CONTINUAÇÃO PARTE 3 B
Capítulo
16
LA BATALON
(A Batalha)
No Planeta Oceano, na cidade flutuante de Sireno (Sereia), o
Embaixador Nuada Nin coordena os primeiros estudos com os alienígenas deixados
pela Lua Negra. Confinados em uma biosfera, ambiente com atmosfera e
temperaturas controladas e protegidas por uma resistente cúpula transparente,
um grupo de cinco anfibinóides que foram capturados em Rugo são reanimados.
Lentamente, eles abrem os olhos, movimenta articulações e se levantam do
chão. Olham entre si e iniciam uma rudimentar comunicação.
Um oficial humarante aproxima-se do Embaixador Nuada e relata o ataque
que está se formando.
- São centenas de naves mães de
várias espécies alienígenas embaixador. Muitas desconhecidas, mas todas armadas
e prontas para disparar! Algumas usam armamento termonuclear.
- Estão apostando tudo em destruir o
nosso belo planeta de cor azul? Precisaram de todas as naves de combate
possíveis para fazer isso?
- É o que parece, senhor embaixador. São
milhares de alienígenas inimigos, não comunicaram sequer um pedido de rendição.
- Bom – diz o embaixador Nuada com a
calma que lhe é peculiar – Então vamos ensiná-los como se faz.
- Imediatamente, embaixador – disse o
oficial.
As naves inimigas cercam o Planeta Oceano e antes mesmo de deflagrarem
um ataque, recebem uma comunicação em várias freqüências e idiomas.
- “Navan! Guerreiros e soldados
inimigos! Pedimos que se retirem desta galáxia ou se entreguem pacificamente!
Não queremos provocar mortes!”
Silêncio de rádio. Nenhuma nave inimiga se manifestou favorável para
atender ao pedido e partiram para invadir a atmosfera do planeta aos milhares.
Enquanto isso, o Embaixador Nuada e outros cientistas desviam as suas
atenções em tentar compreender a linguagem dos anfibinóides.
- Eles possuem linguagem articulada,
embaixador – revela um dos cientistas – mas também possuem forte cognição, estão
sondando e compartilhando entre eles as nossas reações e linguagens. A pergunta
é: quem está analisando quem.
- Interessante – disse o embaixador,
eles querem se comunicar. Observe se possuem habilidades telepáticas.
- Tenho leituras positivas de sua
atividade cerebral. Nunca vi um cérebro tão ativo, arrisco dizer que eles são
telepatas nato. Tentar articular o que pensam por palavras é novidade para
eles, estão imitando os nossos movimentos labiais.
- Amplie o som produzido por suas
bocas.
- Sim senhor.
Quando o cientista capta os últimos sons eles ficam surpresos com que
escutam.
- “Tentar articular o que pensam por
palavras é novidade para eles, estão imitando os nossos movimentos
labiais....Amplie o som produzido por suas bocas... Sim senhor...”
- Incrível! – diz o cientista –
Repetem cada frase dita por nós, aprendem rápido.
- Eles são sobreviventes desesperados,
querem se manter vivos, proteger sua raça. Vejam como eles se unem, se tocam e
se apóiam. Eles imitam nossas palavras, mas ainda não entendem o seu
significado, precisamos ensiná-los mentalmente.
O embaixador olha para trás e pergunta a um oficial como está o ataque
dos inimigos.
- Não aceitaram nossos termo,
embaixador. Estão próximos o suficiente do núcleo.
O embaixador suspira levemente e balança negativamente a cabeça.
- Quanto desperdício de vidas!
Execute a atração e destrua o núcleo.
- Imediatamente senhor.
As naves inimigas atiram aos milhares nas cidades e instalações. As
esferas autônomas fazem o seu trabalho e destroem muitos caças que partem das
naves mães, nada detêm a fúria do inimigo. De repente, a paisagem do planeta começa
a se desfazer, cidades e águas ficam transparentes, a escuridão do espaço
invade tudo ao redor. O que era um planeta vivo e belo se transforma numa
grande e compacta esfera de metal que começa a girar e atrair para si todas as
naves mãe e caças.
Os alienígenas inimigos não
compreendem o que aconteceu, mas sabem que caíram numa grande armadilha. Os
comandos das naves não respondem, alguns enviam desesperadamente sinais de
rendição, mas é tarde demais. O que se pensava ser o Planeta Oceano é na verdade,
uma projeção das mais perfeitas já criadas por algum ser no universo. Apenas a
cidade nave Sireno era verdadeira,
flutuando num oceano virtual, mas não se encontra mais lá.
Depois que a Lua Negra transferiu os
corpos anfibinóides do Cruzador Marte, ela seguiu para um pulsar, estrela
pequena e densa, que gira espalhando feixes de energia radioativa no espaço.
Nesse ponto da galáxia, onde não há planetas habitáveis, qualquer ser consciente
evitaria se aproximar de um pulsar. No entanto, esse pulsar em especial é uma
projeção artificial dos humarantes para proteger a localização do verdadeiro
Planeta Oceano que existe dentro do pulsar.
O núcleo que foi atacado pelos inimigos,
pensando que era o Planeta Oceano, gira cada vez mais rápido, atraindo mais
naves mães fazendo-as explodir. O impacto atinge outras naves que estavam
distantes do poder de atração. Os primeiros ataques, que foram realizados pelos
anfibinóides, fez com que eles morressem queimados pela radiação do núcleo, que
era ativado toda vez que houvesse alguma ameaça.
- Foram
eliminados embaixador. Lamento que perdemos o nosso planeta virtual, agora
nossos irmãos vão querer saber onde realmente estávamos de verdade em tantos
séculos.
- São
compreensivos. Apesar da nossa tecnologia, somos seres frágeis, que necessita da
água pura para se manter vivo e esse é um planeta raro no universo. Nosso
disfarce funcionou, cumpriu o seu propósito. Agora precisamos entender quem são
esses anfibinóides e de onde vieram. Até essa guerra terminar, não revelaremos
a localização de Oceano.
Um cientista se aproxima:
- O sensor
de transferência telepática está pronto, embaixador.
- Muito bem, agora vamos conhecer um pouco
sobre eles.
No
Planeta Decan, o falso Gruner é levado para Sparis Orie. De frente para o comandante dos trois, o
prisioneiro é forçado a ficar de joelhos e reverenciá-lo.
O falso Gruner não se opõe as humilhações e chama atenção com a sua
fraqueza.
- Parece
muito debilitado para um semideus – sussurra Chaz Ato para Juix tu.
- Fui informado de que estava doente,
sua natureza biológica humarante inferior não possuem resistência – diz Juix tu
com desdém.
- Diga-me filho de Navan e Lilith,
como faço para atrair seus pais? – pergunta Sparis Orie.
Sentindo-se cada vez mais fraco, o falso Gruner levanta a cabeça e
apenas repete a última frase que lhe foi induzida falar por Giambo Zoolie.
- Ele chegará em breve – diz com
dificuldade e tossindo – Sabe que estou aqui.
Sparis Orie se aproxima:
- Mas isso é uma ótima notícia! Prenda-o!
E se tentar fugir, mate-o!
O falso Gruner é conduzido para as masmorras úmidas e quentes. Tem suas
mãos e pés acorrentados presos numa parede de pedras ásperas. A sua respiração
se torna mais ofegante.
Por uma fenda alta na rocha de sua cela, Aurora
observa o falso Gruner. Acompanha os eufóricos inimigos, deslocando-se com
pressa de um lado para o outro conduzindo tochas de fogo suficiente para
iluminar o rosto do prisioneiro.
- Pelos deuses!
Conheço aquele homem. É o regente de Tryari! Foi capturado? Não pode ser!
Aurora percebe a gravidade da situação e
como deve ser poderoso o inimigo, ao ponto de subjugar um valente e importante
líder da vizinha galáxia. Ainda envolto em seus pensamentos, Aurora continua
fraca, rejeitando todos os alimentos que se acumulam sobre um prato com forte e
desagradável odor. Ela escorrega na rocha e cai de uma altura pequena, mas
suficiente para se machucar e esgotar o resto de forças que ainda tinha. Nestas
circunstâncias, a vida de Aurora começar a se esvair.
Alguns quilômetros depois, no fundo escuro
de um precipício, dois gruns se alimentam do que sobrou dos restos mortais do
piloto e soldados que estavam com Aturo Levigo, filho da Embaixadora Suna Levigo, quando sua
nave foi atacada.
Inesperadamente os gruns param de comer e caem no chão. Tentam se
levantar e voar, mas não conseguem. Eles vocalizam de dor, batem nas pedras e
entre si. Por alguns instantes, tudo parece voltar ao normal, com exceção do
olho esquerdo dos dois animais, que parecem acessos com uma discreta luz
vermelha.
Eles se aproximam e por pensamento se comunicam.
- Achei que ficaríamos uma eternidade
por aqui!
- Eu sabia que eles
voltariam para terminar sua refeição, quanto mais podre a carne, mais
apetitosa.
- Ainda tenho a
memória do gosto ruim desses cadáveres! Demoramos muito para destruir seus
sentidos alfativos e gustativos.
- Fomos projetados
para viver em humarantes e não gruns!
- E agora? Para onde
seguiremos?
- Precisamos nos
misturar, saber onde estamos e como faremos para escapar daqui.
Os dois gruns voam para fora do precipício
e pousam numa pedra acima do platô.
- Reconhece esse
mundo?
- O céu está
encoberto, deve ser algum tipo de escudo protetor artificial, alguém não quer
ser encontrado! Não posso observar as estrelas e tentar descobrir em que ponto
do universo estamos.
- Veja aquelas
luzes! Deve ser uma cidade ou uma fortaleza!
- Existem gruns
voando por lá, estão agitados! Vamos verificar.
Os gruns voam em direção ao centro de
comando dos trois. Ao chegarem, circulam por todos os lugares e posam na parede
de um penhasco.
- Na nave fomos
atacados por aturianos, aqui é um verdadeiro ninho destas criaturas.
- Concordo, mas
olhe! Tem outros seres desconhecidos aqui. Todo o vale está repleto de hangares
e naves extraordinárias.
- Precisamos
contatar a federação! Eles estão se preparando para uma invasão!
- Não podemos fazer
muito nos corpos destes gruns! Não passaríamos da porta de entrada!
Um dos gruns escuta alguma coisa
- Espera! Escutei
uma voz.
- Onde? Não escuto
nada! Acho que exagerei na extração dos sentidos, devo está com pouca audição.
- Não é isso!
Algumas vezes os gruns escutam pouco!
- Ajudem-me! – sussurra
novamente a voz.
- Achei! – o grun
salta num vôo curto, seguido pelo outro grun.
- Uma fenda! É o
teto de uma prisão no interior da montanha!
O grun consegue quebrar com as fortes
garras uma parte da fenda rochosa. Põem a cabeça e vocaliza.
- O que é? –
pergunta o outro grun.
- Uma mulher
humarante!
- O que?
O corpo de Aurora encontra-se desmaiado no
chão, o seu olho esquerdo está aberto, vermelho e brilhante.
- Não sabia que existia
NRs em corpos de gruns – a boca de Aurora articula as palavras.
- Não somos NRs de
gruns. Fomos capturados numa nave de escolta da federação e trazidos para esse
mundo, os corpos dos soldados que habitamos a consciência foram servidos como
alimento para essas feras. Esperamos muito tempo para eles nos engolirem e
assumirmos o controle motor e biológico desse animal.
- Essa mulher está
morrendo, seu corpo está fraco e se recusa a comer – diz o NR de Aurora.
- Tente fazê-la
comer! – pede o NR do grun.
- Não posso! Ela
caiu e está muito machucada, estou concentrando forças para curar as suas
lesões.
- O que podemos
fazer? – diz o NR do grun.
- Quantos mais NRs
estão aqui? – pergunta o NR de Aurora.
- Éramos quatro ao
todo, o piloto, o co-piloto e dois soldados. Não foi possível localizarmos os
demais – diz o NR do grun - Este planeta é grande e com centenas de gruns, eles
levam suas presas para longe.
- Mas não muito
longe, tentem encontrá-los! – disse o NR de Aurora.
- Você tem algum
plano? – pergunta o NR do grun.
O NR de Aurora recebe informações da
geografia da região, da localização dos hangares e tipos de naves. Os NRs
acertam os detalhes de um plano de fuga.
Os NRs gruns voam de volta para o
precipício de onde estavam e procuram minuciosamente pelos dois NRs de soldados
desaparecidos.
- Agora precisamos
acessar a memória desses gruns, eles estavam juntos quando levaram os soldados
para o banquete.
- Talvez esse
cérebro não suporte nossa intervenção! Perder o faro e o paladar até entendo,
mas perder a habilidade de voar não ajudará muito.
- Vamos fazer
juntos, assim a intervenção será menos agressiva.
Os gruns NRs juntam as duas cabeças e
começam a rastrear as memórias do animal. Eles tem alguns espasmos no corpo,
mas em poucos segundos conseguem visualizar a localização onde os demais NRs
possam está.
Os gruns NRs voam rapidamente para outro
precipício que ficava próximo de onde estavam. Descem ao solo e procuram entre
os restos mortais de vários animais típicos do planeta, que também servem de
alimento para os gruns.
- Olhe! A cabeça
deles!
- Ainda está
intacta!
Os gruns mais uma vez unificam seus sinais
e emitindo-os para ativação dos NRs de seus amigos.
- Quem são!
- NRs da federação,
consciências dos soldados capturados por aturianos – diz o grun NR - Estávamos
procurando por vocês.
- Onde estamos?
- Não sabemos, mas com
certeza não é a Galáxia de Áxis.
- Estão habitando
gruns? Como conseguiram?
Os NRs gruns envia uma freqüência de
sinais contendo o relatório da situação e os planos para fugirem do planeta.
- Uma mulher
humarante?
- Sim. Chama-se
Aurora Mi, 30 anos, astrofísica
especializada em comunicações e técnica da Estação de Fronteira Sul. Foi
capturada no Planeta Coroni durante um ataque surpresa.
- Mas qual a razão de capturar uma
observadora?
- Ainda não sabemos. Precisamos
executar o plano com perfeição! Os riscos são grandes.
- E quanto ao regente de Tryari?
- Está muito doente, não sobreviverá
à fuga.
Algumas horas depois na montanha, Chaz Ato chega ao platô e aguarda a
presença de outros líderes trois. Um servo aturiano se aproxima com uma taça de
bebida e se retira.
- Volte! – diz Chaz Ato – Chame os
demais do conselho!
O servo aturiano abaixa a cabeça respeitosamente e vai cumprir suas
ordens.
O conselho se reúne em poucos minutos. O servo aturiano se aproxima com
mais taças e serve os demais.
- Convocou o conselho? – perguntou
Ledorn Cinka.
- O Planeta Oceano foi destruído! –
revela Chaz Ato.
- Excelente! – comemora Ledorn Cinka.
- Mas pagamos um alto preço. Todas as
naves enviadas foram destruídas.
- Como isso aconteceu? Essas naves se
juntariam a outras para atacar o Planeta Rugo!
- Houve uma grande explosão
destruindo os nossos – explica Chaz Ato.
Hurt Isua fala exaltado:
- Tinha muito do meu povo naquelas
naves. Sabíamos que os humarantes lutariam até o fim! Milhares dos nossos foram
enviados e não voltaram! Era só destruir um planeta! Uma nave já seria o
suficiente!
- Sparis Orie havia dito para não
subestimarmos o povo da Deusa Luna – disse Chaz Ato.
- Não foram subestimados – diz Juix
tu, utilizando a forma de Aturo Levigo – usamos de toda força disponível para
eliminar o que seria a mais enigmática força humarante. A dominação da Galáxia
de Áxis passaria necessariamente pela destruição do Planeta Oceano. Admito que
foi uma significativa baixa de nossos guerreiros e uma clara demonstração de
poder dos nossos inimigos.
- Seguiremos com as ordens de Sparis
Orie! – diz Chaz Ato – Enviaremos outras naves para o Planeta Rugo!
- A maioria das nossas naves seguiu
para o Planeta Urbo, que agora tem o reforço da Arca-lua que finalmente revelou
a sua face – comenta Ledorn Cinka.
- Sparis Orie, foi pessoalmente
negociar com o General Meadhas a rendição dos humarantes e forçá-los a entregar
os filhos dos deuses – disse Hurt Isua.
- Uma grande compensação pela perda
dos nossos que morreram atacando o Planeta Oceano – comenta Juix Tu.
- Rima Ad já está próxima do Planeta
Gir, não haverá lugares na galáxia onde esses filhos divinos possam se esconder
– diz Chaz Ato, com ironia – Mais bebida!!!!
O servo aturiano se aproxima com outra taça.
- A Arca-lua pretende recolher todos
os embaixadores que estão no Planeta Urbo. Mas estou certo de que não vão
conseguir. Uma cápsula de antimatéria foi instalada com sucesso no subsolo. O
filho da Suna Levigo circula com bastante liberdade pelas instalações da
Embaixada Unida - diz Juix Tu com um sorriso sarcástico no rosto, se
regozijando de suas habilidades.
- Será o primeiro das muitas ameaças
de Sparis Orie – disse Chaz Ato – O General Meadhas e os embaixadores não terão
escolhas. Você fez um trabalho excelente!
- E quanto ao Comandante Akash? – pergunta
Ledorn Cinka.
- Vai entregar o Cruzador Sankta
Spirito em troca da sua amada? – ironiza Chaz Ato.
Nesse momento, outro servo se aproxima e informa para Ledorn Cinka que a
mulher humarante está morrendo.
- Leve-a para a câmara de
regeneração!
O servo obedece as ordens, seguido
pelo aturiano que servia as bebidas e escutava tudo com atenção.
- O que houve? – pergunta Chaz Ato.
- A mulher humarante se recusa a se
alimentar. Está ferida e morrendo – responde Ledorn Cinka.
- Não é a toa que gruns foram visto
próximos a sua cela. A carne humana é uma iguaria para esses animais – diz Chaz
Ato, dando um largo gole na bebida e esvaziando a taça.
- Ela vai ficar bem em pouco tempo –
promete Ledorn Cinka.
Na seção de hangares, um técnico tartariano observa as naves de combate.
Ele se aproxima de alguns auxiliares da mesma raça.
- Essa nave não era para está aqui!
Os auxiliares se entreolham.
- O que há errado? – pergunta um
deles.
- Essa é a nave do nosso líder e
precisa ficar lá fora!
- Não entendo – diz o auxiliar.
- É para a sua própria segurança! Se
os nossos inimigos nos descobrirem como ele poderá se salvar numa emergência!
Os auxiliares se entreolham novamente e se convencem de que faz sentido
o alerta do técnico, que entra na nave acompanhado por um auxiliar e o observa
ligando o painel de controle.
- Em que lugar ela deve ficar?
- Ali – aponta o técnico – próximo da
montanha e do nosso líder, mas antes, vamos fazer um teste para ver se ela está
em ordem.
A nave lentamente se desloca do solo e voa pelo o entorno das montanhas,
sendo pilotada pelo auxiliar.
- Aqui! Esse local está perfeito!
Desça! – diz o técnico.
- Mas aqui está perto das masmorras?
A nave pousa e desliga as luzes externa e motores. Uma escotilha se abre
e o técnico já desce arrastando o corpo do auxiliar morto e o joga no abismo.
Um grun com um olho esquerdo vermelho e brilhante passa voando em velocidade,
agarra o corpo do auxiliar no ar e o leva para longe.
Outro grun se aproxima do técnico e pelo pensamento envia uma mensagem.
- Uma câmara de regeneração está
seguindo para a cela de Aurora! Vamos aguardar o sinal! Providenciou uma
distração?
- Sim! Acho que vai funcionar! –
disse o técnico.
- Essa nave, sabe guiá-la? – pergunta
o grun.
- Sou o NR de um co-piloto humarante
esqueceu? É uma nave diferente, tem uma tecnologia que interage com um sistema
orgânico, mas aprendi o suficiente para a nossa fuga.
Uma ponte de metal começa sair da rocha
da montanha em direção ao lado oposto passando sob um abismo. Dois aturianos
atravessam a ponte conduzindo uma câmara de regeneração que levita em direção a
cela onde Aurora se encontra.
Eles entram na cela, recolhem o corpo de
Aurora que já se encontra em coma, e põem na câmara que ativa automaticamente,
iniciando o processo de cura. Eles retornam pela ponte e, quando chegam no meio
dela, um grun ataca um dos aturianos que cai no abismo.
O grun retorna e pousa próximo ao outro
aturiano.
- Onde você estava?
– diz o aturiano
- Precisamos sair
daqui urgente! – alerta o grun.
Sons horrendos e gritos ecoam pelo vazio
da montanha.
- O que está
acontecendo? O que você fez? – pergunta o aturiano.
- Não fiz nada!
Estava vigiando os guardas e de repente vi aturianos sufocando e caindo mortos
no chão! Bandos de gruns se aproveitaram da situação e resolvem comê-los!
Alguma coisa contagiosa está afetando os aturianos!
O grun voa para o alto e rodopia no ar. O
outro grun no alto da montanha recebe o sinal. O técnico e o grun entram na
nave e seguem para a ponte do abismo.
A nave paira alguns metros com a escotilha
aberta sobe a câmara. O grun que estava ao lado do aturiano o prende em suas
garras e o leva para o interior da nave, retornando com o outro grun para
trazer a câmara.
Os guardas escutam o motor da nave e
correm para a ponte e começam a disparar mortais setas de plasma. Um dos gruns
é ferido na asa de raspão e quase deixa cair a câmara. Na nave, o aturiano usa
um dispositivo manual e desativa a ponte, fazendo os guardas se precipitarem
aos gritos para o fundo do abismo. Os dois gruns conseguem entrar na nave, a
câmara e seu precioso conteúdo estão salvos.
No solo, os hangares iniciam uma sequência
de fortes explosões levando tudo para os ares, um caos se estabelece. Ninguém
sabe o que está acontecendo. Grupos de aturianos desesperados correm para outros
hangares embarcando em naves e fugindo daquela região. A nave de fuga não é
percebida e se mistura com as demais que sobem ao céu.
Um servo aturiano segue rápido para os
aposentos de Chaz Ato.
- O que está acontecendo?
- Mestre! O prisioneiro! O
prisioneiro!
Chaz Ato segue para o lado da montanha que se encontra as masmorras,
percebe que o servo aturiano não o seguia como de costume. No caminho, ele
escuta o caos que se tornou aquela base. Encontra aturianos mortos e se depara
com o clarão produzido pelo fogo em um dos hangares.
Ao encontrar o falso Gruner, Chaz Ato tem um ataque de ira. Ele observa
o corpo do prisioneiro.
- Um aturiano! Fomos enganados! Não é
o regente de Tryari!
Alternando formas, anteriormente copiadas e envoltas em uma fina névoa
que se espalha pelo ar, envenenando os da sua raça, o aturiano consegue
recuperar a sua consciência original.
Juix Tu se aproxima de Chaz Ato. Ele anda com dificuldade, ainda na
forma de Aturo Levigo, com a mão no coração e sentido fortes dores e câimbras.
- Juix Tu! – diz Chaz Ato, que num
impulso tenta ajudá-lo.
- Não me toque se quiser ficar vivo –
disse Juix Tu.
O aturiano adianta os passos à frente de Chaz Ato e se aproxima do outro
aturiano preso em correntes, com os braços esticados. Juix Tu observa
atentamente a face sofrida e o olhar amargurado do prisioneiro. Ele se aproxima
cada vez mais e o libera das correntes, seu corpo também começa a modificar e
formas estranhas, anteriormente copiadas surgem.
- Os aturianos não pode mais servir
Viga e Sparis Orie neste mundo – fala Juix Tu, com dificuldade e com uma voz
gutural.
- Lamento – responde Chaz Ato – Este
planeta já estava prometido para ser um novo começo para o seu povo.
- Nunca tivemos um lugar para dizer
que era só nosso – diz Juix Tu – Nem mesmo conhecemos as nossas origens.
- Vamos descobrir que fez isso e
vingá-lo – promete Chaz Ato.
Ledorn Cinka se aproxima.
- Foram os tryarianos! Você deveria
ter extinguido definitivamente todos que vivem naquela galáxia.
Os olhos de Chaz Ato parecem que vão saltar da sua face.
- Esse dia chegou! Vamos atacar
Tryari e todos os mundos da Galáxia de Rhisvi! Serão todos extintos!
- Perdemos um hangar importante! A
nave pessoal de Hurt Isua não foi encontrada nos destroços – informa Ledorn
Cinka.
- Onde ele está? – pergunta Chaz Ato.
- Tentando rastrear a nave e
identificar a sua posição.
Chaz Ato e Ledorn Cinka observa os últimos momentos de Juix Tu, que
derrete e vira uma pasta aquosa.
- Perdemos um grande aliado e subestimamos
os tryarianos – disse Ledorn Cinka.
- Não havia falhas! Como isso pode
acontecer? – disse Chaz Ato, visivelmente irritado.
- Precisamos reunir o conselho,
organizar nossos guerreiros!
Chaz Ato observa o incêndio na base da montanha:
- Não existe mais aturianos nesse
planeta e temos uma guerra para terminar!
Tivemos muitas baixas em pouco tempo,
primeiro no Planeta Oceano e agora aqui, se continuarmos assim, não haverá mais
aturianos no universo para nos ajudar!
- Você tem idéia de quantos da nossa
raça também foram dizimados? Se não vencermos essa guerra e der a Viga o que
ela quer, então não haverá nenhum universo para nós! – responde Ledorn Cinka.
Horas depois, Hurt Isua se encontra no conselho com os demais:
- Assim como as outras, a minha nave
seguiu para o Planeta. Tinha uma programação automática para uma rota de
ocupação.
- Quem pilota? – pergunta Ledorn
Cinka.
- O painel orgânico identificou as
digitais de um servo aturiano e um tartariano do hangar leste.
- Fugiram do envenenamento, mas
seguiram para se juntar as outras naves para o combate! Não são covardes!
Querem viver para combater! – comenta Chaz Ato.
- Farei que todos os guerreiros fiquem
sabendo disso! – promete Hurt Isua.
Na nave de fuga, o técnico tartariano, o servo aturiano e os dois gruns
observam em silêncio o túnel de luz da hipervelocidade.
- Fomos perfeitos – diz o técnico.
- Sim, formamos uma boa equipe de
alienígenas – sorrir o aturiano.
- Para onde estamos indo? – pergunta
um grun, mentalmente.
- Para Urbo – responde o técnico –
estamos travados numa programação automática assim que entramos na
hipervelocidade.
- Voltando para casa – suspira o
aturiano.
- Se não formos atacados pelo fogo amigo.
Como está Aurora?
- Seu NR desligou – diz o grun
- Bom sinal! Ela está se regenerando,
ficará bem!
- Devemos nossas vidas a ela – diz
outro grun que observa o corpo tranqüilo de Aurora pelo vidro da câmara.
- O plano de fuga dela foi perfeito,
sincronizado e rápido. Acho que ainda não notaram a nossa presença – comenta o
técnico.
- Infiltrar vocês em corpos
tartarianos e aturianos foi uma excelente idéia – diz um grun.
- Enquanto estava servindo os líderes,
descobrir que realmente eles tinham planos para atacar a federação. Acontecerá
em Rugo, Urbo e Gir. Pretendem explodir a Embaixada Unida. Querem coagir o
General Meadhas a entregar os filhos dos deuses e o Comandante Akash pela nossa
amiga aqui – revela o aturiano.
- Creio que será um pouco tarde para
isso – diz o técnico – Acho que a batalha já está em curso. Passamos muito
tempo desativados da consciência dos soldados.
- Houve algo a mais naquele planeta –
diz o aturiano – o grun me disse que eu deveria sair o mais rápido possível.
- Lembra do prisioneiro? Do regente
de Tryari? – o grun se aproxima do aturiano.
- Não era ele e sim um aturiano. A
sua doença era mais contagiosa do que se imaginava, se espalhava pelo ar
matando milhares. Você teve muita sorte, saiu a tempo de perder outro corpo e
ficar lá para sempre.
- Quero acreditar que eles pensaram
que estavam com o regente, mas na verdade foi uma farsa, certamente produzida
pelos tryarianos – disse o técnico.
- Eu acredito nisso, ganharam tempo
com uma farsa, mas pelo que observei, essas criaturas são vingativas e
impulsivas. Certamente vão atacar a Galáxia de Rhisvi. – conclui o aturiano.
No Planeta Oceano, o Embaixador Nuada tenta sincronizar a sua mente com um
dos anfibinóides que se apresenta mais atento. Ele encosta e fixa uma pedra de
cristal na testa e essa acende. Com um gesto, pede para que o anfibinóide faça
o mesmo e ele corresponde.
- Está dando certo! – Anima-se o
médico, transferindo os dados para um painel contendo imagem, som e tradução
para a língua humarante oficial.
Estamos sincronizando. Pode falar embaixador.
- Navan!
- Navan! – responde o anfibinoide.
- Por que nos atacaram? – pergunta o
embaixador.
- Fomos obrigados e também por
necessidade.
Imagens do mundo dos anfibinoides são conhecidas e relatadas pela primeira
vez:
- Vivíamos em perfeita harmonia e
nossos vários mundos e raças. Nada nos faltava. Nossos corpos vivem muitos
séculos em comparação com o padrão de muitas raças que ouvimos falar. Não
possuímos o conhecimento tecnológico e nunca nos interessou possuir. Temos uma
relação com a escuridão e a profundeza do mundo subterrâneo, lá vivíamos e éramos
felizes.
O embaixador se aproxima da biosfera:
- Pela quantidade do que foi usado em
invasões em nossa galáxia, sua a raça é muito populosa. Seria esse o motivo da
invasão?
- Nossa taxa de natalidade é muito
baixa. Temos uma cria a cada 100 anos em relação ao seu marcador de tempo. Um
dia, fomos visitados por um ser desconhecido chamado Sparis Orie. Ele disse que
estava a serviço de uma deusa e que precisava de nossas habilidades para conquistar
em outro universo. Recusamos, dissemos que não adorávamos deuses e que éramos
felizes com nossas vidas e que fosse embora. Tempos depois, alguns dos nossos
foram abduzidos e retornaram sem quaisquer lembranças de onde estiveram.
- O que houve depois?
- Começamos a morrer mais cedo e
nosso processo de reprodução se acelerou. Quando morremos, renascemos as
centenas dos restos mortais.
