segunda-feira, 28 de novembro de 2016


Sinopse

O livro Os Humarantes, é uma compilação de três episódios âncoras independentes e complementares:

      Episódio I – Navan: O Despertar dos Deuses (14 capítulos) (2009)
     O personagem principal é um jovem astro-biólogo que retorna do espaço, trazendo resultados de experimentos de laboratório e de coletas por ele realizadas em cavernas lunares. Com a ajuda de outros amigos cientistas e militares que vivem e trabalham em profundas estações submarinas, eles se deparam com um curioso fenômeno envolvendo partículas que foram retiradas das amostras lunares. Uma posterior investigação com outros eventos naturais que parecem interligados, os leva a um inusitado contato com uma civilização avançada e semelhante aos seres humanos, co-existindo em segredo no interior de montanhas em regiões abissais dos oceanos. Após o impacto que essa descoberta provoca na sociedade, eles se deparam com declarações que mudará o destino da humanidade e de tudo que se refere às origens da vida na Terra e ao seu futuro. O que eles não sabiam, é que uma  poderosa ameaça retornava ao planeta. 

      Episódio II - A Revelação (4 capítulos) (2011/2012)
     Este episódio se apresenta como um importante elo na construção dos mistérios, que aos poucos vão sendo revelados mediante uma série de eventos temporais. Conta a história de um povo extraterrestre, de vida simples e que faz uso de tecnologia rudimentar para sobreviver. Não obstante as suas limitações, a cultura desse povo está diretamente associada a antigas lendas, que se referem as suas prováveis origens e transmitida por gerações de forma oral e pictográficas. O personagem principal é achado desmaiado em uma planície freqüentada por caçadores e coletores de sementes e frutos. Ele é reconhecido pelos anciões como um mensageiro de um clã vizinho e experimenta o drama de ter perdido a memória. Uma conspiração que envolve seres de aparência humana e intimamente ligados a uma antiga cultura do Planeta Terra, se esforçam contra o tempo para evitar que ele e seu povo sejam mortos. Os anciões decidem pedir a ajuda de um velho e enigmático eremita que vive no alto das montanhas geladas e com a participação de outros três personagens, conseguem, com coragem e humor, enfrentar desafios e selar uma amizade que será novamente vivenciada numa futura existência.

      Episódio III - A Luz de Áxis (20 capítulos) (2013)
     A raça humana atingiu o seu apogeu como civilização, mas até isso acontecer foram necessários extremos sacrifícios e um deles foi abandonar o mundo em que vivia: O Planeta Terra.
Também embarcou nessa viagem, todo o conhecimento cultural, científico e genético disponíveis. Em uma pequena galáxia distante milhões de anos luz, um novo lar se apresenta como uma segura esperança de futuro. Não demorou muito para que os humanos descobrissem que nessa remota região do universo, eles não estavam sozinhos. Com o tempo, uma vez estabelecida em vários mundos, a supremacia dos humarantes, como é conhecida a antiga raça humana, é reconhecida pelos habitantes dos sistemas planetários e galáxias vizinhas. Um pacto diplomático, com objetivo de facilitar acordos comerciais e conhecimentos tecnológicos, foi firmado como muitos governos e posteriormente, serviu de base para a criação de uma federação. Os principais objetivos era manter a ordem e defesa, apaziguar conflitos, conservar e auxiliar mundos e seres em desenvolvimento, respeitando o curso natural de suas evoluções. Mas uma antiga ameaça volta a atormentar os humarantes. Dessa vez mais forte, numerosa e com a participação de seres com estratégias e habilidades jamais imaginadas por eles. A intenção do inimigo era matar, escravizar e punir os humarantes, simplesmente para atrair a atenção dos deuses cocriadores e seus aliados. Era preciso lutar e superar as limitações, confiar na tecnologia e no próprio instinto de sobrevivência, numa batalha que seria a última de sua história.


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Boa leitura

Episódio I
O DESPERTAR DOS DEUSES

Capítulo 1

A NOVA ERA



     Devido às alterações climáticas, o Planeta Terra esfriou, e grandes partes dos seres vivos que nele habitavam foram drasticamente reduzidos e extintos. A população de humanos é de menos de dois bilhões de pessoas, que se uniram com a formação de um conselho global, iniciada há quase três séculos, representada por líderes de todos os povos sobreviventes dos cinco continentes. 
     O Conselho dos Clãs, como é conhecido, decidiu promover esforços no desenvolvimento das tecnologias e bens científicos, preservação da memória cultural e natural de todo o planeta.
     Extintos também, foram as divisões geopolíticas, os sistemas monetários, jurídicos e de consumo. A humanidade teve que aprender a conviver com as diferenças que tanto causaram intolerâncias, guerras e sofrimentos. Este aprendizado gerou uma cultura de paz e o surgimento uma nova civilização, unida por um único ideal: garantir a sua existência.
     Durante os vários séculos que sucederam o início da Era Glacial, centenas de cidades foram construídas em diversas regiões do Planeta Terra, sendo em sua grande maioria, semi-subterrâneas e interligadas por túneis. Destacam-se também, as construções de algumas estações experimentais no fundo dos oceanos e na Lua.
     Nesta sociedade, adota-se um criterioso controle de natalidade, uma vez que a longevidade e a qualidade de vida das pessoas superaram as expectativas.
     O avanço da tecnologia foi a principal responsável pelo desenvolvimento da ciência em suas mais variadas especialidades. Foi dada também, especial atenção à biodiversidade ainda existente no planeta. Muitos animais e plantas são observados, estudados e preservados, sejam em ambientes artificialmente projetados chamados de biosferas ou em estado selvagem.
     Dos grandes avanços tecnológicos, três se destacaram: robótica, transporte e espacial. A robótica participa de todas as atividades, principalmente as que expõem diretamente o ser humano em trabalhos que exijam precisão ou que possam causar riscos de morte. São também comuns em ambientes inóspitos, desconhecidos ou monitorados.
     No convívio com as pessoas, os robs, como são chamados, são dedicados guardiões, trabalhadores e companheiros, sendo muitos deles carismáticos e famosos.
    O transporte alcança a sua magnitude em superar as distâncias com o menor tempo e segurança, favorecendo o deslocamento, a manutenção e a integração entre as cidades e estações. A espacial contribui entre outras coisas, para um melhor conhecimento do universo, desenvolvendo pesquisas e explorações avançadas no Sistema Solar.
     Com exceção dos transtornos provocados pela fúria da natureza como terremotos, maremotos, inundações e instabilidade do clima, a humanidade convive em perfeita harmonia.
     Apesar de cultivar a ciência e a tecnologia como prioridades, outros grupos se dedicam as artes, a literatura, a filosofia, a arquitetura, as práticas esportivas e viagens de lazer.
     A lingüística é curiosa, os clãs conservaram seus antigos idiomas e dialetos, apesar de ter sido criada uma linguagem unificada de caráter mais prático e público. São comuns as pessoas de Clãs distintos, falarem entre si em suas próprias línguas e se compreenderem sem ajuda do copy, um aparelho que facilita a tradução simultânea, ou dos robs, que conhecem todos os idiomas, sejam os extintos, tradicionais ou contemporâneos.
     Um avançado sistema de comunicação, conhecido como Rede Humanity, mantém todos os clãs interligados e informados de tudo o que acontece, com notícias que podem ser acompanhadas em tempo real. Com raras exceções, não existe sigilo de informações, e o sistema se encarrega de fornecer detalhes de qualquer evento, seja referente às previsões e mudanças do clima, até os nascimentos de seres vivos obtidos com os recursos da engenharia genética, sendo este último, um dos mais apreciados pela humanidade. Recriar espécies de animais ou vegetais extintos e conservar os seus códigos genéticos, é motivo de comemoração. Outro assunto, de muita audiência, é sobre as pessoas dos diversos clãs que estão motivadas em serem voluntárias nas viagens de exploração para outros mundos, já existindo inclusive, formações de colônias nos Planetas Marte e Ceres.

Capítulo 2

RETORNO A TERRA

     Um cientista, natural da Cidade de Palmeira dos Ventos, povos da antiga América do Sul, e aos 30 anos de idade, o astro-biólogo de nome Dr. Asa, do Clã dos Abas, retorna da Lua, mas precisamente da Estação Lunar Meteora, construída no interior da Cratera Daedalus, trazendo resultados de experimentos de laboratório e de coletas por ele realizadas em caverna lunares.
     Havia mais de seis meses que o Dr. Asa se dedicava em trabalhos de campo, e estava ansioso para retornar ao Planeta Terra. Planejava concluir as suas pesquisas e descobertas, apresentá-las a comunidade científica, e principalmente rever a família e os amigos.
    Avisado de que o transporte com destino ao Planeta Terra o aguardava, o Dr. Asa seguiu para a plataforma de desembarque. Ao chegar à nave, ele foi acomodado por robs auxiliares de vôo em uma cápsula especial, usada em viagens de deslocamentos rápidos no espaço sideral.
    Minutos antes de seguir viagem, o Dr. Asa recebeu um comunicado de que deveria atender um chamado de visita à Estação Oceânica Niflheim, na região de Norskehavet.    
     Ao confirmar a mensagem liberando a partida da nave, a mesma se ergue do solo lunar e lentamente segue para fora dos limites da gravidade, precipitando-se para o espaço em ritmo contínuo e acelerado em direção ao Planeta Terra. Em outras épocas, esta viagem levaria alguns dias, no entanto os 384.405 km que separa o Planeta Terra da Lua, são realizados em apenas 1 hora.
    Após ajustar o ângulo de reentrada na atmosfera terráquea, o Comandante da Nave Daedalus I, Arcturus, 44 anos, do Clã dos Sem, povos do antigo Oriente Médio, solicita a Estação Oceânica Niflheim para providenciar o transporte marítimo para conduzir o cientista que chega da Lua.
    Avistar o Planeta Terra do espaço sempre encanta, e com o Dr. Asa não é diferente. Desde criança, ele sonhava em fazer parte da equipe lunar, revelando a sua vocação para ciências pouco convencionais e de difícil análise. Porém, uma certeza deixa o jovem astro-biólogo à frente de desvendar um mistério, que poderá mudar o destino da humanidade e de tudo que se refere às origens da vida na Terra e ao seu futuro.  
      A raça humana no início da Era Glacial, convivia com a possibilidade de ser definitivamente extinta, de não ter opções de fuga, mediante as incertezas e distantes possibilidades de encontrar planetas favoráveis à vida, ou pior, de não conseguir chegar a tempo devido aos poucos recursos tecnológicos e das privações inevitáveis de uma longa viagem ao desconhecido.
    Na Estação Oceânica Niflheim, um antigo amigo do Dr. Asa o aguardava. Trata-se do Dr. Sargaço, do Clã dos Aegir, da Cidade de Midgard, povos da antiga Europa.
     Aos 53 anos, o Dr. Sargaço se dedica à bioquímica, desenvolvendo estudos nas regiões abissais dos oceanos. Um pouco atrapalhado quando tem a sua curiosidade aguçada, ele tem realizado importantes pesquisas. Mas o que se destaca neste cientista é o bom humor, ele chegava até em sugerir os nomes mais engraçados para as poucas crianças que nasciam, mas nunca conseguia, pois os nomes próprios ficam a critério das próprias pessoas, que escolhem como querem ser chamadas.
     Os nomes são identificados quando o jovem já define em estudos vocacionais, em que atividades pretendem seguir na Aldeia Global. Ao escolher o nome, completa-se um ritual no clã de origem que foi sendo praticado ao longo dos séculos, estabelecendo-se naturalmente, incorporando-se à nova cultura humana. Essa tarefa de dar nomes aos filhos nos tempos antigos era privilégio dos pais.
     A origem de não adotar sobrenomes, surgiu devido às primeiras recriações de importantes grupos de DNA humano, clonados dos corpos encontrados conservados em solos congelados. Foram modificados geneticamente, para ampliarem os sentidos naturais e não desenvolver doenças. 
     As incertezas das origens étnicas destes clones, de não haver vestígios em seus códigos genéticos de memória social da matriz humana que os gerou, os sobrenomes ancestrais foram subtraídos, facultando ao “órfão” clonado o direito de escolha do seu nome. 
     Posteriormente, por um gesto de solidariedade coletiva, foi adotado por toda a humanidade, usando-se apenas um nome próprio com a citação do clã a qual pertence ou escolheu.
     Algumas vezes, foi possível identificar semelhanças genéticas com grupos de diversos clãs, inclusive físicas. Mas o ser clonado, apesar de extremamente amado, aceito e respeitado por todos os clãs do mundo, não possuía uma raiz cultural e familiar tradicional que o legitimasse.
     Com o passar dos anos, foi criada uma assembléia de “órfãos”, que aspirava a criação de um clã e uma referência territorial. O pedido foi aceito, havendo nesta época a disponibilidade de se implantar uma nova colônia fora do Planeta Terra. A notícia provocou euforia entre os “órfãos”, que em sua grande maioria decidiu que esta nova colônia fosse habitada por eles. Então, com o apoio e sugestão do Conselho dos Clãs, foi construída a Colônia de Nathan no Planeta Ceres, localizado entre Marte e Júpiter, povoada por dezenas de novos clãs, sendo o Clã dos Adâmicos o mais antigo e tradicional. Surgiu assim, mais uma nova identidade cultural, suprindo também um sentimento de “vazio” que havia entre os “órfãos”, principalmente em relação à ausência de territorialidade própria que perdurou durante séculos. A Colônia de Nathan, antes construída e habitada por robs, foi a terceira experiência bem sucedida da presença da raça humana fora do Planeta Terra, sendo posterior a Marte e a Lua.
     O trabalho do Dr. Asa e da sua equipe, está relacionado com uma tecnologia que coleta vestígios de DNA em solo terráqueo, no qual foi possível recriar seres vivos, inclusive humanos. No entanto, não era compatível com a pesquisa em território lunar, devido às bruscas alterações de temperatura e pelo conceito da não sobrevida destes ácidos.
     Um novo aparelho foi desenvolvido pela equipe de engenharia do Dr. Asa, adaptado para coletar, analisar e identificar as mais ínfimas estruturas microscópicas até então, nunca utilizado na Lua.
     Os primeiros testes indicavam que além dos componentes já conhecidos na geologia lunar, existiam alguns elementos desconhecidos de carbono orgânico diamantificado, cujo interior sugeria a presença de outros compostos.
     O desenvolvimento de novos experimentos será realizado em laboratórios biosféricos no Planeta Terra, uma vez que, segundo a teoria do Dr. Asa, haveria um possível indício de alteração destes elementos. No entanto, tudo ainda estava no campo da especulação, mas com fortes razões para se investigar.
     Era fim de tarde quando o Dr. Asa chegou à região de Norskehavet, podendo avistar emergido, o submarino Niflheim I. Ao desembarcar, o cientista foi recebido por um pelotão de robs acompanhados pela Capitã Iara, 25 anos, do Clã dos Nü Wa, Cidade de Shen Nong, antiga Ásia.      
    As formalidades na nova sociedade humana são mais evidentes em cerimônias religiosas e nos rituais dos nomes. A liberdade de expressão e as manifestações de cordialidade e afeto são espontâneas entre as pessoas, sejam desconhecidas ou amigas. No caso do Dr. Asa e da Capitã Iara, seus sentimentos já superaram o campo da amizade. Ambos vivem uma paixão mal resolvida e solitária devido a dedicação ao trabalho, que apesar dos mundos opostos em que passam a maior parte do tempo, a lua e o oceano, os seus planos de uma vida a dois sempre são adiados.
     A Capitã Iara vai correndo ao encontro do Dr. Asa. Eles se beijam e abraçam saudosamente. O vento forte e o frio intenso abreviam esse esperado momento, quando um soldado rob se aproxima indicando o caminho para o interior do submarino, que submergiu minutos após a decolagem do Daedalus I.
     Conduzindo o Dr. Asa pelas mãos, a Capitã Iara segue para acomodações mais confortáveis e discretas e lhe oferece um chá. Sentados lado a lado, observam a paisagem marinha através da transparência do mezanino.
- Que bom que você voltou. Estava com saudades.
     Com um sorriso maroto, o Dr. Asa responde:
- Ainda bem que Sargaço solicitou a minha presença!
     A Capitã Iara retribui com um sorriso e seus olhos brilhavam de satisfação.
- Ele é um bom amigo e gosta quando estamos juntos! Mas na verdade, Sargaço descobriu algo do seu interesse!
- Você sabe o que é? – pergunta o Dr. Asa.
- Temos poucas informações. Sargaço está acompanhando as explorações. Descobriram um compartimento nas Montanhas de Netuno, que tudo indica ter sido construído por outra civilização.
- Pelos ancestrais?
- Achamos pouco provável.
- Quanto segredo. Como ele está?
- Está bem. É um incansável. Vez ou outra realiza explorações fora dos limites da estação, volta para o laboratório e ainda conserva o senso de humor para as primeiras horas do dia seguinte. Você havia me dito que iria tirar algumas semanas de folga?
- É verdade! Sei que combinamos fazer isto juntos. Mas descobrir algo que não pode ficar para depois.
- Do que se trata?
- Encontrei vestígios de carbono orgânico, minúsculos fragmentos de diamantes.
- Estes fragmentos são encontrados em meteoros, com certa freqüência.
- Sim. Mas estes são diferentes! Possuem combinações protegidas no núcleo como sementes prontas para germinar. Preciso fazer testes em terra.
     A Capitã Iara o abraça e fala com a voz animada:
- Você é um homem de sorte. Amanhã já estou de folga e vou colar em você como um peixe-piloto.
- Que tal como um polvo? – sorrir.
     A descontração do casal é interrompida quando é anunciada a aproximação da Estação Oceânica Niflheim, em profundas regiões abissais. Tudo é muito escuro, mas por pouco tempo. O Dr. Asa se empolga.
- A visão da estação nas profundezas do oceano é algo impressionante!
     A capitã não perde tempo em responder.
- Para mim, a melhor visão do universo é você!
     O Dr. Asa retribui com um olhar carinhoso.
     Existem algumas semelhanças da arquitetura das estações submarinas com as estações instaladas no espaço. Em pouco tempo, a tripulação começa a vislumbrar belos feixes de luzes que saem das montanhas, como se estivessem iluminando o caminho como um farol e dando as boas-vindas. O submarino também se ilumina, respondendo com outros feixes de luzes, um verdadeiro espetáculo no fundo do mar.

     Ao desembarcarem na estação, eles são recepcionados pela Comandante Ondina, 35 anos, Clã dos Germanvs, antiga Europa, acompanhada do iminente cientista Dr. Sargaço, sempre com um sorriso contagiante.

- Asa! Que bom que está de volta! Soube que saiu de férias?
- Olá Sargaço! Minha folga é de poucas semanas, você sabe como é difícil para mim ficar muito tempo submerso.
- Vamos lá! Faz muitos meses que não dou um abraço no meu velho amigo! Seja bem-vindo ao mundo dos peixinhos!
- Você conseguiu?
- Sim! Finalmente resolvemos o problema da aversão à pressão, mas precisamos de novos testes. No momento encontram-se no campo experimental na área externa, te mostro depois.
- Sá! Parabéns! Você é o mestre da persistência!
- Não precisa agradecer. Essa é a minha diversão, lembre-se que somos da mesma escola de malucos – sorrir.
- E quanto aos seres humanos? Quando poderemos nadar livremente em águas profundas? – pergunta o Dr. Asa.
- Bem! Como você sabe, precisamos de voluntários!
- Não me olhe desse jeito. Sabe que eu não funciono bem no fundo do mar.
- Sei disso, amigo. A pressão submarina não lhe faz bem. Trouxe o material?
- Sim! Já foi transportado para o seu laboratório, espero que lhe seja útil.
- Com certeza será! A gravidade zero faz maravilhas nas nossas combinações.
- Sá! Trouxe algumas amostras coletadas no solo lunar. São partículas de carbono em sua maioria e um composto de substâncias microscópicas. Poderia solicitar a sua equipe para evoluir nestas análises?
- Claro, meu amigo! Você sempre procurando por sinais de vida no espaço!
- A origem da vida na Terra, sempre será um mistério a ser desvendado.
- E se depender de mim, será! Está com fome?
- Um pouco, qual é o cardápio?
- O seu predileto! Fiz com capricho, vamos! Acompanhe-me, temos muito que conversar! Ah, falando nisso eu já te contei a piada do tubarão banguela?
- Já sim, amigo! – sorrir.
     O Dr. Asa olha para a Capitã Iara, que neste momento conversa discretamente com a Comandante Ondina ao lado de outro oficial que chegou no dia anterior.
- Viu como a vida marinha está deixando a sua amada mais bonita?
- Percebo uma melancolia em seus olhos! – diz o Dr. Asa.
- Claro! A mulher quer casar e quem sabe ter um filho, enquanto você fica saltando na lua!
- Sá! É por pouco tempo, sabe disso! Não tivemos uma oportunidade como a sua de trabalhar no mesmo lugar da pessoa que gosta.
- Eu estou brincando, não borbulha! Mas você tem razão, estamos sempre juntos e compartilhamos o mundo submarino! Uma maravilha!
- Ondina é uma mulher incrível Sá! E você também é um homem de sorte!
- Somos, somos sim! Homem do espaço!
     O Dr. Sargaço envolve o braço sobre o ombro do amigo e segue para o refeitório da estação.
     Houve uma pequena confraternização com toda a equipe do Dr. Sargaço e conversaram bastante sobre os progressos alcançados nas pesquisas e principalmente pela descoberta misteriosa nas Montanhas de Netuno.
- Está gostando da noite abissal?
- Sa! Não me faça rir, que noite? Estamos no fundo do oceano, aqui é sempre noite!
- Assim como o espaço?
- É! mais ou menos! Bom! Vou me recolher, sendo assim, “boa noite!”.
- Boa noite Asa! Amanhã terá o dia todo de passeio pelas montanhas, serei seu guia de turismo!
- Tudo bem! “O dia todo!” – diz o Dr. Asa, resmungando baixo.
     Em suas acomodações, o Dr. Asa descansa da sua jornada e já está quase adormecendo quando é despertado por um beijo suave da Capitã Iara.
- Dormindo, meu querido?
- Apenas relaxando um pouco!
     O Dr. Asa olha para uma janela escura e senti falta de ver o infinito e as estrelas que está acostumado em admirar da estação lunar. Pensava como deveria ser difícil para a Capitã Iara a vida naquela estação submersa, como são dedicados e entusiasmados todos que ali trabalhavam.
- Tenho uma surpresa! – diz a capitã.
- É? Qual?
- A comandante já liberou minha licença!
- Ah! Isso é muito bom!
- Então! Agora estamos juntos! – disse a Capitã Iara com sensualidade, apagando a luz do aposento.
     Em outras acomodações, o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina conversam descontraidamente e aos risos.
- Sá! Suas piadas estão cada vez mais picantes!
- Falando em picante, tenho uma receita nova de um prato fantástico: Manjar das Sereias!
- Verdade? De todos os seus talentos, este de chefe de cozinha é o melhor! E quando é que vou provar esta iguaria?
- Assim que o apaixonado casal for para superfície.
- Realmente! Eles formam um belo casal. O que fará amanhã? – pergunta a Comandante Ondina.
- Vou com Asa e Iara para as Montanhas de Netuno.
- Se o conheço bem, Asa vai ficar muito entusiasmado.
- Sim! Diz respeito ao trabalho dele, tenho certeza que aquilo não é desse mundo.
- Tenha cuidado meu querido, é algo desconhecido que não sabemos seus efeitos!
- Tomei todas as providências! Por isso não segui adiante com a investigação sem a presença de Asa! Além disso, os robs estão realizando um excelente trabalho! Em breve estaremos famosos no noticiário da Rede Humanity!
Risos, carinhos, e outra vez, mais uma luz se apaga na Estação.   

Capítulo 3

O REINADO DAS ÁGUAS
     Após horas de um sono revigorante, o Dr. Asa desperta, e de sobressalto toma um susto. Sentando na cama de frente para uma grande janela, observa uma parte da paisagem escondida nas profundezas do oceano abissal. Uma luz tênue e agradável, idêntica ao amanhecer, ilumina todo o cômodo. Pequenos peixes coloridos nadam junto à janela. Ao longe, avistam-se alguns paredões de montanhas e animais estranhos cruzando um vasto vale. O Dr. Asa olha de lado e percebe que a Capitã Iara não se encontra, levanta-se e vai até janela. O Dr. Sargaço entra no quarto esbanjando bom humor.
- Bom dia homem do espaço! Que cara é essa? Não dormiu bem?
- Bom dia Sá! Mas o que é isto?
- Isto meu caro amigo! É o nosso dia! – gesticulou o Dr. Sargaço, abrindo os braços em frente da janela, cheio de orgulho.
- Como conseguiu? – pergunta o Dr. Asa.
- Bioflorescência! Avançamos muito neste campo! Numa biosfera da superfície, foram desenvolvidas pesquisas semelhantes com bactérias que atacavam insetos e os faziam brilhar, atualmente tem sido utilizado para várias atividades.
- Fantástico! Até onde vai?
- A extensão atinge um raio de três quilômetros, poderíamos ampliar a luz, mas não queremos perturbar a fauna abissal.
- É possível ver alguns animais maiores?
- Claro! Aparentemente as luzes os deixam curiosos, pelo menos nos menos sensíveis. Esta luminosidade contribui para não alterar muito os ciclos hormonais dos humanos nas estações submersas, além de dar a idéia de tempo, pois está em sintonia com a luz da superfície!
- Ela fica mais intensa ao passar do dia?
- Ainda não. Ela é uma luz fria, mais podemos diminuir e lhe proporcionar um belo entardecer - risos.
- Sá! Esses são os seus peixinhos?
- Você é muito observador homem do espaço! – diz o Dr. Sargaço com uma ironia cômica.
- Sá! Por que eles nadam junto ao vidro da janela?
- Na verdade amigo, o controle de pressão que permite a vida destes peixes aqui não foi orgânico e sim no espaço físico, a exemplo deste em que vivemos aqui dentro. Estes peixes são de origens tropicais, vivem em corais de águas rasas e lá fora só podem nadar até 5 metros de extensão a partir daqui! A cada metro existe um intervalo de pressão de oxigênio puro, que resumindo, funciona como uma mola hidráulica. Estamos fazendo alguns ajustes.
- Quer dizer que é uma barreira invisível de pressão?
- É isso mesmo! E os seres abissais também não podem penetrar.
- E quanto à questão dos humanos e de voluntários? Acho isso bastante arriscado.
- Não precisa. Eu mesmo testei. A Comandante quase vai à loucura! Podemos passear a vontade neste corredor pela plataforma. É como se fosse um destes aquários oceanográficos que as pessoas costumam freqüentar.
- Sá! Você é um gênio!
- Quem sabe um dia eu não consiga fazer isso na sua adorada Lua. Já pensou? Um belo dia cheio de pássaros cantando na sua janela? – explode em gargalhadas.
- Não ouso duvidar. Você viu a Iara?
- Estava logo cedo com Ondina. Estão passando o comando do submarino Niflheim I para outro oficial recém chegado. Sua garota está livre. Então! Vão passar as férias em Palmeira dos Ventos ou Shen Nong?
- Sá! Você não me chamou aqui para mostrar apenas esse belo pôr-do-sol não é?
- Relaxe! Claro que não! Tudo não passa de uma série de coincidências favoráveis que chamo de sorte.
- Sorte? – o Dr. Asa abre um largo sorriso.
- Isto mesmo sorte! Não é todo dia que você encontra numa mesma visita uma linda e apaixonada garota de olhos puxados, amigos prediletos, um belo amanhecer nas profundezas do oceano, peixinhos coloridos alegrando a sua janela, um delicioso café da manhã feito com as sobras do seu prato predileto do último jantar e...
- E...
- Um mistério incrível! – fala o Dr. Sargaço com voz baixa e aproximando-se do amigo.
- Que mistério?
- Não quis divulgar a notícia sem antes conferir com você e ela. Que agora, não precisa se preocupar com o seu posto.
- Como assim?
- Quero dizer que Iara pode está em nossa companhia nesta investigação.
- Nas Montanhas?
- Sim! Vou te contar depois do café! Está com fome?
- Um pouco!
- Então! Vamos fazer o que a vida tem de melhor, comer bem! E depois iremos ao laboratório! Vamos se apronte! Estarei aguardando no salão! – ao sair do cômodo, o Dr. Sargaço retorna e olha para o Dr. Asa e pergunta com um semblante de dúvida no rosto:
- Asa! Eu já te contei a piada do peixe lanterna que também saiu à procura de um homem?
- Não Sá! Essa é nova, pelo menos na versão.
- Tudo bem! Conto depois! – risos.
     Posteriormente, todos estão juntos no refeitório apreciando o café da manhã.
     O Dr. Sargaço orienta a sua equipe em priorizar as análises iniciais do material trazido da Lua pelo Dr. Asa. A Comandante Ondina ordena ao posto de desembarque que prepare um módulo submarino que será pilotado pela Capitã Iara.
     O Dr. Sargaço após se refestelar pergunta:
- Asa meu querido! Como está o Projeto Halley?
- Pelo visto, você não assiste regularmente a Rede Humanity.
- Então! Sabe como é! Muito trabalho! Não fico com a cabeça no mundo da lua!
- O cometa se aproxima, e se tudo correr bem, a equipe chegará em algumas semanas! Continuam na retaguarda do cometa e acho que desta vez eles não vão dar outra volta no Sistema Solar – explica o Dr. Asa.
- De volta a velha Terra? Incansáveis robs! Vão ficar surpresos em saber que os atuais estão bem mais sofisticados! – comenta a Capitã Iara.
- Há quanto tempo estão no espaço? – pergunta o Comandante Ondina
- Vai completar 228 anos. Graças a este projeto conseguimos entender muita coisa sobre Sistema Solar, vai permitir inclusive, que a raça humana em um futuro não muito distante possa estender suas fronteiras para além da Nuvem de Oort.  Agora Sá! Você pode contar o real motivo da minha vinda aqui?
- Bem! Como havia lhe dito ontem, algumas semanas atrás tivemos fortes abalos sísmicos nesta região, sendo o epicentro identificado nas Montanhas de Netuno.
- Pois é! Fiquei sabendo do fato na Lua e muito me preocupou em saber se vocês estavam bem – comenta o Dr. Asa.
- Felizmente não houve grandes transtornos. Mas devido à instabilidade dos abalos, toda estação está sob alerta de evacuação. O último evento – continua o Dr. Sargaço - Provocou a abertura de uma gigantesca fissura que leva há muitas centenas de metros abaixo da montanha. Estive lá com Ondina faz alguns dias para avaliar as proporções da abertura, descobrimos que havia algo de diferente no seu interior que possivelmente foi revelada devido aos tremores.
- Conseguiram descobrir do que se trata?
- Esta é a questão! Não fomos adiante. Decidimos enviar robs. Eles entraram por uma galeria que surgiu em uma das laterais internas da montanha. Ostentava uma curiosa arquitetura que supomos ser alienígena. Veja as imagens!
     O Dr. Sargaço indica uma tela que mostra imagens do local.
- Encontraram também, como pode perceber, esta cortina de energia que por incrível que pareça, tem o mesmo propósito de isolar água e ar, controlando a pressão, semelhante o que fiz com os peixinhos, sendo o processo muito mais avançado. Esta cortina não impõe resistência e pode-se transpor com tranqüilidade, chegando para o acesso até outro compartimento.
- Um compartimento de ar? – pergunta o Dr. Asa.
- Literalmente, oxigênio puro – responde o Dr. Sargaço – E com pressão atmosférica de 1013Mb.
- Nível do mar? – surpreende-se o Dr. Asa - Então Sá! O que vocês fizeram?
- Por enquanto não fizemos muito. Comunicamos ao Conselho dos Clãs que incentivou a exploração do ambiente e me concedeu o privilégio de formar uma equipe. Que você, Iara e Ondina fazem parte dela. Os restantes dos trabalhos estão sendo realizados pelos robs que analisam as condições de riscos.
- Estas informações só descobrimos ontem Asa – diz a Comandante - E imediatamente enviamos uma mensagem para Estação Meteora convocando a sua presença.
- Teve gente que adorou! – brinca o Dr. Sargaço olhando para a Capitã Iara que retribui com um sorriso acanhado.
- Mas tudo isso é muito interessante? – comenta o Dr. Asa.
- Pois é! Muito interessante! No entanto temos que considerar muitas hipóteses, por exemplo: Há milhões de anos atrás os oceanos desta região eram diferentes. Possivelmente as Montanhas de Netuno foram submersas posteriormente – diz o Dr. Sargaço.
- Mas Sá! E esta tecnologia usada para separar água e pressão? – indaga a Capitã Iara.
- Nesse ponto começa o mistério! Será que existiu alguma civilização na Terra que antecede o próprio surgimento do homem?
- Extraterrestres você quer dizer? – comenta a capitã.
- Não necessariamente Iara, apesar de estarmos sob o que seria o Mar Glacial Ártico, existe uma antiga lenda que trata sobre um continente perdido.
- Atlântida? – pergunta a Comandante Ondina.
- Estamos um pouco à frente do limite norte do Oceano Atlântico. E tudo indica que esta civilização é mais antiga e avançada do que a suposta Atlântida. Isto se realmente algum dia existiu – completa o Dr. Sargaço.
- Bem! O que faremos então? – pergunta o Dr. Asa.
- Temos que ir até o fim deste mistério – diz o Dr. Sargaço.
- Já temos um módulo pronto para vocês, eu ficarei acompanhando da Estação – Diz a comandante.
     Minutos depois, o Dr. Asa e a Capitã Iara seguem para a área de desembarque. A Comandante Ondina aproxima-se do Dr. Sargaço segurando levemente em seu braço.
- Meu querido tenha bastante cuidado.
- Ondina, minha sereia! Entendo a sua preocupação! – Responde o Dr. Sargaço – Está tudo bem!
- Sá! Você sabe que houve abalos recentes e os intervalos estão sempre instáveis! Fique sempre em contato! – alerta a comandante.
- Teremos cuidado! Você e a central de comunicação acompanharão tudo. Quanto aos abalos, me preocupa o fato de um novo evento fechar a fissura e perdermos a oportunidade de compreender melhor do que se trata.
- Boa sorte, meu querido – beija-o
- Obrigado! Mas lembre-se que eu tenho que voltar para fazer aquele jantar – Escapa um leve sorriso.
     Um módulo iluminado parte da estação em direção às Montanhas de Netuno.
- Olha só aquilo! Um tubarão albino – aponta o Dr. Asa, entusiasmado.
- Têm muitos deles por aqui! A fauna abissal é bem numerosa nestas águas. Você precisa ver as espécies de peixes quimeras e os polvos. São bem comuns fora do alcance da luz e alguns são bem grandes – explica o Dr. Sargaço.
- Impressionante como não congelaram! – comenta o Dr. Asa.
- A atividade vulcânica submarina libera bastante calor e colabora com a vida aqui em baixo, inclusive para milhões de bactérias e plânctons, tudo é uma questão de adaptação – diz o Dr. Sargaço.
- Parece que chegamos ao limite da cortina da sua luz do dia Sargaço – alerta a Capitã Iara.
     Passaram-se 40 minutos até chegarem as Montanhas de Netuno. Ao contrário das naves que transitam no espaço e nos céus, houve pouco progresso na velocidade dos transportes aquáticos, porém, muito significativo em relação aos que existiam antigamente.
- Lá está! As Montanhas de Netuno! Conseguem enxergar as luzes dos robs? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Sim! Estamos vendo! – diz o Dr. Asa.
     Após um contato preliminar com os robs, o módulo submarino penetra na fissura da montanha e segue em direção a galeria.
- Lá está a cortina! – alerta o Dr. Sargaço.
- Entramos em algum tipo de correnteza ou é apenas impressão? – comenta o Dr. Asa.
- Não é impressão – explica a Capitã Iara – É possível que existam muitas correntes subterrâneas ainda desconhecidas nesta vasta região.
     O módulo atravessa a cortina e passa a emergir sob um pequeno lago. Após percorrer 100 metros aproximadamente, o módulo ancora em um píer construído pelos robs para facilitar o desembarque. Os tripulantes saem admirados com o que vêem. Olham para todos os pontos da galeria e tentam se concentrar em cada detalhe, ao mesmo tempo em que ensaiam uma tentativa de explicação.
     Uma área que se poderia dizer que foi uma caverna se revela. O teto é todo formado de cristais, com paredes e piso de uma riqueza de detalhes impressionantes. A arquitetura não se assemelha com nenhuma obra conhecida na Terra, o que reforça a teoria do Dr. Sargaço de ser alienígena.
- Como podem observar amigos. Aqui não temos vestígios de nenhuma influência anterior ou posterior a nossa civilização – diz o Dr. Sargaço.
- Será que sempre foi assim submerso? – pergunta a Comandante Ondina que tudo acompanha da Estação.
- A julgar pela cortina de pressão acredito que não! Essa cortina foi uma tentativa bem sucedida de proteger o interior da caverna e dos que provavelmente viveram aqui – comenta o Dr. Sargaço.
- Sá! Já temos resultados concretos de várias leituras dos infravermelhos dos robs, já podem avançar – avisa a comandante.
     Ao seguirem para outro compartimento da caverna, a equipe observa as luzes produzidas pelos aparelhos de leitura dos robs e de outras fontes destinadas a iluminar cada setor conquistado.
- Sá! Penso que deva existir alguma armadilha por aqui ou um sistema de segurança – comenta a Capitã.
- Bem! Até agora os robs não identificaram nada de hostil.
     Por alguns instantes, o Dr. Asa pára a caminhada e abaixa a cabeça.
- Sentindo os efeitos da ausência prolongada da Lua meu amigo?
- Sim. Não posso ficar mais de três dias nestas profundezas.
- Acalme-se! Em breve já poderá ir para a superfície. Você terá relatórios freqüentes de nossas atividades aqui.
- Eu sei. Essas descobertas poderão trazer surpresas. Gostaria de permanecer mais tempo aqui. Não se preocupe! Quando fizer necessária a minha presença eu voltarei.
     Enquanto isto no laboratório da Estação, a equipe do Dr. Sargaço inicia as análises das amostras trazidas da Lua pelo Dr. Asa, que estão inseridas numa minúscula cápsula de metal cuidadosamente vedada. Os técnicos se posicionam para efetuar as análises e uma campânula de vidro, desce protegendo o material. Ao abrir a cápsula, ficam confusos com o que vêem. São miríades de fagulhas suspensas e iluminadas de azul, parecendo microscópicos vaga-lumes. Também observam atividades e reações em culturas experimentais no laboratório e uma intensa atividade de animais marinhos na área externa da estação, exatamente posicionados, onde se localiza o laboratório. O evento foi imediatamente comunicado a Comandante Ondina que pede para os técnicos recolherem o material para a cápsula.
- Asa! Aqui é Ondina! Responda!
- Prossiga Ondina!
- Suas amostras lunares provocaram alguma reação estranha no laboratório!
- Que tipo de reação?
- Veja você mesmo! Estou transmitindo as imagens.
     Um rob aproxima-se do grupo e projeta as imagens em três dimensões.
- Com mil tubarões! Olha só isso! – espanta-se o Dr. Sargaço.
- Que luzes lindas! – comenta a Capitã Iara.
- Asa! Tem alguma idéia do que seja isso?
- Não, Ondina! Nenhuma! O que eu trouxe foram partículas de poeira contendo microscópicos compostos orgânicos!
- Sá! Olha só como os animais no exterior da estação reagiram! Estão eufóricos! Algo os atrai como um encanto! – relata a comandante.
- Interessante! – diz o Dr. Sargaço.
- Asa! Ordenei por medida de segurança fechar a cápsula! Tudo voltou ao normal! 
- Ondina! Assim que for possível retornarei ao laboratório!
     A equipe de exploradores se depara com uma parede lisa de cristal e os robs identificam sinais de atividade no recinto. Subitamente, todas as luzes e fontes de energia se apagam, os robs e os aparelhos desligam. Uma escuridão se acerca de todos. A Comandante Ondina perde o sinal de contato na central de comunicação da estação e fica aflita.
- Sá! O que está havendo?
- Não sei Iara! Os robs avisaram sobre alguma atividade e imediatamente tudo parou!
- Nenhum rob responde! – comenta o Dr. Asa.
- Nada funciona amigos! Perdemos o contato com a central! – completa o Dr. Sargaço.
- Essa escuridão! Isso não é bom! – diz a Capitã Iara.
- Bem! É melhor mantermos a calma!
- Mas Sá! Não enxergamos nada! Estamos expostos ao desconhecido, sem proteção!
- Asa, meu amigo! Desconfio que algo vá acontecer!
- Como sabe?
- Olhe à frente! Consegue ver aquele ponto de luz?
- Não vejo nada!
- Precisa comer mais cenoura!
- Sá! Não brinca!
- Mas eu não estou brincando! Olha só a luz ali! Consegue perceber agora?
- Sim! Eu a vejo! – comenta a Capitã Iara.
     Um zunido estranho ecoa, uma voz masculina se pronuncia em seguida.
- Tenha calma, meus amigos! Estão seguros!
O ponto de luz se alarga e ilumina toda a parede de cristal, do piso ao teto. O Dr. Sargaço olha para os robs e nota que eles continuam desligados. A estranha voz retorna.
- Não se preocupem! São meus convidados!
- Quem é você? – pergunta o Dr. Sargaço.
     A parede começa a tomar uma forma líquida como se desintegrasse. Uma imagem humanóide disforme começa a se ajustar transpassando-a. Surgi então um ser de quase dois metros de altura, de estrutura esbelta e bem postada, adiantando-se em pequenos passos.
- Meu nome é impronunciável em suas línguas. Mas para manter as suas tradições podem me chamar de Netuno. Você é o Dr. Sargaço eu presumo?
- Sim! É o meu nome! Já mim conhece?
- Conheço o seu trabalho e já o observo há muito tempo nessa região, assim como a Capitã Iara, a Comandante Ondina e toda tripulação da estação!
- Então deve conhecer o meu amigo aqui do espaço?
     O Dr. Asa olha para o Dr. Sargaço com em certo espanto.
- Sim! Conheço o Dr. Asa e ele é exatamente a presença que muito gostaria que aqui também estivesse.
- Quem é você? – pergunta o Dr. Asa.
- Há muitas perguntas e respostas. Mas posso lhes garantir que não somos hostis.
- Somos? – indaga a Capitã Iara.
- Permita-me aproximar-me mais um pouco?
- Sim! Fique a vontade! Afinal a montanha é sua – responde o Dr. Sargaço abrindo os braços receptivamente e olhando para cima.
     O Dr. Asa e a Capitã Iara se entreolham.
- Aprecio seu senso de humor apurado, Dr. Sargaço – diz Netuno.
- Pode me chamar apenas de Sargaço!
- Como queira.
     Netuno se aproxima e aos poucos é possível visualizá-lo com nitidez. Usa um tipo de túnica de cor vermelha sobre o corpo. E chegando há pouco mais de três metros pára e abaixa um tipo de capuz.
     Pela aparência, se confirma ser de um tipo humanóide, de pele branca e face com traços delicados. Os olhos ligeiramente arqueados de íris cor verde-esmeralda, contrastando com uma cor rósea tênue do globo ocular. Possui o rosto afilado, cabelos finos imaculadamente brancos e penteados para trás. Tem um semblante tranqüilo e amistoso que inspira confiança e tranqüilidade.
- Espero que não os tenha assustado. Não foi minha intenção.
- Não assustou muito. Achei a sua entrada em grande estilo – diz o Dr. Sargaço.
     Netuno esboça um sorriso ao que se nota dentes muito brancos e pequenos.
- Por que nossos robs estão desativados? – pergunta a Capitã?
- Eles estão bem – responde Netuno – Apenas não queremos arriscar a possibilidade de reações indesejáveis de defesa. A energia que aqui foi gerada com a minha chegada, também de certa forma, inibiu a energia utilizada por estas belas máquinas. Deixe-me apresentar. Sou um dos conselheiros do Rei das Águas, designado para interagir com os humanos!
- Conselheiro? Rei? – pergunta o Dr. Asa.
- Sim! Estamos próximos à entrada da civilização mais antiga que habita este planeta até o momento!
- Que civilização? Atlântida? – pergunta a capitã.
- Apesar de ter realmente existido, consideramos uma das mais recentes! Somos do povo Aumarante, descendentes do Planeta Sinos.
- Sinos? De que constelação? – pergunta o Dr. Asa.
- Perdão! Não me fiz claro o suficiente. Sinos é como o nosso povo chama o Planeta Marte.
- Marte? – surpreende-se o Dr. Asa.
- Sim, Asa. Posso assim lhe chamar?
- Claro! Mas Marte de quanto tempo?
- Bilhões de anos, jovem amigo. Bilhões de anos – responde o Conselheiro Netuno.
- Mas há quanto tempo estão aqui no Planeta Terra e por que vieram para cá? –                                                                                                            pergunta a Capitã Iara.
- Para sobreviver, jovem Iara. Como disse. Há muito que saber inclusive o real motivo de estarem aqui. Responderei todas as perguntas. Mas antes preciso que nos perdoe em chamá-los atenção desta forma até este mundo.
- Você quer dizer os maremotos? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Não, Sargaço. Não temos relação com estes tremores, pelo menos diretamente.
- Como assim diretamente?
- A fissura é uma das muitas aberturas que temos nestes oceanos. Foi aberta deliberadamente para que aqui viessem. Conhecemos o poder da curiosidade humana de investigar.
- Então Netuno. Aqui estamos! Fico aliviado em saber que não são os nossos vizinhos do fundo do mar os responsáveis pelos tremores. E sim os deslocamentos naturais das placas subterrâneas – diz o Dr. Sargaço.
- Sim, Sargaço. Exatamente isto. No entanto não há motivos para alívios.
     Ao concluir estas palavras, uma imagem holográfica aparece na parede de cristal.
     Um ser semelhante ao Conselheiro Netuno, ostentando uma vestimenta altiva e segurando um objeto na mão, tipo um bastão, demonstra uma iminente hierarquia. Aparentando ser mais velho, possui as mesmas feições amistosas do Conselheiro Netuno.
- Amigos! Quero lhes apresentar o nosso Rei das Águas.
- Navan! Sejam bem-vindos humanos – saúda o rei.
- Obrigado, majestade – responde todos ao seu tempo.
- Preciso que transmitam aos seus líderes os meus sinceros sentimentos de alegria e amizade. Em breve teremos com eles a missão de decidir o destino da raça humana e aumarante. O Conselheiro Netuno está encarregado de revelar um grande e nefasto destino, que a todos nós estará reservado caso não nos unirmos. - Navan! – ergue o bastão o rei e o Conselheiro Netuno responde:
- Navan, Majestade.
     As luzes acedem, os robs se movimentam e as comunicações são restabelecidas.
- Sá! Responda!
- Ondina! Que prazer em ouvir sua voz!
- O que houve? – pergunta aflita a comandante.
- É uma longa história! Estaremos retornando em breve! Ponha mais pratos na mesa, temos companhia para o jantar! Surpresa das boas! – diz o Dr. Sargaço que olha para o Conselheiro Netuno e pisca um dos olhos.
     O Conselheiro Netuno sorrir e olha para o Dr. Asa e a Capitã Iara, que balançam a cabeça desaprovando o comportamento informal do Dr. Sargaço.
- Sá! Como pode afirmar que o Conselheiro Netuno retornará conosco? – pergunta a Capitã Iara.
- Intuição minha querida! Intuição! Saiba que isto não é só um privilégio das mulheres – sorrir.
      O Dr. Asa e a Capitã olham para o Conselheiro Netuno e este com um balanço de cabeça, confirma a sua intenção.
- Sim, Iara. Terei que ir com vocês. Inclusive percebo o mal estar do Dr. Asa. Sei como amenizar os seus sintomas. Mas acho melhor fazê-lo na estação. Pretendo na superfície, entrar em contato com os seus líderes e explicar melhor a nossa aparição. Mas não irei sozinho.
     Ao fazer um sinal com as mãos, surgi mais dois seres aumarantes usando túnicas brancas. Um deles percebe-se que é do sexo feminino, com as mesmas feições do Conselheiro Netuno e com um olhar ainda mais doce, cabelos igualmente brancos sendo mais compridos e com um andar suave e discreto. Revela gestos delicados ao cruzar seus braços sob o busto que se percebe. O outro é mais jovem, menor um pouco, com as mesmas características fisionômicas do Conselheiro Netuno.
- Amigos! Quero lhes apresentar a minha família! Esta é minha esposa Danann e o meu filho Nuada.
Ambos fazem novas reverências.
- Estamos felizes por estarem aqui. Sejam bem-vindos – diz Danann.
- É uma grande honra para nós – completa Nuada.
     A central de comunicação da estação faz um novo contato.
- Sá! Está me escutando?
- Sim, Ondina, perfeitamente!
- Você diz que tem uma surpresa para mim, espero que seja melhor do que eu tenho para você!
- Como assim Ondina?
- É melhor vocês saírem da caverna e subirem para a sub-superfície!
- Está bem! Já estamos indo!
- Então Netuno. Acredito que irá nos acompanhar – diz o Dr. Sargaço.
- Sim! Já está tudo preparado. Encontraremos-nos na estação.
     Os aumarantes desaparecem pela parede de cristal que se desfaz. O Dr. Asa e seus amigos seguem para o módulo, sendo acompanhados pelos robs que também pilotam seus transportes. Partem para fora da caverna atravessando a barreira de pressão e reentrando em águas abissais.
     Os robs comunicam atividades externas e entram em posição de defesa. A Capitã Iara pede cautela e suspende a ação.
     Todos ficam sem acreditar no que vêem. Posicionados no entorno da fissura encontram-se centenas de estranhos submarinos aumarantes, que aguardam a saída do módulo e seguem em escolta. No caminho, se encontram com outras dezenas de módulos da estação, enviados pela Comandante Ondina, como medida de precaução. No painel holográfico do módulo submarino aparece a imagem da Comandante Ondina.
- Então Sá! Gostou da recepção?
- Nossa que espetáculo! Pelo visto andou fazendo novas amizades.
- Sim! Recebemos instruções dos aumarantes do que estava acontecendo! Sinceramente estou transtornada de surpresa! A tripulação da estação está ansiosa, mas tranqüila! Estamos preparando uma recepção!
- Ótimo! Faça isto! Eles estão em missão de paz!
     Nesta ocasião, o submarino do Conselheiro Netuno aproxima-se e acena com luzes, o que é prontamente respondido pela Capitã Iara.
- Estranho! – diz a capitã – Eles conhecem nossos códigos de sinais luminosos.
- Pelo visto – diz o Dr. Asa – Eles conhecem muito de nós.
     Durante o percurso, os submarinos aumarantes e os guiados pela escolta de robs interagem em animadas comunicações de luzes, num verdadeiro cortejo de movimentos.
     Ao chegarem à Estação Niflheim, todos se reúnem na área de desembarque aguardando a chegada da família aumarante. No interior da estação, os visitantes são conduzidos por robs e recebidos pela Comandante Ondina e uma parte da tripulação.
- Sejam bem-vindos.
     Com um gesto de simplicidade e reverência, a família aumarante agradece.
- É uma satisfação conhecê-la pessoalmente Comandante Ondina – Diz o Conselheiro Netuno – Essa é minha família.
- Estejam todos à vontade. Por favor, queiram me acompanhar para melhores acomodações.
     A escolta aumarante fica posicionada na área externa da estação. O Conselheiro Netuno e sua família passam por entre a tripulação que os observa curiosa, e de certa forma, temerosa com a desconhecida raça de seres jamais imaginados existirem naquelas regiões.
     A Estação Niflheim entra em contato com a sede do Conselho dos Clãs. Todos se preparam na Acrópole da Cidade de Palmeira dos Ventos para receber os aumarantes e as suas informações, que serão transmitidas mediante a cobertura da Rede Humanity e com interatividade global de todos os clãs, povos e colônias.

