde a reentrada na atmosfera e vasculham por sinais humanos no entorno
da colônia.
Subitamente,
centenas de disparos partem de diversos pontos das montanhas, destruindo as
esferas com a ajuda das câmaras de imagem que foram instaladas anteriormente ao
conflito, rastreando-as com lazer e orientando os disparos com absoluta
precisão.
Mas uma vez, as forças inimigas são
surpreendidas pela inteligência e astúcia humana. Os draconianos decidem atrair
os caças para outras ambiências do planeta e combater longe da colônia.
-
Comandante Lítio! Saudações – diz um oficial marciano da unidade de comunicação
da montanha.
- Fez um
bom trabalho oficial! Parabéns! Estamos no rastro dessas esferas.
- A
prevenção é uma excelente conselheira senhor!
- Agiram
rápidos. Recolheram tudo para os hangares das montanhas?
- Positivo
senhor! Ainda tivemos tempo de recuperar o sistema de defesa já existente,
apesar do desuso, encontra-se em bom estado de conservação.
- E pelo
que vimos daqui, muito eficientes.
-
Oferecemos as nossas boas-vindas, senhor!
- Ainda não
terminou oficial. As esferas se espalharam e seguiram para outras regiões,
temos sinais de suas localizações?
- Positivo
senhor! Tomaram direções opostas ao se agruparem em torno de uma esfera maior.
Acreditamos que seja do líder.
O comandante Lítio ordena perseguir todas
as esferas. O caça pilotado por Ébano se posiciona ao lado do comandante.
- Senhor!
Isso parece uma estratégia draconiana.
- Concordo
templário! No entanto são ordens do General Nergal destruí-las, nada deverá
ficar no planeta.
- Senhor! Estou
captando vibrações no solo de um draconiano que não se encontra na esfera.
- Então é
isso. Espalharam-se para desviar a nossa atenção!
- Senhor!
Os caças já estão no encalço das esferas que não atacam apenas fogem. Estão sendo
destruídas com facilidade – informa um oficial marciano da unidade de
comunicação – Captamos uma imagem de um draconiano caminhando no solo, mas o
perdemos do campo de visão.
- Vamos
averiguar! – responde o comandante – Ébano registrou as coordenadas?
- Já as
tenho senhor.
Detra ao ser surpreendido pelas defesas de
Ceres, espalhou as esferas para atrair as atenções dos caças como deduziu o Comandante
Lítio, inclusive a sua nave de fuga. Seguiu sem destino e depois havia descido
em um ponto de difícil acesso. Aguardava uma resposta de resgate dos irmãos.
- Maldição!
Esta nave humana me localizou! – Observa Detra, revoltado e pela primeira vez
temeroso de sua segurança, sentimento que o seu orgulho resiste em admitir.
Os dois caças pousam no mesmo ponto onde o
módulo de fuga de Detra havia estado.
- Senhor,
chegamos! – Disse Ébano.
- Vamos
descer! Eles devem está por perto!
- Senhor!
Pressinto a presença de um único ser, devemos ter cuidado. Sua energia é
hostil. Acredito que seja um dos líderes.
- Sendo
assim, seria muito bom capturá-lo vivo.
- Sairmos vivos
daqui já é uma boa alternativa senhor, o inimigo concentra muita força psíquica
e deve ser muito resistente.
- Sigo ordens,
templário! É nossa obrigação agora capturá-lo vivo.
- Sim
senhor! Mas aconselho cautela comandante.
- Enviei um
sinal solicitando reforços. Os soldados que estão na montanha e outros caças já
estão no caminho.
A mensagem pedindo reforço é recebida e
confirmada. O Comandante Lítio, e Ébano que é acompanhado pelo Rob
Iron, descem de suas naves e localizam as pegadas do inimigo. O Oficial segue
os rastros usando um localizador e o templário com a intuição.
- Seguiu
para as cavernas!
- Confirmo
senhor! Ele nos aguarda.
- Isso não
é bom – completa o Rob Iron – Senhor! É uma ação arriscada, sugiro que eu siga
na frente.
- Então meu
amigo. Faça a sua parte, siga me frente - disse o Comandante Lítio, no que o
rob obedece, apesar de Ébano silenciosamente não concordar.
O rob cumprindo a sua missão básica de
proteger os humanos, segue pelas cavernas com muita habilidade iluminando o
caminho, o que chama atenção dos dois homens.
- Não
consigo acreditar que estou numa caverna novamente – comenta Ébano.
- Não se
preocupe Éba. Conheço o caminho.
- Conhece?
Não andamos por aqui da última vez!
- Tenho um
registro do último mapeamento feito pelos robs marcianos quando foi realizado
nosso salvamento.
- Onde
conseguiu?
- Lembra
daquele médico rob que nos prestou atendimento? Ele se solidarizou com a nossa
história e considerou uma falha o fato dos robs cerianos não possuir esta
consciência nos programas. Os robs marcianos segundo ele, conhecem todos os
locais de superfície e subterrâneos de Marte e agora o de Ceres.
-
Interessante! – Disse o comandante – Os marcianos são muito precavidos, podemos
sugerir estender esta informação a todos os robs.
- Será
muito bem recebida senhor – responde o Rob Iron.
Após 40 minutos de caminhada, a trilha
pela caverna segue para cima. Chega-se a perceber o vento frio entrando por uma
fissura que dá acesso a uma área aberta, numa parte inicial de uma montanha.
A uma distância de vinte metros
encontra-se Detra, com suas vestes características e com uma aparência sombria
e ameaçadora, típica de quem se encontra encurralado.
- Fim do
caminho draconiano! – disse o comandante com firmeza.
Ébano observa Detra com atenção e pressentiu
ainda mais a força psíquica do inimigo.
- Ele não conhece
nossa linguagem, senhor.
O comandante levanta a arma e aponta para
Detra.
- Essa
linguagem aqui é universal!
Ébano põe a mão na testa e percebe que
Detra envia mensagens telepáticas muito fortes.
- Espere
senhor! Ele diz algo!
- Diga a
este humano que abaixe a arma!
- Senhor,
abaixe a arma!
- Não
posso! Ele precisa se render!
- Meu
comandante pede para que se renda!
- Impossível!
Sou o senhor deste sistema! Exijo respeito!
Ouve-se um trovão e um círculo negro descendo
do céu e envolvendo Detra.
- Somos
povos pacíficos! Aceite nossos termos e terá garantias de que não será
molestado! – disse o comandante, o que Ébano retransmite telepaticamente.
Detra capta os pensamentos do comandante e
decide agir.
-
Insolente!
O draconiano estende rapidamente o braço e
lança uma pequena esfera incandescente, que parte de um bracelete, em direção
ao Comandante Lítio. O oficial que cai morto há poucos metros do Rob Iron que
estava na retaguarda.
Caído pelo impacto provocado pelo vácuo,
Ébano tenta se levantar para socorrer o amigo, mas é impedido por Detra que
lança um feixe luminoso e disforme sobre o templário. Ébano levita alguns
centímetros do chão e perde os movimentos do corpo.
- Você é um
humano com habilidades muito especiais! Será muito útil para nós!
Detra atrai o templário para um círculo
negro que toca o solo e que foi enviado pela Lua Negra para transportá-lo de
volta. Surgem ruídos no céu, caças marcianos se aproximam. O draconiano se
distrai olhando para cima e não percebe que o Rob Iron apanha a arma do
Comandante Lítio. Sem hesitar, dispara contra Detra que cai ajoelhado e
gravemente ferido.
- Maldita
máquina!
O círculo negro se fecha e Detra
desaparece.
Ébano ainda encontra-se desmaiado quando
os primeiros soldados chegam à clareira da montanha. À noite ceriana continua
esfriando rapidamente e com ela surgem os fortes ventos. O Rob Iron explica o
acontecido, que é imediatamente comunicado ao General Nergal, que fica surpreso
com a atitude do rob doméstico em pegar uma arma e atirar. O corpo do Comandante Lítio, Ébano e seu Rob são
conduzidos para a base da colônia.
Na órbita próxima do Planeta Ceres, um
profundo sentimento de tristeza é compartilhado entre os humanos. O Comandante
Lítio era muito respeitado e admirado por todos, um homem extremamente gentil e
de uma simpatia peculiar. Agora se somam duas perdas humanas que é contabilizada
no comando marciano.
- General
Nergal. Meus sinceros sentimentos pelo seu comandante.
- Agradeço Mestre
Tálio. São os primeiros frutos da guerra.
- Apesar de
tudo – diz o general – Nossas baixas foram mínimas, as duas mortes não se deram
em campo de batalha, foram ações isoladas.
- Como está
Ébano?
- O médico
da base da colônia confirmou que ele está bem e consciente, logo estará aqui.
Devemos a vida dele ao rob, que apesar de ser doméstico, agiu como um
verdadeiro soldado.
O oficial de comunicação avisa ao General
Nergal que a massa escura está se deslocando. Sabem que por trás daquele campo
de proteção, existe um corpo planetário, a Lua Negra. Não pode ser visualizada,
mas os seus movimentos detectados.
- Para onde
segue?
- Está
retornando para fora do sistema solar senhor!
- Estão
fugindo? Será que desistiram?
- Não podemos
subestimá-los general – alerta o Mestre Tálio.
- Sim,
infelizmente mestre. Mas não posso negar a minha satisfação de reação e resposta aos draconianos.
- Senhor!
Canal aberto – informa o oficial de comunicação.
-
Conselheiro Netuno. Como o senhor avalia esta situação? Os draconianos
entenderam o nosso recado?
- General
Nergal! Parabéns pelos resultados. No entanto considero a reação draconiana muito
branda e inexpressiva.
- Como
assim conselheiro?
- Mostramos
o que sabemos fazer no combate direto, apresentamos algumas armas,
testemunharam a nossa coragem e determinação. As atitudes mais hostis partiram
dos dois irmãos draconianos, que ceifou cada um, a vida de dois humanos. Não
acredito que estejam fugindo, não é de sua natureza, mas diante de tudo que
aconteceu, o momento é de vigilância permanente.
- Entendo
bem essa situação conselheiro. Fizemos o nosso trabalho, conseguimos defender o
povo ceriano. Fomos atacados e não tínhamos outra atitude a não ser nos
defendermos, mas confesso que esperava coisa pior.
- Essa
possibilidade sempre existe general. Entraremos em contato.
O oficial de comunicação informa um
chamado do General Ares.
- Nergal! O
caminho para o Planeta Terra está livre?
- Nada
impede no momento. Já estamos prontos para partir, aguardamos apenas a chegada
de alguns soldados que estão no planeta. Alguns cargueiros começam a chegar, e um
deles traz corpos de cerianos que foram vítimas dos meteoritos e nos túneis.
- Quanto ao
Comandante Lítio. Foi uma grande perda - disse o General Ares – O que fará com
o Planeta Ceres?
- Conversei
com o Mestre Tálio. Ele concordou que deixássemos soldados e engenheiros robs,
marcianos e cerianos no planeta. Ficarão zelando pela proteção da colônia e sua
reconstrução. Devemos monitorar o planeta e considerar a possibilidade de uma
nova investida dos draconianos.
- Nergal.
Uma frota de apoio vindo do Planeta Terra já está em curso favorável na sua
rota, deverão se encontrar e seguirem juntos.
- Então
está confirmando. Não voltaremos para Marte?
- Isso
mesmo! Os marcianos e cerianos que estão no espaço deverão seguir para a Terra.
Inclusive já contatamos a Expedição Rapanui para retornar.
- Mandarei
um cruzador interceptar e escoltar a expedição com segurança à colônia de Marte
- Disse o General Nergal, que pergunta como está sendo realizada a prevenção no
planeta.
- Estamos
bem! Sabe que não baixamos a guarda. Por precaução já começamos a recolher a
população com tranqüilidade para os abrigos subterrâneos e reforçamos nossas
defesas.
Durante a conversa entre os generais, o
oficial rob alerta um comunicado do Planeta Ceres:
- Senhor!
Temos informações da captura de dois prisioneiros draconianos.
- Abra o
canal!
- General!
Encontramos os draconianos escondidos em uma das cavernas.
-
Ofereceram resistência?
- Não
senhor! Pelo contrário! Mostraram-se pacíficos! Um deles encontra-se bastante
debilitado e assustado. É um menino senhor e está acompanhado de um adulto.
- Um Menino?
- Positivo
General! O que faremos?
- Já
iniciaram os exames?
- Já foram
concluídos senhor e não há sinais evidentes de doenças infecciosas.
-
Providencie uma escolta especial para a uma nave hospitalar. Quero os dois de
quarentena.
- Positivo
General!
Horas depois, dezenas de naves cargueiras
acompanhadas de caças partem finalmente do Planeta Ceres e se unem à frota
marciana. A notícia de que os dois prisioneiros draconianos estão sendo
conduzidos para uma das naves hospitalares provoca reações e dúvidas. O Mestre
Clístenes pede cautela no trato com os prisioneiros e que assim que houver
condições, sejam interrogados perante o conselho dos 12.
Em uma das naves de campanha onde se
encontra o povo ceriano, Ébano se reencontra com Efígie:
- Senti
tanto medo! Pensei que te perderia!
- Confesso
que ficar de frente com aquele draconiano não foi fácil. Por um momento, achei
que fosse o meu fim.
- Ele não
te matou como fez com Lítio.
- Acho que
não era a sua intenção. Ele disse que eu seria muito útil aos seus propósitos.
Acredito que seja pelas minhas habilidades. Foi tudo muito rápido, um círculo
negro desceu do céu, parecia um meio de transporte, não sei direito, agradeço a
minha vida ao Iron.
- Eu não
agüentaria se algo de ruim lhe acontecesse – Efígie abraça-o com força.
- Calma
minha querida. Estamos bem agora, seguiremos todos para o Planeta Terra.
- Nunca
pensei que ficaria tão feliz por isso. Sentirei saudades de Ceres.
- Sei
disso, minha querida. Não foi assim que planejamos nossa viagem à Terra. Acredito
que os marcianos se esforçarão para reconstruí-la e depois retornaremos para um
novo recomeço.
- Não sei
se tenho coragem de voltar. O que antes era um planeta de paz e prosperidade
virou um palco de tragédias e sofrimentos.
- Venha
comigo. Precisamos de um descanso.
- E você como
se sente?
- Ainda me
sinto fraco. Foi muito desgastante, aquele draconiano quase que esgota minhas
forças vitais.
Em pouco tempo, a frota marciana parte em
direção ao Planeta Terra. Um sentimento de alívio e tranqüilidade paira sob o
povo ceriano que se recolhe em silêncio.
Capítulo 11
O MUNDO
AUMARANTE
No Planeta Terra, a população reage
atônita aos fatos que aconteceram no Planeta Ceres. Desde o início da era
glacial, a raça humana se une em torno de um ideal pautado na sua sobrevivência
e relação pacífica entre os diversos povos. A palavra guerra se restringe
apenas aos fatos históricos antigos, de um período bárbaro, desigual e repleto
de conflitos. A animosidade entre os homens foi substituída pela solidariedade
e o bem comum.
Em poucos dias, a frota marciana chegará a
Terra e com eles o refugiado povo ceriano, onde em sua grande maioria, nunca
esteve no Planeta Terra. Se dedicar aos preparativos para recepcionar os irmãos
viajantes, acomodá-los em uma nova cidade e literalmente fazê-los sentir que
estão voltando para a sua casa natal, desvia momentaneamente os pensamentos
hostis, os medos e incertezas diante de uma represália draconiana ao planeta.
No fundo dos mares, a equipe do Dr.
Sargaço se dirige às Montanhas de Netuno, onde em breve conhecerão uma das mais
fantásticas civilizações existentes no planeta: O mundo Aumarante.
A esposa e o filho do conselheiro seguem
logo atrás em outro submarino.
De posse do material colhido na Lua, o Dr.
Asa comenta com o Conselheiro Netuno, que se encontra ao lado da esposa e
filho, o porquê da necessidade de levá-lo ao seu povo.
- Dr. Asa, devemos
imediatamente levar este material para a deusa. Acreditamos que seja
determinante para completar a sua reanimação. Ao chegarmos em nosso mundo, será
mais fácil compreender as razões.
Um pouco constrangido, o Dr. Sargaço se
aproxima do conselheiro.
- Netuno. Gostaria
que perdoasse a reação do meu sobrinho Nergal. Ouvir rumores sobre a sua
impaciência.
- Fique em
paz Sargaço. O seu sobrinho é um grande homem, apenas estava sob forte pressão.
O estado de guerra altera as emoções humanas, o instinto de sobrevivência
sobrepõe o medo, a responsabilidade de agir com precisão se torna penosa e às
vezes confusa. Estes sentimentos já não faziam mais parte de suas vidas.
- Eu
agradeço a sua compreensão. Apesar de cultivarem a missão de defensores da raça
humana. Nenhum oficial ou soldado se deparou até então com um conflito real e
destas proporções.
- Entendo,
perfeitamente. No entanto, o ser humano possui uma incrível habilidade de
adaptação e com o tempo aprende a lidar melhor com os seus sentimentos diante
dos conflitos.
- Está em
nossa memória genética? – comenta a Capitã Iara - E funciona assim também com a
raça aumarante?
- Sim Iara. Isso mesmo, na
memória genética. Se você acredita. A evolução segue muitos caminhos e todos
eles muitas vezes desconhecidos, atende a conservação de seus propósitos. Tudo
no universo está intrinsecamente ligado numa grande rede. Existe uma
comunicação oculta que com tudo interage e influencia em menor ou maior grau.
As células dos corpos orgânicos, por exemplo, se comunicam e vibram entre si
permanentemente mediante impulsos elétricos, participam na resolução de problemas
que sempre passam despercebidos pelos seres que as abrigam. As diversas
habilidades, inclusive as complexas como a mental, tendem a dotar os seres mais
evoluídos e de sentidos mais apurados, em perceber cada vez melhor a realidade
do mundo que os cercam e o que está dentro deles. A memória genética dos
aumarantes se manifesta naturalmente, devido aos longos períodos de evolução em
que se
submeteu e
adquiriu. No período embrionário, cada indivíduo aumarante que nasce ou
renasce, recapitula ou reproduz os vários estágios da vida a que pertenceu
quando foi interrompida pela exaustão do corpo físico, ou seja, pela morte. Em
outros seres, apesar desta memória não ser ativada, não quer dizer que ela não
esteja lá, oculta, aguardando que processos evolutivos complexos sejam
concluídos e que quando se faz necessária ou devidamente estimulada se
apresenta.
- Confesso
que estou muito curiosa em conhecer o seu mundo conselheiro! – diz a Capitã
Iara que também participa da viagem com a Comandante Ondina.
- Será em
breve Iara.
O Conselheiro Netuno aponta para a base da
montanha que se encontra iluminada.
- Chegamos
a uma das entradas para o nosso mundo.
O Dr. Asa observa a luminosidade.
- Olha só
Sargaço. As luzes daqui parecem ser bem mais adaptadas a estas águas
- Preciso
fazer melhorias em nossa estação. Vou consultar meus novos amigos aumarantes.
Se isso for permitido.
O conselheiro Netuno olha para os humanos
com um olhar feliz e amistoso.
- Sempre
nos consideramos seus amigos e temos muitos conhecimentos para compartilhar entre
a raça humana e aumarante. Não tenho dúvidas que a nossa coexistência será
repleta de boas surpresas.
O submarino aumarante entra por uma grande
passagem, descendo vários de quilômetros para o interior da montanha.
A Comandante Ondina se interessa em saber
da distância a ser percorrida.
- Na
verdade Ondina, este percurso é um dos mais distantes para o Reino das Águas,
apesar de temos uma ligeira vantagem de correntes e pressão que aceleram a
nossa viagem. É preciso ter muita cautela, os abalos sísmicos são podem
comprometer a nossa navegação.
- Existem
outras passagens fora dos oceanos?
- Sim. Existem
centenas de acessos para a superfície da Terra e nos oceanos.
Após algumas horas, o submarino declina
para um ângulo mais estável e se aproxima de grandes paredões rochosos. É
possível perceber que não mais existe escuridão absoluta, como foi durante toda
a viagem. Uma claridade tênue ilumina algumas áreas.
O Conselheiro Netuno explica que estas
passagens foram trabalhos de antigos aumarantes, e que em determinadas épocas
precisam ser restaurados devidos os movimentos das placas tectônicas. Ele
indica os locais com dezenas de pontos incandescentes onde as lavas vulcânicas fluem,
mantendo uma rústica iluminação e uma fonte permanente para utilização de
energia térmica nestas profundezas.
- Não
imaginava que fosse tão profundo o seu mundo Conselheiro – comenta o Dr. Asa –
Existem camadas no interior do planeta extremamente quentes e rochosas, me impressiona
não passarmos por eles.
- Passamos
sim, Dr. Asa. Todos os corredores usados por nós possuem isolamento térmico e
são monitorados regularmente. A atual tecnologia aumarante atingiu seu ápice no
que se refere à vida subterrânea e muito nos alegraria, se pudéssemos
compartilhar outros conhecimentos na superfície do planeta e no espaço sideral.
- O que são
aquelas luzes nas paredes das montanhas? – pergunta a Comandante Ondina.