- Chamamos de esporos.
O anfibinoide afirma com a cabeça, compreende o sentido das palavras do
humarante:
- Nossos recursos para manter a vida
de tantos começaram a exaurir. Quantos mais morriam, mais nasciam. O desespero
tomou conta de nós, fazíamos de tudo para nos manter vivos. Foi quando Sparis
Orie retornou, prometendo curar-nos daquele mal, e que precisaria levar 90% de
nossa raça para atender seus planos.
- Como você sabe dessa negociação?
- Sou um dos poucos líderes que
sobreviveram. Culturalmente somos muito apegados aos nossos esporos familiares,
estamos sempre juntos. Concordamos com os termos, não tínhamos alternativa. Ele
prometeu que poderíamos ficar no planeta que fosse do nosso interesse e que
assim nossa espécie seria perpetuada. Sparis Orie nos convenceu que a sua
espécie é devoradora de mundos e que se não lutássemos, as nossas vidas seriam
destruídas e escravizadas por vocês.
O embaixador olha para o cientista que compartilha o absurdo dessa
informação falsa dada aos anfibinóides:
- Estão completamente enganados.
Somos uma raça pacífica e colaborativa.
- Não podíamos questionar. Como podem
ver, nossos corpos são frágeis e com intolerância a luz.
O embaixador pede que apague a luz da biosfera.
- Dankon –
agradece o ambinóide e os demais humarantes presentes se impressionam com a
capacidade de apredizado dos alienígenas.
O embaixador elogia:
- Voces tem
muito potencial. Lamento dizer mais esse Sparis Orie está enganado sobre nós. Se eles estão a serviço
de Viga, eles sim que são os inimigos. Por séculos e séculos, nosso povo e
outros deste universo sofrem com suas investidas. Mundos e espécies inteiras
foram destruídos e Viga tem um especial interesse pelo nosso povo.
- Nós sabemos. Ela quer os filhos dos
deuses – revela o anfibinoide.
- Os filhos dos deuses?
- Durante muitos anos, vasculhamos
seu mundo, infiltrados na matéria escura, captando suas mensagens, conhecendo a
sua estranha cultura.
- Descobriram que não fazemos mal a
ninguém? Ao contrário, ajudamos muitas raças, que assim como a nossa, foi
amparada por seres mais evoluídos.
- Sim, pelos deuses. Mas nunca o
vimos, mas sabemos onde estão seus filhos. Descobrimos também que existem
planetas em sua galáxia que nos serve a vida. Não sabemos se Sparis Orie
cumpriu a sua palavra em curar o nosso povo.
- Ninguém que serve a Viga cumpre sua
palavra. São escravos manipulados por ela.
- E agora? O que farão por nós?
Seremos mortos?
- Não somos assassinos, respeitamos a
vida. E se em algum momento o faremos, é para nos proteger, nos preservar e
disso vocês sabem bem o que digo.
- Sim, sabemos.
- Você disse que existem planetas
nessa galáxia que são compatíveis para a sua sobrevivência?
- Alguns.
- Você pode mostrar onde ficam esses
mundos? – pergunta o embaixador fazendo aparecer um mapa estelar da Galáxia de
Áxis.
O anfibinoide observa o mapa e aponta quatro planetas. O embaixador
observa com cuidado e confirma que não são habitados por humarantes e também
sem projetos para terraformação.
- Poderia me dizer como vocês viajam
pela matéria escura?
- Não é da nossa natureza fazer isso,
mas Sparis Orie tem algum tipo de poder que permite que o façamos. Ela é
temporária e está perdendo força, se não conseguirmos um planeta para
materializarmos morremos no espaço e será o fim de tudo.
- Estão com fome? Podemos oferecer
algo?
- Água. A mais pura que tiver.
- Isso não será difícil.
O embaixador faz um sinal para um auxiliar, este providencia o pedido do
anfibinoide. Ele avisa ao alienígena que vai se retirar mas que retornaria.
O anfibinoide abaixa a cabeça em sinal de submissão.
O embaixador retira o cristal e segue para uma sala de reunião.
Apresenta sua teoria em relação aos alienígenas e pede uma menção de
concordância para uma decisão. O conselho delibera a favor e o embaixador
retorna 40 minutos depois. O anfibinoide continua no mesmo lugar e ainda com o
cristal na testa.
- Você tem um nome que eu possa lhe
chamar? – pergunta o embaixador.
- Sim, me chamo Ur.
- Pois bem Ur. A parti de hoje, esses
planetas pertencerá ao seu povo e depois serão integrados a federação, onde
terá a sua ajuda e proteção. Um gesto de confiança do nosso povo para o seu.
Sejam bem-vindos a Galáxia de Áxis!
O anfibinoide fica em silêncio
por alguns segundos e pergunta:
- O que vocês querem em troca?
- Que parem dos nos atacar, viva suas
vidas, que sejam novamente felizes. Mas por enquanto não revelem isso ao Sparis
Orie, ele pode não gostar e destruir seu povo assim como está fazendo com o
meu. Se sobrevivermos a essa guerra, descobriremos como reverter a manipulação
genética de seus corpos e a natalidade da sua espécie voltará ao normal.
- Somos gratos. Saberemos como
retribuir.
Sem falar, o alienígena transmite mentalmente, informações para o
Embaixador Nuada que agradece:
- Dankon.
Uma fonte de água é liberada para dentro
da biosfera, os anfibinoides se dirigem para ela, bebendo-a e emitindo sons de
satisfação. O Embaixador Nuada ordena para que os demais anfibinoides sejam
reanimados e relocados para junto dos demais na biosfera.
Horas depois, o Embaixador Nuada volta a
se comunicar com Ur. Antes dele colocar o cristal na testa, o anfibinoide fala:
- Não precisamos
usar, parte da sua linguagem já foi aprendida.
O embaixador se surpreende e olha para Ur
com admiração.
- Parte?
- Existe uma
linguagem complexa em sua mente que não conseguimos entender.
- É aumarante,
uma língua ancestral e tradicional da nossa espécie.
- Nosso tempo
está se esgotando. Precisamos nos reunir no subespaço para seguir aos nossos
novos planetas – alerta Ur.
- Vocês estão
livres, mas seus corpos não podem sair dessa biosfera.
- Sabemos que
algo mortal existe na sua atmosfera.
- Temos razões
para fazer isso, acredite.
- Precisamos
apenas sermos liberados no espaço, nossos corpos suportam ficar nesse ambiente
por alguns segundos antes de mergulharmos na matéria escura.
- Em seu
mergulho, poderá transportar um equipamento para órbita do Planeta Rugo?
- Podemos
transportar objetos pequenos, mas isso nunca foi feito. Não conhecemos seus
planetas pelos nomes.
O Embaixador Nuada espõem novamente o mapa
estelas holográfico e aponta o Planeta Rugo. O anfibinoide tem uma pequena
reação de medo. A experiência vivida em Rugo em combate com os soldados foi
traumática para eles.
- Entendo seu
temor. A federação ainda não foi informada do nosso acordo de paz. Não será
necessário descer no planeta, apenas deixe esse equipamento em sua órbita, é
possível? – tranquiliza o embaixador.
Ur olha para os demais de sua espécie e
retorna o olhar para o embaixador:
- Será feito.
Chegaremos em pouco tempo.
Os anfibinoides são colocados novamente
nas câmaras, mas sem a ativação de suspenção de vida. Eles serão embarcados
numa pequena nave de carga, programada para lança-los no espaço, onde as
câmaras abrirão e libertará os alienígenas.
Ur havia transmitido várias informações
importantes para o embaixador, uma delas, seria um novo ataque potencial em
massa ao Planeta Rugo. Não haveria tempo de chegar e proteger os seus
habitantes. Mas o Embaixador Nuada sabia exatamente o que fazer.
No espaço, a nave cargueira entra na
hipervelocidade e surgi em um ponto da galáxia mais próximo do Planeta Rugo. As
câmaras são dispensadas no espaço e abertas. Os anfibinoides flutuam e se unem
em um único grupo. Uma esfera de metal, de aproximadamente cinco metros de
circunferência, os acompanha. O grupo toca na esfera e imediatamente
desaparecem. No Planeta Oceano, o Embaixador Nuada é informado de que os
anfibinoides cumpriram o acordo e estavam seguindo para o Planeta Rugo.
Horas depois, os alienígenas deixam a
esfera de metal na órbita do planeta e transmitem uma mensagem para todos os
anfibinóides na Galáxia de Áxis.
No Planeta Rugo, os militares detectaram a
presença alienígena e do estranho objeto deixado por eles.
- Senhor, as
criaturas se retiraram da nossa órbita – diz um oficial de comunicação.
- Tem leituras
do objeto? – Pergunta o oficial superior.
- Temos uma
transmissão utilizando um código da federação. Não entendo?
- O que houve?
- É uma mensagem
de Oceano!
- Transfira!
Uma imagem holográfica do Embaixador Nuada
aparece.
- Irmãos de
Rugo. Acredito que estejam surpresos da recente chegada dos anfibinoides em sua
órbita. Acreditem, eles não irão atacar de novo, mas outras espécies estão
seguindo com grandes quantidades de naves. Fizemos alguns progressos
significante com os anfibinoides, mas no momento não podemos revelar os
detalhes. A esfera que está no espaço deve ser levada imediatamente para o solo
do planeta.
O comando militar de Rugo escuta com
atenção todas as orientações do embaixador. A esfera é levada para o planeta e
deixada em uma região deserta. As naves inimigas iniciam a saída da
hipervelocidade.
- Senhor! Eles
chegaram! – informa o oficial de comunicação – São centenas de naves! Estão
armando ofensiva!
- Vamos confiar
no plano do embaixador. Seria um combate e tanto, mas estamos em desvantagens!
Desligue toda a energia no planeta e as comunicações!
As naves inimigas se aproximam. A sua órbita está cercada, aguardando
autorização do líder para iniciar o ataque. Eles observam com estranheza o fato
de não haver nenhuma reação e ausência de comunicação.
- O planeta está vazio? – pergunta o
líder da frota.
- Não há resistência, apenas um sinal
fraco vindo de sua superfície, estou codificando – diz um subordinado.
- Mantenham a posição! – ordena o
líder.
Alguns minutos se passam para que o inimigo entenda o sinal fraco
emitido do planeta.
- Conseguimos uma leitura, é um sinal
decrescente.
- Como assim?
- Uma contagem regressiva! Algum
artefato explosivo de grande impacto está sob o solo!
O líder levanta de sua cadeira e anda em direção da janela. Observa
pensativo e lembra-se do que aconteceu com o último ataque ao Planeta Oceano,
onde milhares dos seus foram dizimados com uma grande explosão.
- Eles vão explodir o planeta! – grita
o líder – Retirada de todas as naves!
Um ato de desespero faz todas as naves inimigas recuarem da órbita do
Planeta Rugo e entrarem imediatamente na hipervelocidade. Seguiram para o
Planeta Urbo, o que estava previsto anteriormente, depois que a destruição de
Rugo fosse concluída.
Após algum tempo, ficou confirmado que o inimigo fugiu. As cidades do
Planeta Rugo reacenderam e tudo voltou ao normal com efusiva comemoração. A
batalha foi vencida com inteligência e criatividade, e muitas vidas de ambas as
partes, por enquanto, foram poupadas.
A rota do inimigo foi identificada, o que obrigou os oficiais de Rugo
entenderem que aquele poderio de ataque arrasaria o Planeta Urbo. Já fazia
parte de uma das orientações do Embaixador Nuada, o envio de naves de combate
de Oceano e Rugo para reforçar as defesas em Urbo. As informações que chegavam
do Cruzador Sankta Spirito indicavam que os únicos planetas vulneráveis a
ataques eram Urbo e Gir, sendo esse último com um número de naves menor. Para o
Planeta Gir, a única esperança de apoio estava no Cruzador Marte e o Sankta
Spirito.
Na Galáxia de Rhivis, as forças inimigas retornam com um único objetivo
de destruir todas as civilizações ali existentes, principalmente o Planeta
Tryari. O líder Chaz Ato não aceitaria ser enganado daquela forma,
principalmente por que perdeu um exército de aturianos a sua disposição.
Era difícil para ele admitir um pensamento de que os humarantes estavam,
pouco a pouco, reagindo as investidas dos trois e que o poder de Sparis Orie em
algum momento iria sucumbir, diante do seu desejo de atrair um dos deuses que
protegem esse povo.
Na Galáxia de Rhivis, todos os seres e raças comungam um sentimento de
que uma grande e definitiva guerra definirá o destino de todos de uma vez por todas.
Ainda que grande parte de suas civilizações já haviam sido extinta pelas forças
aliadas de Viga, sempre existirá aqueles que renascem das cinzas e dos
escombros, tornando-se mais fortes e determinados em sobreviver.
Desde as últimas guerras, as diversas espécies de seres conscientes na
Galáxia de Rhisvi eram desprovidas de uma proteção eficiente e praticamente não
possuía sua própria tecnologia de defesa. Com a presença dos deluvianos,
consideradas uma das espécies mais antigas do universo, esse avanço científico
progrediu imensamente. Suas naves se tornaram mais rápidas e suas armas mais
eficientes, criativas e letais.
Havia muito tempo que não se falava em guerra na Galáxia de Rhivis, a
paz, o desenvolvimento científico e as relações comerciais entre os povos
estimulavam uma rotina que movimenta vários mundos. Apesar do Planeta Tryari possuir um dos mais
poderosos governos, outros mundos aliados também ostentam suas tecnologias
avançadas, muitas vezes secretas, e que estariam sempre a disposição quando o
assunto fosse invasões e guerras provocados pelos aliados de Viga. Qualquer ser
do universo que estivesse disposto a ameaçar a liberdade dos mundos da Galáxia
de Rhivis, teriam que enfrentar um inimigo em fúria e disposto em sacrificar
suas vidas. Foi então que todas as espécies desta galáxia que possuía tecnologia
de combate no espaço se uniram ao governo do Planeta Tryari.
Chaz Ato tinha que aceitar o fato de que os líderes de Tryari fizeram um
excelente trabalho enganando-os. Havia cometido o erro de subestimar um fraco
inimigo e que a única razão de ainda existirem foi devido a intervenção da Lua
Negra, que hoje é a sua protetora. Mas desta vez, quando Chaz Ato enviou suas
naves para a Galáxia de Rhivis, sabia que a Lua Negra estava ocupada defendo os
humarantes. Ele ainda acreditava que o verdadeiro Gruner ainda estaria em seu
planeta natal, e por estas razões não iria novamente subestimar seu povo.
Como havia perdido muitos aturianos, Chaz Ato incumbiu Ledorn Cinka e
seus guerreiros para honrá-lo no ataque a Galáxia de Rhisvi e que desta vez não
se incomodaria que o regente Gruner fosse morto e que a sua cabeça fosse
trazida a presença de Sparis Orie.
Ao saírem da hipervelocidade, as naves inimigas se deparam com uma barreira
de naves mães de combate no entorno do Planeta Tryari. O líder Ledorn Cinka não
se intimida e ordena o ataque imediatamente.
Milhares de caças surgem partindo das naves mães em direção ao inimigo,
encontrando-se violentamente e cruzando disparos entre eles, sendo difícil
dizer quais dos lados estavam em vantagem. A nave de Ledorn Cinka encontra-se
na retaguarda. Ele acompanha o confronto com visível preocupação, pois percebe
que as informações sobre o fraco poder de defesa do inimigo estavam desatualizadas.
Não havia ingenuidade em combate, não havia desespero e fuga. Os seres
conscientes da Galáxia de Rhisvi aprenderam a lutar e a memória das antigas
histórias de escravidão e sofrimento começa a ceder lugar para o sentimento de
liberdade e a glória da vitória.
Ledorn Cinka percebe que não poderá destruir o Planeta Tryari, muito
menos, a pretensão de destruir os demais planetas importantes e resgatar
futuros escravos. Ele é avisado de que houve um recuo das naves para a órbita
do Planeta Tryari e por um momento, acredita que o inimigo pretende se render.
Em meios aos destroços e poeira deixados pelo primeiro combate, Ledorn
Cinka ordena que as suas naves também se reúnam e se preparem para descer ao
planeta.
Quando as naves dos trois estavam próximas entre si, e antes que pudesse
partir para um novo ataque, uma movimentação de milhares de asteróides formaram
um cerco e estavam em rota de colisão.
Desviar asteróides para destruir mundos pacíficos e resistentes aos
objetivos dos aliados de Viga, sempre foi uma antiga e covarde estratégia, que
agora é utilizada pelos povos de Rhisvi.
Os asteróides, sobras dos antigos planetas destruídos em guerras do
passado, foram todos identificados e monitorados. Perceberam que ameaçariam
seus mundos, mas também poderia ser utilizado como defesa. Foi então que
instalaram propulsores na grande maioria deles e que desta vez, o inimigo
provaria do próprio veneno. As naves inimigas colidem nos asteróides e
explodem, inclusive as que estão em fuga.
Lutando pela vida, Ledorn Cinka ainda consegue escapar da nave de
comando passando por entre os asteróides. Ao se aproximar muito de um deles,
minúsculos explosivos se desprendem das rochas e fixam no casco da sua nave.
Ele tenta entrar na hipervelocidade, mas um dos seus motores é atingido pelos
explosivos. Sua nave fica a deriva por alguns minutos no espaço.
Uma nave tryariana a intercepta a distância o inimigo. Uma comunicação é
recebida e um holograma surgiu na ponte de comando de Ledorn Cinka.
- Sei que é você o comandante escravo
de Viga! Deveria ter mais honra e lutar em vez de fugir!
- Quem é você? – grita Ledorn Cinka,
que entende as várias línguas da Galáxia de Rhisvi e Áxis.
- Havia dito para o último de vocês,
que não se deve ameaçar um povo pacífico esperando que ele não venha a lutar e
se defender um dia! Dessa vez não pagaremos o preço da tirania!
- Quem é você! – insiste Ledorn Cinka
- Meu nome é Giambo Zoolie! Sua nave
está avariada, não pode escapar! Renda-se! Será tratado com respeito!
- Nunca serei prisioneiro de nenhuma
raça! – diz Ledorn Cinka, que canaliza as últimas energias da nave para
disparar. Não deixando alternativa para o seu oponente.
A última imagem que Ledorn Cinka tem em vida, é da luz plásmica que é
disparada da nave tryariana, fazendo-a explodir.
A Galáxia de Rhisvi venceu a batalha em Tryari.
A Arca-lua se aproxima do Planeta Urbo com a intenção de resgatar os
embaixadores em Sudaj Ventoj.
As naves inimigas chegaram, e outras já são identificadas em vários
quadrantes, prontas para sair da hipervelocidade. O General Meadhas ordena para
proteger o perímetro em torno do planeta.
- Naves mães abrindo hangares de
disparo senhor! - alerta um oficial.
- Lance as esferas de combate! –
ordena o general, que também olha para o lado e ver um soldado que se aproxima.
- Onde está Solaris?
- Não a encontramos senhor – disse o
soldado.
- Como assim? Veja os registros de
descida para a embaixada?
- Já conferir senhor! A única civil
que desceu ao planeta foi a Embaixadora Suna Levigo.
- Onde está Solaris? – pensa o
general, também estranhando a ausência da embaixadora.
As esferas de combate partem aos milhares da Arca-lua exibindo suas
luzes azuis e brilhantes. O general precisa se concentrar na batalha que está
se formando, seu pensamento ainda está voltado para a segurança de Solaris.
- General! Naves mães disparando
raios de plasma!
- Responda o ataque! E reforce os
escudos! – ordena o general, que observa as primeiras imagens de confrontos no
espaço.
Em uma área aberta próximo da embaixada, dezenas de soldados ajudam os
embaixadores e auxiliares, que aos poucos são teletransportados para a Arca-lua.
A Embaixadora Suna Levigo, Solaris e Khufu, segue rápido na contramão do
público, para o prédio da embaixada. Eles chegam aos jardins e visualizam a
escadaria.
- Chegamos! – diz a embaixadora –
temos que evitar subir pelas escadas, os soldados vão nos ver!
- Para onde então? – pergunta
Solaris.
- A nossa passagem secreta está entre
pilares no salão nobre do prédio. Existe um acesso pouco conhecido por trás da
escadaria.
Um oficial da Arca-lua pergunta a equipe que está no planeta, sobre a
operação de resgate.
- Todos os embaixadores já foram teletransportados,
falta apenas alguns auxiliares – responde o soldado.
- Algum sinal da Embaixadora Suna
Levigo?
- Não senhor, ela não se encontra
aqui em nossa lista e... – o soldado interrompe a comunicação devido uma grande
explosão.
- Soldado! O que houve! Responda!
- Uma explosão destruiu o prédio da
embaixada senhor!
- Nenhuma nave inimiga passou por
nós!
- Pode confirmar se existem feridos?
- Todos os civis já foram teletransportados
senhor! Precisamos sair rápido! A explosão desestabilizou a montanha! Uma
grande avalanche de pedras está vindo em nossa direção!
- Retornem a Arca-lua imediatamente!
– ordena o oficial.
Todos os soldados restantes são teletransportados. A Embaixada Unida foi
soterrada por toneladas de pedras. A montanha treme e fendas racham o solo
engolindo tudo o que há na superfície.
Uma pequena nave surgi voando entre a nuvem de poeira. A Embaixadora
Suna Levigo, Solaris e Khufu foram localizados e resgatados a tempo.
- Estão todos bem? – pergunta o
piloto.
- Sim, tivemos muita sorte, obrigada
– agradece Solaris – Sua fisionomia não é estranha, acho que lhe conheço. Você
não é piloto é?
- Não, minha senhora. Meu nome é
Argos Aury, sou instrutor de história antiga e medieval da cultura Tero Unua.
- Você pilota muito bem instrutor –
diz Khufu – Deve ter sido um aprendiz dedicado.
- Na verdade não tive curso de pilotagem.
Mas existem programas virtuais que são muito eficientes.
- Então o que fazia voando pela
embaixada? – pergunta Solaris.
- Não estava voando, retornava de um
acampamento nas montanhas, gosto de praticar alpinismo. Quando cheguei aqui, vi
a explosão e não havia como escapar, encontrei esse modelo de passeio vazio e
tentei salvar minha vida. Foi quando os avistei.
- Deixou seu equipamento? – pergunta Khufu.
- Sim, acho que vou praticar
alpinismo virtual, é mais seguro. Então, para onde vamos? Esse modelo não é
muito veloz, levaremos dias para chegar em Urbo.
- Vamos para as montanhas – disse a
Embaixadora Suna Levigo.
- Para as montanhas? Não acho muito
seguro – disse Argos Aury.
- Existe um posto avançado de segurança
da embaixada. Encontraremos suprimentos e condições de nos comunicarmos com a
freqüência da Arca-lua.
- Como queira, senhora.
A pequena nave ganha altitude e segue para as grandes cadeias de
montanhas de Sudaj Ventoj. A embaixadora orienta Argos Aury nas coordenadas
para chegar ao posto avançado.
Vinte minutos depois, eles pousam em meio a uma forte nevasca.
- Acho melhor ficarmos e esperar –
recomenda Argos Aury – É muito arriscado sair com essa ventania.
- Não temos escolha! – diz Khufu em
voz alta, abrindo a porta lateral da nave e saindo com Solaris.
- Para onde vão? É perigoso!
- Não se preocupe Argos, ele conhece
bem o caminho, ficarão bem – tranqüiliza a embaixadora – vamos dividir o grupo.
- O que faremos agora. Não podemos
ficar muito tempo aqui, esse modelo vai congelar e ficaremos presos – alerta
Argos Aury.
- Vamos para uma região baixa e mais
quente da montanha – orienta a embaixadora, evitando que Argos Aury descubra os
planos de Khufu e Solaris.
– Eles farão contato com a Arca Lua e seremos
resgatados em breve.
Sem questionar, Argos Aury obedece a embaixadora e encontra um platô
seguro na montanha. O módulo aterrissa:
- Ainda com frio, senhora? – pergunta
Argos Aury.
- Bastante, mas vou ficar bem,
obrigada.
- O sinalizador do modulo está
acionado, seremos identificados.
Argos Aury encontra algumas cobertas em um compartimento da nave e ajuda
a cobrir a embaixadora que mais uma vez fica muito agradecida.
- O que acha que aconteceu na
embaixada senhora?
- Alguém se infiltrou e armou uma
bomba sem que fosse detectada. Alguém acima de qualquer suspeita.
- É difícil imaginar algum cidadão de
Áxis fazendo isso.
- E não foi – disse a embaixadora,
desconfiando que foi a cópia do seu filho.
- Quem poderia ser então?
- Os aturianos são especialistas em
fazer isso.
Na parte alta da montanha, Solaris e Khufu vencem a ventania gelada e
entram no posto avançado. Eles encontram um painel de controle e captam o sinal
onde estão Argos Aury e a embaixadora. Uma pequena esfera de luz parte da
montanha e encontra o módulo e sobre ele flutua, aguardando o contato de
resgate.
Khufu e Solaris deixam o posto e seguem por uma trilha. Os ventos estão
cada vez mais fortes e a visibilidade difícil.
- Tem certeza que sabe para onde está
indo! – grita Solaris para vencer o barulho da ventania.
- Certeza absoluta! – responde Khufu,
que se aproxima de uma parede rochosa.
- Não existe passagem aqui! – grita
Solaris.
- Existe sim! Confie em mim! –
reponde Khufu, que encosta a palma da mão na rocha e ela se desfaz.
- Uma passagem secreta? –
surpreende-se Solaris.
- Uma das muitas passagens!
Eles caminham por um curto corredor e encontram uma plataforma.
- Venha comigo, suba – orienta Khufu.
Solaris sobe na plataforma e esta desce como um elevador a centenas de
metros chegando a uma galeria, onde no fundo, se ver uma pirâmide de pedra de
aproximadamente doze metros.
Khufu caminha no estreito corredor em direção a pirâmide e Solaris o
segue lentamente. A cada passo dado, feixes de luz surgem do piso iluminando o
ambiente, em especial um painel com sete estátuas de animais, em tamanho
original a cinco metros de altura, aos pés de outra estátua de um provável
deus.
- Lindo e ao mesmo tempo assustador –
disse Solaris – O que são essas criaturas?
- São dromis. São habitantes e
guardiões do Planeta Gir.
- Parecem leões ou algo parecido da
cultura Tero Una – diz Solaris pensativa.
- É verdade. Os dromis lembram uma
antiga esfinge. São criações daquele deus.
- Quem é ele?
- O Deus Snefru, ele é o meu pai –
disse kufu com tom de sentimentalismo na voz – há muito tempo que o procuro.
- Nunca imaginei que existissem
lugares assim, escondidos em planetas da nossa galáxia – comenta Solaris.
- Se meu pai os criou, é por uma boa
razão. Estarmos aqui certamente é uma delas. É uma forma segura e rápida de se
movimentar entre os mundos.
- Quantos mundos você visitou?
- Todos em que era possível
sobreviver, outros eu ficava apenas alguns segundos, o suficiente apenas para
vislumbrar.
- Todas as pirâmides são
subterrâneas?
- Algumas. Existem as que ficam na
superfície, em platôs e cavernas, outras em desertos e algumas submersas. O que
há de comum entre elas é que sempre estão em locais de difícil acesso. Ainda
não sei quantas existem, mas percebi que o universo possui muitas passagens de
diferentes estruturas e dimensões.
- Isso é incrível! – diz Solaris com
entusiasmo.
Khufu estende a mão para Solaris e entram na pirâmide. Em seu interior,
uma luz branca se intensifica fazendo-os desaparecer. A luz escapa pelo ápice
em forma de nuvem, atravessa a montanha e em frações de segundos se dirige para
o espaço. Solaris e Khufu são tele transportados para o Planeta Gir.
A Arca-lua identifica o sinal da esfera de localização na parte baixa da
montanha onde se encontra a embaixadora.
Dois soldados da federação se materializam e se dirigem até a pequena
nave.
- Confirmamos a localização do módulo
senhor! – diz o soldado.
- Sobreviventes? – pergunta oficial
da Arca-lua.
- Encontramos a Embaixadora Suna
Levigo! Parece bem.
Eles abrem a escotilha da nave e reanimam a embaixadora que dormia
tranquilamente.
- Senhora! Está tudo bem?
- Bone! (Estou
bem) – responde a embaixadora que é ajudada pelo soldado a descer da nave
enquanto o outro observa o entorno.
- Está sozinha
senhora?
- Não, tem o
piloto.
Os dois soldados se olham e um deles
utiliza um equipamento de rastreamento no solo.
- Não temos
leitura, não encontramos rastros senhora.
- Mas ele estava
aqui comigo! Chegamos juntos! – disse a embaixadora olhando para todos os lados
e gritando o nome de Argos Aury.
- Senhora,
precisar ir.
- Não posso
deixá-lo aqui, ele nos salvou!
O soldado olha atentamente para
embaixadora e ela corrige a frase.
- Ele salvou a
minha vida, não podemos deixá-lo aqui.
- Vamos
procurá-lo, é uma promessa, mas a senhora precisa ir – insiste o soldado.
O soldado envia um sinal e a embaixadora é
teletransportada. Ao chegar na Arca-lua é recebida pelo General Meadhas que a
abraça:
- Embaixadora! Onde
está Solaris?
A embaixadora olha para o general.
- Ela não está
em Urbo, posso lhe garantir.
O general continua olhando para ela
esperando uma resposta convicinte.
- Solaris seguio
para o Planeta Gir acompanhada de um dos filhos dos deuses, foi em busca de
Mei.
- Embaixadora,
essa seria a pior notícia que poderia me dar nesse momento. Estou no meio de
uma batalha e a senhora me diz que Solaris está em Gir com um desconhecido?
- É uma longa
história general, precisa confiar em mim. Mei e os demais correm perigo, o
Sankta Spirito não chegará a tempo. Solaris corria perigo aqui tanto quanto
Mei, as forças de Viga querem capturar os filhos dos deuses!
O general encontra a verdade revelada nos
olhos da embaixadora:
- Não posso
acreditar – disse o general segurando as duas mãos nos ombros da embaixadora.
- Acredite Anor,
é verdade. Solaris é uma das filhas dos deuses, assim como Mei. O único lugar
na galáxia onde eles poderiam está mais seguros será em Gir.