Capítulo 4

CERES

     Enquanto os acontecimentos no Planeta Terra dirigem todas as atenções para os aumarantes e suas incríveis declarações, as vidas nas colônias humanas seguem o cotidiano normal. A notícia da descoberta de outra civilização existente no fundo dos oceanos ainda não havia sido divulgada.
   No Planeta Ceres, os membros do Clã dos Adâmicos encontram-se felizes com a recente união dos seus filhos. O casal, cujos nomes são Ébano, 33 anos e Efígie, 23 anos, compartilham de momentos a sós nos primeiros dias casados.
- Aceita um chã? – diz Efígie.
- Sim! – responde Ébano.
    O casal encontra-se num terraço residencial próximo a um pequeno jardim. Enquanto conversam, admiram a noite ceriana, degustando o chá que eles orgulhosamente cultivam e que possuem aromas e sabores especiais.
- Tenho boas lembranças da Terra – disse Ébano – Às vezes tenho vontade de passar algum tempo por lá.
- Eu não tenho nenhuma lembrança. Conheço a Terra apenas por imagens. Sou uma Ceriana legítima! – sorrir Efígie.
- Você me acompanharia numa viagem? – pergunta Ébano.
- Seria uma lua de mel?
- Claro! Por que não? Poderíamos conhecer lugares incríveis e diferentes de Ceres!
- Seria maravilhoso. Mas temo deixar meu pai sozinho por muito tempo.
- Entendo – responde o marido com um semblante desanimado.
- Não fique assim. Se você quer tanto ir a Terra poderemos fazer a viagem, mas não podemos ficar por anos, no máximo uma primavera.
- Deixei muitos amigos quando era criança. Gostaria muito de revê-los.
- Temos muitos amigos aqui em Ceres – diz Efígie.
- Gosto dos meus amigos cerianos. São especiais. É que existem cheiros e sabores que só o Planeta Terra possui. Existem flores e animais em diversidade e um pôr-do-sol muito bonito. Nosso mundo possui as suas belezas, mas o Planeta Terra é simplesmente fantástico. Gostaria que nossos filhos nascessem lá – comenta Ébano.
- Imagino como deve ser difícil para um terráqueo viver longe de sua terra natal. Mas Ébano, somos felizes aqui em Ceres. Temos um mundo construído especialmente para nós. Somos uma garantia de continuidade da raça humana, a fronteira mais distante.
- Não me considero um terráqueo. Sou um ceriano e me orgulho disso. Apenas gostaria de rever o Planeta Terra nem que seja mais uma vez e poder compartilhar desta viagem com você.
- Falarei com meu pai. Ele entenderá. Tenho certeza que aprovará a nossa viagem – diz Efígie.
- Faria isto por mim?
- Desde o dia em que a minha mãe faleceu, ele está muito solitário. E apesar de ser muito apegada ao meu pai, também queria sair um pouco de Ceres, de preferência com uma excelente companhia como você. Mas os filhos, gostaria de tê-los aqui – Sorrir novamente.
- Tudo bem. Estamos acertados. Viajaremos para o Planeta Terra na próxima estação – decide Ébano.
- Quer mais um pouco de chá? – oferece Efígie.
- Sim. Um pouco mais, está muito bom.
     Ao se levantar, Efígie põe a mão na testa e perde os sentidos. Surpreso, Ébano a segura impedindo que caísse no chão, e ao fazer isto, também sente os mesmos sintomas e ambos desmaiam. Um rob da categoria AD, os auxiliares domésticos, entra no recinto e encontra os dois no chão. O fato é comunicado para outro rob que auxilia o pai de Efígie nas culturas de chá e cogumelos em uma das biosferas próximas.
- Mestre! Tenho uma mensagem do Rob Iron!
- O que houve?
- Sua filha e seu genro foram encontrados inconscientes! Robs médicos já seguiram para a sua residência!
- Contate o Rob Iron!
- Sim, Mestre!
     O rob da categoria AC, auxiliares de colheitas, faz uma ponte de comunicação do mestre com o rob da casa onde o casal se encontra.
- Iron! O que houve?
- Mestre Tálio! Os dois estavam desmaiados! Não encontramos nada de anormal além dos copos de chá! Os médicos já analisaram os resíduos do líquido e não há sinais de envenenamento, estão sendo reanimados!
- Já estou indo para casa! Quando acordarem avise que estou chegando!
- Sim, mestre!
     Ao chegar à sua residência, o Mestre Tálio encontra o casal um pouco refeito do mal estar.
- Filha!
- Pai!
- O que houve?
- Uma visão!... Horrível!
     Há várias gerações desde o nascimento dos primeiros cerianos, que as aptidões extra-sensoriais vêm se desenvolvendo neste grupo de seres humanos, que são estudados pelos poucos cientistas que existem no planeta. Não se sabe ao certo se estas habilidades são devido a um indício de prováveis mutações genéticas ou adquiridas, estimuladas por influência da atmosfera ceriana.
- Como era essa visão filha?
- Não sei direito pai! Sugiram muitas luzes de cores diferentes seguidos de explosões! Senti muita angústia!
- Também tive as mesmas visões mestre! – comenta Ébano ao sogro.
- Venham vocês dois! Precisam descansar, depois conversamos!
     O Mestre Tálio, 71 anos, é o líder supremo do Conselho de Ceres e também representa o Clã dos Adâmicos, possui avançados conhecimentos agrícolas e sentidos aguçados. Ele já havia experimentado os sintomas parecidos com o do casal, no entanto, por ser mais desenvolvido, teve domínio sobre estas reações. Sem perder tempo, ele se dirigiu para o comando das forças de defesa de Ceres, onde funciona a central de comunicação e os núcleos de ciências.
     Ao chegar, encontra um grupo de cientistas analisando dados de uma onda eletro-magnética desconhecida, que se deslocou próximo ao Planeta Ceres. O setor de defesa, liderado pelo Comandante Lítio, 48 anos, do Clã dos kami, recebe informações preliminares dos cientistas
- Lítio! O que houve?
- Ainda não sabemos ao certo Mestre Tálio! Um intenso deslocamento de uma onda eletro-magnética atingiu parcialmente a órbita de Ceres! E as nossas comunicações estão comprometidas!
- De onde veio? Qual a sua origem?
- Foi detectada uma massa de origem desconhecida próximo ao Planeta Júpiter! No entanto, nada foi observado nesta região pelos telescópios de fronteira! As duas estações espaciais que fazem o monitoramento em sua órbita foram destruídas! Os fragmentos foram atraídos pela gravidade e queimados na atmosfera!
- Houve registros ou alguma comunicação com os robs?
- Nenhum mestre! Acreditamos que não houve tempo! Esta força provavelmente anulou os nossos robs!
- Mas como pode ser? Uma massa invisível?
- Os cientistas têm uma teoria de como esta massa se encontra invisível e não emiti nenhuma onda ou sinal!
- Prossiga! – diz o Mestre Tálio.
- Baseamos as nossas conclusões na teoria do reflexo da luz! Vemos os objetos porque a luz se reflete nos mesmos! Esta massa ou corpo celeste não absorve a luz, o tornando invisível! Os elétrons do seu campo vibram e se ajustam com a mesma intensidade de onda da luz nele projetada!
- E quais são as conseqüências além da interrupção das comunicações?
O Comandante Lítio olha para o Mestre Tálio com preocupação.
- Tudo leva a crer que essa onda provocou uma perturbação no cinturão de asteróides, que foram lançados aos milhares em nossa direção! Os cientistas identificaram e calculam outra rota instável destes meteoros! Uma grande quantidade deles já atingiu o Planeta Júpiter! Estamos em perigo e já ativei o alarme!
- Precisamos sair da superfície de Ceres em poucas horas o mais rápido possível! A colônia será destruída! Não conhecemos ao certo a dimensão dos estragos!
- Avisaremos os clãs para seguirem aos abrigos profundos! Ficaremos confinados até chegar à ajuda! – ordena o Mestre Tálio.
    Sinais de socorro foram enviados ao Planeta Marte que também detectou o fenômeno, passando a calcular a direção e extensão da onda eletro-magnética, retransmitindo todos os acontecimentos para o Planeta Terra.
     Na colônia de Ceres, centenas de humanos embarcam em vagões de transporte com destino aos abrigos de emergência, projetados e preparados para estas ocasiões, e que nunca foram utilizados em circunstâncias tão inusitadas. Os transportes chegam a abrigar 500 pessoas por viagem e seguem em velocidade para o interior do planeta.
     Uma comoção geral assola os habitantes, tudo tem que ser deixado para trás, pois não houve tempo hábil para uma evacuação tranqüila e planejada. As pessoas chegam à beira do desespero.
    Ainda mal se completava a evacuação, os primeiros fragmentos já começam a queimar na atmosfera e cair no Planeta Ceres. A cidade sofre com os primeiros impactos e centenas de pessoas que se atrasaram em atender o chamado de alarme começam a morrer. As cúpulas de proteção das vilas que abrigam os clãs e biosferas explodem, provocando grandes incêndios. As chamas modificam o cenário da colônia.
     Após algumas horas tudo está destruído, a atmosfera saturada e o povo ceriano refugiado no subterrâneo a espera de socorro.
    Nos abrigos, existe uma complexa estrutura que permite a sobrevivência humana por muitos meses. No entanto, devido os efeitos de proporções desastrosas acontecidas na superfície do planeta, comprometeu uma maior eficiência de sobrevida.
     Os meteoritos danificaram todas as estruturas externas de comunicações, inclusive as orbitais, onde dezenas de satélites emitiam e recepcionavam os sinais vindos de Marte, Lua e Terra, além de outras pequenas naves tripuladas por robs em áreas de fronteiras planetárias.
     Os abrigos cerianos, seguindo o padrão das outras colônias, foram as primeiras formas de moradia no planeta. Com o tempo e o avanço das construções na superfície, estes abrigos serviram para dar apoio em construir outra cidade no interior do planeta, prevendo inclusive a possibilidade de proteger seus habitantes no caso de mudanças atmosféricas bruscas. Por está próximo do cinturão de asteróides, os cerianos convivem diariamente com centenas de meteoritos que se queimam na atmosfera e outros que atingem o solo, mas nunca se cogitou entre os cientistas a tragédia que agora se apresenta.   Na cidade subterrânea existem fontes de energias renováveis, água, oxigênio, alimentos e um sistema de controle de temperatura. Até então, poucos cerianos se encarregavam de freqüentar estes ambientes, sendo a maior parte dos trabalhos realizados por robs.
    Os impactos provocados pelos meteoritos bloquearam as principais entradas para os abrigos, não havia mais saída por estas passagens que levariam meses para serem reabertas. Antigos túneis auxiliares seriam utilizados mediante procedimentos arriscados, pois ainda não se conhecia os pontos não afetados que poderiam ser seguidos com segurança.
    Tudo estava extremamente difícil com a perda dos robs engenheiros e de outras máquinas indispensáveis à manutenção e trabalhos diversos, que se encontravam em sua maioria destruídos na superfície.
     O povo ceriano se deparava pela primeira vez diante de um novo paradigma, pois teriam, mesmo com o auxílio dos poucos robs, de utilizar a mão de obra humana para várias atividades fundamentais à sua sobrevivência, expondo o que se tinha de mais nobre no propósito fundamental da existência dos robs: proteger a vida humana.

Capítulo 5

 MARTE
    
     A colonização humana existente no Planeta Marte, seguiu uma motivação diferenciada dos Cerianos. As pessoas que concluíam os testes vocacionais realizados nos Planetas Terra e Ceres, eram destinadas as várias funções e as que sinalizavam tendências mais exaltadas e de posturas mais aguerridas, eram convidadas para exercerem atividades em Marte.
     Constitui os marcianos em sua maioria, a formação perfeita para soldados, tornando as muitas colônias no planeta extremamente bélicas. Todos os investimentos em pesquisas e atividades estão voltados para as operações de salvamento, defesa e guerra. Apóiam sistematicamente o Planeta Ceres e outras colônias humanas já existentes ou em fase de implantação. No Planeta Terra, apenas os robs especializados desempenham atividades similares.
    Em Marte, os robs são pouco utilizados em exercícios de manobras. Possuem uma programação bem definida no que concerne à defesa dos humanos e do seu patrimônio. São por razões práticas, os primeiros soldados que chegam aos destinos de conflitos ou de emergências, pois são lançados em naves mais velozes e não compatíveis com a tripulação humana. O sentimento que motivam os marcianos é da constante iminência de se precisar atuar em conflitos nunca antes existentes em nosso sistema solar.
     O Planeta Marte não é uma prisão, um exílio ou um mundo de pessoas violentas, ao contrário, é bastante harmonioso. Apenas foi com o passar dos anos, uma solução de convivência pacífica de muitos homens e mulheres que conservam e cultuam o espírito da guerra. Essa cultura não é imposta aos nascidos em Marte e é bastante comum a migração de marcianos para o Planeta Terra e Ceres, daqueles que amam a sua terra natal, mas cujas aspirações e natureza não são “compatíveis” com as tendências que outrora gerou essa postura cultural dos seus habitantes.
     São povos felizes e orgulhosos pela sua condição. As colônias oferecem todas as opções disponíveis para a permanência e convivência pacífica.
     Costumam vir ao Planeta Terra com grande regularidade. São bem recebidos pelos terráqueos, mas causam certo temor em algumas crianças e jovens. Não se caracteriza preconceito, mas é fácil identificar um marciano. Eles expõem suas excentricidades nas roupas, a cor vermelha é constante, no uso de metais e colares diversos oriundo do solo local.
     Geralmente são mais altos e robustos. Alguns usam cabelos grandes sem muitos cuidados, às vezes soltos outros amarrados. Há os que são carecas e os que também fazem parte de uma minoria que não adota nenhuma das posturas citadas. No entanto, existe no olhar e no jeito calado e discreto de se apresentar, um comportamento típico deste interessante povo, que são capazes de sacrificar as próprias vidas em defesa da humanidade.
     No Complexo de Summerland, oficiais e soldados se agitam. As primeiras comunicações e imagens recém chegadas de Ceres fazem engrossar as fileiras de voluntários para o embarque de socorro com destino ao planeta. A angústia da possibilidade de ter perdido amigos e familiares, aliados a falta de informações detalhadas, conduz metade do efetivo de soldados robs para as plataformas nas luas marcianas de Fobos e Deimos.
     Das cúpulas de observação do complexo, são facilmente avistados os brilhos das naves partindo das luas em altas velocidades. Na superfície de Marte, os aglomerados de caças começam disciplinarmente a se deslocarem em meio à poeira e gases liberados nas plataformas. Sobem os primeiros grupos de naves 

cargueiras, hospitalares e cruzadores de guerra repletos de robs e humanos, alterando a paisagem do céu marciano.

     Como um farol, um satélite artificial emite um sinal luminoso de alerta circulando a órbita do planeta. Esta luz só se apagará, quando se estabelecer à normalidade.

     Ainda no Complexo de Summerland, o alto comando militar reunido com os cientistas e técnicos, analisam as poucas informações que foram possíveis captar do Planeta Ceres, enviadas pelas estações de fronteiras e que foram retransmitidas para o Planeta Terra.

     O Conselho de Clãs Marciano é liderado pelo Mestre Menés, 80 anos, do Clã dos Tinis. Ele é admirado pela sua inteligência e natural vocação de conduzir o desenvolvimento da colônia, que é considerada a mais próspera do sistema solar. Alguns chegam afirmar que em muito breve, a colônia ganhará o status de cidade.

     É conhecida também por possuir um avançado e eficiente arsenal militar de grande poder de destruição. As suas armas são projetadas para garantir a segurança e a proteção da raça humana, missão que é cumprida com orgulho e esmero.

     Ao entrar na sala de comando, o Mestre Menés é recebido por um dos oficiais superiores, o General Ares, 42 anos, do Clã dos Tholis.

- Mestre Menés! Que bom que esteja aqui!

- Como vai general? Parece que não temos boas notícias?

- Não mestre! Infelizmente não!

- Todos os clãs estão querendo saber o que houve de fato em Ceres! Como sabe, temos parentes e amigos!

- Mestre Menés! O que aconteceu ou ainda acontece em Ceres são desconhecidos! Recebemos informações pouco conclusivas do evento, mas o suficiente para confirmar que a superfície do planeta e toda extensão de solo da colônia foram destruídas!  

- Onde está o General Nergal?

- Seguiu com os cruzadores dando cobertura as demais naves de apoio! Estava em Marte de passagem, comunicou que pensava fazer uma visita a Terra e rever parentes e amigos!

- Pelo que sabemos! Faz muito tempo que Nergal se encontra no espaço!

- Sim mestre! O espaço é a sua área de comando!

      O Mestre Menés olha para o general e depois caminha com discrição para um painel que mostra as últimas imagens do Planeta Ceres. Ele Cruza os braços, fecha os olhos lentamente e pergunta:

- General Ares. Existe alguma chance de sobreviventes? Temos novas conclusões do que aconteceu?

- Mestre! Temos muita confiança nisto, inclusive captamos sinais de socorro típicos dos abrigos. Certamente houve muitas mortes, mas acredito que a maioria esteja viva, por isso enviamos o maior contingente de apoio possível. Em princípio, o que houve com o Planeta Ceres é que ele foi atingido por milhares de meteoritos e que provavelmente, foram espalhados do Cinturão Kuiper por uma força ainda desconhecida.

- Este fenômeno é comum general?

- Não, mestre. Nunca foi observado. Inclusive qualquer força de impacto desta natureza no cinturão de asteróides ou em Oort, deveria preceder de uma maior extensão no deslocamento dos meteoritos.

- Como assim general?

- Diversos fragmentos não se dispersaram de forma aleatória e seguiram uma rota em direção aos Planetas Júpiter e Ceres respectivamente.

- E os outros planetas?

- Os demais planetas estão seguros em seus períodos orbitais e não serão atingidos. Inclusive Marte e Terra.

- Quer dizer que os meteoritos seguiram exclusivamente para Júpiter e Ceres?

- Em princípio sim. O Planeta Júpiter foi o mais atingindo, estava praticamente à frente desta força eletro-magnética que curiosamente não atingiu os meteoros, apenas os arrastaram. Se não fosse à coincidência de alinhamento da órbita de Júpiter, apesar da considerada distância que os separa, os danos na superfície ceriana seriam desastrosas.

- Então quer dizer que os meteoros surgiram com esta força eletro-magnética?

- Parece estranho Mestre. Mas no momento é a única explicação razoável.

- Os meteoros ainda estão caindo na atmosfera de Ceres?

- Pelo que observamos de nossos telescópios de fronteiras, não. Mas ainda estão chegando novas imagens e informações.

- General Ares. Faz alguns meses que uma expedição científica partiu de Marte em direção ao Planeta Makemake.

- É verdade mestre! A Expedição Rapanui seguiu com uma nova missão de tentar implantar outra colônia humana no sistema solar, um passo a mais na fronteira! Muitos voluntários de Marte, Terra, e Ceres estão presentes, além de centenas de robs!

- Sabem se foram atingidos pelos meteoros?
- Soubemos há pouco que não. Neste período, as órbitas do Planeta Makemake e do Planeta Éris ficam muito próximas. Eles aproveitaram uma vantagem magnética para acelerar a chegada ao destino. E exatamente por estarem próximos à Éris não foram atingidos.
-         Eles sofreram algum efeito da onda eletro-magnética?
-         Não mestre! Estão em segurança!
     O General Ares se mantém como um típico marciano, com uma postura discreta e prudente. Possui receios de comentar informações que ainda não foram devidamente confirmadas. No entanto o Mestre Menés exerce o seu papel de líder dos clãs marcianos e precisa de toda informação possível para saber como lidar com os ânimos da população. Esta situação é perfeitamente percebida entre os olhares dos dois homens. Mas a situação hierárquica do Mestre Menés é absoluta.
- General! Sabe que represento também o seu clã e entendo a sua resistência em revelar informações contundentes. Mas quero que saiba que estou aqui no momento para apenas compartilhá-las com você.
- Obrigado, Mestre. Estou feliz que esteja aqui do meu lado e agradeço a sua compreensão.
- Precisamos – continua o mestre - Reunir todas as nossas habilidades de compreensão e agir com precisão.
- Mestre! Estou recebendo sinais de contato com a expedição Rapanui.
     Há vários anos que a raça humana pretende estender seus conhecimentos para além do Planeta Ceres e os recentes avanços tecnológicos, têm demonstrado possibilidades de se testar novos modelos de colonização frente às adversidades atmosféricas de alguns planetas.
     A Expedição Rapanui é liderada pela Comandante Ísis, uma marciana de 37 anos, do Clã dos Quemi. Tem como missão conduzir cientistas, robs e voluntários humanos para criar uma base de pesquisa no Planeta Makemake. Esta expedição fornecerá subsídios que possam justificar ou não uma futura colonização.
     A Comandante – continua o general - Informa que o Planeta Éris teve sua luz intensificada.
- O que será então?
- Possivelmente uma hiper atividade em seu núcleo. Seu brilho vermelho é tão intenso que pode ser percebido facilmente ao olhar para o céu.
- Certamente isto também não é comum?
- Não, mestre – continua – A exemplo do nosso satélite farol que neste momento circula a órbita de Marte, o Planeta Éris se comporta como se enviasse um sinal de alerta. É óbvio que esta possibilidade é remota, pois nunca captamos sinais inteligentes que pudesse viver num ambiente de crosta e atmosfera desfavoráveis.
- Existe outro fenômeno que nos intriga – continua o General – Trata-se de uma massa invisível, também de constituição eletromagnética, que passou muito próximo de Ceres e que possivelmente tenha sido a responsável por tudo A Comandante Ísis chama de matéria escura.
- Uma massa invisível?
- Sim, mestre. Um corpo celeste se deslocando no espaço sideral.
     Neste instante, novas comunicações chegam da Expedição Rapanui.
- Ares! Temos confirmação de antecedentes deslocamentos da matéria escura.
- Pode falar Ísis!
- Essa coisa não provocou nenhuma perturbação em Oort! Na verdade, surgiu misteriosamente depois dela, já em área do nosso sistema solar. desviando velozmente chegando pro  omo se enviasse
- Ísis! Estou com o Mestre Menés aqui comigo. Pode explicar melhor suas conclusões?
- Mestre Menés há quanto tempo?
- Saudações Ísis! Precisamos de mais informações!
- Mestre! É um fenômeno estranho! A massa escura deixou um rastro de desaceleramento evitando colidir com Júpiter, desviando velozmente e chegando próximo a Ceres. Registramos alguma intervenção contra-magnética oriundo do Planeta Éris que alterou o destino dos meteoros.
- Comandante! Existe uma ação inteligente nestes fenômenos?- pergunta o mestre.
- É difícil de afirmar! No entanto, se tivesse atingido em sua totalidade, os efeitos em Ceres culminariam em extinção e a Rapanui sofreria um dos maiores desastres da história espacial humana!
- Ísis! Temos confirmação do deslocamento da matéria escura e dos meteoros? – pergunta o general.
- Não, Ares! Os meteoros que não explodiram em Júpiter e em Ceres deslocou-se para outros pontos que no momento não representam riscos para a Terra e demais colônias! Aparentemente o Cinturão de Asteróides e Oort encontram-se estáveis!
- Enviamos socorro para Ceres! Corremos o risco de encontrar vestígios? – pergunta o mestre.
- Não, senhor! O que for encontrado será facilmente destruído e desviado por nossas armas!
- E quanto a matéria escura? – pergunta o general.
- A matéria escura estacionou próxima de Ceres!
- Parou?
- Sim, Ares! Há momentos em que desaparece completamente de nossos radares! Recomendo que a esquadra que segue para Ceres fique atenta quanto a este fato!
- Obrigado Ísis! – diz o general – Avisaremos imediatamente a Nergal!
Capítulo 6