- São
cidades. Cada ponto luminoso são janelas. É difícil para o ser humano imaginar de
como são belos e extraordinários estes lugares, que ainda abrigam 40% da vida
aumarante.
- Seu povo
além de viver no fundo dos mares, ainda vive no interior do planeta dentro de
montanhas submersas?
- Em
remotos tempos sim. Mas como havia dito, a nossa ciência evolui a passos largos
e acredite, se depender da disposição e imaginação dos nossos cientistas, ainda
muito será feito.
-
Conselheiro, temos luzes se movendo adiante
- Sim
Sargaço. É a nossa pequena escolta de segurança.
Dezenas de outros pequenos submarinos
aumarantes se espalham emitindo vibrantes sinais luminosos de boas vindas.
O Dr. Asa sempre fica entusiasmado com as
luzes.
- Parecem
felizes com a nossa chegada.
- Mas do
que você imagina, meu amigo.
Em seguida, o submarino começa a subir. Os
visitantes humanos ficam espantados ao chegar a superfície de um oceano azul e
límpido.
- Onde
estamos?- pergunta a Comandante Ondina.
- Estamos
no Reino das Águas. O lugar que considero o mais bonito do nosso mundo.
- É
Incrível. Parece que estamos na superfície da Terra.
- O Reino
das Águas é o nosso maior triunfo. Exigiu muitos milênios de pesquisa e
dedicação.
O céu no Reino das Águas é repleto de
nuvens que emite cores e luminosidades discretas. O Dr. Asa observa seres
voadores no horizonte daquele mundo.
- Acho que
perdi a noção de tempo. Estamos no amanhecer ou no entardecer deste mundo?
- Estamos
no amanhecer amigos. Nossos horários aqui é baseado nas correntes de lavas que
se precipitam numa imensa caldeira há milhares de quilômetros de onde estamos. Quando
sua intensidade diminui, a luminosidade também esmaece. A temperatura, pressão
e atmosfera são controladas por nossa engenharia. É o que temos de mais
parecido com o seu mundo de superfície.
Dr. Sargaço surpreende-se.
- É
simplesmente incrível!
Ao longe, se percebe uma praia, vales com
vegetações e montanhas formadas por rochas inexistentes na superfície da Terra.
Devido ao material trazido da Lua pelo Dr.
Asa, o mesmo fenômeno de atrair os animais é constatado. Aves marinhas de
diversas espécies circulam o submarino que navega devagar sob as águas e outras
dezenas de espécies de animais aquáticos, são vistos embaixo do piso
transparente, como peixes, baleias, tubarões, golfinhos e alguns seres
desconhecidos.
Ondina se impressiona com alguns deles.
- Estes
animais são estranho para nós Netuno.
- Não me
admira, que não os conheçam. São animais pré-históricos nunca conhecido pelos
humanos, mas não se preocupem, todos são dóceis. Nenhum dos animais existentes
aqui atacam humanos nem aumarantes.
A Dra. Iara se interessa pelo comentário.
- Vocês
possuem animais pré-históricos aqui?
- Sim e já
faz milhões de anos. Quando o último meteoro atingiu a Terra abrimos passagens
seguras nos pólos para muitos deles. Existe uma região em nosso mundo em que
eles vivem e seguem as suas evoluções. Infelizmente outros não foram possíveis
se adaptarem. No entanto, temos seus códigos genéticos preservados e um dia
quem sabe, poderemos fazê-los renascer em outro planeta, criando uma reserva
como essa. Vamos passar perto de uma região onde poderei mostrá-los
rapidamente, pois evitamos o contato.
O submarino aumarante sai da tona d’água e
começa a voar sobre ela, ganhando altitude e seguindo para o litoral. As outras
naves aumarantes seguem para outros destinos, ficando apenas duas delas na
escolta. Durante a viagem, não é visto nenhuma civilização, apenas florestas,
pântanos, campos e outros tipos de vegetações desconhecidas.
- Estamos
passando sobre a reserva pré-histórica que lhes falei.
A
equipe humana fica admirada em ver vivos, animais extintos há milhões de anos.
- Meu deus!
Que maravilha! – surpreende-se a Comandante Ondina.
- No
passado. A raça humana escreveu muitos livros e filmes de ficção alusivos a
este mundo – disse o Conselheiro Netuno em tom didático – Possuímos todos eles
em nossos arquivos.
O Dr. Sargaço aprecia muitos esses livros
raros na estação.
- Eles
estavam certos. A ficção se transforma em fato! Alguém de cima já esteve aqui?
- Tivemos muitas visitas da raça humana em
nosso mundo, apesar de poucas vezes visitarmos a superfície. Inclusive temos
alguns humanos vivendo entre nós.
A Capitã Iara se admira
- Isso
mesmo. Humanos aumarantes, nascidos neste mundo. E que muito colaboram em
interagir e auxiliar com os humanos externos.
- Mas eles
não querem voltar? Conhecer e viver entre os de sua raça?
- Na
verdade. Eles são felizes aqui. E todos nós esperamos ansiosos que os dois
mundos se visitem e se completem algum dia. Em algumas situações, salvamos
muitos seres humanos vítimas de naufrágios em várias épocas e que após conhecer
o nosso mundo, muitos preferiram ficar e nos ajudar no propósito sagrado.
Outros resolveram retornar, aceitando a condição de ter apagado da memória a
lembrança de nossa existência.
- E como
vocês fazem isso? Quero dizer, Como visitam a superfície sem serem vistos?
- É uma
operação arriscada. A nossa grande preocupação não era com os humanos e sim com
os draconianos e demais raças a serviço da deusa má. Às vezes éramos vistos nos
céus de forma intencional, para dar pistas à humanidade de que não estavam
sozinhos neste mundo. Algumas vezes não éramos nós e então, tínhamos que
impedir que outros seres curiosos viessem perturbar a raça humana com suas
intenções egoístas e hostis.
- E como os
impediam? – pergunta o Dr. Sargaço.
-
Simplesmente, os capturávamos. E alguns também viveram ao seu tempo entre nós,
em lugares especialmente reservados para eles. Não retornavam mais para a superfície,
nem para os seus mundos.
- Existem
outros lugares semelhantes ao Reino das Águas? – pergunta a Capitã Iara.
- Sim,
existem. Estes lugares são bolsões ou cavernas localizados no interior do
planeta. Suas proporções são variadas assim como as suas utilizações. Algumas
possuem poucos metros e outras milhares de quilômetros, sendo o Reino das Águas
a maior delas.
- Estes
seres alienígenas viviam como prisioneiros? – pergunta o Dr. Asa.
- Nunca
tivemos prisioneiros aqui, amigo Asa. No entanto, não podíamos deixar que a nossa
existência fosse revelada. Em todo caso, sempre adotamos a intervenção mental
para que os seus cérebros desprezem e esqueçam o que presenciaram. Para muitos
seres extraterrestres, a informação que se tem deste sistema solar é de uma
região hostil e repleto de perigos.
- Só uma
pergunta, conselheiro. Isso vai acontecer conosco? Esqueceremos que aqui
estivemos?
- Não Iara.
As circunstâncias são outras, não haverá necessidade.
- Fico
aliviada em saber disso
- E esta
intervenção mental é reversível? – pergunta o Dr. Asa.
- Sim, Asa.
Dominamos a hipnose com rara habilidade e sutileza. Mas dificilmente revertemos
nos seres que partem do nosso mundo a lembrança da nossa existência. Lembre-se
que um dos nossos propósitos sagrados é o de proteger a raça humana.
Uma voz suave ecoa no comunicador do
submarino. Palavras curtas e estranhas são pronunciadas entre o conselheiro e
sua esposa. O Dr. Sargaço não resiste em fazer um comentário.
- De fato.
A língua aumarante é bem difícil.
O Conselheiro Netuno sorrir.
- Minha
família faz questão que vocês fiquem acomodados em nosso lar.
- Será uma
honra para nós – responde o Dr. Sargaço.
- Sabemos
disso, amigo. Mas acredito que o nosso rei já tenha reservado acomodações mais
interessantes.
-
Acomodações reais? Não precisa tanto conselheiro. Somos acostumados com pouco
conforto – disse a Capitã Iara.
- São
confortavelmente modestas, tenho certeza que apreciarão. O primeiro contato com
o nosso mundo pode parecer estranho em alguns aspectos e outros não. É preciso
entender basicamente, que o nosso avanço tecnológico evoluiu de mãos dadas com
o espiritual, se complementam e se revelam.
- O senhor anteriormente
falou em renascer? Em que sentido?
- Assim
como a atual raça humana se preocupa com o aumento populacional e da exaustão
dos recursos naturais, que foi em épocas remotas, uma das principais causas das
últimas grandes guerras, o nosso povo possui uma razão a mais para manter este
controle. Os aumarantes são gerados a partir dos seus próprios corpos clonados,
cuja consciência é transferida por um processo chamado transmigração de alma.
Apesar de nossa ciência avançada, o nosso corpo também está sob a influência e
os desgastes naturais do tempo. Mesmo assim, a nossa longevidade é alta
comparada aos humanos.
- Os
aumarantes não se reproduzem? Se clonam? – pergunta a Comandante Ondina.
-
Preservamos a consciência genética e todo o aprendizado nesse processo de
existência. No entanto, precisamos manter a variabilidade genética.
- Ter
filhos?
- Sim,
Ondina. Casamos-nos para constituir famílias nestes casos e um novo ser
aumarante surgi neste mundo. Mas esta decisão depende de vários fatores,
infelizmente não temos tempo suficiente para explicar agora, mas em breve os
nossos hábitos serão bem conhecidos. Mas para não deixá-la curiosa, faremos uma
pequena pausa em nossa viagem. Esta vendo aquela torre de cristais?
- Sim! É
linda.
- Vamos até
ela. Assim vocês poderão conhecer mais um pouco sobre nós.
A nave aumarante segue para um complexo de
torres de cristais, transversas entre si, com grande luminosidade em seu ápice.
Ao aterrissar entre exóticos jardins,
todos seguem por um caminho construído de pedras preciosas. Alguns símbolos são
vistos como: círculos, triângulos e pontos, tanto nos pisos como nas laterais
das paredes, estas últimas, em ouro brilhante.
- O ouro é
o elemento símbolo da pureza – explica o Conselheiro Netuno – É bem aceito
neste berçário.
- Berçário?
- pergunta a Capitã Iara.
- Sim. Aqui
é onde nascem os aumarantes. É também um dos templos onde fazemos as nossas
meditações.
No meio de um salão, todos sobem dentro de
um círculo de cristal que se eleva lentamente, conduzindo-os a outro pavimento.
Eles observam dezenas de aumarantes em silêncio absoluto, meditando em direção
a um ponto azul brilhante, fixo no fim do recinto. A plataforma de cristal sobe
novamente e encontram um painel holográfico com imagens que revelam algumas
etapas do nascimento de um aumarante.
- Então
existe união sexual? – pergunta a Comandante Ondina.
- Sim,
existe. São momentos íntimos e sublimes em nosso mundo. Observem que todos os
pontos vitais ou chacras, como vocês chamam, se iluminam intensamente em ambos
os corpos no momento da concepção do novo ser aumarante. O pequeno aumarante é
aguardado com muito amor pelos parentes e amigos, como aqueles que vimos no
piso abaixo.
- Então
vocês fazem um tipo de ritual religioso para chegada do novo aumarante?
- Um
ritual, sim. Mas não exatamente religioso. É um momento de exaltação e
celebração da vida. Porem é preciso dizer que apesar de sermos considerados
mamíferos como os humanos, possuímos vestígios anfíbios herdados dos aumarinos.
A nossa fecundação é externa, ou seja, o embrião não se forma no útero da fêmea
e sim na água. Por isto ela tem que ser de excelente qualidade, dentro dos
nossos padrões.
- O embrião
sofre metamorfose na água como os anfíbios?
-
Perfeitamente. A mesma transformação que se passa com os embriões humanos se
processa aqui. A única diferença é que não estão dentro da genitora. Com o
tempo, eles se libertam da bolsa e da respiração branquial e passam a respirar
com os pulmões, sendo imediatamente amamentados. Como disse anteriormente, nossa
natureza é metade humana e aumarina.
- Os
aumarantes são uma espécie muito bonita conselheiro. Estou muito emocionada.
O Conselheiro Netuno com um sorriso
contagiante e olhando para esposa e o filho responde:
- Obrigado
Ondina. Mas prefiro dizer que somos todos belos.
A Capitã Iara segura à mão do Dr. Asa e
olhando-o profundamente, revela o desejo de ser mãe e de compartilhar com ele um
futuro feliz. O Dr. Asa corresponde o olhar com um sorriso.
- Bem.
Gostaria muito de lhes mostrar o processo de renascimento e da transmigração,
mas estamos sem tempo no momento.
O Conselheiro Netuno indica ao grupo uma
nova saída para o jardim, onde se encontra a nave e logo em seguida partem para
a cidade do Reino das Águas.
De longe, todos avistam uma bela cidade de
muitas torres e luzes. O entardecer no céu aumarante esmaece aos poucos e passa
para uma cor azul escura. O Conselheiro Netuno dar novas explicações do
processo do dia e da noite no mundo aumarante, do aproveitamento do reflexo de
luzes que vem da superfície, da fonte de energia do núcleo da terra que também
é utilizada para complexos processos de refrigeração e dispersão de calor.
Quando a nave aterrissa numa plataforma
que fica na torre mais alta da cidade, os visitantes se alegram com a recepção
de jovens aumarantes ricamente trajados, conduzindo belos arranjos de flores e
presentes. Uma música suave e relaxante ecoa por todos os pontos.
Surgi então o Rei das Águas, que se
aproxima sorridente e emocionado com a presença dos visitantes.
- Navan
meus amigos! Navan!
- Navan
majestade! – todos respondem.
- Desejamos
que vocês apreciem a nossa hospitalidade e amizade – disse o Rei das Águas,
usando vestimentas imaculadamente brancas – Sigam-me amigos, quero lhes
apresentar ao povo aumarante.
Todos acompanham o rei para a extremidade
da plataforma e observam uma vasta multidão de aumarantes que imediatamente
reverenciam respeitosamente o rei e os humanos recém chegados. O Dr. Asa sente
o coração pulsar de emoção, o Dr. Sargaço abre um largo sorriso e olha para
Comandante Ondina que se esforça em segurar as lágrimas. A Capitã Iara admira
perplexa esta incrível civilização.
Após uma breve cerimônia, os convidados
seguem para o salão real e são recepcionados por outros anfitriões. Dezenas de
mesas de baixa altura, construídas habilmente de puro cristal, surgem
lentamente do piso liso e brilhante. As paredes ostentam complexos mosaicos e
vitrais alusivos a cultura aumarante.
O Conselheiro Netuno se aproxima dos
amigos e indica o lugar onde o Rei das Águas os aguarda já devidamente
acomodado.
- Espero
que vocês apreciem a culinária aumarante.
- Chegou em
boa hora conselheiro, meu estômago se alegra com o convite – disse o Dr.
Sargaço com curiosidade.
- Falou em
comida você perde logo a linha. Não é meu querido? – Sussurra a Comandante
Ondina dando-lhe uma discreta cotovelada.
- Minha Sereia.
Todos sabem que a minha real vocação é a gastronomia, este momento é histórico.
Olha só! Eles não usam acentos ou qualquer tipo de cadeira, se acomodam nestas
almofadas macias como nuvens.
- Muito
interessante. Eles adotam padrões de antigas civilizações humanas. Veja aquelas
colunas, parecem com o estilo jônico, Os vitrais e mosaicos são
extraordinários. Eu passaria horas admirando-os.
Próximo as grandes janelas de incríveis
transparências, o Dr. Asa e a Capitã Iara também se entusiasmam com as torres
em vários pontos da cidade, vistas a distância.
- A
impressão que eu tenho, é que eles têm um pouco de cada cultura arquitetônica
humana. É simplesmente deslumbrante! É um mundo excepcionalmente incrível!
- Fico
pensando, Asa. Acho que foram eles é que nos inspiraram.
- É muito
provável que sim.
Os convidados se impressionam mais uma
vez, quando estranhas bandejas transparentes e caprichosamente iluminadas,
surgem flutuando com suavidade entre as mesas, depositando alimentos coloridos
e de aromas convidativos. O Dr. Sargaço observa que nenhum destes alimentos é
de origem animal. As bebidas, além de água cristalina, são sucos produzidos com
frutos exóticos e extintos na superfície do planeta. O salão se encontra
repleto de aumarantes falando em seu idioma típico, de sonorização agradável.
Também não se observa tumulto e tudo segue com impecável organização.
Uma brisa leve penetra pelo teto do salão.
A temperatura do ambiente é confortável, assim como a música que se escuta com
prazer, mas que não se identifica ao certo de onde vem.
O cerimonial segue com refinado estilo e
uma atmosfera de paz contagia a todos. São realizadas apresentações lúdicas
acompanhadas por hologramas perfeitos, com imagens de seres míticos e um baile
de luzes de varias tonalidades que encerra a apresentação no alto do domo,
lembrando um show pirotécnico.
Na seqüência, outra imagem circula a
parede do salão, com painéis apresentando um resumo da cultura, da
biodiversidade e dos inimagináveis avanços científicos e experimentais do povo
aumarante.
Não se teve a exata noção de quanto tempo
se passou essa confraternização histórica. Nenhum assunto referente ao
verdadeiro objetivo da presença dos humanos no mundo aumarante foi dialogado
durante o evento. Concluído o jantar, os convidados seguiram para os seus
aposentos, sendo guiados por pequenas, interessantes e cordiais esferas
metálicas que flutuavam. Estas minúsculas máquinas robóticas se comunicavam no
idioma humano, dando boas-vindas e desejando bom descanso aos visitantes,
avisando que em algumas horas teriam um novo encontro com o Conselheiro Netuno.
Apesar das confortáveis e convidativas
acomodações, apenas o Dr. Sargaço é que consegue dormir profundamente. Os
demais, ainda sob o efeito do impacto de estarem no mundo aumarante, apenas
tentam relaxar um pouco, observando de uma varanda a bela paisagem que se
revela.
Capítulo 12
O HERDEIRO
No Planeta Terra, a raça humana acompanha
emocionada e com alegria, a chegada das primeiras centenas de caças robs,
cargueiros e cruzadores marcianos nos céus das principais cidades em diversas
regiões. Já é noite na Cidade de Palmeira dos Ventos, sede do governo da
humanidade. O Mestre Clístenes recepciona o Mestre Tálio, com a sua filha Efígie
e o genro Ébano. Logo em seguida, o General Nergal chega com os demais oficiais
do comando militar de Marte e alguns soldados robs. As naves aumarante que
participaram da escolta não pousa em solo terráqueo, mantendo-se na guarda da
órbita do planeta com os demais cruzadores terráqueos e marcianos. Todos estão
sob as ordens do Comandante Arcturus, recém chegado da Estação Lunar Meteora,
conduzindo todos os humanos que lá habitavam.
-
Saudações, Mestre Clístenes – Disse o General Nergal, que ensaia um abraço a
moda marciana, cruzando os braços alternadamente.
- Seja
bem-vindo, general! Fez boa viagem?
- Sim
mestre. Com exceção dos nossos prisioneiros que estão muito assustados.
- Os
draconianos, estão bem?
- Nenhuma
alteração. Passaram todo tempo no setor de quarentena, tivemos poucos contatos
durante a viagem.
- Seus
corpos possuem aversão à atmosfera do nosso planeta?
- Um pouco
de desconforto com a gravidade terráquea que parece ser um pouco mais pesada
que a deles. Impressiona-nos a sua adaptação, certamente o planeta de onde vem
possui atmosfera semelhante.
- Tentaram
fazer alguma comunicação?
- Um pouco.
O jovem já se encontra recuperado de suas lesões e durante as nossas tentativas
de comunicação se manteve em silêncio. Só obtivemos algumas respostas curtas do
adulto, que dizia em linguagem draconiana que queria falar com o líder maior.
- Nenhum
detalhe?
- Não
mestre. Mas aconselho a não demorar muito em interrogá-los. Poderemos obter
informações valiosas. O inimigo pode voltar atacar a qualquer momento.
- Entendo
sua preocupação general. Sendo assim, reuniremos apenas o conselho dos 12 na
acrópole em vinte minutos. Conduza os prisioneiros de guerra até o salão nobre.
-
Imediatamente mestre.
Todos os clãs da Terra estavam entretidos
com a chegada do povo ceriano e cada um ao seu modo, realizavam as suas
confraternizações de boas vindas. A Rede Humanity fazia ampla cobertura dos
acontecimentos e mais uma vez por precaução e segurança, a existência dos
prisioneiros draconianos não foi divulgada.
Após a formação da assembléia na Acrópole,
o menino e o adulto capturados, seguem escoltados para o centro do salão em
formato de arena. Rodeados pelos representantes do Conselho dos 12 e das
imagens holográficas dos demais membros ausentes fisicamente, os prisioneiros
demonstram aparente tranqüilidade.
Antes de iniciar os interrogatórios, um
atraso imprevisto é anunciado, pois não houve sinal de comunicação com a
Expedição Rapanui e de um cruzador marciano, cuja missão era realizar a escolta
de volta ao Planeta Terra.