-Mas como? –
pergunta o general virando as costas para embaixadora.
- Não sei como!
Mas tudo leva a crer que eles precisam estar juntos em Gir! É tudo que sei.
A embaixadora toca suavemente o ombro do
general que se vira e fica de frente para ela.
- Estou aqui
tentando proteger milhões de vida e não consigo proteger minha esposa e filha!
Como queria que eu me sentisse?
- Mei estará bem
ao lado de Solaris, estará segura com os demais semi-deuseus e amigos, apesar
dos perigos que o cercam. Tenha um pouco de fé e se concentre no que tem a
fazer.
Um oficial se aproxima.
- Senhor! Temos
sinais do Sankta Spirito atravessando o
nosso quadrante com rota traçada para o Planeta Gir! O cruzador vai ser
interceptado no subespaço por um grupos de naves mães inimigas em menos de uma
hora.
O general faz um sinal de respeito com as
mãos para a embaixadora e se retira. A embaixadora se aproxima de um oficial e
pergunta por Argos Aury.
- Não
encontramos nenhum sinal de vida na região de Sudaj Ventoj senhora, eu sinto muito. Provavelmente ele
deve ter encontrado outro transporte e seguido para a Urbo Capital. Temos um
contigente militar em solo e enviamos um comunicado de busca em todo o planeta,
manteremos informada.
Na ponte do Cruzador Sankta Spirito, o Comandante Akash observa corpos e
os destroços do Cruzador Haerentia.
- Foi
uma batalha covarde senhor, até as cápsulas de fuga foram perseguidas e
destruídas – disse o Soldado Lear, aproximando-se.
- Eu
sei – responde o Comandante
Akash, com um olhar triste –
Recolha os NRs possíveis.
- Sim
Senhor – O Soldado Lear se retira para cumprir a tarefa.
O oficial de comunicação chama a atenção
do comandante.
-
Senhor! Nossa passagem para o Planeta Gir está sendo monitorada pelo inimigo!
São centenas de naves mães em formação de ataque.
-
Mantenha o curso e entre na hipervelocidade!
Segundos depois, uma nave sai da hipervelocidade bem atrás do cruzador.
- Senhor! Uma nave inimiga está atrás
de nós! Estranho! Está enviando uma mensagem utilizando um código da federação!
- Reduza a velocidade e faça o scaneamento
biológico.
A nave inimiga reduz a velocidade, reconhecendo e obedecendo aos sinais
luminosos do cruzador.
- Não pode ser! A tripulação da nave
é formada por dois gruns e um aturiano!
- O que? – surpreende-se o comandante
– abra um canal de áudio e vídeo com essa nave.
- Eles estão colaborando senhor,
estão seguindo os protocolos técnicos.
As imagens da tripulação inimiga aparecem na tela holográfica.
- Aqui é o Comandante Akash do
Cruzador Sankta Spirito! Vocês estão usando um código militar privativo da
federação! Identifique-se!
Um curto silêncio que depois é quebrado com ruídos de gruns.
- Senhor! Eles estão decodificando
textos convertidos para mensagens de voz eletrônica.
- Traduza.
- Saudações Sankta Spirito!
Comandante Akash, não imagina como estamos felizes em ouvir sua voz – fala o
piloto aturiano.
- Quem são vocês?
- Somos NRs de soldados da federação!
Estamos transmitindo nossas credenciais.
O oficial de comunicação olha para o comandante e atesta a confirmação
positiva de identificação.
- São os NRs dos três soldados que
faziam a escolta do Cargueiro Apox. Estavam desaparecidos, possivelmente
capturados por aturianos.
- Não podemos articular palavras
nesses corpos, seus aparelhos vocais são rudimentares – diz o piloto aturiano.
- De onde vocês partiram?
- Escapamos de um planeta
desconhecido, hostil, quente e insalubre, as coordenadas estão sendo enviadas
agora. Infelizmente os corpos dos soldados foram devorados por gruns, não
poderíamos salvá-los. Com muita sorte conseguimos nos infiltrar nesses corpos e executar o plano de
fuga.
-
Parabéns! Seus planos foram muito inteligentes – elogia o comandante, ordenando
ao oficial de comunicação rastrear a origem do planeta.
- O
plano não foi nosso senhor – diz o piloto – Ele foi pensado pelo NR da
humarante Aurora Mi, astrofísica da Estação de Fronteira Sul.
Os olhos do Comandante Akash são tomados
de emoção e com uma voz embargada pergunta ao piloto:
-
Aurora Mi? Tem certeza?
- Sim
senhor – diz o piloto – Seu corpo não foi identificado pelo scaneamento devido
a câmara de suspensão alienígena em que ela se encontra. Possivelmente o mesmo
tipo de câmara que deveria está em nossa nave, programada para abrir, quando
fomos atacados durante a escolta do Cargueiro Apox.
- Ela
está viva?
- Está
viva senhor, mas muito debilitada, um dos gruns também está muito ferido.
O comandante Akash ordena o embarque da
nave para setor de quarentena.
- NRs,
os corpos que habitam serão descontaminados e confinados em nossas câmaras.
Vocês serão integrados a estrutura do Sankta Spirito. Sejam bem-vindos.
- Será
uma honra Comandante Akash – responde o piloto.
A nave alienígena embarca no Cruzador
Sankta Spirito. O Aturiano e os gruns contaminados são anestesiados e
encaminhados para câmaras de suspensão. Os NRs finalmente abandonaram os corpos
e flutuaram brilhantes para o teto do cruzador e foram absorvidos pelo mesmo.
A câmara onde se encontra Aurora também é
descontaminada e aberta. O Comandante Akash se aproxima e pergunta ao médico.
- Como
ela está?
- Seu
quadro é estável, mas requer cuidados. Está desidratada, fraca e com escoriações.
Essa câmara alienígena é muito eficiente, o processo não apenas garante o
congelamento biológico, mas colabora na cura de inflamações. Certamente projetada
para corpos diferentes dos nossos.
-
Quando poderei falar com ela?
- Temos
que ter precaução comandante, essa tecnologia apesar de similar a nossa possui
variáveis desconhecidas. O NR de Aurora está processando os dados. Se tudo ocorrer
bem, em algumas horas ela estará andando ao seu lado.
O Comandante Akash alisa o cabelo de
Aurora e beija a sua testa. Sofre ao imaginar toda a tortura e sofrimento que
ela havia passado em seu cativeiro.
-
Quero estar aqui quando ela acordar – ordena o comandante, pondo a mão direita
no ombro do médico em sinal de gratidão.
-
Avisarei, ela ficará bem.
O Capitão Galen Menon se
encontra com o Comandante Akash na ponte com novas informações sobre as
coordenadas de curso da nave alienígena.
-
Temos boas notícias? – pergunta o comandante com uma expressão suave e
revigorada. O retorno de Aurora a sua vida trouxe o velho Akash de volta e esse
sentimento é compartilhado por toda a tripulação.
-
Muito boas por sinal – responde o capitão – Como está Aurora?
- Está
se recuperando.
- Isso
é ótimo. Comandante eu sei que tudo o que aconteceu com os soldados e com Aurora
foram terríveis. Mas conseguimos tirar vantagens de muitas coisas.
- Por
exemplo?
-
Temos modelos de tecnologias de uma nave orgânica e de uma câmara de suspensão.
Experiências bem sucedidas de NRs em corpos não humarantes, com registros e
dados incríveis. Inclusive do planeta onde se escondem e montaram sua base de
comando.
- Se
escondem?
- Sim.
Eles estão na Galáxia de Lirus, onde existem civilizações aliadas a Federação
Áxis. Esconde-se em um planeta que existe em seus limites e que era considerado
gasoso, mas que na verdade é telúrico. Dedicamo-nos pouco ao estudo de corpos
celestes de galáxias vizinhas e as civilizações que lá existem não se interessam
muito por ciência cósmica.
-
Encontrei muitas assim. Já vi civilizações simples tecnologicamente se
interessarem mais pelas estrelas do que as ditas avançadas.
- Essa
é a questão, a atmosfera gasosa que envolve o planeta causaria complicações nas
estruturas das naves que tentasse atravessá-las, podendo mesmo destruí-las. Mas
o que vimos pelo relatório dos NRs, existe um ecossistema atípico abaixo dessa
atmosfera que certamente é compatível com os corpos dos nossos inimigos. Um
ambiente rochoso e quente com sérias instabilidades climáticas.
- Um
esconderijo perfeito.
-
Certamente. Eles precisam apenas controlar um pequeno salto na hipervelocidade
digamos, uma micro hipervelocidade, para entrar e sair do planeta.
- Como
não há interesse em observar o céu, as civilizações de Lirus jamais perceberiam
sua presença e nada poderia nos comunicar.
-
Exatamente comandante. Fomos vítimas do atraso científico dos nossos aliados. E
os nossos inimigos não tinham interesse em atacá-los e também chamar a nossa
atenção.
- Se
fossem atacados seriam destruídos, a tecnologia espacial desses mundos ainda
está nos primeiros passos, assim como foi com os nossos antepassados em Tero
Unua. Suas naves não
possuem suportes de vida confiáveis, gravidade artificial, hipervelocidade. O máximo
que alguns fizeram foi visitar suas luas e planetas muito próximos. Não acharam
muita coisa de valor comercial e desistiram de investir nesse tipo de
tecnologia.
- Não
teríamos com destruir essa base?
-
Impossível capitão! Quase todos os nossos cruzadores estão apoiando Urbo nesse
momento. O único cruzador que poderia atravessar a galáxia seria o nosso, mas
mesmo assim não teria poder de fogo suficiente. Não sabemos quantos são, mas
pela quantidade de naves mães que se aproximam de Urbo poderemos ter uma
pequena idéia.
- Essa
seria a ótima notícia que gostaria de lhe dar comandante – disse o capitão um
pouco desanimado.
- E
foi uma ótima notícia – conforta o comandante – eu disse que o Sankta Spirito
está impedido no momento de ir nesse planeta desconhecido, mas não a resposta
final.
- O
que pretende fazer?
- Vou
consultar a Ponto Lumo.
Esse cruzador possui mais recursos do que imaginamos.
O Comandante Akash segue para o Ponto Lumo e tenta se comunicar com seu
antecessor, o Comandante Prismo, que atende o
seu chamado.
- Imagino que já
saiba por que lhe chamei.
- Certamente não é
para pedir conselhos – responde o Comandante Prismo com um discreto humor.
- Temos uma
oportunidade de destruir a base dos inimigos, mas estamos impedidos de desviar
de nossa missão de seguir para Gir.
- Akash, como você
mesmo disse, esta nave possui muitos recursos, no entanto é preciso
inteligência para usá-los. Destruir a base do inimigo sem dúvida pode ser
considerada uma parte da guerra vencida. Mas sinto que teria um sabor a mais
para você.
- Não negarei meus
sentimentos em relação ao inimigo e o que ele fez ao nosso povo e
principalmente a mulher que amo. Mas rendo-me a compreensão de que se nada
disso tivesse acontecido, dificilmente poderíamos ter essas informações em
curto prazo. Precisamos deter o inimigo impiedoso e certamente subjugado pelo
poder de Viga. Milhares de humarantes dependem de nós nesse momento. Não me
envergonho de que seria uma justa resposta as suas ações. O sentimento de
vingança não pode ser negado, mas neste caso serviria como uma fita que adorna
um presente de justiça para eles.
O Comandante Prismo fica em silêncio por
alguns segundos como se estivesse também consultando outras fontes, invisíveis
ainda para o Comandante Akash.
- Existe uma opção.
O Sankta Spirito é movido por antimatéria. Uma das células dos anéis magnéticos
que armazenam essa energia pode ser retirada e comportada em uma estrutura que
possa desestabilizar no ambiente externo.
- Uma bomba de
antimatéria?
- Sim Akash. Uma
cuidadosa coleta com carga suficiente para destruir a base do inimigo.
- Imagino que isso
nunca foi realizado no Sankta Spirito?
- Não, nunca foi,
até agora.
- Tenho dúvidas de
como proceder na construção de uma estrutura segura e, além disso, não sou cientista.
Seria arriscado até para os nossos engenheiros de bordo fazê-lo, qualquer falha
explodirá o cruzador.
- O risco existe,
não em remover a célula, nossa margem de segurança no processo é de 99%.
Precisamos apenas utilizar os operários certos, desde que você autorize.
O Comandante Prismo modifica o cenário
virtual do salão com imagens que mostram todo procedimento. Akash tem dúvidas:
- O núcleo de
propulsão possui elevados níveis de resíduos radioativos, mesmo utilizando mão
de obra mecânica para extrair a célula como manter a antimatéria estabilizada
no interior da estrutura e depois acioná-la?
- No seu primeiro
contato com a Ponto Lumo
muito lhe foi revelado sobre o Sankta Spirito, inclusive que a sua estrutura
absorve os NRs. Acontece que cedo ou mais tarde, você descobriria que não é
apenas isso. Olhe esses parâmetros de massa do cruzador desde que foi
apresentando ao povo humarante.
O Comandante Akash observa com surpresa os gráficos.
- O cruzador cresceu!
- Exato! Um discreto crescimento que
está associado a longevidade do povo humarante.
- Não há registros de criação de
novos compartimentos, apenas do volume total da nave. Mas como a longevidade do
nosso povo contribui com isso?
O Comandante Prismo sorrir.
- Metade do Cruzador Sankta Spirito é
o nosso povo, amigo Akash. Todas as vezes que o corpo físico de um dos nossos
falece, suas consciências são atraídas para cá, os NRs que convivem dentro de
nós se somam a estrutura da nave fazendo-a aumentar.Observe o que aconteceu em
Coroni quando o cruzador se aproximou do continente.
As imagens mostram centenas de cepas brilhantes se reunindo no solo e
subindo em forma de espiral e se integrando no casco do cruzador.
- Lembro do vento e de um pequeno
redemoinho de poeira. Agora entendo, eram os NRs dos nossos irmãos falecidos
que estavam na cerimônia! Estavam indicando o local exato onde Aurora estava!
Foi quando encontrei o colar.
- Uma vez na Ponto Lumo, aos poucos a
sua consciência e habilidades cognitivas estavam sendo ativadas. Mesmo sendo
corpos orgânicos convivendo com um microscópico ser robótico dentro de nós,
precisamos ao longo da nossa evolução ativar ou desativar determinados
aplicativos naturais.
- Quanto aos NRs, sabia que apenas
uma pequena parcela do nosso povo sabe de sua existência e função.
- Sim Akash, é verdade. Os
embaixadores, o alto comando militar e uma restrita classe de médicos. Tínhamos
uma retribuição e um acordo de cooperação com os NRs, isso incluía deixar as
futuras gerações do nosso povo seguir com a sua cultura em liberdade.
- Não julgarei essas decisões, pois
assim demonstraria minha falta de fé nos meus irmãos ancestrais.
- Seus irmãos ancestrais estão aqui
Akash.
O Comandante Prismo estende o braço mostrando o outro lado do salão
repleto de espectros humarantes:
– Não são fantasmas, apenas encontra-se em
outra faixa dimensional.
O Comandante Akash se emociona quando reconhece seus familiares e
ancestrais:
- É maravilhoso!
- Sim, é maravilhoso estar aqui. E um
dia, terei o prazer de compartilhá-lo com você. Existe muito ainda ser revelado
e lembrado quando você chegar deste lado.
As imagens espectrais desaparecem.
- Como os demais NRs se juntam ao
Sankta Spirito?
- Da mesma maneira que enviaremos a
bomba para o planeta inimigo. No passado remoto desta galáxia, havia um deus
que criou passagens entre os mundos para se deslocar com descrição. Apenas
eles, os deuses e semideuses poderiam se beneficiar desse meio de transporte.
Com a chegada do povo humarante na Galáxia de Áxis, foi permitido aos NRs,
livre trânsito por estas passagens. Em cada mundo da federação, quando cada NR
deixava o corpo inerte do seu amado hospedeiro, era atraído para o lugar onde
estas passagens existem.
- E para onde eles seguiam?
- Para o Planedo Kolonjo (Planeta
Colônia), atual Arca-lua. Sempre existiu um protocolo regular de paradas nos
planetas, muitas delas nem sempre justificadas e até levantando curiosidades na
população. Era nesse momento que os NRs subiam para o cruzador, pois as
consciências dos que faleceram já estavam presentes. Toda sabedoria da cultura
humarante está aqui.
- E são os NRs que levarão a bomba
para o planeta base do inimigo?
- Sim. Mas com uma condição Akash.
- Qualquer condição comandante, desde
que não desvie a nossa rota de Gir.
- Não vamos desviar. Teremos que
estacionar o cruzador por algumas horas.
- Retardar a nossa viagem?
- Para condicionar a antimatéria
precisamos produzir a estrutura que irá abrigá-la, mas do que isso, precisamos
também que essa estrutura seja acompanhada. Estamos no quadrante onde se
localiza Urbo. É o único planeta habitado por nós, além de não está em nossa
rota, está em combate.
- Temos um super planeta adiante, mas
antes temos que passar pelos inimigos que são numerosos.
- O super Planeta Thar é perfeito.
Excelente sugestão Akash. Poderemos nos camuflar em seus anéis gasosos enquanto
o cruzador se regenera.
- Regenera?
- Sim. A estrutura cilíndrica que
conduzirá a antimatéria será feita da coesão dos NRs. Não haveria outro meio de
controlar sua instabilidade. Uma parte do cruzador será temporariamente
sacrificada até os NRs retornarem e o casco ser regenerado.
- O Planeta Thar é extremamente
hostil. Sua atmosfera é tóxica, com turbilhões de tempestades. Mesmo que uma
nave consiga atravessar e algum ser vivo seja teletransportado, não conseguiria
sobreviver.
- Concordo Akash. Mas um ser
inteiramente constituído de NRs poderá fazê-lo, sem comprometermos mais tempo
de regeneração do cruzador.
- Como isso seria possível em tão
pouco tempo?
- Enviaremos um sinal para a Arca-lua
solicitando um humarante formado de NRs para as coordenadas do Planeta Thar.
Ambos chegarão ao mesmo tempo, pois o cilindro com a antimatéria será lançado
com segurança do cruzador.
Apesar dos riscos, o comandante concorda:
- Seguiremos com o plano.Voltarei
para a ponte. Que o sinal seja enviado e a bomba preparada, assim que passarmos
por aquele bloqueio.
O Cruzador Sankta Spirito foi identificado pelo cerco inimigo que
começam a fazer disparos com canhões de raios contínuos de plasma.
- Senhor! Estão disparando raios de longo alcance –
alerta o Capitão Galen Menon – Escudos
resistindo e sem variações.
- Disparem naqueles asteróides e
provoque detritos e muita poeira!
As naves mães inimigas lançam milhares de caças. O Cruzador Sankta
Spirito fica invisível e produz centenas de projeções idênticas que partem da
poeira das explosões dos asteróides seguindo para vários pontos do espaço,
confundindo o inimigo.
- Entrar na hipervelocidade!
- Comandante! São muitas naves em
direção a Urbo! Não irão resistir! – alerta o Capitão
Galen Menon.
- Não temos
escolhas capitão! Precisamos seguir com o plano!
O Cruzador Sankta Spirito entra na
hipervelocidade fazendo o mesmo com as suas projeções. O inimigo não consegue
localizar a sua presença ou curso indicado.
Já
escondido na atmosfera gasosa e tempestuosa do Planeta Thar, o cruzador inicia
o processo para a construção da bomba de antimatéria. A diminuição do volume do
casco é acompanhada e os NRs se aglomeram rodopiando entre si, criando uma
estrutura metálica que envolve um núcleo brilhante de antimatéria.
- Comandante!
Temos um sinal positivo da localização de NRs enviados pela Arca-lua no solo do
planeta.
- Eles receberam a
nossa mensagem! Indiquem os NRs do cilindro para o embarque em uma esfera de
transporte e marque a localização para a entrega da carga no planeta.
O Comandante Akash observa a saída de uma
esfera luminosa do cruzador e percebe que alguém se encontra atrás dele. Ao
virar-se, encontra Aurora emocionada e sorridente. Eles se abraçam
demoradamente, se olham entre si e se beijam.
- Pensei que havia
te perdido.
- Tive tanto medo
Akash. Foi tudo tão rápido. Está aqui com você parece um sonho.
O Comandante Akash segura nas mãos de
Aurora:
- Você está segura
agora. Nada vai nos separar.
- Akash, o que
está acontecendo? Parece que o universo entrou colapso.
- Explicarei tudo
para você em breve, mas agora temos algo importante para fazer.
O Capitão Galen Menon se aproxima:
- Senhor. Temos
confirmação do afastamento das naves inimigas.
- Não seguiram
nossos rastros?
- Não, senhor.
Continuaram seu curso para Urbo. Podemos sair da exosfera do planeta com
segurança.
- Faça isso
capitão. E me avise quando o sinal dos NRs no planeta base do inimigo estiver
concluído.
Akash se afasta com Aurora para um local
mais reservado da ponte.
No solo do Planeta Thar, um redemoinho sai
de uma gruta e começa a brilhar e se aglutinar formando um humarante jovem da
raça sapiens. Ele olha para o céu e ver a esfera vencendo a forte ventania e
descargas elétricas das nuvens, descendo lentamente e aproximando-se de onde
está.
O jovem se aproxima da esfera e apanha o cilindro,
também formado por NRs e conduz a preciosa carga para a gruta. Outra minúscula
esfera o segue. Um oficial de comunicação chama o comandante.
- Senhor! O
cilindro chegou ao seu destino. Continua estável aguardando suas ordens.
- Temos acesso de
comunicação por esse portal?
- Positivo senhor.
O sinal da micro esfera está transmitindo e recebendo perfeitamente.
- Faça contato com
o líder, utilize o idioma humarante.
No Planeta Decan, Hurt Isua se encontra com Chaz Ato no
platô da montanha e informa a má notícia:
- Temos
confirmação de que toda a frota de Ledorn Cinka foi destruída. Estamos sem aturianos nesse
planeta e a maioria dos tartarianos seguiu para reforçar a batalha no Planeta
Urbo. Rima Ad já se encontra no Planeta Gir e um cruzador da federação está a
caminho.
- Ledorn Cinka é um incompetente! –
diz Chaz Ato com fúria – Cuidarei depois, pessoalmente, da Galáxia de Rhisvi.
- O que faremos?
- Ficaremos aqui. Não podemos
abandonar esse planeta. Somos poucos, mas ainda podemos fazer muito. A nossa
prisioneira é valiosa para o comandante da Estrela Brilhante da federação.
Hurt Isua recebe uma comunicação:
- O Sankta Spirito?
- Por que a surpresa? – pergunta Chaz
Ato.
- Não é isso que eu quero dizer! O
Sankta Spirito nos achou!
A minúscula esfera brilhante surge flutuando a frente de Chaz Ato
projetando uma imagem holográfica perfeita.
- Sou Akash Abhaya, comandante do
Cruzador Sankta Spirito da Federação Áxis.
Chaz Ato se aproxima da imagem falando na língua humarante:
- O famoso Comandante Akash. Não poderia ter
se apresentado numa excelente ocasião.
- Não é uma visita de cortesia, posso
lhe garantir.
- Mas muito apropriada eu diria. Veio
resgatar a mulher? Ela ainda está viva se deseja saber, mas não por muito tempo
até você e sua federação não colaborar com as nossas exigências.
- Exigências?
- Entregue pelo menos um dos filhos
dos deuses ou a mulher humarante será morta!
O Comandante Akash mostra Aurora ao seu lado abraçando-o:
- Que mulher? Por acaso será essa?
- Mas como? – grita Chaz Ato.
- Você deveria ter mais cuidado com
seus hóspedes – disse Aurora.
Hurt Isua recebe outra comunicação.
- Violaram a nossa segurança! Temos
uma poderosa fonte de energia concentrada em algum lugar dessa montanha!
- Ordeno agora que pare todas as
operações desse complexo e se rendam! – diz o comandante.
- Não está em condições de exigir
nada humarante insolente! Em breve toda a sua galáxia estará dominada e seu
povo escravizado. Nunca nos renderemos!
Hurt Isua se aproxima de Chaz Ato e tenta telepaticamente argumentar o
perigo que representa irritar um comandante da federação.
Chaz Ato responde dizendo que Sparis Orie jamais aceitaria a decisão da
rendição e todos da sua raça seriam exterminados.
- Em outras circunstâncias – diz o
Comandante Akash – até gostaria de saber o seu nome e do seu povo e da sua
cultura. Poderíamos ser aliados e libertá-lo da influência de Viga. Mas pelo
bem do universo e de todas as civilizações que o habitam, somos obrigados a
condená-los a destruição e enfraquecer o poder dos que a servem.
- Quero todos os humarantes mortos!
Não precisamos da sua piedade! – grita Chaz Ato com arrogância.
- Sinto muito, que seja livre
novamente e que a luz do cosmo te reserve um novo futuro.
Hurt Isua compreende a natureza da fonte de energia na montanha. Ele se
aproxima da imagem, faz uma reverência ao comandante e agradece silencioso,
aceitando o seu destino. O Comandante Akash retribui da mesma forma. Chaz Ato
dispara um feixe de plasma na esfera e esta explode.
No interior da montanha, o humarante formado de NRs que sustentam o
núcleo de antimatéria se desfragmenta e desaparece pelo portal da pirâmide.
Uma fantástica explosão ocorre, destruindo todo o complexo de montanhas
e seu entorno. O planeta que servia de base militar dos trois foi neutralizado.
Com a morte de Juix tu, Ledorn Cinka, Hurt Isua e Chaz Ato, as ameaças
agora se concentram em Rima Ad no Planeta Gir e Sparis Orie, que se aproxima da
orbita do Planeta Urbo.
Os NRs retornam ao Planeta Thar e são teletransportados para o Cruzador
Sankta Spirito, iniciando a reintegração na estrutura do casco.
A tripulação comemora discretamente esse grande feito, mas sabe que a
situação no Planeta Urbo é extremamente perigosa. Todas as naves inimigas estão
às centenas, prontas para atacar e destruir sem piedade a mais poderosa e prospera
espécie consciente da Galáxia de Áxis.
O Comandante Akash lamenta profundamente não está presente e ajudar o
General Meadhas, precisa cumprir a sua missão e seguir para o Planeta Gir.
O Cruzador Sankta Spirito já se encontra com a sua estrutura
reintegrada. Afastando-se da órbita gasosa do Planeta Thar, a nave segue seu
rumo, entrando na hipervelocidade.
Na Arca-Lua, o General Meadhas recebe a
confirmação do Cruzador Sankta Spirito de que a base militar dos inimigos foi
destruída com a imprescindível colaboração dos NRs.
A batalha na órbita do Planeta Urbo estava
sendo dominada pelos humarantes até a chegada dos reforços inimigos.
- Pelos deuses! –
disse a Embaixadora Suna Levigo.
O general olha de lado para a embaixadora e,
com os braços esticados sobre o painel do mapa estelar, lamenta com um ar de
desânimo, um sentimento que até então nunca havia experimentado.
- São muitos.
- Temos condições
de detê-los?
- Não temos como
cobrir todo o planeta. Em algum momento, muitas naves passarão e chegará ao
solo. Muitas cidades serão invadidas e haverá confronto direto.
- Ainda temos
muitos NRs de defesa atuando em Urbo e são muito eficientes.
- Os NRs são
grandes aliados, o que me preocupa não é qualidade do inimigo e sim a quantidade.
Os abrigos subterrâneos são seguros e protegidos, mas está claro que eles
querem aniquilar o planeta.
- Anor, o inimigo
está enfraquecido, já sofreram milhares de baixas e ainda estamos aqui. Se
tivermos de lutar mais, lutaremos.
O general escuta em silêncio, até ser
interrompido pelo oficial de comunicação:
- General!
Destruímos todas as naves inimigas da órbita e detectamos naves de mundos
aliados e não aliados da federação que pedem para se juntar a nós para o
combate.
A embaixadora junta às mãos e fecha os
olhos em sinal de alívio e agradecimento.
- Quem são?
- Todos os mundos
que possuem naves de combate senhor! Eles captaram uma transmissão da Estação
de Fronteira Sul e estão viajando há muito tempo para chegar aqui.
- Quantos são?
- 245 cruzadores e
8 cargueiros com voluntários de povos agrícolas atarianos. Temos imagens dos
telescópios.
- Agricultores? É
suicídio! Suas naves são lentas e com poucos recursos.
- Concordo senhor!
E com todo o respeito, parece mais que essas naves saíram do museu espacial.
- Mande nossas
boas vindas e envie ordens para que as naves com poder de ataque se distribuam
na órbita do planeta e as naves cargueiras com os agricultores sigam para os
vários continentes de Urbo para apoiar nossas tropas em solo! Não esqueça de
fornecer nossas armas para eles!
- Imediatamente
senhor!
A Embaixadora Suna Levigo aproxima-se do
general:
- O valor da
gratidão não tem preço Os esforços desses povos em arriscar suas vidas com
inimigos tão poderosos é impressionante.
O
general concorda:
- Muitos não
pertencem aos mundos aliados da federação e nunca vivenciaram uma batalha, mas
sabem do perigo que o inimigo representa para todos. Eles querem reescrever
suas histórias, reverenciar seus heróis e o mais importante, perpetuar suas
gerações.
- Senhor! Temos
solicitações de milhares de voluntários civis em vários planetas da federação,
estão saindo dos abrigos e aumentando as fileiras em áreas de embarques
militares – comunica o oficial.
O General Meadhas se emociona com a
notícia e fica em silêncio por alguns segundos.
- Não podemos
deixar esses planetas desprotegidos. Avise aos comandantes que aceitem os
voluntários, forneçam armas, montem defesas estratégicas nas cidades e em suas
órbitas.
O oficial fica olhando para o general sem
acreditar o que estava ouvindo.
- Comunique também
que nenhuma nave ou cruzador deve deixar seus mundos! Principalmente Rugo e
Oceano, se sucumbirmos, eles terão de assumir.
O oficial transmite a mensagem.