A REDE HUMANITY

     Os eventos acontecidos no Planeta Ceres, o deslocamento de socorro das tropas marcianas e a descoberta da matéria escura, já mobilizam todos os terráqueos na busca de entendimentos dos fatos adversos que comprometam à proteção da raça humana.
     O Conselho dos Clãs já se encontra reunido na Acrópole de Palmeira dos Ventos, terra natal do Dr. Asa, que acompanhados dos seus amigos cientistas e da família aumarante, aguarda o anúncio da Rede Humanity que transmitirá para toda a raça humana na Terra, colônias e demais naves em trânsito no espaço, o pronunciamento do Mestre Clístenes, 77 anos, do Clã de Olímpia.
- Povo Humano! Saudações fraternas! Acredito que seja do conhecimento geral os fatos que se seguem nos últimos dias e que de forma inusitada e surpreendente, desafia a nossa compreensão! Compartilhamos mais uma vez de angústias que diz respeito a nossa sobrevivência, do direito de existir e de perpetuar as nossas heranças nas fronteiras do tempo. Como foi anunciado, a Rede Humanity transmitirá integralmente a revelação de fatos novos, esclarecedores e por que não dizer, impressionantes! Temos entre nós, um ilustre representante de outra espécie, de um mundo desconhecido, e que se apresenta com o nome de Netuno. Ele é membro de um conselho real e foi designado para intermediar os contatos com a raça humana! É importante salientar, que o Conselho dos Clãs nunca soube da existência desta civilização, que se apresenta amigável e prestativa em responder todas as perguntas pertinentes à decisão de se deixar revelar a sua origem e história. Mais do isso! Consideramos este encontro como uma união de forças, para enfrentar uma ameaça que em breve afligirá não somente o Planeta Terra, mas todo o nosso sistema solar, inaugurando uma nova era, e que mais uma vez exigirá sacrifícios e união! Peço a todos que recebam respeitosamente, o Conselheiro Netuno e sua família!
     Neste momento, todos os líderes dos clãs presentes na assembléia se levantam e demonstram em demorada e entusiasmada salva de palmas a receptividade típica dos terráqueos.
     Após um breve agradecimento, o Conselheiro Netuno e família tomam acento no plenário. Um seleto grupo de jornalistas organiza as perguntas que serão formuladas, utilizando a linguagem pública oficial da humanidade.
Rede Humanity: – Conselheiro Netuno. Ao entrar em contato com os nossos cientistas no mundo marítimo abissal, o senhor afirmou que o seu nome era impronunciável em nossas línguas e que adotou um codinome típico das nossas mitologias. Revelou também, que pertencente a uma raça chamada de aumarante?
Conselheiro Netuno: – Sim é verdade! Ao fazer parte do Conselho Real Aumarante, mantemos uma tradição milenar de expressão e comunicação complexa que se reflete não apenas na fonética, mas em gestos simples e peculiares que se complementam com transmissões telepáticas. Conhecemos todas as línguas e dialetos humanos atuais e extintos. Somos da raça aumarante, descendentes dos aumarinos. E que se desenvolveu e evolui neste planeta há milhões de anos atrás. Quanto em adotar o nome Netuno, lembro que em outras épocas da história do Planeta Terra, interagimos discretamente com os humanos, e destas relações, surgiram lendas e nomes mitológicos inspiradas em nós e que até hoje existem.
RH – O senhor comentou que os nossos cientistas estavam na entrada de uma das civilizações mais antigas do Planeta Terra e que no momento foi cogitada a possibilidade de ser da lendária Atlântida?
CN – Sim! O mundo aumarante é uma das mais antigas civilizações deste planeta. Com exceção a que nos antecede a origem aumarina. Os atlantes realmente habitaram esse mundo, mas sucumbiram diante de ofensivas extraterrestres. Não eram aumarantes e sim deluvianos. Habitantes de um antigo planeta co-irmã orbital da Terra, chamado de Theia e que foi destruído. Tentavam sobreviver neste mundo. Nesse remoto período, a Terra passava por importantes transformações em sua estrutura geológica e climática, completando a sua evolução planetária para o florescimento da raça humana. Foram tempos difíceis para muitos outros seres de origem não terráquea, condenados aqui a viverem. Existia uma nova biosfera que se formava e que se adaptava mesmo diante de fenômenos como o deslocamento de continentes, mudanças climáticas, inundações de regiões, extinção e surgimento de novas espécies vegetais e animais. Muito diferente da atmosfera composta de substâncias incompatíveis com a vida outrora existente. Houve uma época na história deste planeta, que algumas raças de outros mundos trazidas por seres hostis, foram aqui deixadas para a morte e que apesar dos esforços e conhecimentos que possuíam, não resistiram por muito tempo. Do fundo dos mares, os aumarantes já existiam, testemunhando e registrando todos estes acontecimentos. Já tínhamos uma tecnologia avançada que permitia sustentar a nossa sobrevivência. Uma fonte de energia garantia a nossa segurança e apesar de tudo, ainda existiram perdas irreparáveis em nosso povo. Em breve, toda a história existente neste e em outros mundos estarão à disposição da raça humana.
RH – Como os outros seres que viviam na Terra foram destruídos? Guerras? Doenças?
CN – Um pouco de cada. Após a investida de um meteoro na atmosfera da Terra, os poucos sobreviventes não tinham condições de viver em um ambiente hostil e insalubre. A luta pela vida se brutalizou. Os deluvianos eram mais fortes em relação aos outros seres, mas mesmo assim não resistiram.
RH - Mas os aumarantes sobreviveram?
CN – Sim, sobrevivemos. Infelizmente não podíamos interferir, nem tampouco, auxiliar diretamente no destino destes seres, apesar de tentarmos. Promover o florescimento da raça humana era um dos nossos propósitos. Colaboramos para que essa evolução chegasse a um nível de consciência mais avançado e muito nos impressionou a rapidez do desenvolvimento e da capacidade humana de adaptação e resistência.
RH – Os aumarantes são extraterrestres? É do planeta Marte?
CN – Não. Somos terráqueos como vocês. Nossa origem aumarina é do Planeta Sinos, conhecido entre os humanos como Marte. Na verdade, somos o que podemos dizer os primeiros habitantes do Planeta Terra.
RH – E nós humanos? Somos também de origem extraterrestres?
CN – Não. Os humanos são o que consideramos a raça legítima deste planeta. Sua origem foi planejada para aqui ser desenvolvida e evoluída.
RH – Quem trouxe outras raças para cá e depois às exterminou?
CN – A mesma que obrigou a refugiar nossos ancestrais aumarinos na Terra. A Danu Lilith, um ser poderoso, uma deusa, o demônio feminino da escuridão, a face da morte, o vento do mal.
RH – O que aconteceu em Marte?
CN – Foi atacada pelos draconianos que servem o império da Danu Lilith nesta dimensão. Houve resistência heróica dos aumarinos, mas pouco se podia fazer fora do ambiente aquático. Eram vulneráveis e seus corpos delicados e frágeis para ações extremas. A evolução ainda dava seus primeiros passos na formação dessa raça.
RH – Os aumarinos viviam na água?
CN – Sim. Sua origem era aquática, mas ao contrário da raça humana, existiu para viver e evoluir exclusivamente nesse ambiente. Possuía uma natureza anfíbia permanente.
RH – Havia água em Marte em épocas remotas?
CN – Sim. Muita água. Com densidade e qualidade que atendia a sobrevivência aumarina. Seus próprios cientistas comprovaram a existência de água em Marte há centenas de anos atrás.
RH – Por que foram atacados? Colonização extraterrestre? Submissão à questão da sobrevivência de outros seres? Não havia possibilidade de co-existência?
CN – Podemos resumir no fato da Danu Lilith querer domínio absoluto deste sistema, que é a primeira fronteira de passagem do seu mundo. Quanto à co-existência com os draconianos era impossível. A Danu Lilith queria se apoderar de algo mais precioso, e destruía tudo que se opusesse à conquista do seu desejo.
RH – O que a Danu Lilith queria?
CN – Subjugar o Dagda, a fonte da criação e existência da raça aumarina. A Danu Lilith queria também se apoderar da água do Planeta Sinos que também era utilizada para potencializar um portal para o seu mundo.
RH – O quem vem a ser um Dagda?
CN – Em palavras mais simples, são deuses co-criadores. Uma forma de vida superior e que possui seus próprios mecanismos de evolução. Um criador e gestor de mundos. Os dagdas são deuses bons e o nosso não arriscaria expor a raça aumarina num conflito de forças injustas por muito tempo.
RH – E conseguiram se apossar do Dagda? Do seu deus e criador?
CN – Sim! Ele se permitiu subjugar aos caprichos da Danu Lilith a pedido de outra deusa, em troca de manter a sua obra de criação, ficando sob a guarda dos draconianos!
RH – E como se deu a destruição do Planeta Sinos e de seus ancestrais?
CN – Como era de se esperar, a Danu Lilith não cumpriu o acordo e aprisionou o nosso Dagda, lançando destruição em Sinos.
RH – Como se deu esta destruição?
CN – Usam sempre a mesma ação! Movem meteoros ou outros corpos celestes em órbitas próximas, que destroem a face dos planetas. Nossa atmosfera não resistiu e nossos mares secaram, houve extinção em massa não só de aumarinos como de toda a biodiversidade existente em Sinos. Fizeram isto aqui na Terra também, como eu havia dito anteriormente.
RH – Como conseguiram vir para o Planeta Terra?
CN – A Danu Lilith tem uma irmã. Que se desenvolvia nesta dimensão, que possui uma natureza diferente das sombras que escraviza e mata. Ela gera vidas como o nosso Dagda, é uma herdeira direta do domínio deste ponto do espaço, predestinado à criação. Estava com o nosso Dagda em semear vida e prosperidade a este sistema solar. A Danu Lilith não aceitava a união deles e mostrou a sua face sombria. Quando o nosso Dagda foi aprisionado, a sua irmã conhecendo bem a natureza da Danu Lilith se antecipou e ordenou a retirada dos poucos aumarinos que ainda existiam antes da destruição final. Essa tarefa de salvamento foi executada pelos deluvianos, que os trouxe para o Planeta Theia.
RH – Quem são de fato os deluvianos?
CN – Eram extraordinários seres humanóides. Que apesar da sua altura em comparação com as estaturas conhecidas na Terra, tinham boa aparência. Serviam à deusa boa e ao nosso Dagda. Zelavam por este sistema solar antes de serem dominados pelos draconianos. Viviam provisoriamente no Planeta Theia, onde trabalhavam a preparação de um planeta vizinho para uma obra de criação da deusa boa, a Terra.
RH – Como os deluvianos vieram parar no Planeta Terra?
CN – A Danu Lilith já tinha o que queria, o nosso Dagda. E no início, não sabia o que a irmã fazia, pois ela não representava ameaça. A Danu Lilith soube depois pelos draconianos que o nosso Dagda conhecia as intenções de socorro do povo aumarino pela deusa boa e isto provocou sua ira. Ela não queria nenhuma criação do nosso Dagda prosperando neste sistema.
RH – Por quê?
CN – Nunca soubemos. Existem razões na existência destes deuses que não conhecemos. A Danu Lilith enviou um cometa que destruiu Theia. Uma destas partes se chocou com a Terra que nessa época não havia vida. Antes disso os draconianos mataram, aprisionaram e escravizaram os deluvianos que passaram a viver com eles no Planeta Dracon. Essa co-existência forçada durou milhões de anos, mas os deluvianos nunca perderam a crença e a esperança de que a deusa boa em que serviam ainda existia, pois nunca souberam do seu destino. Achavam que a Danu Lilith também havia subjugado ou assassinado a própria irmã, tirando-a definitivamente do seu caminho. Em determinados momentos na história do Planeta Dracon, houve várias rebeliões do povo deluviano que foram mais uma vez perseguidos e mortos pelos draconianos. Um grupo importante dos deluvianos rebelados foi condenado a viver sem recursos no Planeta Terra, que já possuía um estágio avançado de evolução. O planeta já comportava uma curiosa existência de vida inferior que segundo a lenda, foi possível existir devido aos fragmentos da deusa boa. Os seres existentes se desenvolviam em estágios sofridos e selvagens, procedimentos de criação incomuns para estes deuses. Ao serem largados na Terra, nós do povo aumarante descendentes dos aumarinos, já prosperávamos escondidos no fundo dos oceanos e lagos. Prestamos discretamente solidariedade aos desprotegidos e admiráveis gigantes deluvianos. Durante todo esse tempo, a Danu Lilith abandonou essa dimensão e nunca mais houve qualquer referência de onde se encontrava. Após centenas de anos, os draconianos receberam instruções da Danu Lilith para saírem deste sistema solar e seguirem para outras ambiências da constelação, provavelmente para atormentar outros povos. Os draconianos sabiam que os deluvianos milagrosamente construíram uma civilização. Eles não queriam deixar vestígios de vida consciente neste sistema solar, pois as outras formas de vida eram destinadas ao simples hábito de caçar. Alteraram a rota de um cometa direcionando-o para a Terra. Como conseqüência, houve uma grande perda de biodiversidade e uma extinção de grandes proporções que mais uma vez atingiu o frágil Planeta Terra. O povo aumarante desenvolveu naves que permitiram a fuga de muitos deluvianos para o espaço, mas nunca se soube se realmente chegaram ao seu destino. Não poderíamos emitir sinais de comunicação e entregar a nossa posição aos draconianos. Assim como nós, os deluvianos também tinham a sua fonte de vida, o seu Dagda, mas estavam a serviço e proteção da deusa boa. A Danu Lilith isolou o nosso sistema solar de qualquer possibilidade de percepção de outros deuses, que devido a sua natureza nômade e a infinita dimensão do universo, não perceberam suspeitas do que aconteceu neste sistema. Não havia esperanças de contar com a ajuda de outros deuses bons e poderosos, pois a noção de espaço e tempo destes seres faz destes acontecimentos por mim narrados em um período muito curto. Nas suas escalas temporais, resumi-se apenas em algumas dezenas de anos. E tudo isto só faz confirmar como ainda é efêmera a resistência e longevidade dos nossos corpos.
RH – Como se desenvolveu a existência aumarante?                              
CN – Quando Theia foi destruída, a deusa boa sabia que sofreria represálias da irmã má. Ela é a mais jovem e não possui uma natureza hostil. Temendo a própria destruição ou de ser subjugada também, usou de uma estratégia inteligente. Os fragmentos de Theia e de uma parte da Terra se misturavam numa poeira cósmica e devido à resistência do primitivo Planeta Terra, ela forçou e condensou com ajuda gravitacional, uma agregação de partículas que foi tomando forma de um pequeno planeta! Muita energia e tempo foram utilizados nesta operação, a deusa boa tinha que se esconder e ao menor sinal de demonstração imediata de poder e força seriam percebidos, pois produzir vida faz parte de sua essência divina. A deusa escondeu-se neste planeta anão e depois posicionou e alinhou o seu eixo, o que colaborou para o início da formação das primeiras formas de vida primitiva no Planeta Terra. A deusa se exauriu durante bilhões de anos, transferindo vida para a Terra e em seu refúgio, manteve o povo aumarino em estado de letargia, até que este Planeta permitisse as condições para sobrevivência. Os primeiros aumarinos que viverem na Terra sabiam que não teriam as mesmas condições de sobrevivência que existia no Planeta Sinos. A deusa boa conhecia esta situação e uniu geneticamente a espécie aumarina à outra espécie de seres por ela recém criados para viver na Terra: a espécie humana. Mas antes que os humanos de fato evoluíssem, os aumarantes já haviam se estabelecido como civilização. A nossa estrutura e aparência física é muito diferente dos nossos ancestrais aumarinos que viviam em Sinos, apesar de guardamos algumas heranças genéticas, não somos anfíbios, respiramos o mesmo ar e nossa vitalidade depende da água pelas mesmas razões e necessidades que a raça humana. A missão de proteger aumarinos e humanos foi o que gerou e justificou a nossa existência. A deusa boa se manteve em continuar a sua evolução sagrada, lançando todo o seu poder para a concretização da vida neste planeta.
RH – Como são fisicamente estes deuses?
CN – São esferas luminosas. A exemplo das muitas estrelas que existem no universo. A sua luz é pura energia de vida e quando estão perto de suas obras emitem sons e aromas sutis, demonstrando felicidade pelo nosso progresso, assim como os bons pais ficam felizes ao verem seus filhos crescendo e se desenvolvendo. São simplesmente seres fantásticos. Por isso adotamos a humilde homenagem de chamá-los de deuses. No caso da deusa boa a sua cor é azul brilhante e o nosso Dagda é de cor vermelha. Acreditamos que no universo devam existir diversos padrões de cores para a idade e natureza destes seres divinos. Eles são formas de vidas complexas, de desconhecidas dimensões e estruturas que vão além da atual compreensão humana e aumarante, apesar de termos o privilégio de sabermos um pouco mais.
RH – Quer dizer que esta deusa boa é responsável pela vida na Terra?
CN – Sim! Tudo neste planeta nasceu da sua energia divina! Ela é a mãe da Terra, dos aumarantes e dos humanos.
RH – Como esta deusa se move? E onde ela se encontra uma vez que não foi aprisionada, apenas se escondeu?
CN – Estamos muito próximos destas respostas. Como eu havia dito, a sua aproximação com o Planeta Terra se deu em seu “abrigo ou casulo” em forma de um planeta anão, iniciando o processo de transmissão de vida para este mundo. Quando os aumarinos foram socorridos pelos deluvianos a pedido da deusa boa e durante a difícil viagem, todos os aumarinos foram postos em estado de letargia num processo semelhante ao do congelamento. Quando os draconianos atingiram Theia, a deusa acolheu os aumarinos ao mesmo tempo em que se escondia e sofria por não poder ajudar os deluvianos que estavam sob a sua proteção. Mas para ela, os aumarinos foram à causa do nosso Dagda se entregar a Danu Lilith, era uma questão de amor e honra salvá-los. Apesar de todo o sofrimento que os deluvianos passaram, eram conscientes que deveriam servir a deusa boa, mesmo que isto lhe custasse às próprias vidas. Ela esgotou toda a sua força em criar a vida neste planeta e à raça humana é a sua obra prima, a sua continuação divina. Todo esse esforço, e por está refugiada dentro do seu casulo, foi gradativamente perdendo sua massa energética, ficando menor e seu brilho esvaecendo. Como último ato de sobrevivência ela se projetou para o Planeta Terra e vive desde os tempos imemoriais sob a nossa proteção, no mesmo estado latente em que um dia nossos ancestrais estiveram. A deusa e os aumarantes dividem o mundo submarino, acompanhando a evolução do planeta e o florescimento da raça humana, ao mesmo tempo, em que aprimoramos a nossa evolução. Durante milhões de anos, sempre nos preocupamos em não dar sinais de nossa existência à raça humana, pois temíamos uma nova investida da Danu Lilith ou dos draconianos.
RH – De onde partiu a deusa boa ao se lançar a Terra? Onde se encontra o seu casulo?
CN – A humanidade a conhece bem. Encontra-se todo o tempo ao redor da Terra influenciado e inspirando a vida das pessoas, dos mares e de todo o planeta. É vista mais bela à noite e já foi visitada muitas vezes.
RH – O senhor que dizer que o casulo da deusa é a nossa lua?
CN – Sim! Exatamente! A nossa Lua, estéril e sem brilho próprio, cuja fonte agora se encontra na Terra. E o nosso Dagda que tem a sua fonte confinada há milênios, sinaliza a sua localização iluminando todo o Planeta Éris, no fim do nosso sistema solar.
RH – O senhor falou da Deusa Danu Lilith. Como os aumarantes chamam a deusa boa? Como se chama o seu Dagda?
CN – Na língua aumarante é conhecida carinhosamente de deusa boa, mas o seu nome divino é Danu Luna em homenagem a raça humana que a chamam de lua. O nosso deus é o Dagda Navan, que em antiga linguagem aumarina significa “o deus bom da prosperidade”. São nomes escolhidos pelas nossas tradições e certamente em suas origens estes deuses devem ser conhecidos por outros nomes.
RH – Os aumarantes foram modificados geneticamente com o tempo, mas a sua aparência e de sua família é muito agradável aos olhos e muito próximo a imagem humana. Existem outras formas?
CN – Obrigado pelos sinceros elogios. A nossa modificação genética tinha um propósito, não poderíamos ter as mesmas fraquezas de nossos ancestrais do mundo anfíbio. Como havia dito, a nossa presença no fundo dos oceanos é por uma questão de sobrevivência e há milhões de anos que gostaríamos de dividir este belo mundo com a raça humana, que consideramos como irmãos mais novos. Em muitas constelações, a forma humanóide é considerada a mais atraente e harmoniosa. Existem outras formas muito interessantes e bonitas, mas a humanóide é inclusive a preferida entre os deuses.
RH – Os deuses tomam a forma humana?
CN – Sim. Geralmente tomam a forma dos seres que criaram e que partiram da sua fonte. Isto vale para a Danu Luna, Danu Lilith, o Dagda Navan e outros deuses existentes.
RH – O senhor falou que a Danu Luna está entre nós?
CN – Sim. Protegida por fontes de energia que garantem a sua letargia e poupam as suas forças. Há milhões de anos que não a vemos na forma humana.
RH – Em outras palavras. A Danu Luna encontra-se adormecida e mantida viva pelo povo aumarante?
CN – Estava adormecida. Começou a ganhar um pouco de massa pulsante e emitir uma fraca luz. Isto provocou uma grande euforia no mundo aumarante. A Danu Luna percebeu o sinal emitido pelo nosso Dagda Navan, que foi possível graças às formas de energias muito antigas que irradiaram as águas abissais nos últimos dias. Quanto em mantê-la viva, devo dizer que é realizado com a colaboração de todos os seres vivos deste planeta. A luz que mantém a criação e a vida na Terra segue um ciclo de retorno a sua fonte. Somos parte desta força divina doado pela deusa e que durante a nossa existência, vamos interagindo com outras modalidades de energias. Acumulamos durante toda uma existência uma infinidade de forças oriundas de uma única fonte e que a ela retorna ao extinguir o corpo físico, realimentado-a constantemente. A contrapartida da garantia da nossa existência é manter viva a Danu Luna e sua fonte. Em outras eras da história da humanidade, a deusa perdeu muita energia tentando equilibrar as forças da natureza devido ao mau uso dos recursos naturais pelo homem. Houve perda de biodiversidade, poluição do ar, dos mares, desflorestamento e outras ações nefastas. Nós aumarantes, também sentimos os efeitos destes atos inconseqüentes do passado e muito fizemos para poupar a sobrevida da deusa, a nossa e da humanidade. Muitas reações na estrutura energética do Planeta Terra tiveram sua origem agravada por estes fatores que citei.
RH – Se a Deusa Danu Luna estivesse em seu estado normal à vida na Terra seria diferente?
CN - Posso lhes garantir que nunca foi imaginada uma versão tão perfeita do que seria literalmente o paraíso na Terra.
RH – As outras raças que foram trazidas pelos draconianos? De onde vieram?
CN – Viajantes de outros mundos em trânsito pelo nosso sistema solar foram capturados inescrupulosamente pelos draconianos. A ordem da Danu Lilith era sentenciosa. Nenhuma forma de vida inteligente deveria habitar neste sistema. Sem suas naves, seus equipamentos e apenas com o conhecimento adquirido como bagagem, foram cruelmente largados num planeta hostil com outros seres que como eles. Tentavam sobreviver na esperança de serem resgatados, fato que nunca aconteceu, principalmente após o impacto do meteoro. Devo lembrar que apenas alguns dos deluvianos tiveram ajuda dos aumarantes em sair do Planeta Terra, mas que nunca foi confirmada a sua sobrevida. Este sistema solar com o passar do tempo tornou-se um ponto hostil e evitado de se transitar por diversas formas de vida inteligente, apesar de acreditarmos que seja observada e estudada a distância.
RH – Que forma de energia provocou o despertar da Deusa Danu Luna no mundo abissal? Como se manifestou?
CN – Os fragmentos de energia, que anunciou o despertar da Danu Luna e que se encontrava em cavernas lunares, foram coletados e conduzidos ao nosso mundo pelo cientista Dr. Asa.
    Neste momento, houve uma exaltação do público diante desta afirmação. O Dr. Asa ficou confuso, sem entender direito o que havia feito, pois o seu único propósito em conduzir as amostras lunares para o Planeta Terra se resumia em análises laboratoriais e experiências controladas. A Capitã Iara segura a sua mão tranqüilizando-o. O Mestre Clístenes pede silêncio no recinto e finalmente à entrevista prossegue.
RH – O Dr. Asa tem conhecimento destes fatos? Esta energia foi trazida deliberadamente?
CN – Não! Em absoluto! O Dr. Asa desconhecia a natureza do que havia coletado. Cumpria o seu trabalho como astro-biólogo investigando possíveis 
evidências que colaborassem para um maior conhecimento do surgimento da vida no universo. Aconteceu que ele foi feliz em suas coletas nas cavernas lunares e as amostras foram trazidas para a Terra. Mas antes se dirigiu para a Estação Oceânica Niflheim, região muito próxima a uma das principais entradas do Reino das Águas, uma das cidades aumarantes. Foi então que percebemos uma alteração na fonte esférica da Danu Luna e posteriormente, uma intensa atividade dos animais aquáticos ao redor das Montanhas de Netuno. A fonte de energia partia da estação abissal.
RH – Esta energia é maléfica para a humanidade? Para os aumarantes?
CN – Pelo contrário. Esta energia foi que gerou a vida na Terra quando a Danu Luna operava a sua criação. Uma infinidade de fragmentos desta energia ficou retida na Lua em estado latente. Se algum dia a Lua possuir uma atmosfera adequada, estes fragmentos energéticos produzirão reações químicas e físicas reanimando muitas formas de vida. Ao chegar muito próximo do nosso mundo, estas estruturas se manifestaram luminosamente, reconhecendo condições para se desenvolverem.
     O Mestre Clístenes interrompe a entrevista e pergunta à equipe de cientistas a confirmação destes fatos. O Dr. Sargaço se manifesta:
- Mestre Clístenes e prezados membros deste conselho. Sou o Dr. Sargaço, Clã dos Aegir, Cidade de Midgard e chefe de pesquisa da Estação Oceânica Niflheim. Confirmo as informações do Conselheiro Netuno. Quando estávamos nas cavernas das montanhas abissais, a Comandante Ondina nos informou que as amostras deixadas pelo Dr. Asa em nosso laboratório e que estavam dentro de cápsulas apropriadas, manifestaram intensas atividades de vida e de luz. Miríades de micro fagulhas azuis flutuavam no interior de uma cúpula transparente de segurança, provocando espanto dos nossos técnicos. Imediatamente houve o recolhimento das amostras até o nosso retorno, para que novas teorias fossem concebidas. Mas diante de uma descoberta maior que foi a revelação do povo aumarante e dos fatos que acontecem no Planeta Ceres, resolvemos adiar estas análises. Confirmamos também que houve uma curiosa aglomeração de animais marinhos de várias espécies sob a estação, inclusive de predadores e suas presas, que pareciam indiferentes às suas condições na cadeia alimentar. Estavam eufóricos e confusos e até então, não tínhamos entendido o fato que os levariam a reagir com um comportamento tão inusitado. Estas amostras lunares continuam acondicionadas em nosso laboratório na estação abissal.
     O Mestre Clístenes faz um sinal para que o moderador da Rede Humanity prossiga com a entrevista.
RH – Existe alguma relação destes fatos ocorridos na Terra, mas precisamente no fundo do mar, com os atuais acontecimentos no Planeta Ceres? E com o fato de finalmente o mundo aumarante se revelar?
CN – Sim. Estamos diante de um momento decisivo para a vida dos nossos povos e deste sistema solar. Nós aumarantes, estamos apreensivos em saber se a raça humana dará credibilidade para as nossas revelações e se aceitará a nossa co-existência, uma vez que já é conhecida a nossa presença nesse mundo. Compartilhar da garantias de paz entre nossos povos e de unir forças em combater um antigo inimigo, que muito atormentou e comprometeu a vida neste planeta. A diversidade cultural dos seres humanos, a capacidade de amar, de enfrentar as ameaças e conquistar a paz, dos gestos dignos de eterna celebração, faz dos humanos uma das criações mais significativas e prósperas do universo.
      A raça humana mesmo desconhecendo a sua verdadeira origem, conserva em seu íntimo a existência e o culto de um ser superior. Um deus que os criou e os anima em força e vida, que favoreceu o desenvolvimento da inteligência, da intuição e da autoconsciência como criatura, superando limites e preparando-se para dar um importante passo no seu grau de evolução. O povo aumarante finalmente revelou-se, mas principalmente, por que não podemos mais nos privar de um destino que há muito tempo foi profetizado e aguardado em nosso mundo, os filhos legítimos da deusa estão prontos para defendê-la. Nós aumarantes, incontestes admiradores e guardiões da raça humana, estamos felizes por este momento e não pouparemos esforços pela preservação deste mundo.
RH – O material trazido da Lua pelo Dr. Asa e que despertou a Deusa Danu Luna de sua letargia, foi o responsável pelos fatos que provocou as ações desastrosas no Planeta Ceres? Como formas de vida tão pequenas podem provocar reações em pontos tão distantes?
CN – O que aconteceu no Planeta Ceres não foi provocado pelo material trazido da Lua, mas tem relação com ela. A antiga e famosa teoria do caos faz sentido neste momento. Quando as fagulhas de vida entraram em contato com a crosta terrestre, elas emitiram um sinal para a sua fonte, para a sua rainha, como abelhas operárias prontas para o trabalho. Este chamado despertou o instinto adormecido da Danu Luna que há milhões de anos não possuía contato com elas. O sinal anulou parcialmente o campo de energia, um tipo de concha que criamos para proteger a Danu Luna e que reagiu ao chamado das fagulhas. Apesar de enfraquecida e ainda não reanimada, a esfera azul acendeu e a sua energia aos poucos começou a se restabelecer. Estes eventos não estão somente aliados ao fato da presença das fagulhas de vida, mas a um sinal enviado pelo Dagda Navan. A simples percepção da presença aumarante e humana e os sons da natureza, aceleram a cada segundo o despertar da Danu Luna, inspirando-a segurança.
RH – Como sinais tão fracos podem ser percebidos em regiões tão distantes do nosso sistema solar?
CN – Já dizia um dos extraordinários seres humanos evoluído deste planeta: “As coisas invisíveis são a maioria” A evolução permite nosso avanço em perceber melhor à grandiosidade e beleza que está oculto em nossa volta e que transcende os cinco sentidos presentes nos humanos. O desenvolvimento gradual dos demais sentidos rompe as barreiras do desconhecido, mostrando uma realidade mais próxima da verdade. Por mais belo que seja o mundo no momento, a raça humana por enquanto, enxerga apenas uma parte insignificante do todo. Existe uma complexa e diversificada rede de vidas que interagem entre si em todo universo e que nos rodeiam, inclusive aqui nesta assembléia, como por exemplo, seres astrais e etéreos. Quando falamos no Planeta Ceres, nosso pensamento e a sua imagem logo nos chega à mente, se pensamos em alguém, em um parente, um amigo, logo nos chega a sua imagem. A força do pensamento é uma dádiva adormecida nos seres humanos e que um dia será plenamente desenvolvido. A matéria como muitos cientistas aqui presentes sabem, possuem desdobramentos em estágios atômicos e subatômicos, e tudo isto emite energia, é vivo. Seres poderosos como as Danus e os Dagdas estão além dos estados de matéria conhecidos por nós, pois a sua constituição ainda é um mistério para a nossa ciência. Não obstante, a nossa intuição e percepção percebem e vislumbram a sua natureza, assim como as fagulhas de vida que estão no laboratório da estação abissal. O sinal aparentemente fraco para nós é mais do que suficiente para que outros seres da mesma natureza captem e compreendam.
RH – Como o senhor explica o que aconteceu no Planeta Ceres? A investida em nossa colônia humana e o fato da Expedição Rapanui não ser destruída pelos meteoros?
CN – Houve uma contra-ação enviada do Planeta Éris que desviou os meteoros da rota da expedição, a esfera vermelha do Dagda atuou e quanto a isto, não temos conhecimento de como aconteceu. Também evitou a tempo, que o Planeta Ceres fosse totalmente destruído. O mundo aumarante confirmou que os draconianos estão de volta, mas sem a presença da Danu Lilith. Os draconianos já sabem que o planeta que destruíram se recuperou e que uma nova civilização surgiu e se desenvolveu tecnologicamente, que se desloca entre planetas, ampliando fronteiras. E les temem a ira da Danu Lilith por achar que as suas ordens não foram cumpridas. Eles ainda não foram ao Planeta Éris conferir o estado da esfera e também se tem a impressão, que não perceberam a misteriosa contra-ação. Apesar de recém chegados, em breve captarão as nossas transmissões e os sinais da Danu Luna. Saberão da existência de uma raça desconhecida num planeta que julgavam não existir mais vida.
RH – O que o senhor diz sobre a matéria escura estacionada entre o Planeta Ceres e Júpiter?
CN – São com certeza os draconianos. O Planeta Dracon também chamado por nós aumarantes de “a Lua Negra de Lilith”, se desloca mediante um campo de força trazido da sua dimensão. É extremamente maléfico. Eles aprenderam a utilizar estas forças a serviço da deusa má.
RH – Então o que o senhor tem a dizer para que possamos proteger-nos?
CN – A raça humana e aumarante estão em perigo! Esperamos que nossas forças de defesa e ataque sejam eficientes, principalmente a marciana, para enfrentar os draconianos! Eles são cruéis e impiedosos, o povo de Ceres não será poupado!
RH – O senhor considera que já estamos em guerra?
CN – Sim! Apesar de ainda não declarada. A ameaça bateu em nossa porta. Devemos ficar atentos às investidas dos draconianos e na pior das hipóteses, da própria Danu Lilith.
RH – A tecnologia bélica dos draconianos supera a dos humanos?
CN – Não sabemos afirmar. Não acompanhamos esse processo, mas devido a sua antiguidade em relação aos humanos, devem ter avançado neste aspecto. O maior poder dos draconianos se concentra no que foi disponibilizado pela Danu Lilith. Em todo caso, percebemos que existe algum comportamento comedido entre os draconianos, estão muito quietos, já deveriam ter agido. Acho que eles estão supressos com que descobriram e acredito que haja esperança de um possível equilíbrio de forças.
RH – Eles estão observando nossos movimentos? Estudando o inimigo?
CN – Certamente! Acredito nessa possibilidade. E isto pode ser favorável para nós pelo menos por enquanto. Não é comum esta atitude draconiana. Sabem que a esfera do nosso Dagda está ativa e certamente já avistaram as tropas marcianas em curso. Ainda não conhecem a natureza do inimigo e do seu poder, farão algum tipo de contato, tentarão nos intimidar. São tão inescrupulosos que podem até convidar a se juntar as suas forças. Devem interceptar nossas comunicações, mas desconhecem o idioma e ficarão confusos. O hábito atual que tem os humanos de falarem em suas próprias línguas tradicionais e serem ao mesmo tempo compreendidos, devem adiar um pouco o entendimento deles.
RH – O senhor disse que os humanos terão o apoio dos aumarantes! Como se dará?
CN – A raça aumarante apesar de não se orgulhar disto, possui também um poderoso arsenal bélico. Temos naves não tripuladas que serão muito eficientes. Podemos enviá-las para ajudar os marcianos e uma grande quantidade ficará para proteger a Terra onde juntaremos forças em todos os pontos críticos do planeta.
RH – Como podemos evitar a fúria da Danu Lilith, uma vez que existe a oportunidade de derrotarmos os draconianos?
CN – É imprescindível que levemos a deusa boa para a lua. Em seu antigo ambiente ela conseguirá recuperar suas energias. Sugiro que essa missão seja executada pela equipe do Dr. Sargaço.
RH – O que acontecerá quando a deusa chegar à Lua?

CN – Saberá agir contra as investidas da Danu Lilith. Ela também possui grandes poderes e assimilará todo o conhecimento e a força humana e aumarante. Não será mais uma deusa frágil e assustada e sim uma deusa forte, determina em defender suas crias.
Capítulo 7

OS SOBREVIVENTES

     Após vários dias, o povo ceriano encontra-se empenhado em localizar os túneis de acesso para a superfície. Dezenas de grupos foram organizados e destinados em explorar saídas alternativas e, ao chegar à superfície, avaliar melhor a extensão da destruição dos meteoritos na colônia.
     Na área central do refúgio subterrâneo, os cerianos se acomodam para ouvir o Mestre Tálio. Em sua companhia está a sua filha Efígie, aflita pela ausência do seu marido Ébano, que se juntou a um grupo específico, cuja missão seria encontrar por antigas trilhas subterrâneas, a Estação de Comunicação que se localiza em uma das montanhas próximas a Colônia de Nathan.
     A dúvida ainda é muito presente nos sentimentos do povo ceriano. A falta de informação do que realmente aconteceu na superfície, à incerteza de sobrevida das muitas pessoas que não conseguiram embarcar nos transportes com destino ao subterrâneo e principalmente, se os sinais de socorro enviados para a colônia de Marte e o Planeta Terra atingiram os seus destinos.
     O Mestre Tálio inicia um pronunciamento:
 – Povo de Ceres! Todos os esforços estão sendo feitos para que possamos redobrar as nossas esperanças em superar esta catástrofe que se abateu em nosso planeta. Agradecemos e parabenizamos todos os clãs pelo empenho, solidariedade e o devotado equilíbrio em manter nossas forças, físicas e mentais unidas. Há vários dias, muitos dos nossos homens, mulheres e robs, partiram na tentativa de atingir a superfície em busca de socorro. Tenho uma segura intuição de que nossas comunicações para Marte foram recebidas. Assim sendo, muito em breve teremos com os nossos irmãos marcianos o tão esperado socorro. Peço que todos continuem colaborando com as suas atividades coletivas e mais uma vez, lhes garanto que apesar desta calamidade, possuímos nesta colônia todas as condições disponíveis para sobrevivermos por um considerável tempo. Manteremos informados os diversos clãs aqui presentes, de todo o progresso conquistado pelos nossos irmãos que partiram em exploração.
     O Comandante Lítio se aproxima discretamente do Mestre Tálio e faz algum comentário em voz baixa. O mestre ensaia um semblante preocupado com o pedido do comandante, olha para o povo ceriano e continua:
- Meus irmãos! – fala com voz consternada – Em nome da nossa própria sobrevivência, solicitamos humildemente a todos os clãs, que disponibilizem os seus filhos iniciados adultos e saudáveis, que avançaram nas faixas de desenvolvimento psíquicos e intuitivos, para compor os grupos de defesas.
     Um burburinho se escuta entre as pessoas, gerando um princípio de tumulto. Um dos líderes de clãs pede a palavra:
- Mestre! Concordamos em ceder muito dos nossos intuitivos em acompanhar os grupos de exploração. Eles não possuem experiências em técnicas militares, são templários e agricultores.
- Sei disso – responde o Mestre Tálio – Eu também não simpatizo com este pedido, mas não posso recusar diante dos sinceros argumentos e apoio do Comandante Lítio! Nossas tropas são formadas por robs e como sabem, centenas deles foram destruídos no solo e na órbita de Ceres! Uma grande maioria se sacrificou em proteger nossas vidas, inclusive no momento do alarme que nos trouxe até aqui. Precisamos reforçar esta lacuna aberta e manter nosso povo seguro, caso haja necessidade. Não serão simples soldados e sim, soldados com faculdades especiais.
     Os líderes dos clãs ficam em silêncio. Eles expressam um sinal simbólico com as mãos, que significa um pedido de tempo para reflexão e deixam o local para se reunirem e decidirem em seus próprios clãs.
- Obrigado, mestre. Sei que foi difícil fazer isto – diz o Comandante Lítio.
- Entendo as suas intenções Lítio. Vivemos momentos difíceis. A pacata rotina do povo ceriano foi quebrada. O momento é de sacrifícios pelo bem de todos.
- Prometo mestre. Que não vou expor os templários em demasia. Mas é que eu não...
- Meu amigo – interrompe o mestre – Não precisa se justificar. Confio em sua experiência e sabedoria, assim como sei, que confiará nos templários.
- Sim mestre – respira aliviado o comandante – Conheço a capacidade de muitos templários, inclusive daqueles que foram à Marte.
- Pelo visto, comandante. Alguns dos nossos cerianos sofreram influências dos guerreiros marcianos – fala o mestre, com a voz cansada.
- São jovens, mestre. Possuem faculdades psíquicas tão avançadas quanto as suas curiosidades de aprender. Posso lhe garantir que as influências foram positivas e os marcianos muito gentis.
- Houve um tempo comandante, em que no Planeta Terra havia uma ordem de templários guerreiros. Estes homens lutavam com outros homens igualmente bravos e determinados em proteger suas crenças e territórios. As suas existências influenciaram significativamente na antiga história da humanidade. Não me agrada que venha existir aqui em Ceres uma ordem desta natureza.
- Entendo mestre. E concordo com o seu pensamento. Mas o senhor sabe que não é esta a minha intenção.
- Não me preocupo com suas intenções Lítio. Sou seu amigo e o conheço bem você. Também acho que nossos templários não vislumbram estas possibilidades. Mas lembrando do passado do nosso povo terráqueo e dos antigos registros, que 
nos leva a um mundo em que as pessoas foram dominadas por déspotas. Pessoas humilhadas e separadas dos seus clãs. Jovens homens se viram obrigados a erguer suas espadas e escudos em busca de uma liberdade e paz, atalhada pela guerra e sofrimento. Estes sentimentos encontram-se adormecidos em nossa natureza humana.
- Sei bem o que diz mestre – confirma o Comandante Lítio – Quando estou perto de um soldado marciano, percebo claramente as suas preocupações. Mas apesar de cultuarem os valores do guerreiro, os marcianos pensam na paz.
- Admiro os marcianos – diz o mestre – São como glóbulos brancos que defendem o organismo de doenças.
- Apesar de serem vermelhos? – brinca o comandante, quebrando o clima de preocupação.
- Sim – sorrir o mestre – Apesar de serem “vermelhos”
     Ao retornar aos aposentos, o mestre encontra sua filha envolvida em pensamentos e preocupações.
- Minha filha?
- Pai!
- Não sofra tanto. Ébano é um homem inteligente e sabe o que está fazendo. Será um bom líder em breve.
- Eu sei meu pai. Mas tudo isso é tão intenso e novo para nós. Essa sensação de impotência nos consome. Estive visitando alguns clãs, as pessoas choram e sofrem pelas perdas dos seus parentes e amigos, a desesperança nos invade a alma.
- Minha filha. Você tem poderes avançados e sabe tanto quanto eu que seremos socorridos – conforta o mestre.
- Sei disso, pai. Mas também sabemos que não são apenas os meteoritos que nos ameaçam. Apesar de estarmos aqui em baixo, existe algo muito ruim lá fora que não sabemos como lidar. Foi por isso que Lítio pediu para convocar templários paras as forças de defesa.
- Em breve saberemos minha filha. Por isso que a missão de Ébano é tão importante.
- O senhor acha que ele vai localizar o túnel certo?
- Tenho absoluta certeza que sim. Acho até que ele está mais próximo do que imaginamos. Existe uma eficiente unidade de comunicação no interior de uma das montanhas que circulam a nossa colônia. Quando for ativada, saberemos o que aconteceu lá fora e como agir. Agora procure descansar um pouco. Preciso me reunir com o nosso clã e receber voluntários para o comandante.
- Não consigo descansar. Irei com o senhor, estarei melhor ao seu lado – Abraça o pai demoradamente.
     O passar das horas e dos dias, só faz aumentar as expectativas dos cerianos. Os clãs finalmente concordaram em liberar seus filhos templários para a convocação das forças de defesas. Dezenas de grupos retornam dos túneis, sem boas notícias, fatigados, feridos, doentes e sem esperanças.
     Foram inúmeras, as tentativas frustradas de reabrir as passagens para superfície. Muitos grupos retornaram sem os robs e estes, sem os humanos. As comunicações internas são deficientes, os sinais são bloqueados pelos minérios de rochas magnéticas, causando interferências prolongadas. Há pouca água, comida e oxigênio nos cilindros para prosseguir nos túneis mais distantes, escuros e quentes.
     Os robs em sua grande maioria não são especialistas nestas atividades. As suas fontes de energias são exauridas e muitos ficam nos caminhos descarregados, despencando do alto das cavernas em escaladas arriscadas para conduzir e amarrar cordas.
     Na escuridão destes antigos túneis, nunca explorados por estas equipes de cerianos, escuta-se lamúria, choros e gritos. Pequenos seres venenosos até então desconhecidos, viventes do mundo subterrâneo e da escuridão os ataca. Espécies de fungos provocam terríveis e sufocantes reações alérgicas. Muitas vidas são perdidas e poucos tentaram heroicamente prosseguir, com incertezas e lembranças delirantes.
     Um destes homens é Ébano. Ele percorre túneis escuros guiado apenas com os poderes de sua intuição, fazendo-o desviar antecipadamente dos perigos. Um rob doméstico ainda o distrai nesta jornada, sendo carregado nas costas, pois sua fonte de energia não mais permite caminhar nem produzir iluminação, apenas uma fraca luz em seus olhos.
- Então amiguinho, não vai desligar agora! Estamos muito próximos da entrada da unidade de comunicação!
     Uma fraca voz eletrônica responde:
- Você sempre foi bom nestas brincadeiras de andar no escuro Éba!
- É verdade – responde Ébano – Fazíamos muito isso juntos quando eu era criança! Mas não fale! Economize energia!
- Ainda bem que você cresceu! Assim pode me carregar, não gostaria de terminar minha existência rob aqui nesse buraco!
- O que isso Iron! Você acha que eu o deixaria aqui? Levaria você, mesmo desligado!
- Então se apresse! Está muito próximo disto acontecer!
- Agüente firme! Só mais um pouco! Ao chegarmos, farei uma recarga demorada para você, um bom descanso para mim! Falando nisso! Que tal nos acompanhar quando formos a Terra?
Nenhuma resposta é dita.
- Iron! Iron!
     Ébano pára a caminhada e mesmo sem enxergar, fica com o rosto de frente para o empoeirado e arranhado amigo cibernético. Encosta a sua testa a dele e respira forte.
- Descanse um pouco meu amigo. Vou tirar a gente daqui!
     Ébano põe novamente o rob nas costas e prossegue a sua jornada. Horas depois, percebe uma pequena lufada de vento no rosto e tropeça em algo semelhante a cabos de força. Recupera-se da queda e do susto, e tateando as mãos no solo acha o rob que caiu, amarrando-o nas costas. Ébano continua se guiando no escuro.
- Acho que são os antigos cabos de fontes térmicas. Estou perto – anima-se em voz alta.
     Ele percebe que o piso não é mais pedregoso e rústico. A linha de cabos se torna mais complexa e Ébano se levanta extremamente exausto e debilitado. Ao ficar de pé, luzes automáticas se acedem iluminando um corredor. Na parede, ele ver um painel com instruções para o uso de elevadores de emergência. Ele põe as mãos na cabeça e comemora com esforço. Chama a atenção do Rob, mas sem sucesso. Caminhando em direção a um dos elevadores, que possuem vários acentos com travas de segurança corporal, ele prende o rob e senta em outra. Logo depois, aciona uma alavanca que o precipita para o alto com velocidade.
     Ébano chega desmaiado nas instalações da estação de comunicação da montanha e ao acordar, observa alguns robs lhe prestando os primeiros socorros. Ele se levanta atordoado, olha para o companheiro Rob, que ainda desligado recarrega suas baterias, mostrando sinais de ativação e dando pequenos soluços eletrônicos. Outro rob se aproxima.
- Irmão Ébano. Está se sentindo melhor?
- Sim amigo. Estou melhor, é um prazer em vê-los.
- O senhor precisa descansar um pouco, está muito debilitado. Beba este tonificante, por favor.
- Obrigado E como está o meu amigo?
- Ele vai ficar bem. Sofreu muitas avarias. Deu tudo de si.
- É um bom RD.
- Positivo senhor! Os modelos antigos são mais resistentes.
- Necessito enviar um sinal para Marte – diz Ébano eufórico.
- Calmo senhor. Nós já o fizemos. Os meteoritos não abalaram esta unidade, a montanha nos protegeu.
- Existem outros robs intactos?
- Positivo senhor! Inclusive já estamos consertando alguns, temos recursos para isto, há um laboratório.
- Pediram ajuda? Marte respondeu?
- O senhor mesmo pode conferir. Siga-me, por favor.
     Ébano entra em um elevador panorâmico. Durante a subida, ele observa a haste enorme de uma antena que foi liberada pelos robs de comunicação e projetada para fora das rochas no pico da montanha. Do alto, o cenário revela para Ébano a dimensão do estrago que sofreu a Colônia de Nathan. Observa mesmo distante, centenas de robs e máquinas trabalhando nas entradas dos túneis bloqueados. Ele chega ao salão de comunicação, e outro rob de origem marciana se aproxima:
- Irmão Ébano. Que bom que se recuperou. Precisamos responder aos cruzadores marcianos.
- Estão aqui? Os Cruzadores?
- Positivo senhor. Inclusive os hospitalares, praticamente todo contingente de robs marcianos veio para Ceres.
- Há humanos?
- Chegaram há poucos minutos. Estão na órbita do planeta, aguardando uma comunicação, senhor.
     O rob ativa o painel de controle e uma imagem holográfica surgiu no centro do salão.
- Saudações fraternas Ceres! Aqui é o General Nergal, do Clã dos Ma'adim Vallis!
- Saudações General! Sou Ébano, templário do Clãs dos Adâmicos!
- Estamos muito próximos meu amigo! Qual é a situação?
- General! Tivemos muitas mortes! Foi tudo muito rápido, o povo ceriano encontra-se refugiado no interior do planeta!
- Foi o que imaginamos! Recolhemos os mortos da superfície, não temos ainda identificação de todos!
- General! Precisamos tirar os que estão no subsolo. Existem muitos perigos lá embaixo! - diz Ébano, aflito.
- Calma meu rapaz. Já estamos providenciando a abertura das passagens e enviamos robs voadores nos túneis para a retirada dos mortos. Os feridos já recebem os primeiros socorros. Também mapeamos e isolamos algumas áreas. O que houver de hostil vai ser eliminado e desinfetado. Tem notícias do Mestre Tálio?
- Está vivo, senhor. Assim como os demais mestres de clãs.
- É uma boa notícia, templário. Agora me escute com atenção! Mantenha a calma e siga para a plataforma da montanha, estamos envergando a curva orbital, chegaremos em instantes.
- Sim senhor – responde Ébano aliviado.
     No interior dos abrigos, são escutados pequenos tremores. O povo ceriano se assusta, mas logo se conforta aliviado com a presença dos robs marcianos voadores, que iluminam cada ponto do subterrâneo. Uma euforia de alegria contagia a todos. Os sobreviventes estão salvos. O Mestre Tálio com a sua filha comemoram a notícia que Ébano está vivo, que conseguiu chegar à superfície.
     As passagens dos túneis são finalmente abertas, o dia amanhece com um colorido de luzes de naves marcianas que chegam do céu. Uma fina camada de neblina começa a se dissipar. A superfície ceriana passa a ser vasculhada por uma frota de naves de combate e reconhecimento.
     No início da noite, todos os humanos da colônia já foram medicados e imediatamente transportados para as naves hospitalares, estacionadas na órbita do planeta.
     O General Nergal encontra-se na sala de comando do Cruzador Centauro, observando o Planeta Ceres. Tinha completado parte da sua missão, pois deverá seguir com os sobreviventes para Marte, opção mais segura no momento, pois arriscado seria transportá-los para o Planeta Terra, o que implicaria em mais alguns dias de viagem para o já debilitado povo ceriano.
     Soldados marcianos e robs fazem as últimas avaliações da situação em solo. Relacionam os prejuízos e o que pode ser aproveitado ou recuperado. Uma nave cargueira recolhe e acondiciona o patrimônio científico e cultural da Colônia de Nathan. A atividade de embarque de materiais é constante e cuidadosa. Nas montanhas e em diversos pontos do planeta e em sua órbita, sofisticadas máquinas de monitoramento e vigilância são posicionadas.
     Em naves hospitalares, o povo ceriano ainda encontra-se atordoado com os recentes acontecimentos. Estão tristes por abandonar os seus lares de forma tão abrupta, mas ao mesmo tempo felizes em saberem que não pereceriam enclausurados nos subterrâneos do planeta. Entre eles se encontra o Mestre Tálio, reunido com a sua filha e genro, vendo o Rob Iron se recuperar satisfatoriamente de suas avarias.
      Foram necessários alguns dias para que as operações no Planeta Ceres fossem concluídas. Soldados e robs se preparam para retornar ao espaço. Os líderes dos clãs estão reunidos com os templários e os comandos militares de Marte e Ceres. O General Nergal recebe atenciosamente cada um dos líderes para comunicar as novas ações a serem realizadas. O Mestre Tálio se aproxima sorridente do General Nergal.
- General, que bom revê-lo!
- Mestre Tálio! Fico feliz que esteja bem! – retribui com um forte abraço – Quero me desculpar por ainda não ter tido com o senhor e com seu povo nestes últimos dias.
- Não precisa se desculpar meu amigo. Sabemos como foi difícil e trabalhoso este resgate. Nosso povo está eternamente grato pelas gentilezas e atenções.
- Eternamente é muito tempo mestre – sorrir o general – Fizemos a nossa obrigação, além do mais não deixaríamos nossos irmãos cerianos se auxílio. O fato de está próximo a Marte facilitou a nossa chegada com rapidez à Colônia de Nathan.
- Sabemos do poder da generosidade marciana, general. Mas pelo que podemos observar, existe uma grande frota de cruzadores e caças em toda órbita do Planeta. Creio que exista algo mais, ainda oculto para nós, nestes acontecimentos além da operação de socorro. Pressentimos uma atmosfera hostil.
- Os intuitivos cerianos – responde o general com satisfação – Nada lhes foge aos seus instintos apurados. Lembro muito do meu Tio Sargaço comentando a admiração pelo seu povo. Mas respondendo a sua pergunta mestre, realmente existe algo muito hostil.
- Infelizmente general – diz o mestre – Nossos poderes intuitivos não foram eficientes para evitar com bastante antecedência, as muitas mortes do nosso povo.
- Não se lamente amigo mestre. Suas intuições o salvaram. Reunir todos aqui para melhor explicar o que acontece neste sistema. Recebemos instruções e informações do Planeta Terra e posso lhe garantir que ficará supresso.
- Já ouvir falar muito do seu tio. O Dr. Sargaço, um iminente cientista que praticamente dedicou a sua vida nas profundezas do oceano.
- Pois é mestre – diz o general – O meu tio está envolvido até o pescoço em muitos dos acontecimentos inéditos.
- Seu Tio? – indaga o mestre.
- O meu tio e os seus amigos mais próximos. Conhece o Dr. Asa?
- Já ouvi falar de muitos cientistas da Terra, apesar de não ter com eles nenhum contato pessoal. Como o seu Tio Sargaço no fundo dos oceanos, dediquei-me ao progresso do povo ceriano.
- Uma grandiosa obra mestre. Uma grandiosa obra – elogia o general com simpatia.
     O General Nergal levanta os olhos sobre o ombro do Mestre Tálio e ver chegando o Comandante Lítio, que se aproxima com alguns homens.
- Comandante Lítio! – estende a mão o general.
- General! Finalmente estamos prontos!
- Sem a sua ajuda e experiência, teria sido muito mais difícil comandante. Meus parabéns!
- As ordens, general. Tenho aqui alguns homens que gostaria de apresentar – continua o comandante – São templários dos diversos clãs de Ceres.
- Ah sim! Os templários – se entusiasma o general – Tivemos a honra de conhecer alguns deles em Marte.
- Foram convocados para compor as forças de defesas enquanto estávamos refugiados nos abrigos subterrâneos – diz o comandante.
- Entendo – diz o general olhando para cada um deles como se estivesse em poucos segundos, tentando achar algum perfil de soldado em suas almas.
     O Comandante Lítio percebendo a situação se antecede em poupar o general de comentários.
- Certamente. Não são como os valorosos e treinados soldados marcianos nas artes militares, mas desde a chegada da frota que eles decidiram em colaborar.
     O general olha para o Mestre Tálio que faz um discreto movimento afirmativo com a cabeça.
- Pois não comandante – disse o general – Toda a ajuda em bem-vinda e a boa vontade dos templários se equiparam à destreza dos nossos soldados. Ainda não havíamos tido esse tipo de experiência, mas em Marte soube que alguns dos seus templários mantêm fortes laços de amizades com alguns dos nossos soldados.
- Senhor General – adianta-se Ébano – Permita-me um comentário.
- Este é o meu genro Ébano – apresenta Mestre Tálio ao general.
- Sim Ébano. Você foi o primeiro contato que tivemos com humanos em Ceres. Foi muito corajoso templário, em se arriscar pelos antigos túneis.
- Obrigado general. Mas era uma questão de sobrevivência, havia pouco o que fazer.
- Entendo. Mas você iria fazer um comentário?
- Sim senhor – continua Ébano – É que em nossas visitas ao Planeta Marte, realmente fizemos muitas amizades. Faz parte do nosso aprendizado como neófitos, conhecer e estudar as diversas culturas humanas. Marte é a mais próxima fonte de convivência real de uma cultura diferenciada. Participamos com o consentimento do Mestre Menés e do General Ares, de alguns treinamentos e táticas militares.