- Mestre –
informa o General Ares de Marte – Perdemos o contato com a expedição.
- Poderia
ser mais claro, general?
- Não temos
nenhum sinal de sua localização. Até a nossa chegada à órbita da Terra,
havíamos confirmado o encontro do cruzador com a expedição, inclusive a Comandante
Ísis afirmava que faria uma mudança de rota favorável para encurtar a viagem.
- Estranho.
Será que foram atacados pelos Draconianos?
-
Acreditamos que não mestre. O sinal da massa escura encontra-se fora dos limites
do nosso sistema solar, encontra-se estável.
O Mestre Menés de Marte se manifesta:
- Mestre
Clístenes. É anormal a perda de comunicação com a expedição, inclusive o
rastreamento que foi minuciosamente realizado pelos robs na órbita do Planeta
Ceres indica que a expedição e o cruzador marciano simplesmente sumiram.
O General Nergal completa a informação:
- Mestre. Já
ordenei um grupo de reconhecimento de caças rob para aquela região partindo de
Ceres e confirmo o que o Mestre Menés está dizendo, não há sinal da expedição
naquela região!
- Mestre Clístenes
– informa o General Ares – Estamos com algumas conclusões de que a expedição e
o cruzador devem ter descido por razões desconhecidas em algum planeta próximo
da rota, possivelmente em Makemake.
- São estas
razões desconhecidas, que nos preocupa general.
- Senhores
– Intervém o Mestre Tálio – Conhecemos um pouco melhor aquela região. Existe
sim a possibilidade da expedição precisar aterrissar em algum planeta, a
movimentação de asteróides encontra-se instável. No Planeta Ceres, houve várias
ocasiões em que tivemos dificuldades de enviar sinais de comunicação. Em
determinadas épocas, as freqüências e perturbações eletromagnéticas deixavam-nos
no ponto escuro de contato. Os fenômenos atmosféricos nestes planetas são
constantes e interferem nas comunicações.
O Mestre Clístenes escuta com atenção:
- Agradeço
as palavras tranquilizadoras Mestre Tálio. Aguardaremos os novos
acontecimentos. No momento aconselho nos concentrarmos em nossos prisioneiros
de guerra.
Do mundo aumarante, o Conselheiro Netuno e
a equipe do Dr. Sargaço são convocados para participar do interrogatório,
realizado com tradução simultânea da linguagem draconiana para os demais
membros presentes na acrópole. Mais uma vez, os robs participam ativamente na
codificação das mensagens eletrônicas via rádio, fazendo duplicidades de
tradução na intenção de confundir momentaneamente o rastreamento do inimigo.
Todos os presentes observam atentos, as
semelhanças físicas dos prisioneiros com os seres humanos. De estatura mediana, os draconianos diferem
da raça em alguns aspectos: a cor da pele é levemente cinza. Os olhos “puxados”
são de cor sépia com sobrancelhas arqueadas. A cabeça é oblíqua com cabelos
negros e lisos. Sem dúvida, uma interessante raça humanóide, a julgar pelos
padrões humanos e aumarantes.
A imagem holográfica do Conselheiro Netuno
é projetada no centro do salão, a poucos metros dos prisioneiros.
- Navan
Dracória. Meu nome é Netuno. Sou conselheiro e representante do povo aumarante,
co-habitantes deste planeta com os demais irmãos da espécie humana. Estamos
aqui com o líder da humanidade e demais membros do Conselho de Guerra recém
constituído, e queremos a sua cooperação em nos fornecer respostas.
Um breve momento, e o prisioneiro adulto
faz um gesto amistoso para a assembléia.
- Sou
Aminas. Tutor do Príncipe Dizart. Somos do
Povo de Divânia, que habita o Planeta Salter, do sistema planetário do reinado
de Dracória. Agradeço pela cordialidade e tratamento a que nos foram prestados.
A primeira fala do Tutor Aminas causou uma
boa impressão na assembléia. Havia um grau de refinada educação e civilidade em
seus gestos e palavras.
- Fiquem tranqüilos
divanianos. Estão seguros entre nós. A nossa cultura não permite maus tratos
com prisioneiros de guerra. Não somos hostis e recebemos com sinceridade os
seus agradecimentos. O príncipe que se refere é este jovem ao seu lado?
-
Certamente. Este jovem é o último herdeiro de uma antiga tradição do nosso
sistema planetário no Reinado de Dracória.
A imagem do conselheiro se desloca,
caminhando um pouco para a direita.
- Desde
tempos imemoriais. Muito antes da vida surgir de fato neste planeta, que
chamamos de Terra, a existência draconiana já era conhecida por nos aumarantes.
Muitas histórias foram repassadas por milhares de gerações, e só agora que
realmente fazemos um primeiro contato. No entanto, pouco sabemos do seu povo e
do sistema planetário. O que faz tão nobres representantes em participar de
frentes de combate no espaço contra o nosso povo?
O Tutor Aminas baixa a cabeça em sinal de
vergonha e respeito.
- Lutando
pela sobrevivência, senhor conselheiro. Não tínhamos o direito de evitar a
nossa participação. Acredite, somos sinceros em nossas respostas e nunca
havíamos tido contato com os da sua espécie. Tão pouco em enfrentá-los num
combate.
- São
guerreiros draconianos, eu presumo?
- Escravos
draconianos é o melhor termo, senhor conselheiro.
- Escravos?
Pode nos explicar melhor?
O jovem draconiano olha para o tutor
estimulando-o a continuar.
- Obrigado
pela oportunidade, é tudo o que queremos. Os divanianos e os outros povos que
habitam os planetas do nosso sistema são escravos. Somos vítimas da tirania do
poderoso Dracórius e dos seus irmãos. Todos que participaram desse combate, foram
deliberadamente usados como teste para enfrentar o seu povo na intenção de
conhecer as suas armas e defesas.
- Seguiram
ordens dos draconianos?
- O reinado
de Dracória jamais atacaria o seu povo, que não fosse pelos mesmos motivos que
vocês fizeram em se defenderem. No último combate, seguimos para a morte com a
promessa de que retornaríamos para o convívio do nosso povo. Seria como uma
recompensa, caso saíssemos vitoriosos.
- Senhor
Tutor! Sou o Mestre Tálio, represento os humanos que habitam o Planeta Ceres,
onde aconteceram as primeiras investidas hostis dos draconianos. A recompensa a
que o senhor se refere, causou mortes e desespero ao nosso povo.
O Tutor Aminas se vira e olha para o
mestre e repete os mesmos gestos de submissão.
- Lamentamos
profundamente, senhor. No entanto, a dor de nossas perdas se for possível
comparar, estão sendo maiores. Conhecemos de perto esses sentimentos. Não
conheço seu planeta, assim como desconheço da nossa participação nas mortes do
seu povo. Como eu disse, somos escravos.
O General Nergal ergue a mão e é anunciado,
com a voz grave e cansado, inicia a sua participação no interrogatório.
Comandei essa batalha e confirmo que suas
perdas foram maiores, tentamos evitar esse confronto, mas os seus líderes não aceitaram.
O resultado é que conseguimos destruir todas as suas naves.
O Tutor o cumprimenta a distância.
- Foi uma
surpreendente demonstração que sou aumentou o nosso desespero. E os
responsáveis não são nossos líderes. Foi um alívio em perceber rapidamente que
estávamos enfrentando seres poderosos. Mas creiam! Nunca os consideramos como
nossos inimigos. A força de suas defesas serviu para mostrar a Dracórius e seus
irmãos do que são capazes, apenas isto. Nada era importante naquela batalha.
Com exceção do seu irmão Detra que se divertia com tamanha insensatez. Naquele
combate, nos redemos ao pensamento do triste destino que a morte ao
enfrentá-los, nos libertaria da tirania de Dracórius.
O General Ares é também anunciado.
- Tutor!
Responda-me com clareza: Vocês foram usados para nos testar?
- Mas do
que isso senhor! Fomos usados como pretexto para morrer. Em nosso mundo temos
guerreiros prudentes e habilidosos para isto. Não foi o caso, nessa guerra
injusta.
- Injusta?
Estávamos salvando o nosso povo daquele planeta. Muitos morreram devido aos meteoritos,
queríamos protegê-los! – disse o Mestre Tálio, quebrando o protocolo.
O Tutor Aminas percebe a intervenção
repentina e não anunciada. Ele olha para o Mestre Tálio.
-
Acreditamos nisso, senhor! Mas não tínhamos escolha! Não fomos nós que movemos
as pedras, somos apenas escravos! Muito nos orgulha está aqui na condição de
prisioneiros de guerra, há mais honra nisso.
O tutor baixa a cabeça e se emociona,
demonstrando sinais de mal estar. Um médico rob se aproxima falando em língua
draconiana e tenta prestar auxílio, fazendo-o sentar. O jovem prisioneiro evita
que o rob se aproxime, fazendo um gesto com a mão. O rob entende e se afasta.
Ele tem uma conversa silenciosa com o tutor e imediatamente, se levanta altivo
e seguro.
- Crianças!
Crianças!
- O que tem
a dizer, jovem príncipe? – pergunta o Conselheiro Netuno.
- Vocês
mataram crianças! Centenas delas! Assustadas, famintas, tristes por está longe
de suas famílias, escravos prisioneiros a serviço de Dracórius!
- Crianças?
Aqueles guerreiros pilotando as esferas eram crianças? – o General Nergal se
altera inconformado com a informação.
O Príncipe Dizart percebeu o impacto que
sua declaração causou nos humanos e também que se tratava de uma espécie que se
preocupava com suas crianças.
O Mestre Clístenes se levanta e com a
palma da mão erguida solicita silêncio. O Príncipe recebe o sinal de que pode
continuar.
- Na sua
grande maioria eram crianças. Foram as primeiras a atacar. Nenhum guerreiro a
serviço de Dracórius e de seus irmãos participou daquele combate. Não me admira
vocês não perceberem como foi fácil destruí-los. Tentamos fugir para aquele
planeta, acompanhando o líder Detra, pois era a nossa esperança de fuga. Ao
chegarmos ao solo, ele nos abandonou e ordenou para que desviássemos as
atenções dos seus guerreiros. Fugimos como loucos, choramos a nossa morte e
saudade das nossas famílias.
O príncipe silencia. O General Nergal
limpa um pigarro da garganta e põe, como de costume, a mão na testa e abaixa a
cabeça. Todos se comovem num silêncio profundo.
Do mundo aumarante, a Comandante Ondina
sai correndo aos prantos em direção a uma varanda próximo aos seus aposentos. O
Dr. Sargaço vai ao seu encontro e a abraça também emocionado. Enquanto isso, o
Dr. Asa e a Capitã Iara se entreolham sem acreditar no infanticídio praticado
pelos humanos.
O tutor aparentemente recuperado se
manifesta:
- Senhores!
É por isso que eu disse que as nossas perdas foram maiores. Perdemos o que a
havia de mais precioso entre nós: O futuro. Somos os únicos sobreviventes
daquele combate. Tivemos muita sorte, pois não fugimos com as demais naves dos
nossos irmãos. Desviamos das montanhas para escapar dos ataques. Ainda no solo
do planeta, programamos as nossas naves para seguirem a ermo e assim tentar nos
escondermos nos abrigos rochosos. Na fuga, ao tentarmos alcançar um local
seguro em um ponto mais alto da montanha, o príncipe passou mal, escorregou e
se feriu. Sentimos os efeitos da altitude do planeta e não conhecíamos os perigos
a que estávamos expostos. Ficamos assustados e ao mesmo tempo aliviados em ser
capturados e agora poder está aqui revelando o nosso sofrimento.
O Mestre Clístenes se levanta e vai ao
encontro dos prisioneiros. Pede para que o robs retire as algemas magnéticas de
suas mãos.
- Não
podemos carregar essa culpa em relação as suas crianças, não seria justo. O que
sabíamos é que estávamos lutando para também defender as poucas que temos.
Agora me responda jovem príncipe: Existem outros escravos na Lua Negra?
- Existem
muitos! Oriundos de povos pacíficos de outros planetas muito próximos ao nosso.
- Obrigado
príncipe.
Agora o Mestre Clístenes se dirige para o
tutor.
- Por
favor. Revele-nos um pouco a história do seu mundo e o que sabe sobre os nossos
verdadeiros inimigos.
- Com muita
honra senhor. Nossa raça nasceu, evoluiu e prosperou no Planeta Salter, um dos
35 planetas do sistema draconiano, dos quais apenas 20, possuem condições favoráveis
à existência de vida. Destes planetas, apenas 13 possuem seres conscientes. Em
remotos tempos, a nossa raça tentava se comunicar com os planetas vizinhos,
emitindo sinais luminosos rudimentares. Sabíamos que existia vida neles. Estes
mundos são muito próximos e devido a um equilíbrio gravitacional, nunca
colidiram entre si. Evoluímos em tecnologia e aperfeiçoamos os nossos sinais,
confirmando a existência de outros seres inteligentes próximos a nós. Com o
avanço da nossa ciência, que duraram milhares de anos, conseguimos finalmente
visitá-los e ampliar os nossos saberes e culturas. Unimo-nos por um bem comum e
posteriormente foi criado o Reinado de Dracória, nome da estrela que fornece
luz e calor aos nossos mundos. O reinado integrou todos os planetas e nunca houve
guerras ou conflitos sérios, apenas uma forte competição comercial. Existia
harmonia, apesar das poucas diferenças de raças e espécies.
O Mestre Menés deseja perguntar.
- Senhor
Tutor! Qual a origem dos nossos inimigos da Lua Negra? Dracórius e seus irmãos?
- Eles são
antigos habitantes do Planeta Sir. É um dos menores do nosso
sistema e o mais distante. Foram uns dos últimos a serem contatados e seus
habitantes descendem de antigos povos bárbaros. Cultuavam uma estrela que
chamam de Nanna. Acreditamos que
seja um dos mais antigos povos do nosso sistema e sempre demonstraram não
querer interferência em seu mundo e não participar do reinado.
- Tinham
motivos para isto?
- Não
senhor. Eles não queriam participar, mas as suas lideranças nunca se
posicionaram contra. Criamos um reinado para unir nossas forças e manter nossa
existência e ajuda mútua. Cada planeta tinha o seu líder, seu povo e sua
crença. De certa forma, poderemos ter cometido alguns erros diplomáticos,
afinal, estávamos começando algo novo e de boas intenções. Desde o início,
desconfiamos que os habitantes do Planeta Sir em sua maioria, seriam de difícil
convivência.
- Então não
havia submissão ao reinado?
- Não havia
o desejo de submissão e poder, apenas de união. Os líderes de Sir gostavam da
existência do reinado, mas não das condições que os outros mundos admitiam.
Eles não queriam influências de hábitos de outros mundos ou consumir produtos
que eles não produziam. Sempre foram independentes e assim gostariam de
permanecer. Uma minoria dos seus habitantes aceitava de bom agrado a proposta e
alguns desenvolveram seus conhecimentos em nosso convívio. O Planeta Salter é o
berço da cultura draconiana e precursora do desenvolvimento e do conhecimento.
Apesar da resistência, o reinado era indulgente com o Planeta Sir.
O General Nergal completa a pergunta.
- Então os
líderes da Estrela Negra não são draconianos?
- A sua
origem remota do reinado draconiano. Autodenominam-se draconianos pela
imposição da força e pelo controle absoluto dos nossos mundos. Subjugaram
estranhamente a sua própria raça aos seus interesses, chegando até a perseguir
e matar os que não aceitaram este comportamento, sendo motivo de desonra e
vergonha dos poucos habitantes do povo de Sir, que futuramente se refugiaram no
Planeta Salter.
- De onde
vem o poder dos irmãos draconianos? – pergunta o Mestre Clístenes.
- A
história dos irmãos draconianos surgiu da formação do Reinado de Dracória e que
foi repassada por nossos ancestrais por centenas de anos. Os três irmãos são
muito antigos e os seus corpos não envelhecem. Naquela época, aconteceu um
fenômeno estranho em nossos céus. No princípio da formação do nosso sistema, a
Estrela Nanna é que mantinha a vida nos diversos planetas. Aos poucos, esta
estrela foi se afastando do nosso sistema à proporção que a Estrela Dracória se
aproximava. Conta à lenda, que esse evento causou muita perturbação nos
planetas, mas com o tempo foi normalizado. Foi como se uma estrela convidasse
outra para assumir o seu lugar e manter a vida em nossos mundos. Tempos depois,
a Estrela Nanna não era mais vista no espaço. Nos diversos povos do Reinado de
Dracória, esta história originou várias outras lendas e versões diversas, que
explicam o acontecido, mas todas confirmam o afastamento de uma estrela e a
aproximação de outra. Quando a Estrela Nanna se afastou, houve muita confusão
nos habitantes do Planeta Sir, um sinal de mau presságio pelo desaparecimento
da sua fonte de adoração. Foi então que surgiu uma esfera negra de grandes
proporções em nossos céus, parando posteriormente na órbita do Planeta Sir.
Testemunhas oculares viram três dos quatro irmãos líderes deste mundo serem
sugados por um círculo negro lançado sobre eles. Um deles chamava-se Forseti, que quando jovem, foi educado no Planeta
Salter. Retornara tempos depois ao seu planeta natal, com a missão de promover
definitivamente a união do povo de Sir ao reinado de Dracória.
- E onde se
encontra este Forseti?
- Não
sabemos senhor. Acreditamos que tenha sido morto pelos seus irmãos.
- E quem é
Dracórius?
- Dracórius!
É um título dado ao primeiro soberano maior dos mundos que compõem o nosso
sistema planetário, o reinado de Dracória. O nosso príncipe aqui presente é o
único herdeiro desta geração de nobreza, atingiria este título com o nome de
Dracórius Dizart.
- O que
aconteceu então com o reinado de dracória?
- Os três
irmãos se tornaram aliados de um ser alienígena que habitava a esfera negra,
jurando-a fidelidade em troca da imortalidade e domínio do nosso reinado. Ele o
transformou num império de tirania e sofrimento. Todas as cidades foram
destruídas. Seus líderes foram mortos e outras raças capturadas e escravizadas.
Foi nesta época que Forseti desapareceu, ele era um dos líderes mais
importantes. O reinado foi assolado pela fome, doenças e desespero. Com o
passar dos anos, retornamos a ter nossas vidas e atividades apenas para a nossa
subsistência, nossos mundos foram impedidos de serem visitados, nossos
transportes foram destruídos, nossas comunicações voltaram a ser rústicas e
discretas. Contrariar as ordens do império de Dracórius significava a morte.
Uma resistência silenciosa foi criada entre os sobreviventes para proteger os
descendentes dos líderes de vários povos e raças. Escondemos estes descendentes
de famílias reais por muito tempo. Talvez seja difícil para os senhores
entenderem o que é ter que viver escondido em seu próprio mundo para proteger
algo mais precioso que a sua própria vida.
- Acredite
senhor tutor. Podemos entender bem o que isto significa – Responde o
Conselheiro Netuno do mundo aumarante.
Os membros do conselho se entreolham.
- Após a
dominação – continua o Tutor Aminas - Que não sabemos precisar quanto tempo, a
esfera negra seguiu para os confins do universo, levando os três irmãos.
- Senhor
tutor – pergunta o General Nergal - Dracórius e seus irmãos estão aqui em nosso
sistema solar, testaram nossas defesas enviando crianças para a morte, por que
não mandaram seus guerreiros?
- Eles
possuem uma escolta pessoal, apesar de possuir poderes especiais. Os outros
guerreiros participam de guerras com muita vontade e habilidade, se divertem
com isto, costumam caçar seres para alimentar os gruns.
- O que são
os gruns? Vivem na lua negra?
- São
criaturas negras que servem os seus senhores nas caçadas e na guarda. Somos muitas
vezes, o alimento desses animais, que sugam nossas vísceras e fluidos. Andam e
se movem sorrateiramente e podem voar com facilidade e rapidez. Suas vozes são
assombrosas e são muito perigosos.
- São
criaturas semelhantes à imagem das gárgulas – Explica o Conselheiro Netuno –
Chegamos a capturar alguns que estavam de posse de outros seres alienígenas que
visitaram o Planeta Terra no passado. Sua origem é desconhecida.
O príncipe pede a palavra e faz um pedido:
- Humanos e
aumarantes. Humildemente peço-lhes que ajudem o nosso povo. Vimos o poder de
suas armas, conhecemos as suas forças e determinações, precisamos de ajuda.
O Mestre Clístenes observa os draconianos
com atenção.
- Como poderíamos ajudá-los? Chegar ao
seu longínquo sistema planetário e enfrentar o império draconiano em sua
própria casa? Nossa tecnologia é eficiente, mas não o suficiente para
atravessarmos grandes distâncias no universo em tão pouco tempo.
- Da mesma
forma em que chegaram aqui – responde Aminas – Mesmo como escravos,
vislumbramos outros sistemas planetários. Eles possuem uma tecnologia que
permite encontrar passagens pelo espaço e viajar com segurança para remotas e
distantes regiões do universo.
- Os irmãos
draconianos não vivem no reinado?
- Não
vivem. Visitam-nos após longos períodos, mas nunca ficam ausentes o suficiente para
permitir nossa recuperação como civilização. Só retornam ao sistema draconiano
para capturar novos escravos.