O General Meadhas segue para um
compartimento onde tem 360º de visão de tudo o que acontece no espaço. Ele
observa as suas ordens sendo imediatamente cumpridas nos planetas que se
voluntariaram, confere as manobras das naves dos aliados na órbita de Urbo. Ele
se entusiasma com a astúcia do Comandante Akash em projetar dezenas de versões
do Cruzador Sankta Spirito seguindo para rotas distintas, cujo objetivo é
confundir o inimigo. Ele sabe que o cruzador verdadeiro está seguindo para o
Planeta Gir. Seus olhos se voltam para as luzes que aparecem nesse mapa
estelar, indicado as naves mães inimigas saindo da hipervelocidade e já em rota
de combate, esperando o momento certo para disparar e aterrorizar Urbo. Ele
pensa em Mei e Solaris. Não existem garantias de que ele sobreviva para encontrá-las
de novo.
Uma pequena esfera de comunicação
brilhante e flutuante surgiu do piso, solicitando autorização de presença. O
general autoriza a entrada, mas continua concentrado no mapa pensando numa
solução para vencer a batalha em que o inimigo é bastante numeroso.
- Entendo sua
preocupação, velho amigo – diz uma voz.
O General Meadhas se vira lentamente sem
acreditar no que ouviu.
- Flavius!
O general o abraça e por alguns segundos
um sorriso é visto em sua face:
- Estou feliz em saber
que você está bem! Achei que estava entre as vítimas e desaparecidos de Coroni.
- Quando Coroni
foi atacado, fazia poucas horas que havia chegado a Urbo. Pensava em visitar
Mei. Estava com muitas saudades dela, afinal é isso que os padrinhos fazem.
- Como chegou aqui?
- Estava entre as
pessoas que foram resgatadas na embaixada, pretendia rever outros velhos
amigos.
- Mas de que nunca
preciso da força dos amigos. Olha só isso!
- Uma antiga
tradição do nosso povo: humarantes sempre batalhando de tempos e tempos, com
inimigos numerosos e perigosos.
- Dessa vez Flavius,
são muito mais numerosos. Parece que todo universo está contra nós.
- Se a tradição se
manter, nós vencemos!
- Mei não está
aqui – disse o general com um olhar de tristeza.
- Também não encontrei
Solaris.
- É uma longa história
amigo, em resumo, ambas estão no Planeta Gir correndo riscos de vida e
praticamente sem proteção. Descobri que os filhos dos deuses estavam entre o
nosso povo e Viga os quer a todo custo.
- Onde está Akash?
- A caminho de Gir,
é a minha única esperança de resgatá-las. Mas a cada instante, outras centenas
de naves inimigas aparecem em nossa galáxia. Não posso ir até elas, preciso
ficar e comandar essa guerra, o inimigo não pode nos dominar. Se essa porta for
aberta, dificilmente poderemos fechar de novo.
Flavius põem a mão no ombro do amigo:
- Essa porta não
será aberta, sei que não deixará.
Uma imagem do oficial de comunicação
aparece no grande painel, e avisa ao general.
- Senhor! Temos
uma mensagem do inimigo!
- Abra o canal –
ordena o general.
Ele observa atentamente a face do inimigo
no painel:
- Saudações!
General Anor Meadhas. Acredito que o momento não seja propício para
cordialidades e apresentações, mas acredite, é um prazer conhecê-lo.
- Quem é você?
- Sou conhecido
por Sparis Orie,
escolhido da Deusa Viga para comandar os ataques aos seus inimigos e liderar os
trois.
- O que querem?
- Um acordo, um simples acordo: Os
filhos dos deuses ou apenas um deles, em troca da paz com o seu povo.
- Aceito o acordo. Pode me levar!
- Sempre me causou surpresa o senso
de humor do povo humarante, aprecio isso. Mas general, não seria um pouco
inconveniente para o momento?
- Você queria pelo menos um filho dos
deuses? Então! Estou aqui! Sou um dos milhões de filhos da Deusa Luna!
Sparis Orie desaparece do painel de comunicação.
- Oficial o que houve?
- Não sabemos senhor! Foi
interrompida!
- Damne! (Maldição) – irrita-se o
general.
A energia no compartimento é desligada. Uma tênue luz branca ilumina o
ambiente. Lá fora, o oficial de comunicação tenta falar com o general sem obter
respostas e guardas se dirigem para averiguar o que houve, mas não conseguem
entrar até onde o general está.
- Flavius! Você está aqui? – pergunta
o general, sussurrando e procurando enxergar o amigo que não responde.
-
Tiu propono estos longe diskutata (Essa proposta será discutida por muito tempo) –
diz Sparis Orie, que se
materializa atrás do general.
- Já tem a minha proposta! Não me
admira por que Viga escolheu você para o trabalho sujo! Você é igual a ela! –
diz o general, adiantando passos para cima de Sparis Orie, que desaparece e
reaparece em outro ponto.
- Agradeço os elogios. Mas não
pensaria assim se a conhecesse. É um ser extraordinário. Deveria facilitar a
situação general, pois milhões de seus irmãos morrerão desnecessariamente ainda
hoje – continua Sparie Orie, sondando a mente do general que involuntariamente
pensa na filha.
– Pessoas que você ama e que são especiais.
Como por exemplo, alguém mais jovem e bela! - Sparie Orie capta a energia dos
pensamentos do general e identifica a natureza divina de Mei.
O general agoniza:
- Pare com isso!
- Espere! O nome dela é Mei? Planeta
Gir! Bem que eu desconfiava? – diz Sparis Orie forçando cada vez mais a mente
do general, fazendo-o sentir fortes dores de cabeça e desmaiar.
Sparis Orie desaparece.
Segundos depois as luzes e todo o sistema de comunicação voltam ao
normal. Os guardas entram as pressas e socorrem o general. Médicos são tele
transportados ao local.
- Onde ele está?
- Tenha calma senhor? De quem está
falando? – pergunta o médico.
A Embaixadora Suna Levigo entra no recinto e já encontra o general de
pé.
- Precisamos levá-lo para uma
avaliação – sugere o médico.
- Não precisa! Estou bem.
O general ordena que todos
voltem aos seus postos e pede a embaixadora que fique com ele:
- Anor! O que houve?
- Fiz contato com a liderança inimiga,
Sparis Orie é seu nome – responde o general ainda um pouco atordoado.
- Sparis Orie?
- Não pude evitar! Ele descobriu onde
Mei e os demais estão! Ele quer Mei! Vai capturar minha filha!
- Respire fundo e vamos manter o
foco. Nada vai acontecer com Mei.
O general olha para embaixadora e fala com a ponte:
- Oficial. Relatório!
- Inimigos se aproximando rápido!
Entrarão na zona de combate em dez minutos senhor!
- Ativar todas as defesas! Envie
esferas e caças para interceptação e disparos de plasmas contínuos e de longa
distância! Alertar as forças no planeta! Preparar para combate em solo!
A embaixadora observa o movimento das naves no mapa estelar.
- Anor, o que aconteceu aqui?
- Foi estranho. Recebi a visita de
Flavius, em seguida recebi uma mensagem do Sparis Orie, serviçal de Viga que
está liderando o ataque em nossa galáxia. De repente nosso sistema de
comunicação apagou e ele se materializou aqui onde estou. Ameaçando, pediu para
entregar os filhos dos deuses, mas a única coisa que tinha em mente era Mei.
Ele conseguiu extrair de minha mente, minha cabeça parecia que iria explodir.
- Flavius? Esteve aqui?
- Sim. Estava em Urbo a procura de
Mei e foi até embaixada. Disse que estava no grupo que foi resgatado. Quando
Sparis Orie chegou, Flavius havia desaparecido.
- Nunca tive oportunidade de comentar
com você, mas já tive uma experiência semelhante com Flavius. Ele possui
hábitos discretos e nunca se sabe ao certo onde ele está e se ausenta da nossa
presença com uma sutileza impressionante. Acredito que ele o deixou a sós no
momento do seu contato com o líder inimigo.
- Sei disso, não é a primeira vez que
Flavius usa seus truques. Já o perdi em vários jantares e encontros. O que me
preocupa é a determinação de Sparis Orie em achar que Mei é filha dos deuses!
Ele jogou claramente isso na minha cabeça!
As forças inimigas se aproximam do Planeta Urbo. A embaixadora não
poderia naquele momento revelar para o general o que sabe sobre Mei e os filhos
dos deuses. Ela sabia que ele deveria se concentrar em comandar a defesa do
planeta. A embaixadora faz uso do silêncio.
- Senhor! Metade da frota inimiga
entrou na hipervelocidade!
- Destino identificado?
- Sim senhor! Planeta Gir!
- Damne! (Maldição)
A embaixadora se aproxima do general e tenta acalmá-lo.
- Anor, uma coisa de cada vez. Você
não pode salvar agora nossos irmãos em Gir, mas pode evitar que sua casa seja
destruída. Faça o que tem de fazer. Confie nos deuses! Eles nunca nos
abandonaram e não vai ser agora que isso vai acontecer.
O general escuta as palavras da embaixadora em silêncio e se recompõe.
Ele sabe que ela está certa e apesar de toda a preocupação e amor que sente por
Mei e Solaris, ele precisa expulsar e eliminar a ameaça:
- Oficial!
- Senhor, general!
- Prepare a minha nave esfera,
estarei à frente da batalha!
A embaixadora toca no ombro do general.
- Anor! O que vai fazer?
- A Arca-lua agora está sob o seu
comando! Proteja Urbo. Tenho uma faxina para fazer!
- Anor! Não faça isso!
- Milhões de humarantes trocariam
suas vidas para está lá fora defendendo nosso povo! Preciso está perto para
coordenar o ataque.
Minutos depois, a nave esfera pilotada pelo General Meadhas segue para o
front de batalha e encontra-se com as demais naves humarantes e aliados. A
simples presença do General Anor Meadhas entre eles inspira ainda mais o
sentimento existente de honra, bravura e determinação.
O inimigo se aproxima as centenas e atendendo as ordens do general, as
defesas humarantes e aliadas partem em sua direção, iniciando assim os
primeiros disparos, choques e explosões. As manobras evasivas das esferas da
Arca-lua confundem o inimigo que não conseguem travar os alvos ou sequer
acompanhá-los visualmente, evitando os mesmos e procurando alvos mais
consistentes. Os caças aliados são mais lentos e recebem cobertura das naves
autônomas, que disparam sem parar e com precisão.
As naves mãe inimigas é o maior problema, pois à distância, causam
baixas nas frotas de defesas, disparando longos feixes de plasmas de grande
poder destrutivo e que enfraquece os escudos de defesa das naves autônomas,
caças humarantes, dos aliados e deles mesmos.
Os cruzadores enviam as contramedidas, evitando ao máximo que os
disparos destruam suas naves e também respondem com superior poder de fogo. A
impressão que se tem é de que quantos mais inimigos são destruídos, mais
aparecem. A Arca-lua encontra-se afastada da área de batalha, mas sempre
enviando mais esferas e tentando aplicar a melhor estratégia possível para
derrotar o inimigo.
Apesar de todos os esforços, as defesas de órbita não conseguem evitar
que um grande número de caças inimigos atravessem a atmosfera do Planeta Urbo e
alcance o solo. As baterias de plasma riscam os céus derrubando grandes
quantidades de naves inimigas e estas disparam a vontade, atingindo prédios e
outros belos monumentos arquitetônicos. Grande parte daa população continua
segura nas câmaras subterrâneas, apesar de ansiosos e assustados com os
estrondos com o próprio futuro.
Um oficial se aproxima da embaixadora. Sua expressão é a mais desoladora
possível:
- Que houve oficial?
- Senhora. Não são boas notícias.
Detectamos inúmeras formações de anfibinóides. Milhares deles sairão do subespaço
a qualquer momento. Nossas naves e o Planeta Urbo terão que triplicar as ações
de combate!
- Pelos deuses!
O General Meadhas pede mais reforço a Arca-lua.
- Embaixadora! Envie mais esferas!
- Já enviamos todas as esferas
disponíveis Anor! A nossa situação piorou! Os anfibinóides estão aqui aos
milhares.
O General Meadhas sentiu de fato, que não mais olharia nos olhos de Mei
e Solaris nesta vida:
- São muitos! Estamos em grande
minoria! Transporte a Arca-lua para o hiper espaço imediatamente e proteja os
embaixadores e mestres!
A embaixadora segue as instruções e inicia o plano de fuga. A Arca-lua
se ilumina e se prepara para entrar na hipervelocidade quando algo inesperado
acontece. As naves mães inimigas e seus caças começam a sofrer explosões
localizadas e cápsulas de fugas são injetadas.
A Arca-lua retransmite uma comunicação para a esfera do general:
- Anor! Temos uma intervenção!
- Estou vendo! Mas não consigo
acreditar!
- O Embaixador Nuada está no canal
privado – avisa a embaixadora.
- Embaixador Nuada!
- Navan! General. Peço que ordene aos
seus soldados para recuarem, os anfibinóides precisam fazer o seu trabalho e
não materializar nas naves erradas.
- O que está acontecendo? Os
anfibinóides estão atacando seus aliados?
- Nós somos seus aliados agora
general. Conseguimos entender os anfibinóides e firmamos um acordo. Até o
momento tinha dúvidas se eles confiariam em nós. Os anfibinóides são vítimas
escravizadas, oriundas de um universo paralelo.
O líder deles cujo nome é Ur, revelou que um poderoso ser dimensional
está tentando enfraquecer as nossas defesas.
- Sparis Orie! É o nome dele – disse
o general com uma grande angústia na alma. – Ele seguiu para Gir, está à
procura de Mei.
- Já temos reforços. O Cruzador Marte
está chegando ao Planeta Gir. Mei e os demais serão localizados. O regente de
Tryari e um deluviano estão apoiando a missão de resgate.
- Que tipo de acordo fizemos com os anfibinóides?
- Alguns. No momento certo,
explicarei todos os detalhes. O importante é que sabemos que são confiáveis e
não representam mais ameaça para esta galáxia.
- Não sei como conseguiu embaixador,
Mas somos gratos por salvar milhares de vida.
- General. Não conseguiremos chegar a
tempo para ajudar nossos irmãos. Sugiro que envie todos os NRs disponíveis para
ao Planeta Gir. Precisamos acrescentar para eles todas as vantagens que
estiverem em nosso alcance.
A Arca-lua inicia a ativação de coordenadas para a pirâmide de recepção
no Planeta Gir. Milhares de NRs são recrutados e recebem instruções do General
Meadhas para proteger Mei e seus amigos.
Um cenário desolador se apresenta agora no campo espacial de batalha
próximo ao Planeta Urbo. Incontáveis números de corpos, destroços de naves
entre poeiras e brilhantes nuvens radioativas, tudo isso só é amenizado pela
reconfortante tranqüilidade, que aparentemente definiu esse conflito.
As forças aliadas da federação comemoram a batalha de suas vidas, que
serão contadas aos seus filhos e netos. Heróis anônimos e seus feitos incríveis
que foram além da coragem e da razão.
Outras naves recolhem as poucas cápsulas de fuga inimigas. Soldados são
teletransportados para unidades hospitalares e as câmaras de regeneração estão
lotadas de feridos. As famílias em vários mundos da federação aguardam
impacientes, notícias de seus parentes que lutaram com honra, numa guerra nunca
imaginada. O povo humarante experimentou a dor que nunca foi sentida nesses
novos tempos. O medo em sua verdadeira concepção, a incerteza do futuro e o
esmaecimento de suas percepções diante da beleza do universo depois de provarem
a selvageria e arrogância de seres infelizes.
O poderoso inimigo foi neutralizado, subestimou os sentimentos mais
nobres que faz com que os humarantes sejam a liga que une povos de várias espécies
e raças na Galáxia de Áxis, onde há centenas de anos adotou como lar.
Mais ainda não acabou. As forças aliadas e subordinadas a Viga são
implacáveis e já estão se aproximando do Planeta Gir. Ameaçar a raça humarante
não foi suficiente para atingir seus objetivos ou distraí-los enquanto
descobrem e capturam os filhos dos deuses. Viga sempre será uma ameaça, não só
para os humarantes, mas para todos os tipos de vidas gerados pelos
co-criadores.
No Planeta Urbo, no pico de uma montanha, Argos Aury está silencioso
olhando para a pirâmide e acompanhando imagens da movimentação de NRs para o
Planeta Gir. Absorvido em seus pensamentos, ele não percebe a chegada
silenciosa de Flavius Fídio:
- Quanto tempo ainda temos?
- Estava aguardando a sua chegada. Estão
enviando NRs para Gir. A captura deles é só uma questão de tempo.
- Precisamos ajudá-los!
- Viga contra frágeis semideuses. Uma
luta injusta. Quantos deuses são necessários
para detê-la? Quantas vezes teremos que nos esconder e fugir? Viga está
chegando, mais forte e decidida do que nunca.
- Nossos irmãos
nos aguardam. Não devemos enfrentar Viga, isso nunca foi o nosso propósito. A
travessia será realizada em breve.
Flavius Fídio se aproxima da pirâmide:
- Os humarantes já
provaram que são dignos de honrar nossos legados. Precisamos ajudá-los, os
servidores de Viga serão impiedosos com os herdeiros!
- Somos
exploradores dimensionais, caro irmão. Estamos próximos de romper a última
fronteira. Viga não tem interesse em deter os seres conscientes deste universo.
O interesse principal é evitar que façamos a travessia.
- Veja o que
aconteceu com os anfibinóides! Um universo paralelo a esse que entrou em
colapso! Eles poderiam ter se tornado uma raça próspera, mais isso não
aconteceu. Seu planeta sofreu graves conseqüências, suas genéticas modificadas.
Eles eram humanos.
Ambos demonstram tristezas no olhar. Argos Aury comenta o fato:
- Nunca imaginei
que um dia poderia vê-los novamente. Foram importantes nessa batalha.
- Agradeça ao fiel
escudeiro de Viga que os trouxe para cá e ao Embaixador Nuada que lhes deram
uma segunda oportunidade.
- Sparis Orie! Sempre desconfiei de
suas intenções delirantes. Agora se deleita
com as promessas da caçadora e escolheu uma razão para a sua existência!
- Recrutar e
escravizar seres de mundos e dimensões diferentes com o único propósito de nos
perseguir! – disse Flavius Fídio com indignação.
Argos Aury se afasta da pirâmide:
- Seu filho Khufu e Solaris estão em Gir, em
breve encontrarão Mei e Gruner, os filhos dos
deuses estão se reunindo.
- Precisamos
ajudá-los – disse Flavius Fídio.
- De um jeito ou
de outro sempre interferimos prezado Deus Snefru. Sempre nos
preocupamos com o planeta Gir, sempre evitamos o contato direto da federação
com aquele mundo, mundo esse, criado por você. A esperança para os filhos dos deuses
se revelará.
Flavius Fídio muda a expressão do rosto:
- Será que ao
entregarmos a chave que nos guiaria para a última fronteira, Viga realmente desistirá
de sua caçada e pouparia os semideuses e esse universo?
Argos Aury está confiante:
- Acreditamos que
sim! Não haveria mais interesse em nós. A travessia estaria prejudicada. A nossa
esperança são os filhos dos deuses.
- Viga triunfará
então?
- Exato, meu
amigo. A chave retornará com Viga e assim libertaremos todos dessa jornada que
parece não ter fim.
- Mesmo assim os filhos
dos deuses estão em perigo, não estão seguros nesse universo– argumenta Flavius
Fídio.
- Assim como
aconteceu conosco, a chave está atraindo eles. Ela observa os eventos temporais
a nosso favor e tem planos.
- Conseguirá
salvá-los então?
- Você sabe que
precisamos ficar atentos para que isso ocorra. O nascimento dos semideuses se
reverteu em algum tipo de equilíbrio cósmico que só a consciência da chave sabe
o que significa e agora ela os quer reunidos e salvos.
A chave seria o guia que os deuses
confiavam para realizar seus propósitos. Ela os acompanhou em várias dimensões
e precisava retornar, sua missão foi cumprida. O Deus Navan criou a espécie
aumarina no Planeta Sinos e foi a chave entregou o mapa genético para a sua
criação.
- Precisamos
confiar no plano que foi elaborado pela chave, ela sabe qual será o destino dos
herdeiros e o nosso – disse Argos Aury, o Deus Áxis – Faremos a nossa parte e
seguiremos agora para o Planeta Gir.
Os dois deuses, Snefru e Áxis, entram na
tênue luz azul no interior da pirâmide com destino ao Planeta Gir.
Capítulo
17
LA SLOSILON
(A Chave)
No Planeta Gir, as naves se dispersam conforme a orientação do
Comandante Akash. O acampamento é transferido para outra região do continente,
tudo isso com o objetivo de confundir os inimigos e facilitar o pequeno e único
grupo de solo que seguirá para as montanhas.
O Comandante Sarte Sigmar ficou com a
equipe, acompanhado de três soldados, formando uma pequena escolta para Mei,
Aveline, Lunn, Yusuke e Dareh. Suas roupas especiais foram ativadas para o modo
camuflagem, dificultando serem percebidos nos ambientes em que passam.
Silencioso, o grupo acompanha as
orientações de Lunn, que observa cada detalhe da natureza em busca de pistas
que indiquem um melhor caminho para as perigosas, geladas e distantes
montanhas.
- Com sorte,
levaremos cinco dias para chegar naquele platô - disse Yusuke.
- Talvez menos –
responde Lunn – podemos descobrir atalhos seguros e protegidos.
O comandante tem outras preocupações no
momento:
- Cruzaremos
aquele vale e passaremos a primeira noite naquele bosque na base da montanha. As
árvores nos darão cobertura e ficaremos em barracas térmicas.
Yusuke usa um potente binóculo e observa o
vale.
- Ver algum
animal? – pergunta Dareh.
- Nenhum. Apenas
um curioso grupo de redemoinhos dançando no solo. Na verdade, tinha esperança
de achar algum daqueles restaurantes exóticos. Mas acho que vou me contentar
com os bonitos e maduros frutos que estão a nossa frente.
- Ele parece que
só pensa em comida, é impressionante – disse um dos soldados, falando baixo
para o outro.
O
comandante escuta o sussurro:
- E ele está certo
soldado. Precisamos encontrar o que for comestível e poupar as nossas rações
energéticas. Não sabemos quanto tempo permaneceremos na montanha.
Mei se aproxima de Yusuke e pede o
binóculo:
- Posso?
- Mas é claro que
sim! – responde com um simpático sorriso.
- Diga-me Yusuke. Você
é médico certo? Mas como surgiu seu interesse por gastronomia?
Yusuke respira profundamente como se
procurasse lá no fundo de sua alma, detalhes de uma agradável lembrança.
- Faz cinco anos.
Havia concluído meus estudos complementares em medicina natural e fiquei
interessado em culturas alienígenas que utilizam ervas medicinais para curar as
suas doenças. Fui voluntário em uma expedição para um planeta muito bonito e
sem habitantes na Galáxia de Rhivis.
- Rhivis? –
comenta Mei com surpresa, enquanto observa a base da montanha – Sua curiosidade
foi longe Yusuke.
- Ah sim! Eu tinha
uma grande curiosidade de conhecer a nossa galáxia vizinha, e isso ajudou muito
na decisão.
- Como se chama o
planeta?
- Mondena, Planeta
Mondena. Enquadra-se na categoria desse aqui, uma reserva, onde só existe vida
selvagem.
- Nunca ouvi falar
nesse planeta.
- Ele é um
daqueles planetas que tem um sistema de anéis. Seja em que continente estiver,
lá estão eles embelezando o céu.
- Aprendeu a cozinhar
em Rhivis?
- Não – responde o
Yusuke que balança negativamente a cabeça e sorrindo – Mas encontrei uma jovem
que conquistou os meus olhos e meu estômago.
- Nossa! Que
romântico! – Mei acha engraçado e se agrada da conversa olhando para o Dr. Lunn
– Ela é cidadã de Rhivis?
- Uma humarante,
dizia ser de Urbo. Sempre achei interessante o fato de nunca tê-la encontrado,
chamava-se Macha.
- Em que ela
gostava de se dedicar?
- Era botânica,
aprendi muito com ela. Nas horas livres ela gostava de misturar sabores e
conhecer pratos exóticos de várias culturas. Foi então que terminei me
interessando pelo assunto.
- Parece que você
queria impressioná-la – disse Mei com um ar inocente.
- Foi tão óbvio
assim?
- Transparente, eu
diria.
- A expedição
durou um ano, e nem sempre tínhamos tempo de ficar próximos
- Ela sabia dos
seus sentimentos?
- Acho que
desconfiava, apesar de não fazê-la se incomodar com isso, mas sabíamos que
havia amor entre nós, só não nos permitíamos vivê-lo, o trabalho que nos
aproximou também nos afastaria.
Yusuke faz uma pequena pausa:
- Acertamos de nos
encontrarmos em Urbo e eu contava os dias para esse momento chegar, e então
viver plenamente os nossos sentimentos.
- Sinto muito se
despertei essas lembranças – se desculpa Mei, tocando carinhosamente a mão de Yusuke.
- Tudo bem. Havia
essa possibilidade por que nunca chegamos a conversar sobre a nossa vida
pessoal. Mas eu sentia que minhas mãos gelavam quando ela olhava para mim. Era
difícil de acreditar que aquele brilho nos seus olhos não estava dirigido para
o meu coração.
- Teve notícias
dela depois? – pergunta Mei, comovida com a situação e baixando o binóculo.
- Macha nunca
voltou para Urbo – revela Yusuke, com tristeza no olhar.
- Desculpe minha
curiosidade, mas o que aconteceu com ela?
- Minha
permanência na expedição havia sido concluída. Macha ainda ficaria mais algumas
semanas, pois ela teria de concluir algumas coletas de campo. Apesar das várias
recomendações, ela sempre gostava de trabalhar sozinha. Uma vez ela escorregou
e feriu a mão numa planta espinhosa, um corte que lhe deu uma pequena cicatriz
que eu mesmo cuidei. Eu disse a ela que em Urbo eu tinha recursos para apagar a
marca e ela respondeu que gostaria de ficar, pois era uma lembrança minha. No
fim de tarde, daquele mesmo dia, Macha saiu para os campos e não retornou. A
noite havia chegado e todos que estavam no posto avançado, inclusive eu,
procurávamos por ela. E assim foi durante vários dias, usamos todos os recursos
tecnológicos disponíveis. Macha simplesmente sumiu.
- Desculpe. Acho
que não deveria ter insistido em perguntar sobre ela.
- Está tudo bem.
Já faz algum tempo.
Yusuke avança sobre uma subida mais íngreme.
Mei aproveita para observar mais uma vez com o binóculo e ver um vulto de um
animal saltando rapidamente sobre as rochas, no alto da montanha. Ela tira o
binóculo e coloca de novo. Tenta achar o animal. Yusuke lhe oferece a mão para
Mei subir com segurança:
- O que foi? Viu
alguma coisa?
- Não tenho
certeza! Parecia um animal, mas quando olhei de novo havia sumido. Era rápido!
Lunn se aproxima:
- O que houve?
- Mei acha que viu
algum animal.
Lunn pega o binóculo:
- Deixe-me ver. Se
tiver algum animal deve está escondido. Vejo alguns redemoinhos se deslocando
de uma trilha da montanha, talvez uma ilusão de ótica.
- É possível. Mas
não foi na planície. Foi na montanha.
- O equipamento
tem memória de gravação, quando acamparmos poderá revisar as imagens. Em todo
caso, vou dizer ao comandante que podemos ter companhia.
- Tudo bem,
faremos isso.
As horas se passavam e muito foi
percorrido pelo grupo. Ainda não havia sinal de perigo nas planícies. O
Comandante Sarte recebe um último contato de uma das naves que estavam
dispersas.
- Senhor! Naves
inimigas se aproximam!
- Quantas?
- Centenas senhor!
Já localizaram as nossas naves e estão em curso de perseguição! Um grupo
inimigo passará onde vocês estão!
- Quero que todas
as naves ativem o piloto automático e sigam para longe deste continente. Todos
os soldados devem ficar em solo, escondidos e aguardando reforço! Não utilizem
mais os comunicadores ou nenhum instrumento até enviarmos os nossos sinais
luminosos!
- Entendido
senhor! Desligando comunicações.
O comandante olha para o grupo:
- Temos companhia
precisamos nos esconder!
O grupo se deita no chão. O modo
camuflagem se ajusta as cores e vegetação do solo. As naves inimigas passam
rasantes, produzindo um zumbido ensurdecedor.
- Passaram por
nós! Não fomos vistos! – Comemora Yusuke, mas por pouco tempo.
- Olhem! Um deles
voltou! – alerta Aveline.
- Estão rastreando
algum sinal! – sussurra o comandante.
Lunn imediatamente desliga seu
equipamento, um tipo de computador quântico que ele usa no punho.
Eles ficam imóveis com os rostos junto ao
chão. A nave voa em círculos, explora a região de entorno e segue para junto
das outras.
- Dessa vez foi
perto! – disse Mei um pouco assustada.
Lunn fica preocupado:
- Não podemos ligar
o consulte! Estamos agora pela memória, conhecimento e instintos. Por um
momento achei que nossos braceletes poderiam nos revelar.
- Acredita que eu nem
pensei nisso? – Disse Yusuke – Eu achei que poderia ser a bateria do binóculo.
- Acho que agora
devemos pensar em tudo – alerta o comandante – A nossa situação ficou crítica.
Não podemos usar comunicadores e o consulte.
Yusuke olha a vegetação alta que está
próxima:
- Podemos nos
esconder entre as árvores e usar as barracas camufladas e descansar um pouco? Temos
menos de um dia e meio para as noites longas chegarem novamente. Precisamos recuperar
nossas forças para chegar às montanhas e achar algum abrigo.
- Também estou
exausta e com fome – disse Mei.
- Ah! Alguém fala a
minha língua aqui! – Diz Yusuke – Mas eu
confesso que também estou tão cansado que prefiro armar a minha barraca
instantânea e dormir um pouco.
- Acho que não vai
ser possível – diz Lunn.
- O que está
dizendo? – pergunta Dareh.
- Nossas barracas
não emitem sinais eletrônicos, mas pode funcionar como um localizador térmico.
Um piloto inimigo mais atento conseguiria identificar.
- Sendo assim, vou
poupar esforços – Disse Yusuke, bocejando e seguindo para debaixo da sombra de
uma árvore.
Aveline se aproxima de Mei e passa a mão
em sua cabeça.
- Você está bem?
- Por que estou
tão cansada? Já fiz caminhadas maiores do que essa e nunca fiquei assim.
- A gravidade
desse planeta é diferente e ainda não estamos adaptados a sua atmosfera. Pode
demorar horas ou dias.