- É o que temos de melhor – diz com humor o general e todos ensaiam um sorriso.
- Também – continua Ébano – Cedemos um pouco dos nossos conhecimentos. Percebemos que esta convivência é promissora na união de forças.
     O general põe os braços para trás e determina.
- Sendo assim. A nova força ceriana é integrada às forças marcianas sob as orientações do Comandante Lítio.
- Sim senhor, general – responde o comandante.
- Bem, preciso fazer um pronunciamento, nos veremos em breve. O Mestre Tálio pode me acompanhar?
- Sim general. Será uma honra.
     O General Nergal se posiciona no centro da sala de reuniões, que possui uma elevação maior que o piso onde sem encontra os demais presentes. Os chefes dos clãs assumem outra área em formato de arco, no mesmo nível de onde se encontra o general.
     As luzes vão diminuindo gradativamente, apenas se vê uma mancha de luz vermelha abaixo da poltrona do general. Aos poucos, imagens vão surgindo nas laterais do teto. São os rostos de autoridades da Terra, Marte e de outras pessoas envolvidas diretamente com os fatos.
     Desta vez a Rede Humanity não tem acesso aos sinais, não por censura, mas por segurança militar. Uma vez que todos os humanos do sistema solar, com exceção dos cerianos, já conhecem a real situação dos fatos, foi reproduzida a entrevista do Conselheiro Netuno.
     Após alguns minutos, todas as imagens estão nítidas e com boa acústica. As apresentações prosseguem:
     Mestre Clístenes – Soberano líder da Terra e da humanidade;
     Comandante Arcturus – Defesa de fronteira da Terra;
     Comandante Ondina – Defesa submarina da Terra;
     Capitã Iara – Comando de frota submarina;
     Dr. Asa – Cientista chefe da Estação Lunar Meteora;
     Dr. Sargaço – Cientista chefe Estação Oceânica Niflheim;
     Mestre Menés – Soberano líder de Marte;
     General Ares – Comando militar de Marte;
     General Nergal – Comando Militar de fronteira de Marte e Ceres;
     Comandante Ísis - Expedição Rapanui;
     Mestre Tálio – Soberano líder de Ceres;
     Comandante Lítio – Comando Militar de Ceres.
     Tudo o que havia passado até o presente momento foi elaboradamente resumido para a compreensão dos cerianos, que atônitos acompanhavam dos seus aposentos, espalhados por diversas naves de campanha. As orientações confirmavam o retorno imediato da frota para o Planeta Marte. Naves terráqueas já estariam em curso para cabotagem e reconduzir o povo ceriano ao Planeta Terra.
     Ao finalizar as primeiras instruções, o Mestre Clístenes apresenta o Conselheiro Netuno como o representante da raça aumarante.
     A reação dos cerianos é silenciosa e comovente, ao saberem que os aumarantes passaram milhões de anos refugiados no interior do Planeta Terra para proteger a humanidade. Que um ser superior, até então desconhecido, era o responsável pela existência humana. Lembraram do sofrimento nos abrigos subterrâneos no Planeta Ceres, das perdas irreparáveis e de uma nova ameaça que se aproxima. 

- Saudações fraternas, humanos do Planeta Ceres – inicia o Conselheiro Netuno - - Quero prestar a minha sincera solidariedade em nome de todo o povo aumarante. Estamos agora unidos em eliminar um mal que tanto atormentou as nossas existências. Aproxima-se o momento em que este sistema solar se verá livre da tirania e subjugo de forças, que usam um poder do mais forte para dominar, matar e humilhar os mais fracos. Perdoem-nos por passarmos tantas eras nas suas convivências e nunca nos revelarmos. Precisávamos respeitar o tempo das coisas, da evolução e principalmente o das nossas divindades. Um novo tempo surgirá para nós, humanos e aumarantes. E uma nova ordem de paz e harmonia, habitará os nossos mundos. Obrigado a todos. Navan!
Capítulo 8

OS DRACONIANOS

     Durante o pronunciamento e apresentação do Conselheiro Netuno no Planeta Terra, uma tríade de irmãos alienígenas, líderes draconianos de cujos nomes são Dracórius, Detra e Draves, captam e acompanham as transmissões humanas oriundas de diversas fontes, na tentativa de decodificá-las. Eles habitam ocultos num planeta anão, escuro, de geografia montanhosa e com autonomia de deslocamento pelo espaço. O Planeta Dracon ou a Lua Negra de Lilith, como chamam os aumarantes, se encontra protegido por uma barreira de energia desconhecida, estacionada entre os planetas Ceres e Júpiter. Sombrios e determinados, eles analisam o que se passou neste sistema solar enquanto estavam ausentes.
- Então Dracórius. Quem são estes seres? – pergunta uma voz gutural.
- Ainda não sei Draves. Não são de outros quadrantes. Não ousariam penetrar em nossos domínios. Tenho a impressão que estes seres se desenvolveram aqui, neste sistema.
- Mas não deixamos nada! Matamos tudo!
- Já faz muito tempo da última vez que estivemos aqui. Algumas formas de vida conseguem se desenvolver em curtos períodos – comenta Dracórius.
- Também não viverão o suficiente! – diz Detra, o terceiro irmão draconiano – Teremos um pouco de diversão. Faz um bom tempo que não caçamos neste sistema.
- É melhor não se precipitar Detra. Ainda não sabemos com que estamos lidando. Essa linguagem! – irrita-se Dracórius - É difícil de decodificar em pouco tempo. Não existe nada que nos guie a uma pista segura que explique o que eles fazem aqui.
- Eu sei com que estamos lidando – disse Draves – Uma oportunidade arriscada de colar as nossas cabeças quando a deusa souber.
- Daremos uma solução nisto – tranquiliza Dracórius – Podemos oferecê-la novos escravos para servir aos seus propósitos.
- Não seja ingênuo! – fala Detra – Ela deu ordens para eliminar tudo! E o que fizemos?
- Eliminamos – responde Dracórius – Montamos um cinturão de asteróides. Isolamos todas as possibilidades deste sistema emitir o menor sinal de vida para outros pontos do universo!
- Mas não funcionou! – continua Detra - O Deus Navan interferiu! Ainda se mantém vivo e concentra muita força!
- O Deus Navan não pode fazer mais do que isso! – disse Draves – Está aprisionado. Mas concordo com Detra, a deusa vai se enfurecer.
- Calem-se os dois! Sou o mais velho! E tenho a autoridade concedida pela deusa em decidir! – Grita Dracórius, com firmeza.
     Enquanto os irmãos discutem, as transmissões continuam chegando e a pista que eles tanto esperavam se revelou, pois ao escutarem o nome Navan pronunciado pelo Conselheiro Netuno, os irmãos draconianos se surpreendem:
- Navan! Você escutou isso Dracórius! – alerta Detra, empolgado.
- Navan? Não é possível! Só os aumarinos pronunciavam esta palavra – completa Draves.
     Dracórius fica em silêncio e os seus olhos se enfurecem de ódio.
- Isso não estava em nossos planos! A deusa retornará em breve e não vai gostar disso! – comenta Detra.
- Dracórius! Precisamos agir! Este sistema está dominado! Uma civilização prosperou e evolui em tecnologias! – disse Draves – Certamente possuem meios de defesas e armas por nós desconhecidos.
- Não pense Dracórius! – grita Detra - Destrua-os!
- Nenhum aumarino ou qualquer outra raça foram deixados para trás. De onde vêm estes seres? – questiona Draves.
- O Deus Navan não teria forças para produzir nada onde o deixamos – conclui Dracórius, quebrando o silêncio.
- Então é uma geração espontânea que surgiu? – pergunta Draves.
- Seja lá o que são, tem que ser destruídos! – insiste Detra, eufórico e delirante.
- Não é espontânea. Falhamos em alguma coisa. – diz Dracórius, com serenidade e decepção.
- Este ser de nome Netuno – comenta Draves – É diferente da maioria. É único entre os seus. Foi ele que pronunciou o nome Navan.
- Isso tudo é muito estranho – indaga Dracórius – Não é aumarino.
- Serão filhos da Deusa Luna? – Detra se aproxima dos fatos – Ela não foi encontrada quando eliminamos os aumarinos.
- Não pode ser. Ela foi destruída na tentativa de salvar os aumarinos. Nada poderia sobreviver aquele impacto! – disse Dracórius cruzando os braços.
- Você a viu? – pergunta Detra com desdém – Acho que a subestimamos. Ela pode ter dado um jeito de esconder-se, fugir e até de proteger a vida dos aumarinos, mesmo que seja uma parte insignificante deles.
- Ele pode ter razão Dracórius. A Deusa Luna era frágil, mas poderosa – completa Draves – Estas criaturas podem ser obras da sua criação ou vestígios dela.
- Eles ocupam quatro planetas neste sistema estelar. Habitaram o Planeta Sinos, criando cidades – observa Dracórius, utilizando avançados recursos de investigação.
- Três! – corrige Detra, sorrindo sarcasticamente – Uma, destruímos! É um bom começo!
- A nossa reentrada trouxe uma pequena parte dos asteróides lançados sobre nós. Não foi uma ação deliberada da nossa parte – conclui Draves – Escapamos por pouco daquele sistema. Não podemos permitir que outros seres conscientes evoluam sem controle.
- Não esqueça que identificamos um grupo de naves deles seguindo para outro planeta! Bem próximo onde se encontra o Deus Navan! – alerta Detra.
     Dracórius se afasta dos irmãos em silêncio e permanece assim durante alguns minutos.
- Você pensa demais Dracórius! – provoca Detra, com firmeza – Temos que destruí-los!
- Às vezes tenho vontade é de te destruir Detra! – grita Dracórius, se virando em direção ao irmão com fúria. O seu semblante se transforma e o seu corpo emite uma camada de luz vermelha escura.
- Penso que seria melhor se fosse ao contrário! Mas se tentar me matar sabe bem quais são as conseqüências. Estamos unidos pela mesma força vital fornecida pela deusa, se um de nós morre, os outros dois ficam mais fracos – avisa Detra com ironia.
- A deusa errou em fazer isto! Não confiou dar poderes absolutos a um só! É lamentável! Senão você já estaria morto! – ameaça Dracórius, rancoroso.
- Não conhecemos os poderes destas raças Dracórius! – disse Draves – Arriscaria em atacá-los?
- Detesto admitir mais o idiota do Detra tem razão – comenta Dracórius - Recebemos ordens da rainha para destruir tudo, ela tem os seus planos para este sistema. Essa é uma das passagens mais seguras para o seu reino. Mas se falharmos na tentativa de destruí-los? Vamos expor a deusa? E quanto a nós? Perderemos o dom da eterna longevidade? De não envelhecermos? A energia da deusa nos mantém vivos e fortes, mas lembre-se que não somos imortais! Existem centenas de naves retornando daquele planeta. Muitos daqueles seres se protegeram no subterrâneo, se refugiaram, morreram, são corpos frágeis sem proteção, não teremos dificuldades em destruí-los.
- Que tal começar a caçada com eles! – sugere Detra, decidido - Podemos testar e conhecer os seus poderes de defesa e ataque. Entender como funcionam. Nessa investida eu faço questão de ir! E lhes garanto que nada sobreviverá!
- Não! – discorda Draves – Vamos iniciar um contato, persuadi-los, conhecer suas fraquezas. Podemos poupar muita energia até conhecer melhor a sua tecnologia.
- Você realmente é um estraga prazer Draves! – diz Detra, com os braços estirados sobre um tipo de mesa de pedra vulcânica, com a cabeça abaixada e balançando-a negativamente.
- Se prefere assim! Então cumpra você mesmo! E faça bem feito! – fala Draves ao irmão – Mas lembre-se! Ao menor sinal de reação e fraqueza os destruiremos! É melhor que não esteja por perto!
- Está decidido! – disse Dracórius - Será o que faremos! Tentaremos fazer contato com aquele a que chamam de Netuno. Muito em breve decodificaremos parte da linguagem deles, mas de início usaremos a língua draconiana. Se for um aumarino se revelará!

Capítulo 9

O CONTATO

     No espaço, já fora da órbita do Planeta Ceres, centenas de caças pilotados por soldados marcianos robs, protegem as naves hospitalares e de campanhas onde se encontram os Cerianos. Outras dezenas de cruzadores se posicionam ao seu redor. Faltam poucas horas para que os restantes dos soldados retornem do planeta para que finalmente a frota siga para a Terra.
     Os Generais Nergal e Ares planejam a possibilidade de definir uma nova rota para que a frota marciana possa ainda se encontrar com as frotas terráqueas, para então procederem a transferência dos Cerianos para o Planeta Terra, evitando um primeiro desembarque em Marte.
     Nas naves de campanha, os templários encontram-se reunidos em meditação e entre eles, o Mestre Tálio e seu genro Ébano. As habilidades psíquicas e intuitivas dos templários estão ativadas e perceptíveis a qualquer sinal hostil. Observando-os há poucos metros, Efígie e o Rob Iron conversam descontraídos.
- Iron! Faz algum tempo que vejo você às voltas com um rob marciano.
- É verdade senhora – responde – Nos conhecemos na unidade de comunicação. Eles nos encontraram inconscientes e nos prestaram os primeiros socorros.
- Sei disso. O que me deixa curiosa é que não são muito comuns estas amizades entre robs!
- Minha senhora. Estas amizades são mais comuns do que os humanos imaginam. Temos nossos sinais e linguagens próprias que surgiram espontaneamente, se assim podemos dizer. É que na maioria do tempo, estamos a servir nossos queridos humanos e muitas vezes estes relacionamentos entre robs não são percebidos. Ele é um rob médico marciano e um admirador dos modelos robs mais antigos como eu. Estávamos trocando informações de como são diferentes as nossas atividades e como foi a minha experiência nos túneis.
- Interessante – diz Efígie, sorrindo – Inclusive percebo sem querer ofender, que você está mais esperto depois desta experiência.
- Jamais me sentirei ofendido com as suas palavras minha senhora. E se estou mais esperto, devo ao rob marciano. Ele aperfeiçoou os meus programas, estou mais interativo e rápido em meus processos.
- Sério! – surpreende-se Efígie, com alegria – Muito boa essa notícia. Ébano já sabe disto?
- Sim. Ele já sabe, foi o primeiro a perceber, convive comigo desde criança. Costumava dizer que sou o irmão mais velho dele. Por isso nunca permitiu que eu fosse modificado para outra estrutura mais moderna, mesmo mantendo a memória padrão.
- Acho incrível a presença dos robs em nossas vidas – disse Efígie – Não consigo imaginar como era ou seria o mundo sem vocês.
- Pensamos da mesma forma minha senhora. Como seria a nossa existência sem os humanos? Falando nisso. Será que os aumarantes possuem robs?
     Efígie se abaixa, segura o rob pelos braços e sorridente diz:
- Você está ficando um robô muito espertinho sabia?
- Obrigado pelo elogio, senhora.
     Efígie pára o olhar no tempo, sua pele esmaece e sente tonturas. Esforça-se para não desmaiar. O Rob Iron a ampara com cuidado.
- Minha senhora! Não está bem?
- Não amiguinho. Os meus sentidos estão vibrando.
- Sente-se minha senhora. Por favor.

     Efígie obedece ao Rob Iron. À sua frente chega o Mestre Tálio, que põem as mãos sobre a cabeça da filha emanando forças vitais.
- Sente-se melhor?
- Sim pai, obrigada. Está acontecendo outro evento não é?
- Sim filha. Eu os templários já captamos muitas coisas.
- Mais sofrimento?
- Calma filha! Fique aqui com o rob, preciso avisar ao General Nergal!
     No salão do comando do Cruzador Centauro, um rob se aproxima do general.
- Senhor! O mestre Tálio deseja falar.
- Prossiga! – ordena o general.
Uma imagem holográfica surge no centro do comando.
- Mestre Tálio!
- General! Captamos sinais oriundos da massa invisível.
O general fica atento.
- Mestre Tálio! Apesar de não possuir os poderes psíquicos dos cerianos, eu percebi que eles estavam ali o tempo todo nos observando!
- Agora o senhor tem a confirmação general.
- Já faz algum tempo que acompanhamos o seu deslocamento em nossa direção. O senhor tem mais alguma informação adicional?
- Sim general. Um sinal mental revela um desejo de contato com o aumarante. O centro de comunicação deverá receber alguma mensagem.
     Um oficial se aproxima do general e confirma a informação.
- Mestre! Já temos a confirmação! Nada é dito de forma compreensível, além do nome Netuno.
- Eles devem está falando em língua própria general – orienta o Mestre Tálio.
     O general ordena a central de comunicação, abrir um canal com o Planeta Terra.
- Senhor! O canal com a Terra está livre –  avisa oficial de comunicações.
- General Nergal!
- Saudações excelência! – continua o general – Mestre Clístenes. Temos um inicio de contato com os draconianos e até o momento não existe sinal de reações hostis, pedem para contatar o aumarante Netuno.
- Ele se encontra no submarino na companhia do Dr. Asa, Sargaço e da Capitã Iara – informa o mestre - Seguem para a Estação Oceânica Niflheim. De lá, partem para ao mundo aumarante.
- Como o Conselheiro Netuno havia previsto, existem dificuldades de comunicações com os draconianos. Já estávamos prontos para partir com o povo ceriano e agora, já não podemos.
- General Nergal. Aguarde um pouco. Pedirei ao Conselheiro Netuno para ser o nosso intérprete, certamente ele conhece a linguagem draconiana.
- Ficarei aguardando mestre, Obrigado.
     O oficial de comunicações avisa ao General que já existe movimentação.
- General! Algo acontece lá fora!
     O general se aproxima da janela panorâmica e acompanha as imagens do espaço exterior. Ver os outros cruzadores, naves hospitalares, cargueiros e caças robs. Observa que próximo ao Planeta Ceres, surgiu uma espaçonave esférica de formas bizarras, revestidas de rochas polidas brilhantes e pontiagudas, emitindo sinais luminosos disformes.
- Estão querendo chamar nossa atenção. Comunicação! Emita sinais luminosos similares na mesma freqüência e abra um canal com todos os oficiais e comandos marcianos!
- Senhor! O General Ares e Mestre Menés estão no canal!
- Amigos!
- Nergal! Estamos recebendo os primeiros sinais! Parece que o clima esquentou! – comenta o General Ares.
- As coisas aqui estão ficando tensas!
- General Nergal. Como está o povo ceriano?
- Estão bem no momento Mestre Menés. Apreensivos como todos nós. Não sabemos ainda como agir, mas seja lá como for, estamos preparados.
- General – continua o Mestre Menés – Não subestime o poder dos templários, ordene para que eles se dividam nos cruzadores e no apoio aos caças robs. Os seus poderes intuitivos se potencializam em situações extremas e adversas.
- Farei isto, Mestre. Obrigado pelo apoio, fique conosco.
- Estamos com vocês, General! Boa sorte!
- Nergal! Já tem visão da nave draconiana? – pergunta o General Ares.
- Positivo! Ela tem quase a mesma proporção dos nossos cruzadores. Não detectamos formação de naves de ataque ao seu redor, apenas este tipo estranho que surgiu da massa escura.
     Antes do submarino chegar à estação abissal, o Conselheiro Netuno já havia recebido a mensagem do Mestre Clístenes sobre o contato draconiano. Ao desembarcarem, foram recebidos pela Comandante Ondina.
     A tripulação e o conselheiro estão silenciosos e preocupados. A frota marciana é preparada para conflitos e para a guerra, mas a possibilidade de ter o povo ceriano exposto a novos sofrimentos incomoda a todos os humanos e aumarantes. Todos se compadecem com a resistência e força desse povo pacato e hospitaleiro.
     A Comandante Ondina encaminha o Conselheiro Netuno para a sala de comunicação da estação e um canal é aberto com o comando maior das tropas marcianas.
- Senhor! Já temos contato com o conselheiro! – Avisa o oficial de comunicação.
- General Nergal. Saudações.
- Saudações, Conselheiro Netuno.
- General. O povo aumarante está solidário às tropas marcianas. Já recodificamos a linguagem draconiana para a compreensão humana, será traduzida simultaneamente para o conselho dos 12.
- Conselheiro. Agradecemos o povo aumarante pela ajuda. O sinal para os draconianos, transmitidos da massa escura, será aberto assim que o senhor desejar.
- Pode abrir o sinal, general. Estamos prontos.
     Na Terra, em Marte, na Lua e em toda frota marciana e Expedição Rapanui, nunca o sentido da palavra silêncio foi tão bem compreendida. Com um pouco mais de concentração, os templários poderiam escutar o ensurdecedor som dos corações humanos aflitos, palpitando descompassado e ofegante. O General Nergal, firme e sereno, olha para o oficial de comunicação e discretamente ordena com um balançar de cabeça para que abra o sinal. Segundos de expectativas e finalmente o Conselheiro Netuno fala em linguagem draconiana.
- Navan Dracória – Inicia suavemente, com a voz tranqüila e amigável que lhe é peculiar.
- Sou Draves! Membro do comando draconiano, dominador deste sistema! Quem são vocês?
- Somos da Raça Humana. Os legítimos herdeiros e dominadores deste sistema solar.
- Com que autoridade se declaram herdeiros deste sistema?
- Somos criações da Deusa Luna.
- Não reconhecemos nenhuma Deusa Luna!
- Não reconhecem mais a irmã de sua deusa?
- A irmã da deusa não mais existe! A sua luz apagou! Nós a destruímos!
- Mas seus filhos renasceram na força das fagulhas de sua luz.
- Luz? Nada foi deixado vivo neste sistema!
- A esperança sobreviveu. O destino sagrado se cumpriu. Mesmo diante da opressão e do sofrimento.
- Sabemos que não é humano. Onde aprendeu nosso idioma?
- Foi passado pela tradição do meu povo por milhões de gerações.
- Seu povo? Existem mais de sua raça?
- Quantos forem necessários.
- Não são aumarinos com certeza. Como se chama a sua raça?
- Somos descendentes dos aumarinos. Criação do Deus Navan. Somos os aumarantes.
- Aumarinos, aumarantes ou humanos, para nós não há diferença. Deixem imediatamente este sistema ou sofreram conseqüências mortais!
- Quem invade e ameaça nossos povos são vocês draconianos. Ordem errante do mal. Sem lar, sem destino certo, uma espécie infeliz e decadente que vive sob o julgo de uma deusa ilegítima de outra dimensão, que destrói a vitalidade de mundos livres e de povos frágeis para manter viva a sua tirania.
- Cuidado com as palavras aumarante, podem ser as suas últimas.
- Cuidado com as suas ameaças draconiano, poderão também ser as suas últimas. Ordenamos que se retirem deste sistema imediatamente! Não toleramos mais os seus desmandos e ameaças, estamos em nossa casa.
- O seu deus! Que chamam de Navan, está em nosso poder! E nada poderá fazer!
- O nosso deus nunca esteve em seu poder e no de ninguém! Vocês é que são prisioneiros do poder da sua Deusa. Apoderaram-se da esfera que irradiava vida e prosperidade ao Planeta Sinos.
- Onde está o seu povo?
- Onde está o seu?
- Você aumarante! Responde pela autoridade suprema dos humanos? Quero falar com o líder dos humanos!
- Tenho a autoridade de responder pela liberdade e pelos líderes humanos que protegemos por milhões de anos.
- Não há mais nada o que fazer aumarante! Decretou a morte para o seu protegido povo humano! Somos mais antigos e mais fortes! Serão exterminados para sempre!
- O que vão fazer? Atirar pedras? Como faziam com os indefesos aumarinos, deluvianos e outras raças pacíficas que aqui estiveram?
- Seria desnecessário aumarante! Não vou privar nossos guerreiros de tão salutar diversão!
- Você chama aqueles transtornados seres de guerreiros? O dia chegou draconiano! Saberão o que são guerreiros de verdade!
- Que assim seja! Malditos! E que a caçada comece! Obrigado pela bela recepção! – diz Draves com sarcasmo.
- Navan Dracória! Navan!
     Fecha-se o sinal.
- General Nergal! – diz o Conselheiro Netuno – Ficou claro que nenhumas das partes desejam se submeter. O draconiano Draves possui a mesma natureza hostil dos seus dois irmãos, apesar de que, segundo antigas histórias aumarantes, ele viria a ser o mais precavido.
Seu outro irmão é Detra, inconseqüente e impulsivo, a melhor das suas virtudes é a maldade. São liderados por Dracórius, irmão mais velho, imprevisível e orgulhoso, a personificação da tirania.
- Eles são imortais? – Pergunta o General Nergal com desconfiança.
- Não. Seus corpos se regeneram devido à intervenção e compensação em servir a sua deusa, posso lhe garantir que não são imortais. As suas vitalidades se completam, se um irmão for destruído, os outros dois enfraquecem. No entanto, apenas o poder da força de um único draconiano desta irmandade é extremamente maior do que se possa conhecer.
- Não são imortais para mim é uma grande vantagem – responde o General Nergal.
- O que é Dracória?- pergunta o Mestre Menés.
- Um antigo reinado mestre. Dracória não habita esta constelação. Encontra-se a milhões de anos luz de onde estamos. O seu sistema é formado por 35 planetas mantido por uma estrela de dimensões 500 vezes maior que o nosso sol. Esta região dar acesso a um dos portões dimensionais mais utilizados pela deusa má.
Os seres que lá vivem são como criações, cuja fonte de vida é retirada. A deusa se enfraquece de sobremaneira, todas as vezes que transpõem do seu universo desconhecido. Acreditamos que algo acontece em outras áreas do universo, que faz com que este ser venha refugiar-se ou entrar pelo nosso sistema solar, a ponto de não querer nenhuma forma de vida inteligente evoluindo.
- Conselheiro – pergunta o General Nergal – Quem são os guerreiros que Draves se referiu? São soldados?
- Não são soldados. São escórias genéticas de Dracória, clonadas por métodos desconhecidos e em quantidades, cuja principal razão de existir é “alimentar” e servir a deusa, que suga as suas energias vitais até a morte, quando se faz necessário. Servem à irmandade draconiana em inúmeros trabalhos, entre eles, de manter funcionando a Lua Negra e ao combate sem honra. Sua única diversão é matar seres desprotegidos e se vangloriar dos feitos.
- Então são orgânicos? Podem ser feridos e mortos?
- Sim. Podem ser exterminados - afirma o Conselheiro Netuno – Estas informações são muito conhecidas pelo povo aumarante. Os deluvianos nos repassaram, conheciam as fraquezas dos draconianos.
- Conselheiro Netuno – insiste o General Nergal – Eles parecem muito seguros de sua antiguidade e tecnologia bélica. O povo aumarante conhece suas forças de ataque?
- Quase nada – esclarece o Conselheiro Netuno – Provavelmente continuam usando as esferas.
- Esferas? – diz o General Nergal curioso.
- Sim! – continua o Conselheiro Netuno – Se deslocam com grande facilidade. Foi inspirado em modelos de defesas naturais utilizados pelos deuses! Sua eficiência varia de acordo com o material utilizado e o fato de ser conduzido ou não por seres orgânicos, criando algumas limitações! Nós aumarantes, também desenvolvemos naves esféricas de ataque baseados nestas histórias!
- Temos chances com estas máquinas num confronto? – indaga o General Nergal.
- As esferas de defesas aumarantes são guiadas a distância. Poupando assim, muitas vidas em combates. O fato dos humanos utilizarem robs soldados em seus caças também é uma vantagem em relação aos draconianos, resta saber se são suficientes.
- Estamos prontos em sacrificar nossas vidas se necessário – afirma o general.
- Sabemos disto, General Nergal. No entanto, encontra-se em desvantagem pela distância do Planeta Terra, onde há garantias de um maior contingente de forças tecnológicas humanas e aumarantes.
- Confiamos em nossa tecnologia e estratégias – responde o general.
- Também confiamos, general. Sendo assim, não teríamos enfrentado as ameaças de Draves com tanta convicção.
     Enquanto o General Nergal, o Conselheiro Netuno e os demais membros do Conselho dos 12 avaliam a situação e a formação de uma melhor estratégia de defesa e ataque; na Lua Negra: Dracórius e Draves preparam uma nova investida de tentar intimidar os humanos.
- Estão muito confiantes estes seres humanos! - diz Dracórius – Já codificamos a sua linguagem?
- Algumas – responde Draves?
- Algumas? – Como assim?
- Eles falam entre si em diversos idiomas, encontramos um padrão e similaridades colhidas das últimas transmissões. Acredito ser mais útil aos nossos propósitos.
- Então vamos usá-la. Aquele humano que atende por Nergal, que fala com o aumarante. Deve ser o líder deles. Localize a sua posição exata e me faça uma transferência – ordena Dracórius.
     No momento em que o General Nergal conversa com o Mestre Ares, o ambiente do salão de comando escurece e as fracas luzes de emergência quase não iluminam. Há aproximadamente 10 metros de onde se encontra o General uma fonte de energia se materializa em poucos segundos, fazendo surgir um ser alto, usando uma vestimenta de cor roxa com estranhos símbolos sob um círculo negro. Com um movimento das mãos, atrai com um feixe de luz um dos soldados que não tem tempo de se defender. O soldado fica imóvel, de pé, com os olhos revirados em visíveis espasmos. O feixe luminoso interliga-os em pensamentos.
- Nergal – apresenta-se Dracórius, usando a voz do soldado – Afaste os seus guerreiros!
O general, surpreso, faz um sinal pra os soldados se afastarem.
- Quem é você?
- Sou Dracórius! O aumarante já deve ter me apresentado!
- Liberte este soldado! Está matando-o! – grita o general.
- Tenho pouco tempo humano e uma proposta! Junte-se a nós e lhes garanto que a deusa será grata pela sua colaboração. Não há como vocês vencerem!
- Nunca draconiano! – responde o general – É muita ousadia sua vir onde não foi chamado!
- Sua tecnologia e conhecimento serão úteis e bem-vindos! Nossos problemas não são com os humanos e sim com os aumarinos!
- Não existem aumarinos! – responde o general – Ordenando disparos.
     A munição não faz efeito no corpo de Dracórius e o soldado começa a sangrar e ferver. Num impulso, o general joga em Dracórius um copo cheio de chá, o efeito é imediato. O soldado cai e Dracórius ainda tendo a sua imagem desmaterializando da o ultimato:
- Essa foi a nossa última proposta Nergal. Se tiver sorte nos veremos novamente.
- Fora draconiano! – grita o General Nergal.
     As luzes se restabelecem. O general corre em socorro do soldado ordenado chamar os médicos, um oficial segura o general não o deixando prosseguir.
- Senhor! Não toque nele pode ser perigoso!
     O general aceita a sugestão. Minutos depois, um médico atesta a morte do soldado marciano.
- Sinto muito senhor. Ele se foi – diz o médico – Os efeitos dos disparos foram estranhamente transferidos para este jovem soldado.
- Maldição! – grita o general enfurecido.
- Senhor! O general Ares no canal – diz o oficial de comunicação.
- Nergal! O que houve?
     O general resume o fato e divide a indignação com o amigo.
- Era um valoroso soldado Nergal. Sua morte não será impune.

- A água criou um tipo de curto circuito em sua energia – Diz o General Nergal.
- General – Entra o Conselheiro Netuno em outro canal – Os corpos destes draconianos são mantidos pela força da deusa má. O contato direto com este elemento produz uma reação alérgica chamada urticária aquagênica, além disso, o conteúdo da erva usada para o chá potencializou a ação. Elementos que provém da criação da Danu Luna provocou este tipo de reação no campo energético de Dracórius, mas não o suficiente para enfraquecê-lo. A morte do soldado não foi em vão general. Na tentativa prevista e mal sucedida do draconiano em explorar seus sentimentos de poder, revelou uma fraqueza desconhecida até por nós aumarantes.
     Ainda visivelmente irritado o General Nergal responde:
- Com todo respeito Conselheiro. Não trouxemos água e ervas suficientes para esta guerra. E este soldado também é criação da deusa.
- General – continua o Conselheiro Netuno – Entendo a sua revolta, mas o draconiano se arriscou muito em fazer isto. Perdeu um pouco da sua vitalidade, em se utilizar do corpo do soldado. Dracórius em breve se restabelecerá, é o mais forte. Para tudo há um preço general e eles mostraram que gostam de apostar alto. Ele queria ver de perto um ser humano, avaliar sua energia e força, conhecer seus pensamentos. Aconselho fechar todos os canais de comunicação imediatamente, inclusive a linguagem pública que eles já decodificaram. Eles possuem uma fonte que permite isto, assim como nós aumarantes.
     O oficial de comunicação faz um sinal para o general concordando com o conselheiro.
- Sendo assim. Usaremos as diversas línguas da terra em nosso favor nas comunicações – ordena o general.
Um oficial rob se aproxima.
- Senhor general! Podemos utilizar a linguagem rob nos caças.
- Linguagem rob?
- Sim senhor. Desenvolvemos por acaso, uma comunicação eletrônica discreta e eficiente. Suas ordens serão cumpridas com melhor eficiência se eu retransmiti-las aos caças.
- Nunca soubemos desta linguagem? – disse o general, curioso.
- Uma linguagem a serviço dos humanos senhor. Como agora está sendo oferecida – explica o rob.
- Pode funcionar senhor – concorda o oficial de comunicação – Os alienígenas decodificam rápido a linguagem humana. Estou quase sem opções.
- Podem usar – diz o general, com alguma desconfiança de que funcione.
- Sábia decisão, senhor – conclui o rob.
- Comunicação! Abra um canal exclusivo deste oficial rob para os caças robs – Ordena o general.
     Todos os canais de comunicações passam a utilizar exclusivamente da riqueza lingüística da humanidade. Os caças robs entram em formação de combate e se mostram bem confiantes com a decisão do General Nergal em usar os seus sinais eletrônicos.
     A nave draconiana que partiu da Lua Negra, atravessando a cortina escura, começa a girar em seu próprio eixo. Rochas pontiagudas se projetam formando um tipo de estrela. Pouco depois, começa a se fragmentar em milhares de esferas negras. Uma grande parte destas esferas formam uma barreira de proteção a um núcleo de onde Detra comanda. Do lado humano, soldados marcianos e voluntários cerianos estão juntos na batalha apoiando os robs, pois a missão de proteger a humanidade chegou ao sacrifício de suas próprias vidas e neste aspecto, os draconianos já iniciaram com o povo de Ceres e com o soldado marciano. A tolerância se esvaiu.
     Desenha-se no espaço o que será o início do maior conflito até então testemunhado neste sistema solar. Mais uma vez, forças opostas se enfrentam na disputa dos seus interesses. Todos os milhões de anos que se passaram desde a chegada da Deusa Luna até progresso aumarante e humano, vai ser posto a prova. A humanidade se uniu em pensamentos, em força e esperança contra a tirania draconiana, que sem perder tempo, se lançam em direção às naves marcianas.