-
Descobriram minha herança – Disse o príncipe - Mataram a minha família e os
meus amigos e me fez prisioneiro com o tutor.
- Príncipe
– intervém o Conselheiro Netuno – Ainda não temos condições de ajudar. Estamos sobre
vigilância. Existem semelhanças em nossas histórias. Este ser alienígena que
surgiu em seu mundo, certamente é o mesmo que atormentou este sistema em outras
épocas. Conhecemos pelo nome de Danu Lilith, uma das duas irmãs da deusa que
nos gerou que chamamos de Danu Luna. Não temos referência da outra irmã. Apenas
que, segundo a nossa tradição, convenceu o Dagda Navan a subjugar aos seus propósitos.
Sabem informar se ela habita a Lua Negra? Conhecem o ser alienígena que deu
tanto poderes a Dracórius e seus irmãos?
O Tutor Aminas olha para o príncipe e
confirma se ele tem alguma informação obtida por outros escravos.
- Não temos
conhecimento Senhor. Apenas sabemos que eles dominam um poder e servem a este
ser alienígena, que chamam de deusa e às vezes de rainha. Nunca vimos e nem
sabemos onde ela se encontra, no entanto outros seres aliados e também
desconhecidos já foram percebidos na Lua Negra em algumas situações. O que
sabemos é o que foi deixado por tradição oral pelo líder Forseti. Entendemos
que se o povo humano e aumarante conseguir dominar a fonte do poder de
Dracórius, poderemos usá-la para retornar ao nosso mundo.
- Vocês
sabem como se transportam para os outros mundos? Sabem manipular esse poder? –
pergunta o Mestre Menés.
- Estive
uma vez servindo Detra, com outros escravos. Estava escondido e observei como
fazem. Não é um poder sagrado como imaginávamos e sim uma engenharia avançada
que lhes foi revelado. Usam uma fonte de energia. Uma esfera negra.
- Curioso –
Disse o Conselheiro Netuno – De fato me convenço definitivamente, que esta
esfera seja o poder vital da Danu Lilith. Sendo assim, se não for ela quem
comanda os irmãos draconianos, quem será? Quanto a esfera negra, é um poder
além da compreensão deles e certamente não lhes pertence.
- Então os
draconianos não vivem no seu império? – pergunta o General Ares – O que fazem
então?
- Viajam
pelo espaço infinito em busca de raças frágeis para dominar, caçar e matar.
Notamos que evitam aparecer em outros pontos do universo, temendo a represália
de seres tão poderosos quanto eles.
- Eles fogem?
- Sim! Da
mesma maneira que perseguem! Achamos que temem outros seres que os queiram
destruir.
-
Certamente – analisa o Conselheiro Netuno – Estamos diante de fatos e
informações que fogem o nosso entendimento. Deve existir outro conflito em
algum lugar no universo. Algo de uma complexidade maior, que nos chega
fragmentado.
- Tutor
Aminas! – pergunta o Mestre Clístenes – Possuímos padrões de tempo diferentes
em nossos mundos, que regula nossas vidas e atividades. Segundo conta os
aumarantes, houve um conflito entre deuses ou seres alienígenas em nosso
sistema há muito tempo atrás. A raça humana ainda não existia, com exceção dos
aumarinos e dos seus sucessores aumarantes. Houve um grande intervalo de tempo
para o retorno dos draconianos ao nosso mundo, mundo este, que eles acreditavam
não mais existir, pois os seus propósitos que segundo nos foi revelado, já
haviam sido concluídos. Apesar de tudo, nunca representamos real ameaça para
nenhum ser de outro planeta. Existe alguma razão que vocês considerem mais
relevante, além do fato que os draconianos possuírem em sua rotina de
existência, atormentar e destruir mundos e seus povos?
- O poder da
sua fonte de energia é fatal. Não precisavam enviar nosso povo sofrido para um
confronto como este. Poderiam mover as pedras que existem em seu sistema e
simplesmente destruí-los.
- Então o
senhor concorda que outros motivos chamam o interesse dos draconianos?
- Acredito
que seus conhecimentos, suas armas, como outrora, tivemos no reino de dracória.
Mas existe outro evento que ocorreu em nosso mundo e que merece destaque. Um
dia, estávamos monitorando nossos céus e avistamos um objeto não identificado
que ficou em órbita, preso na gravidade entre dois planetas não habitados. Um
grupo de resistência conseguiu esconder pequenas naves usadas em manutenção,
que permitiam curtas distâncias fora do planeta. Curiosos, fomos averiguar e
percebemos que o objeto não era tripulado. Tinha um formato estranho e possuía
um fraco sinal. Coletamos este objeto e logo percebemos que se tratava de uma engenharia
alienígena não hostil. Estudamos com cuidado, antes de tentar fazer algo, não
queríamos danificá-lo, até quando um de nossos sábios conseguiu entender do que
se tratava.
- E de que
se tratava? - pergunta o Mestre Clístenes.
- Era uma
nave de mensagem. Ficamos muito felizes por este achado, apesar de não
identificarmos a sua origem. Continha instruções de uso e um disco feito de
metal nobre que ao ser reproduzido possuía imagens e sons naturais de um
planeta. Escondemos este objeto por muito tempo, até que os draconianos
descobriram depois de torturar um dos nossos, prometendo não levar os seus
filhos como escravos. Eles sempre fazem isto e nunca cumprem suas promessas. Por
coincidência ou não, foi a partir da descoberta deste objeto, que Dracórius e
os seus irmãos se afastaram por um bom tempo do nosso sistema. Acreditamos que
tentavam descobrir a sua origem.
Poderiam pensar fossem aliados do reino, ou pelo menos, um novo mundo a
ser dominado.
- Por acaso
vocês poderiam descrever este objeto?
-
Descrevê-lo é mais difícil. Mas o príncipe é um excelente desenhista e pode reproduzi-lo.
- Faria
isto, príncipe?
- Acho que
consigo.
Um rob se aproxima do príncipe e põem um
tipo de luva em suas mãos e o ensina como usar. Uma tela holográfica se
apresenta a sua frente colaborando e sugerindo traços e cores que o usuário aceita
ou rejeita. Ao terminar o desenho, todos ficam impressionados com a habilidade
do príncipe. O Conselheiro Netuno dá
sinais de surpresa, pede para que seja projetado em grande escala no painel do
salão do conselho e pergunta aos membros se já viram este objeto. O Mestre
Tálio intuitivamente percebe que o Conselheiro Netuno sabe do que se trata e
pergunta:
-
Conselheiro. O senhor conhece este objeto?
- Sim,
Mestre Tálio. Mesmo daqui do mundo aumarante este objeto é muito conhecido.
- Então? É
obra dos aumarantes?
- Não mestre. É obra humana e muito
antiga.
O Conselheiro Netuno pergunta ao príncipe se existe mais algum detalhe
que possa revelar, como um sinal gráfico e se ele poderia se lembrar e
reproduzir. O príncipe confirma positivamente e atende ao pedido do conselheiro
e de imediato escreve no painel: "Sounds of the Earth” (Sons da
Terra), "For makers of music of all worlds and all times" (Para os
fazedores de música de todos os mundos e todos os tempos).
- A Voyager 2!
Mas é claro! – disse o Mestre Clístenes com surpresa – É óbvio! Como poderíamos
esquecer?
- Isto mesmo
Mestre – responde o Conselheiro Netuno - O objetivo do disco, citado pelo Tutor
Aminas teve como objetivo, transmitir informações da Terra para uma possível
civilização extraterrestre. A Voyager 2 cumpriu sua missão.
Uma euforia toma conta da assembléia.
- A Voyager II –
explica o Conselheiro Netuno – É uma nave robótica que foi lançada ao espaço há
milhares de anos, mais precisamente em 1977 do calendário cristão, na região norte
do planeta que hoje se encontra a Cidade de Liberty. Na época causou muita
preocupação aos aumarantes, pois o lançamento desta sonda seria perigoso se caísse
nas mãos de seres hostis. Nos surpreendeu o fato dela resistir tanto tempo
enquanto circulava o nosso sistema solar, principalmente quando saiu dele. A
tecnologia espacial humana iniciava os primeiros passos e depois passou a ser a
nossa aliada. Devido as Voyager e outros equipamentos lançados ao espaço,
compartilhamos as imagens do que havia fora da órbita da Terra.
- Nos admira
esta nave ainda emitir sinais! – comenta o Mestre Menés.
O Tutor Animas e o príncipe ficam confusos
com tanta euforia dos humanos.
- Então esta
nave de mensagem foi do seu povo? Deste Planeta?
- Sim, tutor! –
responde o Mestre Clítenes – Bem-vindos ao Planeta Terra.
Os
dois draconianos se abraçam e demonstram uma alegria que contagia a assembléia.
- Senhor! – disse
o príncipe – Temos uma verdadeira adoração pelo seu mundo! Tínhamos esperanças
de encontrar aquela civilização que nos foi revelada, que pudesse nos libertar
da tirania de Dracórius.
Vou reconsiderar o seu pedido e tratar com
meus irmãos desse conselho. Agora quero que você e o tutor descansem um pouco.
O rob os conduzirá para uma sala próximo daqui. Aguardem o nosso chamado.
O Mestre Clítenes cancela o sinal de tradução
para o príncipe e o tutor. Ele solicita a opinião do Conselho dos 12. Após 40
minutos, os dracanianos são reconduzidos ao salão nobre. O sinal de tradução é
reaberto e o Mestre Clístenes pergunta se todos concordam com a sugestão do General
Nergal e comunica a decisão:
- Jovem Príncipe
e Senhor Tutor. Concordamos em unir nossas forças e ajudar o seu reino, na
condição de que vocês colaborem conosco nesta guerra contra Dracórius.
O
príncipe adianta os passos e olha para todo o conselho.
- Esta guerra já
é nossa! Concordamos com muita honra!
- Senhores! Tenho
uma teoria de que os dados contidos na nave Voyager II tenham colaborado com
viajantes experientes como os draconianos em localizar o nosso planeta. Já
estiveram aqui num passado distante, não devem ter tido muitas dificuldades em
retornar.
O Conselheiro Netuno acrescenta o
comentário:
- Surpreenderam-se
com o desenvolvimento de uma civilização que não chegaram a conhecer e
destruíram as que davam os primeiros passos no caminho da evolução. Agora não
possuem certezas do que deve ser feito e temem que a sua deusa imprima-os um
castigo severo.
Da tribuna, o Mestre Clístenes
pergunta ao conselheiro.
- O que tem a
mais a nos informar sobre a força ou poder vital da Danu Lilith que o senhor
mencionou e que é usado pelos irmãos draconianos?
- Estes seres
esféricos seguem um padrão de vida e de tempo desconhecidos por nós. No
entanto, segundo o conhecimento aumarante, em um determinado momento a esfera,
que nada mais é do que a sua forma física primária, entra num processo de
cristalização e formação de impulsos atômicos estáveis. A essência que compõem
a esfera é literalmente o ser que nela vive, que se liberta e pode constituir
uma outra forma física, compatível com os seus interesses. A esfera que não
mais contém o ser individual e consciente, perde massa plasmática e diminui
drasticamente de tamanho, chegando a 30 centímetros de diâmetro
aproximadamente. Mas caso a esfera se encontre ou seja levada para um contato
direto com o ambiente do espaço sideral, passa a ganhar novamente massa
plásmica, cria um núcleo gasoso e finalmente transforma-se é uma estrela, a
exemplo de uma semente que se lança a um terreno fértil e transforma-se na
planta. Esta estrela passa atender outros propósitos no equilíbrio e manutenção
do universo, assim também como o ser que um dia a habitou.
- Sendo assim, o nosso sol é uma carcaça de um antigo deus?
- São raras as
estrelas provinientes dessa condição. Pode parecer deveras extraordinário, mas
as obras destes seres são realmente assim e com processos ainda desconhecidos.
Antigas civilizações humanas adoravam o Deus Sol e tinham consciência de sua
natureza, mesmo que intuitivamente. Apesar da consciência deste deus não mais
está presente, a sua luz e calor torna-se provedor da vida ou da morte neste
sistema solar.
- Por isso que
se referem a Danu Luna e o Dagda Navan como deuses?
- Sabemos que
são seres superiores, que seguem uma evolução diferente da nossa e
principalmente, por que são os criadores de nossa existência. Tê-los como
deuses, passa a ser um gesto carinhoso de retribuição e reconhecimento que um
bom filho tem para com os bons pais. Este sentimento para com os seres
superiores está presente em nossa natureza aumarante que em parte é também
humana.
- Muito
interessante. Mas como os draconianos utilizam esta força?
- A esfera
possue muita energia. A sua natureza cósmica não a limita em transitar livre
pelo universo, mesmo sem a sua essência consciente. Ela permite transpor distâncias
e dimensões inimagináveis. E quando isto acontece, transforma a sua matéria, e
as que se encontra em seu entorno, em estágios sub-atômicos que os desloca pelo
espaço-tempo que se deseja. Fragmentos de rochas e demais corpos que estejam
próximos, são atraídos e viajam juntos, podendo causar danos no local de sua
reentrada.
- E como se dar
esta orientação? Como eles indicam para a esfera o destino que se deseja chegar?
- Ao tocar na
esfera, o ser que a coduz amplia seus sentidos cognitivos e passa a enxergar o
que nenhum ser conseguiria a olho nu. Ao vislumbrar o universo, ele não ver a
escuridão e trilhões de pontos luminosos. O que é visto são caminhos, passagens
e fronteiras dimensionais. Podem detectar a existência de seres vivos por mais
ínfimo que sejam. O aprendizado consiste em conhecer e sair destes caminhos,
que se for usado sem inteligência pode se tornar uma prisão de labirintos
indecifráveis.
- Então Dracórius
vai para onde simplesmente desejar?.
- Em princípio
sim.
O Tutor Aminas manifesta um comentário:
- Senhor. Compreendemos
a ameaça que o seu mundo se encontra. Mas temos que lembrá-los que existem
muitos escravos do nosso povo confinados no Planeta Dracon. Ainda existem
crianças inocentes e adultos de grande importância em nosso mundo.
- Sabemos disto,
tutor – responde o Mestre Clístenes – Mas tentar salvá-los na Lua Negra seria
um suicídio.
O príncipe participa das decisões:
- Existe apenas
uma forma senhor. Acionando o transportador para este planeta. Poderíamos
trazer todos os nossos irmãos.
- Mas como? De
que forma poderíamos entrar na Lua Negra? – pergunta o General Ares – São
intransponíveis e se deslocam em grande velocidade. Além disto, não saberíamos
operar a sua engenharia que lança esse círculo ou transportador como chamam.
- Infelizmente –
conclui o Mestre Clítenes – Não podemos oferecer garantias de salvaguardar o
seu povo na Lua Negra, diante do fato de que o nosso próprio mundo encontra-se
ameaçado. Depositamos as nossas esperanças que a Deusa Luna retorne para o seu
casulo. Que recupere os seus poderes a tempo de nos proteger, segundo informou
o Conselheiro Netuno.
Nesse instante, um rob comunica ao
conselho que o sinal da transmissão está sendo rastreado pela Lua Negra. O Mestre
Clístenes ordena contar o sinal, desfazendo a reunião imediatamente. O General
Nergal fica irritaddiante da pressão psicológica a que todos estão sendo
submetidos. Um médico rob se aproxima dele oferecendo seus préstimos, o General
Nergal agradece e diz que a única coisa que o acalmaria seria a oportunidade de
enfrentar Dracórius pessoalmente, pois ainda está viva na sua memória a morte
desonrosa sofrida pelo seu soldado.
O príncipe e o seu tutor são liberados e
conduzidos para os seus aposentos, nas condições de hóspedes. Uma guarda
especial é providenciada para protegê-los de possíveis e desconhecidas
investidas dos draconianos. O Mestre Clístenes pergunta mais uma vez se a
Expedição Rapanui fez algum contato, o que o rob de comunicação da acrópole
responde negativamente. Todos os sinais de rádio são captados pela Lua Negra e
a humanidade é obrigada até de se privar das notícias da Rede Humanity, que
repassaria o acontecido na Assembléia dos 12 e que mais uma vez por motivo de
segurança estava vetado.
Capítulo 13
A EXPEDIÇÃO
RAPANUI
Próximo à
órbita do Planeta Éris, a tripulação da Expedição Rapanui e de um cruzador de
guerra marciano, estão confusos com a decisão da Comandante Ísis por não ter
alterado a rota de retorno para o Planeta Marte e a perda dos sinais de
comunicações com o Planeta Terra.
O Marciano Quasar, 33 anos, do Clã dos Tholis, irmão caçula do General Ares,
comandante do Cruzador Quimera, entra em contato com a líder da expedição.
- Ísis! O
que está havendo? Deveríamos está retornando para Marte!
- Sei disto Quasar! Mas não podemos ignorar os sinais que partem do
Planeta Éris.
- Não
conseguimos manobrar o Quimera. Estamos sendo atraídos pela gravidade deste
planeta. Ainda não conseguimos recuperar o sinal com Marte e a Terra.
- Calma
Quasar. Estamos sendo atraídos deliberadamente.
- O que?
- Estou
recebendo comunicações deste planeta. Sugiro que venha a Nave Rapanui,
imediatamente.
- Não estou
captando nenhum sinal de comunicação Ísis.Temos ordens para retornar.
- Faça o
que estou pedindo Quasar! É importante!Venha para a minha nave, deixe o seu oficial
rob no comando do Quimera.
O Comandante Quasar, curioso, atende ao
pedido da amiga e a bordo de um caça, segue para a Nave Rapanui. Após 40 minutos
encontra-se na ponte de comando, onde a Comandante Ísis o aguarda. Após um
abraço a moda marciana, ele comenta rapidamente alguns detalhes do confronto
que participou no Planeta Ceres e da preocupação do General Ares com os membros
da expedição.
- Ísis. O
que você está fazendo? Que sinais são estes?
- Vida
inteligente, meu amigo! Vida inteligente!
- Vindo do
Planeta Éris? Mas como? Nunca captamos nada nesse ponto?
- Então
escute.
- É
verdade! Que linguagem é essa? Não é terráquea, nem draconiana?
- É
aumarante.
-
Aumarante? Não existem aumarantes neste planeta. O Conselheiro Netuno foi muito
claro em afirmar que vivem no interior da Terra.
- Ele disse
a verdade Quasar. E este idioma já se encontra codificado em nossos arquivos,
vamos traduzir?
- Sim Ísis!
Claro!
A tradução é iniciada.
- Navan
Marcianos! Sejam bem-vindos ao Planeta Éris.
A Comandante Ísis faz um sinal para que o
amigo responda.
- Vamos
Quasar! Responda! – Sorrir.
- Sou o
Comandante Quasar da frota marciana! Qual o motivo de estarmos sendo atraídos
contra a nossa vontade para a órbita deste planeta?
- Seja
bem-vindo Comandante Quasar. Meu nome é Gumenzid, líder dos Deluvianos.
Infelizmente não podemos liberar a concha magnética que os mantém sob a nossa
proteção.
- Deluvianos?
Proteção? Isso está ficando muito confuso para mim Ísis!
- Calma
amigo. Tudo será esclarecido, confie em mim.
O Comandante Quasar não aprecia o
comentário.
- Gumenzid
– pergunta a Comandante Ísis - Os draconianos conhecem a nossa posição?
- Não comandante.
Estão completamente invisíveis.
- Ísis!
Exijo explicações!
- Explicarei
tudo com calma Quasar. Precisamos descer no Planeta Éris.
- O que?
Você está louca! Primeiro, perdemos a transmissão com o comando! Depois somos
atraídos para este planeta habitado por deluvianos! E agora você me pede para
descer? Veja a atmosfera deste planeta! É extremamente quente e instável,
morreríamos em segundos!
- O planeta
é estável. A atmosfera que vemos não corresponde à realidade. É um disfarce.
A Comandante Ísis chama um rob para
comandar a nave na sua ausência e em seguida fala com o deluviano Gumenzid em
língua aumarante. As luzes da sala de comando enfraquecem e um círculo vermelho
e luminoso surge no piso há poucos metros de onde estão.
- Ísis! O
que está havendo! Estou falando sério! Não respondo por mim! – Disse Quasar
ameaçando puxar uma arma presa a perna direita. Alguns guardas robs se
posicionam à frente da comandante.
- Quasar!
Não precisa se desesperar! Guarde esta arma!
- O que
significa aquele sinal luminoso no piso?
- Quasar!
Sou sua amiga! Jamais lhe faria nenhum mal. Mas preciso que você colabore um
pouco e tenha calma. Não sou sua inimiga. Ao decidir investir e convencer
nossos líderes em participar dessa expedição, sabia exatamente para onde deveria
vir. A humanidade precisa da nossa ajuda Quasar! E aqui teremos condições de
virar este jogo contra os draconianos. Você lembra que o Conselheiro Netuno
havia dito que os deluvianos partiram do Planeta Terra antes do meteoro
colidir? Inclusive, eles ajudaram um grupo deluviano a fugir para o espaço e
nunca souberam da sua existência e se conseguiram sobreviver? Acontece que eles
sobreviveram! Veio para este Planeta!