O comandante avisa ao grupo para ficarem
juntos e descansar por uma hora antes de seguir para a montanha. Mei se
aproxima de Lunn e o convida para se juntar as sombras das árvores para
descansar.
Após uma hora, todos começam a despertar. Mesmo
com os NRs atuando para diminuir os efeitos da gravidade, seus corpos ainda
sentem os efeitos da adaptação e estão famintos. Yusuke pergunta a Dareh onde
está Lunn.
- Não sei. Estava
bem aqui, perto de Mei.
Dareh se levanta e olha para as planícies:
- Lá está ele!
- Parece que está
fazendo novos amigos? – disse Yusuke.
O restante do grupo se levanta e observam
Lunn distante duzentos metros e alisando a crina de um mesca. O animal se
apresenta completamente inofensivo, aceitando comer um fruto oferecido por ele.
- O que ele está
fazendo? – adverte o comandante – Eu disse para todos ficarem juntos!
O comandante grita, pedindo ao Dr. Lunn
para ter cuidado e retornar ao acampamento. Ele responde com um gesto, dizendo
que façam silêncio.
- O que está
acontecendo com esse rapaz? – comenta o comandante.
- Ele está se
comunicando com o mesca – explica Mei.
- Incrível! O
animal se comporta como se já o conhecesse – observa Aveline.
O mais surpreendente, é quando o mesca se
abaixa e oferece montaria para Lunn. Ele monta no animal, enquanto os outros se
aproximam.
Todos no acampamento ficam sem palavras,
com exceção de Yusuke que começa a rir.
- Se ele pode, eu
também posso – diz ele, seguindo em direção a outro mesca.
O animal se assusta um pouco com a maneira
não muito delicada de aproximação do médico:
- Venha cá meu
rapaz! Venha cá! Eu estou com fome, mas não vou lhe comer.
Yusuke consegue montar no mesca e simula
oferecer um chapéu como saudação de um cavaleiro e recebe as palmas animadas de
Mei e Aveline:
- Seu amigo gosta
de uma exibição – diz um dos soldados.
- É o melhor amigo
do mundo – diz Dareh, que vai em seguida e também consegue montar.
O comandante olha para todos:
- Mito bem! Parece
que a nossa companhia agora é montada. Vamos lá! Encontrem o mesca que gostem
de vocês!
O grupo passeia no entorno do acampamento
para se acostumar a montaria. Eles colhem e comem alguns frutos e ficam mais
revigorados, principalmente em saber que não vão precisar caminhar todo o
percurso até a montanha.
Após
certo tempo, todos os integrantes do grupo estão prontos e montados em seus
mescas. Próximo de onde estavam, outros mescas observam tranquilos, mas não
demonstram interesse de se aproximarem.
Um par de redemoinhos surge entre as
pedras, se deslocando para a esquerda.
O mesca montado por Dareh vocaliza um tipo
de sinal e toma a dianteira e os demais o seguem em fila indiana. O comandante
se incomoda pelo fato de não poder controlar o animal, que escolheu o caminho a
ser seguido:
- Eles estão indo
para o lado certo?
- Tudo indica que
sim – responde Lunn – A não ser que aqueles redemoinhos conheçam o caminho. Mas
na verdade, acredito que com a noite se aproximando, eles devem ter um abrigo
na montanha. Infelizmente não posso ligar meu consulte para afirmar com
certeza.
As horas se passam e apesar dos mesca
andarem devagar, o grupo sobe cada vez mais alto. Uma rajada de vento frio e
arrepiante atinge o grupo. A natureza avisa que a noite longa se aproxima.
Ao longe, Lunn observa bandos de anilos,
voando do oeste e se reunindo com outros bandos do sul e do norte.
- Interessante.
- Posso saber? –
pergunta Mei, em seu mesca logo à frente.
- Essa cadeia de
montanhas é gigantesca e se entende por centenas de quilômetros. Aqueles
animais estão voando para um único ponto.
- Deve ser onde
fica o ninho deles.
- Mesmo assim não
faz sentido – disse Lunn, olhando com o binóculo potente – Não são vistos
voando para outro lugar, só ali.
- O que pode ser
então?
- Antes de
desligar o consulte, estava analisando uma freqüência eletromagnética muito
baixa que provavelmente vinha daquele platô na montanha.
- O que suponho
que é para lá que estamos indo – disse Mei.
- Nós não, os
mescas – comenta Aveline.
- Bem – continua
Lunn – Os mescas e nós, estamos indo para a mesma região em que aqueles
voadores foram. Alguns animais possuem traços de magnetita no parte interior da
cabeça que ajudam na navegação, que nesse caso é influenciado pelo campo
magnético do planeta.
- O que faz crer
que? – Aveline insinua uma resposta – Existe algum campo magnético na montanha?
- Teriam que
decidir entre se alimentar ou voar milhares de quilômetros para fugir do frio –
completa Lunn – o que eles fazem então?
Mei participa dos questionamentos:
- Realizam
pequenas migrações para as planícies distantes. Alimentam-se e retornam para o
único norte que lhes favorecem, a montanha.
- Muito bem –
elogia Lunn – Está me saindo uma excelente cientista.
- Mas se a
montanha emite um tipo de sinal, por que os inimigos não captaram?
- A freqüência é
muita baixa Mei – responde Lunn – é menos de 2 hertz.
- Um pouco mais
que um som da batida do coração – comenta Dareh.
- Então tem alguma
coisa lá em cima, adormecida e com tecnologia suficiente para emitir ondas
cíclicas? - pergunta Aveline.
Yusuke se aproxima para entender a
conversa, pois o vento começar a zunir e escoar pelas fendas da parede
montanhosa. Yusuke brinca para poder superar o próprio desânimo:
- Não entendo
muito disso, mas acho que se trata de um microondas gigante! Se for isso, os
deuses escutaram as minhas orações! Podemos cozinhar qualquer coisa sem fazer
fogo!
Lunn sorrir e fala em voz alta, tentando
vencer o ruído do vento.
- Gostaria muito
que fosse verdade meu amigo, mas acho que pode ser muitas coisas.
O mesca de Dareh vocaliza, mais uma vez o
outro redemoinho segue por uma trilha a direita. Poucos metros depois o grupo
encontra uma caverna, aquecida e seca.
Os primeiros flocos de neve começam a cair
ofuscando o crepúsculo e a paisagem dos vales baixos.
Os soldados deixam os mescas próximo à
entrada da caverna, e os animais imediatamente se deitam, esticando o pescoço e
entrando em hibernação. Em seguida, fazem uma vistoria no interior da câmara e
certificam-se que é seguro.
Lunn explica que as barracas térmicas
podem ser ativadas e que o inimigo não poderá detectá-las.
A exaustão se apoderou de todos, e depois
de uma rápida refeição, seus corpos se entregaram ao descanso. Lunn e Aveline
ainda conversam sobre o que poderá ser o sinal captado na montanha.
- O Planeta Gir
faz parte da federação, pode ser que exista um transmissor ou um posto avançado
– comenta Aveline.
- Saberíamos disso
se existisse – responde Lunn, olhando para seu computador quântico e pensando
nas respostas que poderia encontrar se não estivesse desligado.
- Talvez um campo
magnético provocado por movimento geotérmico, essa montanha bem que poderia ser
um vulcão extinto – diz Aveline.
- Olhe para essas
rochas – aponta Lunn, iluminando com um facho de luz projetado da própria roupa
– Não são rochas vulcânicas, é uma montanha de dobramento e muito antiga.
- Já pensei que
poderia ser um canhão de fótons subterrâneo, talvez um tipo de sinalizador ou
uma arma – sugere Aveline – Certamente os militares não nos diriam se não
perguntarmos, é claro.
- O comandante não
esconderia de nós essa informação, não nestas circunstâncias.
Discretamente, Mei se aproxima de Lunn e
de Aveline:
- Posso me juntar
a vocês?
- Sim! Claro! – Lunn
convida com um sorriso.
- Acho que eu deveria
ir para outro local – disse Aveline, percebendo os olhares do casal.
- Não, por favor –
interrompe Mei – Fique aqui conosco, não queria atrapalhar seus pensamentos.
- Você não
atrapalha e estou exausta para pensar agora.
- Não conseguir
descobrir o que havia na gravação do binóculo. Precisaria instalar a imagem no
consulte para identificar melhor. E isso não podemos fazer agora.
Lamentando com um gesto facial, Aveline
concorda com Mei:
- Acho melhor
dormirmos um pouco – recomenda Lunn – temos uma longa noite pela frente.
Em outro canto da câmara Dareh não
consegue dormir e recomenda para o Yusuke tomar um dos seus remédios para
evitar o ronco, e ele garante que não tem esse problema, responde que é o seu
estômago sonhando com um banquete.
O
comandante Sarte planeja os turnos com os soldados e lamenta não poder instalar
detectores de aproximação na entrada da caverna. Ele passa cuidadosamente entre
os mescas adormecidos e faz uma pequena vistoria do lado de fora. A noite se
aproxima com um azul escuro, deixando passar alguns raios dourados entre nuvens
distantes. Não se escuta mais o som dos anilos, que já se esconderam no
interior da montanha. Ao retornar para a caverna ele escuta um zunido
diferente, volta à cabeça para traz e não ver nada, apenas um redemoinho
pequeno se distanciando.
Após 12 horas de sono profundo, Mei que se
encontrava próximo a Aveline e Lunn,
escuta uma conversa baixa entre eles. Ela ainda está sonolenta e percebe que
seus amigos estão despertando. Consegue pensar que não são mescas acostumados à
rotação do planeta e que só acordam com a luz do dia. Imagina que Yusuke fará
algo saboroso para o desjejum e que em breve verá seus pais.
Na verdade, enquanto Aveline e Lunn
dormem, seus NRs se manifestam e toda vez que isso acontece seus olhos
esquerdos ficam vermelhos e brilhantes.
- Não conheço
nenhum registro de freqüência dessa natureza. Devemos está em cima da fonte – disse
o NR de Lunn sussurrando para o NR de Aveline que responde:
- Os NRs que
chegaram da federação estão sendo guiados para encontrá-la e precisamos
garantir que isso aconteça.
- Não foi
detectado fontes radioativas perigosas ou algum sistema de propulsão conhecido.
- Mas não há
dúvida de que se trata de um meio de transporte alienígena desconhecido. Não
sei se poderemos convencê-los a entra nessa nave ou para onde ela seguirá.
- Descobriremos o
que fazer. Ela está despertando! Desativar inserção!
Mei escuta o nome nave e se esforça para
acordar. Sua visão está um pouco embaçada, apesar de sentir que seu corpo está
mais bem adaptado aquele planeta. Ela se vira pra observar Aveline e Lunn e tem
a impressão de ver dois pontos de luz vermelha se apagando:
- Acho que essa
gravidade produz muitas ilusões de ótica – disse Mei, falando para Aveline e
Lunn.
Mas para a surpresa dela, eles ainda
estavam despertando:
- O que disse? – pergunta
Aveline esticando os braços e iniciando um alongamento.
- Não é nada. Acho
que costumo sonhar acordada.
Lunn abre os olhos:
- Não sei o que
falar: bom dia ou boa noite?
- Ótimo saber que
você acorda com bom humor – disse Mei, acomodando os cabelos.
Observar Mei com o rosto descansado de uma
noite bem dormida faz Lunn se admirar ainda mais com a sua beleza e
definitivamente reconhecer que está apaixonado. E se aproveitando da ausência
de Aveline, ele se aproxima dela e lhe rouba um beijo na boca. Mei corresponde,
sentindo seus lábios aquecidos e fazendo seu coração bater mais forte:
- Quando tudo isso
acabar, gostaria de tirar umas férias em Urbo. Você me acompanharia? – pergunta
Lunn.
- Com você eu
ficaria em qualquer planeta do universo – responde Mei com um sorriso maroto –
Até mesmo aqui, em Gir.
Lunn olha ao redor da caverna:
- Seria perfeito.
Faríamos algumas adaptações.
- E as noites não
seriam tão longas – sorrir Mei.
Yusuke se aproxima com duas tigelas de
cerâmica:
- Estou
interrompendo? Achei que vocês gostariam de comer algo quente.
- Onde achou isso?
– pergunta Lunn.
- Meu amigo. Já
andei visitando cavernas em algumas civilizações e desconfiei dessa logo que
cheguei. Estávamos cansados da viagem e tudo em que pensamos era dormir. Mas
acordei antes de vocês e fui explorar com o comandante o interior da caverna e
achamos muita coisa.
- Que tipo de
coisas? – pergunta Mei, curiosa.
- Esta caverna é
um tipo de posto avançado. Existe uma fonte de água cristalina correndo mais
adiante e muitos utensílios domésticos, de caça, de montaria, ervas medicinais e aromáticas. Isso quer dize
que alguém cozinhava por aqui.
O comandante se aproxima e comenta:
- Os soldados
foram até o limite da caverna. Não há saída. Mas com certeza já houve
movimentação aqui antes. Concordo com o nosso amigo. Pela forma em que as
coisas estão dispostas, é com certeza um ponto de parada.
Aveline comenta:
- Então os mescas
sabiam disso? São viajantes assim como os que montavam.
- E foram muito
receptivos com Dareh, como se já o conhecesse – comenta Mei.
- Pelo que sei,
Dareh nunca esteve aqui antes – responde Yusuke.
- Falando nisso.
Onde está ele? – pergunta Lunn.
- Continua
dormindo profundamente junto aos mescas – diz Yusuke.
- Acorde ele
Doutor – recomenda o comandante – Ela terá outra noite para dormir. Agora
precisamos nos alimentar e mantermos aquecidos.
Durante a refeição, eles retornam a conversa
e elogiam a comida feita pelo Yusuke. Apenas Mei não quis nem provar a comida
feita pelo médico e se desculpou com ele, alegando não está acostumada com
certos alimentos.
- Essas ervas dão
um sabor especial – disse Yusuke – são inofensivas e vão ajudar a relaxar.
- Observei que a
cerâmica é bem elaborada. As sacas e cestos são costurados com precisão e
esmero – comenta Dareh, ainda com ar sonolento e olhando o interior de uma
bolsa de couro.
- Não tem nada
dentro – diz um soldado que se aproxima – Já olhamos tudo.
Dareh coloca a mão dentro da bolsa e
retira um pedaço de tecido.
- Tem certeza? –
diz ele.
- Como você sabia?
– perguntou o soldado.
- Não sabia –
responde Dareh – Apenas senti que o fundo da bolsa estava mais volumoso, como
se escondesse um fundo falso.
Dareh abre o tecido.
- O que temos
aqui! Algo muito precioso do ponto de vista arqueológico – diz ele com
surpresa.
- O que tem aí? –
pergunta Mei curiosa.
- Não sei direito.
Parece uma pintura ou algo assim.
- Deixe-me ver
isso –Yusuke pega o tecido e olha os desenhos.
- Então? Já viu
algo assim?
- Já vi parecido
em alguns mundos, em Rhisvi, Parece ser uma festa ou uma comemoração.
- Posso? –
pergunta Mei esticando a mão. Yusuke entrega o tecido.
- Tem razão, é uma
festa. E está parecendo um casamento.
Lunn encosta em Mei para observar melhor.
- Olha só Yusuke!
Tem uma mesa de comida e se você olhar os detalhes tem um casal de noivos aqui.
- Notei isso.
- Os noivos? –
pergunta Aveline.
- Não. O banquete
– responde Yusuke fazendo uma expressão desolada – Chegamos atrasados.
O sorriso é geral,
até os soldados não resistiram e depois de provar o ensopado de Yusuke já o
vêem com bastante simpatia.
- Mas quem fez
isso? Quem são esses seres? Onde estão? – pergunta o comandante.
- A nossa estação
de observação é a mais próxima desse planeta e sempre nos interessamos em
conhecer o que está por perto, até mesmo por uma questão de segurança – explica
Lunn – Posso lhe garantir que nunca existiu nenhuma civilização neste planeta.
- Pode ter sido apenas
de passagem – diz Mei – Lembra que detectamos alterações em sua exosfera?
- Foi o que nos
motivou a vir aqui – responde Lunn – Só que isso aqui é diferente, é local e
ligado a raízes culturais. Estamos numa caverna em que os passantes faziam
repouso, comiam, transportavam coisas ou até mesmo algum tipo de comércio.
- O dono dessa
bolsa era um tipo de mensageiro – diz Dareh olhando para todos e arriscando uma
sugestão – Bem, eu acho, a julgar por esse tecido. É a única coisa que tinha na
bolsa.
O comandante fica intrigado:
- E onde havia as
festas, havia mais deles. Mas onde? E para onde foram? Concordo com Lunn, não
faz sentido que seres conscientes vivessem aqui no Planeta Gir sem que a
federação não suspeitasse de sua existência.
- Ou...? – insinua
Mei.
- Ou? – diz o
comandante.
- Que alguém não
quisesse que a federação soubesse.
- Somos pacíficos
e ajudamos muitos povos. Não faria sentido esconder algo assim.
- Acho que devemos
deixar esses objetos onde o encontramos – disse Yusuke – Podemos está violando
um importante sítio arqueológico. Ficarei apenas com um pouco das ervas
aromáticas e medicinais. Se sairmos vivos daqui, pretendo pesquisar e encontrar
respostas.
- Muito bem! Todos
já comeram e se divertiram! Mais duas horas no máximo e voltaremos a dormir –
ordena o comandante.
Nesse tempo, cada um resolve fazer alguma
coisa pessoal ou de rotina. Mei e Lunn preferem ficar juntos e conversar um
pouco mais, fazendo planos para o futuro. Em algum momento, a conversa deles
faz Mei lembrar-se do que escutou horas atrás.
- Você acha mesmo
que pode ser uma nave aquele sinal que você detectou?
- Nave? – disse Lunn
– Não me lembro de ter falado de nenhuma nave.
- Eu ainda estava
sonolenta, mas escutei bem você e Aveline se referindo na possibilidade de
encontrá-la ou algo assim.
- Desculpa minha
querida, mas não me lembro de ter falado isso – diz ele fazendo um gesto para
que Aveline se aproxime.
- Posso ajudar?
- Aveline, Mei
escutou uma conversa entre nós sobre aquele sinal ser de uma possível nave
alienígena. Você lembra isso ou costuma conversar com sonâmbulos?
- Não me lembro de
nada antes de abrir os olhos e ver Mei.
- Mas eu escutei
vocês dois conversando – disse Mei com bastante segurança.
Lunn se aproxima dela:
- Não estamos
dizendo ao contrário. De fato tudo é possível, muitas coisas inexplicáveis
acontecem nesse mundo e precisamos ir com calma para descobrir por onde começar
a pensar.
Yusuke vai passando por eles e escuta a
conversa:
- Inexplicáveis?
Mei não perde tempo:
- Yusuke! É
possível dois sonâmbulos conversarem e esquecerem depois?
- Não me lembro de
algum caso assim – responde o médico sacudindo os ombros e pegando um punhado
de sementes de um saco - Mas faria sentido se os dois estivessem sonâmbulos e
conversando que ninguém se lembre. Mas por que tudo isso? Quem pelos deuses é
sonâmbulo nesse grupo? Espero que não sejam os soldados de arma na mão!
- Mei confirma que
ouviu eu e Lunn conversando sobre a existência de uma nave nessa montanha –
disse Aveline – Não nos lembramos disso.
- Baseado em que?
- Naquele sinal
que Lunn havia captado no consulte.
- Talvez tenha
sido o subconsciente de vocês agindo. Nossa mente pode está procurando
respostas já que não temos a ajuda daquela imprescindível maquininha ali! –
explica Yusuke apontando para o consulte.
- Isso é estranho
– disse Mei – ficarei mais atenta da próxima vez.
O comandante avisa que está na hora de
todos dormirem e que logo no primeiro raio de luz vão continuar a jornada.
Em pouco tempo todos estavam profundamente
adormecidos e durante horas, o único ruído que existia era do vento, renovando
o ar frio dentro da caverna.
Faltava alguns minutos para que a luz
finalmente voltasse ao planeta, apesar da neblina que ainda demoraria para
dissipar e melhorar a visibilidade naquela altitude da montanha.
Ainda pensativa do que havia acontecido,
Mei levanta-se e vai até o fundo da caverna encher seu cantil com água fresca
da montanha e toma cuidado para não acordar seus amigos que parecem estar
hibernando como os mescas. Ela se abaixa e começar a encher o cantil. Um fino
raio de luz passa por uma fresta na pedra e ilumina a água e pedras de
cristais. Ela fica encantada com o cenário e feliz por mais uma manhã que
chega. Uma esperança de voltar para casa.
Quando voltava para o salão, onde todos
dormiam, Mei escutou os mescas acordando, mas como não conhece os hábitos
desses animais, não entendeu que se tratava de um alerta. Desconfiada, ela
subiu numa pedra alta e ativou o modo camuflagem. Ela observava atônita, que
seres pequenos e estranhos se aproximavam da entrada da caverna e isso assustou
os mescas, fazendo-os fugir.
Os soldados e o comandante não despertaram
e ela temia gritar, quando sentiu a mão atrás dela pedindo para ficar escondida
e não sair do lugar. Era Aveline com uma arma não mão.
- Está tudo bem!
Vamos cuidar disso! Procure manter a calma – disse ela.
Mei não poderia ficar calma, o olho
esquerdo da amiga estava vermelho e brilhante e a sua voz um pouco diferente.
- Quem é você? O
que está acontecendo?
O NR de Aveline sabia que tinha que ganhar
a confiança de Mei com alguma resposta. Não poderia arriscar sua vida:
- Sou um Nanorob,
meu nome é Iron, categoria Ceres. Estamos sendo atacados por aturianos. Sua
amiga está bem, mas preciso que confie em mim e fique quieta! – fala o NR com
firmeza.
Mei obedece e procura se esconder. Ela
observa Yusuke, que também estava com o olho esquerdo vermelho e brilhante,
balançando a cabeça afirmativamente para Aveline e destravando uma arma de
plasma para o nível mortal.
Um grupo de aturianos se aproxima e tenta
atacar um dos soldados, mas é mortalmente ferido pelo NR de Yusuke que vai até
lá fora enfrentar os inimigos. Mei não ver o que acontece, mas tapa os ouvidos
devido o barulho provocado pelos disparos fazendo ecos na caverna.
O restante do grupo já estão despertados,
imóveis e todos com os olhos esquerdos vermelhos e brilhantes. O NR de Yusuke
retorna para onde estava deitado. O NR de Aveline que estava embaixo guardando
a proteção de Mei olha para ela e diz que sua amiga Aveline sabe da existência
deles e que ficará feliz em dividir esse segredo com ela e com os outros. Mei
balança a cabeça afirmativamente e mais rápido que o comum, ainda está nervosa.
O NR se afasta e ela o chama:
- Iron!
O NR volta o olhar para Mei.
- Por que meu olho
não fica vermelho também?
O NR sorrir e diz que ela é especial e que
um dia saberia todas as respostas, mas não naquele dia. O NR se afasta devagar
e Mei desce as pressas pela pedra.
- Espere!
O NR mais uma vez retorna o olhar.
- Obrigada!
O NR levanta a mão, faz uma saudação e
volta a se deitar no mesmo lugar:
- Até outro dia
Mei.
Ainda sob os efeitos da adrenalina, Mei
bebe um pouco da água do cantil e se aproxima com cuidado. O comandante se
levanta rapidamente, acordando os soldados. Um odor de ozônio no ar se mistura
com uma pequena salivação espumante em suas bocas. Isso acontece toda vez que
uma arma de plasma é disparada em alvos próximos.
- O que está
acontecendo? – pergunta Yusuke.
- Peguem suas
armas! Houve disparos de plasma por aqui!
- Disparos? Não
escutei nada – comenta Dareh – Tenho sono muito leve.
- Falando em sono,
onde estão seus amiguinhos? – aponta Yusuke para lugar onde os mescas estavam.
- Devem está lá
fora – Dareh tenta se levantar e a sonolência o faz tropeçar.
- Calma amigo!
Fique aqui, vou olhar lá fora, acho que foram comer alguma coisa – tranquiliza Yusuke.
O comandante está conversando com os
soldados, ele quer saber o que houve com os turnos que foram quebrados e olha
para Yusuke saído da caverna.
- Mas o que será
que ele está fazendo! Doutor! Volte aqui!
Yusuke ao chegar na parte externa da
caverna, ainda nublada e fria, olha para o chão coberto de neve e volta correndo.
- O que houve
Yusuke? – pergunta Dareh.
- Tem pelo menos
uns vinte aturianos mortos lá fora! E pelo cheiro de ozônio no ar foi de arma
plásmica! – diz Yusuke, apontando para fora da caverna e recuperando o fôlego.
O comandante vai lá fora com os soldados e
confirma as mortes do aturianos. Um dos soldados, usando o binóculo, avista um
movimento em outra escarpa de montanha:
- Senhor! 200
metros e 11 horas a oeste!
Sem perder tempo, o comandante toma o
binóculo do soldado e foca o objeto:
- Dois aturiano
subindo rápido para aquele topo! Maldição! Um deles está com um sinalizador
sônico na mão!
Um dos soldados avisa que está sem o sinalizador.
- Deve ter roubado
enquanto eu dormia. Desculpa senhor.
- Não é culpa sua
soldado, alguma coisa fez a gente dormir demais. Agora temos que derrubar
aquele aturiano antes que seja tarde.
- Está na mira
senhor! – disse o soldado que teve seu sinalizador roubado. Ele segura a arma
com as duas mãos e atira com precisão no aturiano, deixando cair o sinalizador.
- Belo tiro!
- Obrigado senhor!
Mas o outro aturiano pula no ar e pega o
sinalizador finalizando a subida que está muito próxima.
- Ele pegou o
sinalizador senhor! – diz o soldado que faz outro disparo.
O aturiano é ferido e cai da pedra em direção
ao precipício, mas ainda no ar, ele tem forças para disparar o sinalizador. Uma
poderosa onda sonora se projeta criando uma pequena avalanche e derrubando
pedras. O comandante olha para os soldados e bastante irritado retorna a
caverna.
- Senhor, creio
que sou o responsável pelo sono demorado e reparador – Confessa Yusuke, todo
sem jeito e com palavras brandas.
- Doutor Yusuke
Jun! – fala o comandante com firmeza.
- O caldo que
preparei. Usei um pouco de uma erva relaxante, inclusive comum em nossos chás
em Urbo. Mas observando detalhadamente, percebo que era uma espécie diferente,
possivelmente uma evolução...
- Já entendi doutor!
Seu caldo é muito bom e a erva é ótima, faz tempo que não durmo tão bem. Mas
por favor! Da próxima vez tenha mais atenção.
- Comandante – se
aproxima Dareh – A culpa não é dele. É minha. Desde que chegamos aqui, tenho
dificuldades para dormir. Havia pedido para Yusuke um remédio e ele prefere indicar
ervas medicinais.
- Como essas ervas
foram parar na meu caldo e dos soldados?
- Estava ajudando
Yusuke a preparar o caldo e em vez de usar a erva aromática, devo ter usado a
medicinal. Estava um pouco escuro, eu sinto muito.
- Muito bem!
Doutor guarde umas amostras destas ervas relaxantes para eu levar para casa e
faça mais chá por que vamos precisar!
- O que houve
comandante? – pergunta Aveline.
- Se o que matamos
lá fora não foi um efeito colateral do caldo que tomamos, um aturiano acaba de
enviar um sinal sônico.
- Escutamos os
disparos e muito barulho.
- A boa notícia é
que Lunn já pode ligar seu consulte e nós podemos ligar os comunicadores, agora
não faz a menor diferença, o inimigo já conhece a nossa posição.
- E a má notícia –
pergunta Dareh.
- Os animais
fugiram, não estão em lugar nenhum.
- Encontramos
rastros descendo a montanha, acho que foram rápidos – falou um dos soldados.
- É natural que
queiram descer, fuga e fome – respondeu o outro soldado.
- Não podemos
oferecer nada para eles beber ou comer – disse Mei, um pouco triste.
- O que você tem?
Não me parece bem – comentou Lunn.
- Estou bem,
apenas um pouco assustada.
- Agora, a
pergunta que não quer calar! – diz o comandante – Quem matou os aturianos que
estão na entrada da caverna?
Todos se entreolham.
- Bem, como vocês
sabem sou um médico e fiz um juramento. Salvo vidas, até de uma simples mosca
se for necessário – disse Yusuke com humor.
- Não foi bem o
que eu vi – comenta Mei, se adiantando um pouco – E não me diga que foi
sonambulismo, por que eu não tomei daquele caldo e estava bem acordada.
- O que está dizendo
Mei? – pergunta o comandante.
- É verdade
comandante! Eu sei o que aconteceu aqui. Eu vi tudo.
Mei descreve com detalhes tudo o que aconteceu
e todos ficam surpresos e silenciosos quando ela termina.
- Eu matei aqueles
aturianos? – pergunta Yusuke – Mei você deve saber que os NRs não interagem
conosco, apesar de vivenciar as nossas experiências de vida. Eles cuidam da
nossa saúde e da nossa longevidade.
Mei revela as suas desconfianças:
- Acho que não
possuo NR.
- O que?
- Demorei mais do
que vocês em me adaptar a gravidade desse planeta. Minha regeneração corporal
deve ser genética.
O grupo se entreolha.
Lunn evita que Mei fique constrangida e
sugere que todos se concentrem nos aturianos mortos. Ele liga o consulte e
aproxima o equipamento na mão de Yusuke.
- Existe uma
maneira de saber.
- O que está
fazendo?
- Captando
leituras de resíduos plásmicos em sua mão.
O resultado do consulte é incontestável. Yusuke
usou uma arma plásmica.
- Mas como? Eu não
mato!
- Não foi você
Yusuke – disse Mei com ternura se aproximando do amigo, foi seu NR. Se não
fosse por ele, provavelmente estaríamos mortos. Ele fez como você, salvou
vidas, as nossas vidas.
Lunn continua manipulando o consulte e o
põem no chão:
- Vamos ver o que
temos aqui.
- O que está
fazendo doutor? - pergunta o comandante.
- Mesmo desligado
e sem emitir energia, o consulte tem um padrão de segurança que filma e grava
os eventos num raio de 20 metros.
O consulte lança uma luz linear que se
estende formando uma tela holográfica. Tudo que Mei relatou foi confirmado:
- Isso foi
incrível! – diz Dareh tocando no ombro do amigo.