Capítulo 10

O CONFRONTO

     As centenas de esferas pilotadas por draconianos se aproximam em grande velocidade. A frota marciana protege as naves de campanha na qual se encontra o povo ceriano, ficando entre as dezenas de cruzadores e caças conduzidos por robs e humanos.
     Na sala de comando, o General Nergal ordena apenas a partida dos caças robs para interceptar os draconianos no caminho. O oficial rob reproduz estas ordens em linguagem eletrônica.
     Ao se aproximarem o suficiente do ponto de alvo, os caças robs saem da formação original e assumem posições evasivas em vários sentidos. Alguns se deixam retardar, outros sobem e os demais partem pelos flancos alternando-se em alguns momentos, tornando-se alvos difíceis de acertar.
     As esferas draconianas lançam um tipo de raio de pouca visibilidade, que é identificado pelo sistema de defesa dos radares dos caças, que desviam com destreza. Ao sinal do general, os caças marcianos atiram mísseis em seus campos de visão e mais uma vez, fazem manobras evasivas retornando. Os mísseis se abrem lançando grandes quantidades de um produto gelatinoso que à distância, parece com nuvens ou fumaça. Os draconianos interpretam como vestígios de explosões de alvos destruídos e seguem direto. Ao passarem por estas substâncias, que contém um poderoso reagente químico de natureza ácida, eles não percebem que os mesmos colam na estrutura de suas naves, provocando instantâneas corrosões nas esferas. Antes mesmo de completar o derretimento elas explodem em sua maioria. As demais esferas percebendo a armadilha fatal reduzem a velocidade ou desviam, no entanto, não percebem que atravessando a cortina de destroços das explosões de suas próprias máquinas, estão no alvo dos canhões eletromagnéticosáes nas esferas draconianas, que antes de completar o derretimento explodem em sua maioria, fazendo as retardattornando-se alvos e pequenos mísseis nucleares dos caças robs, que os destroem e posteriormente se alinham na formação original.
     Esse primeiro evento vitorioso é comemorado por toda a equipe da frota, inspirando segurança em saber que as armas e logísticas marcianas estão sendo eficientes.
     Surge então, uma segunda investida de outras esferas draconianas que também passam a adotar um sistema de ataque evasivo, seguindo por outros pontos. Os caças robs se espalham e tomam a direção das esferas deixando-se visualizar. O inimigo enfurecido parte de frente, disposto em retribuir o prejuízo, porém, uma nova ordem do comando faz com que os caças momentaneamente se apaguem e ao reacenderem, se quadruplicam em imagens holográficas perfeitas, causando espanto nos guerreiros draconianos que se confundem em qual alvo é real. Como era de se esperar, esta dúvida favorece os caças robs que destroem 60% das esferas inimigas.
     Na lua negra, Dracórius e Draves assistem todo o confronto. Ficam imóveis e silenciosos, admirados com a força de combate humana, pois não estão acostumados a perderem e reconhecem que encontraram mais um adversário perigoso.
- Perdemos a noção do tempo em nossas viagens – comenta Dracórius.
- Nunca tivemos ao certo essa noção – completa Draves – Mas passamos muito tempo sem rever este ponto do universo.
- Não havia mais nada por aqui. Estão muito distantes de qualquer outra civilização superior que os possam ter ajudado. A deusa ordenou o nosso retorno.
- Pelo menos sabemos que uma civilização ajudou estes humanos. Os aumarantes!
- Não faz diferença! Uma raça floresceu primeiro que a outra, saiu em vantagem e se uniu – ressalta Dracórius.
- Há algo errado em tudo isso irmão! Mesmo que os aumarinos conseguissem sobreviver ao massacre, não teriam recursos para se manterem, não havia um planeta na época que pudesse lhes favorecer abrigo! Este terceiro planeta que chamam de Terra, que hoje possui uma maior quantidade de massa líquida, passou milhões de anos para ter condições, ainda precárias, de se desenvolver uma civilização como esta.
- Deixamos muitas raças perecerem nesse mundo. Inclusive os deluvianos! – indaga Dracórius – A não ser que!
- A irmã da deusa! Ela pode está viva! – surpreende-se Draves.
- Sim! Ela pode está viva e ser a causa de tudo isto! Aquele corpo celeste que chamam de Lua, o aumarante falou Danu Luna, faz sentido! Ela escondeu-se e alguém a protegeu!
- Então ela deve está entre eles! Na maldita Lua ou no Planeta Terra?
- No planeta! – responde Dracórius com firmeza – E tenho certeza que ela está debaixo de toda aquela água, onde também se encontra a raça aumarante! Senti na própria pele esta certeza no meu encontro com o Nergal.
     Dracórius se afasta do irmão e caminha pensativo, olhando para o alto, como se procurasse uma resposta definitiva e uma solução para os seus problemas.
- O que está pensando? – Pergunta Draves.
- O óbvio! – Responde o irmão sorrindo com sarcasmo – Chame Detra! Antes que ele se empolgue demais em guerrear com os humanos. Já vimos o suficiente, conhecemos algumas de suas armas e estratégias, foi um bom teste, deixe-os confiantes comemorando esta vitória, afinal não perdemos nada, só ganhamos!
     No núcleo da nave draconiana, Detra encontra-se incontrolável de raiva e desejo de vingança. Ignora o chamado de Draves para que retorne imediatamente com os guerreiros que sobraram para a lua Negra.
- Humanos! Se pensarem que eu vou desistir estão enganados! Quero sentir o prazer de vê-los sofrer! Malditos!
     A Nave draconiana começa novamente a girar progressivamente em seu eixo, criando um campo de energia brilhante e azul. Após atingir uma incrível rotatividade lança uma esfera de energia em direção a frota marciana.
- Senhor! A nave draconiana atacou!
- Prepare os escudos! Espalhem a frota!
- Não será possível senhor! Aquela coisa vem em grande velocidade!
     Um sinal eletrônico dos caças robs é insistentemente produzido. O general pergunta ao oficial rob o que está acontecendo.
- Senhor! Uma grande quantidade de caças estão conectando as suas estruturas. Pedem permissão para agir.
- Agir! O que eles querem fazer?
- Vão interceptar a ofensiva, senhor.
O general baixa um pouco a cabeça, pondo a mão na testa suada.
- Senhor! - Insiste o oficial rob – Não há tempo.
     O general balança a cabeça afirmativamente olhando para oficial rob, que imediatamente libera o grupo de caças para agirem por conta própria. No salão de comando, todos ficam curiosos para entender o que os robs estão pretendendo. O oficial rob esclarece:
- Senhor! Esse grupo ainda possui muita carga de energia e munição, quase não atacaram as esferas draconianas, estavam na retaguarda dos outros caças como garantia. Vão se unir em um único bloco de força.
     O General Nergal, em silêncio, acompanha os caças robs unido suas energias e se chocando com precisão na bola de fogo azul enviada por Detra. Uma grande explosão acontece e os seus efeitos se precipitam num círculo de energia eletro-magnética que se espalha no vácuo.
      A energia da frota marciana, assim como os dos caças robs são desligados. Fortes tremores são sentidos no interior dos cruzadores e demais naves, o povo ceriano se desespera.
     O sistema de iluminação é restabelecido. Do salão de comando, observa-se apenas poeira de destroços. A ameaça de Detra falhou mais uma vez, mesmo sendo favorecido pela destruição de dezenas de caças robs.
- Senhor! Temos 100% de força novamente – Avisa um oficial rob.
- Envie o meu cartão de visitas para aqueles desgraçados! Faça uma seqüência no canhão de plasma e atirem naquela esfera imunda!
     Em sua nave, Detra se espanta com a determinação dos soldados humanos, sem ainda desconfiar que sejam robs. Observa a chegada das luzes também azuis em sua direção. Reconhece a natureza plásmica da contra-ofensiva marciana e resolve abandonar a esfera, sabendo que a mesma não terá tempo de deslocamento e não suportará o impacto, pois a energia que ainda resta e que foi gerada e utilizada no último ataque, não poderá mais manter um escudo de proteção segura.
     Na lua negra, os irmãos mais uma vez chamam Detra em retornar, ele se recusa afirmando que descerá no Planeta Ceres e matará os humanos que lá estão e pede reforços.
     Detra se precipita em grande velocidade para fora da nave. E na fuga, consegue sair ileso da explosão provocada pelo impacto. O comando marciano comemora precipitadamente e percebe a intenção do inimigo que segue com as esferas restantes, para a Colônia de Nathan, no Planeta Ceres. Os caças robs que já estão no campo de batalha no espaço, permanecem em defesa dos cruzadores.
      Outros caças, pilotados por robs e templários, partem dos cruzadores em direção ao planeta, liderados pelo Comandante Lítio e acompanhado por Ébano e o Rob Iron. Em solo ceriano, os soldados que não puderam subir durante o conflito, lá permaneceram assistindo os eventos luminosos no céu, observando as explosões e os milhares de fragmentos que queimam ao entrar em contato com a atmosfera.
     O entardecer já havia chegado, quando as transmissões da ponte de comando informavam aos soldados que estão no planeta as intenções do inimigo. As luzes da colônia estavam acesas quando as primeiras esferas inimigas realizavam os primeiros disparos, porém nada havia de humano naquele ambiente, nenhuma nave cargueira, nenhum soldado. Os draconianos percebem a chegada dos caças que os seguem desde a reentrada na atmosfera e vasculham por sinais humanos no entorno da colônia.
Subitamente, centenas de disparos partem de diversos pontos das montanhas, destruindo as esferas com a ajuda das câmaras de imagem que foram instaladas anteriormente ao conflito, rastreando-as com lazer e orientando os disparos com absoluta precisão.
     Mas uma vez, as forças inimigas são surpreendidas pela inteligência e astúcia humana. Os draconianos decidem atrair os caças para outras ambiências do planeta e combater longe da colônia.
- Comandante Lítio! Saudações – diz um oficial marciano da unidade de comunicação da montanha.
- Fez um bom trabalho oficial! Parabéns! Estamos no rastro dessas esferas.
- A prevenção é uma excelente conselheira senhor!
- Agiram rápidos. Recolheram tudo para os hangares das montanhas?
- Positivo senhor! Ainda tivemos tempo de recuperar o sistema de defesa já existente, apesar do desuso, encontra-se em bom estado de conservação.
- E pelo que vimos daqui, muito eficientes.
- Oferecemos as nossas boas-vindas, senhor!
- Ainda não terminou oficial. As esferas se espalharam e seguiram para outras regiões, temos sinais de suas localizações?
- Positivo senhor! Tomaram direções opostas ao se agruparem em torno de uma esfera maior. Acreditamos que seja do líder.
     O comandante Lítio ordena perseguir todas as esferas. O caça pilotado por Ébano se posiciona ao lado do comandante.
- Senhor! Isso parece uma estratégia draconiana.
- Concordo templário! No entanto são ordens do General Nergal destruí-las, nada deverá ficar no planeta.
- Senhor! Estou captando vibrações no solo de um draconiano que não se encontra na esfera.
- Então é isso. Espalharam-se para desviar a nossa atenção!
- Senhor! Os caças já estão no encalço das esferas que não atacam apenas fogem. Estão sendo destruídas com facilidade – informa um oficial marciano da unidade de comunicação – Captamos uma imagem de um draconiano caminhando no solo, mas o perdemos do campo de visão.
- Vamos averiguar! – responde o comandante – Ébano registrou as coordenadas?
- Já as tenho senhor.

     Detra ao ser surpreendido pelas defesas de Ceres, espalhou as esferas para atrair as atenções dos caças como deduziu o Comandante Lítio, inclusive a sua nave de fuga. Seguiu sem destino e depois havia descido em um ponto de difícil acesso. Aguardava uma resposta de resgate dos irmãos.

- Maldição! Esta nave humana me localizou! – Observa Detra, revoltado e pela primeira vez temeroso de sua segurança, sentimento que o seu orgulho resiste em admitir.
     Os dois caças pousam no mesmo ponto onde o módulo de fuga de Detra havia estado.
- Senhor, chegamos! – Disse Ébano.
- Vamos descer! Eles devem está por perto!
- Senhor! Pressinto a presença de um único ser, devemos ter cuidado. Sua energia é hostil. Acredito que seja um dos líderes.
- Sendo assim, seria muito bom capturá-lo vivo.
- Sairmos vivos daqui já é uma boa alternativa senhor, o inimigo concentra muita força psíquica e deve ser muito resistente.
- Sigo ordens, templário! É nossa obrigação agora capturá-lo vivo.
- Sim senhor! Mas aconselho cautela comandante.
- Enviei um sinal solicitando reforços. Os soldados que estão na montanha e outros caças já estão no caminho.
     A mensagem pedindo reforço é recebida e confirmada.  O Comandante  Lítio, e Ébano que é acompanhado pelo Rob Iron, descem de suas naves e localizam as pegadas do inimigo. O Oficial segue os rastros usando um localizador e o templário com a intuição.
- Seguiu para as cavernas!
- Confirmo senhor! Ele nos aguarda.
- Isso não é bom – completa o Rob Iron – Senhor! É uma ação arriscada, sugiro que eu siga na frente.
- Então meu amigo. Faça a sua parte, siga me frente - disse o Comandante Lítio, no que o rob obedece, apesar de Ébano silenciosamente não concordar.
     O rob cumprindo a sua missão básica de proteger os humanos, segue pelas cavernas com muita habilidade iluminando o caminho, o que chama atenção dos dois homens.
- Não consigo acreditar que estou numa caverna novamente – comenta Ébano.
- Não se preocupe Éba. Conheço o caminho.
- Conhece? Não andamos por aqui da última vez!
- Tenho um registro do último mapeamento feito pelos robs marcianos quando foi realizado nosso salvamento.
- Onde conseguiu?
- Lembra daquele médico rob que nos prestou atendimento? Ele se solidarizou com a nossa história e considerou uma falha o fato dos robs cerianos não possuir esta consciência nos programas. Os robs marcianos segundo ele, conhecem todos os locais de superfície e subterrâneos de Marte e agora o de Ceres.
- Interessante! – Disse o comandante – Os marcianos são muito precavidos, podemos sugerir estender esta informação a todos os robs.
- Será muito bem recebida senhor – responde o Rob Iron.
     Após 40 minutos de caminhada, a trilha pela caverna segue para cima. Chega-se a perceber o vento frio entrando por uma fissura que dá acesso a uma área aberta, numa parte inicial de uma montanha.
     A uma distância de vinte metros encontra-se Detra, com suas vestes características e com uma aparência sombria e ameaçadora, típica de quem se encontra encurralado.
- Fim do caminho draconiano! – disse o comandante com firmeza.
     Ébano observa Detra com atenção e pressentiu ainda mais a força psíquica do inimigo.
- Ele não conhece nossa linguagem, senhor.
     O comandante levanta a arma e aponta para Detra.
- Essa linguagem aqui é universal!
     Ébano põe a mão na testa e percebe que Detra envia mensagens telepáticas muito fortes.
- Espere senhor! Ele diz algo!
- Diga a este humano que abaixe a arma!
- Senhor, abaixe a arma!
- Não posso! Ele precisa se render!
- Meu comandante pede para que se renda!
- Impossível! Sou o senhor deste sistema! Exijo respeito!
     Ouve-se um trovão e um círculo negro descendo do céu  e envolvendo Detra.
- Somos povos pacíficos! Aceite nossos termos e terá garantias de que não será molestado! – disse o comandante, o que Ébano retransmite telepaticamente.
     Detra capta os pensamentos do comandante e decide agir.
- Insolente! 
     O draconiano estende rapidamente o braço e lança uma pequena esfera incandescente, que parte de um bracelete, em direção ao Comandante Lítio. O oficial que cai morto há poucos metros do Rob Iron que estava na retaguarda.
     Caído pelo impacto provocado pelo vácuo, Ébano tenta se levantar para socorrer o amigo, mas é impedido por Detra que lança um feixe luminoso e disforme sobre o templário. Ébano levita alguns centímetros do chão e perde os movimentos do corpo.
- Você é um humano com habilidades muito especiais! Será muito útil para nós!    
     Detra atrai o templário para um círculo negro que toca o solo e que foi enviado pela Lua Negra para transportá-lo de volta. Surgem ruídos no céu, caças marcianos se aproximam. O draconiano se distrai olhando para cima e não percebe que o Rob Iron apanha a arma do Comandante Lítio. Sem hesitar, dispara contra Detra que cai ajoelhado e gravemente ferido.
- Maldita máquina!
     O círculo negro se fecha e Detra desaparece.
     Ébano ainda encontra-se desmaiado quando os primeiros soldados chegam à clareira da montanha. À noite ceriana continua esfriando rapidamente e com ela surgem os fortes ventos. O Rob Iron explica o acontecido, que é imediatamente comunicado ao General Nergal, que fica surpreso com a atitude do rob doméstico em pegar uma arma e atirar.  O corpo do Comandante Lítio, Ébano e seu Rob são conduzidos para a base da colônia.
     Na órbita próxima do Planeta Ceres, um profundo sentimento de tristeza é compartilhado entre os humanos. O Comandante Lítio era muito respeitado e admirado por todos, um homem extremamente gentil e de uma simpatia peculiar. Agora se somam duas perdas humanas que é contabilizada no comando marciano.
- General Nergal. Meus sinceros sentimentos pelo seu comandante.
- Agradeço Mestre Tálio. São os primeiros frutos da guerra.
- Apesar de tudo – diz o general – Nossas baixas foram mínimas, as duas mortes não se deram em campo de batalha, foram ações isoladas.
- Como está Ébano?
- O médico da base da colônia confirmou que ele está bem e consciente, logo estará aqui. Devemos a vida dele ao rob, que apesar de ser doméstico, agiu como um verdadeiro soldado.
     O oficial de comunicação avisa ao General Nergal que a massa escura está se deslocando. Sabem que por trás daquele campo de proteção, existe um corpo planetário, a Lua Negra. Não pode ser visualizada, mas os seus movimentos detectados.
- Para onde segue?
- Está retornando para fora do sistema solar senhor!
- Estão fugindo? Será que desistiram?
- Não podemos subestimá-los general – alerta o Mestre Tálio.
- Sim, infelizmente mestre. Mas não posso negar a minha satisfação de reação e  resposta aos draconianos.
- Senhor! Canal aberto – informa o oficial de comunicação.
- Conselheiro Netuno. Como o senhor avalia esta situação? Os draconianos entenderam o nosso recado?
- General Nergal! Parabéns pelos resultados. No entanto considero a reação draconiana muito branda e inexpressiva.
- Como assim conselheiro?
- Mostramos o que sabemos fazer no combate direto, apresentamos algumas armas, testemunharam a nossa coragem e determinação. As atitudes mais hostis partiram dos dois irmãos draconianos, que ceifou cada um, a vida de dois humanos. Não acredito que estejam fugindo, não é de sua natureza, mas diante de tudo que aconteceu, o momento é de vigilância permanente.
- Entendo bem essa situação conselheiro. Fizemos o nosso trabalho, conseguimos defender o povo ceriano. Fomos atacados e não tínhamos outra atitude a não ser nos defendermos, mas confesso que esperava coisa pior.
- Essa possibilidade sempre existe general. Entraremos em contato.
     O oficial de comunicação informa um chamado do General Ares.
- Nergal! O caminho para o Planeta Terra está livre?
- Nada impede no momento. Já estamos prontos para partir, aguardamos apenas a chegada de alguns soldados que estão no planeta. Alguns cargueiros começam a chegar, e um deles traz corpos de cerianos que foram vítimas dos meteoritos e nos túneis.
- Quanto ao Comandante Lítio. Foi uma grande perda - disse o General Ares – O que fará com o Planeta Ceres?
- Conversei com o Mestre Tálio. Ele concordou que deixássemos soldados e engenheiros robs, marcianos e cerianos no planeta. Ficarão zelando pela proteção da colônia e sua reconstrução. Devemos monitorar o planeta e considerar a possibilidade de uma nova investida dos draconianos.
- Nergal. Uma frota de apoio vindo do Planeta Terra já está em curso favorável na sua rota, deverão se encontrar e seguirem juntos.
- Então está confirmando. Não voltaremos para Marte?
- Isso mesmo! Os marcianos e cerianos que estão no espaço deverão seguir para a Terra. Inclusive já contatamos a Expedição Rapanui para retornar.
- Mandarei um cruzador interceptar e escoltar a expedição com segurança à colônia de Marte - Disse o General Nergal, que pergunta como está sendo realizada a prevenção no planeta.
- Estamos bem! Sabe que não baixamos a guarda. Por precaução já começamos a recolher a população com tranqüilidade para os abrigos subterrâneos e reforçamos nossas defesas.
     Durante a conversa entre os generais, o oficial rob alerta um comunicado do Planeta Ceres:
- Senhor! Temos informações da captura de dois prisioneiros draconianos.
- Abra o canal!
- General! Encontramos os draconianos escondidos em uma das cavernas.
- Ofereceram resistência?
- Não senhor! Pelo contrário! Mostraram-se pacíficos! Um deles encontra-se bastante debilitado e assustado. É um menino senhor e está acompanhado de um adulto.
- Um Menino?
- Positivo General! O que faremos?
- Já iniciaram os exames?
- Já foram concluídos senhor e não há sinais evidentes de doenças infecciosas.
- Providencie uma escolta especial para a uma nave hospitalar. Quero os dois de quarentena.
- Positivo General!
     Horas depois, dezenas de naves cargueiras acompanhadas de caças partem finalmente do Planeta Ceres e se unem à frota marciana. A notícia de que os dois prisioneiros draconianos estão sendo conduzidos para uma das naves hospitalares provoca reações e dúvidas. O Mestre Clístenes pede cautela no trato com os prisioneiros e que assim que houver condições, sejam interrogados perante o conselho dos 12.
     Em uma das naves de campanha onde se encontra o povo ceriano, Ébano se reencontra com Efígie:
- Senti tanto medo! Pensei que te perderia!
- Confesso que ficar de frente com aquele draconiano não foi fácil. Por um momento, achei que fosse o meu fim.
- Ele não te matou como fez com Lítio.
- Acho que não era a sua intenção. Ele disse que eu seria muito útil aos seus propósitos. Acredito que seja pelas minhas habilidades. Foi tudo muito rápido, um círculo negro desceu do céu, parecia um meio de transporte, não sei direito, agradeço a minha vida ao Iron.
- Eu não agüentaria se algo de ruim lhe acontecesse – Efígie abraça-o com força.
- Calma minha querida. Estamos bem agora, seguiremos todos para o Planeta Terra.
- Nunca pensei que ficaria tão feliz por isso. Sentirei saudades de Ceres.
- Sei disso, minha querida. Não foi assim que planejamos nossa viagem à Terra. Acredito que os marcianos se esforçarão para reconstruí-la e depois retornaremos para um novo recomeço.
- Não sei se tenho coragem de voltar. O que antes era um planeta de paz e prosperidade virou um palco de tragédias e sofrimentos.
- Venha comigo. Precisamos de um descanso.
- E você como se sente?
- Ainda me sinto fraco. Foi muito desgastante, aquele draconiano quase que esgota minhas forças vitais.
     Em pouco tempo, a frota marciana parte em direção ao Planeta Terra. Um sentimento de alívio e tranqüilidade paira sob o povo ceriano que se recolhe em silêncio.
Capítulo 11

O MUNDO AUMARANTE

     No Planeta Terra, a população reage atônita aos fatos que aconteceram no Planeta Ceres. Desde o início da era glacial, a raça humana se une em torno de um ideal pautado na sua sobrevivência e relação pacífica entre os diversos povos. A palavra guerra se restringe apenas aos fatos históricos antigos, de um período bárbaro, desigual e repleto de conflitos. A animosidade entre os homens foi substituída pela solidariedade e o bem comum.
     Em poucos dias, a frota marciana chegará a Terra e com eles o refugiado povo ceriano, onde em sua grande maioria, nunca esteve no Planeta Terra. Se dedicar aos preparativos para recepcionar os irmãos viajantes, acomodá-los em uma nova cidade e literalmente fazê-los sentir que estão voltando para a sua casa natal, desvia momentaneamente os pensamentos hostis, os medos e incertezas diante de uma represália draconiana ao planeta.
     No fundo dos mares, a equipe do Dr. Sargaço se dirige às Montanhas de Netuno, onde em breve conhecerão uma das mais fantásticas civilizações existentes no planeta: O mundo Aumarante.
     A esposa e o filho do conselheiro seguem logo atrás em outro submarino.
     De posse do material colhido na Lua, o Dr. Asa comenta com o Conselheiro Netuno, que se encontra ao lado da esposa e filho, o porquê da necessidade de levá-lo ao seu povo.
- Dr. Asa, devemos imediatamente levar este material para a deusa. Acreditamos que seja determinante para completar a sua reanimação. Ao chegarmos em nosso mundo, será mais fácil compreender as razões.
     Um pouco constrangido, o Dr. Sargaço se aproxima do conselheiro.
- Netuno. Gostaria que perdoasse a reação do meu sobrinho Nergal. Ouvir rumores sobre a sua impaciência.
- Fique em paz Sargaço. O seu sobrinho é um grande homem, apenas estava sob forte pressão. O estado de guerra altera as emoções humanas, o instinto de sobrevivência sobrepõe o medo, a responsabilidade de agir com precisão se torna penosa e às vezes confusa. Estes sentimentos já não faziam mais parte de suas vidas.
- Eu agradeço a sua compreensão. Apesar de cultivarem a missão de defensores da raça humana. Nenhum oficial ou soldado se deparou até então com um conflito real e destas proporções.
- Entendo, perfeitamente. No entanto, o ser humano possui uma incrível habilidade de adaptação e com o tempo aprende a lidar melhor com os seus sentimentos diante dos conflitos.
- Está em nossa memória genética? – comenta a Capitã Iara - E funciona assim também com a raça aumarante?
- Sim Iara. Isso mesmo, na memória genética. Se você acredita. A evolução segue muitos caminhos e todos eles muitas vezes desconhecidos, atende a conservação de seus propósitos. Tudo no universo está intrinsecamente ligado numa grande rede. Existe uma comunicação oculta que com tudo interage e influencia em menor ou maior grau. As células dos corpos orgânicos, por exemplo, se comunicam e vibram entre si permanentemente mediante impulsos elétricos, participam na resolução de problemas que sempre passam despercebidos pelos seres que as abrigam. As diversas habilidades, inclusive as complexas como a mental, tendem a dotar os seres mais evoluídos e de sentidos mais apurados, em perceber cada vez melhor a realidade do mundo que os cercam e o que está dentro deles. A memória genética dos aumarantes se manifesta naturalmente, devido aos longos períodos de evolução em que se 
submeteu e adquiriu. No período embrionário, cada indivíduo aumarante que nasce ou renasce, recapitula ou reproduz os vários estágios da vida a que pertenceu quando foi interrompida pela exaustão do corpo físico, ou seja, pela morte. Em outros seres, apesar desta memória não ser ativada, não quer dizer que ela não esteja lá, oculta, aguardando que processos evolutivos complexos sejam concluídos e que quando se faz necessária ou devidamente estimulada se apresenta.
- Confesso que estou muito curiosa em conhecer o seu mundo conselheiro! – diz a Capitã Iara que também participa da viagem com a Comandante Ondina.
- Será em breve Iara.
     O Conselheiro Netuno aponta para a base da montanha que se encontra iluminada.
- Chegamos a uma das entradas para o nosso mundo.
     O Dr. Asa observa a luminosidade.
- Olha só Sargaço. As luzes daqui parecem ser bem mais adaptadas a estas águas
- Preciso fazer melhorias em nossa estação. Vou consultar meus novos amigos aumarantes. Se isso for permitido.
     O conselheiro Netuno olha para os humanos com um olhar feliz e amistoso.
- Sempre nos consideramos seus amigos e temos muitos conhecimentos para compartilhar entre a raça humana e aumarante. Não tenho dúvidas que a nossa coexistência será repleta de boas surpresas.
     O submarino aumarante entra por uma grande passagem, descendo vários de quilômetros para o interior da montanha.
     A Comandante Ondina se interessa em saber da distância a ser percorrida.
- Na verdade Ondina, este percurso é um dos mais distantes para o Reino das Águas, apesar de temos uma ligeira vantagem de correntes e pressão que aceleram a nossa viagem. É preciso ter muita cautela, os abalos sísmicos são podem comprometer a nossa navegação.
- Existem outras passagens fora dos oceanos?
- Sim. Existem centenas de acessos para a superfície da Terra e nos oceanos.
     Após algumas horas, o submarino declina para um ângulo mais estável e se aproxima de grandes paredões rochosos. É possível perceber que não mais existe escuridão absoluta, como foi durante toda a viagem. Uma claridade tênue ilumina algumas áreas.
     O Conselheiro Netuno explica que estas passagens foram trabalhos de antigos aumarantes, e que em determinadas épocas precisam ser restaurados devidos os movimentos das placas tectônicas. Ele indica os locais com dezenas de pontos incandescentes onde as lavas vulcânicas fluem, mantendo uma rústica iluminação e uma fonte permanente para utilização de energia térmica nestas profundezas.
- Não imaginava que fosse tão profundo o seu mundo Conselheiro – comenta o Dr. Asa – Existem camadas no interior do planeta extremamente quentes e rochosas, me impressiona não passarmos por eles.
- Passamos sim, Dr. Asa. Todos os corredores usados por nós possuem isolamento térmico e são monitorados regularmente. A atual tecnologia aumarante atingiu seu ápice no que se refere à vida subterrânea e muito nos alegraria, se pudéssemos compartilhar outros conhecimentos na superfície do planeta e no espaço sideral.
- O que são aquelas luzes nas paredes das montanhas? – pergunta a Comandante Ondina.
- São cidades. Cada ponto luminoso são janelas. É difícil para o ser humano imaginar de como são belos e extraordinários estes lugares, que ainda abrigam 40% da vida aumarante.
- Seu povo além de viver no fundo dos mares, ainda vive no interior do planeta dentro de montanhas submersas?
- Em remotos tempos sim. Mas como havia dito, a nossa ciência evolui a passos largos e acredite, se depender da disposição e imaginação dos nossos cientistas, ainda muito será feito.
- Conselheiro, temos luzes se movendo adiante
- Sim Sargaço. É a nossa pequena escolta de segurança.
     Dezenas de outros pequenos submarinos aumarantes se espalham emitindo vibrantes sinais luminosos de boas vindas.
     O Dr. Asa sempre fica entusiasmado com as luzes.
- Parecem felizes com a nossa chegada.
- Mas do que você imagina, meu amigo.
     Em seguida, o submarino começa a subir. Os visitantes humanos ficam espantados ao chegar a superfície de um oceano azul e límpido.
- Onde estamos?- pergunta a Comandante Ondina.
- Estamos no Reino das Águas. O lugar que considero o mais bonito do nosso mundo.
- É Incrível. Parece que estamos na superfície da Terra.
- O Reino das Águas é o nosso maior triunfo. Exigiu muitos milênios de pesquisa e dedicação.
     O céu no Reino das Águas é repleto de nuvens que emite cores e luminosidades discretas. O Dr. Asa observa seres voadores no horizonte daquele mundo.
- Acho que perdi a noção de tempo. Estamos no amanhecer ou no entardecer deste mundo?
- Estamos no amanhecer amigos. Nossos horários aqui é baseado nas correntes de lavas que se precipitam numa imensa caldeira há milhares de quilômetros de onde estamos. Quando sua intensidade diminui, a luminosidade também esmaece. A temperatura, pressão e atmosfera são controladas por nossa engenharia. É o que temos de mais parecido com o seu mundo de superfície.
     Dr. Sargaço surpreende-se.
- É simplesmente incrível!
     Ao longe, se percebe uma praia, vales com vegetações e montanhas formadas por rochas inexistentes na superfície da Terra.
     Devido ao material trazido da Lua pelo Dr. Asa, o mesmo fenômeno de atrair os animais é constatado. Aves marinhas de diversas espécies circulam o submarino que navega devagar sob as águas e outras dezenas de espécies de animais aquáticos, são vistos embaixo do piso transparente, como peixes, baleias, tubarões, golfinhos e alguns seres desconhecidos.
     Ondina se impressiona com alguns deles.
- Estes animais são estranho para nós Netuno.
- Não me admira, que não os conheçam. São animais pré-históricos nunca conhecido pelos humanos, mas não se preocupem, todos são dóceis. Nenhum dos animais existentes aqui atacam humanos nem aumarantes.
     A Dra. Iara se interessa pelo comentário.
- Vocês possuem animais pré-históricos aqui?
- Sim e já faz milhões de anos. Quando o último meteoro atingiu a Terra abrimos passagens seguras nos pólos para muitos deles. Existe uma região em nosso mundo em que eles vivem e seguem as suas evoluções. Infelizmente outros não foram possíveis se adaptarem. No entanto, temos seus códigos genéticos preservados e um dia quem sabe, poderemos fazê-los renascer em outro planeta, criando uma reserva como essa. Vamos passar perto de uma região onde poderei mostrá-los rapidamente, pois evitamos o contato.
     O submarino aumarante sai da tona d’água e começa a voar sobre ela, ganhando altitude e seguindo para o litoral. As outras naves aumarantes seguem para outros destinos, ficando apenas duas delas na escolta. Durante a viagem, não é visto nenhuma civilização, apenas florestas, pântanos, campos e outros tipos de vegetações desconhecidas.
- Estamos passando sobre a reserva pré-histórica que lhes falei.
     A equipe humana fica admirada em ver vivos, animais extintos há milhões de anos.
- Meu deus! Que maravilha! – surpreende-se a Comandante Ondina.
- No passado. A raça humana escreveu muitos livros e filmes de ficção alusivos a este mundo – disse o Conselheiro Netuno em tom didático – Possuímos todos eles em nossos arquivos.
     O Dr. Sargaço aprecia muitos esses livros raros na estação.
- Eles estavam certos. A ficção se transforma em fato! Alguém de cima já esteve aqui?
 - Tivemos muitas visitas da raça humana em nosso mundo, apesar de poucas vezes visitarmos a superfície. Inclusive temos alguns humanos vivendo entre nós.
     A Capitã Iara se admira
- Isso mesmo. Humanos aumarantes, nascidos neste mundo. E que muito colaboram em interagir e auxiliar com os humanos externos.
- Mas eles não querem voltar? Conhecer e viver entre os de sua raça?
- Na verdade. Eles são felizes aqui. E todos nós esperamos ansiosos que os dois mundos se visitem e se completem algum dia. Em algumas situações, salvamos muitos seres humanos vítimas de naufrágios em várias épocas e que após conhecer o nosso mundo, muitos preferiram ficar e nos ajudar no propósito sagrado. Outros resolveram retornar, aceitando a condição de ter apagado da memória a lembrança de nossa existência.
- E como vocês fazem isso? Quero dizer, Como visitam a superfície sem serem vistos?
- É uma operação arriscada. A nossa grande preocupação não era com os humanos e sim com os draconianos e demais raças a serviço da deusa má. Às vezes éramos vistos nos céus de forma intencional, para dar pistas à humanidade de que não estavam sozinhos neste mundo. Algumas vezes não éramos nós e então, tínhamos que impedir que outros seres curiosos viessem perturbar a raça humana com suas intenções egoístas e hostis.
- E como os impediam? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Simplesmente, os capturávamos. E alguns também viveram ao seu tempo entre nós, em lugares especialmente reservados para eles. Não retornavam mais para a superfície, nem para os seus mundos.
- Existem outros lugares semelhantes ao Reino das Águas? – pergunta a Capitã Iara.
- Sim, existem. Estes lugares são bolsões ou cavernas localizados no interior do planeta. Suas proporções são variadas assim como as suas utilizações. Algumas possuem poucos metros e outras milhares de quilômetros, sendo o Reino das Águas a maior delas.
- Estes seres alienígenas viviam como prisioneiros? – pergunta o Dr. Asa.
- Nunca tivemos prisioneiros aqui, amigo Asa. No entanto, não podíamos deixar que a nossa existência fosse revelada. Em todo caso, sempre adotamos a intervenção mental para que os seus cérebros desprezem e esqueçam o que presenciaram. Para muitos seres extraterrestres, a informação que se tem deste sistema solar é de uma região hostil e repleto de perigos.
- Só uma pergunta, conselheiro. Isso vai acontecer conosco? Esqueceremos que aqui estivemos?
- Não Iara. As circunstâncias são outras, não haverá necessidade.
- Fico aliviada em saber disso
- E esta intervenção mental é reversível? – pergunta o Dr. Asa.
- Sim, Asa. Dominamos a hipnose com rara habilidade e sutileza. Mas dificilmente revertemos nos seres que partem do nosso mundo a lembrança da nossa existência. Lembre-se que um dos nossos propósitos sagrados é o de proteger a raça humana.
     Uma voz suave ecoa no comunicador do submarino. Palavras curtas e estranhas são pronunciadas entre o conselheiro e sua esposa. O Dr. Sargaço não resiste em fazer um comentário.
- De fato. A língua aumarante é bem difícil.
     O Conselheiro Netuno sorrir.
- Minha família faz questão que vocês fiquem acomodados em nosso lar.
- Será uma honra para nós – responde o Dr. Sargaço.
- Sabemos disso, amigo. Mas acredito que o nosso rei já tenha reservado acomodações mais interessantes.
- Acomodações reais? Não precisa tanto conselheiro. Somos acostumados com pouco conforto – disse a Capitã Iara.
- São confortavelmente modestas, tenho certeza que apreciarão. O primeiro contato com o nosso mundo pode parecer estranho em alguns aspectos e outros não. É preciso entender basicamente, que o nosso avanço tecnológico evoluiu de mãos dadas com o espiritual, se complementam e se revelam.
- O senhor anteriormente falou em renascer? Em que sentido?
- Assim como a atual raça humana se preocupa com o aumento populacional e da exaustão dos recursos naturais, que foi em épocas remotas, uma das principais causas das últimas grandes guerras, o nosso povo possui uma razão a mais para manter este controle. Os aumarantes são gerados a partir dos seus próprios corpos clonados, cuja consciência é transferida por um processo chamado transmigração de alma. Apesar de nossa ciência avançada, o nosso corpo também está sob a influência e os desgastes naturais do tempo. Mesmo assim, a nossa longevidade é alta comparada aos humanos.
- Os aumarantes não se reproduzem? Se clonam? – pergunta a Comandante Ondina.
- Preservamos a consciência genética e todo o aprendizado nesse processo de existência. No entanto, precisamos manter a variabilidade genética.
- Ter filhos?
- Sim, Ondina. Casamos-nos para constituir famílias nestes casos e um novo ser aumarante surgi neste mundo. Mas esta decisão depende de vários fatores, infelizmente não temos tempo suficiente para explicar agora, mas em breve os nossos hábitos serão bem conhecidos. Mas para não deixá-la curiosa, faremos uma pequena pausa em nossa viagem. Esta vendo aquela torre de cristais?
- Sim! É linda.
- Vamos até ela. Assim vocês poderão conhecer mais um pouco sobre nós.
     A nave aumarante segue para um complexo de torres de cristais, transversas entre si, com grande luminosidade em seu ápice.
     Ao aterrissar entre exóticos jardins, todos seguem por um caminho construído de pedras preciosas. Alguns símbolos são vistos como: círculos, triângulos e pontos, tanto nos pisos como nas laterais das paredes, estas últimas, em ouro brilhante.
- O ouro é o elemento símbolo da pureza – explica o Conselheiro Netuno – É bem aceito neste berçário.
- Berçário? - pergunta a Capitã Iara.
- Sim. Aqui é onde nascem os aumarantes. É também um dos templos onde fazemos as nossas meditações.
     No meio de um salão, todos sobem dentro de um círculo de cristal que se eleva lentamente, conduzindo-os a outro pavimento. Eles observam dezenas de aumarantes em silêncio absoluto, meditando em direção a um ponto azul brilhante, fixo no fim do recinto. A plataforma de cristal sobe novamente e encontram um painel holográfico com imagens que revelam algumas etapas do nascimento de um aumarante.
- Então existe união sexual? – pergunta a Comandante Ondina.
- Sim, existe. São momentos íntimos e sublimes em nosso mundo. Observem que todos os pontos vitais ou chacras, como vocês chamam, se iluminam intensamente em ambos os corpos no momento da concepção do novo ser aumarante. O pequeno aumarante é aguardado com muito amor pelos parentes e amigos, como aqueles que vimos no piso abaixo.
- Então vocês fazem um tipo de ritual religioso para chegada do novo aumarante?
- Um ritual, sim. Mas não exatamente religioso. É um momento de exaltação e celebração da vida. Porem é preciso dizer que apesar de sermos considerados mamíferos como os humanos, possuímos vestígios anfíbios herdados dos aumarinos. A nossa fecundação é externa, ou seja, o embrião não se forma no útero da fêmea e sim na água. Por isto ela tem que ser de excelente qualidade, dentro dos nossos padrões.
- O embrião sofre metamorfose na água como os anfíbios?
- Perfeitamente. A mesma transformação que se passa com os embriões humanos se processa aqui. A única diferença é que não estão dentro da genitora. Com o tempo, eles se libertam da bolsa e da respiração branquial e passam a respirar com os pulmões, sendo imediatamente amamentados. Como disse anteriormente, nossa natureza é metade humana e aumarina.
- Os aumarantes são uma espécie muito bonita conselheiro. Estou muito emocionada.
     O Conselheiro Netuno com um sorriso contagiante e olhando para esposa e o filho responde:
- Obrigado Ondina. Mas prefiro dizer que somos todos belos.
     A Capitã Iara segura à mão do Dr. Asa e olhando-o profundamente, revela o desejo de ser mãe e de compartilhar com ele um futuro feliz. O Dr. Asa corresponde o olhar com um sorriso.
- Bem. Gostaria muito de lhes mostrar o processo de renascimento e da transmigração, mas estamos sem tempo no momento.
     O Conselheiro Netuno indica ao grupo uma nova saída para o jardim, onde se encontra a nave e logo em seguida partem para a cidade do Reino das Águas.
     De longe, todos avistam uma bela cidade de muitas torres e luzes. O entardecer no céu aumarante esmaece aos poucos e passa para uma cor azul escura. O Conselheiro Netuno dar novas explicações do processo do dia e da noite no mundo aumarante, do aproveitamento do reflexo de luzes que vem da superfície, da fonte de energia do núcleo da terra que também é utilizada para complexos processos de refrigeração e dispersão de calor.
     Quando a nave aterrissa numa plataforma que fica na torre mais alta da cidade, os visitantes se alegram com a recepção de jovens aumarantes ricamente trajados, conduzindo belos arranjos de flores e presentes. Uma música suave e relaxante ecoa por todos os pontos.
     Surgi então o Rei das Águas, que se aproxima sorridente e emocionado com a presença dos visitantes.

- Navan meus amigos! Navan!
- Navan majestade! – todos respondem.
- Desejamos que vocês apreciem a nossa hospitalidade e amizade – disse o Rei das Águas, usando vestimentas imaculadamente brancas – Sigam-me amigos, quero lhes apresentar ao povo aumarante.
     Todos acompanham o rei para a extremidade da plataforma e observam uma vasta multidão de aumarantes que imediatamente reverenciam respeitosamente o rei e os humanos recém chegados. O Dr. Asa sente o coração pulsar de emoção, o Dr. Sargaço abre um largo sorriso e olha para Comandante Ondina que se esforça em segurar as lágrimas. A Capitã Iara admira perplexa esta incrível civilização.
     Após uma breve cerimônia, os convidados seguem para o salão real e são recepcionados por outros anfitriões. Dezenas de mesas de baixa altura, construídas habilmente de puro cristal, surgem lentamente do piso liso e brilhante. As paredes ostentam complexos mosaicos e vitrais alusivos a cultura aumarante.
     O Conselheiro Netuno se aproxima dos amigos e indica o lugar onde o Rei das Águas os aguarda já devidamente acomodado.
- Espero que vocês apreciem a culinária aumarante.
- Chegou em boa hora conselheiro, meu estômago se alegra com o convite – disse o Dr. Sargaço com curiosidade.
- Falou em comida você perde logo a linha. Não é meu querido? – Sussurra a Comandante Ondina dando-lhe uma discreta cotovelada.
- Minha Sereia. Todos sabem que a minha real vocação é a gastronomia, este momento é histórico. Olha só! Eles não usam acentos ou qualquer tipo de cadeira, se acomodam nestas almofadas macias como nuvens.
- Muito interessante. Eles adotam padrões de antigas civilizações humanas. Veja aquelas colunas, parecem com o estilo jônico, Os vitrais e mosaicos são extraordinários. Eu passaria horas admirando-os.
     Próximo as grandes janelas de incríveis transparências, o Dr. Asa e a Capitã Iara também se entusiasmam com as torres em vários pontos da cidade, vistas a distância.
- A impressão que eu tenho, é que eles têm um pouco de cada cultura arquitetônica humana. É simplesmente deslumbrante! É um mundo excepcionalmente incrível!
- Fico pensando, Asa. Acho que foram eles é que nos inspiraram.
- É muito provável que sim.
     Os convidados se impressionam mais uma vez, quando estranhas bandejas transparentes e caprichosamente iluminadas, surgem flutuando com suavidade entre as mesas, depositando alimentos coloridos e de aromas convidativos. O Dr. Sargaço observa que nenhum destes alimentos é de origem animal. As bebidas, além de água cristalina, são sucos produzidos com frutos exóticos e extintos na superfície do planeta. O salão se encontra repleto de aumarantes falando em seu idioma típico, de sonorização agradável. Também não se observa tumulto e tudo segue com impecável organização.
     Uma brisa leve penetra pelo teto do salão. A temperatura do ambiente é confortável, assim como a música que se escuta com prazer, mas que não se identifica ao certo de onde vem.
     O cerimonial segue com refinado estilo e uma atmosfera de paz contagia a todos. São realizadas apresentações lúdicas acompanhadas por hologramas perfeitos, com imagens de seres míticos e um baile de luzes de varias tonalidades que encerra a apresentação no alto do domo, lembrando um show pirotécnico.
     Na seqüência, outra imagem circula a parede do salão, com painéis apresentando um resumo da cultura, da biodiversidade e dos inimagináveis avanços científicos e experimentais do povo aumarante.
     Não se teve a exata noção de quanto tempo se passou essa confraternização histórica. Nenhum assunto referente ao verdadeiro objetivo da presença dos humanos no mundo aumarante foi dialogado durante o evento. Concluído o jantar, os convidados seguiram para os seus aposentos, sendo guiados por pequenas, interessantes e cordiais esferas metálicas que flutuavam. Estas minúsculas máquinas robóticas se comunicavam no idioma humano, dando boas-vindas e desejando bom descanso aos visitantes, avisando que em algumas horas teriam um novo encontro com o Conselheiro Netuno.
     Apesar das confortáveis e convidativas acomodações, apenas o Dr. Sargaço é que consegue dormir profundamente. Os demais, ainda sob o efeito do impacto de estarem no mundo aumarante, apenas tentam relaxar um pouco, observando de uma varanda a bela paisagem que se revela.