O Comandante Quasar relaxa um pouco e tira
a mão da arma. Um rob médico se aproxima, oferecendo gentilmente um copo com
água que é aceito com satisfação. Ainda um pouco tenso, o Comandante Quasar
tenta se acalmar, recuperar-se do impacto emocional e manter-se sereno e firme,
conforme foi ensinado em exaustivos treinamentos militares no Planeta Marte.
- Tudo bem,
Ísis. Desculpe-me. Algo me diz que devo confiar em você, mas por favor, não
esconda nada de mim, isso só faria piorar as coisas.
- Está bem.
Prometo que farei isto. Sente-se melhor?
- Sim. Bem
melhor, obrigado – O Comandante Quasar responde cheirando o copo de água que
acabara de beber e olhando desconfiado para o rob médico, que havia posto em
calmante insípido e de efeito rápido.
- Na
verdade Quasar. Não esperava que o seu irmão enviasse um cruzador para nos
escoltar.
- Quem você
esperava? Nergal?
- É bem
provável – sorrir a comandante.
- Você
conhece os sentimentos do meu irmão para com você e ele sabe que Nergal nutre
dos mesmos sentimentos, e são muito amigos.
- Sei disso
e me sinto feliz. São homens bons. Dariam excelentes companheiros.
- Mas o seu
coração pulsa por Nergal, não é verdade?
- Sim, é
verdade. Mas agora precisamos nos concentrar no inimigo lembra-se?
- Tudo bem.
Que tal começando explicar o que está havendo aqui?
- Bem. Como
eu disse, não esperava a sua presença com o Cruzador Quimera e todos estes
soldados e robs. Mas já que estão aqui, poderão ajudar. Você lembra que o
Conselheiro Netuno havia dito que o Deus Navan foi aprisionado?
- Sim. O
que tem isso?
- Foi aqui
no Planeta Éris que ele permaneceu durante milhões de anos.
- É muito
tempo para se ficar preso.
- Quando os
deluvianos partiram do Planeta Terra com ajuda dos aumarantes, seguiram sem
destino para este ponto do nosso sistema solar. Estavam dispostos em atravessar
o cinturão de asteróides, na esperança de serem resgatados por outros seres
alienígenas amigáveis. Durante a viagem, entraram nas cápsulas de congelamento
e mantiveram-se em letargia. Quando se aproximaram do Planeta Éris, foram
atraídos pelo poder do Deus Navan e por ele foram salvos.
- O Deus
Navan está aqui?
- Uma parte
dele sim. A energia que rege este planeta deve-se a sua esfera que possui muito
poder e que está sob a proteção dos deluvianos. Esta esfera é parte da sua
essência. Pois esse deus assumiu outra forma.
- E a
esfera mantém uma parte de sua força?
- A mesma
força que move a Lua Negra de onde os draconianos extraem todo o seu poder.
- E onde se
encontra esse Deus Navan?
-
Encontra-se no Planeta Terra. Protegido pelos aumarantes, onde também está a
Deusa Luna. Os aumarantes são muito comedidos na proteção deles. O material
encontrado na Lua pelo Dr. Asa é de fundamental importância para o despertar de
ambos os deuses.
-
Interessante. Mas o que você tem haver com isso? E como conhece esses detalhes?
- Há muitos
anos tenho recebido mensagens telepáticas e tidos sonhos com os deluvianos, que
diziam que precisavam da minha presença neste planeta. Nunca revelei a ninguém,
temendo que achassem que eu estava ficando louca.
O Comandante Quasar olha com ironia.
- Sabe que
ninguém acharia isto.
- Ingressei
nas frentes militares de Marte disposta a realizar este sonho e convenci alguns
cientistas em explorar o Planeta Makemake, que possui razoáveis condições de
abrigar vida humana com a ajuda de nossa tecnologia. Além do que, seria mais uma
fronteira de defesa para a raça humana e que foi bem aceito pelo comando
marciano.
- E desde
quando você tem contato real com os deluvianos e fala a língua aumarante?
- Muito antes
deste conflito ter iniciado. Tive os primeiros contatos com os deluvianos assim
que nos aproximamos do Planeta Makemake e acredite, fiquei tão assustada quanto
você. Mas havia uma forte intuição de que eu estava fazendo algo importante.
Eles foram gentis, confiáveis e muito do que foi revelado pelo Conselheiro
Netuno também me foi dito.
- Os
aumarantes sabem que os deluvianos estão vivos neste planeta?
- Não
sabem. Pelas mesmas razões que os aumarantes se protegeram. Temiam que os
draconianos os encontram-se. O que felizmente nunca aconteceu.
- Por que
você escondeu isto dos nossos líderes? Não confia em nós?
- Tinha
muita vontade de fazê-lo. Mas os deluvianos orientaram em não fazê-lo, pois todos
correriam grave perigo.
- Mas
quanto à língua aumarante?
- Esses
deluvianos perderam com o tempo, a sua tradição lingüística devido ao logo
período que viveram com os draconianos, linguagem que conhecem bem.
Posteriormente, quando foram deixados na Terra, os aumarantes os acolheram e
lhes ensinaram a sua linguagem. Parece incrível o que vou dizer, mas após
algumas visitas no Planeta Éris, experimentei algum tipo de terapia que me
permitiu aguçar os sentidos e a minha agilidade mental. Conseguir aprender
rapidamente a língua aumarante. Inclusive, eles sempre insistiram que eu tinha
de voltar e continuar o processo de forma mais intensiva.
- Como você
visitou o Planeta Éris? Como atravessou aquela atmosfera perigosa? E como nunca
houve registro de nave marciana pousando naqueles solos? Se é que existe.
- Todas as
vezes que lá cheguei, foi através deste símbolo que está no piso. É uma referência
de posicionamento para transporte e acredite, funciona de verdade. É por isso
que agora preciso da sua ajuda. Tem sido muito difícil para mim não ter nenhum
humano amigo para dividir esta missão.
- E qual é
a sua missão, alem de estudar o Planeta Makemake comandante?
- Minha
missão é está aqui. Sinto isto com toda a força de minha alma. Não sei
explicar.
- Ainda é
muito incerto Ísis. Você não sabe o que está fazendo. O que dirá ao restante da
tripulação?
- O mesmo
que disse a você Quasar, nada tenho a esconder.
- E por que
devemos ir ao Planeta?
- Os
deluvianos ficaram satisfeitos ao verem a chegada do Cruzador Quimera e outras
naves de apoio.
- Outras
naves?
- Sim e desta
vez tenho certeza que foi Nergal que as enviou.
- Não fui
comunicado.
- Também não
fui. Os deluvianos é que informaram, momento antes de você chegar à Nave
Rapanui. Eles também ficaram presos na concha magnética para que os draconianos
não os percebessem. Estão muito próximos de nós.
- Então os
deluvianos querem me conhecer?
- Querem a
sua colaboração.
- Como eles
são?
- São bem
grandes, gentis e corpulentos. Não se assuste.
- Está bem
Ísis. Você me convenceu. Espero que esteja fazendo a coisa certa.
- Vamos
então?
O Comandante Quasar respira fundo.
- Sim,
vamos.
Os dois comandantes se posicionam próximos
ao ponto luminoso que pisca lentamente. Uma cortina de luz os envolve e em
questão de segundos encontram-se numa gigantesca galeria no Planeta Éris.
- Nossa!
Essa coisa provoca muito frio!
- Com o
tempo você se acostuma.
O
Comandante Quasar olha ao seu redor.
- O que só
isto? Sinto-me uma criança perdido neste salão.
- Realmente
é colossal. Veja estas colunas e a altura do teto.
- Estes
deluvianos devem ser realmente grandes!
Repentinamente, uma voz desconhecida e grave
ecoa nos fundos do salão;
- Navan
Íris!
- Navan Gumenzid!
O Comandante Quasar fica imóvel e tenso
com a aproximação do deluviano, com aproximadamente cinco metros de altura.
- Ele está
lhe dando as boas vindas Quasar!
- Ah sim!
Obrigado! – Disse ele um pouco nervoso, fazendo uma saudação rápida e discreta
com as mãos.
O deluviano, que tem uma expressão séria e
nada amigável, continua falando em língua aumarante e aponta para um
compartimento onde se encontram pequenos colares luminosos.
- Quasar.
Ele pede que você ponha um destes colares no pescoço.
O Comandante Quasar sussurra no ouvido da
amiga.
- Eles são
sempre assim? Quer dizer, sérios?
- É o jeito
deles.
- O que são
estes colares?
- Quasar!
Faça o que ele pede!
- Está bem!
Desculpe!
O Comandante Quasar põem o colar.
- Então!
Está melhor assim? - Pergunta o deluviano.
- Está bem
melhor e...é um tradutor simultâneo?
A Comandante Ísis sorrir e olha para Gumenzid
que arqueia as longas sobrancelhas.
- Seja
bem-vindo, Comandante Quasar. Poderia me acompanhar?
O comandante olha desconfiado para a
Comandante Ísis e anda em passos lentos.
- Vamos
Quasar! Não se preocupe! Eles são seres valorosos, muito antigos e fiéis
colaboradores da Deusa Luna, a mãe criadora dos humanos.
- Conforta-me
muito saber disto Ísis.
Ao chegarem a outro ambiente, o Comandante
Quasar observa que as paredes são feitas de cristal e com um piso transparente.
Vários círculos e halos luminosos inseridos entre si, formando um tipo de
mandala. Culminando em seu centro, com uma esfera pulsante de cor vermelha e
brilhante, que mede em torno de um metro de diâmetro.
- Você já
esteve aqui Ísis?
- Sim
Quasar. Só conheço estes dois cômodos. Foi aqui que aprendi a língua aumarante,
neste primeiro círculo.
- Será que
eles querem que eu também aprenda?
- Acho que
por enquanto não. Sendo assim, por que lhe dariam o colar? Nem eu mesma o
recebi quando aqui cheguei pela primeira vez.
O gigante deluviano se aproxima e convida
o Comandante Quasar para acompanhá-lo para um pavimento superior que fica a
cinqüenta metros do círculo. Ele segue Gumenzid e ao chegar, encontra outros
deluvianos que olham concentrados para baixo, observando a Comandante Ísis se
posicionando no primeiro círculo, parecendo saber exatamente o que deve fazer.
- Você é muito
bem-vindo entre nós! – Disse outro deluviano que faz uma reverência discreta
com a cabeça para Quasar.
- Obrigado.
Não quero se incômodo, mas o que faço aqui?
- Agradeço
ter aceitado o nosso convite comandante. A partir de agora, estamos nos aliando
aos humanos.
Gumenzid se aproxima dos outros
deluvianos.
- Esperamos
que a partir de hoje, possamos nos unir em servir a causa dos justos e de todos
que comungam o ideal de paz e prosperidade no universo.
E todos respondem:
- Navan!
A luz do ambiente se apaga, os círculos e
halos acendem em cores distintas e se movimentam no sentido horário. A luz
vermelha da esfera pulsa intensamente, mas sem ofuscar a visão. A Comandante
Ísis inicia lentamente a caminhada, atravessando os halos em direção ao centro.
Capítulo 14
O DESPERTAR
DOS DEUSES
Após as transmissões do Conselho dos 12
serem interrompidas devido o rastreamento da tríade draconiana da Lua Negra, o
Conselheiro Netuno encontra a Comandante Ondina já recuperada das fortes
emoções. Ele reúne novamente a equipe, relatando a fase final do interrogatório
com os ex-prisioneiros divanianos na Acrópole de Palmeira dos Ventos.
- Meus
Amigos. Sugiro que todos descansem um pouco, à noite aumarante é curta e daqui
a algumas horas estará claro.
- É o que
vamos fazer no momento – Disse o Dr. Sargaço com os braços sobre os ombros da
Comandante Ondina, conduzindo-a para os aposentos.
O Dr. Asa, visivelmente cansado pergunta a
Dra. Iara.
- Iara,
você vem?
- Ainda
não. Estou um pouco ansiosa e acho que vou conseguir dormir agora. Descerei até
aqueles jardins e vou admirar um pouco mais este belo mundo.
- Quer que
eu lhe acompanhe?
- Não
precisa. Descanse, prometo não vou demorar.
A Capitã Iara segue para uma área de
jardins, andando com os braços cruzados para se aquecer um pouco do frio que
domina as noites aumarantes. Antes
de ir para os seus aposentos, o Conselheiro Netuno chama o Dr. Asa e lhe
entrega um colar, comunicando-lhe que dentro do pingente encontra-se guardado
as fagulhas de vida recolhidas na Lua.
- É um belo
colar.
- Não o
tire do pescoço Asa. E não libere as fagulhas antes do tempo.
- E quando
será este tempo conselheiro?
- Acredite.
Você saberá o momento. Descansemos um pouco, nós veremos em breve.
Ao se recolher, o Dr. Asa avista do alto
dos seus aposentos a Capitã Iara caminhando tranqüila em direção aos jardins.
Ao deitar, sente o seu corpo pesado e o cansaço se intensifica, fazendo-o
dormir rapidamente.
Devido ao efeito produzido pelo colar, o
Dr. Asa passa a ter sonhos com eventos por ele desconhecidos, associados a uma
voz feminina suave chamando-o pelo nome. O Dr. Asa acorda, bastante assustado,
procurando pela Capitã Iara que ainda não havia chegado aos aposentos. Sentado
em seu leito, o Dr. Asa ver dezenas de pequenas chamas azuis flamejantes
circulando pelo ambiente. Junta-se a estas chamas, outros seres transparentes
de pequena estatura, que mediante gestos o convida a se levantar e segui-los
até a varanda.
Na área aberta da varanda, o Dr. Asa
encontra no piso um círculo azul de dois metros de diâmetro, com um símbolo
aumarante desconhecido, iluminado e pulsante.
Ao entrar no círculo, o Dr. Asa é
imediatamente tele transportado.
A Capitã Iara observa o momento em que o
Dr. Asa entrava no círculo. Ela o chama, mas ele não escuta, segue as pressas
subindo a rampa que dar acesso aos aposentos, mas já é tarde, o Dr. Asa
desaparece junto com os seres que o acompanhavam. A Capitã Iara se atrasa alguns
segundos ao chegar à varanda onde o Dr. Asa se encontrava e percebe que o
círculo azul ainda estava ativo, sendo bem sucedida quando arrisca seguir por
ele.
Ao também ser tele transportada, a Capitã
Iara avista a certa distância, que o Dr. Asa ainda se encontrava na companhia
das chamas azuis e dos seres transparentes. Bastante discreta e curiosa, segue
por um caminho alternativo, subindo vários metros por uma galeria e corredores
rústicos feitos de pedras. No fim da galeria, um espaço vazio se apresenta e do
alto a Capitã Iara observa atenta à chegada do Dr. Asa e da sua estranha escolta
a um grande salão, cujo piso possui círculos intercalados por outras dezenas de
halos luminosos, semelhantes aos que existem na fortaleza deluviana do Planeta Éris,
onde se encontra a Comandante Ísis, na companhia do amigo Quasar.
No entorno do círculo maior, dezenas de
templários aumarantes vestidos de longas túnicas estão vigilantes e
posicionados à frente de colunas. O Dr. Asa, desprovido de vestimentas, está
prestes a dar os primeiros passos enquanto recebe orientações do Conselheiro
Netuno que se encontra presente. A Capitã Iara a tudo assiste.
O Dr. Asa inicia uma lenta caminhada em
direção ao centro do círculo, onde uma esfera azul e brilhante esta posicionada
a sua espera. Para cada halo atravessado pelo Dr. Asa, intensas cortinas de
luzes são projetadas do piso para o teto, revelando os segredos preservados na
sua memória. Ao chegar junto da esfera azul, abre o pingente do colar e libera
as miríades de fagulhas de vidas, que os envolve de tal forma, que uma luz
fortíssima se projeta em todo recinto, chegando a penetrar pelas aberturas do
teto e corredores livres. O céu aumarante se ilumina, enchendo de emoção os
seus habitantes. Neste instante, em todas as cidades do mundo aumarante,
ocorrem centenas de repiques de sinos, anunciando o tão esperado despertar dos
deuses.
A luz da esfera azul diminui
paulatinamente e aos poucos é possível ver a silhueta de dois corpos, onde
nitidamente identifica-se o Dr. Asa e de uma bela mulher, também totalmente
desnuda, de pele branca, olhos azuis e cabelos longos e ruivos. A Deusa Luna é
reanimada em sua forma humana. A missão do Dr. Asa foi finalmente cumprida ao
trazer as fagulhas de vida para a deusa, que se aproxima dele, envolve-o em
abraços e suaves trocas de carinhos e beijos.
Envolvidos por um tênue neblina, o casal
lentamente se deita e fazem amor. Sons harmônicos e aromas adocicados envolvem
o ambiente, os aumarantes presentes abaixam respeitosamente a cabeça diante do
ritual de acasalamento. A Capitã Iara que atônita, sofre silenciosa e
copiosamente em lágrimas, perturbada por sentimentos confusos que passam pelo
amor e o ódio.
A Deusa Luna segura carinhosamente a face
do Dr. Asa, cuja expressão facial encontra-se feliz e segura. E olhos nos
olhos, a deusa fala suavemente em linguagem aumarante:
- Navan! finalmente!
- Chegou o
momento. Precisamos retornar – Disse o Dr. Asa, que teve a sua consciência
divina despertada, pois ele é o próprio Deus Navan, na sua forma humana.
A Deusa Luna se levanta delicadamente,
- Os
draconianos chegaram antes do despertar precisamos impedi-los.
- Retornaremos
ao casulo o mais rápido possível! Os irmãos draconianos estão posicionados e a
Lilith já deve está chegando! Precisamos proteger as esferas – Disse o Deus
Navan.
- As nossas
criações? Como estão? – pergunta a Deusa Luna.
- Até o
presente encontram-se em segurança. Os aumarantes realizaram um trabalho
perfeito. Está sendo muito difícil para nós, mas vamos conseguir.
O Rei das Águas, que também se encontrava
no ritual do despertar dos deuses, retira-se do ambiente e posteriormente
convoca o povo aumarante a se reunir e recepcionar os deuses. Danann a esposa
de Netuno, auxilia a Deusa Luna em por as suas vestes e Nuada prepara com o
Deus Navan.
A Capitã Iara não mas se encontra no local
e ao sair atordoada, correndo da galeria, retorna por um caminho diferente e tropeça.
Ela corta a palma da mão nos cristais pontiagudos existentes nas paredes. Para
estancar o sangue, rasga um pedaço da
própria roupa e envolve a mão. Rapidamente caminha por vários metros até chegar
em um anexo da galeria. Ela encontra veste aumarantes usadas pelas colaboradoras
do Templo da Deusa e segue disfarçada para a cidade, misturando-se na multidão
aumarante.
O Conselheiro Netuno retorna pelo tele transportador
e segue para os aposentos do Dr. Sargaço e da Comandante Ondina, que acordam
confusos com tanta movimentação na cidade.
- Netuno! O
que está havendo? – pergunta o Dr. Sargaço.
- O ritual
do despertar da deusa se concretizou. O povo aumarante está feliz.
- Vou
chamar Asa e Iara.
Com bastante tranqüilidade o Conselheiro
Netuno explica a situação.
- O Dr. Asa
está com o meu filho Nuada, preparando-se para acenar ao povo aumarante. Quanto
a Capitã Iara, não temos informações de onde ela se encontra.
A Comandante Ondina passa pelo conselheiro
- Sumiu? Que
estranho, ela deveria está com Asa?
- O Dr. Asa
agora está finalmente de volta para a sua legítima identidade.
- Não estou
entendo? Como assim legítima identidade? Conselheiro, por favor, o que está
acontecendo?
- Meus
amigos. Certamente lhes devo muitas explicações, apesar de termos pouco tempo
para isso. Na verdade, no início desta noite, a Danu Luna iniciou o processo do
despertar do Dagda Navan e foi reanimada. O Dr. Asa estava de posse das
fagulhas de vida que estava em seu colar, fundamental para o cumprimento da sua
missão divina. O Rei das Águas convocou todos os conselheiros no Templo da
Deusa, cuja sua esfera já brilhava em intensidade, mediante a aproximação do
Dr. Asa. No templo, o ritual do despertar do Dagda Navan foi concluído e os
deuses finalmente se reencontraram para continuar uma missão que agora, só
pertence a eles.
Que Missão?
- Retornar
a sua origem. A morada dos deuses.
- Por que
Asa terá que acenar para o povo aumarante?
- Ele é o
nosso Dagda Navan!
- O que?
O Dr. Sargaço segura nos ombros da
comandante.
- Já que
temos uma cerimônia, é melhor seguirmos. Vamos conferir isto de perto.
- Façam
isso e não temam meus amigos – continua o Conselheiro Netuno – O Dr. Asa é o
Dagda Navan. Pai dos aumarinos. Está agora com a Danu Luna, a mãe dos
aumarantes e humanos. Devemos recepcioná-los com alegria.
- Então o
senhor sabia o tempo todo? – pergunta a Comandante Ondina.
- Sim
Ondina. Não só eu, mas todo o povo aumarante espera por esse momento. - Então, quando nos aproximamos para o
limite da plataforma, o povo aumarante não estava reverenciando apenas o seu
Rei das Águas e os convidados humanos e sim, o seu Deus Navan?