- Não achei nada
de incrível – responde Yusuke.
- Um só homem
contra dezenas de aturianos! Um feito digno para poucos soldados – disse o comandante
– Quando tudo terminar me procure, tenho uma vaga para você na armada da
federação.
- Obrigado
comandante, mas prefiro uma vaga no rancho.
- O que faremos? –
pergunta Lunn.
- Os NRs estão do
nosso lado, isso é muito reconfortante – disse o comandante – estão conosco
desde que nascemos e de certa forma é parte de nós. Quanto ao NR de Mei não
querer se manifestar isso é algo que não me cabe discutir.
O comunicador do oficial emite um chamado:
- Comandante!
Responda!
- Pode falar!
- Avistamos o seu
sinal sônico! Aguardando instruções! Estamos reunidos numa caverna! Na verdade
não sabemos nem lembramos como viemos parar aqui! Não somos prisioneiros!
Estamos todos bem!
O comandante suspira, sabendo que foram os
NRs dos seus soldados que agiram.
- Tenente! Fomos
atacados por aturianos e um deles conseguiu roubar um dos sinalizadores! Não
fomos nós! Envie sua posição, mandaremos reforços assim que possível. Desligue
o rádio!
- Sim senhor!
Enviando coordenadas e ativando silêncio de rádio!
O comandante fala com o grupo:
- Precisamos
seguir! Arrumem suas mochilas o mais rápido possível!
Um estrondo ecoa pela montanha e faz a
caverna tremer um pouco, derrubando alguns objetos.
- Pelos deuses o
que será agora? –pergunta Yusuke.
- Vão para o fundo
da caverna agora! – ordena o comandante.
O grupo atende o líder e Aveline se
encarrega de cumprir a ordem. Dareh se aproxima de Yusuke e diz com humor que
se considera muito seguro ao lado dele e do seu NR.
- Você quer parar
com isso! – responde Yusuke.
O comandante vai lá fora com os soldados
identificar o ruído.
- É uma nave,
senhor – diz um soldado.
- Sei disso, mas
de que lado ela está?
Uma sombra se projeta lentamente sobre a
montanha, a noite parece ter retornado. Os comunicadores emitem uma mensagem de
voz ao mesmo tempo.
- Aqui é Diana Mars! Comandante do Cruzador Marte!
Responda por favor!
Um grito de guerra rompe da garganta dos soldados que não se contem de
alegria.
- Seja bem vinda comandante Diana!
Ainda não servimos o café – responde o comandante.
- Sarte é você? Pelos deuses! Que bom
ouvir sua voz! Identificamos o sinal sônico minutos depois de confirmar os
destroços de suas naves.
- As naves não estavam tripuladas!
Meus soldados estão em perigo! Estou enviando as coordenadas de resgate!
- Positivo!
Uma nave de resgate desce em direção à entrada da caverna e outras duas
seguem para localizar e salvar os soldados em outra região do planeta.
Um grupo de soldados e paramédicos entra na caverna e Gruner os
acompanha na intenção de finalmente conhecer e encontrar Mei. A visão de rostos
amigos enche o coração de Mei de alegria. Yusuke abraça Dareh com empolgação.
Ainda é difícil ter certeza se vão conseguir voltar para casa, mas a chegada do
Cruzador Marte renovou seus ânimos.
Gruner passa rápido entre os guardas e lá no fundo da caverna encontra
Mei. Ele para e fixa seu olhar nela e caminha lentamente. Instintivamente, Mei
faz o mesmo e os dois tocam as mãos, como havia muitas vezes acontecido nos
sonhos de ambos.
Lunn fica enciumado e se
aproxima querendo entender o que estava acontecendo com eles. Existia uma
semelhança física, como se atestasse um grau de parentesco, mas entre eles
havia algo maior que tudo. Era possível perceber uma onda de energia que
emanava dos dois, seus olhos se mexiam e marejavam com lágrimas brilhantes e
seus rostos mudavam de expressões, ora alegres, ora tristes ou surpresos, como
se uma conversa telepática ou um download de suas vidas estivesse sendo feito.
Lunn sentiu essa força ao se aproximar:
- Mei! Quem é ele?
- Gruner. Ele é meu irmão.
- Irmão?
Yusuke volta para chamá-los a embarcar na nave de resgate, quando
escutou a última frase:
- Seu irmão? – Aproxima-se Yusuke
estendendo a mão – prazer em conhecê-lo, sou um dos melhores amigos dela.
- Feliz por conhecê-lo Yusuke! –
Gruner aperta a mão dele.
- Como sabe meu nome?
- Sua fama o precede doutor – disse
Gruner, olhando para Lunn que se aproxima e estende a mão.
- Majestade. Que bom conhecê-lo.
- Majestade? – disse Yusuke, olhando
para Gruner com mais atenção e confirmando suas suspeitas – Mas é claro! Como
sou distraído! É o regente de Tryari! Olha só Lunn, seu futuro cunhado também é
rei.
- Yusuke! Por favor! Não é o momento
para brincadeiras!
- Não tem problema Lunn – disse
Gruner, sorrindo – Bem vindo a família.
Os soldados chamam eles com urgência:
- Vamos! Precisamos sair
imediatamente!
Lá fora, Aveline aponta para o céu e chama a atenção do Comandante
Sarte:
- Senhor! Janelas de hipervelocidade
se abrindo! Disparos de longo alcance.
- Maldição! – grita o comandante
Sarte – Saíam daqui agora!
O Cruzador Marte é atingindo por um disparo, mas seu escudo protetor já
havia sido ativado, fazendo-o se retirar do local. As naves de resgates em
frente à entrada da caverna explodem, foram atingidas por curtos disparos de
naves inimigas que surgiram atacando rápidas e mortais do fundo abismo.
O grupo com os soldados no interior da caverna tentam sair e não
conseguem escutar o Comandante Sarte gritando e fazendo gestos para que fiquem.
As naves inimigas retornam e desta vez enfrentam os caças do Cruzador Marte que
disparam atingindo e destruindo alguns, mas outros vencem o cerco de defesa e
fere os soldados com projéteis explosivos, fazendo-os cair no precipício.
O fogo cruzado se intensifica e um dos disparos acerta uma coluna de
pedra e gelo no alto da entrada da caverna e desce como avalanche. Aveline
corre, passando por um dos soldados para proteger Mei, saltando sobre ela, para
dentro da caverna e impedindo que uma pedra a esmagasse. O último soldado que
estava na caverna conduzindo o grupo, é morto pela avalanche que fecha a
passagem.
Minutos depois, as naves inimigas e os caças da federação, sobem para
travar um fogo cruzado no céu. Reforços de ambos os lados chegam e os inimigos
estão sob comando de Rima Ad.
- Seus idiotas! Parem de atirar na
montanha! Quero ela viva! – grita Rima Ad.
- Não sabemos onde ela está senhora!
Deve está morta! Ou foi resgatada pela grande nave! – diz um dos servos tartarianos.
- Organize um grupo de busca!
Capturem todos que encontrar!
- Como queira, senhora – responde o
servo.
Para não chamar a atenção de suas intenções, Rima Ad consegue atrair os
caças da federação, seguindo para atacar o Cruzador Marte que já se encontra em
órbita e se preparando para novo combate.
Uma nave se desloca discretamente e se esconde nas partes baixas da
montanha, protegidos pela neblina que ainda não dissipou. Um grupo de oito
aturianos sai da nave pilotando pequenos e versáteis transportes individuais
que voam e sobem por entre as escarpas em busca de sobreviventes.
No interior da caverna, Mei se recupera de um breve desmaio e começa a
tossir, um pouco sufocada pelo peso de Aveline sobre ela. É amparada pelo irmão
que delicadamente retira Aveline e a deita no chão. Mei usa a luz de sua roupa
e percebe que a amiga não está bem.
- Ela salvou minha vida – diz Mei
chorando e tentando acordar a amiga.
Gruner abraça a irmã e tenta consolá-la:
- Precisamos de água – diz Aveline,
com o olho esquerdo acesso, vermelho e brilhante.
- Iron! É você? – grita Mei.
- Iron? – pergunta Gruner olhando
para irmã.
- É longa história – precisamos
tirá-la daqui! Tem uma fonte no fundo caverna! Ajude-me!
Mei tenta erguer Aveline, mas desiste quando a ver levitando a 1 metro
do chão. O dispositivo do bracelete de Gruner, presente de sua mãe, fez o
trabalho de transportar Aveline. Gruner orienta com o braço o caminho a ser
seguido e com o outro lança uma esfera de luz branca que sobe mais alto e
ilumina o teto. Mei enxuga as lágrimas, admirada com o que ver.
Ao chegar à beira da fonte, Mei limpa os ferimentos de Aveline enquanto
escuta o NR Iron diagnosticar seu estado de saúde.
- Ela teve uma concussão cerebral
leve. Preciso de água para restabelecer o seu sistema.
Gruner se aproxima com um dos utensílios encontrados na caverna. Mei
apanha um vaso raso de cerâmica e após lavá-lo, põem água e leva a boca de
Aveline. O NR Iron se encarrega de fazê-la engolir.
- Obrigado majestade.
- Ela vai ficar bem?
- Precisa de repouso e da habilidade
de Mei – diz o NR Iron.
- Minhas habilidades?
- Os filhos dos deuses têm mais
poderes do que imaginam. Apenas estenda suas mãos sobre a cabeça dela e pense
na luz de um sol amarelo, curando a sua amiga.
Mei faz o que o NR pediu. Suavemente, abre as suas mãos e pensa na cura
de Aveline. Uma luz amarela e brilhante, com fagulhas azuis em espiral, desce
sobre o rosto de Aveline. Seu rosto começa a perder o inchaço e recuperar uma
cor saudável e os ferimentos superficiais cicatrizam com perfeição e sem
marcas.
- Muito bem – disse o NR Iron,
enquanto desliga a inserção – agora ela precisa descansar um pouco, quando
acordar estará melhor.
O olho esquerdo de Aveline volta ao normal.
Gruner põem a mão no ombro da irmã e orgulhoso sorrir para ela. Os dois
se abraçam:
- Parece que temos um pouco de tempo
para conversar – disse Gruner.
- Nunca imaginei que eu poderia fazer
isso.
- Talvez por que você nunca precisou.
- Agora que sabemos da nossa origem,
o que vamos fazer?
- Seguiremos a nossa intuição – diz
Gruner olhando os lados da caverna – deve existir uma saída.
- Os soldados vasculharam toda a
caverna. Não encontraram nenhuma passagem.
- Não desisto fácil. Se existir uma
passagem por aqui, vamos encontrá-la.
- Esse seu bracelete vai nos tirar
daqui?
- Não sei. Mas de vez em quando ele
me surpreende. E essa pulseira que você usa o que faz?
Mei toca na pulseira e rapidamente aciona as leituras indicadas nos
desenhos geométricos. Ela observa que a leitura em azul confirma que Aveline
está perto dela, na verdade ao seu lado. A cor verde indica a que Lunn, Yusuke
e Dareh estão próximos. Fica feliz que o leitor de saúde na parte de baixo da
pulseira indica azul para Aveline, mas para seus amigos a cor amarela indica
que estão feridos ou correm risco de morte.
- Então? O que ela faz? – Insiste
Gruner.
- Esta pulseira indica a localização
e estado de saúde dos meus amigos. Diz que estão perto e feridos – responde
Mei, aflita.
- Tenha calma irmã. Pelo menos
sabemos que ainda estão vivos.
Do lado de fora, e a 10 metros abaixo da montanha, o Comandante Sarte
está pendurado em um arbusto sustentado por uma pedra. Ela acorda assustado e a
primeira coisa que seus olhos vêem é o fundo sem fim do precipício escuro. Ele
avalia a situação, tenta escutar algum ruído de nave. Não há nada, ele escuta apenas
o zunido do vento frio, que parece querer empurrá-lo para a morte certa.
As horas se passam e o comandante reconhece que a sua situação é
crítica, pois jamais poderia tentar conseguir sair daquela situação sem por sua
vida em risco. Ele tenta escalar a encosta, consegue subir alguns metros,
escorrega e cai novamente onde estava. Desta vez, ele pôde se certificar de que
o arbusto é sólido e que poderia morrer ali congelado, quando as noites
retornarem.
Assolado pela fome e sede, o comandante decide fazer a única coisa
possível: ativar seu dispositivo de socorro. Estava há muito tempo naquela
situação. Olhava para o céu e via sinais de que uma longa batalha ainda era
travada na órbita do planeta, nenhuma nave de resgate poderia descer para
ajudar, a montanha estava sendo vigiada. Ele sabia que correria o risco do seu
sinal ser captado pelo inimigo, mas pensou que poderia ter mais chance como
prisioneiro do que padecer naquelas alturas e ser vítima de algum predador
alado. Um anilo voava por perto. O comandante pensava que poderiam existir
maiores e tão faminto quanto ele.
Ao perceber que estava próximo de perder os sentidos, o comandante ativa
o dispositivo e desmaia logo em seguida. Segundos depois, seus olhos abrem,
sendo o esquerdo vermelho e brilhante, o seu NR assume a função de mantê-lo
vivo. Sem muitas opções de alimento, o NR faz o comandante comer as folhas dos
arbustos e capturar um anilo que voava muito perto, numa manobra tão incrível
que desafiaria o melhor dos atletas.
Após devorar a sua presa, o NR está seguro de que o corpo do comandante
terá energia para escalar até onde existia a trilha, que agora está coberta de
gelo e pedras. Aos poucos, vai posicionando as mãos nas frestas da parede e
encaixando os pés. O esforço muscular é intenso e as rajadas de vento sempre
ameaçadoras.
O comandante, ajudado pelo seu NR, consegue chegar onde queria, faltava
apenas um último esforço para finalmente se erguer de pé, quando um ataque
vindo de baixo captura o oficial com um tipo de rede elétrica paralisante. O
aturiano desce pelo precipício com o seu prisioneiro e não imagina que está
sendo observado a distância.
Pelas lentes do binóculo, o Capitão Adani
Mars identifica o Comandante Sarte.
- Está confirmado, o sinal era dele. Estavam
do outro lado da montanha como suspeitávamos.
- A nave de transporte não poderia
descer tão perto – comenta Rakrat, o deluviano que acompanha o capitão.
- Tenho outro sinal ao alcance, tem freqüência
de um consulte, deve ser de um dos cientistas que estavam no grupo civil.
- Houve uma avalanche, foram
soterrados, precisamos chegar rápido! – fala o deluviano com sua voz grave e
forte, característica dessa espécie humanóide.
- A área é grande, como sabe onde eles
estão?
- Ali! – aponta Rakrat.
O capitão usa o binóculo.
- Só vejo gelo, pedras e...um
redemoinho de vento pequeno.
- Eles estão lá! – insiste Rakrat.
- Estamos sem transporte e pelo que
sei não temos asas, como você acha que vamos chegar ali? Dá uma volta na
montanha?
- Tenho uma idéia melhor – diz Rakrat
que sem avisar, apanha o capitão pelo tronco e com um braço, corre rapidamente
saltando para uma pedra na beira de um abismo:
- Rakrat! O que vai fazer? – grita o
capitão, desesperado.
- Faça silêncio! Vai atrair os
inimigos!
- Eu sei que você é grande, mas não é
maior do que a montanha! É perigoso! Podemos morrer!– disse o capitão, tentando
fazer o deluviano mudar de idéia.
- Não vamos morrer capitão! Hoje não!
Pular entre montanhas é uma brincadeira de criança entre meu povo.
- Brincadeira! Você não pode está
falando!
O deluviano olha com cuidado os pontos de apoio e as pedras mais seguras
onde poderia se apoiar. Ele retorna alguns metros, corre em velocidade e pula
no abismo.
Rakrat executa uma seqüência de escaladas e saltos extraordinários
conseguindo chegar do outro lado da montanha, próximo onde antes estava o
Comandante Sarte. Ele põe o capitão no chão e ele desaba sobe o gelo, desmaiado.
O organismo Humarante sapiens não suporta impactos rápidos nessas condições.
- Humarantes! – resmunga o deluviano,
que sacode o capitão fazendo-o acordar.
- Bom menino! Desistiu de pular não
foi? Vamos dá um jeito de chegar daquele lado – disse o capitão apontando para
o lado em que estava antes.
Rakrat olha para o capitão dando sinais de que está perdendo a
paciência:
- Nós já chegamos?
- Vamos! Preciso cavar e achar eles –
o deluviano adianta o passo.
O capitão usa o rastreador e consegue confirmar com precisão onde estão
os corpos, por coincidência, exatamente onde o redemoinho estava.
- Aqui! – aponta o capitão – São três
corpos e ainda apresenta sinais vitais!
O deluviano se ajoelha e cava rápido, lançando vários quilos de gelo para
os lados. O capitão precisa ficar afastado para não ser encoberto pelo gelo
retirado por Rakrat, o que facilmente aconteceria se ele realmente perdesse a
paciência com o militar humarante.
Rakrat acha os corpos e para de cavar. Fixa atentamente o olhar em
Dareh, Yusuke e Lunn. Eles estão imóveis, mas seus olhos esquerdos estão
acesos, vermelhos e brilhantes.
- Então! Conseguimos? – pergunta o
capitão. O deluviano parece está abaixado falando algo com alguém.
- Sim! – responde Rakrat.
- Agora é com vocês – disse o NR de
Lunn para o deluviano – Saiam rápido daqui, este lado da montanha está
comprometido pelos disparos, vai desmoronar a qualquer momento.
As primeiras pedras começam a cair. Rakrat apanha os corpos e avisa o
capitão para correr. Eles tentam seguir pela trilha, mas não conseguem, e se se
encostam à parede tentando evitar que as pedras atinjam suas cabeças. Rakrat
põem os corpos no chão e puxa o capitão para perto. Ele se abaixa protegendo-os
e elevando o braço direito para cima, ativando um escudo de energia que recai
sobre eles.
Pouco tempo depois, as pedras param de cair e eles vêem todo o lado da
montanha desmoronar. O capitão lamenta o fato de não poder tentar abrir a
caverna onde poderia haver sobreviventes. Insiste em tirar de sua mente a idéia
de que Aveline esteja morta.
- É uma caverna, deve ter alguma
saída – disse o capitão com um olhar triste.
- Eles estão vivos – disse Rakrat.
- Como você tem certeza?
- Aqui dentro – disse o deluviano
apontando para o centro do peito.
- E agora o que faremos? Precisamos
cuidar deles, acho que foi muita sorte ainda estarem vivos e nós também! Esse
seu bracelete? Onde consigo outro?
- Escute! – alerta Rakrat – Inimigos
se aproximam!
Os aturianos chegaram para conferir o desmoronamento de um lado daquela
montanha. Ainda não tinham visto eles, porém captavam um sinal nas
proximidades, era o consulte que estava no pulso de Lunn.
Mesmo ativando o modo de camuflagem nos humarantes, não haveria como um
deluviano de cinco metros de altura se esconder tão rapidamente, e esperado
aconteceu.
Montados em suas pequenas naves, que
mais parecem libélulas mecânicas e específicas para capturas, quatro aturianos
se aproximam do sinal do consulte. O Capitão Adani não teve tempo para desligá-lo,
o que não seria de muita ajuda, o inimigo sabia onde procurar usando leituras
térmicas.
Um aturiano desconfia da área onde eles estão e se aproxima devagar, o
objeto produz um ruído irritante de seus propulsores e expele um vapor quente
que espalha e derrete o gelo. Ao se aproximar da parede, o vapor interfere na
sensibilidade do modo camuflagem da roupa do capitão.
O aturiano emite uma voz gutural, ativando armas apontadas para o
capitão. Ele se levanta com as mãos para cima e no momento em que o aturiano
dispara a rede para capturá-lo, Rakrat salta debaixo da neve usando o escudo de
energia do bracelete. Ele protege o capitão que de imediato dispara com sua
arma no aturiano que voa em sua direção. O inimigo cai no abismo e seu
transporte para automaticamente próximo deles.
O disparo chama atenção de mais caçadores. Rakrat pergunta se o Capitão
Adani sabe pilotar aquele modelo. Ele confirma que sim, os pilotos da federação
tem conhecimentos de funcionamentos de vários tipos de transportes voadores. Os
modelos usados pelos aturianos é um dos mais conhecidos.
- Já voei nessa coisa, virtualmente,
mas já voei.
Dois disparos atingem o escudo de energia de Rakrat, que rapidamente dispara
do mesmo bracelete, uma rajada da mesma força, chegando a despedaçar o piloto
aturiano e seu transporte.
- Os proteja! Vou cuidar daqueles
dois! – avisa o capitão, que sobe no aparelho e parte para atacar os aturianos,
fazendo manobras ousadas e matando o inimigo com facilidade.
Rakrat gosta do que ver.
Enquanto isso, Dareh, Yusuke e Lunn
despertam. E levam um tremendo susto ao olharem para o deluviano. Yusuke se
recompõem e ajuda os dois amigos a se levantar:
- Calma, devagar.
- Quem é ele? – pergunta Dareh.
- Você sabe o que é.
- Eu sei o que ele é. Só não sem quem
é.
O deluviano se levanta e se afasta um pouco:
- Navan! Meu nome é Rakrat – diz
levantando a mão direita em saudação.
- Não me lembro de ter visto
deluvianos antes de tudo desabar – fala Lunn.
- Viemos resgatá-los. Acompanhava o
regente de Tryari.
- Ah sim! – disse Yusuke, enquanto
limpava restos de neve das pernas – Ele é o guarda costas do seu cunhado.
Rakrat faz uma expressão de que não entendeu a piada. Ter senso de humor
não é uma característica dos deluvianos, apesar de serem muito inteligentes.
- Yusuke! Será que você não toma
jeito?
- Eu disse algo de errado?
- Alguém se aproxima – avisa Dareh.
O Capitão Adani chega voando no aparelho alienígena:
- Olá rapazes! Que bom que estão
vivos!
- É bom vê-lo novamente capitão! –
disse Lunn.
- Esses são o Dareh e Yusuke, são de
Urbo.
- Já conhecia de nomes.
- Capitão, não queria ser
inconveniente, mas na sua mochila por acaso não teria uma barra de energético?
- Claro que sim Yusuke! Tenho mais do
que isso! – o capitão joga a sua mochila com água e comida.
- Obrigado! Agora sei que posso viver
mais um dia – responde Yusuke, repartindo comida e água com os amigos.
- Lunn! Onde estão os outros?
O cientista olha para pulseira e confirma que Mei e Aveline estão vivos.
Utiliza o consulte e diz que estão presos na caverna.
- Perdemos o contato com o Cruzador
Marte – diz o capitão – Não haverá resgate enquanto não os encontramos. Acho
que tem um acampamento aturiano aqui perto, estavam usando redes de captura.
- Fizeram prisioneiros? – pergunta
Dareh – Sou instrutor de pilotagem posso ajudar a procurar.
- Só temos esse transporte e não
posso arriscar sua vida, eu meu trabalho fazer isso. Fiquem com Rakrat, ele irá
protegê-los!
Lunn informa que pelas análises do consulte existe um tipo de passagem
na caverna que manteve Mei, Aveline e Gruner:
- Existem caminhos no interior da
montanha. Em algum ponto eles poderiam nos encontrar, só precisamos achar a
entrada certa.
- Faça isso – disse o capitão,
jogando seu sinalizador de emergência – Use o consulte e sincronize com o sinal
dessa nave! Acharei vocês!
No interior da montanha, Mei, Gruner e Aveline encontraram uma passagem
que foi revelada após o desabamento externo. Um corredor cujo piso e paredes
são constituídos de granitos e cristais de várias cores. O teto é repleto de
estalactites e refletem uma luminosidade sem que a fonte de luz seja conhecida.
Após a visão se acostumar, não é mais necessário usar luzes artificiais.
Mei e Aveline, já recuperada, ficam impressionadas com a beleza do
lugar. Escutam um ruído distante de água corrente, vibração de um possível rio
subterrâneo e ecos de pingos sob um solo encharcado.
O corredor chega ao fim atingindo um abismo, do outro lado existem
outras formações rochosas e multicores. Eles estudam as possibilidades e se
convencem que só há um caminho a seguir:
- Não temos escolhas – disse Gruner –
Temos que caminhar de lado junto à parede de cristal.
- Esse caminho nos leva para cima –
comenta Mei.
- Pelo menos parece mais seguro do
que estar lá fora – conclui Aveline.
- Por enquanto – diz Gruner –
Precisamos encontrar uma saída para o exterior e tentar encontrar os outros.
- Essa montanha parece oca. Acredito
que vamos achar uma saída.
Gruner se aproxima de Aveline, toca em seus cabelos e pergunta se ela
está bem.
- Sim, sinto-me ótima apesar da situação,
Majestade.
- Por favor, nada de formalidades,
nunca apreciei estes costumes. Pode me chamar apenas de Gruner, é o meu nome.
- Está bem, Gruner – diz ela
sorrindo.
- Assim está melhor. Fica até mais
bonito e...mais bonita – Insinua Gruner, percebendo a beleza de Aveline além do
uniforme militar.
Aveline aceita a insinuação com bom humor. Mas Gruner precisa seguir:
- Você poderia ficar aqui com Mei? Vou
adiante explorar o caminho, saber onde é seguro.
- Tenha cuidado!
Mei se adianta e olha para o fundo do abismo:
- Sinto que há algo de estranho lá
embaixo.
Aveline se preocupa com a curiosidade da amiga:
- Cuidado Mei! Não confie nessas
pedras.Terei que pular também para tentar lhe salvar, caso venha cair.
- Você já me salvou tantas vezes.
- Um hábito que não recomendaria para
ninguém.
Mei perde Gruner de vista:
- Onde será que ele está indo?
- Fazendo o meu trabalho, explorando
o ambiente para ver se é seguro.
- Sempre senti a falta dele, mesmo
sem saber a sua existência.
- Parece que ele tem o poder de
causar essa impressão – disse Aveline, descuidada dos seus pensamentos.
- Sério? – Mei sorrir e fica curiosa.
Aveline retribui:
- Ele é bem bonito, é forte e esperto.
Seu posto não lhe sobe a cabeça, o que é pouco comum em muitos reinados. Se não
disser que um regente importante, ninguém saberia.
- Sim, ele é muito especial. Pensa
como eu, todos são iguais, de uma forma ou de outra.
- Ele não é humarante, mas é da
espécie sapiens, como nós. A sua origem e história é tão confusa.
- Você conhece a história dele
Aveline?
- Nem sempre estamos olhando estrelas
na estação. Gosto de saber curiosidades da vida social em Áxis e entorno.
Mei acha graça no jeito em que Aveline diz as coisas:
- Você tem alguém? Um namorado ou
pretendente?
Aveline fica com a face rosada:
- Desculpa, não queria te deixar
constrangida.
- Está tudo bem. Sou forte em tantas
coisas, mas quando se trata de sentimentos pessoais não me sinto segura.
- Eu tenho muita experiência nisso –
diz Mei, imitando uma mulher madura, experiente e dona de si – Se quiser posso
lhe dar ótimos conselhos.
- Mei...Você deveria ser atriz sabia?
- Eu? Não levo o menor jeito. Mas
acho que você seria uma excelente cunhada irmã. Gruner gostou de você.
Aveline olha fixamente para Mei.
- Ah não, isso seria impossível é que
minha vida é aquela estação e...
- Você não precisaria cuidar de mim o
tempo todo, eu terei Lunn para fazer isso.
- Pelos deuses, agora tenho que ser
sua cunhada e proteger você de Lunn – responde Aveline com bom humor.
Mei e Aveline quase despencam no abismo de tanto rir. Gruner retorna da
curta exploração e fica de longe admirando as duas mulheres que praticamente
acabou de conhecê-las e que no íntimo do seu coração, sabe que são as mais
importantes da sua vida. Não encontrou apenas a irmã, encontrou o seu amor e
novos amigos que está ajudando encontrar e salvar.
- Esta montanha nunca esteve tão
feliz – disse Gruner.
- Assuntos femininos – responde
Aveline.
- E pelo visto, bem interessantes.
- E poderá ficar muito mais –
completa Mei.
Aveline limpa a garganta, se recompõe e se concentra na missão:
- Encontrou algo?
- Na verdade sim. Só precisamos
seguir. O terreno é firme e parece haver uma câmara 200 metros à frente.
- Algum inimigo? – pergunta Mei.
- Não cheguei a entrar, parece haver
apenas objetos. Coisas como depósitos de peles, barris e cestas.
- Outro posto avançado! – anima-se
Aveline.
- E isso parece bom?
- Sim Gruner! Teremos provisões e um
abrigo. Só não devemos chamar muita atenção.
Antes de continuar a caminhada, Mei olha para a pulseira e fica feliz em
saber que a saúde dos seus amigos está bem, apesar de se encontrarem distante.
- Não me sinto segura sem a minha
arma – comenta Aveline.
- Acho que isso pode ajudar um pouco
– disse Gruner retirando um pequeno bastão de seu bolso e entregando a Aveline.
- O que isso faz?
Gruner faz uma demonstração.
- Se você pressionar no meio ele fica
maior, com a habilidade certa poderá fazer um combate corpo a corpo com o
inimigo. A outra opção é segurando nessa extremidade e girando. Se apertar
nessa faixa negra o bastão dispara um raio plásmico.
- Muito bom! E você? O que vai usar?
- Você nos protege e nós ajudamos,
pode ficar com um bastão, é um presente – disse Gruner esboçando um sorriso
discreto e piscando um olho bem rápido.
- Parece que você tem muita gente
para proteger – disse Mei com humor.
- Bem. Vamos ver se eu consigo.
No espaço, o Cruzador Marte enfrenta os aturianos com bravura.
Em sua nave mãe, Rima Ad insiste para que a Comandante Diana desista do
combate com a garantia de poupar suas vidas.
- Não precisa terminar assim
comandante! Sua frota está em menor número e nossos aliados chegarão a qualquer
momento!
- Não vamos nos render! Se for isso
que querem!
- Não queremos a sua rendição!
Queremos que se afaste desse quadrante! Entregamos seus prisioneiros e nenhum
dos nossos guerreiros precisam morrer! Uma oferta bem razoável!
Uma voz entra na freqüência e surpreende as duas líderes:
- Não aceite propostas absurdas,
Comandante Diana!
- Embaixador Nuada?