Capítulo 12

O HERDEIRO

     No Planeta Terra, a raça humana acompanha emocionada e com alegria, a chegada das primeiras centenas de caças robs, cargueiros e cruzadores marcianos nos céus das principais cidades em diversas regiões. Já é noite na Cidade de Palmeira dos Ventos, sede do governo da humanidade. O Mestre Clístenes recepciona o Mestre Tálio, com a sua filha Efígie e o genro Ébano. Logo em seguida, o General Nergal chega com os demais oficiais do comando militar de Marte e alguns soldados robs. As naves aumarante que participaram da escolta não pousa em solo terráqueo, mantendo-se na guarda da órbita do planeta com os demais cruzadores terráqueos e marcianos. Todos estão sob as ordens do Comandante Arcturus, recém chegado da Estação Lunar Meteora, conduzindo todos os humanos que lá habitavam.
- Saudações, Mestre Clístenes – Disse o General Nergal, que ensaia um abraço a moda marciana, cruzando os braços alternadamente.
- Seja bem-vindo, general! Fez boa viagem?
- Sim mestre. Com exceção dos nossos prisioneiros que estão muito assustados.
- Os draconianos, estão bem?
- Nenhuma alteração. Passaram todo tempo no setor de quarentena, tivemos poucos contatos durante a viagem.
- Seus corpos possuem aversão à atmosfera do nosso planeta?
- Um pouco de desconforto com a gravidade terráquea que parece ser um pouco mais pesada que a deles. Impressiona-nos a sua adaptação, certamente o planeta de onde vem possui atmosfera semelhante.
- Tentaram fazer alguma comunicação?
- Um pouco. O jovem já se encontra recuperado de suas lesões e durante as nossas tentativas de comunicação se manteve em silêncio. Só obtivemos algumas respostas curtas do adulto, que dizia em linguagem draconiana que queria falar com o líder maior.
- Nenhum detalhe?
- Não mestre. Mas aconselho a não demorar muito em interrogá-los. Poderemos obter informações valiosas. O inimigo pode voltar atacar a qualquer momento.
- Entendo sua preocupação general. Sendo assim, reuniremos apenas o conselho dos 12 na acrópole em vinte minutos. Conduza os prisioneiros de guerra até o salão nobre.
- Imediatamente mestre.
     Todos os clãs da Terra estavam entretidos com a chegada do povo ceriano e cada um ao seu modo, realizavam as suas confraternizações de boas vindas. A Rede Humanity fazia ampla cobertura dos acontecimentos e mais uma vez por precaução e segurança, a existência dos prisioneiros draconianos não foi divulgada.
     Após a formação da assembléia na Acrópole, o menino e o adulto capturados, seguem escoltados para o centro do salão em formato de arena. Rodeados pelos representantes do Conselho dos 12 e das imagens holográficas dos demais membros ausentes fisicamente, os prisioneiros demonstram aparente tranqüilidade.
     Antes de iniciar os interrogatórios, um atraso imprevisto é anunciado, pois não houve sinal de comunicação com a Expedição Rapanui e de um cruzador marciano, cuja missão era realizar a escolta de volta ao Planeta Terra.
- Mestre – informa o General Ares de Marte – Perdemos o contato com a expedição.
- Poderia ser mais claro, general?
- Não temos nenhum sinal de sua localização. Até a nossa chegada à órbita da Terra, havíamos confirmado o encontro do cruzador com a expedição, inclusive a Comandante Ísis afirmava que faria uma mudança de rota favorável para encurtar a viagem.
- Estranho. Será que foram atacados pelos Draconianos?
- Acreditamos que não mestre. O sinal da massa escura encontra-se fora dos limites do nosso sistema solar, encontra-se estável.
     O Mestre Menés de Marte se manifesta:
- Mestre Clístenes. É anormal a perda de comunicação com a expedição, inclusive o rastreamento que foi minuciosamente realizado pelos robs na órbita do Planeta Ceres indica que a expedição e o cruzador marciano simplesmente sumiram.
     O General Nergal completa a informação:
- Mestre. Já ordenei um grupo de reconhecimento de caças rob para aquela região partindo de Ceres e confirmo o que o Mestre Menés está dizendo, não há sinal da expedição naquela região!
- Mestre Clístenes – informa o General Ares – Estamos com algumas conclusões de que a expedição e o cruzador devem ter descido por razões desconhecidas em algum planeta próximo da rota, possivelmente em Makemake.
- São estas razões desconhecidas, que nos preocupa general.
- Senhores – Intervém o Mestre Tálio – Conhecemos um pouco melhor aquela região. Existe sim a possibilidade da expedição precisar aterrissar em algum planeta, a movimentação de asteróides encontra-se instável. No Planeta Ceres, houve várias ocasiões em que tivemos dificuldades de enviar sinais de comunicação. Em determinadas épocas, as freqüências e perturbações eletromagnéticas deixavam-nos no ponto escuro de contato. Os fenômenos atmosféricos nestes planetas são constantes e interferem nas comunicações.
     O Mestre Clístenes escuta com atenção:
- Agradeço as palavras tranquilizadoras Mestre Tálio. Aguardaremos os novos acontecimentos. No momento aconselho nos concentrarmos em nossos prisioneiros de guerra.
     Do mundo aumarante, o Conselheiro Netuno e a equipe do Dr. Sargaço são convocados para participar do interrogatório, realizado com tradução simultânea da linguagem draconiana para os demais membros presentes na acrópole. Mais uma vez, os robs participam ativamente na codificação das mensagens eletrônicas via rádio, fazendo duplicidades de tradução na intenção de confundir momentaneamente o rastreamento do inimigo.
     Todos os presentes observam atentos, as semelhanças físicas dos prisioneiros com os seres humanos.  De estatura mediana, os draconianos diferem da raça em alguns aspectos: a cor da pele é levemente cinza. Os olhos “puxados” são de cor sépia com sobrancelhas arqueadas. A cabeça é oblíqua com cabelos negros e lisos. Sem dúvida, uma interessante raça humanóide, a julgar pelos padrões humanos e aumarantes.
     A imagem holográfica do Conselheiro Netuno é projetada no centro do salão, a poucos metros dos prisioneiros.
- Navan Dracória. Meu nome é Netuno. Sou conselheiro e representante do povo aumarante, co-habitantes deste planeta com os demais irmãos da espécie humana. Estamos aqui com o líder da humanidade e demais membros do Conselho de Guerra recém constituído, e queremos a sua cooperação em nos fornecer respostas.
     Um breve momento, e o prisioneiro adulto faz um gesto amistoso para a assembléia.
- Sou Aminas. Tutor do Príncipe Dizart. Somos do Povo de Divânia, que habita o Planeta Salter, do sistema planetário do reinado de Dracória. Agradeço pela cordialidade e tratamento a que nos foram prestados.
     A primeira fala do Tutor Aminas causou uma boa impressão na assembléia. Havia um grau de refinada educação e civilidade em seus gestos e palavras.
- Fiquem tranqüilos divanianos. Estão seguros entre nós. A nossa cultura não permite maus tratos com prisioneiros de guerra. Não somos hostis e recebemos com sinceridade os seus agradecimentos. O príncipe que se refere é este jovem ao seu lado?
- Certamente. Este jovem é o último herdeiro de uma antiga tradição do nosso sistema planetário no Reinado de Dracória.
     A imagem do conselheiro se desloca, caminhando um pouco para a direita.
- Desde tempos imemoriais. Muito antes da vida surgir de fato neste planeta, que chamamos de Terra, a existência draconiana já era conhecida por nos aumarantes. Muitas histórias foram repassadas por milhares de gerações, e só agora que realmente fazemos um primeiro contato. No entanto, pouco sabemos do seu povo e do sistema planetário. O que faz tão nobres representantes em participar de frentes de combate no espaço contra o nosso povo?
     O Tutor Aminas baixa a cabeça em sinal de vergonha e respeito.
- Lutando pela sobrevivência, senhor conselheiro. Não tínhamos o direito de evitar a nossa participação. Acredite, somos sinceros em nossas respostas e nunca havíamos tido contato com os da sua espécie. Tão pouco em enfrentá-los num combate.
- São guerreiros draconianos, eu presumo?
- Escravos draconianos é o melhor termo, senhor conselheiro.
- Escravos? Pode nos explicar melhor?
     O jovem draconiano olha para o tutor estimulando-o a continuar.
- Obrigado pela oportunidade, é tudo o que queremos. Os divanianos e os outros povos que habitam os planetas do nosso sistema são escravos. Somos vítimas da tirania do poderoso Dracórius e dos seus irmãos. Todos que participaram desse combate, foram deliberadamente usados como teste para enfrentar o seu povo na intenção de conhecer as suas armas e defesas.
- Seguiram ordens dos draconianos?
- O reinado de Dracória jamais atacaria o seu povo, que não fosse pelos mesmos motivos que vocês fizeram em se defenderem. No último combate, seguimos para a morte com a promessa de que retornaríamos para o convívio do nosso povo. Seria como uma recompensa, caso saíssemos vitoriosos.
- Senhor Tutor! Sou o Mestre Tálio, represento os humanos que habitam o Planeta Ceres, onde aconteceram as primeiras investidas hostis dos draconianos. A recompensa a que o senhor se refere, causou mortes e desespero ao nosso povo.
     O Tutor Aminas se vira e olha para o mestre e repete os mesmos gestos de submissão.
- Lamentamos profundamente, senhor. No entanto, a dor de nossas perdas se for possível comparar, estão sendo maiores. Conhecemos de perto esses sentimentos. Não conheço seu planeta, assim como desconheço da nossa participação nas mortes do seu povo. Como eu disse, somos escravos.
     O General Nergal ergue a mão e é anunciado, com a voz grave e cansado, inicia a sua participação no interrogatório.
     Comandei essa batalha e confirmo que suas perdas foram maiores, tentamos evitar esse confronto, mas os seus líderes não aceitaram. O resultado é que conseguimos destruir todas as suas naves.
     O Tutor o cumprimenta a distância.
- Foi uma surpreendente demonstração que sou aumentou o nosso desespero. E os responsáveis não são nossos líderes. Foi um alívio em perceber rapidamente que estávamos enfrentando seres poderosos. Mas creiam! Nunca os consideramos como nossos inimigos. A força de suas defesas serviu para mostrar a Dracórius e seus irmãos do que são capazes, apenas isto. Nada era importante naquela batalha. Com exceção do seu irmão Detra que se divertia com tamanha insensatez. Naquele combate, nos redemos ao pensamento do triste destino que a morte ao enfrentá-los, nos libertaria da tirania de Dracórius.
     O General Ares é também anunciado.
- Tutor! Responda-me com clareza: Vocês foram usados para nos testar?
- Mas do que isso senhor! Fomos usados como pretexto para morrer. Em nosso mundo temos guerreiros prudentes e habilidosos para isto. Não foi o caso, nessa guerra injusta.
- Injusta? Estávamos salvando o nosso povo daquele planeta. Muitos morreram devido aos meteoritos, queríamos protegê-los! – disse o Mestre Tálio, quebrando o protocolo.
     O Tutor Aminas percebe a intervenção repentina e não anunciada. Ele olha para o Mestre Tálio.
- Acreditamos nisso, senhor! Mas não tínhamos escolha! Não fomos nós que movemos as pedras, somos apenas escravos! Muito nos orgulha está aqui na condição de prisioneiros de guerra, há mais honra nisso.
     O tutor baixa a cabeça e se emociona, demonstrando sinais de mal estar. Um médico rob se aproxima falando em língua draconiana e tenta prestar auxílio, fazendo-o sentar. O jovem prisioneiro evita que o rob se aproxime, fazendo um gesto com a mão. O rob entende e se afasta. Ele tem uma conversa silenciosa com o tutor e imediatamente, se levanta altivo e seguro.
- Crianças! Crianças!
- O que tem a dizer, jovem príncipe? – pergunta o Conselheiro Netuno.
- Vocês mataram crianças! Centenas delas! Assustadas, famintas, tristes por está longe de suas famílias, escravos prisioneiros a serviço de Dracórius!
- Crianças? Aqueles guerreiros pilotando as esferas eram crianças? – o General Nergal se altera inconformado com a informação.
     O Príncipe Dizart percebeu o impacto que sua declaração causou nos humanos e também que se tratava de uma espécie que se preocupava com suas crianças.
     O Mestre Clístenes se levanta e com a palma da mão erguida solicita silêncio. O Príncipe recebe o sinal de que pode continuar.
- Na sua grande maioria eram crianças. Foram as primeiras a atacar. Nenhum guerreiro a serviço de Dracórius e de seus irmãos participou daquele combate. Não me admira vocês não perceberem como foi fácil destruí-los. Tentamos fugir para aquele planeta, acompanhando o líder Detra, pois era a nossa esperança de fuga. Ao chegarmos ao solo, ele nos abandonou e ordenou para que desviássemos as atenções dos seus guerreiros. Fugimos como loucos, choramos a nossa morte e saudade das nossas famílias.
     O príncipe silencia. O General Nergal limpa um pigarro da garganta e põe, como de costume, a mão na testa e abaixa a cabeça. Todos se comovem num silêncio profundo.
     Do mundo aumarante, a Comandante Ondina sai correndo aos prantos em direção a uma varanda próximo aos seus aposentos. O Dr. Sargaço vai ao seu encontro e a abraça também emocionado. Enquanto isso, o Dr. Asa e a Capitã Iara se entreolham sem acreditar no infanticídio praticado pelos humanos.
     O tutor aparentemente recuperado se manifesta:
- Senhores! É por isso que eu disse que as nossas perdas foram maiores. Perdemos o que a havia de mais precioso entre nós: O futuro. Somos os únicos sobreviventes daquele combate. Tivemos muita sorte, pois não fugimos com as demais naves dos nossos irmãos. Desviamos das montanhas para escapar dos ataques. Ainda no solo do planeta, programamos as nossas naves para seguirem a ermo e assim tentar nos escondermos nos abrigos rochosos. Na fuga, ao tentarmos alcançar um local seguro em um ponto mais alto da montanha, o príncipe passou mal, escorregou e se feriu. Sentimos os efeitos da altitude do planeta e não conhecíamos os perigos a que estávamos expostos. Ficamos assustados e ao mesmo tempo aliviados em ser capturados e agora poder está aqui revelando o nosso sofrimento.
     O Mestre Clístenes se levanta e vai ao encontro dos prisioneiros. Pede para que o robs retire as algemas magnéticas de suas mãos.
- Não podemos carregar essa culpa em relação as suas crianças, não seria justo. O que sabíamos é que estávamos lutando para também defender as poucas que temos. Agora me responda jovem príncipe: Existem outros escravos na Lua Negra?
- Existem muitos! Oriundos de povos pacíficos de outros planetas muito próximos ao nosso.
- Obrigado príncipe.
     Agora o Mestre Clístenes se dirige para o tutor.
- Por favor. Revele-nos um pouco a história do seu mundo e o que sabe sobre os nossos verdadeiros inimigos.
- Com muita honra senhor. Nossa raça nasceu, evoluiu e prosperou no Planeta Salter, um dos 35 planetas do sistema draconiano, dos quais apenas 20, possuem condições favoráveis à existência de vida. Destes planetas, apenas 13 possuem seres conscientes. Em remotos tempos, a nossa raça tentava se comunicar com os planetas vizinhos, emitindo sinais luminosos rudimentares. Sabíamos que existia vida neles. Estes mundos são muito próximos e devido a um equilíbrio gravitacional, nunca colidiram entre si. Evoluímos em tecnologia e aperfeiçoamos os nossos sinais, confirmando a existência de outros seres inteligentes próximos a nós. Com o avanço da nossa ciência, que duraram milhares de anos, conseguimos finalmente visitá-los e ampliar os nossos saberes e culturas. Unimo-nos por um bem comum e posteriormente foi criado o Reinado de Dracória, nome da estrela que fornece luz e calor aos nossos mundos. O reinado integrou todos os planetas e nunca houve guerras ou conflitos sérios, apenas uma forte competição comercial. Existia harmonia, apesar das poucas diferenças de raças e espécies.
     O Mestre Menés deseja perguntar.
- Senhor Tutor! Qual a origem dos nossos inimigos da Lua Negra? Dracórius e seus irmãos?
- Eles são antigos habitantes do Planeta Sir. É um dos menores do nosso sistema e o mais distante. Foram uns dos últimos a serem contatados e seus habitantes descendem de antigos povos bárbaros. Cultuavam uma estrela que chamam de Nanna. Acreditamos que seja um dos mais antigos povos do nosso sistema e sempre demonstraram não querer interferência em seu mundo e não participar do reinado.
- Tinham motivos para isto?
- Não senhor. Eles não queriam participar, mas as suas lideranças nunca se posicionaram contra. Criamos um reinado para unir nossas forças e manter nossa existência e ajuda mútua. Cada planeta tinha o seu líder, seu povo e sua crença. De certa forma, poderemos ter cometido alguns erros diplomáticos, afinal, estávamos começando algo novo e de boas intenções. Desde o início, desconfiamos que os habitantes do Planeta Sir em sua maioria, seriam de difícil convivência.
- Então não havia submissão ao reinado?
- Não havia o desejo de submissão e poder, apenas de união. Os líderes de Sir gostavam da existência do reinado, mas não das condições que os outros mundos admitiam. Eles não queriam influências de hábitos de outros mundos ou consumir produtos que eles não produziam. Sempre foram independentes e assim gostariam de permanecer. Uma minoria dos seus habitantes aceitava de bom agrado a proposta e alguns desenvolveram seus conhecimentos em nosso convívio. O Planeta Salter é o berço da cultura draconiana e precursora do desenvolvimento e do conhecimento. Apesar da resistência, o reinado era indulgente com o Planeta Sir.
     O General Nergal completa a pergunta.
- Então os líderes da Estrela Negra não são draconianos?
- A sua origem remota do reinado draconiano. Autodenominam-se draconianos pela imposição da força e pelo controle absoluto dos nossos mundos. Subjugaram estranhamente a sua própria raça aos seus interesses, chegando até a perseguir e matar os que não aceitaram este comportamento, sendo motivo de desonra e vergonha dos poucos habitantes do povo de Sir, que futuramente se refugiaram no Planeta Salter.
- De onde vem o poder dos irmãos draconianos? – pergunta o Mestre Clístenes.
- A história dos irmãos draconianos surgiu da formação do Reinado de Dracória e que foi repassada por nossos ancestrais por centenas de anos. Os três irmãos são muito antigos e os seus corpos não envelhecem. Naquela época, aconteceu um fenômeno estranho em nossos céus. No princípio da formação do nosso sistema, a Estrela Nanna é que mantinha a vida nos diversos planetas. Aos poucos, esta estrela foi se afastando do nosso sistema à proporção que a Estrela Dracória se aproximava. Conta à lenda, que esse evento causou muita perturbação nos planetas, mas com o tempo foi normalizado. Foi como se uma estrela convidasse outra para assumir o seu lugar e manter a vida em nossos mundos. Tempos depois, a Estrela Nanna não era mais vista no espaço. Nos diversos povos do Reinado de Dracória, esta história originou várias outras lendas e versões diversas, que explicam o acontecido, mas todas confirmam o afastamento de uma estrela e a aproximação de outra. Quando a Estrela Nanna se afastou, houve muita confusão nos habitantes do Planeta Sir, um sinal de mau presságio pelo desaparecimento da sua fonte de adoração. Foi então que surgiu uma esfera negra de grandes proporções em nossos céus, parando posteriormente na órbita do Planeta Sir. Testemunhas oculares viram três dos quatro irmãos líderes deste mundo serem sugados por um círculo negro lançado sobre eles. Um deles chamava-se Forseti, que quando jovem, foi educado no Planeta Salter. Retornara tempos depois ao seu planeta natal, com a missão de promover definitivamente a união do povo de Sir ao reinado de Dracória.
- E onde se encontra este Forseti?
- Não sabemos senhor. Acreditamos que tenha sido morto pelos seus irmãos.
- E quem é Dracórius?
- Dracórius! É um título dado ao primeiro soberano maior dos mundos que compõem o nosso sistema planetário, o reinado de Dracória. O nosso príncipe aqui presente é o único herdeiro desta geração de nobreza, atingiria este título com o nome de Dracórius Dizart.
- O que aconteceu então com o reinado de dracória?
- Os três irmãos se tornaram aliados de um ser alienígena que habitava a esfera negra, jurando-a fidelidade em troca da imortalidade e domínio do nosso reinado. Ele o transformou num império de tirania e sofrimento. Todas as cidades foram destruídas. Seus líderes foram mortos e outras raças capturadas e escravizadas. Foi nesta época que Forseti desapareceu, ele era um dos líderes mais importantes. O reinado foi assolado pela fome, doenças e desespero. Com o passar dos anos, retornamos a ter nossas vidas e atividades apenas para a nossa subsistência, nossos mundos foram impedidos de serem visitados, nossos transportes foram destruídos, nossas comunicações voltaram a ser rústicas e discretas. Contrariar as ordens do império de Dracórius significava a morte. Uma resistência silenciosa foi criada entre os sobreviventes para proteger os descendentes dos líderes de vários povos e raças. Escondemos estes descendentes de famílias reais por muito tempo. Talvez seja difícil para os senhores entenderem o que é ter que viver escondido em seu próprio mundo para proteger algo mais precioso que a sua própria vida.
- Acredite senhor tutor. Podemos entender bem o que isto significa – Responde o Conselheiro Netuno do mundo aumarante.
     Os membros do conselho se entreolham.
- Após a dominação – continua o Tutor Aminas - Que não sabemos precisar quanto tempo, a esfera negra seguiu para os confins do universo, levando os três irmãos.
- Senhor tutor – pergunta o General Nergal - Dracórius e seus irmãos estão aqui em nosso sistema solar, testaram nossas defesas enviando crianças para a morte, por que não mandaram seus guerreiros?
- Eles possuem uma escolta pessoal, apesar de possuir poderes especiais. Os outros guerreiros participam de guerras com muita vontade e habilidade, se divertem com isto, costumam caçar seres para alimentar os gruns.
- O que são os gruns? Vivem na lua negra?
- São criaturas negras que servem os seus senhores nas caçadas e na guarda. Somos muitas vezes, o alimento desses animais, que sugam nossas vísceras e fluidos. Andam e se movem sorrateiramente e podem voar com facilidade e rapidez. Suas vozes são assombrosas e são muito perigosos.
- São criaturas semelhantes à imagem das gárgulas – Explica o Conselheiro Netuno – Chegamos a capturar alguns que estavam de posse de outros seres alienígenas que visitaram o Planeta Terra no passado. Sua origem é desconhecida.
     O príncipe pede a palavra e faz um pedido:
- Humanos e aumarantes. Humildemente peço-lhes que ajudem o nosso povo. Vimos o poder de suas armas, conhecemos as suas forças e determinações, precisamos de ajuda.
     O Mestre Clístenes observa os draconianos com atenção.
- Como poderíamos ajudá-los? Chegar ao seu longínquo sistema planetário e enfrentar o império draconiano em sua própria casa? Nossa tecnologia é eficiente, mas não o suficiente para atravessarmos grandes distâncias no universo em tão pouco tempo.
- Da mesma forma em que chegaram aqui – responde Aminas – Mesmo como escravos, vislumbramos outros sistemas planetários. Eles possuem uma tecnologia que permite encontrar passagens pelo espaço e viajar com segurança para remotas e distantes regiões do universo.
- Os irmãos draconianos não vivem no reinado?
- Não vivem. Visitam-nos após longos períodos, mas nunca ficam ausentes o suficiente para permitir nossa recuperação como civilização. Só retornam ao sistema draconiano para capturar novos escravos.
- Descobriram minha herança – Disse o príncipe - Mataram a minha família e os meus amigos e me fez prisioneiro com o tutor.
- Príncipe – intervém o Conselheiro Netuno – Ainda não temos condições de ajudar. Estamos sobre vigilância. Existem semelhanças em nossas histórias. Este ser alienígena que surgiu em seu mundo, certamente é o mesmo que atormentou este sistema em outras épocas. Conhecemos pelo nome de Danu Lilith, uma das duas irmãs da deusa que nos gerou que chamamos de Danu Luna. Não temos referência da outra irmã. Apenas que, segundo a nossa tradição, convenceu o Dagda Navan a subjugar aos seus propósitos. Sabem informar se ela habita a Lua Negra? Conhecem o ser alienígena que deu tanto poderes a Dracórius e seus irmãos?
     O Tutor Aminas olha para o príncipe e confirma se ele tem alguma informação obtida por outros escravos.
- Não temos conhecimento Senhor. Apenas sabemos que eles dominam um poder e servem a este ser alienígena, que chamam de deusa e às vezes de rainha. Nunca vimos e nem sabemos onde ela se encontra, no entanto outros seres aliados e também desconhecidos já foram percebidos na Lua Negra em algumas situações. O que sabemos é o que foi deixado por tradição oral pelo líder Forseti. Entendemos que se o povo humano e aumarante conseguir dominar a fonte do poder de Dracórius, poderemos usá-la para retornar ao nosso mundo.
- Vocês sabem como se transportam para os outros mundos? Sabem manipular esse poder? – pergunta o Mestre Menés.
- Estive uma vez servindo Detra, com outros escravos. Estava escondido e observei como fazem. Não é um poder sagrado como imaginávamos e sim uma engenharia avançada que lhes foi revelado. Usam uma fonte de energia. Uma esfera negra.
- Curioso – Disse o Conselheiro Netuno – De fato me convenço definitivamente, que esta esfera seja o poder vital da Danu Lilith. Sendo assim, se não for ela quem comanda os irmãos draconianos, quem será? Quanto a esfera negra, é um poder além da compreensão deles e certamente não lhes pertence.
- Então os draconianos não vivem no seu império? – pergunta o General Ares – O que fazem então?
- Viajam pelo espaço infinito em busca de raças frágeis para dominar, caçar e matar. Notamos que evitam aparecer em outros pontos do universo, temendo a represália de seres tão poderosos quanto eles.
- Eles fogem?
- Sim! Da mesma maneira que perseguem! Achamos que temem outros seres que os queiram destruir.
- Certamente – analisa o Conselheiro Netuno – Estamos diante de fatos e informações que fogem o nosso entendimento. Deve existir outro conflito em algum lugar no universo. Algo de uma complexidade maior, que nos chega fragmentado.
- Tutor Aminas! – pergunta o Mestre Clístenes – Possuímos padrões de tempo diferentes em nossos mundos, que regula nossas vidas e atividades. Segundo conta os aumarantes, houve um conflito entre deuses ou seres alienígenas em nosso sistema há muito tempo atrás. A raça humana ainda não existia, com exceção dos aumarinos e dos seus sucessores aumarantes. Houve um grande intervalo de tempo para o retorno dos draconianos ao nosso mundo, mundo este, que eles acreditavam não mais existir, pois os seus propósitos que segundo nos foi revelado, já haviam sido concluídos. Apesar de tudo, nunca representamos real ameaça para nenhum ser de outro planeta. Existe alguma razão que vocês considerem mais relevante, além do fato que os draconianos possuírem em sua rotina de existência, atormentar e destruir mundos e seus povos?
- O poder da sua fonte de energia é fatal. Não precisavam enviar nosso povo sofrido para um confronto como este. Poderiam mover as pedras que existem em seu sistema e simplesmente destruí-los.
- Então o senhor concorda que outros motivos chamam o interesse dos draconianos?
- Acredito que seus conhecimentos, suas armas, como outrora, tivemos no reino de dracória. Mas existe outro evento que ocorreu em nosso mundo e que merece destaque. Um dia, estávamos monitorando nossos céus e avistamos um objeto não identificado que ficou em órbita, preso na gravidade entre dois planetas não habitados. Um grupo de resistência conseguiu esconder pequenas naves usadas em manutenção, que permitiam curtas distâncias fora do planeta. Curiosos, fomos averiguar e percebemos que o objeto não era tripulado. Tinha um formato estranho e possuía um fraco sinal. Coletamos este objeto e logo percebemos que se tratava de uma engenharia alienígena não hostil. Estudamos com cuidado, antes de tentar fazer algo, não queríamos danificá-lo, até quando um de nossos sábios conseguiu entender do que se tratava.
- E de que se tratava? - pergunta o Mestre Clístenes.
- Era uma nave de mensagem. Ficamos muito felizes por este achado, apesar de não identificarmos a sua origem. Continha instruções de uso e um disco feito de metal nobre que ao ser reproduzido possuía imagens e sons naturais de um planeta. Escondemos este objeto por muito tempo, até que os draconianos descobriram depois de torturar um dos nossos, prometendo não levar os seus filhos como escravos. Eles sempre fazem isto e nunca cumprem suas promessas. Por coincidência ou não, foi a partir da descoberta deste objeto, que Dracórius e os seus irmãos se afastaram por um bom tempo do nosso sistema. Acreditamos que tentavam descobrir a sua origem.  Poderiam pensar fossem aliados do reino, ou pelo menos, um novo mundo a ser dominado.
- Por acaso vocês poderiam descrever este objeto?
- Descrevê-lo é mais difícil. Mas o príncipe é um excelente desenhista e pode reproduzi-lo.
- Faria isto, príncipe?
- Acho que consigo.
     Um rob se aproxima do príncipe e põem um tipo de luva em suas mãos e o ensina como usar. Uma tela holográfica se apresenta a sua frente colaborando e sugerindo traços e cores que o usuário aceita ou rejeita. Ao terminar o desenho, todos ficam impressionados com a habilidade do príncipe. O Conselheiro Netuno dá sinais de surpresa, pede para que seja projetado em grande escala no painel do salão do conselho e pergunta aos membros se já viram este objeto. O Mestre Tálio intuitivamente percebe que o Conselheiro Netuno sabe do que se trata e pergunta:
- Conselheiro. O senhor conhece este objeto?
- Sim, Mestre Tálio. Mesmo daqui do mundo aumarante este objeto é muito conhecido.
- Então? É obra dos aumarantes?
- Não mestre. É obra humana e muito antiga.
     O Conselheiro Netuno pergunta ao príncipe se existe mais algum detalhe que possa revelar, como um sinal gráfico e se ele poderia se lembrar e reproduzir. O príncipe confirma positivamente e atende ao pedido do conselheiro e de imediato escreve no painel: "Sounds of the Earth” (Sons da Terra), "For makers of music of all worlds and all times" (Para os fazedores de música de todos os mundos e todos os tempos).
- A Voyager 2! Mas é claro! – disse o Mestre Clístenes com surpresa – É óbvio! Como poderíamos esquecer?
- Isto mesmo Mestre – responde o Conselheiro Netuno - O objetivo do disco, citado pelo Tutor Aminas teve como objetivo, transmitir informações da Terra para uma possível civilização extraterrestre. A Voyager 2 cumpriu sua missão.
     Uma euforia toma conta da assembléia.
- A Voyager II – explica o Conselheiro Netuno – É uma nave robótica que foi lançada ao espaço há milhares de anos, mais precisamente em 1977 do calendário cristão, na região norte do planeta que hoje se encontra a Cidade de Liberty. Na época causou muita preocupação aos aumarantes, pois o lançamento desta sonda seria perigoso se caísse nas mãos de seres hostis. Nos surpreendeu o fato dela resistir tanto tempo enquanto circulava o nosso sistema solar, principalmente quando saiu dele. A tecnologia espacial humana iniciava os primeiros passos e depois passou a ser a nossa aliada. Devido as Voyager e outros equipamentos lançados ao espaço, compartilhamos as imagens do que havia fora da órbita da Terra.
- Nos admira esta nave ainda emitir sinais! – comenta o Mestre Menés.
     O Tutor Animas e o príncipe ficam confusos com tanta euforia dos humanos.
- Então esta nave de mensagem foi do seu povo? Deste Planeta?
- Sim, tutor! – responde o Mestre Clítenes – Bem-vindos ao Planeta Terra.
Os dois draconianos se abraçam e demonstram uma alegria que contagia a assembléia.
- Senhor! – disse o príncipe – Temos uma verdadeira adoração pelo seu mundo! Tínhamos esperanças de encontrar aquela civilização que nos foi revelada, que pudesse nos libertar da tirania de Dracórius.
     Vou reconsiderar o seu pedido e tratar com meus irmãos desse conselho. Agora quero que você e o tutor descansem um pouco. O rob os conduzirá para uma sala próximo daqui. Aguardem o nosso chamado.
     O Mestre Clítenes cancela o sinal de tradução para o príncipe e o tutor. Ele solicita a opinião do Conselho dos 12. Após 40 minutos, os dracanianos são reconduzidos ao salão nobre. O sinal de tradução é reaberto e o Mestre Clístenes pergunta se todos concordam com a sugestão do General Nergal e comunica a decisão:
- Jovem Príncipe e Senhor Tutor. Concordamos em unir nossas forças e ajudar o seu reino, na condição de que vocês colaborem conosco nesta guerra contra Dracórius.
     O príncipe adianta os passos e olha para todo o conselho.
- Esta guerra já é nossa! Concordamos com muita honra!
- Senhores! Tenho uma teoria de que os dados contidos na nave Voyager II tenham colaborado com viajantes experientes como os draconianos em localizar o nosso planeta. Já estiveram aqui num passado distante, não devem ter tido muitas dificuldades em retornar.
     O Conselheiro Netuno acrescenta o comentário:    
- Surpreenderam-se com o desenvolvimento de uma civilização que não chegaram a conhecer e destruíram as que davam os primeiros passos no caminho da evolução. Agora não possuem certezas do que deve ser feito e temem que a sua deusa imprima-os um castigo severo.
     Da tribuna, o Mestre Clístenes pergunta ao conselheiro.
- O que tem a mais a nos informar sobre a força ou poder vital da Danu Lilith que o senhor mencionou e que é usado pelos irmãos draconianos?
- Estes seres esféricos seguem um padrão de vida e de tempo desconhecidos por nós. No entanto, segundo o conhecimento aumarante, em um determinado momento a esfera, que nada mais é do que a sua forma física primária, entra num processo de cristalização e formação de impulsos atômicos estáveis. A essência que compõem a esfera é literalmente o ser que nela vive, que se liberta e pode constituir uma outra forma física, compatível com os seus interesses. A esfera que não mais contém o ser individual e consciente, perde massa plasmática e diminui drasticamente de tamanho, chegando a 30 centímetros de diâmetro aproximadamente. Mas caso a esfera se encontre ou seja levada para um contato direto com o ambiente do espaço sideral, passa a ganhar novamente massa plásmica, cria um núcleo gasoso e finalmente transforma-se é uma estrela, a exemplo de uma semente que se lança a um terreno fértil e transforma-se na planta. Esta estrela passa atender outros propósitos no equilíbrio e manutenção do universo, assim também como o ser que um dia a habitou.
- Sendo assim, o nosso sol é uma carcaça de um antigo deus?
- São raras as estrelas provinientes dessa condição. Pode parecer deveras extraordinário, mas as obras destes seres são realmente assim e com processos ainda desconhecidos. Antigas civilizações humanas adoravam o Deus Sol e tinham consciência de sua natureza, mesmo que intuitivamente. Apesar da consciência deste deus não mais está presente, a sua luz e calor torna-se provedor da vida ou da morte neste sistema solar.
- Por isso que se referem a Danu Luna e o Dagda Navan como deuses?
- Sabemos que são seres superiores, que seguem uma evolução diferente da nossa e principalmente, por que são os criadores de nossa existência. Tê-los como deuses, passa a ser um gesto carinhoso de retribuição e reconhecimento que um bom filho tem para com os bons pais. Este sentimento para com os seres superiores está presente em nossa natureza aumarante que em parte é também humana.
- Muito interessante. Mas como os draconianos utilizam esta força?
- A esfera possue muita energia. A sua natureza cósmica não a limita em transitar livre pelo universo, mesmo sem a sua essência consciente. Ela permite transpor distâncias e dimensões inimagináveis. E quando isto acontece, transforma a sua matéria, e as que se encontra em seu entorno, em estágios sub-atômicos que os desloca pelo espaço-tempo que se deseja. Fragmentos de rochas e demais corpos que estejam próximos, são atraídos e viajam juntos, podendo causar danos no local de sua reentrada.
- E como se dar esta orientação? Como eles indicam para a esfera o destino que se deseja chegar?
- Ao tocar na esfera, o ser que a coduz amplia seus sentidos cognitivos e passa a enxergar o que nenhum ser conseguiria a olho nu. Ao vislumbrar o universo, ele não ver a escuridão e trilhões de pontos luminosos. O que é visto são caminhos, passagens e fronteiras dimensionais. Podem detectar a existência de seres vivos por mais ínfimo que sejam. O aprendizado consiste em conhecer e sair destes caminhos, que se for usado sem inteligência pode se tornar uma prisão de labirintos indecifráveis.
- Então Dracórius vai para onde simplesmente desejar?.
- Em princípio sim.
     O Tutor Aminas manifesta um comentário:
- Senhor. Compreendemos a ameaça que o seu mundo se encontra. Mas temos que lembrá-los que existem muitos escravos do nosso povo confinados no Planeta Dracon. Ainda existem crianças inocentes e adultos de grande importância em nosso mundo.
- Sabemos disto, tutor – responde o Mestre Clístenes – Mas tentar salvá-los na Lua Negra seria um suicídio.
     O príncipe participa das decisões:
- Existe apenas uma forma senhor. Acionando o transportador para este planeta. Poderíamos trazer todos os nossos irmãos.
- Mas como? De que forma poderíamos entrar na Lua Negra? – pergunta o General Ares – São intransponíveis e se deslocam em grande velocidade. Além disto, não saberíamos operar a sua engenharia que lança esse círculo ou transportador como chamam.
- Infelizmente – conclui o Mestre Clítenes – Não podemos oferecer garantias de salvaguardar o seu povo na Lua Negra, diante do fato de que o nosso próprio mundo encontra-se ameaçado. Depositamos as nossas esperanças que a Deusa Luna retorne para o seu casulo. Que recupere os seus poderes a tempo de nos proteger, segundo informou o Conselheiro Netuno.
     Nesse instante, um rob comunica ao conselho que o sinal da transmissão está sendo rastreado pela Lua Negra. O Mestre Clístenes ordena contar o sinal, desfazendo a reunião imediatamente. O General Nergal fica irritaddiante da pressão psicológica a que todos estão sendo submetidos. Um médico rob se aproxima dele oferecendo seus préstimos, o General Nergal agradece e diz que a única coisa que o acalmaria seria a oportunidade de enfrentar Dracórius pessoalmente, pois ainda está viva na sua memória a morte desonrosa sofrida pelo seu soldado.
     O príncipe e o seu tutor são liberados e conduzidos para os seus aposentos, nas condições de hóspedes. Uma guarda especial é providenciada para protegê-los de possíveis e desconhecidas investidas dos draconianos. O Mestre Clístenes pergunta mais uma vez se a Expedição Rapanui fez algum contato, o que o rob de comunicação da acrópole responde negativamente. Todos os sinais de rádio são captados pela Lua Negra e a humanidade é obrigada até de se privar das notícias da Rede Humanity, que repassaria o acontecido na Assembléia dos 12 e que mais uma vez por motivo de segurança estava vetado.   
 Capítulo 13