- Isto
também é verdade. O povo aumarante há milhões de anos cumpre a sua sagrada
missão de proteger a Danu Luna. E os humanos nunca perceberam que o Dagda Navan
estava entre eles.
- Mas por
que vocês fizeram desta forma? Arriscar a vida de Asa, quer dizer, de um deus
tão querido expondo-o na superfície?
- Por que
foram eles que assim decidiram. A própria Danu Luna entrou em profunda letargia
para que os seus pensamentos pelo Dagda Navan não interferissem na missão de
proteger as suas crias, ou seja, nós e esse belo planeta. O Dagda Navan
precisava viver entre os humanos, nascer e renascer o tempo que fosse preciso.
Estava sobre a proteção da família humana e aumarante por milhares de gerações.
- O Clã dos
Abas sabia quem Asa era na verdade?
- Sempre
souberam. Várias famílias e gerações dividiram esta responsabilidade. - Mas ele
não estava preso no Planeta Éris?
- Por
milhões de anos. Depois ele surgiu em nosso mundo, revelando o que deveríamos
fazer para protegê-lo e a Danu Luna. A sua esfera ficou no Planeta Éris,
causando assim pouca influência a Danu Luna que já havia se projetado para este
planeta, próximo de suas criações aumarantes e humanas. Assumiu uma forma
orgânica, entrando depois em dormência profunda. Com o passar dos séculos, a
energia de sua esfera a mantinha viva e a sua intensidade luminosa diminuída.
- Então a
sua prisão pelos draconianos foi uma farsa?
- Não foi
uma farsa. O Dagda Navan realmente ficou confinado no Planeta Éris, mas por
razões ainda desconhecidas por nós aumarantes, conseguiu se libertar e vir para
o Planeta Terra.
- Então
agora, Finalmente temos dois deuses poderosos unidos? – Quebra o silêncio o Dr.
Sargaço - Temos uma oportunidade para vencer os irmãos draconianos.
-
Certamente Sargaço. Seu refúgio foi entre os humanos, da qual também assumiu a
forma física. O Dr. Asa é esse Dagda que teve a sua memória entorpecida para
que nenhuma suspeita fosse percebido pelos seus perseguidores!
- E tudo
isso terminou quando Asa resolveu ser astro-biólogo e trabalhar e viver na Lua?
- Existia
uma cronologia oculta, determinada pelo Dagda, de quando e como deveria
acontecer esse despertar e de que forma segura ele reanimaria a Danu Luna.
Quando descobrimos a façanha do Dr. Asa, o povo aumarante ficou muito ansioso,
pois sabia que os deuses retornariam em breve. O Dagda Navan disseminou
conhecimentos preciosos ao nosso povo, o que permitiu um avanço moral e tecnológico.
- Incrível!
– Disse o Dr. Sargaço, sorrindo e orgulhoso – Sou amigo de um deus poderoso e
nem sabia.
- Então a
Deusa Lilith quer se apoderar da esfera da própria irmã? – Pergunta a
comandante?
O Conselheiro Netuno caminha enquanto
responde.
- Tudo leva
a crer que seja isto. Esse ser parece ter acreditado que possuía o Dagda Navan
em sua forma divina, com seu poder controlado, confinado-o no Planeta Éris. No
entanto, não sabia onde estava à Deusa Luna. Acreditamos que toda a ausência da
Danu Lilith neste sistema até o momento, seria o de procurar por ela. A Danu
Lilith é uma deusa muito poderosa e a sua natureza é desconhecida para nós.
Tudo o que sabemos, foi passado pelos deluvianos que estiveram sob seu julgo.
Os seus propósitos certamente devem está relacionados à dominação de algum
mundo ou de alguma coisa. O encontro da sonda Voyage II no sistema draconiano e
a vinda de Dracon para este sistema, foi um evento infeliz para os nossos
mundos. Certamente agora, eles sabem que estes deuses aqui se encontram e sabem
também que juntos são muito poderosos. A Danu Luna também tem seu poder, mas a
sua natureza é nobre e pura, jamais teria um comportamento hostil, mas aliada
ao Dagda Navan, reagirá na proteção da sua obra divina e assim esperamos.
- Netuno. Você
acredita que a Danu Lilith já esteja em nosso sistema? – pergunta o Dr.
Sargaço.
- Tenho
absoluta certeza que sim. Existe uma ligação entre eles.
- O que
faremos agora?
- Após a
aparição dos deuses para o povo aumarante, deveremos voltar para a Acrópole de
Palmeira dos Ventos. Precisamos explicar e comunicar ao Conselho dos Clãs e ao povo
humano o resto da história. Os deuses seguirão para a Lua. Existe algo
importante a ser feito para a nossa proteção.
- Então
devemos nos encontrar na plataforma de embarque?
- Dessa vez
não. Agora que a esfera da Danu Luna está disponível, poderemos fazer uso dos
seus benefícios.
A comandante olha fixamente para o
aumarante.
- Como
assim? Desculpe conselheiro, mas não gosto de mistérios.
- Tenham
paciência. Vocês saberão do que se trata. Agora me acompanhe até a plataforma
real, vamos juntos dar boas vindas aos deuses.
- Mas
quanto a Iara? Onde será que ela foi? Não podemos voltar sem ela.
- Ondina. A
Capitã Iara está no Reino das Águas e será encontrada.
Um soldado aumarante se aproxima do
conselheiro e o entrega um pedaço de tecido sujo de sangue. O conselheiro olha
para o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina que agora se exaltam pegando o tecido
da mão do soldado.
- Netuno! O
que é isso? É da roupa de Iara! Onde ela está conselheiro?
- Onde não
deveria. Deve ter se machucado. Esse tecido foi achado em uma das galerias que
fica na parte inferior do Templo da Deusa. Isso explica tudo.
- Explica o
que conselheiro? Por favor?
- A Capitã
Iara deve ter presenciado o despertar do Dagda Navan. Viu mais do que deveria.
- Então ela
fugiu? Não pode ser! Ela o ama e deve está sofrendo muito. Tudo isso foi de
mais para ela.
- Eu sinto
muito por isso. Acredito que deve ter seguido pelo transportador que o
mantivemos ativo.
-
Transportador?
- Sim
amiga. Será o mesmo condutor que utilizaremos para retornar a superfície. O
transportador é uma das muitas heranças tecnológicas que foi revelado pelo
Dagda Navan. Mas para nós, só pode ser realizado com a energia da esfera.
O Dr. Sargaço fica entusiasmado.
- Tele transporte?
Pode ser muito útil nestes tempos de crise.
- Sim amigo.
É o que temos de mais avançado neste mundo.
O Conselheiro Netuno ordena ao soldado
aumarante para que encontre a Capitã Iara e a convença a se juntar a eles. O
soldado parte para cumprir as ordens e todos seguem para o Palácio Real.
Diante de uma imensa multidão, o casal de
deuses se apresenta do alto da torre do palácio, ao lado do Rei das Águas e
todos se abaixam em respeitosa reverência. Um clima de alegria e festa ecoa por
todo o reinado. O Dagda Navan, trajando uma bela túnica vermelha, se aproxima
do Dr. Sargaço e da Comandante Ondina com um sorriso largo e sincero.
- Então
amigo. Como devo lhe chamar? Majestade ou meu Senhor Deus? – pergunta o Dr.
Sargaço, desconfiado e levando uma leve cotovelada de repreensão da Comandante
Ondina.
- Como
sempre me chamou Sá. Como sempre me chamou. Recuperei uma memória, mas não
perdi o que conquistei aqui. O Dr. Asa e os seus sentimentos pela família e
amigos são reais e imutáveis.
- Que bom
Asa. Você ainda está aí – O Dr. Sargaço abraça o amigo bastante comovido. O
Deus Navan com um gesto de mão, convinda a Comandante Ondina a participar e os
três amigos ficam abraçados por um bom tempo.
- Sou amigo
de vocês. Não sou o seu deus.
A Comandante Ondina olha para a Deusa
Luna.
- Ela sim.
É a deusa. A mãe da Terra, dos aumarantes e humanos.
A
Deusa Luna se aproxima irradiante e bela com um sonho.
- Minha
Deusa – Disse o Dr. Sargaço com respeitosa reverência – Obrigado pela nossa
existência!
A
Deusa Luna o segura pelas mãos e o faz levantar.
- Sargaço.
Nada há o que agradecer, todos nós possuímos uma fagulha divina. Com a evolução
e o tempo certo, todos serão despertados a esta condição. Ondina, venha aqui
minha querida. Dê-me um abraço.
A Comandante Ondina olha par os dois
amigos deuses.
- Não
lembro de ter me sentindo tão bem em minha vida.
A deusa toca no cabelo da comandante.
- Em breve,
tudo será revelado.
E
repetindo o mesmo gesto do Deus Navan, a Deusa Luna abraça os dois humanos.
Um belo espetáculo se faz presente neste
mundo. E no meio da multidão, a Capitã Iara olha desolada para o alto, vendo o
seu amado Asa e amigos, nos braços da Deusa Luna. Um soldado Aumarante se
aproxima com gentileza.
- Senhora
Capitã.
- Estou bem
aqui soldado.
- A senhora
está sendo aguardada para se juntar aos deuses e ao Rei das Águas. Estávamos a
sua procura, a senhora está ferida? Precisa de ajuda?
- Sim
aumarante. Muito ferida! Mas não posso ser curada desta dor.
- Queira me
acompanhar senhora, por favor.
A Capitã Iara segue o soldado aumarante
sem resistência por entre a população, quando subitamente, um estrondo
ensurdecedor surge no céu do Reino das Águas e um círculo negro recai sobre
ela, trazendo dezenas de Gruns. Os animais imobilizam os soldados e raptam a
Capitã Iara. Em questão de segundos, o círculo rapidamente se fecha e
desaparece. Um grande tumulto é formado entre o povo aumarante.
O Deus Navan olha para a Deusa Luna:
- Lilith! É
o sinal! Precisamos ir!
A Deusa Luna entrega a pequena esfera azul
para o Rei das Águas que o repassa para o Conselheiro Netuno. Ela segura a mão
do Deus Navan e ambos desaparecem numa intensa luz. Curiosamente eles também
levam o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina. O Rei das Águas ordena que todas as
defesas e ataques do mundo aumarante se preparem para a guerra, pois o esperado
e lendário dia chegou.
Em seu posto de comando, Dracórius está
olhando para cima como de costume, mas na verdade, está sempre recebendo informações
telepáticas. Os irmãos Detra e Draves entram no salão:
- Se comunicando
com a deusa! – Disse Detra com ironia e regenerado do ferimento provocado pelo
Rob Iron na fuga do Planeta Ceres.
- Apenas
cumprindo ordens.
- Você
causou um grande espanto no mundo dos aumarantes! Foi bem ousado! Gosto disso!
- Ordens! Já
disse!
- Quer
dizer que em breve teremos diversão?
Draves se aproxima.
- Dracórius!
A rainha sabe que falhamos?
O draconiano mais velho olha para os dois
irmãos.
- Ela se
mostrou indulgente. Mas agora suas ordens são claras: destruir a todos! E dessa
vez não aceitará falhas!
Os olhos dos irmãos draconianos brilham de
emoção com as novas e imediatamente, começam os preparativos para a destruição
de todo ser vivo do sistema solar, consciente ou não.
Enquanto isso no Planeta Éris, a
Comandante Ísis passa pelo mesmo processo acontecido pelo Dr. Asa no mundo
aumarante. Ela caminha ofegante por entre os halos e cortinas de luzes e ao se
aproximar da esfera que pertence ao Deus Navan, reassume a sua consciência de
Deusa Nanna. Os gigantes deluvianos observam atentos para a deusa despertada,
que olha para o alto e faz um gesto, colocando o punho fechado sobre a testa,
sinal típico dos deluvianos que significa “poder e amizade eterna”. Os gigantes
comemoram e o Comandante Quasar continua confuso e olhando rápido para os
lados, mas logo é recebido pela Deusa Nanna.
- Quer
dizer que você é uma deusa?
- Para
alguns. Mas para você continuo sendo a comandante e amiga Ísis de sempre. Se assim
você permitir.
- Claro!
Quer dizer sim! Óbvio! Mas o que vai acontecer agora?
- Quero que
vá com Gumenzid ao Cruzador Quimera. Explique o que está acontecendo e traga
todos os civis da Nave Rapanui para a proteção nas fortalezas deluvianas.
- Posso saber
o motivo?
- Os
draconianos estão se movendo, captaram a atividade estranha da esfera. Entraram
novamente em nosso sistema solar e vão atacar. Convoque alguns robs e soldados
para vir até aqui! Os inimigos vão querer levar a esfera Navan! Posicione defesas
na orbe do planeta!
- E quanto
aos deluvianos?
- Não se
preocupe com eles! Sabem bem como lidar com os draconianos! Já travaram outras
guerras! Vá logo Quasar! Faça o que eu digo! Confie em mim! E tome cuidado!
O Comandante Quasar segue para o círculo
transportador enquanto espera Gumenzid que recebe instruções da Deusa Nanna.
- Recebi
mensagens de Navan, ele está com a Luna e seguiram para a Lua. Proteja a esfera
Navan e os humanos. Eles vão perceber rapidamente a nossa presença e transpor o
escudo! Vou à Lua encontrar Navan e Luna!
Gumenzid balança a cabeça confirmando
entender as ordens
- A esfera
estará segura! Não a levarão! Mas aquele seu amigo é um pouco atrapalhado!
- Tenha
paciência com ele Gumenzid. É um bom soldado e bom amigo.
O marciano e o deluviano desaparecem pelo
transportador e ressurgem no Cruzador Quimera. Os soldados robs apontam armas e
ameaçam atirar. O Comandante Quasar os tranqüiliza, apresenta Gumenzid como
aliado e explica para a todos o acontecido. Ele envia as naves da expedição
para a segurança do Planeta Éris, mantendo apenas o Cruzador Quimera.
No interior da Lua, os Deuses Navan e Luna
chegam com os convidados humanos que ficam impressionados ao verem imensas
galerias com paredes transparentes, fracamente iluminadas de verde.
- Onde
estamos? – pergunta a Comandante Ondina.
- No
interior da Lua – responde o Deus Navan.
- Isso é Incrível!
E muito bonito!
Curioso como sempre o Dr. Sargaço observa
os detalhes.
- Asa. O
que estão por trás destas paredes?
- Água!
Bilhões de litros de pura água do antigo Planeta Sinos, vital para os
aumarinos.
- Água na
Lua, quem diria!
- Estamos
no centro do casulo. Os aumarinos estão aqui em letargia. Os seus corpos estão
preservados e aguardando o momento certo de serem reanimados.
- Há um mundo novo para eles
– completa a Deusa Luna - Quando segui para o Planeta Terra, não havia
completado ainda minha forma orgânica, mas precisa me proteger
e ao mesmo tempo manter viva os milhões de aumarinos que aqui estão. Não
poderia dividir o poder da esfera e abandoná-los. Foi quando a minha irmã Nanna
cedeu a sua esfera para que permanecesse na Lua, mantendo a vitalidade dos
aumarinos até o meu retorno. Depois segui para as profundezas dos oceanos,
ficando aos cuidados dos aumarantes, que naquela época também eram seres muito
frágeis. Depois, Navan havia sido libertado pelos deluvianos que fugiram da Terra
com a ajuda dos aumarantes. Foram atraídos por ele para o Planeta Éris, onde
encontrava aprisionado. Os deluvianos seguiram as orientações de Navan e
conseguiram anular as forças que o prendiam e passaram a utilizar estas mesmas
forças para a sua própria sobrevivência, defesa e disfarce.
O Deus Navan se aproxima da Deusa Luna.
- Eu sabia
que Luna estava escondida, pois a sua irmã Nanna havia me prometido que assim o
faria e que estaria sempre por perto. No Planeta Éris, me transportei para a
Terra, para perto dela no mundo aumarante. Optei a minha forma orgânica como
humana, a mesma que Luna havia escolhido. Para protegê-la, haveríamos de
esperar que os aumarantes e humanos evoluíssem. Tive que perder a minha
consciência e assumir identidades humanas durante muitas de gerações. O nosso
reencontro seria legitimado pelas fagulhas de vida que intuitivamente eu
descobriria no solo lunar e completaríamos os nossos destinos com segurança.
- E onde se
encontra a Deusa Nanna? – pergunta a Comandante Ondina.
- Está
vindo neste momento até nós.
Um deslocamento de ar se percebe no lugar e
um círculo verde surge, desta vez trazendo a Deusa Nanna. Como era de se
esperar, o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina ficaram surpresos em ver que a
irmã da Deusa Luna é a Comandante Ísis. Os deuses se abraçam felizes com o
reencontro.
- Ísis! Que
surpresa!
- Como vai
Sargaço. Também estou surpresa em vê-los aqui!
- Tivemos
que trazê-los. Não era seguro – Explica o Deus Navan.
-
Agradecemos pelo cuidado – responde o Dr. Sargaço.
- Ísis! –
disse a Comandante Ondina – A Capitã Iara foi raptada!
- Percebi
uma energia de transporte deslocando-se da Terra.
- Precisamos
salvá-la! – insiste a Comandante Ondina.
- Ondina!
Existem muitos escravos em Dracon que também precisam ser salvos. Podemos
utilizar o transportador, mas desconhecemos a posição exata onde estão
aprisionados. Precisamos de ajuda, de alguém que possa enviar um sinal de
localização, é muito arriscado.
As Deusas se entreolham.
- Luna. Preciso
que reanime o draconiano Forseti.
- Forseti?
– diz o Dr. Sargaço confuso – O irmão dos draconianos?
- Ele
encontra-se aqui na lua, em letargia.
O Dr. Sargaço comenta entusiasmado.
- Isto é
simplesmente inacreditável. Quantos segredos ainda serão revelados?
O Deus Navan põe a mão no ombro do Dr.
Sargaço.
- Muitos.
Meu amigo. Não se preocupe com isso agora.
A Deusa Luna aproxima-se do centro do piso
e com uma imposição das mãos faz erguer o disco que se desloca para cima,
levando-os para outros níveis no centro da Lua. O Dr. Sargaço olha para o Deus
Navan sorrindo e este pergunta:
- Se
divertindo?
- Estava
pensando. Agora pelas minhas contas, sou amigo de três deuses.
- E os
deuses têm sorte de ter você como amigo – retribui o Deus Navan.
Após
alguns minutos o disco para e todos observam as milhares de casulos de
cristais, interligados por hastes luminosas por dezenas de quilômetros no
entorno de uma grande esfera verde-turquesa luminosa, flutuando e girando em
seu próprio eixo.
A Comandante Ondina não contém a sua
admiração.
- Asa! São
os aumarinos que estão no interior de cada esfera?
- Os poucos
que foram possíveis salvar. Estão aqui há muito tempo. Mas adiante, temos preservados uma parte da biodiversidade
deste antigo mundo.
- Onde se
encontra Forseti? – pergunta o Dr.Sargaço.
- É
impossível saber do ponto em que estamos observando. Luna é que conhece a sua
posição.
A Deusa Luna, estica o braço direito e um
feixe de luz parte em direção as esferas que começam a girar em carrossel. Em
seguida, uma esfera começa a se destacar e brilhar deslocando-se da haste
luminosa. Ao deslocar-se, flutua em sua direção. Em seu interior, está o corpo
de Forseti, intacto e adormecido.
A Deusa Luna se aproxima da esfera
cristalina. Ela o faz abrir e milhares de fagulhas de vida surgem
inesperadamente de todos os cantos, condensando-se acima de Forseti e
penetrando em seu corpo. Após alguns minutos, a esfera começa a se desmanchar e
os seus fragmentos são atraídos para a grande esfera verde. A Deusa Nanna
aproxima-se:
- Forseti!
Forseti!
O draconiano abre os olhos, é ajudado pelo
Deus Navan e o Dr. Sargaço a levantar-se e fala em sua língua nativa.
- Minha
Deusa! Despertou-me? Quem são os outros?
- Já se
passara muito tempo Forseti! Precisamos da sua ajuda!
A Deusa Nanna põe a mão em sua testa,
revelando em sua mente os eventos mais importantes que ocorreu desde a sua
letargia.
- Forseti!
Vou enviá-lo para o Planeta Dracon. Encontre os seus irmãos e tente persuadi-los
a desistir de atacar.
- Farei o
que pede minha Deusa. Sou grato por salvar a minha vida. Mas meus irmãos estão
corrompidos pelo poder e suas faces desfiguradas pelo ódio. Eles não vão
aceitar meus argumentos.
- Apenas
não provoque a ira de Dracórius e não será morto, apenas aprisionado. Estará
por enquanto sozinho, e ao ser conduzido para junto dos outros prisioneiros,
deve nos enviar um sinal mental de localização. Ainda podemos resgatá-los antes
de destruir esse Planeta Dracon.
Forseti reverencia a sua deusa.
- Esse
planeta errante precisa ser destruído, mesmo que sacrificando as nossas vidas.
- Mas ainda
não precisa ser assim. Quero que também confirme se existe uma humana que
atende por Iara, ela foi raptada recentemente.
- Farei o
que pede minha deusa.