- Desculpa a demora, tivemos um
encontro desagradável com criaturas que não são bem vindas nessa galáxia e
tivemos que eliminar, acho que foi o reforço que a senhora Rima Ad esperava
chegar.
- Como sabe o meu nome? – pergunta
Rima Ad com arrogância.
- Está muito longe de casa minha
jovem! Deveria entender que está sob a influência de Viga. Ratifico a mesma
proposta para você! Faremos a troca de prisioneiros e retire-se pacificamente
dessa região imediatamente! Sua vida será poupada.
- É bom ouvir sua voz embaixador, não
imaginei que ainda tinha paciência para guerras – disse a comandante em outro
canal privado.
- Apenas quando elas demoram mais do
que o necessário, comandante. Temos uma esquadra com seis naves mães humarantes
da classe Oceano.
- Senhor! Pretende começar uma nova
guerra?
- Não! Pretendo terminá-la. Outras centenas
de naves inimigas partiram de Urbo para Gir! Estas estão sob o comandado
supremo de Sparis Orie!
- O que faremos?
- Quero que desça com o cruzador e
tente resgatar nossos irmãos. Uma forte base inimiga de apoio foi montada em
solo. Aqui em cima faremos a nossa parte, resistiremos até o fim!
- Como conseguiram chegar de Oceano tão
rápido?
- Explicaremos depois, mas posso
adiantar que o Planeta Oceano está mais próximo daqui do que todos imaginavam.
Seguindo uma nova trilha na montanha, Rakrat, Dareh, Yusuke e Lunn
encontram outra caverna.
- Podemos descansar um pouco, minhas
penas não respondem – reclama Yusuke.
Rakrat não concorda:
- Temos que seguir! Noite fria se
aproxima!
- Também estamos exausto, caminhamos
com dificuldade faz mais de 12 horas mas Rakrat tem razão, entrar nessa caverna
pode ser um erro – comenta Dareh.
- Pelo menos vamos olhar o que tem
dentro – insiste Yusuke.
Lunn como sempre, usa o consulte:
- Tenho registros térmicos no
interior da caverna, parecem animais.
- Animais? Ferozes? – pergunta
Yusuke.
- Tudo indica que são mescas, quatro
deles. Possível pertencia a nosso grupo e se dividiram ao fugirem dos
aturianos.
- Mescas! – fala Dareh, que com um
assovio, fez os animais saírem da caverna e se aproximarem dele.
- Mas que belo truque! – elogia
Yusuke – Onde aprendeu a fazer isso?
- Não aprendi – responde Dareh –
simplesmente deu vontade de fazer e deu certo.
- Muito bom! Rakrat não sabe assoviar
– disse o deluviano que parecia também entender como chamar mescas.
Os animais se abaixam e eles resolvem olhar o interior da caverna.
Encontram água e comida.
- Pelos deuses! Podemos descansar alguns
minutos? – Implora Yusuke – Até meu NR deve está cansando de tanto evitar que
eu tenha uma câimbra nas pernas.
Rakrat olha para o céu, levanta o nariz cheirando algo no ar e olha para
Yusuke.
- Com os mescas, agora podemos
descansar por uma hora – diz o gigante que pega uma jarra de água e bebe de uma
só vez.
Rakrat fica do lado de fora vigiando com os mescas, mesmo que entrasse
na caverna tomaria muito espaço. Yusuke cai num sono profundo e os amigos
tentam dormir também. Lunn não consegue dormir, apesar de fechar os olhos. Sua
mente só pensa em Mei. Pouco mais de quarenta minutos, Yusuke acorda, e movido
pela curiosidade vai até o fundo da caverna procurar curiosidades botânicas.
Ele encontra alguns cestos com as mesmas ervas, mas um em especial está
disposto num nicho na parede da caverna.
Ele pega um pote feito de madeira, abre a tampa e cheira. Ele não
acredita nos seus sentidos:
- Mas o que temos aqui? - diz ele
surpreso.
Faltava 10 minutos para seguir viagem quando o próprio Rakrat, que
estava sentado, sente um aroma agradável saindo da caverna. Os amigos se
acordam com o cheiro revigorante e convidativo.
- Mas que cheiro bom! – disse Lunn.
- Eu conheço esse cheiro, é de um chá
escuro que experimentei na casa de Yusuke uma vez – revela Dareh – A erva se
chama...se chama...
Yusuke aparece com os copos e uma jarra destinada a Rakrat:
- Coffea canephora para todos!
- Isso mesmo! – disse Dareh, animado
- Coffea canephora!
Rakrat se aproxima e apanha a jarra, dessa vez não bebe tudo e aprecia o
chá:
- Rakrat gosta de robusta!
- Robusta? – Dareh acha engraçado – O
que é isso Rakrat? O nome da sua namorada?
Yusuke sorrir colocando a mão na testa e balançando negativamente a
cabeça. Ele sabia que o deluviano não entenderia a piada de Dareh, mas mesmo
assim Rakrat entrou no espírito da brincadeira com rara inocência.
- Rakrat gosta de robusta! Minha
namorada!
Lunn experimenta com satisfação e já analisa o composto.
- Consiga mais grãos Yusuke, esse chá
pode será bastante útil. Ele tem 4,5% de cafeína e um bom valor nutricional. Influencia
os neurotransmissores de dopamina e outras coisas mais.
- Isso! Isso é bom! – fala Rakrat.
- Não entendi nada Lunn – diz Dareh –
Poderia usar uma linguagem humarante.
- Sério? –disse Lunn sorrindo – Até
nosso amigo gigante entendeu.
- Mais é bom! – fala Rakrat, que a
única coisa que ele entendeu do Lunn foi a palavra mais – Mais robusta!
- É também um estimulante – explica
Yusuke enquanto enche um pouco mais a jarra do deluviano – Bebendo
moderadamente, faz bem a saúde.
- E por que Rakrat chama de robusta?
– pergunta Dareh.
- Isso eu posso explicar! – adianta Lunn
– É o nome dessa variedade de grão, muito conhecido e consumido em Tero Unua
como café.
- Eu pergunto senhores! O que grãos
quase extintos de Tero Unua, que também deve está extinta, fazem no alto destas
montanhas e neste planeta? – pergunta
Yusuke.
Dareh olha para Lunn esperando dele uma resposta ou do seu brinquedinho
mágico.
- Não sei explicar.
Lunn abaixa o consulte:
- Tudo aqui é muito misterioso, um
jogo difícil de montar e faltando muitas peças.
- Talvez os deuses estiveram por
aqui? – diz Dareh.
- Seria uma teoria aceitável, mas não
temos como provar.
Rakrat não gosta muito do rumo da conversa e sabe que especular sobre os
deuses podem distraí-los ao ponto de cometer erros graves de interpretação. Ele
se levanta e olha para o céu:
- Precisamos ir!
O grupo se levanta e vai montar nos mescas. Yusuke se atrasa pondo as
mãos no bolso procurando algo.
- Perdeu alguma coisa? – pergunta
Dareh.
- Sim, meu kit de primeiro socorros.
- Deve ter caído no momento do
desmoronamento.
- Pelo menos o meu bisturi lazer está
aqui, sempre ando com ele no bolso.
O grupo segue tranqüilo pela trilha, subindo cada vez mais. Nenhum
inimigo é visto e eles se preocupam com o Capitão Adani que ainda não retornou.
As horas passam e novamente os bandos de anilos iniciam o vôo de retorno para a
montanha, o primeiro sinal de que a noite longa e fria se aproxima. O nevoeiro
se intensifica e fortes rajadas açoitam a montaria que diminui o ritmo. Um
redemoinho rasteiro é visto a 100 metros e segue por uma bifurcação subindo
para esquerda. Os mescas vocalizam e o seguem.
- Às vezes eu tenho a impressão que
aquele redemoinho é um ser vivo – disse Dareh.
- É uma formação atípica para essa
região da montanha – explica Lunn – O espiral deveria se formar em temperaturas
mais quentes e sem ventos.
- Foi o que pensei e nada disso tem
aqui.
- Um fenômeno típico desse planeta,
tem tanta coisa diferente aqui e lembre-se que é uma reserva pouco estudada por
nós – comenta Yusuke.
- Pelo menos a nossa expedição
exploratória está dando resultados – disse Lunn.
- Caverna! – Fala Rakrat indicando o
caminho.
O grupo sobe por um platô largo.
- Estamos no topo! Chegamos! –
comemora Dareh – Veja os vales lá em baixo!
Lunn faz um último esforço e desce do mesca:
- Teremos uma boa visão daqui quando
os dias claros chegarem. Agora temos de nos abrigar.
- Estou curioso para descobrir as
novidades dessa caverna – fala Yusuke.
- Nada de caldos relaxantes, por
favor! Precisamos ficar conscientes.
O grupo de humarantes entra na caverna com os mescas. Lá dentro, eles
admiram os compartimentos e acham alimentos e água para os animais que comem e
quase que imediatamente entram em hibernação. Rakrat observa um cômodo maior,
mesmo assim avisa que não vai ficar.
- Você vai congelar lá fora! – disse
Dareh – Tem espaço para você aqui!
- Rakrat vai ficar bem! Tem outra
caverna maior lá embaixo! Melhor para vigiar!
- Muito bem, se assim que prefere. Acho
que nenhum alienígena inimigo com saúde mental perfeita sairia de casa com um
tempo assim.
Rakrat se despede e desce para uma parte baixa do platô, desaparecendo
na neblina. Lunn encontra uma porta de couro que possivelmente foi derrubada
pelo vento e pede a ajuda de Dareh para consertar. Yusuke confere as iguarias
existente na área de depósito da caverna e fica entusiasmado.
Com a porta de couro consertada, eles fecham a entrada, ficando mais
confortável. Acham um círculo de pedras que foi usado para fazer uma pequena
fogueira, juntam hastes de arbustos, acedem e descobrem que as pedras queimam
como se fossem madeira, produzindo bom fogo e calor. A fumaça segue para uma
fresta e não se acumula na caverna.
Resolvem explorar outras dependências e encontram um espaço com grossas
mantas de mescas, jarras com água e frutos secos. Uma espécie de clarabóia no
teto mostra o azul escuro do céu e a passagem da neblina.
- Aposentos interessantes! – disse
Dareh.
- O que levaria alguém a percorrer
toda a montanha até chegar aqui? – pergunta Lunn. – O que há de especial?
- Ou quem morava aqui, seria a melhor
pergunta, não parece um posto avançado.
- Se alguém mora por aqui, não vai
gostar de nos ver mexendo em suas coisas.
- Olhe Lunn! Tem um fundo falso no
piso, coberto por um tapete de pele. Venha! Ajude-me a levantar.
- É um depósito pequeno. Mas o que
será que temos aqui?
- São armas rudimentares, conheço
bem. Uma espada, um arco com muitas flechas e uma lança.
Lunn apanha a espada e admira a lâmina, ainda afiada.
- Tenho uma estranha sensação com
essa espada – ele faz um movimento rápido no ar.
- Movimenta-se bem! Já praticou
alguma vez? – pergunta Dareh.
- Nunca imaginei em tocar algum
assim.
- Posso ensinar alguns truques, armas
rústicas é meu esporte favorito em jogos virtuais.
- Vou gostar muito. Pelo menos teremos
diversão nas longas noites.
- Essa lança é perfeita para Yusuke,
ele gosta de manter distância das coisas, e poderia praticar com a gente.
Dareh apanha o arco e estica a corda apontando para cima:
Lunn procura defeitos nas armas:
- Estão em ótimo estado, parece que
foram confeccionadas a pouco tempo. Para variar, não preciso do consulte para
afirmar que também pertencem a cultura Tero Unua.
Dareh procura outros objetos:
- Não tenha dúvida disso. Olha só o
que eu achei!
- Um pedaço de pele com inscrições
pictográficas – diz Lunn já preparando o consulte para scanear as imagens.
- Deve seguir o mesmo padrão, uma
mensagem?
- Estranho? – disse Lunn –
Encontramos aqui muitas referências a cultura Tero Unua, mas isso é outra
coisa.
- Que outra coisa?
- Não podia ligar o consulte para
pesquisar, mas agora, tenho acesso ao que significa isso, ou melhor, a quem
pertence. Mas não faz nenhum sentido.
- Talvez eu possa ajudar.
Lunn ativa o modo holográfico
para que Dareh possa visualizar.
- É uma mensagem simples que
literalmente significa: “Algo estranho aconteceu”.
- Para mim faz sentido. Tudo o que
diz respeito a esse planeta é algo muito estranho. Mas o que de estranho
aconteceu?
- Não só a mensagem em si que é
estranha. É uma linguagem pictográfica draconiana.
- Draconiana? Não me lembro à última
vez que escutei essa palavra, acho que foi quando era criança nos estudos de
Tero Unua.
- Uma escrita praticamente
folclórica, mas que aqui, parece ser a linguagem oficial. Draconianos se ainda
existirem, estão a milhões de anos luz daqui.
- Realmente, essa mensagem
ironicamente ainda é atual: “Algo estranho aconteceu”.
- Essa expedição está sendo muito
interessante – disse Yusuke, entrando na câmara com uma pequena cesta.
- O que é isso? – pergunta Dareh
- É pão feito com um tipo de farinha
que não conheço, está congelado mas acho que posso aquecê-lo.
- Não é venenoso é? Ou vai nos fazer
dormir demais?
- Bem Lunn, você pode perguntar ao
seu consulte o que ele acha.
- Não faria sentido ter algo venenoso
para comer aqui. Mas só por precaução, me deixa ver aqui.
- Faça isso, vou trazer outras
coisas, assim poderemos consumi-las sem receio. Não deixe seu consulte comer
tudo!
Lunn analisa tudo o que Yusuke consegue trazer de amostras.
- Interessante! Farinha de tjeret,
figos secos, passas, carne seca com ervas, raiz de chufa e tâmaras. São
inofensivos, podemos consumir e estão bem conservados.
- Artigos consumidos no norte do
antigo continente africano de Tero Unua, não me surpreenderiam – disse Yusuke.
- Isso mesmo! Aqui diz precisamente
do Egito antigo.
- Então, enquanto vocês ficam revirando
objetos que não lhes pertencem, vou preparar o jantar, pode ser que o dono da
casa chegue e resolva não me matar por gostar do meu tempero.
- Não seja pessimista Yusuke – diz
Dareh – Ninguém vive aqui.
- Sendo assim, agora vive. Será a
nossa casa até podermos voltar para Urbo, se é que um dia vamos conseguir
voltar.
- Ele não me parece de bom humor hoje
– disse Lunn.
- Quando ele comer ficará bem.
Conheço meu amigo.
No buraco, havia outro fundo falso. Eles levantam outra camada de peles
e se deparam com pequenas bolas de couro compactas, recheadas e com um estopim.
O consulte alerta o Dr. Lunn:
- Calma! Temos Pólvora aqui!
- Temos o que?
- Uma mistura de salitre, carvão e
enxofre.
Pela descrição da composição, Dareh coloca uma das bolas no lugar bem
devagar.
- Poderia dizer que era um explosivo,
assim eu nem tocaria.
- Não explodiria sem acender com fogo
aquela ponta ali!
O consulte aciona um alerta mais grave e eles se afastam do buraco:
- O que foi agora? Explosivos que não
precisam acender?
- Pior que isso! É assustador! Tem
aproximadamente 2 quilos antrax aqui! Um pó letal de bactérias.
- Explosivos e arma química? Do que
eles temiam aqui?
- Temos muitas perguntas e nenhuma
resposta Dareh. Em todo caso, podemos usar essas armas. São rústicas, mas
matam!
O cheiro do ensopado que Yusuke
está preparando, é um convite irresistível. Eles retornam a câmara de entrada e
a encontra iluminada em vasos de óleo inflamável. Yusuke aparece trazendo um
pequeno caldeirão e o coloca no chão perto do fogo!
- Gostaram da iluminação? Acendi com
o meu bisturi elétrico. E tem mais, não sei se notaram, aqui dentro é mais
quente do que as outras cavernas. Tem algum vapor saindo de frestas da parede,
vamos ficar realmente confortáveis nestas noites.
- Podemos jantar agora? – pergunta
Dareh.
- Por favor, sirvam-se a vontade. Vou
levar outro caldeirão para Rakrat.
- Precisa de ajuda?
- Consigo levar até lá fora, só
preciso chamar ele.
- Tenha cuidado! Está começando a
escurecer – alerta Lunn.
Yusuke passa pelos mescas
adormecidos e leva o caldeirão para fora e chama o deluviano:
- Onde está você gigante! – Grita ele.
Quando se preparava para gritar mais alto, o deluviano aparece:
- Rakrat sentiu o cheiro bom!
- Ah! Você está aí na espreita!
- Rakrat não sente frio e dorme
pouco! Rakrat está bem, não precisa se preocupar.
- Mas Rakrat sente fome e gosta de
robusta não é?
- Sim! Rakrat gosta de robusta e do
caldo de Yusuke! Dankon!
- Não há de quer – responde Yusuke,
vendo Rakrat se afastar levando o caldeirão e avisando para ele devolver em 12
horas.
Rakrat faz um sinal displicente com a mão dizendo que entendeu e
desaparece na neblina.
- Kompatinda!
(coitado) – diz Yusuke retornando para a caverna.
A refeição é compartilhada com muita
conversa. Dareh e Lunn explicam para Yusuke o que descobriram e muitas teorias
foram apresentadas e questionadas.
-
Definitavamente estou convecido de que esse planeta era habitado – afirma o Lunn
– Não acredito que as provas que recolhemos são apenas circunstaciais.
- Sou abrigado a
concordar – disse Yusuke – Os objetos encontrados estão em perfeito estado de
conservação, limpos e bem acondicionados. O que me chama atenção é o fato de
que os grãos e especiarias são de ótima qualidade e bastante exóticos até para
a nossa cultura.
- O ambiente
gelado desta região deve ter facilitado – comenta Dareh.
- Mas os grãos e
frutos se apresentam frescos, não tem o sabor e aspecto de que foram mantidos
assim – continua Yusuke enquanto se levanta em direção a outro compartimento da
caverna.
- Onde está
indo? – pergunta Lunn.
- Buscar outras
amostras interessantes – responde Yusuke, que em menos de dois minutos retorna
com uma jarra cheia.
- O que há nessa
jarra? – Dareh se levanta, curioso.
- Quem vive ou
viveu aqui, tem gostos muito aprimorados e produz tudo o que aprecia.
- As armas
rústica que encontramos, a fibra do arco está com excelente pressão, a lâmina
da espada mais afiada do que nunca, assim como a ponta da lança.
- Isso aqui
senhores é uma bebida alcoolica fermentada e não é para fins medicinais –
explica Yusuke – Alguém quer provar?
Dareh e Lunn balançam negativamente a
cabeça, não conhecem os efeitos da bebida, portanto não querem arriscar.
- Muito bem!
Quem então beberia essa raridade? – pergunta Yusuke, levantando a jarra a até a
boca e experimentando.
Seus amigos ficam só observando:
- Então? –
pergunta Dareh.
Yusuke dar outro gole na cerveja e limpa a
boca com o braço:
- Excelente!
Bom, sabemos de sua existência nos registros históricos de Tero Unua, apesar de não mais
produzirmos esse tipo de bebida.
- Os registros sempre fazem
referências a festas e diversas comemorações, existiam muitos tipos de bebidas
para estas ocasiões – explica Lunn.
Dareh se levanta e pede para experimentar a bebida:
- Realmente! Muito boa. Alguém
gostava de comemorar por aqui. Aceito isso, mas quem?
- Ficaria honrado em conhecê-lo – diz
Yusuke!
- Teríamos respostas mais
interessantes do que nossas perguntas.
Lunn caminha até o outro cômodo:
- Estou cansado, vou dormir um pouco.
Acho melhor vocês fazerem o mesmo. Vou precisar de ajuda para explorar esse
lugar.
- Precisamos encontrar nossos amigos
e sair daqui – disse Dareh.
Lunn olha para a pulseira e se anima
confirmando que a saúde de Mei e Aveline está normal e que estão mais próximos:
- Devem está em
algum lugar dessa montanha.
- Vamos
recuperar nossas energias pelo menos até o Capitão Adani nos encontrar –
aconselha Dareh.
Eles se recolhem na câmara onde existem muitas peles, o local é quente e
confortável. Em pouco tempo eles adormecem profundamente e passam a ter uma
experiência coletiva de sonhos lúcidos.
Seus corpos reagem as experiências memórias contidas naquele ambiente.
Dareh sonha que está subindo a montanha e chega numa caverna em que se encontra
e fala algumas palavras desconhecidas com um ancião humarante de boa aparência
e lhe entrega uma mensagem. O sonho salta de cenário e Dareh agora se ver
acariciando a cabeça de um grande lobo. Se ver de atirando flechas, e correndo
montado em um belo mesca de crinas douradas. Ele entrega um objeto a outro
animal diferente e grande, um tipo de leão com face semelhante a humarantes.
Dareh em sonhos, acabava de conhecer um dromi.
Lunn inicia
seu sonho caindo do céu, foi solto por um grun que foi ferido de flecha por um
ancião humarante na base do platô. Ele se vê conversado no interior da caverna
e fazendo refeições acariciando um gato que demonstra afeição muito dele. O sonho salta e
ele agora se encontra treinando com o ancião com uma espada igual a que
encontrou na caverna. Enquanto sonha, a mão do Lunn se meche tentando seguir o
ritmo da espada.
Os sonhos de Yusuke estão mais para pesadelos, seu corpo treme sentindo
a perseguição de gruns e fazendo-o cair num riacho gelado. O sonho salta e ele
agora está fugindo de Dromis que recuam com medo de um gato. Ele passa pela
experiência gastronômica com um ancião que lhe oferece cerveja. Ver o céu
repleto de raios e trovões e uma gruta com inscrições e desenhos.
No sonho, o ancião entra no quarto com um incenso e dar boas vindas para
eles e diz que é um prazer revê-los. Ele pede para que ajude os filhos dos
deuses a escapar para um mundo seguro e que este e outros universos não serão
mais vítimas de Viga. Ele indica o caminho da fuga.
O sonho deles é tão intenso que os NRs se ativam, fazendo seus olhos
esquerdos ficarem vermelhos:
- O que está acontecendo? – pergunta
o NR de Yusuke.
- Essas memórias não existem em
nenhum nível de suas consciências! – responde o NR de Lunn.
- Na verdade – diz o NR de Dareh –
São aqueles níveis de consciências não compartilhadas por nós. Experiências
vividas em outros tempos de suas existências biológicas.
- O coração dele acelerou no máximo!
Tive que intervir, nunca havia presenciado tanto medo em um ser – diz o NR de
Yusuke.
- Existências draconianas, de tempos
imemoriais – disse o NR do Lunn.
- O ancião tinha aspecto humarante,
mas não identifico a categoria do seu NR. Certamente deve ser o responsável por
estas instalações – afirma o NR de Dareh.
Uma rajada de vento entra no cômodo e um redemoinho se posiciona se
agrupando e formando um soldado humarante sapiens.
- Fomos enviados pelo General Meadhas
para protegê-los! Naves de Oceano estão em órbita e o Cruzador Marte estará
apoiando em solo. O Cruzador Sankta Spirito está se aproximando, mas não será
possível realizar o resgate. Milhares de naves inimigas estão saindo da
hipervelocidade nesse exato momento e seres planetários desconhecidos estão
surgindo de grutas e cavernas desse planeta – explica o soldado NR.
- Mei, Aveline e o regente de Tryari
estão presos em algum lugar da montanha – diz o NR de Lunn.
- Já os localizamos e enviamos
reforços, estão em perigo! A saída é nessa caverna em uma câmara abaixo.
Ajude-os a chegar ao platô que fica a duzentos metros acima.
O soldado NR compartilha dados com o NR de Lunn;
- Permita que eles tenham consciência
do que aconteceu aqui!
Em menos de um minuto, Lunn, Dareh e Yusuke despertam e ficam de pé.
Eles se entreolham:
- Vou dizer uma coisa para vocês! Eu
realmente estou muito, mais muito assustado com esse lugar! – disse Yusuke.
- Nós compartilhamos sonhos e
animadas conversas com NRs ou esse lugar realmente está nos deixando loucos!
Lunn ativa o consulte:
- Não estamos loucos Dareh. O consulte
estava piscando indicando inserção de mensagem. Aqui está à prova.
O cientista mostra a gravação holográfica com toda conversa dos seus NRs
ativados e o soldado NR. Ficam atentos na recomendação do NR de Lunn para ele
mesmo, dizendo para terem cuidado.
- Esse olho vermelho não combina
comigo – diz Yusuke – Vou ter depois uma conversa com o meu NR para ele achar
outro humarante, pois esse corpo é só meu.
- Não seja injusto Yusuke! Eles
salvaram nossas vidas e nos mantém saudáveis – comenta Dareh.
- Tenho minhas ervas para me manter
saudável. Mas não quero ser injusto, reconheço o bem que eles nos fazem.
- Aqui tem a orientação para
encontrar a câmara! É lá onde está Mei, Aveline e Gruner! – conclui Lunn.
- Peguem as armas! Vamos descer
agora! – disse Dareh.
Yusuke segue para outra direção:
- Para onde vai? As armas estão ali!
- Vou pegar mantimentos! Ninguém
sobrevive sem comida e água! Já deixei tudo pronto e você pode pegar a minha
lança!
- Tenha cuidado com os explosivos e
antrax! – alerta Lunn.
- Farei o melhor que puder.
Lunn chega à entrada principal e não encontra os mescas. Yusuke e Dareh
param bem atrás dele:
- Isso não é bom! Mescas acordarem no
meio da noite e fugirem?
- Não sabemos se eles fugiram! Agora
não sei mais de nada! Talvez nem sejam mescas de verdade, podem ser composições
de NRs! – disse Lunn.
- Os redemoinhos! Estavam com a gente
o tempo todo! Eram NRs? – pergunta Dareh.
- Usei carne seca de algum animal no
jantar, espero que não tenha sido um grupo deles – disse Yusuke se divertindo
com a situação.
- Você nos deu carne animal para
comer? – pergunta Lunn.
- Não comemos, mas Rakrat aprecia.
Ao falar seu nome, Rakrat se abaixa e abre a porta de couro:
- Rakrat trouxe o caldeirão! – diz o
deluviano.
- Sabemos onde nossos amigos estão!
Precisamos que guarde a entrada dessa caverna até voltarmos! – alerta. Lunn.
- Pouca arma para proteger – diz o
gigante, que apenas depende do bracelete para se defender e atacar – Não
demorem!
Dareh pega uma mochila e explica a Rakrat como utilizar os explosivos e
principalmente o antrax:
- Nunca jogue o antrax contra o vento
entendeu?
- Rakrat conhece antrax! Não é bom! –
O deluviano parece indicar que já conhecia essa arma química.
Estrondos ecoam pela montanha anunciando um novo combate nos céus. O Cruzador
Marte envia centenas de caças no combate aos alienígenas em solo. Janelas de
hipervelocidade se abrem nos céus comandados por Sparis Orie que ataca as naves
da classe Oceano. A nave de Rima Ad consegue escapar do cerco e desce ao
planeta em direção à montanha. Ela recebeu ordens e informações de Sparis Orie
de que Mei está em algum lugar no interior da montanha.
Lunn encontra a passagem e segue com seus amigos. Eles ativam o modo
iluminado de suas roupas e conseguem enxergar o ambiente:
- Por aqui. Vamos descer por esta
escada! – orienta Lunn.
Eles encontram uma câmara larga e com sinais de que houve uma luta.
Sentem um odor desagradável e encontram carcaças de aturianos em várias saídas
de buracos e fendas. Yusuke não gosta do que ver:
- Isso não é bom!
- Para onde vamos? Essa montanha é
repleta de labirintos! – diz Dareh que se assusta com uma explosão que fez a
câmara tremer.
- Chegamos onde deveríamos estar –
responde Lunn e observando o consulte – Aqui tem saídas pelo interior da rocha,
túneis de águas que levam para o outro lado da montanha.
- Calma amigos! Não precisamos
entender tudo, apenas confiar – disse Yusuke.
Lunn e Dareh não tem opções além de esperar, não foram orientados para escorregar
pelos túneis e sim para estarem ali. Eles não estavam dispostos em acreditar
que Yusuke estivesse certo, mas seria a teoria mais confortante naquele
momento.
- Essa montanha parece oca! O combate
lá fora ecoa em todo lugar, é muito barulho – disse Yusuke.
Dareh faz um sinal com a mão pedindo silêncio:
- O que houve? – pergunta Lunn.
- Vocês não ouviram?
Os dois balançam a cabeça negativamente:
- De novo! Ouviram? – insiste Dareh.
- Se você nos disser o que ouviu
podemos tentar pelo menos imaginar também – disse Yusuke.
- Não estou imaginando! Escutei um
miado de gato!
- Gato? Você disse um gato? Igual ao
do sonho que compartilhamos?
- Não sei Yusuke, ainda não o vejo,
só escuto.
- Esperem! – diz Lunn – Estou
escutando também! O consulte mostra uma leitura térmica a 20 metros!
- Não escuto nada, meus ouvidos
parecem que estão tapados pelas explosões. Mas meus olhos não olhem para cima –
aponta Yusuke.
- Lá está ele! É o mesmo gato! –
disse Dareh que caminha em direção ao felino – Venha aqui! Não tenha medo!
O gato vocaliza um miado longo e desce rápido pelas pedras e salta nos
braços de Dareh que o segura sorridente:
- Ops! Nossa você é rápido amiguinho!
- É o mesmo gato feio do sonho, tenho
certeza! – disse Yusuke.
- Não acho feio é diferente dos
outros gatos que conhecemos em Urbo, cujos pêlos brilham à noite. Esse aqui
parece bem original.
- Gato que o pelo não brilha no
escuro é novidade pra mim – comenta Yusuke.
- Vamos fazer o que você sugeriu, esperar.
E em relação ao gato, temos aqui uma matriz genética original muito
interessante – diz Dareh acariciando o gato e perguntando se ele é um bom ou
mau, o que o animal responde num miado:
- “mau”.
Mei e Gruner avançam pelo interior da montanha. Eles estão passando por
um ponto bastante perigoso:
- Tenha cuidado! A montanha parece
que está sendo atingida por disparos e destroços – alerta Gruner.
- Está tremendo muito! – diz Mei
assustada.