A EXPEDIÇÃO RAPANUI

     Próximo à órbita do Planeta Éris, a tripulação da Expedição Rapanui e de um cruzador de guerra marciano, estão confusos com a decisão da Comandante Ísis por não ter alterado a rota de retorno para o Planeta Marte e a perda dos sinais de comunicações com o Planeta Terra.
     O Marciano Quasar, 33 anos, do Clã dos Tholis, irmão caçula do General Ares, comandante do Cruzador Quimera, entra em contato com a líder da expedição.
- Ísis! O que está havendo? Deveríamos está retornando para Marte!
- Sei disto Quasar! Mas não podemos ignorar os sinais que partem do Planeta Éris.
- Não conseguimos manobrar o Quimera. Estamos sendo atraídos pela gravidade deste planeta. Ainda não conseguimos recuperar o sinal com Marte e a Terra.
- Calma Quasar. Estamos sendo atraídos deliberadamente.
- O que?
- Estou recebendo comunicações deste planeta. Sugiro que venha a Nave Rapanui, imediatamente.
- Não estou captando nenhum sinal de comunicação Ísis.Temos ordens para retornar.
- Faça o que estou pedindo Quasar! É importante!Venha para a minha nave, deixe o seu oficial rob no comando do Quimera.
     O Comandante Quasar, curioso, atende ao pedido da amiga e a bordo de um caça, segue para a Nave Rapanui. Após 40 minutos encontra-se na ponte de comando, onde a Comandante Ísis o aguarda. Após um abraço a moda marciana, ele comenta rapidamente alguns detalhes do confronto que participou no Planeta Ceres e da preocupação do General Ares com os membros da expedição.
- Ísis. O que você está fazendo? Que sinais são estes?
- Vida inteligente, meu amigo! Vida inteligente!
- Vindo do Planeta Éris? Mas como? Nunca captamos nada nesse ponto?
- Então escute.
- É verdade! Que linguagem é essa? Não é terráquea, nem draconiana?
- É aumarante.
- Aumarante? Não existem aumarantes neste planeta. O Conselheiro Netuno foi muito claro em afirmar que vivem no interior da Terra.
- Ele disse a verdade Quasar. E este idioma já se encontra codificado em nossos arquivos, vamos traduzir?
- Sim Ísis! Claro!
     A tradução é iniciada.
- Navan Marcianos! Sejam bem-vindos ao Planeta Éris.
     A Comandante Ísis faz um sinal para que o amigo responda.
- Vamos Quasar! Responda! – Sorrir.
- Sou o Comandante Quasar da frota marciana! Qual o motivo de estarmos sendo atraídos contra a nossa vontade para a órbita deste planeta? 
- Seja bem-vindo Comandante Quasar. Meu nome é Gumenzid, líder dos Deluvianos. Infelizmente não podemos liberar a concha magnética que os mantém sob a nossa proteção.
- Deluvianos? Proteção? Isso está ficando muito confuso para mim Ísis!
- Calma amigo. Tudo será esclarecido, confie em mim.
     O Comandante Quasar não aprecia o comentário.
- Gumenzid – pergunta a Comandante Ísis - Os draconianos conhecem a nossa posição?
- Não comandante. Estão completamente invisíveis.
- Ísis! Exijo explicações!
- Explicarei tudo com calma Quasar. Precisamos descer no Planeta Éris.
- O que? Você está louca! Primeiro, perdemos a transmissão com o comando! Depois somos atraídos para este planeta habitado por deluvianos! E agora você me pede para descer? Veja a atmosfera deste planeta! É extremamente quente e instável, morreríamos em segundos!
- O planeta é estável. A atmosfera que vemos não corresponde à realidade. É um disfarce.
     A Comandante Ísis chama um rob para comandar a nave na sua ausência e em seguida fala com o deluviano Gumenzid em língua aumarante. As luzes da sala de comando enfraquecem e um círculo vermelho e luminoso surge no piso há poucos metros de onde estão.
- Ísis! O que está havendo! Estou falando sério! Não respondo por mim! – Disse Quasar ameaçando puxar uma arma presa a perna direita. Alguns guardas robs se posicionam à frente da comandante.
- Quasar! Não precisa se desesperar! Guarde esta arma!
- O que significa aquele sinal luminoso no piso?
- Quasar! Sou sua amiga! Jamais lhe faria nenhum mal. Mas preciso que você colabore um pouco e tenha calma. Não sou sua inimiga. Ao decidir investir e convencer nossos líderes em participar dessa expedição, sabia exatamente para onde deveria vir. A humanidade precisa da nossa ajuda Quasar! E aqui teremos condições de virar este jogo contra os draconianos. Você lembra que o Conselheiro Netuno havia dito que os deluvianos partiram do Planeta Terra antes do meteoro colidir? Inclusive, eles ajudaram um grupo deluviano a fugir para o espaço e nunca souberam da sua existência e se conseguiram sobreviver? Acontece que eles sobreviveram! Veio para este Planeta!
     O Comandante Quasar relaxa um pouco e tira a mão da arma. Um rob médico se aproxima, oferecendo gentilmente um copo com água que é aceito com satisfação. Ainda um pouco tenso, o Comandante Quasar tenta se acalmar, recuperar-se do impacto emocional e manter-se sereno e firme, conforme foi ensinado em exaustivos treinamentos militares no Planeta Marte.
- Tudo bem, Ísis. Desculpe-me. Algo me diz que devo confiar em você, mas por favor, não esconda nada de mim, isso só faria piorar as coisas.
- Está bem. Prometo que farei isto. Sente-se melhor?
- Sim. Bem melhor, obrigado – O Comandante Quasar responde cheirando o copo de água que acabara de beber e olhando desconfiado para o rob médico, que havia posto em calmante insípido e de efeito rápido.
- Na verdade Quasar. Não esperava que o seu irmão enviasse um cruzador para nos escoltar.
- Quem você esperava? Nergal?
- É bem provável – sorrir a comandante.
- Você conhece os sentimentos do meu irmão para com você e ele sabe que Nergal nutre dos mesmos sentimentos, e são muito amigos.
- Sei disso e me sinto feliz. São homens bons. Dariam excelentes companheiros.
- Mas o seu coração pulsa por Nergal, não é verdade?
- Sim, é verdade. Mas agora precisamos nos concentrar no inimigo lembra-se?
- Tudo bem. Que tal começando explicar o que está havendo aqui?
- Bem. Como eu disse, não esperava a sua presença com o Cruzador Quimera e todos estes soldados e robs. Mas já que estão aqui, poderão ajudar. Você lembra que o Conselheiro Netuno havia dito que o Deus Navan foi aprisionado?
- Sim. O que tem isso?
- Foi aqui no Planeta Éris que ele permaneceu durante milhões de anos.
- É muito tempo para se ficar preso.
- Quando os deluvianos partiram do Planeta Terra com ajuda dos aumarantes, seguiram sem destino para este ponto do nosso sistema solar. Estavam dispostos em atravessar o cinturão de asteróides, na esperança de serem resgatados por outros seres alienígenas amigáveis. Durante a viagem, entraram nas cápsulas de congelamento e mantiveram-se em letargia. Quando se aproximaram do Planeta Éris, foram atraídos pelo poder do Deus Navan e por ele foram salvos.
- O Deus Navan está aqui?
- Uma parte dele sim. A energia que rege este planeta deve-se a sua esfera que possui muito poder e que está sob a proteção dos deluvianos. Esta esfera é parte da sua essência. Pois esse deus assumiu outra forma.
- E a esfera mantém uma parte de sua força?
- A mesma força que move a Lua Negra de onde os draconianos extraem todo o seu poder.
- E onde se encontra esse Deus Navan?
- Encontra-se no Planeta Terra. Protegido pelos aumarantes, onde também está a Deusa Luna. Os aumarantes são muito comedidos na proteção deles. O material encontrado na Lua pelo Dr. Asa é de fundamental importância para o despertar de ambos os deuses.
- Interessante. Mas o que você tem haver com isso? E como conhece esses detalhes?
- Há muitos anos tenho recebido mensagens telepáticas e tidos sonhos com os deluvianos, que diziam que precisavam da minha presença neste planeta. Nunca revelei a ninguém, temendo que achassem que eu estava ficando louca.
     O Comandante Quasar olha com ironia.
- Sabe que ninguém acharia isto.
- Ingressei nas frentes militares de Marte disposta a realizar este sonho e convenci alguns cientistas em explorar o Planeta Makemake, que possui razoáveis condições de abrigar vida humana com a ajuda de nossa tecnologia. Além do que, seria mais uma fronteira de defesa para a raça humana e que foi bem aceito pelo comando marciano.
- E desde quando você tem contato real com os deluvianos e fala a língua aumarante?
- Muito antes deste conflito ter iniciado. Tive os primeiros contatos com os deluvianos assim que nos aproximamos do Planeta Makemake e acredite, fiquei tão assustada quanto você. Mas havia uma forte intuição de que eu estava fazendo algo importante. Eles foram gentis, confiáveis e muito do que foi revelado pelo Conselheiro Netuno também me foi dito.
- Os aumarantes sabem que os deluvianos estão vivos neste planeta?
- Não sabem. Pelas mesmas razões que os aumarantes se protegeram. Temiam que os draconianos os encontram-se. O que felizmente nunca aconteceu.
- Por que você escondeu isto dos nossos líderes? Não confia em nós?
- Tinha muita vontade de fazê-lo. Mas os deluvianos orientaram em não fazê-lo, pois todos correriam grave perigo.
- Mas quanto à língua aumarante?
- Esses deluvianos perderam com o tempo, a sua tradição lingüística devido ao logo período que viveram com os draconianos, linguagem que conhecem bem. Posteriormente, quando foram deixados na Terra, os aumarantes os acolheram e lhes ensinaram a sua linguagem. Parece incrível o que vou dizer, mas após algumas visitas no Planeta Éris, experimentei algum tipo de terapia que me permitiu aguçar os sentidos e a minha agilidade mental. Conseguir aprender rapidamente a língua aumarante. Inclusive, eles sempre insistiram que eu tinha de voltar e continuar o processo de forma mais intensiva.
- Como você visitou o Planeta Éris? Como atravessou aquela atmosfera perigosa? E como nunca houve registro de nave marciana pousando naqueles solos? Se é que existe.
- Todas as vezes que lá cheguei, foi através deste símbolo que está no piso. É uma referência de posicionamento para transporte e acredite, funciona de verdade. É por isso que agora preciso da sua ajuda. Tem sido muito difícil para mim não ter nenhum humano amigo para dividir esta missão.
- E qual é a sua missão, alem de estudar o Planeta Makemake comandante?
- Minha missão é está aqui. Sinto isto com toda a força de minha alma. Não sei explicar.
- Ainda é muito incerto Ísis. Você não sabe o que está fazendo. O que dirá ao restante da tripulação?
- O mesmo que disse a você Quasar, nada tenho a esconder.
- E por que devemos ir ao Planeta?
- Os deluvianos ficaram satisfeitos ao verem a chegada do Cruzador Quimera e outras naves de apoio.
- Outras naves?
- Sim e desta vez tenho certeza que foi Nergal que as enviou.
- Não fui comunicado.
- Também não fui. Os deluvianos é que informaram, momento antes de você chegar à Nave Rapanui. Eles também ficaram presos na concha magnética para que os draconianos não os percebessem. Estão muito próximos de nós.
- Então os deluvianos querem me conhecer?
- Querem a sua colaboração.
- Como eles são?
- São bem grandes, gentis e corpulentos. Não se assuste.
- Está bem Ísis. Você me convenceu. Espero que esteja fazendo a coisa certa.
- Vamos então?
     O Comandante Quasar respira fundo.
- Sim, vamos.
     Os dois comandantes se posicionam próximos ao ponto luminoso que pisca lentamente. Uma cortina de luz os envolve e em questão de segundos encontram-se numa gigantesca galeria no Planeta Éris.
- Nossa! Essa coisa provoca muito frio!
- Com o tempo você se acostuma.
     O Comandante Quasar olha ao seu redor.
- O que só isto? Sinto-me uma criança perdido neste salão.
- Realmente é colossal. Veja estas colunas e a altura do teto.
- Estes deluvianos devem ser realmente grandes!
     Repentinamente, uma voz desconhecida e grave ecoa nos fundos do salão;
- Navan Íris!
- Navan Gumenzid!
     O Comandante Quasar fica imóvel e tenso com a aproximação do deluviano, com aproximadamente cinco metros de altura.
- Ele está lhe dando as boas vindas Quasar!
- Ah sim! Obrigado! – Disse ele um pouco nervoso, fazendo uma saudação rápida e discreta com as mãos.
     O deluviano, que tem uma expressão séria e nada amigável, continua falando em língua aumarante e aponta para um compartimento onde se encontram pequenos colares luminosos.
- Quasar. Ele pede que você ponha um destes colares no pescoço.
     O Comandante Quasar sussurra no ouvido da amiga.
- Eles são sempre assim? Quer dizer, sérios?
- É o jeito deles.
- O que são estes colares?
- Quasar! Faça o que ele pede!
- Está bem! Desculpe!
     O Comandante Quasar põem o colar.
- Então! Está melhor assim? - Pergunta o deluviano.
- Está bem melhor e...é um tradutor simultâneo?
     A Comandante Ísis sorrir e olha para Gumenzid que arqueia as longas sobrancelhas.
- Seja bem-vindo, Comandante Quasar. Poderia me acompanhar?
     O comandante olha desconfiado para a Comandante Ísis e anda em passos lentos.
- Vamos Quasar! Não se preocupe! Eles são seres valorosos, muito antigos e fiéis colaboradores da Deusa Luna, a mãe criadora dos humanos.
- Conforta-me muito saber disto Ísis.
     Ao chegarem a outro ambiente, o Comandante Quasar observa que as paredes são feitas de cristal e com um piso transparente. Vários círculos e halos luminosos inseridos entre si, formando um tipo de mandala. Culminando em seu centro, com uma esfera pulsante de cor vermelha e brilhante, que mede em torno de um metro de diâmetro.
- Você já esteve aqui Ísis?
- Sim Quasar. Só conheço estes dois cômodos. Foi aqui que aprendi a língua aumarante, neste primeiro círculo.
- Será que eles querem que eu também aprenda?
- Acho que por enquanto não. Sendo assim, por que lhe dariam o colar? Nem eu mesma o recebi quando aqui cheguei pela primeira vez.
     O gigante deluviano se aproxima e convida o Comandante Quasar para acompanhá-lo para um pavimento superior que fica a cinqüenta metros do círculo. Ele segue Gumenzid e ao chegar, encontra outros deluvianos que olham concentrados para baixo, observando a Comandante Ísis se posicionando no primeiro círculo, parecendo saber exatamente o que deve fazer.
- Você é muito bem-vindo entre nós! – Disse outro deluviano que faz uma reverência discreta com a cabeça para Quasar.
- Obrigado. Não quero se incômodo, mas o que faço aqui?
- Agradeço ter aceitado o nosso convite comandante. A partir de agora, estamos nos aliando aos humanos.
     Gumenzid se aproxima dos outros deluvianos.
- Esperamos que a partir de hoje, possamos nos unir em servir a causa dos justos e de todos que comungam o ideal de paz e prosperidade no universo.
     E todos respondem:
- Navan!

     A luz do ambiente se apaga, os círculos e halos acendem em cores distintas e se movimentam no sentido horário. A luz vermelha da esfera pulsa intensamente, mas sem ofuscar a visão. A Comandante Ísis inicia lentamente a caminhada, atravessando os halos em direção ao centro.
Capítulo 14