Forseti se afasta um pouco do grupo e se
posiciona. Reverencia os humanos e os outros deuses. A Deusa Nanna projeta um
escudo a sua frente onde se ver o Planeta Dracon. Forseti transpassa o escudo e
desaparece.
É tarde da noite na Acrópole de Palmeira
dos Ventos, o Mestre Clístenes encontra-se no alto da torre principal na
companhia de soldados e auxiliares robs, do Príncipe Dizart e do seu tutor
Aminas. Ele observa a partida de algumas naves, em especial a que conduz o
Mestre Tálio e a sua família para visitar o povo ceriano espalhados em diversas
cidades no Planeta Terra.
Encostado no pára-peito de uma sacada, o
Mestre Clístenes não tira os olhares para o céu, acompanhando milhares de
pequenas luzes de naves humanas e aumarantes patrulhando a órbita da Terra.
Encontra-se meditando e recuperando forças para agir com sabedoria, na defesa
da raça humana. O mestre cerra os olhos e por alguns instantes sente uma brisa
fria e reconfortante que lhe permite alguns segundos de paz. A brisa passa a
ser um vento forte com deslocamento de ar, rompendo o silêncio. O Mestre
Clístenes se assusta ao ver um círculo azul acendendo no chão e os soldados
robs correm e o cerca, protegendo-o. Em alguns segundos, uma luz se manifesta
em um flash, fazendo surgir o Conselheiro Netuno e o seu filho Nuada, ambos
usando vestimentas semelhantes aos antigos guerreiros samurais e portando uma
longa espada presa às costas.
- Navan Mestre Clístenes!
- Navan
Conselheiro.
- Espero
que a minha chegada repentina não o tenha perturbado em demasia.
- Para ser
sincero conselheiro. Esperava que o amigo chegasse em uma nave aumarante.
- Até
poderia, mestre. Mas o momento exige que usemos outros recursos de transportes
mais rápidos. Precisamos da sua atenção para relatar os fatos recentes
acontecidos no mundo aumarante.
- Vamos
para o salão e reuniremos os clãs da Terra que aqui chegaram e estão
disponíveis, caso o amigo não se oponha.
- De forma
nenhuma, mestre. Até prefiro. Pois assim todos saberão ao mesmo tempo.
- Estamos
evitando conferências à distância, os draconianos já codificaram os nossos
idiomas.
O Mestre Clístenes e o Conselheiro Netuno
seguem para o salão nobre e após se acomodarem, iniciam a reunião. O aumarante
Nuada segue com um oficial rob terráqueo para uma área aberta, próxima a cidade
e aos seus habitantes. No salão, o Conselheiro Netuno revela tudo o que se
passou no Reino das Águas.
- Então
estão vindos para a Terra – Disse um representante de Marte.
-
Infelizmente. É só uma questão de tempo, pois não conhecemos todas as táticas
que serão usadas por Dracórius e seus irmãos. Agora que conhecem como nos defendemos.
O Planeta Dracon já se desloca em nosso sistema solar e não sabemos precisar
quando atacarão. Os guerreiros aumarantes já estão prontos em vários pontos do
planeta. O meu filho Nuada está nesta cidade na companhia de seus soldados,
aguardando a chegada de outros aumarantes para proteger os humanos.
- Os deuses,
finalmente estão juntos. Temos uma maior garantia de proteção, conselheiro? –
pergunta o Mestre Clístenes.
- Sim
mestre. A esfera azul da Danu Luna está conosco e dela poderemos extrair o
poder que nos cabe usar. Mas como disse antes, temos recursos ainda desconhecidos
pelos humanos e lhes garanto que os utilizaremos se for necessário.
No Planeta Éris, o Comandante Quasar e
Gumenzid ensaiam uma conversa:
- Então
gigante. É bom que você esteja colaborando conosco, mas é importante que saiba
que eu estou no comando aqui, entendeu?
O deluviano olha pra baixo, encara o
comandante e o ignora.
- Diga-me!
Vocês são sempre assim mal humorados?
O gigante olha mais uma vez para o
falante e nervoso marciano, pega arma que está em suas mãos.
- Espera
aí! Devolva minha arma!
Gumenzid se abaixa e entrega uma arma
deluviana para o comandante.
- Olha só
grandalhão! Eu reconheço seu esforço em querer me agradar mais eu não sei como
essa coisa funciona! Prefiro a minha velha arma!
Gumenzid faz um sinal para que o
Comandante Quasar faça silêncio. Uma forte ventania surge, seguida de um
barulho ensurdecedor que faz o Comandante Quasar por as mãos nos ouvidos.
- O que é
isso!
-
Proteja-se humano! Os draconianos entraram! Diz Gumenzid que pula para o piso inferior
a vários metros de altura.
Outros deluvianos também saltam e se
posicionam para proteger a entrada onde se encontra a esfera vermelha e os
humanos. Na órbita do Planeta Éris, soldados e robs marcianos travam com
guerreiros de Dracon um feroz combate, com explosões de naves e mortes de ambos
os lados.
O Comandante Quasar sai correndo debaixo
do fogo cruzado de raios de plasma para se esconder atrás de uma coluna
usando-a como escudo, começa a atirar a esmo sem conhecer ao certo os efeitos de
sua ação.
As luzes se apagam e dezenas de olhos
vermelhos piscam como vaga-lumes ao redor dos deluvianos, um som gutural
horrível de feras voadoras invade o teto.
No Planeta Marte, aparentemente tranqüilo,
a população já se encontra refugiada no subsolo. No entanto, explosões e
combates repentinos acontecem nas plataformas das luas marcianas de Fobos e
Deimos. Um círculo negro se desloca para dentro do Complexo de Summerland em
solo marciano, surpreendendo soldados que esperavam o confronto em campo
aberto. Do transportador, o draconiano Detra ordena seus guerreiros para atacar
e destruir tudo. Esferas draconianas descem ao solo explodindo parte do
complexo que reage com eficiência. Centenas de destroços de naves e esferas
inimigas queimam na órbita do planeta. O General Ares corre para encontrar o
Mestre Menés que está no salão de transmissão aguardando contato com conselho.
Da central de comunicações no Planeta
Terra, o Mestre Clístenes é avisado que houve perda de sinal com os planetas Marte
e Éris. As últimas informações confirmam combates violentos.
O Príncipe Dizart se afasta do salão
apressado e o tutor Aminas o acompanha.
- Meu
príncipe! Para onde está indo?
- Vou a
central de comunicação! Vou tentar conseguir aliados do nosso povo!
- Mas como?
Eles estão em combate! Não sabem que estamos vivos!
- Não posso
permitir que morram do lado errado desta guerra. Não são inimigos dos humanos e
aumarantes. Provarei que estou vivo e os trarei para o nosso lado!
- Mas como
pretende fazer?
- Vou
pensar em algo! Volte Aminas! E fique na companhia do Conselheiro Netuno e do
Mestre Clístenes! Eu estarei seguro na central!
- Meu
príncipe! Não devo lhe abandonar é a minha obrigação lhe acompanhar sempre!
- Aminas!
Agradeço pela sua dedicação, mas preciso fazer isso sozinho! Avise ao Mestre
Clístenes as minhas intenções!
- Sim
príncipe! Farei o que pede! Tenha cuidado!
- Terei!
Agora vá! Rápido!
Ao chegar à central de comunicações, o
príncipe explica ao técnico rob as suas estratégias e pede que ele encontre uma
freqüência para se comunicar com as esferas draconianas.
Nos céus do Planeta Terra, acontece vários
estrondos de raios e trovões. As nuvens se acumulam em cores diversas e muitas
explosões são ouvidas. Outros círculos negros de transporte penetram na órbita
do Planeta Terra, trazendo milhares de guerreiros draconianos e de outras
espécies desconhecidas que invadem várias cidades, inclusive Palmeira dos
Ventos.
O draconiano Draves surgiu no salão onde
se encontram o Mestre Clístenes e o Conselheiro Netuno. Draves aponta em direção
deles e dezenas de gruns obedecem e partem voando para atacá-los e alguns são
atingidos por disparos dos soldados robs, enquanto outros vencem o cerco. O
Conselheiro Netuno salta à frente do Mestre Clístenes e aponta as mãos para os
gruns que são queimados por uma forte onda de calor. Draves observa tudo com
frieza e tranquilidade, usando a sua longa vestimenta escura. Ele se aproxima,
andando descontraidamente, com altivez e um sorriso sarcástico. Olha para o
teto e admira a arquitetura do prédio.
- É uma
bela decoração que vocês têm por aqui. Que pena que vou destruí-los. Como vai
aumarante? Foi um truque muito interessante esse seu. Queimou os meus gruns.
Mas não se preocupe. Tem mais lá fora comendo os seus amigos humanos. Está
ouvido os gritos?
- Draves! –
fala o Mestre Clístenes atordoado e reconhecendo a voz do draconiano.
- Não me
lembro de sido apresentado? Quem é esse que você protege?
- Não se
aproxime! – ameaça o Conselheiro Netuno.
Draves muda rapidamente a fisionomia de
sorriso para o de raiva e lança uma chama de plasma.
O Conselheiro Netuno com o braço estirado
e usando o dedo indicador cria uma barreira que bloqueia o ataque. Draves
gesticula com a cabeça achando a defesa do Conselheiro Netuno razoável. Outros
soldados robs entram no salão distraindo Draves e são facilmente destruídos por
ele.
- Gosta de
complicar as coisas, aumarante? Quer brincar de deus?
O Conselheiro Netuno se aproveita dos
poucos segundos de distração de Draves e ativa rapidamente o transportador,
pedindo para que o Mestre Clístenes entre rapidamente nele.
- Não posso
deixá-lo aqui sozinho conselheiro!
- Por
favor, mestre! Entre logo! Não posso enfrentá-lo com o senhor por perto! Vá
rápido!
- Para onde
isso vai?
- Para o
meu mundo! Encontre o nosso rei e conduza isto com cuidado!
O Mestre Clístenes atende ao pedido do
Conselheiro Netuno e desaparece no círculo, levando a esfera azul.
- Ah! Você
quer uma guerrinha particular? Então! Vamos à diversão! – disse Draves
realizando disparos próximos ao Conselheiro Netuno e perguntando onde estava o
outro humano, se referindo ao Mestre Clístenes.
Nas órbitas dos Planetas Éris, Marte e
Terra, inexplicavelmente centenas de esferas draconianas pilotadas por escravos
divanianos se volta contra as outras esferas pilotadas por guerreiros de Dracon. O Comandante Arcturus é avisado pela central
de comunicações de que o Príncipe Dizart foi bem sucedido na transmissão para
os divanianos, que agora são aliados e pede para que retransmita as mensagens
para os demais oficiais e caças.
- Mas como
vamos saber quem são os divanianos? – pergunta o General Nergal.
- Eles
acenderam um sinalizador nas esferas para serem reconhecidos! – explica o rob
da central de comunicações.
O Cruzador Areia do Deserto que está sob o
comando de Arcturus, é intensamente atacado por raios de plasma vindo de uma
esfera matriz draconiana que se encontra distante da área de combate.
- Arcturus!-
grita o General Nergal – afaste-se deste ponto!
- Não posso
Nergal! Perdemos muita energia e os escudos perderam força! Estou se propulsão
para manobras evasivas! Não agüentaremos por muito tempo!
- Vou dar
cobertura! – avisa o General – Que ordena disparos contínuos e intensos na
esfera matriz.
- Senhor! –
alerta um oficial rob – Nossos disparos não atingem a esfera! Está muito
distante!
- Arcturus!
Abandone o cruzador imediatamente! – grita o General Nergal – Vamos
resgatá-los!
- Não faça
isso Nergal! Não haverá tempo!
O General Nergal rapidamente parte em
socorro do Cruzador Areia do Deserto e ao se aproximar assiste o mesmo explodir
devido a mais uma investida de raios de outra esfera matriz.
- Arcturus!
– Grita o General Nergal, sem acreditar que não pode salvar o amigo.
O deslocamento de fragmentos do impacto da
explosão atinge o cruzador do General Nergal com violência. Partes importantes
da nave são comprometidas e também se tornar alvo fácil. Os caças rob entram em
formação à frente do cruzador improvisando escudos de força. As esferas matrizes
giram novamente em seu próprio eixo produzindo mais energia para lançar sob a
sua próxima vítima.
Um oficial rob alerta:
- Senhor!
Estão carregando para disparo! Não vamos resistir!
O general ordena evacuação imediata da
nave.
Na Lua, surgem esferas que atacam a
Estação Lunar Meteora, que está sendo defendida por robs que disparam canhões
de plasmas que surtem pouco efeito. As defesas até então ocultas da Lua
intervêm, e do solo, partem aos milhares, misteriosas chamas azuis que perseguem
e envolve as esferas draconianas e as fazem explodir, com exceção das pilotadas
por divanianos que descem na estação para presta ajuda aos robs.
Outras esferas matrizes draconianas giram
e se preparam para lançar uma perigosa ofensiva na Lua. A Deusa Luna se antecipa e lança ao espaço
uma esfera azul que explode, destruindo exclusivamente todas as matrizes ao
mesmo tempo, inclusive as que estão próximas do Planeta Terra.
O confronto na órbita de Éris chega ao
fim, soldados marcianos gritam comemorando a vitória e descem ao planeta para
auxiliar na fortaleza em solo. Deluvianos e guerreiros da Dracon ainda se
enfrentam no templo, onde se encontra a esfera vermelha.
No Planeta Éris, o Comandante Quasar não
enxerga bem devido os impactos das chamas de plasma que explodem nas paredes.
Subitamente ele é erguido do solo por um grun, mas logo sente um forte impacto
de uma largada de mão sobre o animal, dado por Gumenzid. O comandante cai no
chão e se machuca, escuta uma explosão e ver Gumenzid cair desorientado no piso
abaixo com uma parte da coluna que sustenta o teto do templo sobre ele. Um
guerreiro draconiano ousa subir sobre o peito de Gumerzind e aponta a arma sob
a sua cabeça e, quando vai atirar, é morto com o impacto de um raio de plasma
atirado na parte de cima pelo Comandante Quasar.
- Muito
bom! Bom mesmo! Posso ficar com essa arma para mim? – diz o comandante – Que
põem a mão cobrindo os olhos na tentativa de melhor enxergar o deluviano lá
embaixo.
- Olá
gigante! Tudo bem por aí?
Gumenzid olhando para Quasar balança a
cabeça afirmativamente e com o punho fechado, encosta na testa por alguns
segundos, saudando o comandante.
- Essa
passou perto! – O Comandante Quasar devolve a saudação usando a continência
tradicional dos militares humanos.
Em Marte, o General Ares chega atrasado à
sala de transmissão e encontra o Mestre Menés ferido e agonizando. Foi
brutalmente atacado por um gárgula.
- Mestre! –
grita o General Ares – Mestre!
- Ares!
O general se ajoelha e levanta a cabeça do
mestre.
- Ares, meu
amigo!
- Mestre,
agüente firme, vou ajudá-lo!
O mestre começa a tossir e sangue jorra de
sua boca. Ele olha para o general e encontra forças para sorrir com leveza. Com
último esforço, retira o colar do pescoço, símbolo do líder marciano e entrega
para o amigo.
- Mestre!
- Ares! Não
é mais possível! Escute com atenção! Quando tudo isso terminar, quero que
conduza nosso povo! Prometa!
- Mestre! O
senhor vai ficar bem!
- Prometa!
O general aceita o fato de que não pode
ajudar o seu mestre.
- Sim! Eu
prometo! – responde em voz baixa.
O Mestre Menés segura com força a mão do
general e contorcendo-se de dor suspira nos braços do amigo. O general olha
para o colar e o põem no pescoço, deita carinhosamente o mestre no chão,
fechado os seus olhos com a palma da mão. Levanta-se de imediato com a arma em
punho e segue para ajudar no combate, matando gárgulas com destreza e fúria.
Próximo de onde se encontrava, o General
Ares avista Detra se encaminhando para o círculo. Os guerreiros draconianos não
resistiram a primeira defesa marciana começam a se retirar. Detra, satisfeito
com a sua investida em Marte, olha para o General Ares e faz um sinal de desdém
enquanto entra no transportador. O general puxa rapidamente da cintura um tipo
de granada e lança sobre Detra, que desaparece no círculo negro, tentando se
livrar do artefato explosivo colado em suas vestimentas.
Em Dracon, Forseti é aprisionado e levado
à presença de Dracórius.
- Forseti?
- Dracórius
– disse Forseti com tristeza, não reconhecendo o rosto do irmão.
- Você está
vivo? Quem lhe enviou?
- Sim meu
irmão, estou vivo! A Deusa Nanna me enviou! Vim tentar impedi-lo de destruir os
humanos!
- Não seja
idiota! A Deusa Nanna não reina aqui! E você sempre esteve do lado errado
Forseti! Poderia ter se juntado a nós!
- E
escravizar o nosso povo? Jamais!
- Não
escravizei! Faço isso por eles! Sua viagem foi perdida, Forseti!
- Você
perdeu a razão! Está dominado! Desista Dracórius! Os deuses estão unidos!
Dracórius parte para agredir Forseti. Ele
segura o irmão com uma mão e o levanta no ar, quando de súbito, sente espasmos
no abdômen e a sua força diminuindo.
- Detra,
seu imbecil! – grita Dracórius.
O círculo negro vindo de Marte retorna
para Dracon, um vácuo explode no recinto. Forseti e Dracórius são lançados a
vários metros, devido o forte impacto.
Ainda sentindo fortes dores e vendo Detra morto,
Dracórius se esquece da presença frágil de Forseti e sai atordoado para outro
local. Os servos de Dracórius presenciam a cena à distância e se rebelam com a
guarda pessoal do líder draconiano. Outros guardas chegam e ao se aproximarem
são mortos pelos servos já de armas em punhos.
- Podemos
ajudar? - fala um servo tentado reanimar Forseti.
Forseti desperta, reconhecendo o dialeto.
-
Divanianos! Vocês são Divanianos?
- Somos
divanianos!
Forseti compreende que agora possui fieis
aliados e pede para que o conduza até os prisioneiros. Eles seguem por entre
corredores escuros com segurança, pois os servos de Dracórius possuem livre
trânsito em Dracon, conhecem os atalhos secretos. Ao chegarem à beira de um
precipício, Forseti olha para baixo e ver centenas de escravos e prisioneiros
de todas as idades, vivendo num ambiente escuro e insalubre. Os servos de
Dracórius ajudam Forseti por estreitos corredores, a chegar onde se encontram
os demais escravos.
- Não tem
guardas? – pergunta Forseti.
- Não!
Todos estão em combates! – explica um dos servos mais velhos.
Forseti emite um sinal mental para a Deusa
Nanna indicando a sua posição. Em seguida, pergunta aos escravos se conhece uma
humana que foi raptada e que se chama Iara.
- Não! Não
vimos ninguém daquele planeta.
- Existem
outros locais de onde levam prisioneiros? – pergunta Forseti.
- Existe a
caverna dos gruns! – responde outro escravo com desolação.
- Onde
fica?
- Próximo
ao salão da rainha. Pode seguir por esse túnel.
- Vamos
irmãos! Não temos muito tempo! Precisam sair daqui!
Agradecidos, os servos abraçam Forseti e
juntam-se aos outros escravos.
Um novo estrondo e um círculo verde surgem
no piso entre Forseti e os escravos que se encontram assustados. Forseti
concentra os prisioneiros ao redor do círculo e todos são transportados para o
Planeta Éris e amparados pelos diluvianos e marcianos. Solitário, Forseti segue
para a caverna dos gruns, disfarçado de escravo e determinado em encontrar a
Capitã Iara.
Enquanto isto na Terra, na Cidade de
Palmeira dos Ventos, os gárgulas atacam a população com selvageria. Grupos de crianças perdidas dos pais e
fugindo de alguns abrigos subterrâneos, são encurraladas por estas criaturas
bizarras que ao tentar atacarem, são surpreendidos por uma matilha de cães de
guarda criados pela população, que os atacam destroçando-os e salvando as
indefesas vítimas. Em outro ponto da cidade, dezenas de gruns avançam na
direção de Nuada, que os mata com a sua espada, demonstrando rara habilidade.
Quando os restantes das feras se aproximam
do jovem, são impelidos para trás devido o vácuo de um novo estrondo, trazendo
centenas de guerreiros aumarantes que chegam por um transportador para reforçar
a luta.
Nuada ordena para que os guerreiros
protejam os humanos e matem todos os gruns. Ele segue para o salão do conselho
em busca do pai. A luta dos outros guerreiros, espalhados em diversas cidades
do planeta começa a enfraquecer em combate, mas são salvos quando uma extraordinária
quantidade de gruns brancos, modificados geneticamente pelos aumarantes, surgem
dos céus e entram em confronto com os gárgulas negros enviados de Dracon.
Em todo o Planeta Terra, um curioso
fenômeno se manifesta, animais como aves, morcegos e insetos, induzidos pelo
poder da Danu Luna, atacam os primeiros guerreiros draconianos que tocam o
solo, vindo com suas naves esferas. Dos
oceanos, milhares de esferas aumarantes partem para socorrer as cidades,
aliando-se as forças de defesas de todos os clãs, que recebem ajuda dos
cerianos comandados por Ébano.
A Cidade de Palmeira dos Ventos
encontra-se sobre forte pressão, sendo destruída por novas investidas e
reforços dos guerreiros draconianos que saem dos círculos negros. O caos se
estabelece, entre feridos, mortos, lamúrias, gritos, fumaças e estrondos. No
entanto, um desses estrondos é bem-vindo, trazendo a pedido do Comandante
Quasar, um reforço de deluvianos enfurecidos, transportados do Planeta Éris. Os
gigantes correm diretamente para os inimigos, fazendo o chão tremer.
Para afastar os gárgulas, alguns
deluvianos usam um instrumento de sopro, parecido com uma flauta sem furos,
conhecido por antigos habitantes da Terra como didgeridoo. Os estranhos sons produzidos são insuportáveis
para os gruns, que fogem enlouquecidos, sendo perseguidos pelos gruns brancos.
O Conselheiro Netuno está sucumbindo
diante do poder nefasto de Draves, que agora se aproxima determinado para
matá-lo.
- Chegou o
seu grande momento aumarante! Será um prazer destruir criatura tão desprezível!
Draves usa a energia do seu anel para
fazer flutuar uma grande pedra a ser jogada sob o Conselheiro Netuno.
Subitamente a pedra cai, Draves não consegue continuar o seu intento por causa
de fortes dores que o faz por as mãos no abdômen. Os poderes do draconiano
foram também reduzidos devido à morte de Detra. O Tutor Aminas entra no salão e
se aproveita da aparente fraqueza de Draves e pula com coragem sobre ele,
sufocando o seu pescoço. Draves reage à investida e encostando a mão no peito
de Aminas, lança-o em chamas há vários metros de altura, ceifando a vida do
abnegado tutor.
-
Detraaaaaa! – Grita Draves com olhos repletos de horror e medo, sentindo a
morte do irmão. Mesmo fragilizado, a sua ira lhe dar forças para aproximar-se
do Conselheiro Netuno. Draves sente algo pontiagudo tocando-lhe as costas e só
tem um milésimos de segundos para ver a face do seu algoz, que lhe decepa a
cabeça.
- Pai!
- Nuada,
meu filho!
- O senhor
está bem? Tinha muitos gruns lá fora! Achei que tinha partido com o mestre.
O
Conselheiro Netuno se levanta com esforço e abraça o filho.
- Estou bem
filho, obrigado! O mestre seguiu para o reino, eu tive que ficar e tentar
detê-lo.
- Não houve
outra forma de detê-lo, sinto muito.
- Sabemos
disto, meu filho.
Nuada olha para o corpo queimado do tutor
e o conselheiro diz que ele tentou salvá-lo.
O Conselheiro Netuno se apóia no filho e
segue para a sala de transmissão. Ao chegarem, encontra o príncipe e relata a
morte do Tutor Aminas. Desolado, o jovem divaniano deixa escorregar pelos dedos
uma arma que cai ao chão, cruza as mãos sobre o tórax e assim permanece, homenageando
a memória do velho amigo.
Mais adiante, uma voz solicita retorno de
contato que não pode ser respondida, devido ao técnico rob que está destruído e
queimando no chão, ao seu lado, um guerreiro draconiano morto pelo príncipe. O
Conselheiro Netuno abre um canal de comunicação.
- Aqui é o
Conselheiro Netuno!
-
Conselheiro, que bom ouvir a sua voz! É o General Nergal!
- General!
Informe a situação!
-
Conselheiro! O Comandante Arcturus está morto! Meu cruzador foi destruído!
Estou numa cápsula de fuga prestes a ser queimada na atmosfera! Não consigo
pedir ajuda aos aumarantes que estão nas esferas!
- General!
As esferas são pilotadas a distância do nosso mundo! Não temos como fazer uma
operação de resgate com elas nestas circunstâncias!
- O que?
Não tem ninguém pilotando?
- Não
general!
-
Conselheiro! Os soldados desceram para o solo! A guerra agora é aí embaixo,
estou só!
- Os
inimigos estão sendo destruídos, general! Recuperamos o controle das cidades! –
Disse Nuada.
- Essa pelo
menos, é uma boa notícia – responde o general aliviado.
O filho de Netuno localiza no painel a
posição do General Nergal e mostra ao pai.
- General!
O senhor tem alguma propulsão?
- Tenho o
suficiente para acelerar a minha destruição na atmosfera! A gravidade me pegou!
O
General Nergal baixa a cabeça, passa a mão na testa e diz em voz baixa:
- Minha
querida Ísis! Que triste fim é o meu! Não tive uma oportunidade de dizer quanto
a amo.
Nuada indica ao conselheiro, que um halo
de posição se formou à frente da cápsula onde o general se encontra.
- General!
– orienta o Conselheiro Netuno – Consegue ver um círculo luminoso há poucos
metros de sua cápsula? Quero que acelere e atravesse ele! É um transportador!
-
Conselheiro! Se acelerar mais estará acabado para mim! Vou ser desintegrado!
- Confie em
mim marciano!
- Esse
transportador? Para onde me levará? Não posso aterrissar!
- Não será
necessário! Apenas o senhor será transportado! – Segundos de silêncio.
- General
Nergal! – chama o conselheiro.
Nuada e o pai olham para o painel e este
confirma que a cápsula incendiou-se na atmosfera da Terra.
- Sinto
muito pai. Ele não conseguiu.
- É
lamentável. Ele era um grande guerreiro.
Mal deu tempo do pai e filho recuperarem o
fôlego e um novo sinal de transmissão chega do espaço. Uma voz eletrônica se
pronuncia:
- Rob 1967.
Projeto Halley, chamando.
- Rob 1967.
Prossiga! – responde Nuada.
- Nuada? O
que houve com o outro rob?
- Morreu em
combate.
O rob faz silêncio de rádio por alguns
segundos.
- Estávamos
nos deslocando da cauda do Cometa Halley, quando detectamos uma ameaça. O
Cometa C/1999H1
foi misteriosamente desviado e está em rota de colisão com o Planeta Terra!
Aguardamos instruções!
- Quanto
tempo ainda temos?
- O cometa
atingirá a Terra em menos de uma hora! A sua velocidade foi incrivelmente
potencializada – Disse o Rob 1967.
- O que? Pai! Do que ele está falando?
- Dracórius está agindo!
- Pai. Que cometa e este?
- O C/1999H1 é um tipo de cometa não periódico, a sua trajetória nunca
foi precisa, mas nunca ameaçou o Planeta Terra. Dracórius alterou a sua rota,
ele quer decidir esta guerra sozinho!
- Não podemos fazer nada?
- Nós não, mas os deuses podem. Eles devem está sabendo. Pressentem a ameaça
iminente as suas criações. Vamos para casa, agora é com eles.
Do mundo aumarante, o poder da
esfera é acionado. O Conselheiro Netuno e o filho retornam para o
Reino das Águas.
No Planeta Éris, o Comandante
Quasar acompanha os primeiros cuidados médicos com os escravos transportados de
Dracon e os deluvianos os conduzem para uma ala de recuperação e repouso.
Na interior da Lua, a Deusa Nanna se
abaixa e docemente acorda um humano que se encontra deitado e abrindo os olhos
confusos.
- Ísis? Onde
estou?
- Calma!
Está no interior da Lua. Consegue se levantar?
- Como vim
parar aqui?
- Escutei o
chamado do seu coração. Não poderia permitir que morresse e também deixar de
dizer que o amo Nergal. Sempre o amei.
O General Nergal se levanta e a beija. Perto dali, o Dr. Sargaço comenta
com a Comandante Ondina:
- Olha só,
minha sereia! Será que este tipo de intimidade é permitido entre humanos e
deuses? – sorrir
- O amor
não tem limites, Sargaço.
O Dr. Sargaço se aproxima do General
Nergal.
- Antes o
amor que a guerra!
- Tio
Sargaço? Comandante Ondina? O que fazem aqui?
- Faço a
mesma pergunta, meu sobrinho – se abraçam à moda marciana.
- Lembro-me
que estava fervendo numa cápsula de fuga na atmosfera da Terra e que o
Conselheiro Netuno faria meu transporte. Não entendi direito!
- Não daria
tempo – disse a Deusa Nanna – Eu o trouxe para cá.
- O que?
Mas Íris, como fez isso?
- É uma
longa história, meu sobrinho! Uma longa história! Apresento-lhe a Deusa Nanna. Conhecida
entre nós mortais como a Comandante Ísis.
- Deusa
Nanna? – limpa os olhos o General Nergal, que tem a sua atenção desviada para o
bonito ambiente em que se encontra.
- Tudo será
esclarecido - disse a Deusa Nanna – Agora precisamos chegar a Dracon e salvar
Iara!
- Iara?
Onde ela está?
O Deus Navan, que se materializa com a
Deusa Luna entre eles.
- Foi
raptada pelos gruns.
- Dr. Asa?
– surpreendem-se mais uma vez o general.
- Asa, meu
bom amigo! Um dia destes precisa me ensinar a fazer estas entradas em grande
estilo! – fala o Dr. Sargaço
A Deusa Luna sorrir, olhando para a
Comandante Ondina.
- Quem é
esta mulher? – pergunta o General.
- A Deusa
Luna, minha irmã.
- Ela é a
mãe de nossa criação Nergal – esclarece a Comandante Ondina – Assim como,
também são deuses, Ísis e Asa, a Nanna e o Navan, o deus criador dos aumarinos.
O general atordoado põe a mão na testa.
- Devolvam-me
para a cápsula, por favor!
A Deusa Luna olha para irmã e se comunicam
telepaticamente. A Deusa Nanna faz um gesto afirmativo com a cabeça, põem a mão
na nuca do general que fecha os olhos. A Deusa Nanna repassa para a mente dele,
as mesmas informações que o seu tio Sargaço e a Comandante Ondina conhecem dos
fatos.
Ao abrir os
olhos, o marciano passa a palma da mão na barba suada e olha para todos:
- Quer
dizer que eu sou apaixonado por uma deusa?
- E uma
deusa, que lhe ama muito.
- Ísis! Quero
ir com você para Dracon e ajudar Forseti a resgatar a Capitã Iara!
- Os
escravos de Dracon já foram salvos. Estão com o Comandante Quasar e os
deluvianos no Planeta Éris. A Capitã Iara não foi ainda localizada. Existe algo
naquele planeta que nos bloqueia – disse a Deusa Nanna.
O Deus Navan completa a informação.
- Ela está
certa, Nergal. Muitas vidas preciosas foram perdidas. Por mais que tentamos
impedir.
O General Nergal insiste.
- Dr. Asa,
agradeço a sua preocupação! Mas não posso esquecer que sou um soldado e tenho
minhas obrigações. Estou disposto a correr o risco.
-
Marcianos! Sempre prontos para uma guerra! – comenta a Comandante Ondina.
A Deusa Nanna concorda com o pedido do
general e transporta-se com ele para a Lua Negra ao encontro do sinal mental transmitido
por Forseti. O Deus Navan, desmaterializa-se para outro local no interior da
Lua, vai usar o seu poder para desviar o cometa que ameaça atingir a Terra. A
Deusa Luna começa a levitar e segue para a esfera verde que mantém a força
vital no interior da Lua, preservando a vida aumarina.
No mundo aumarante, o Mestre Clístenes se
despede do Rei das Águas depois de animada conversa.
- Foi um
grande prazer conhecê-lo majestade.
- Também
estou feliz Mestre Clístenes. Pelo visto, temos muito com que conversar.
Gostaria de reencontrá-lo numa situação mais tranqüila. Mas finalmente! Humanos
e aumarantes poderão coexistir em paz e harmonia.
- Ainda tememos
a fúria desta deusa.
- Não tema
meu amigo. Confie nos deuses. O nosso povo ainda terá grandes épocas de paz e
prosperidade. A Danu Luna nos confiou à esfera azul. Ela possui grande poder. E
juntos saberemos usá-la com sabedoria e bondade.
- Assim
seja majestade.
O mestre abraça o Rei das Águas e segue
pelo transportador.
O Conselheiro Netuno acompanha o Mestre
Clístenes para a Cidade de Liberty, sede provisória do Conselho dos Clãs, onde
um novo encontro está sendo agendado.
No
Templo da Deusa, Dracórius, o único sobrevivente dos irmãos, suplica ajoelhado
à Deusa Lilith que não o abandone:
- Minha
deusa! Perdoai-me! Fizemos tudo que o foi possível!
Por trás de uma cortina de luz, observa-se
uma imagem disforme de uma mulher, usando esvoaçantes vestimentas e segurando
nas mãos uma pequena esfera negra. A Deusa Lilith observa Dracórius com atenção,
parece ignorar seu apelo.
A Deusa Nanna chega com o General Nergal.
Eles observam Dracórius se preparando para uma fuga.
A Deusa Lilith se comunica com a Deusa
Nanna que vai a sua direção e desaparecem.
Ainda deprimido por não ter sido perdoado
e salvo pela Deusa Lilith, Dracórius escuta uma voz conhecida por trás dele:
-
Dracórius! Chegou à hora de acertarmos as nossas contas!
Ainda de costas, Dracórius se levanta e ao
virar-se encontra um inimigo com olhos vibrantes de orgulho e sedento de
justiça.
- General
Nergal! Quanta ousadia!
- Estava
lhe devendo uma visita, draconiano infeliz! Pelo visto! A sua querida deusa o
abandonou!
- Mas isto
não muda o seu destino, humano!
Ao tentar levantar o braço para atingir o
general com raios que partem de seu bracelete, Dracórius é atingido na mão pela
arma do general e cai ferido.
- Parece
que o seu poder também não é tão grande? Você subestimou o poder marciano!
O
general se aproxima para prender Dracórius, quando Forseti chega e o impede.
- General!
Deixe-o!
- Não posso
Forseti! Ele deverá ser julgado e punido pelos seus crimes!
- Veja
general! – Forseti, aponta para uma nova cortina de luz. Dentro dele, a Deusa
Nanna os chama.
- Ísis? Não
estou escutando! O que ela diz?
- Ela pede
que entremos na luz! Dracórius já foi julgado e a sua punição vem em nossa
direção! O Deus Navan mudou a trajetória do cometa e o lançou direto para
Dracon! Tudo aqui vai explodir! Vamos rápido!
- Não
podemos sair sem Iara! – grita o general.
- Também
estaremos se ficarmos aqui!
-
Miserável! Covarde! – O general parte furioso para cima de Dracórius.
Forseti o impede puxando-o com força para
dentro da luz e desaparecem. Uma grande explosão pulveriza o Planeta Dracon. A
tirania dos irmãos draconianos chega ao fim.
Do Planeta Terra, um outro fenômeno chama
a atenção de humanos e aumarantes. A Lua se ilumina de azul. Nuvens e raios são
observados. A Deusa Luna ativou todas as fagulhas de vida adormecidas no
interior do seu antigo casulo.
Em poucas horas, a superfície lunar terá
uma atmosfera que cobrirá os oceanos de cristalinas águas. A vida se manifesta,
a Lua transforma-se em um planeta habitável para os aumarinos e toda
biodiversidade do antigo Planeta Sinos é reanimada, surge um novo mundo.
De mãos dadas levitando sob estas águas
lunares, o Deus Navan e a Deusa Luna olham felizes as recriações de antigos e
pacatos seres, que agora, podem nadar livres e seguir a sua evolução biológica
rumo à consciência plena.
Os três deuses, Navan, Luna e Nanna se
reúnem na Cidade de Liberty. São ovacionados por uma multidão emocionada e
feliz.
Os deuses se despedem, as suas missões
sagradas foram cumpridas. Eles recomendam que todos se unam e usem o livre
arbítrio e o poder da esfera em favor da vida e da prosperidade. Os deuses dão
as mãos, um círculo desce sobre eles, e juntos se projetam para o céu deixando
um rastro de luzes.
-
Conselheiro Netuno – pergunta o Mestre Clístenes – Para onde foram?
- Não
sabemos, acreditamos que vão se encontrar com outros deuses e retornarem para a
sua verdadeira casa.
Após alguns dias, a paz volta ao sistema
solar. Os habitantes do Planeta Terra encontram-se reconfortados. A nave rob do
Projeto Halley finalmente aterrissa e sua tripulação recepcionados com festa.
Uma emoção intensa e nunca sentida é
compartilhada entre humanos e aumarantes, que após a celebração de união,
passam a ter uma denominação única, chamados de humarantes. Na Cidade de
Liberty, uma nova sonda comemorativa é lançada ao espaço: a Voyage III,
contendo novas imagens, sons e mensagens desse novo mundo.
O Dr. Sargaço olha para a Comandante
Ondina.
- Então
minha sereia. O que faremos agora? Tiramos umas férias? Podemos passar uma
temporada no Reino das Águas.
- Estou com
saudades da estação. O espaço realmente não combina conosco. Além do mais, alguém
me prometeu um delicioso jantar, lembra?
- Mas é claro!
Jamais esqueceria!
- Sinto
saudades de Asa e Iara. Ela era a minha melhor amiga e uma excelente oficial.
Não merecia morrer em circunstâncias tão cruéis, aprisionada ou devorada por
feras.
O Dr. Sargaço consola a comandante. Eles
se abraçam e seguem para uma nave aumarante que os aguarda.
Em Marte, a luz do farol de alerta que orbita
o planeta se apaga. O General Ares assume o título de Mestre, líder supremo dos
marcianos. O Comandante Quasar é promovido a general, assumindo as
responsabilidades que antes pertenciam ao General Nergal e tendo Gumerzind como
o seu companheiro de jornada por muitos anos.
O Mestre Tálio, decide viver na Terra com
alguns cerianos e os demais, retornam para o Planeta Ceres, cuja cidade foi
reconstruída pelos engenheiros robs marcianos que lá permaneceram. Ébano,
ostentando orgulhoso o título de mestre, retorna com o seu povo na companhia de
Efígie, onde inauguram uma nova cidade chamada de Lítio, em homenagem ao amigo
e ilustre comandante morto por Detra.
Uma frota espacial com humarantes e
deluvianos atravessam um grande portal aberto pela Deusa Nanna, que acompanhada
do General Nergal, partem para o Reino Dracória, conduzindo os ex-escravos de
Dracon, o Príncipe Dizart e Forseti para junto do seu povo. Ao se aproximar do
sistema planetário draconiano, a Deusa Nanna pergunta para o General Nergal.
- Está
triste?
- Não. É
que eu estava pensando como serão as nossas vidas. Sou um humano, um mortal,
poderia te amar por uma eternidade que jamais conhecerei.
A Deusa Nanna olha para o general, sorrir
e lhe deixa escapar uma revelação.
- Nem sempre
tudo é o que parece. Está vendo aquela imensa estrela que aquece e ilumina a
vida deste reino?
- Sim, o
que tem?
- Ela lhe
pertence. Foi dela que surgiu a sua fonte. A sua esfera se transformou nesta
bela e imensa estrela.
- Não
brinca!
- Não estou
brincando! Você é o último deus que falta ser despertado Deus Dracória. No
passado você convenceu Navan e Luna a semear vida naquele ponto distante do
universo. Você descobriu onde o nosso pai, o Deus Rá havia deixado a sua fonte,
um sinal que se transformou no sol dos humanos. Quando soubemos que nossos
perseguidores queriam roubar o poder deles, seguimos para ajudá-los e
terminamos nos envolvendo para protegê-los.
- Então, eu
também sou um deus?
- Sim! Um
dos mais poderosos!
- E por que
não fui despertado?
- Ainda não
sei se quero te despertar – Sorrir – Você gostava muito de sair viajando pelas
dimensões do universo, em nem sempre me convidava, sabe que posso de te
acompanhar, da idéia de tê-lo por perto.
- Não se
preocupe! Não pretendo viajar sem a sua companhia. Mas antes, gostaria de
lembrar para onde tanto eu viajei.
Algumas dias depois, o General Nergal é
despertado numa grandiosa cerimônia no Planeta Salter. O príncipe é nomeado
como Dizart Dracórius e o reino volta a experimentar a paz e prosperidade.
Enquanto isto, num planeta desconhecido em
algum lugar do universo, um ser humanóide, baixo e corcunda, aparentando ser um
ancião, atravessa solitário um salão de um templo em direção a uma varanda de
um castelo. Do alto do teto, ele é percebido por gruns que se agitam ao verem
subir uma escadaria. O zunido do vento espalha uma poeira fina no piso crespo e
vazio. Aproxima-se de uma mulher que está de costas, vislumbrando uma paisagem
montanhosa de um céu crepuscular.
- Minha
Rainha! – disse o ancião humildemente – Seja bem-vinda ao seu reino. Sentimos
muito a sua ausência.
A mulher pousa as duas mãos sobre o ventre
grávido, olha para cima e fecha os olhos, sentindo uma leve brisa que esvoaçam
os cabelos negros e finos. Ela sorrir tranqüila e fala com o ancião com
suavidade.
- Nada está
terminado Giambo, mas estamos cada vez mais próximos. Os
deuses foram despertados e em meu ventre, trago uma herança da força que
precisamos para a nossa conquista.
A mulher se vira, olhando pensativa para
uma cicatriz na palma da mão. O ancião, demonstrando felicidade, olha para a
Deusa Lilith, e se deslumbra com o rosto iluminado da Capitã Iara.
FIM
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