O DESPERTAR DOS DEUSES
    
     Após as transmissões do Conselho dos 12 serem interrompidas devido o rastreamento da tríade draconiana da Lua Negra, o Conselheiro Netuno encontra a Comandante Ondina já recuperada das fortes emoções. Ele reúne novamente a equipe, relatando a fase final do interrogatório com os ex-prisioneiros divanianos na Acrópole de Palmeira dos Ventos.
- Meus Amigos. Sugiro que todos descansem um pouco, à noite aumarante é curta e daqui a algumas horas estará claro.
- É o que vamos fazer no momento – Disse o Dr. Sargaço com os braços sobre os ombros da Comandante Ondina, conduzindo-a para os aposentos.
     O Dr. Asa, visivelmente cansado pergunta a Dra. Iara.
- Iara, você vem?
- Ainda não. Estou um pouco ansiosa e acho que vou conseguir dormir agora. Descerei até aqueles jardins e vou admirar um pouco mais este belo mundo.
- Quer que eu lhe acompanhe?
- Não precisa. Descanse, prometo não vou demorar.
     A Capitã Iara segue para uma área de jardins, andando com os braços cruzados para se aquecer um pouco do frio que domina as noites aumarantes.            Antes de ir para os seus aposentos, o Conselheiro Netuno chama o Dr. Asa e lhe entrega um colar, comunicando-lhe que dentro do pingente encontra-se guardado as fagulhas de vida recolhidas na Lua.
- É um belo colar.
- Não o tire do pescoço Asa. E não libere as fagulhas antes do tempo.
- E quando será este tempo conselheiro?
- Acredite. Você saberá o momento. Descansemos um pouco, nós veremos em breve.
     Ao se recolher, o Dr. Asa avista do alto dos seus aposentos a Capitã Iara caminhando tranqüila em direção aos jardins. Ao deitar, sente o seu corpo pesado e o cansaço se intensifica, fazendo-o dormir rapidamente.
     Devido ao efeito produzido pelo colar, o Dr. Asa passa a ter sonhos com eventos por ele desconhecidos, associados a uma voz feminina suave chamando-o pelo nome. O Dr. Asa acorda, bastante assustado, procurando pela Capitã Iara que ainda não havia chegado aos aposentos. Sentado em seu leito, o Dr. Asa ver dezenas de pequenas chamas azuis flamejantes circulando pelo ambiente. Junta-se a estas chamas, outros seres transparentes de pequena estatura, que mediante gestos o convida a se levantar e segui-los até a varanda.
     Na área aberta da varanda, o Dr. Asa encontra no piso um círculo azul de dois metros de diâmetro, com um símbolo aumarante desconhecido, iluminado e pulsante.
     Ao entrar no círculo, o Dr. Asa é imediatamente tele transportado.
     A Capitã Iara observa o momento em que o Dr. Asa entrava no círculo. Ela o chama, mas ele não escuta, segue as pressas subindo a rampa que dar acesso aos aposentos, mas já é tarde, o Dr. Asa desaparece junto com os seres que o acompanhavam. A Capitã Iara se atrasa alguns segundos ao chegar à varanda onde o Dr. Asa se encontrava e percebe que o círculo azul ainda estava ativo, sendo bem sucedida quando arrisca seguir por ele.
     Ao também ser tele transportada, a Capitã Iara avista a certa distância, que o Dr. Asa ainda se encontrava na companhia das chamas azuis e dos seres transparentes. Bastante discreta e curiosa, segue por um caminho alternativo, subindo vários metros por uma galeria e corredores rústicos feitos de pedras. No fim da galeria, um espaço vazio se apresenta e do alto a Capitã Iara observa atenta à chegada do Dr. Asa e da sua estranha escolta a um grande salão, cujo piso possui círculos intercalados por outras dezenas de halos luminosos, semelhantes aos que existem na fortaleza deluviana do Planeta Éris, onde se encontra a Comandante Ísis, na companhia do amigo Quasar.
     No entorno do círculo maior, dezenas de templários aumarantes vestidos de longas túnicas estão vigilantes e posicionados à frente de colunas. O Dr. Asa, desprovido de vestimentas, está prestes a dar os primeiros passos enquanto recebe orientações do Conselheiro Netuno que se encontra presente. A Capitã Iara a tudo assiste.
     O Dr. Asa inicia uma lenta caminhada em direção ao centro do círculo, onde uma esfera azul e brilhante esta posicionada a sua espera. Para cada halo atravessado pelo Dr. Asa, intensas cortinas de luzes são projetadas do piso para o teto, revelando os segredos preservados na sua memória. Ao chegar junto da esfera azul, abre o pingente do colar e libera as miríades de fagulhas de vidas, que os envolve de tal forma, que uma luz fortíssima se projeta em todo recinto, chegando a penetrar pelas aberturas do teto e corredores livres. O céu aumarante se ilumina, enchendo de emoção os seus habitantes. Neste instante, em todas as cidades do mundo aumarante, ocorrem centenas de repiques de sinos, anunciando o tão esperado despertar dos deuses.
     A luz da esfera azul diminui paulatinamente e aos poucos é possível ver a silhueta de dois corpos, onde nitidamente identifica-se o Dr. Asa e de uma bela mulher, também totalmente desnuda, de pele branca, olhos azuis e cabelos longos e ruivos. A Deusa Luna é reanimada em sua forma humana. A missão do Dr. Asa foi finalmente cumprida ao trazer as fagulhas de vida para a deusa, que se aproxima dele, envolve-o em abraços e suaves trocas de carinhos e beijos.
     Envolvidos por um tênue neblina, o casal lentamente se deita e fazem amor. Sons harmônicos e aromas adocicados envolvem o ambiente, os aumarantes presentes abaixam respeitosamente a cabeça diante do ritual de acasalamento. A Capitã Iara que atônita, sofre silenciosa e copiosamente em lágrimas, perturbada por sentimentos confusos que passam pelo amor e o ódio.
     A Deusa Luna segura carinhosamente a face do Dr. Asa, cuja expressão facial encontra-se feliz e segura. E olhos nos olhos, a deusa fala suavemente em linguagem aumarante:
- Navan! finalmente!
- Chegou o momento. Precisamos retornar – Disse o Dr. Asa, que teve a sua consciência divina despertada, pois ele é o próprio Deus Navan, na sua forma humana.
     A Deusa Luna se levanta delicadamente,
- Os draconianos chegaram antes do despertar precisamos impedi-los.
- Retornaremos ao casulo o mais rápido possível! Os irmãos draconianos estão posicionados e a Lilith já deve está chegando! Precisamos proteger as esferas – Disse o Deus Navan.
- As nossas criações? Como estão? – pergunta a Deusa Luna.
- Até o presente encontram-se em segurança. Os aumarantes realizaram um trabalho perfeito. Está sendo muito difícil para nós, mas vamos conseguir.
     O Rei das Águas, que também se encontrava no ritual do despertar dos deuses, retira-se do ambiente e posteriormente convoca o povo aumarante a se reunir e recepcionar os deuses. Danann a esposa de Netuno, auxilia a Deusa Luna em por as suas vestes e Nuada prepara com o Deus Navan.                                                                   
     A Capitã Iara não mas se encontra no local e ao sair atordoada, correndo da galeria, retorna por um caminho diferente e tropeça. Ela corta a palma da mão nos cristais pontiagudos existentes nas paredes. Para estancar o sangue, rasga um pedaço da própria roupa e envolve a mão. Rapidamente caminha por vários metros até chegar em um anexo da galeria. Ela encontra veste aumarantes usadas pelas colaboradoras do Templo da Deusa e segue disfarçada para a cidade, misturando-se na multidão aumarante.
     O Conselheiro Netuno retorna pelo tele transportador e segue para os aposentos do Dr. Sargaço e da Comandante Ondina, que acordam confusos com tanta movimentação na cidade.
- Netuno! O que está havendo? – pergunta o Dr. Sargaço.
- O ritual do despertar da deusa se concretizou. O povo aumarante está feliz.
- Vou chamar Asa e Iara.
     Com bastante tranqüilidade o Conselheiro Netuno explica a situação.
- O Dr. Asa está com o meu filho Nuada, preparando-se para acenar ao povo aumarante. Quanto a Capitã Iara, não temos informações de onde ela se encontra.
     A Comandante Ondina passa pelo conselheiro
- Sumiu? Que estranho, ela deveria está com Asa?
- O Dr. Asa agora está finalmente de volta para a sua legítima identidade.
- Não estou entendo? Como assim legítima identidade? Conselheiro, por favor, o que está acontecendo?
- Meus amigos. Certamente lhes devo muitas explicações, apesar de termos pouco tempo para isso. Na verdade, no início desta noite, a Danu Luna iniciou o processo do despertar do Dagda Navan e foi reanimada. O Dr. Asa estava de posse das fagulhas de vida que estava em seu colar, fundamental para o cumprimento da sua missão divina. O Rei das Águas convocou todos os conselheiros no Templo da Deusa, cuja sua esfera já brilhava em intensidade, mediante a aproximação do Dr. Asa. No templo, o ritual do despertar do Dagda Navan foi concluído e os deuses finalmente se reencontraram para continuar uma missão que agora, só pertence a eles.
Que Missão?
- Retornar a sua origem. A morada dos deuses.
- Por que Asa terá que acenar para o povo aumarante?
- Ele é o nosso Dagda Navan!
- O que?
     O Dr. Sargaço segura nos ombros da comandante.
- Já que temos uma cerimônia, é melhor seguirmos. Vamos conferir isto de perto.
- Façam isso e não temam meus amigos – continua o Conselheiro Netuno – O Dr. Asa é o Dagda Navan. Pai dos aumarinos. Está agora com a Danu Luna, a mãe dos aumarantes e humanos. Devemos recepcioná-los com alegria.
- Então o senhor sabia o tempo todo? – pergunta a Comandante Ondina.
- Sim Ondina. Não só eu, mas todo o povo aumarante espera por esse momento.    - Então, quando nos aproximamos para o limite da plataforma, o povo aumarante não estava reverenciando apenas o seu Rei das Águas e os convidados humanos e sim, o seu Deus Navan?
- Isto também é verdade. O povo aumarante há milhões de anos cumpre a sua sagrada missão de proteger a Danu Luna. E os humanos nunca perceberam que o Dagda Navan estava entre eles.
- Mas por que vocês fizeram desta forma? Arriscar a vida de Asa, quer dizer, de um deus tão querido expondo-o na superfície?
- Por que foram eles que assim decidiram. A própria Danu Luna entrou em profunda letargia para que os seus pensamentos pelo Dagda Navan não interferissem na missão de proteger as suas crias, ou seja, nós e esse belo planeta. O Dagda Navan precisava viver entre os humanos, nascer e renascer o tempo que fosse preciso. Estava sobre a proteção da família humana e aumarante por milhares de gerações.
- O Clã dos Abas sabia quem Asa era na verdade?
- Sempre souberam. Várias famílias e gerações dividiram esta responsabilidade. - Mas ele não estava preso no Planeta Éris?
- Por milhões de anos. Depois ele surgiu em nosso mundo, revelando o que deveríamos fazer para protegê-lo e a Danu Luna. A sua esfera ficou no Planeta Éris, causando assim pouca influência a Danu Luna que já havia se projetado para este planeta, próximo de suas criações aumarantes e humanas. Assumiu uma forma orgânica, entrando depois em dormência profunda. Com o passar dos séculos, a energia de sua esfera a mantinha viva e a sua intensidade luminosa diminuída.
- Então a sua prisão pelos draconianos foi uma farsa?
- Não foi uma farsa. O Dagda Navan realmente ficou confinado no Planeta Éris, mas por razões ainda desconhecidas por nós aumarantes, conseguiu se libertar e vir para o Planeta Terra.
- Então agora, Finalmente temos dois deuses poderosos unidos? – Quebra o silêncio o Dr. Sargaço - Temos uma oportunidade para vencer os irmãos draconianos.
- Certamente Sargaço. Seu refúgio foi entre os humanos, da qual também assumiu a forma física. O Dr. Asa é esse Dagda que teve a sua memória entorpecida para que nenhuma suspeita fosse percebido pelos seus perseguidores!
- E tudo isso terminou quando Asa resolveu ser astro-biólogo e trabalhar e viver na Lua?
- Existia uma cronologia oculta, determinada pelo Dagda, de quando e como deveria acontecer esse despertar e de que forma segura ele reanimaria a Danu Luna. Quando descobrimos a façanha do Dr. Asa, o povo aumarante ficou muito ansioso, pois sabia que os deuses retornariam em breve. O Dagda Navan disseminou conhecimentos preciosos ao nosso povo, o que permitiu um avanço moral e tecnológico.
- Incrível! – Disse o Dr. Sargaço, sorrindo e orgulhoso – Sou amigo de um deus poderoso e nem sabia.
- Então a Deusa Lilith quer se apoderar da esfera da própria irmã? – Pergunta a comandante?
     O Conselheiro Netuno caminha enquanto responde.
- Tudo leva a crer que seja isto. Esse ser parece ter acreditado que possuía o Dagda Navan em sua forma divina, com seu poder controlado, confinado-o no Planeta Éris. No entanto, não sabia onde estava à Deusa Luna. Acreditamos que toda a ausência da Danu Lilith neste sistema até o momento, seria o de procurar por ela. A Danu Lilith é uma deusa muito poderosa e a sua natureza é desconhecida para nós. Tudo o que sabemos, foi passado pelos deluvianos que estiveram sob seu julgo. Os seus propósitos certamente devem está relacionados à dominação de algum mundo ou de alguma coisa. O encontro da sonda Voyage II no sistema draconiano e a vinda de Dracon para este sistema, foi um evento infeliz para os nossos mundos. Certamente agora, eles sabem que estes deuses aqui se encontram e sabem também que juntos são muito poderosos. A Danu Luna também tem seu poder, mas a sua natureza é nobre e pura, jamais teria um comportamento hostil, mas aliada ao Dagda Navan, reagirá na proteção da sua obra divina e assim esperamos.
- Netuno. Você acredita que a Danu Lilith já esteja em nosso sistema? – pergunta o Dr. Sargaço.
- Tenho absoluta certeza que sim. Existe uma ligação entre eles.
- O que faremos agora?
- Após a aparição dos deuses para o povo aumarante, deveremos voltar para a Acrópole de Palmeira dos Ventos. Precisamos explicar e comunicar ao Conselho dos Clãs e ao povo humano o resto da história. Os deuses seguirão para a Lua. Existe algo importante a ser feito para a nossa proteção.
- Então devemos nos encontrar na plataforma de embarque?
- Dessa vez não. Agora que a esfera da Danu Luna está disponível, poderemos fazer uso dos seus benefícios.
     A comandante olha fixamente para o aumarante.
- Como assim? Desculpe conselheiro, mas não gosto de mistérios.
- Tenham paciência. Vocês saberão do que se trata. Agora me acompanhe até a plataforma real, vamos juntos dar boas vindas aos deuses.
- Mas quanto a Iara? Onde será que ela foi? Não podemos voltar sem ela.
- Ondina. A Capitã Iara está no Reino das Águas e será encontrada.
     Um soldado aumarante se aproxima do conselheiro e o entrega um pedaço de tecido sujo de sangue. O conselheiro olha para o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina que agora se exaltam pegando o tecido da mão do soldado.
- Netuno! O que é isso? É da roupa de Iara! Onde ela está conselheiro?
- Onde não deveria. Deve ter se machucado. Esse tecido foi achado em uma das galerias que fica na parte inferior do Templo da Deusa. Isso explica tudo.
- Explica o que conselheiro? Por favor?
- A Capitã Iara deve ter presenciado o despertar do Dagda Navan. Viu mais do que deveria.
- Então ela fugiu? Não pode ser! Ela o ama e deve está sofrendo muito. Tudo isso foi de mais para ela.
- Eu sinto muito por isso. Acredito que deve ter seguido pelo transportador que o mantivemos ativo.
- Transportador?
- Sim amiga. Será o mesmo condutor que utilizaremos para retornar a superfície. O transportador é uma das muitas heranças tecnológicas que foi revelado pelo Dagda Navan. Mas para nós, só pode ser realizado com a energia da esfera.
     O Dr. Sargaço fica entusiasmado.
- Tele transporte? Pode ser muito útil nestes tempos de crise.
- Sim amigo. É o que temos de mais avançado neste mundo.
     O Conselheiro Netuno ordena ao soldado aumarante para que encontre a Capitã Iara e a convença a se juntar a eles. O soldado parte para cumprir as ordens e todos seguem para o Palácio Real.
     Diante de uma imensa multidão, o casal de deuses se apresenta do alto da torre do palácio, ao lado do Rei das Águas e todos se abaixam em respeitosa reverência. Um clima de alegria e festa ecoa por todo o reinado. O Dagda Navan, trajando uma bela túnica vermelha, se aproxima do Dr. Sargaço e da Comandante Ondina com um sorriso largo e sincero.
- Então amigo. Como devo lhe chamar? Majestade ou meu Senhor Deus? – pergunta o Dr. Sargaço, desconfiado e levando uma leve cotovelada de repreensão da Comandante Ondina.
- Como sempre me chamou Sá. Como sempre me chamou. Recuperei uma memória, mas não perdi o que conquistei aqui. O Dr. Asa e os seus sentimentos pela família e amigos são reais e imutáveis.
- Que bom Asa. Você ainda está aí – O Dr. Sargaço abraça o amigo bastante comovido. O Deus Navan com um gesto de mão, convinda a Comandante Ondina a participar e os três amigos ficam abraçados por um bom tempo.
- Sou amigo de vocês. Não sou o seu deus.
     A Comandante Ondina olha para a Deusa Luna.
- Ela sim. É a deusa. A mãe da Terra, dos aumarantes e humanos.
A Deusa Luna se aproxima irradiante e bela com um sonho.
- Minha Deusa – Disse o Dr. Sargaço com respeitosa reverência – Obrigado pela nossa existência!
A Deusa Luna o segura pelas mãos e o faz levantar.
- Sargaço. Nada há o que agradecer, todos nós possuímos uma fagulha divina. Com a evolução e o tempo certo, todos serão despertados a esta condição. Ondina, venha aqui minha querida. Dê-me um abraço.
     A Comandante Ondina olha par os dois amigos deuses.
- Não lembro de ter me sentindo tão bem em minha vida.
     A deusa toca no cabelo da comandante.
- Em breve, tudo será revelado.    
E repetindo o mesmo gesto do Deus Navan, a Deusa Luna abraça os dois humanos.
     Um belo espetáculo se faz presente neste mundo. E no meio da multidão, a Capitã Iara olha desolada para o alto, vendo o seu amado Asa e amigos, nos braços da Deusa Luna. Um soldado Aumarante se aproxima com gentileza.
- Senhora Capitã.
- Estou bem aqui soldado.
- A senhora está sendo aguardada para se juntar aos deuses e ao Rei das Águas. Estávamos a sua procura, a senhora está ferida? Precisa de ajuda?
- Sim aumarante. Muito ferida! Mas não posso ser curada desta dor.
- Queira me acompanhar senhora, por favor.
     A Capitã Iara segue o soldado aumarante sem resistência por entre a população, quando subitamente, um estrondo ensurdecedor surge no céu do Reino das Águas e um círculo negro recai sobre ela, trazendo dezenas de Gruns. Os animais imobilizam os soldados e raptam a Capitã Iara. Em questão de segundos, o círculo rapidamente se fecha e desaparece. Um grande tumulto é formado entre o povo aumarante.
     O Deus Navan olha para a Deusa Luna:
- Lilith! É o sinal! Precisamos ir!
     A Deusa Luna entrega a pequena esfera azul para o Rei das Águas que o repassa para o Conselheiro Netuno. Ela segura a mão do Deus Navan e ambos desaparecem numa intensa luz. Curiosamente eles também levam o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina. O Rei das Águas ordena que todas as defesas e ataques do mundo aumarante se preparem para a guerra, pois o esperado e lendário dia chegou.
     Em seu posto de comando, Dracórius está olhando para cima como de costume, mas na verdade, está sempre recebendo informações telepáticas. Os irmãos Detra e Draves entram no salão:
- Se comunicando com a deusa! – Disse Detra com ironia e regenerado do ferimento provocado pelo Rob Iron na fuga do Planeta Ceres.
- Apenas cumprindo ordens.
- Você causou um grande espanto no mundo dos aumarantes! Foi bem ousado! Gosto disso!
- Ordens! Já disse!
- Quer dizer que em breve teremos diversão?
     Draves se aproxima.
- Dracórius! A rainha sabe que falhamos?
     O draconiano mais velho olha para os dois irmãos.
- Ela se mostrou indulgente. Mas agora suas ordens são claras: destruir a todos! E dessa vez não aceitará falhas!
     Os olhos dos irmãos draconianos brilham de emoção com as novas e imediatamente, começam os preparativos para a destruição de todo ser vivo do sistema solar, consciente ou não.
     Enquanto isso no Planeta Éris, a Comandante Ísis passa pelo mesmo processo acontecido pelo Dr. Asa no mundo aumarante. Ela caminha ofegante por entre os halos e cortinas de luzes e ao se aproximar da esfera que pertence ao Deus Navan, reassume a sua consciência de Deusa Nanna. Os gigantes deluvianos observam atentos para a deusa despertada, que olha para o alto e faz um gesto, colocando o punho fechado sobre a testa, sinal típico dos deluvianos que significa “poder e amizade eterna”. Os gigantes comemoram e o Comandante Quasar continua confuso e olhando rápido para os lados, mas logo é recebido pela Deusa Nanna.
- Quer dizer que você é uma deusa?
- Para alguns. Mas para você continuo sendo a comandante e amiga Ísis de sempre. Se assim você permitir.
- Claro! Quer dizer sim! Óbvio! Mas o que vai acontecer agora?
- Quero que vá com Gumenzid ao Cruzador Quimera. Explique o que está acontecendo e traga todos os civis da Nave Rapanui para a proteção nas fortalezas deluvianas.
- Posso saber o motivo?
- Os draconianos estão se movendo, captaram a atividade estranha da esfera. Entraram novamente em nosso sistema solar e vão atacar. Convoque alguns robs e soldados para vir até aqui! Os inimigos vão querer levar a esfera Navan! Posicione defesas na orbe do planeta!
- E quanto aos deluvianos?
- Não se preocupe com eles! Sabem bem como lidar com os draconianos! Já travaram outras guerras! Vá logo Quasar! Faça o que eu digo! Confie em mim! E tome cuidado!
     O Comandante Quasar segue para o círculo transportador enquanto espera Gumenzid que recebe instruções da Deusa Nanna.
- Recebi mensagens de Navan, ele está com a Luna e seguiram para a Lua. Proteja a esfera Navan e os humanos. Eles vão perceber rapidamente a nossa presença e transpor o escudo! Vou à Lua encontrar Navan e Luna!
     Gumenzid balança a cabeça confirmando entender as ordens
- A esfera estará segura! Não a levarão! Mas aquele seu amigo é um pouco atrapalhado!
- Tenha paciência com ele Gumenzid. É um bom soldado e bom amigo.
     O marciano e o deluviano desaparecem pelo transportador e ressurgem no Cruzador Quimera. Os soldados robs apontam armas e ameaçam atirar. O Comandante Quasar os tranqüiliza, apresenta Gumenzid como aliado e explica para a todos o acontecido. Ele envia as naves da expedição para a segurança do Planeta Éris, mantendo apenas o Cruzador Quimera.
     No interior da Lua, os Deuses Navan e Luna chegam com os convidados humanos que ficam impressionados ao verem imensas galerias com paredes transparentes, fracamente iluminadas de verde.
- Onde estamos? – pergunta a Comandante Ondina.
- No interior da Lua – responde o Deus Navan.
- Isso é Incrível! E muito bonito!
     Curioso como sempre o Dr. Sargaço observa os detalhes.
- Asa. O que estão por trás destas paredes?
- Água! Bilhões de litros de pura água do antigo Planeta Sinos, vital para os aumarinos.
- Água na Lua, quem diria!
- Estamos no centro do casulo. Os aumarinos estão aqui em letargia. Os seus corpos estão preservados e aguardando o momento certo de serem reanimados.
- Há um mundo novo para eles – completa a Deusa Luna - Quando segui para o Planeta Terra, não havia completado ainda minha forma orgânica, mas precisa me proteger e ao mesmo tempo manter viva os milhões de aumarinos que aqui estão. Não poderia dividir o poder da esfera e abandoná-los. Foi quando a minha irmã Nanna cedeu a sua esfera para que permanecesse na Lua, mantendo a vitalidade dos aumarinos até o meu retorno. Depois segui para as profundezas dos oceanos, ficando aos cuidados dos aumarantes, que naquela época também eram seres muito frágeis. Depois, Navan havia sido libertado pelos deluvianos que fugiram da Terra com a ajuda dos aumarantes. Foram atraídos por ele para o Planeta Éris, onde encontrava aprisionado. Os deluvianos seguiram as orientações de Navan e conseguiram anular as forças que o prendiam e passaram a utilizar estas mesmas forças para a sua própria sobrevivência, defesa e disfarce.
     O Deus Navan se aproxima da Deusa Luna.
- Eu sabia que Luna estava escondida, pois a sua irmã Nanna havia me prometido que assim o faria e que estaria sempre por perto. No Planeta Éris, me transportei para a Terra, para perto dela no mundo aumarante. Optei a minha forma orgânica como humana, a mesma que Luna havia escolhido. Para protegê-la, haveríamos de esperar que os aumarantes e humanos evoluíssem. Tive que perder a minha consciência e assumir identidades humanas durante muitas de gerações. O nosso reencontro seria legitimado pelas fagulhas de vida que intuitivamente eu descobriria no solo lunar e completaríamos os nossos destinos com segurança.
- E onde se encontra a Deusa Nanna? – pergunta a Comandante Ondina.
- Está vindo neste momento até nós.
    Um deslocamento de ar se percebe no lugar e um círculo verde surge, desta vez trazendo a Deusa Nanna. Como era de se esperar, o Dr. Sargaço e a Comandante Ondina ficaram surpresos em ver que a irmã da Deusa Luna é a Comandante Ísis. Os deuses se abraçam felizes com o reencontro.
- Ísis! Que surpresa!
- Como vai Sargaço. Também estou surpresa em vê-los aqui!
- Tivemos que trazê-los. Não era seguro – Explica o Deus Navan.
- Agradecemos pelo cuidado – responde o Dr. Sargaço.
- Ísis! – disse a Comandante Ondina – A Capitã Iara foi raptada!
- Percebi uma energia de transporte deslocando-se da Terra.
- Precisamos salvá-la! – insiste a Comandante Ondina.
- Ondina! Existem muitos escravos em Dracon que também precisam ser salvos. Podemos utilizar o transportador, mas desconhecemos a posição exata onde estão aprisionados. Precisamos de ajuda, de alguém que possa enviar um sinal de localização, é muito arriscado.
     As Deusas se entreolham.
- Luna. Preciso que reanime o draconiano Forseti.
- Forseti? – diz o Dr. Sargaço confuso – O irmão dos draconianos?
- Ele encontra-se aqui na lua, em letargia.
     O Dr. Sargaço comenta entusiasmado.
- Isto é simplesmente inacreditável. Quantos segredos ainda serão revelados?
     O Deus Navan põe a mão no ombro do Dr. Sargaço.
- Muitos. Meu amigo. Não se preocupe com isso agora.
     A Deusa Luna aproxima-se do centro do piso e com uma imposição das mãos faz erguer o disco que se desloca para cima, levando-os para outros níveis no centro da Lua. O Dr. Sargaço olha para o Deus Navan sorrindo e este pergunta:
- Se divertindo?
- Estava pensando. Agora pelas minhas contas, sou amigo de três deuses.
- E os deuses têm sorte de ter você como amigo – retribui o Deus Navan.
     Após alguns minutos o disco para e todos observam as milhares de casulos de cristais, interligados por hastes luminosas por dezenas de quilômetros no entorno de uma grande esfera verde-turquesa luminosa, flutuando e girando em seu próprio eixo.
     A Comandante Ondina não contém a sua admiração.
- Asa! São os aumarinos que estão no interior de cada esfera?
- Os poucos que foram possíveis salvar. Estão aqui há muito tempo. Mas adiante,  temos preservados uma parte da biodiversidade deste antigo mundo.
- Onde se encontra Forseti? – pergunta o Dr.Sargaço.
- É impossível saber do ponto em que estamos observando. Luna é que conhece a sua posição.
     A Deusa Luna, estica o braço direito e um feixe de luz parte em direção as esferas que começam a girar em carrossel. Em seguida, uma esfera começa a se destacar e brilhar deslocando-se da haste luminosa. Ao deslocar-se, flutua em sua direção. Em seu interior, está o corpo de Forseti, intacto e adormecido.
     A Deusa Luna se aproxima da esfera cristalina. Ela o faz abrir e milhares de fagulhas de vida surgem inesperadamente de todos os cantos, condensando-se acima de Forseti e penetrando em seu corpo. Após alguns minutos, a esfera começa a se desmanchar e os seus fragmentos são atraídos para a grande esfera verde. A Deusa Nanna aproxima-se:
- Forseti! Forseti!
     O draconiano abre os olhos, é ajudado pelo Deus Navan e o Dr. Sargaço a levantar-se e fala em sua língua nativa.
- Minha Deusa! Despertou-me? Quem são os outros?
- Já se passara muito tempo Forseti! Precisamos da sua ajuda!
     A Deusa Nanna põe a mão em sua testa, revelando em sua mente os eventos mais importantes que ocorreu desde a sua letargia.
- Forseti! Vou enviá-lo para o Planeta Dracon. Encontre os seus irmãos e tente persuadi-los a desistir de atacar.
- Farei o que pede minha Deusa. Sou grato por salvar a minha vida. Mas meus irmãos estão corrompidos pelo poder e suas faces desfiguradas pelo ódio. Eles não vão aceitar meus argumentos.
- Apenas não provoque a ira de Dracórius e não será morto, apenas aprisionado. Estará por enquanto sozinho, e ao ser conduzido para junto dos outros prisioneiros, deve nos enviar um sinal mental de localização. Ainda podemos resgatá-los antes de destruir esse Planeta Dracon.
     Forseti reverencia a sua deusa.
- Esse planeta errante precisa ser destruído, mesmo que sacrificando as nossas vidas.
- Mas ainda não precisa ser assim. Quero que também confirme se existe uma humana que atende por Iara, ela foi raptada recentemente.
- Farei o que pede minha deusa.
     Forseti se afasta um pouco do grupo e se posiciona. Reverencia os humanos e os outros deuses. A Deusa Nanna projeta um escudo a sua frente onde se ver o Planeta Dracon. Forseti transpassa o escudo e desaparece.
     É tarde da noite na Acrópole de Palmeira dos Ventos, o Mestre Clístenes encontra-se no alto da torre principal na companhia de soldados e auxiliares robs, do Príncipe Dizart e do seu tutor Aminas. Ele observa a partida de algumas naves, em especial a que conduz o Mestre Tálio e a sua família para visitar o povo ceriano espalhados em diversas cidades no Planeta Terra.
     Encostado no pára-peito de uma sacada, o Mestre Clístenes não tira os olhares para o céu, acompanhando milhares de pequenas luzes de naves humanas e aumarantes patrulhando a órbita da Terra. Encontra-se meditando e recuperando forças para agir com sabedoria, na defesa da raça humana. O mestre cerra os olhos e por alguns instantes sente uma brisa fria e reconfortante que lhe permite alguns segundos de paz. A brisa passa a ser um vento forte com deslocamento de ar, rompendo o silêncio. O Mestre Clístenes se assusta ao ver um círculo azul acendendo no chão e os soldados robs correm e o cerca, protegendo-o. Em alguns segundos, uma luz se manifesta em um flash, fazendo surgir o Conselheiro Netuno e o seu filho Nuada, ambos usando vestimentas semelhantes aos antigos guerreiros samurais e portando uma longa espada presa às costas.
- Navan Mestre Clístenes!
- Navan Conselheiro.
- Espero que a minha chegada repentina não o tenha perturbado em demasia.
- Para ser sincero conselheiro. Esperava que o amigo chegasse em uma nave aumarante.
- Até poderia, mestre. Mas o momento exige que usemos outros recursos de transportes mais rápidos. Precisamos da sua atenção para relatar os fatos recentes acontecidos no mundo aumarante.
- Vamos para o salão e reuniremos os clãs da Terra que aqui chegaram e estão disponíveis, caso o amigo não se oponha.
- De forma nenhuma, mestre. Até prefiro. Pois assim todos saberão ao mesmo tempo.
- Estamos evitando conferências à distância, os draconianos já codificaram os nossos idiomas.
     O Mestre Clístenes e o Conselheiro Netuno seguem para o salão nobre e após se acomodarem, iniciam a reunião. O aumarante Nuada segue com um oficial rob terráqueo para uma área aberta, próxima a cidade e aos seus habitantes. No salão, o Conselheiro Netuno revela tudo o que se passou no Reino das Águas.
- Então estão vindos para a Terra – Disse um representante de Marte.
- Infelizmente. É só uma questão de tempo, pois não conhecemos todas as táticas que serão usadas por Dracórius e seus irmãos. Agora que conhecem como nos defendemos. O Planeta Dracon já se desloca em nosso sistema solar e não sabemos precisar quando atacarão. Os guerreiros aumarantes já estão prontos em vários pontos do planeta. O meu filho Nuada está nesta cidade na companhia de seus soldados, aguardando a chegada de outros aumarantes para proteger os humanos.
- Os deuses, finalmente estão juntos. Temos uma maior garantia de proteção, conselheiro? – pergunta o Mestre Clístenes.
- Sim mestre. A esfera azul da Danu Luna está conosco e dela poderemos extrair o poder que nos cabe usar. Mas como disse antes, temos recursos ainda desconhecidos pelos humanos e lhes garanto que os utilizaremos se for necessário.
     No Planeta Éris, o Comandante Quasar e Gumenzid ensaiam uma conversa:
- Então gigante. É bom que você esteja colaborando conosco, mas é importante que saiba que eu estou no comando aqui, entendeu?
      O deluviano olha pra baixo, encara o comandante e o ignora.
- Diga-me! Vocês são sempre assim mal humorados?
       O gigante olha mais uma vez para o falante e nervoso marciano, pega arma que está em suas mãos.
- Espera aí! Devolva minha arma!
     Gumenzid se abaixa e entrega uma arma deluviana para o comandante.
- Olha só grandalhão! Eu reconheço seu esforço em querer me agradar mais eu não sei como essa coisa funciona! Prefiro a minha velha arma!
     Gumenzid faz um sinal para que o Comandante Quasar faça silêncio. Uma forte ventania surge, seguida de um barulho ensurdecedor que faz o Comandante Quasar por as mãos nos ouvidos.
- O que é isso!
- Proteja-se humano! Os draconianos entraram! Diz Gumenzid que pula para o piso inferior a vários metros de altura.
     Outros deluvianos também saltam e se posicionam para proteger a entrada onde se encontra a esfera vermelha e os humanos. Na órbita do Planeta Éris, soldados e robs marcianos travam com guerreiros de Dracon um feroz combate, com explosões de naves e mortes de ambos os lados.
     O Comandante Quasar sai correndo debaixo do fogo cruzado de raios de plasma para se esconder atrás de uma coluna usando-a como escudo, começa a atirar a esmo sem conhecer ao certo os efeitos de sua ação.
     As luzes se apagam e dezenas de olhos vermelhos piscam como vaga-lumes ao redor dos deluvianos, um som gutural horrível de feras voadoras invade o teto.
     No Planeta Marte, aparentemente tranqüilo, a população já se encontra refugiada no subsolo. No entanto, explosões e combates repentinos acontecem nas plataformas das luas marcianas de Fobos e Deimos. Um círculo negro se desloca para dentro do Complexo de Summerland em solo marciano, surpreendendo soldados que esperavam o confronto em campo aberto. Do transportador, o draconiano Detra ordena seus guerreiros para atacar e destruir tudo. Esferas draconianas descem ao solo explodindo parte do complexo que reage com eficiência. Centenas de destroços de naves e esferas inimigas queimam na órbita do planeta. O General Ares corre para encontrar o Mestre Menés que está no salão de transmissão aguardando contato com conselho.
     Da central de comunicações no Planeta Terra, o Mestre Clístenes é avisado que houve perda de sinal com os planetas Marte e Éris. As últimas informações confirmam combates violentos.
     O Príncipe Dizart se afasta do salão apressado e o tutor Aminas o acompanha.
- Meu príncipe! Para onde está indo?
- Vou a central de comunicação! Vou tentar conseguir aliados do nosso povo!
- Mas como? Eles estão em combate! Não sabem que estamos vivos!
- Não posso permitir que morram do lado errado desta guerra. Não são inimigos dos humanos e aumarantes. Provarei que estou vivo e os trarei para o nosso lado!
- Mas como pretende fazer?
- Vou pensar em algo! Volte Aminas! E fique na companhia do Conselheiro Netuno e do Mestre Clístenes! Eu estarei seguro na central!
- Meu príncipe! Não devo lhe abandonar é a minha obrigação lhe acompanhar sempre!
- Aminas! Agradeço pela sua dedicação, mas preciso fazer isso sozinho! Avise ao Mestre Clístenes as minhas intenções!
- Sim príncipe! Farei o que pede! Tenha cuidado!
- Terei! Agora vá! Rápido!
     Ao chegar à central de comunicações, o príncipe explica ao técnico rob as suas estratégias e pede que ele encontre uma freqüência para se comunicar com as esferas draconianas.
     Nos céus do Planeta Terra, acontece vários estrondos de raios e trovões. As nuvens se acumulam em cores diversas e muitas explosões são ouvidas. Outros círculos negros de transporte penetram na órbita do Planeta Terra, trazendo milhares de guerreiros draconianos e de outras espécies desconhecidas que invadem várias cidades, inclusive Palmeira dos Ventos.
     O draconiano Draves surgiu no salão onde se encontram o Mestre Clístenes e o Conselheiro Netuno. Draves aponta em direção deles e dezenas de gruns obedecem e partem voando para atacá-los e alguns são atingidos por disparos dos soldados robs, enquanto outros vencem o cerco. O Conselheiro Netuno salta à frente do Mestre Clístenes e aponta as mãos para os gruns que são queimados por uma forte onda de calor. Draves observa tudo com frieza e tranquilidade, usando a sua longa vestimenta escura. Ele se aproxima, andando descontraidamente, com altivez e um sorriso sarcástico. Olha para o teto e admira a arquitetura do prédio.
- É uma bela decoração que vocês têm por aqui. Que pena que vou destruí-los. Como vai aumarante? Foi um truque muito interessante esse seu. Queimou os meus gruns. Mas não se preocupe. Tem mais lá fora comendo os seus amigos humanos. Está ouvido os gritos?
- Draves! – fala o Mestre Clístenes atordoado e reconhecendo a voz do draconiano.
- Não me lembro de sido apresentado? Quem é esse que você protege?
- Não se aproxime! – ameaça o Conselheiro Netuno.
  Draves muda rapidamente a fisionomia de sorriso para o de raiva e lança uma chama de plasma.
     O Conselheiro Netuno com o braço estirado e usando o dedo indicador cria uma barreira que bloqueia o ataque. Draves gesticula com a cabeça achando a defesa do Conselheiro Netuno razoável. Outros soldados robs entram no salão distraindo Draves e são facilmente destruídos por ele.
- Gosta de complicar as coisas, aumarante? Quer brincar de deus?
     O Conselheiro Netuno se aproveita dos poucos segundos de distração de Draves e ativa rapidamente o transportador, pedindo para que o Mestre Clístenes entre rapidamente nele.
- Não posso deixá-lo aqui sozinho conselheiro!
- Por favor, mestre! Entre logo! Não posso enfrentá-lo com o senhor por perto! Vá rápido!
- Para onde isso vai?
- Para o meu mundo! Encontre o nosso rei e conduza isto com cuidado! 
     O Mestre Clístenes atende ao pedido do Conselheiro Netuno e desaparece no círculo, levando a esfera azul.
- Ah! Você quer uma guerrinha particular? Então! Vamos à diversão! – disse Draves realizando disparos próximos ao Conselheiro Netuno e perguntando onde estava o outro humano, se referindo ao Mestre Clístenes.
     Nas órbitas dos Planetas Éris, Marte e Terra, inexplicavelmente centenas de esferas draconianas pilotadas por escravos divanianos se volta contra as outras esferas pilotadas por guerreiros de Dracon.  O Comandante Arcturus é avisado pela central de comunicações de que o Príncipe Dizart foi bem sucedido na transmissão para os divanianos, que agora são aliados e pede para que retransmita as mensagens para os demais oficiais e caças.
- Mas como vamos saber quem são os divanianos? – pergunta o General Nergal.
- Eles acenderam um sinalizador nas esferas para serem reconhecidos! – explica o rob da central de comunicações.
     O Cruzador Areia do Deserto que está sob o comando de Arcturus, é intensamente atacado por raios de plasma vindo de uma esfera matriz draconiana que se encontra distante da área de combate.
- Arcturus!- grita o General Nergal – afaste-se deste ponto!
- Não posso Nergal! Perdemos muita energia e os escudos perderam força! Estou se propulsão para manobras evasivas! Não agüentaremos por muito tempo!
- Vou dar cobertura! – avisa o General – Que ordena disparos contínuos e intensos na esfera matriz.
- Senhor! – alerta um oficial rob – Nossos disparos não atingem a esfera! Está muito distante!
- Arcturus! Abandone o cruzador imediatamente! – grita o General Nergal – Vamos resgatá-los!
- Não faça isso Nergal! Não haverá tempo!
     O General Nergal rapidamente parte em socorro do Cruzador Areia do Deserto e ao se aproximar assiste o mesmo explodir devido a mais uma investida de raios de outra esfera matriz.
- Arcturus! – Grita o General Nergal, sem acreditar que não pode salvar o amigo.
     O deslocamento de fragmentos do impacto da explosão atinge o cruzador do General Nergal com violência. Partes importantes da nave são comprometidas e também se tornar alvo fácil. Os caças rob entram em formação à frente do cruzador improvisando escudos de força. As esferas matrizes giram novamente em seu próprio eixo produzindo mais energia para lançar sob a sua próxima vítima.
     Um oficial rob alerta:
- Senhor! Estão carregando para disparo! Não vamos resistir!
     O general ordena evacuação imediata da nave. 
     Na Lua, surgem esferas que atacam a Estação Lunar Meteora, que está sendo defendida por robs que disparam canhões de plasmas que surtem pouco efeito. As defesas até então ocultas da Lua intervêm, e do solo, partem aos milhares, misteriosas chamas azuis que perseguem e envolve as esferas draconianas e as fazem explodir, com exceção das pilotadas por divanianos que descem na estação para presta ajuda aos robs.  
     Outras esferas matrizes draconianas giram e se preparam para lançar uma perigosa ofensiva na Lua.  A Deusa Luna se antecipa e lança ao espaço uma esfera azul que explode, destruindo exclusivamente todas as matrizes ao mesmo tempo, inclusive as que estão próximas do Planeta Terra.
     O confronto na órbita de Éris chega ao fim, soldados marcianos gritam comemorando a vitória e descem ao planeta para auxiliar na fortaleza em solo. Deluvianos e guerreiros da Dracon ainda se enfrentam no templo, onde se encontra a esfera vermelha.
     No Planeta Éris, o Comandante Quasar não enxerga bem devido os impactos das chamas de plasma que explodem nas paredes. Subitamente ele é erguido do solo por um grun, mas logo sente um forte impacto de uma largada de mão sobre o animal, dado por Gumenzid. O comandante cai no chão e se machuca, escuta uma explosão e ver Gumenzid cair desorientado no piso abaixo com uma parte da coluna que sustenta o teto do templo sobre ele. Um guerreiro draconiano ousa subir sobre o peito de Gumerzind e aponta a arma sob a sua cabeça e, quando vai atirar, é morto com o impacto de um raio de plasma atirado na parte de cima pelo Comandante Quasar.
- Muito bom! Bom mesmo! Posso ficar com essa arma para mim? – diz o comandante – Que põem a mão cobrindo os olhos na tentativa de melhor enxergar o deluviano lá embaixo.
- Olá gigante! Tudo bem por aí?
     Gumenzid olhando para Quasar balança a cabeça afirmativamente e com o punho fechado, encosta na testa por alguns segundos, saudando o comandante.
- Essa passou perto! – O Comandante Quasar devolve a saudação usando a continência tradicional dos militares humanos.
     Em Marte, o General Ares chega atrasado à sala de transmissão e encontra o Mestre Menés ferido e agonizando. Foi brutalmente atacado por um gárgula.
- Mestre! – grita o General Ares – Mestre!
- Ares!
     O general se ajoelha e levanta a cabeça do mestre.
- Ares, meu amigo!
- Mestre, agüente firme, vou ajudá-lo!
     O mestre começa a tossir e sangue jorra de sua boca. Ele olha para o general e encontra forças para sorrir com leveza. Com último esforço, retira o colar do pescoço, símbolo do líder marciano e entrega para o amigo.
- Mestre!
- Ares! Não é mais possível! Escute com atenção! Quando tudo isso terminar, quero que conduza nosso povo! Prometa!
- Mestre! O senhor vai ficar bem!
- Prometa!
     O general aceita o fato de que não pode ajudar o seu mestre.
- Sim! Eu prometo! – responde em voz baixa.
     O Mestre Menés segura com força a mão do general e contorcendo-se de dor suspira nos braços do amigo. O general olha para o colar e o põem no pescoço, deita carinhosamente o mestre no chão, fechado os seus olhos com a palma da mão. Levanta-se de imediato com a arma em punho e segue para ajudar no combate, matando gárgulas com destreza e fúria.
     Próximo de onde se encontrava, o General Ares avista Detra se encaminhando para o círculo. Os guerreiros draconianos não resistiram a primeira defesa marciana começam a se retirar. Detra, satisfeito com a sua investida em Marte, olha para o General Ares e faz um sinal de desdém enquanto entra no transportador. O general puxa rapidamente da cintura um tipo de granada e lança sobre Detra, que desaparece no círculo negro, tentando se livrar do artefato explosivo colado em suas vestimentas.
     Em Dracon, Forseti é aprisionado e levado à presença de Dracórius.
- Forseti?
- Dracórius – disse Forseti com tristeza, não reconhecendo o rosto do irmão.
- Você está vivo? Quem lhe enviou?
- Sim meu irmão, estou vivo! A Deusa Nanna me enviou! Vim tentar impedi-lo de destruir os humanos!
- Não seja idiota! A Deusa Nanna não reina aqui! E você sempre esteve do lado errado Forseti! Poderia ter se juntado a nós!
- E escravizar o nosso povo? Jamais!
- Não escravizei! Faço isso por eles! Sua viagem foi perdida, Forseti!
- Você perdeu a razão! Está dominado! Desista Dracórius! Os deuses estão unidos!
     Dracórius parte para agredir Forseti. Ele segura o irmão com uma mão e o levanta no ar, quando de súbito, sente espasmos no abdômen e a sua força diminuindo.
- Detra, seu imbecil! – grita Dracórius.
     O círculo negro vindo de Marte retorna para Dracon, um vácuo explode no recinto. Forseti e Dracórius são lançados a vários metros, devido o forte impacto.
     Ainda sentindo fortes dores e vendo Detra morto, Dracórius se esquece da presença frágil de Forseti e sai atordoado para outro local. Os servos de Dracórius presenciam a cena à distância e se rebelam com a guarda pessoal do líder draconiano. Outros guardas chegam e ao se aproximarem são mortos pelos servos já de armas em punhos.
- Podemos ajudar? - fala um servo tentado reanimar Forseti.
     Forseti desperta, reconhecendo o dialeto.
- Divanianos! Vocês são Divanianos?
- Somos divanianos!
     Forseti compreende que agora possui fieis aliados e pede para que o conduza até os prisioneiros. Eles seguem por entre corredores escuros com segurança, pois os servos de Dracórius possuem livre trânsito em Dracon, conhecem os atalhos secretos. Ao chegarem à beira de um precipício, Forseti olha para baixo e ver centenas de escravos e prisioneiros de todas as idades, vivendo num ambiente escuro e insalubre. Os servos de Dracórius ajudam Forseti por estreitos corredores, a chegar onde se encontram os demais escravos.
- Não tem guardas? – pergunta Forseti.
- Não! Todos estão em combates! – explica um dos servos mais velhos.
     Forseti emite um sinal mental para a Deusa Nanna indicando a sua posição. Em seguida, pergunta aos escravos se conhece uma humana que foi raptada e que se chama Iara.
- Não! Não vimos ninguém daquele planeta.
- Existem outros locais de onde levam prisioneiros? – pergunta Forseti.
- Existe a caverna dos gruns! – responde outro escravo com desolação.
- Onde fica?
- Próximo ao salão da rainha. Pode seguir por esse túnel.
- Vamos irmãos! Não temos muito tempo! Precisam sair daqui!
     Agradecidos, os servos abraçam Forseti e juntam-se aos outros escravos.
     Um novo estrondo e um círculo verde surgem no piso entre Forseti e os escravos que se encontram assustados. Forseti concentra os prisioneiros ao redor do círculo e todos são transportados para o Planeta Éris e amparados pelos diluvianos e marcianos. Solitário, Forseti segue para a caverna dos gruns, disfarçado de escravo e determinado em encontrar a Capitã Iara.
     Enquanto isto na Terra, na Cidade de Palmeira dos Ventos, os gárgulas atacam a população com selvageria.  Grupos de crianças perdidas dos pais e fugindo de alguns abrigos subterrâneos, são encurraladas por estas criaturas bizarras que ao tentar atacarem, são surpreendidos por uma matilha de cães de guarda criados pela população, que os atacam destroçando-os e salvando as indefesas vítimas. Em outro ponto da cidade, dezenas de gruns avançam na direção de Nuada, que os mata com a sua espada, demonstrando rara habilidade.
     Quando os restantes das feras se aproximam do jovem, são impelidos para trás devido o vácuo de um novo estrondo, trazendo centenas de guerreiros aumarantes que chegam por um transportador para reforçar a luta.
     Nuada ordena para que os guerreiros protejam os humanos e matem todos os gruns. Ele segue para o salão do conselho em busca do pai. A luta dos outros guerreiros, espalhados em diversas cidades do planeta começa a enfraquecer em combate, mas são salvos quando uma extraordinária quantidade de gruns brancos, modificados geneticamente pelos aumarantes, surgem dos céus e entram em confronto com os gárgulas negros enviados de Dracon.
     Em todo o Planeta Terra, um curioso fenômeno se manifesta, animais como aves, morcegos e insetos, induzidos pelo poder da Danu Luna, atacam os primeiros guerreiros draconianos que tocam o solo, vindo com suas naves esferas.  Dos oceanos, milhares de esferas aumarantes partem para socorrer as cidades, aliando-se as forças de defesas de todos os clãs, que recebem ajuda dos cerianos comandados por Ébano.
     A Cidade de Palmeira dos Ventos encontra-se sobre forte pressão, sendo destruída por novas investidas e reforços dos guerreiros draconianos que saem dos círculos negros. O caos se estabelece, entre feridos, mortos, lamúrias, gritos, fumaças e estrondos. No entanto, um desses estrondos é bem-vindo, trazendo a pedido do Comandante Quasar, um reforço de deluvianos enfurecidos, transportados do Planeta Éris. Os gigantes correm diretamente para os inimigos, fazendo o chão tremer.
     Para afastar os gárgulas, alguns deluvianos usam um instrumento de sopro, parecido com uma flauta sem furos, conhecido por antigos habitantes da Terra como didgeridoo. Os estranhos sons produzidos são insuportáveis para os gruns, que fogem enlouquecidos, sendo perseguidos pelos gruns brancos.
     O Conselheiro Netuno está sucumbindo diante do poder nefasto de Draves, que agora se aproxima determinado para matá-lo.
- Chegou o seu grande momento aumarante! Será um prazer destruir criatura tão desprezível!
     Draves usa a energia do seu anel para fazer flutuar uma grande pedra a ser jogada sob o Conselheiro Netuno. Subitamente a pedra cai, Draves não consegue continuar o seu intento por causa de fortes dores que o faz por as mãos no abdômen. Os poderes do draconiano foram também reduzidos devido à morte de Detra. O Tutor Aminas entra no salão e se aproveita da aparente fraqueza de Draves e pula com coragem sobre ele, sufocando o seu pescoço. Draves reage à investida e encostando a mão no peito de Aminas, lança-o em chamas há vários metros de altura, ceifando a vida do abnegado tutor.
- Detraaaaaa! – Grita Draves com olhos repletos de horror e medo, sentindo a morte do irmão. Mesmo fragilizado, a sua ira lhe dar forças para aproximar-se do Conselheiro Netuno. Draves sente algo pontiagudo tocando-lhe as costas e só tem um milésimos de segundos para ver a face do seu algoz, que lhe decepa a cabeça.
- Pai!
- Nuada, meu filho!
- O senhor está bem? Tinha muitos gruns lá fora! Achei que tinha partido com o mestre.
O Conselheiro Netuno se levanta com esforço e abraça o filho.
- Estou bem filho, obrigado! O mestre seguiu para o reino, eu tive que ficar e tentar detê-lo.
- Não houve outra forma de detê-lo, sinto muito.
- Sabemos disto, meu filho.
     Nuada olha para o corpo queimado do tutor e o conselheiro diz que ele tentou salvá-lo.
     O Conselheiro Netuno se apóia no filho e segue para a sala de transmissão. Ao chegarem, encontra o príncipe e relata a morte do Tutor Aminas. Desolado, o jovem divaniano deixa escorregar pelos dedos uma arma que cai ao chão, cruza as mãos sobre o tórax e assim permanece, homenageando a memória do velho amigo.
     Mais adiante, uma voz solicita retorno de contato que não pode ser respondida, devido ao técnico rob que está destruído e queimando no chão, ao seu lado, um guerreiro draconiano morto pelo príncipe. O Conselheiro Netuno abre um canal de comunicação.
- Aqui é o Conselheiro Netuno!
- Conselheiro, que bom ouvir a sua voz! É o General Nergal!
- General! Informe a situação!
- Conselheiro! O Comandante Arcturus está morto! Meu cruzador foi destruído! Estou numa cápsula de fuga prestes a ser queimada na atmosfera! Não consigo pedir ajuda aos aumarantes que estão nas esferas!
- General! As esferas são pilotadas a distância do nosso mundo! Não temos como fazer uma operação de resgate com elas nestas circunstâncias!
- O que? Não tem ninguém pilotando?
- Não general!
- Conselheiro! Os soldados desceram para o solo! A guerra agora é aí embaixo, estou só!
- Os inimigos estão sendo destruídos, general! Recuperamos o controle das cidades! – Disse Nuada.
- Essa pelo menos, é uma boa notícia – responde o general aliviado.
     O filho de Netuno localiza no painel a posição do General Nergal e mostra ao pai.
- General! O senhor tem alguma propulsão?
- Tenho o suficiente para acelerar a minha destruição na atmosfera! A gravidade me pegou!
     O General Nergal baixa a cabeça, passa a mão na testa e diz em voz baixa:
- Minha querida Ísis! Que triste fim é o meu! Não tive uma oportunidade de dizer quanto a amo.
     Nuada indica ao conselheiro, que um halo de posição se formou à frente da cápsula onde o general se encontra.
- General! – orienta o Conselheiro Netuno – Consegue ver um círculo luminoso há poucos metros de sua cápsula? Quero que acelere e atravesse ele! É um transportador!
- Conselheiro! Se acelerar mais estará acabado para mim! Vou ser desintegrado!
- Confie em mim marciano!
- Esse transportador? Para onde me levará? Não posso aterrissar!
- Não será necessário! Apenas o senhor será transportado! – Segundos de silêncio.
- General Nergal! – chama o conselheiro.
     Nuada e o pai olham para o painel e este confirma que a cápsula incendiou-se na atmosfera da Terra.
- Sinto muito pai. Ele não conseguiu.
- É lamentável. Ele era um grande guerreiro.
     Mal deu tempo do pai e filho recuperarem o fôlego e um novo sinal de transmissão chega do espaço. Uma voz eletrônica se pronuncia:
- Rob 1967. Projeto Halley, chamando.
- Rob 1967. Prossiga! – responde Nuada.
- Nuada? O que houve com o outro rob?
- Morreu em combate.
     O rob faz silêncio de rádio por alguns segundos.
- Estávamos nos deslocando da cauda do Cometa Halley, quando detectamos uma ameaça. O Cometa C/1999H1 foi misteriosamente desviado e está em rota de colisão com o Planeta Terra! Aguardamos instruções!
- Quanto tempo ainda temos?
- O cometa atingirá a Terra em menos de uma hora! A sua velocidade foi incrivelmente potencializada – Disse o Rob 1967.
- O que? Pai! Do que ele está falando?
- Dracórius está agindo!
- Pai. Que cometa e este?
- O C/1999H1 é um tipo de cometa não periódico, a sua trajetória nunca foi precisa, mas nunca ameaçou o Planeta Terra. Dracórius alterou a sua rota, ele quer decidir esta guerra sozinho!
- Não podemos fazer nada?
- Nós não, mas os deuses podem. Eles devem está sabendo. Pressentem a ameaça iminente as suas criações. Vamos para casa, agora é com eles.
     Do mundo aumarante, o poder da esfera é acionado. O Conselheiro Netuno e o filho retornam para o Reino das Águas.
     No Planeta Éris, o Comandante Quasar acompanha os primeiros cuidados médicos com os escravos transportados de Dracon e os deluvianos os conduzem para uma ala de recuperação e repouso.
     Na interior da Lua, a Deusa Nanna se abaixa e docemente acorda um humano que se encontra deitado e abrindo os olhos confusos.
- Ísis? Onde estou?
- Calma! Está no interior da Lua. Consegue se levantar?
- Como vim parar aqui?
- Escutei o chamado do seu coração. Não poderia permitir que morresse e também deixar de dizer que o amo Nergal. Sempre o amei.

     O General Nergal se levanta e  a beija. Perto dali, o Dr. Sargaço comenta com a Comandante Ondina:
- Olha só, minha sereia! Será que este tipo de intimidade é permitido entre humanos e deuses? – sorrir
- O amor não tem limites, Sargaço.
     O Dr. Sargaço se aproxima do General Nergal.
- Antes o amor que a guerra!
- Tio Sargaço? Comandante Ondina? O que fazem aqui?
- Faço a mesma pergunta, meu sobrinho – se abraçam à moda marciana.
- Lembro-me que estava fervendo numa cápsula de fuga na atmosfera da Terra e que o Conselheiro Netuno faria meu transporte. Não entendi direito!
- Não daria tempo – disse a Deusa Nanna – Eu o trouxe para cá.
- O que? Mas Íris, como fez isso?
- É uma longa história, meu sobrinho! Uma longa história! Apresento-lhe a Deusa Nanna. Conhecida entre nós mortais como a Comandante Ísis.
- Deusa Nanna? – limpa os olhos o General Nergal, que tem a sua atenção desviada para o bonito ambiente em que se encontra.
- Tudo será esclarecido - disse a Deusa Nanna – Agora precisamos chegar a Dracon e salvar Iara!
- Iara? Onde ela está?
     O Deus Navan, que se materializa com a Deusa Luna entre eles.
- Foi raptada pelos gruns.
- Dr. Asa? – surpreendem-se mais uma vez o general.
- Asa, meu bom amigo! Um dia destes precisa me ensinar a fazer estas entradas em grande estilo! – fala o Dr. Sargaço
     A Deusa Luna sorrir, olhando para a Comandante Ondina.
- Quem é esta mulher? – pergunta o General.
- A Deusa Luna, minha irmã.
- Ela é a mãe de nossa criação Nergal – esclarece a Comandante Ondina – Assim como, também são deuses, Ísis e Asa, a Nanna e o Navan, o deus criador dos aumarinos.
     O general atordoado põe a mão na testa.
- Devolvam-me para a cápsula, por favor!
     A Deusa Luna olha para irmã e se comunicam telepaticamente. A Deusa Nanna faz um gesto afirmativo com a cabeça, põem a mão na nuca do general que fecha os olhos. A Deusa Nanna repassa para a mente dele, as mesmas informações que o seu tio Sargaço e a Comandante Ondina conhecem dos fatos.
Ao abrir os olhos, o marciano passa a palma da mão na barba suada e olha para todos:
- Quer dizer que eu sou apaixonado por uma deusa?
- E uma deusa, que lhe ama muito.
- Ísis! Quero ir com você para Dracon e ajudar Forseti a resgatar a Capitã Iara!
- Os escravos de Dracon já foram salvos. Estão com o Comandante Quasar e os deluvianos no Planeta Éris. A Capitã Iara não foi ainda localizada. Existe algo naquele planeta que nos bloqueia – disse a Deusa Nanna.
     O Deus Navan completa a informação.
- Ela está certa, Nergal. Muitas vidas preciosas foram perdidas. Por mais que tentamos impedir.
     O General Nergal insiste.
- Dr. Asa, agradeço a sua preocupação! Mas não posso esquecer que sou um soldado e tenho minhas obrigações. Estou disposto a correr o risco.
- Marcianos! Sempre prontos para uma guerra! – comenta a Comandante Ondina.
     A Deusa Nanna concorda com o pedido do general e transporta-se com ele para a Lua Negra ao encontro do sinal mental transmitido por Forseti. O Deus Navan, desmaterializa-se para outro local no interior da Lua, vai usar o seu poder para desviar o cometa que ameaça atingir a Terra. A Deusa Luna começa a levitar e segue para a esfera verde que mantém a força vital no interior da Lua, preservando a vida aumarina.
     No mundo aumarante, o Mestre Clístenes se despede do Rei das Águas depois de animada conversa.
- Foi um grande prazer conhecê-lo majestade.
- Também estou feliz Mestre Clístenes. Pelo visto, temos muito com que conversar. Gostaria de reencontrá-lo numa situação mais tranqüila. Mas finalmente! Humanos e aumarantes poderão coexistir em paz e harmonia.
- Ainda tememos a fúria desta deusa.
- Não tema meu amigo. Confie nos deuses. O nosso povo ainda terá grandes épocas de paz e prosperidade. A Danu Luna nos confiou à esfera azul. Ela possui grande poder. E juntos saberemos usá-la com sabedoria e bondade.
- Assim seja majestade.
     O mestre abraça o Rei das Águas e segue pelo transportador.
     O Conselheiro Netuno acompanha o Mestre Clístenes para a Cidade de Liberty, sede provisória do Conselho dos Clãs, onde um novo encontro está sendo agendado.
     No Templo da Deusa, Dracórius, o único sobrevivente dos irmãos, suplica ajoelhado à Deusa Lilith que não o abandone:
- Minha deusa! Perdoai-me! Fizemos tudo que o foi possível!
     Por trás de uma cortina de luz, observa-se uma imagem disforme de uma mulher, usando esvoaçantes vestimentas e segurando nas mãos uma pequena esfera negra. A Deusa Lilith observa Dracórius com atenção, parece ignorar seu apelo.
     A Deusa Nanna chega com o General Nergal. Eles observam Dracórius se preparando para uma fuga.
     A Deusa Lilith se comunica com a Deusa Nanna que vai a sua direção e desaparecem.
     Ainda deprimido por não ter sido perdoado e salvo pela Deusa Lilith, Dracórius escuta uma voz conhecida por trás dele:
- Dracórius! Chegou à hora de acertarmos as nossas contas!
     Ainda de costas, Dracórius se levanta e ao virar-se encontra um inimigo com olhos vibrantes de orgulho e sedento de justiça.
- General Nergal! Quanta ousadia!
- Estava lhe devendo uma visita, draconiano infeliz! Pelo visto! A sua querida deusa o abandonou!
- Mas isto não muda o seu destino, humano!
     Ao tentar levantar o braço para atingir o general com raios que partem de seu bracelete, Dracórius é atingido na mão pela arma do general e cai ferido.
- Parece que o seu poder também não é tão grande? Você subestimou o poder marciano!
     O general se aproxima para prender Dracórius, quando Forseti chega e o impede.
- General! Deixe-o!
- Não posso Forseti! Ele deverá ser julgado e punido pelos seus crimes!
- Veja general! – Forseti, aponta para uma nova cortina de luz. Dentro dele, a Deusa Nanna os chama.
- Ísis? Não estou escutando! O que ela diz?
- Ela pede que entremos na luz! Dracórius já foi julgado e a sua punição vem em nossa direção! O Deus Navan mudou a trajetória do cometa e o lançou direto para Dracon! Tudo aqui vai explodir! Vamos rápido!
- Não podemos sair sem Iara! – grita o general.
- Também estaremos se ficarmos aqui!
- Miserável! Covarde! – O general parte furioso para cima de Dracórius.
     Forseti o impede puxando-o com força para dentro da luz e desaparecem. Uma grande explosão pulveriza o Planeta Dracon. A tirania dos irmãos draconianos chega ao fim.
     Do Planeta Terra, um outro fenômeno chama a atenção de humanos e aumarantes. A Lua se ilumina de azul. Nuvens e raios são observados. A Deusa Luna ativou todas as fagulhas de vida adormecidas no interior do seu antigo casulo. 
     Em poucas horas, a superfície lunar terá uma atmosfera que cobrirá os oceanos de cristalinas águas. A vida se manifesta, a Lua transforma-se em um planeta habitável para os aumarinos e toda biodiversidade do antigo Planeta Sinos é reanimada, surge um novo mundo.
     De mãos dadas levitando sob estas águas lunares, o Deus Navan e a Deusa Luna olham felizes as recriações de antigos e pacatos seres, que agora, podem nadar livres e seguir a sua evolução biológica rumo à consciência plena.
     Os três deuses, Navan, Luna e Nanna se reúnem na Cidade de Liberty. São ovacionados por uma multidão emocionada e feliz.
     Os deuses se despedem, as suas missões sagradas foram cumpridas. Eles recomendam que todos se unam e usem o livre arbítrio e o poder da esfera em favor da vida e da prosperidade. Os deuses dão as mãos, um círculo desce sobre eles, e juntos se projetam para o céu deixando um rastro de luzes.
- Conselheiro Netuno – pergunta o Mestre Clístenes – Para onde foram?
- Não sabemos, acreditamos que vão se encontrar com outros deuses e retornarem para a sua verdadeira casa.
     Após alguns dias, a paz volta ao sistema solar. Os habitantes do Planeta Terra encontram-se reconfortados. A nave rob do Projeto Halley finalmente aterrissa e sua tripulação recepcionados com festa.
     Uma emoção intensa e nunca sentida é compartilhada entre humanos e aumarantes, que após a celebração de união, passam a ter uma denominação única, chamados de humarantes. Na Cidade de Liberty, uma nova sonda comemorativa é lançada ao espaço: a Voyage III, contendo novas imagens, sons e mensagens desse novo mundo.
     O Dr. Sargaço olha para a Comandante Ondina.
- Então minha sereia. O que faremos agora? Tiramos umas férias? Podemos passar uma temporada no Reino das Águas.
- Estou com saudades da estação. O espaço realmente não combina conosco. Além do mais, alguém me prometeu um delicioso jantar, lembra?
- Mas é claro! Jamais esqueceria!
- Sinto saudades de Asa e Iara. Ela era a minha melhor amiga e uma excelente oficial. Não merecia morrer em circunstâncias tão cruéis, aprisionada ou devorada por feras.
     O Dr. Sargaço consola a comandante. Eles se abraçam e seguem para uma nave aumarante que os aguarda.
     Em Marte, a luz do farol de alerta que orbita o planeta se apaga. O General Ares assume o título de Mestre, líder supremo dos marcianos. O Comandante Quasar é promovido a general, assumindo as responsabilidades que antes pertenciam ao General Nergal e tendo Gumerzind como o seu companheiro de jornada por muitos anos.
     O Mestre Tálio, decide viver na Terra com alguns cerianos e os demais, retornam para o Planeta Ceres, cuja cidade foi reconstruída pelos engenheiros robs marcianos que lá permaneceram. Ébano, ostentando orgulhoso o título de mestre, retorna com o seu povo na companhia de Efígie, onde inauguram uma nova cidade chamada de Lítio, em homenagem ao amigo e ilustre comandante morto por Detra.
     Uma frota espacial com humarantes e deluvianos atravessam um grande portal aberto pela Deusa Nanna, que acompanhada do General Nergal, partem para o Reino Dracória, conduzindo os ex-escravos de Dracon, o Príncipe Dizart e Forseti para junto do seu povo. Ao se aproximar do sistema planetário draconiano, a Deusa Nanna pergunta para o General Nergal.
- Está triste?
- Não. É que eu estava pensando como serão as nossas vidas. Sou um humano, um mortal, poderia te amar por uma eternidade que jamais conhecerei.
     A Deusa Nanna olha para o general, sorrir e lhe deixa escapar uma revelação.
- Nem sempre tudo é o que parece. Está vendo aquela imensa estrela que aquece e ilumina a vida deste reino?
- Sim, o que tem?
- Ela lhe pertence. Foi dela que surgiu a sua fonte. A sua esfera se transformou nesta bela e imensa estrela.
- Não brinca!
- Não estou brincando! Você é o último deus que falta ser despertado Deus Dracória. No passado você convenceu Navan e Luna a semear vida naquele ponto distante do universo. Você descobriu onde o nosso pai, o Deus Rá havia deixado a sua fonte, um sinal que se transformou no sol dos humanos. Quando soubemos que nossos perseguidores queriam roubar o poder deles, seguimos para ajudá-los e terminamos nos envolvendo para protegê-los.
- Então, eu também sou um deus?
- Sim! Um dos mais poderosos!
- E por que não fui despertado?
- Ainda não sei se quero te despertar – Sorrir – Você gostava muito de sair viajando pelas dimensões do universo, em nem sempre me convidava, sabe que posso de te acompanhar, da idéia de tê-lo por perto.
- Não se preocupe! Não pretendo viajar sem a sua companhia. Mas antes, gostaria de lembrar para onde tanto eu viajei.
     Algumas dias depois, o General Nergal é despertado numa grandiosa cerimônia no Planeta Salter. O príncipe é nomeado como Dizart Dracórius e o reino volta a experimentar a paz e prosperidade.
     Enquanto isto, num planeta desconhecido em algum lugar do universo, um ser humanóide, baixo e corcunda, aparentando ser um ancião, atravessa solitário um salão de um templo em direção a uma varanda de um castelo. Do alto do teto, ele é percebido por gruns que se agitam ao verem subir uma escadaria. O zunido do vento espalha uma poeira fina no piso crespo e vazio. Aproxima-se de uma mulher que está de costas, vislumbrando uma paisagem montanhosa de um céu crepuscular.
- Minha Rainha! – disse o ancião humildemente – Seja bem-vinda ao seu reino. Sentimos muito a sua ausência.
     A mulher pousa as duas mãos sobre o ventre grávido, olha para cima e fecha os olhos, sentindo uma leve brisa que esvoaçam os cabelos negros e finos. Ela sorrir tranqüila e fala com o ancião com suavidade.
- Nada está terminado Giambo, mas estamos cada vez mais próximos. Os deuses foram despertados e em meu ventre, trago uma herança da força que precisamos para a nossa conquista.  
     A mulher se vira, olhando pensativa para uma cicatriz na palma da mão. O ancião, demonstrando felicidade, olha para a Deusa Lilith, e se deslumbra com o rosto iluminado da Capitã Iara.

FIM



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