Uma rocha cai e abre um espaço na trilha, caindo no precipício. Gruner
se desequilibra e fica pendurado. Mei se abaixa e estende o braço tentando
alcançá-lo. Aveline também se abaixa e ajuda Mei suspender Gruner, salvando-o.
- Seria uma queda longa! – disse
Gruner ainda ofegante – Dankon!
- A montanha parece está cada vez
mais instável – comenta Aveline – Precisamos encontrar logo uma saída.
- Temos que nos apressar! A próxima
rocha que cair pode ser na frente e ficaremos presos aqui! – alerta Gruner.
Mei e Aveline concordam com Gruner e se deslocam o mais rápido possível
pela trilha estreita do abismo, chegando finalmente a câmara vista por Gruner.
- Como eu disse! Um posto avançado,
mas sem saída – disse Aveline.
- Deve haver uma saída – diz Gruner
colocando a mão na parede, procurando uma passagem ou alavanca secreta.
Mei analisa a porta:
- Pode ser que essa porta secreta seja
aberta por dentro.
Do outro lado da câmara, o gato se afasta de Dareh e corre miando para a
parede.
- Para onde ele vai? – pergunta Lunn.
- Deve está assustado com todo esse
eco. Foi fazer o que todo animal faria, se esconder e fugir. Faz parte do seu
instinto de sobrevivência. Veja! Ele atravessou a base da parede!
Yusuke observa com atenção:
- Não me admiro com mais nada nesse
mundo. Como se já não fosse impossível achar um gato que não brilha nesse mundo,
ele ainda atravessa paredes!
- Pode ser um dos truques dos NRs –
comenta Lunn.
- Não acredito. Eu toquei no gato e
sentir a sua respiração e coração batendo. Ele é de verdade – responde o Dareh.
Lunn confere no consulte.
- Então o que descobriu?
- O gato não atravessou a parede de
fato, é uma ilusão de ótica, ele deve está logo atrás daquela...
Para surpresa de todos, a parede de rocha se desintegra e eles encontram
Mei, Aveline e Gruner que está com o gato nos braços.
- Animal bem inteligente esse –
elogia Gruner.
- Então é isso! O próprio gato é que
aciona sua abertura – comenta Lunn.
Sem perder tempo, Mei corre para os braços do Lunn. Aveline resume o que
aconteceu no interior da montanha e Dareh conta os perigos que passaram.
- Onde está Rakrat? – pergunta
Gruner.
Uma explosão é ouvida próxima a entrada da caverna.
- Sua pergunta foi respondida – diz
Yusuke.
- Rakrat ficou de proteger a entrada
da caverna dos inimigos precisamos subir ao platô – disse Lunn.
- Ficaremos expostos! Não temos armas
e número suficiente para enfrentá-los! – informa Aveline.
- Concordaria com você se não fosse
os nossos próprios NRs que nos orientou a fazer isso. Precisamos seguir para o
platô da motanha!
- Mas o que há no platô? – pergunta
Mei.
O gato passa correndo por eles, para e volta o olhar para Mei e ela
entende o pensamento do animal:
- É para nós o seguirmos.
- Seguir um gato? – diz Yusuke.
- Por que não? Ele já salvou nossos
amigos e demonstrou conhecer bem essa montanha – fala Dareh.
- Só tem um jeito de saber! – Gruner
ilumina a câmara com o bracelete e sobe as pressas para se encontrar com
Rakrat. Os demais o seguem, inclusive o gato.
Na entrada da caverna, Gruner encontra Rakrat acedendo mais um pavio e
jogando em aturianos que se aproximam cerca de 200 metros, montados em animais
semelhantes a lagartos. Yusuke fica admirado com a habilidade do deluviano de
jogar a bomba tão longe e com precisão, fazendo dezenas de inimigos caírem no
abismo.
- Mais Bum! – diz Rakrat.
- Bum? – pergunta Yusuke.
- Ele quer explosivos! Está imitando
o som deles – explica Lunn.
- Não temos mais explosivos! Quer
dizer não tem mais Bum! – responde
Yusuke.
Ouvem-se grunhidos de dor na parte inferior do abismo. Dezenas de
aturianos pendurados em rochas com seus corpos estourando de bolhas em feridas
purulentas.
- Vejo que ele já usou o antrax –
comenta Yusuke.
O gato corre e sobe numa rocha miando insistentemente.
- Olhem! O gato está indo naquela
direção! – avisa Lunn.
O grupo corre com dificuldade sobre as rochas e neve. Mei e Aveline
escorregam e são apanhadas por Rakrat, que pede desculpas e carrega ambas em
cada braço, dando saltos longos em direção ao platô.
Duas naves de carga inimigas soltam mais lagartos e aturianos sobre a
montanha.
- São muitos! Não vamos conseguir! –
diz Yusuke, empunhando a lança e ferindo um dos aturianos montado no lagarto.
- Viu! – disse Dareh – Nem sempre os
animais fogem e se escondem.
- Eu não queria matar ele. Usaria a
minha arma paralisante se não tivesse deixado cair na neve.
- Prefere que seu NR faça o trabalho
de nos proteger? – pergunta Dareh.
Yusuke só ficando olhando, sem respostas.
Dois aturianos que subiam uma pedra sorrateiros, saltam sobre Gruner que
se protege com o campo de força que parte do seu bracelete jogando o inimigo
cinco metros à frente. Os dois retornam com mais fúria. Um deles é atingido
pela espada de Lunn e o outro pela flecha certeira de Dareh.
Gruner olha para o alto e ver Rakrat bem próximo do platô, sob os protestos
de Aveline que queria que ele a soltasse para lutar com os amigos.
- Rakrat precisa de você aqui em cima
– fala o deluviano, dando mais um salto.
- Onde está o gato? Temos que
segui-lo! – disse Mei.
Rakrat põem Mei para segurar em seu pescoço e aponta para cima e mostra
o gato observando a sua subida.
Yusuke e os amigos já estavam cansados. Tinha uma habilidade nata com as
armas, mas o esforço era pouco para tantos inimigos.
- Já estou sem flechas! – gritou
Dareh.
O médico está ofegante:
- Não agüento mais! Não vou conseguir
subir ao platô!
- Não vamos desistir agora!
Yusuke que limpa a vista, e ver um grupo de animais que pareciam grandes
leões, saltando sobre as pedras em direção deles:
- Olhem! Aquilo são...
- Dromis! – grita o Dr. Lunn – que
não acha mais Yusuke que encontrou forças no medo para correr sob a neve,
subindo até o platô.
- Yusuke! Espere!
- Não gosto de dromis!
Mas para surpresa deles, os dromis atacam os aturianos e seus lagartos.
Outros se aproximam de Dareh e Gruner, fazendo um cerco de proteção. Um pequeno
grupo de dromis, para a infelicidade e desespero de Yusuke, corre em sua
direção e saltam sobre lagartos que avançariam sobre o médico humarante.
Yusuke fica tão próximo, que ao cair, escuta e ver com detalhes as
mandíbulas do dromis cortando os ossos do animal, fazendo-o sangrar com a
retirada dos pedaços do corpo.
Gruner olha o desfiladeiro e não acredita no que ver. Milhares de
lagartos, vespas e trois avançam em sua direção, parecem formigas saíndo
desesperadas de um formigueiro.
- De onde vêm essas criaturas! –
pergunta Dareh – Não vamos conseguir!
Gruner olha para um dos dromis com a
pelagem diferente e maior que os demais. Mentalmente envia uma mensagem que o
dromis vocaliza dando a impressão que entendeu.
O animal se abaixa oferecendo montaria para a fuga de Gruner e outros
três dromis fazem o mesmo com Dareh, Lunn e Yusuke que ainda resiste muito a
idéia de subir no animal, para o desespero de Dareh:
- Rápido Yusuke! Eles são amigos!
Os dromis saem rápidos seguidos pelo resto do grupo e não conseguiriam
vencer o inimigo numeroso. Eles saltam entre rochas e desviam de caminhos e de
investidas fatais. Os dromis em que estão montados ficam mais lentos com o peso
extra, sendo obrigados a desviarem do caminho.
Os quatro dromis conseguem ganhar vantagem seguindo por um planalto
gelado se afastando do platô. O céu do Planeta Gir começa a ficar azulado e
belos feixes de luz surgem no horizonte vencendo a neblina.
- Para onde eles estão indo! O platô
é para aquele lado – grita Yusuke.
- Atestando a sua teoria! Fugindo
pelo instinto de sobrevivência! Prefere ficar aqui? – responde o Dareh.
Yusuke responde desesperado:
- Que sobrevivência os faz correrem
direto para aquele abismo!
- Abismo? Pelos deuses! Não
conseguirão saltar para o outro lado do penhasco nos carregando nas costas!
Gruner não dizia nada, apenas confiava naquelas incríveis e corajosas
criaturas que a muito ouvira falar nas histórias contadas pelo seu tutor.
Agora, a vida de Gruner e de seus amigos estão nas forças das patas e garras
dos dromis.
Inesperadamente, retirando as últimas energias, os dromis aumentam suas
velocidades e num salto espetacular, eles cruzam no vazio do abismo como se
asas tivessem.
- Segurem-se! – disse Gruner,
enquanto Yusuke fecha os olhos, temendo ver a própria tragédia.
Ainda no ar e sem perceberem, são segurados por garras negras de gruns
que se precipitaram do céu, retirando-os das costas dos dromis e levando-os para
longe. Eles escutam um violento impacto quando os dromis batem no paredão do
outro lado. Os animais conseguem com suas poderosas garras se fixarem nas
escarpas e aos poucos escalarem a montanha até um local seguro, desaparecendo
por uma vegetação baixa e espessa.
Mesmo de longe e ainda bastante nervosos, observam do alto as centenas
de lagartos que os seguiram desesperados, saltando para morte e outros caindo
no abismo, empurrados pelos demais que vinham atrás. Mas o perigo não havia
terminado. As nuvens de vespas ainda os perseguiam e agora era vez dos gruns
amigos que estavam no Planeta Gir, fazerem a sua parte.
Um dos gruns que conduzia Gruner se eleva acima dos outros e o joga no
ar, fazendo em seguida uma manobra. Gruner cai nas costas do grun e montado
sobre o animal, ordena que o sigam para o platô da montanha onde o resto do
grupo se encontra. Yusuke grita para Gruner pedindo que o grun não faça o mesmo
com ele.
O platô se aproxima e está iluminado por uma cúpula de força que impede dos
inimigos atravessarem e atacarem. Não é possível identificar a silhueta, mas
percebe-se que há mais pessoas no platô além de Mei, Aveline e um deluviano.
No céu e em solo, continua as explosões e confrontos entre naves da
federação e as forças de Rima Ad. As naves mães da classe oceano são
implacavelmente atacadas pelas numerosas frotas comandadas por Sparis Orie.
- Localizei os filhos dos deuses!
Estão no alto de um platô! – comunica Rima Ad para o seu líder.
- Capture-os!
- Não posso! Eles emitem um tipo de
campo de energia! Minha natureza transmorfo não seria aceita! Queimaria antes
de ultrapassar!
- Posso fazê-la entrar! – diz Sparis
Orie, que vai utilizar os seus poderes dimensionais – Capture a humarante
chamada Mei, ela é a filha de Navan e Luna! Você tem poucos segundos para fazer
isso e ser teletransportada para minha nave!
- Farei isso! – responde Rima Ad, que
manobra a sua nave para cima da montanha, abre uma escotilha, transmorfa-se em
grun e salta no ar.
Um verdadeiro tornado de NRs surgem de repente próximo ao platô da
montanha. Eles se unem para reforçar o ataque contra as vespas que ao menor
contato com as microscópicas máquinas acedem e queimam no ar.
- Estamos livres das vespas! –grita
Lunn.
- Estou impressionado com a quantidade
de NRs e gruns que entraram na batalha! Chegaram em boa hora – disse Yusuke.
- Estamos descendo! – grita Dareh.
- Vamos atravessar o escudo no platô
sem os gruns! Segurem-se! – avisa Gruner.
Os gruns voam rasantes no entorno da luz e soltam os humarantes. Eles
caem sobre o campo de força atravessando-o, e em seu interior flutuam
lentamente até tocar o solo.
Dareh fica surpreende-se ao ver Mei feliz e abraçada com a sua mãe de
criação, Solaris.
- Como vai Dareh, sabia que cuidaria
bem dela.
- Feliz em vê-la, minha senhora. Quem
é seu amigo?
- Seu nome é Khufu. Consegui chegar
aqui graças a ele. É uma longa história.
Lunn se aproxima de Mei e ela o beija e o abraça com força. Solaris se
emociona percebendo que sua filha conheceu o amor.
Yusuke se aproxima de Khufu:
- Meu nome Yusuke. Vejo que encontrou
meios mais rápidos de viajar até esse planeta.
- É prazer conhecê-lo pessoalmente
Dr. Yusuke. Ficará impressionado quando eu lhe contar um dia.
- Vou saber a verdade?
- Podemos compartilhar todas as
verdades possíveis.
Lunn na perde tempo:
- Como esse campo de energia foi
criado?
- Não sabemos, parece ser uma reação
natural a nossa presença.
- A nossa?
Kufhu olha para Mei, Gruner e Solaris:
- Na verdade, a presença dos filhos dos
deuses.
- Filhos dos deuses?
As atenções de Dareh estão voltadas para o escudo. Está olhando outros
grupos de vespas e aturianos se chocando com o campo de energia sobre eles e se
desintegrando.
- E agora o que faremos? Não podemos
ficar só observando!
- Precisamos sair rápido? – disse
Rakrat, que é subitamente atacado e cai desmaiado por um disparo de plasma. Yusuke
se aproxima para socorrer o deluviano que quase caia sobre ele.
Num ataque surpresa, Rima Ad, transformada em uma humarante, consegue
atravessar o campo de energia ferindo Rakrat gravemente:
- Você! – aponta Rima Ad para Mei.
Lunn corre e fica na frente de Mei, protegendo-a. Rima Ad sorrir
ironicamente e anda na direção dele erguendo o braço e disparando outro tiro de
plasma. Rapidamente, Gruner lança sobre eles um escudo de força, evitando a
morte de Lunn.
Rima Ad olha para o regente de Tryari:
- Nada é mais poderoso do que a
vontade de Viga! – diz ela, pegando Dareh por trás e segurando o seu pescoço
ameaçando matá-lo.
- Você serve a deusa errada! – diz
Gruner – De onde você acha que vem seu poder?
- Vem de um dos mundos devastados
pelos seus deuses que fogem e se escondem do seu destino! – grita Rima Ad.
- Os deuses são bondosos e justos! –
responde Gruner, também gritando e vencendo o ruído do vento - Viga foi que
usou de malevolência, destruindo os belos mundos por eles criados!
- Viga não se importa com diversão
dos seus deuses! Eles tem algo que não lhes pertencem e precisa ser devolvido!
– Rima Ad puxa o braço sufocando mais ainda o pescoço de Dareh.
- Isso não pode mais ficar assim! – grita
Mei – Somos filhos desses deuses, não gostaria de conhecer a fúria deles se
algo nos acontecesse!
- Não temo seus deuses! – responde
Rima Ad se firmando em pé, vencendo uma forte corrente de ar e ruído de vento
turbilhando dentro do campo protegido.
Dareh está desfalecendo com a força incomum do braço de Rima Ad.
Enquanto ela fala, transfere todo o seu ódio para os músculos e nervos envoltos
no pescoço de Dareh, cujo rosto já está com uma coloração azul-arroxeada. Ele
não consegue retirar a espada.
- Pare! Você está matando-o! – grita
Yusuke.
Os olhos de Dareh assumem uma expressão de conformismo e tristeza, sua
vida está esvaecendo, seu corpo relaxa e lembranças felizes passam rápidas em
sua memória. Ele olha para o lado e ver Yusuke gritando desesperado e
gesticulando com as mãos, clamando por misericórdia e atrás dele o corpo de
Rakrat agonizando. Dareh não escuta a
voz do amigo e continua delirando em suas lembranças, vendo a imagem de Argos
Aury, seu instrutor de luta, vestindo as indumentárias medievais do cavaleiro
negro dos jogos virtuais em Urbo. Argos Aury abaixa o elmo e lentamente, ergue
o braço esticando a corda de um arco e flecha brilhantes em sua direção, que
vencendo a barreira do campo de energia, transpassa seu corpo e atinge Rima Ad
que o larga.
Rima Ad põem a mão no peito, sentindo o calor do sangue jorrando e o
espanto de como aquilo poderia acontecer. Ela olha para um vulto negro e não
identificado em cima de uma pedra do lado de fora do campo de energia.
Subitamente, outra flecha, com muito mais impulso que a primeira, faz ela ser
jogada para fora do platô. Rima Ad cai no abismo, mais é segurada por gruns que
aumentam a sua agonia jogando-a para cima, enquanto outros gruns rasgam seu
corpo e abocanham pedaços de sua carne fresca e transmorfa. A última aliada de
Sparis Orie está finalmente morta.
Yusuke corre para socorrer o amigo, agora são dois feridos e poucos
recursos para tratá-los. O ferimento de Rakrat, apesar da alta resistência
corporal é grave e não vai resistir por muito tempo. Dareh estava cianosado,
seu cérebro ficou sem receber oxigênio, foi sufocado e também está morrendo. Seus
sinais vitais estão fracos e se ainda o pior não aconteceu, foi devido à
intervenção dos NRs que lutam para mantê-lo vivo. Yusuke põem a cabeça de Dareh
em seu colo e lágrimas escorrem de seus olhos, triste por não poder salvar o
seu melhor amigo.
Como por instinto, Mei se aproxima de Dareh e aproxima a palma de sua
mão sobre a sua cabeça. Ela fecha os olhos e uma luz azul flui de suas mãos. É
possível ver pontos brilhantes no corpo de Dareh, como se o mesmo estivesse
sendo recarregado e regenerado. Está próximo de Mei nesse momento, consegue
sentir uma paz e uma vitalidade indescritíveis. Aos poucos, Dareh abre os olhos
e se recupera por completo, impressionando todos, menos o seu irmão Gruner, que
já conhecia os poderes de sua irmã.
Mei se aproxima de Rakrat e faz o mesmo, o deluviano se levanta e depois
se ajoelha agradecido:
- Obrigado, minha senhora.
Mei apenas sorrir e toca com suavidade a mão do gigante. Aveline se
emociona e não consegue conter as lágrimas.
- Quem são vocês de verdade?
- Somos o que dizem que somos –
responde Mei com ternura – os filhos dos deuses.
- Quantos são ao todo? – pergunta
Yusuke, curioso.
- Somos quatro – responde Khufu –
precisamos sair deste mundo imediatamente!
- Acho uma excelente idéia – disse
Dareh se levantando – alguém sabe me dizer quem era aquela mulher louca e sem
roupas?
- Seu nome é Rima Ad, um ser de outro
universo a serviço Viga – responde Khufu.
- Como pretende nos tirar daqui? –
pergunta Lunn.
Khufu se abaixa e toca no solo. Uma luz é emitida de seu bracelete e
pequenos círculos se formam envolvendo todos no platô. O piso se desintegra e
uma força os atrai, fazendo-os flutuar e descendo para o interior da montanha
onde existe um salão e uma grande pirâmide de cristal, diferente das demais que
são utilizadas pelos deuses e NRs para se deslocarem pelos mundos. Pelas
laterais desse imenso salão, se vêem cachoeiras de vários tamanhos cujas águas
cristalinas quentes e outras geladas, despecam de várias alturas e se juntam a
pequeno lagos fumaçantes.
Seus corpos ficam leves e flutuantes devido a uma pequena ausência de
gravidade. A pirâmide está luminosa, com cores alternando de branco para diversos
tons de verde, mais não estava ativada. A sensação que se tem é que ela vai
sugar todos para dentro dela quando isso acontecer.
- Então essa é a fonte da energia que
captamos – disse Lunn, enquanto analisa a pirâmide com a ajuda do consulte.
- Pelo menos é parte dela – responde
Khufu – é uma rede integrada de energias.
- É incrível, ela feita de puro
condrito carbonáceo, minerais antigos no universo com estruturas e composições
desconhecida nessa galáxia – disse Lunn mostrando o consulte para Aveline.
- Não reconheço a composição química
desses grupos – diz ela.
- Existem combinações e atividades
atômicas em seu interior, não aconselho se aproximar dessa pirâmide – alerta Lunn.
- Também não seria prudente –
confirma Khufu – Foram feitas para serem usadas pelos deuses e seus filhos. É
um portal intergaláctico.
- E como pretende nos tirar daqui? A
não ser que você nos trouxe apenas para uma despedida – disse Dareh.
- Em outras circunstâncias até que
poderia ser, mas os seus NRs já confirmaram minhas suspeitas. Preciso de um
voluntário para que o Dr. Lunn possa atestar a segurança para vocês.
- Eu sou o maior interessado em sair
daqui! – disse Yusuke se aproximando de Khufu – Não precisa mais de voluntário,
já tem um.
Khufu aprecia o gesto do médico e pede para que ele se afaste para um
local reservado.
- Espero que saiba o que está fazendo
– disse Dareh, ainda não confiando totalmente em Khufu, que percebendo, inicia
com uma explicação:
- Nossos corpos possuem uma vibração
semelhante a uma assinatura genética. Sendo assim, as pirâmides dispostas em
vários planetas e em diversas galáxias, reconhecem essa marca e ajusta para que
a condição biológica dos variados tipos de corpos utilizados pelos deuses não
sofra as conseqüências de uma viagem desse tipo e principalmente, funciona como
uma proteção para que nenhum outro ser dos universos utilize.
- Já nos transportamos pelo Cruzador
Sankta Spirito e nunca houve problemas – relata Dareh.
- O cruzador segue um modus operandi
diferente, com distância de teletransportes limitados. São ajustados devido a
intervenção e colaboração dos NRs da nave.
- Então como viajaremos por essa
pirâmide? – pergunta Lunn.
- Adotaremos o mesmo princípio do
Cruzador Sankta Spirito, utilizaremos os NRs.
Yusuke lembra da perseguição:
- Existem NRs que não habitam corpos
humarantes? As vespas que nos perseguiam foram queimadas no ar por uma nuvem de
alguma coisa.
Khufu observa o questionamento do médico:
- Sim Yusuke. Existem milhões deles.
Não há humarantes e nascimentos suficientes para abrigar todos os NRs.
- E onde eles ficam?
- Estão integrados na estrutura
Sankta Spirito e outra parte concentrada em Kolonjo, mas no caso em questão,
teriam que agir externamente na proteção dos seus corpos e seus NRs internos faria
o mesmo trabalho de mantê-los vivos.
Lunn fica surpreso com estas revelações:
- Entendi. Os NRs criam uma capa
protetora em nossos corpos e assim podemos atravessar o portal.
- Muito bem doutor – elogia Khufu – O
horizonte de eventos dura menos de um segundo, tempo mais do suficiente para os
NRs resistirem sem comprometer as suas estruturas.
Yusuke olha para Rakrat e comenta:
- Vamos precisar de muitos NRs para
cobrir esse aí!
Rakrat olha para Yusuke e mais uma vez não compreende o enigmático senso
de humor dos humarante sapiens.
- Muitos NRs para Rakrat! – fala o
deluviano concordando com o médico.
Khufu se aproxima de Solaris e dando as mãos, eles emitem uma luz
trêmula que incomoda os olhos e cujo efeito é atrair milhares de NRs que
estavam do lado de fora da montanha.
Uma nuvem deles rodopiam no alto e um pequeno tornado desce sobre Yusuke,
fazendo seu próprio NR ser ativado. Em poucos segundos, todo o corpo do médico
está coberto por NRs e seu aspecto é de um ser feito de vidro.
Todos observam admirados, com exceção de Lunn que já esperava por isso.
Ele se alegra em descobrir informações pelo consulte:
- Veja Aveline! A minha estação nos
achou e ainda transmite, não foi destruída!
- Como assim não foi destruída?
- Está fora da órbita normal e não fez
ajustes automáticos. Entrou na operação de segurança criado por mim.
- Por você? Por acaso andou violando
os protocolos da federação Dr. Lunn? – pergunta Aveline, falando baixo e
disfarçando um senso de humor intencional.
- Algumas vezes – responde ele
sorrindo – posso entregar meus cúmplices?
- Nesse caso, acho que podemos
relevar a situação – responde Aveline, pigarreando a garganta – Mas sim, como a
“sua estação” nos localizou?
- O “protocolo de segurança B” indica
para que a Estação Sul conecte-se com este consulte.
Aveline olha para Lunn com um ar de repreensão:
- Pelos deuses Aveline, nunca poderia
imaginar que algo assim aconteceria em nossa galáxia e com nosso povo! – diz Lunn,
sussurrando.
- Continue!
- Isto significa que enquanto
estivermos com esse consulte, estaremos com a nossa localização monitorada. É
sinal discreto e os inimigos não decodificariam.
- Não esqueça que a estação não vai
concentrar sua energia apenas em seu consulte! Ou vai? – pergunta Aveline,
desconfiada.
- Lembra daquele sinal vindo do
buraco negro? Ele foi concluído e pelos deuses, faria de tudo para saber o que
era!
- Não podemos acessar daqui?
- Não é assim que funciona, toda a
energia da estação, suporte de vida e antenas de exploração foram desativadas.
A estação concentrou toda força em nos rastrear e isso me parece bom, uma vez
que vamos entrar nessa pirâmide e não sabemos onde vamos.
- Muito bem! Estou feliz que tenha
violado os protocolos, me avise de lhe entregar uma medalha quando tudo isso
terminar.
- Vou lembrar não se preocupe.
Khufu chama a atenção dos observadores.
- Estão prontos?
- Sim, quando quiser – responde Lunn.
Outra nuvem de NRs envolve os demais e todos ficam com seus corpos
protegidos. Um fato inédito se apresenta, pela primeira vez um humarante se
encontra dentro de nanorobs e não ao contrário como eles sempre conheceram.
Khufu se aproxima da pirâmide e toca numa esfera de cristal, fixada sob
um suporte cilíndrico de pedra, ajustando o destino a ser seguido. Mei, Gruner
e Solaris se aproximam dele, seguidos pelos amigos com seus corpos revestidos
de NRs, agora inconscientes e sob o domínio dos mesmos.
A luz verde da pirâmide se intensifica e todos desaparecem em segundos,
atraídos para um foco de luz.
Do lado externo da montanha, as batalhas continuam, e no espaço as naves
da classe Oceano recebem o reforço do Cruzador Sankta Spirito e da Lua Negra
com suas esferas de combate.
- Seja bem-vindo comandante Akash – diz o Embaixador Nuada.
- É sempre um prazer
ouvir a sua voz meu amigo.
- Captamos um pico
de energia desconhecida no planeta, um tipo de portal que foi ativado.
- Um portal no
Planeta Gir? Uma informação bastante inusitada embaixador.
- Também estou
surpreso comandante.
- Infelizmente
chegamos um pouco tarde. Mei e os demais não estão no planeta.
- Diante da
gravidade da situação comandante, qualquer planeta fora de Gir nos parece mais
seguro para eles no momento. Os estragos são grandes naquela montanha.
- Mas para onde
foram?
- Curiosamente,
captamos sinais codificados para o Sankta Spirito. Está vindo da Estação de
Fronteira Sul, a única que está operando em Áxis. Estamos retransmitindo para você.
- Recebemos os
sinais embaixador. Vamos investigar e tentar descobrir para onde o portal os
levou.
- Boa sorte
comandante!
- Obrigado senhor.
O comandante Akash ordena as novas
coordenadas e direciona o cruzador para encontrar a estação. Minutos depois, a
nave estaciona próximo ao asteróide e o comandante é teletransportado para as
instalações escuras da estação, acompanhado de quatro soldados e um
especialista em comunicações chamado Petronius Brasos.
- Está vazio
senhor – diz um dos soldados – Nenhum sinal de vida biológica ou de
contaminação alienígena.
- Já esperava por
isso. Preciso conferir as unidades de pesquisa e monitoramento.
- Conheço sua
localização senhor – afirma Petronius.
Os soldados se distribuem nos acessos até
as unidades. Petronius e o Comandante Akash chegam aos painéis da célula e
encontram um sinal de mensagem e desbloqueiam o acesso local.
O Comandante Akash aciona a reprodução dos
dados compilados, que se iniciaram ainda quando Lunn se encontrava sozinho na
estação.
- Veja senhor! São
coordenadas de um grupo local de galáxias. Curiosamente de uma região sugerida
pelos registros históricos de Áxis – indica Petronius.
O comandante estuda as informações com
atenção:
- Duas galáxias
espirais com outras dezenas menores formando um sistema de satélites. Tenho a
impressão que já vi essas estrelas antes.
- A semelhança é
extraordinária – diz Petronius empolgado – Certamente essa formação já
modificou, está diferente. Este sinal foi datado de milhares de anos.
- A antiga Via
Láctea e Andrômeda – disse o comandante com surpresa – procure outros
direcionamentos dessa mensagem.
- Já fiz isso
senhor. Foi direcionado apenas para essa estação.
- O que indica que
foi utilizado um código exclusivo de recepção.
- Lamento informar.
Mas houve uma violação do protocolo senhor.
- Devem ter tido
os seus motivos. O que mais temos aqui?
Petronius inicia uma série de acessos ao
sistema binário da estação e descobre que existem rastros orientando seqüências
de desbloqueios que só um especialista em comunicação poderia entender. O
comandante acompanha com atenção.
- Senhor!
Encontrei uma mensagem com assinatura matemática de quem transmitiu!
- Quem foi?
Petronius olha para o comandante e
responde sem acreditar:
- Foi o Dr. Lunn Aodh.
- O que diz a mensagem?
- “Estamos seguros em um planeta, não
tivemos tempo de saber onde, enviamos o consulte”
- Muito bem! Não esperava que fosse
outra pessoa. Mas onde está o consulte?
- Nenhum sinal dele senhor! O código
foi ativado quando o Dr. Lunn ainda estava aqui na estação fazendo o sistema
compilar os dados. Nesse caso, acredito que o
consulte seja do próprio Dr. Lunn. A transmissão encontrou um atalho aberto e
chegou “primeiro”.
- Como ela chegou
primeiro? – pergunta o comandante, demonstrando sinais de impaciência.
- Uma passagem por
está singularidade – Petronius ativa a célula do mapa estelar da estação e
mostra um buraco negro e o som captado.
- É na galáxia de
Rhivis!
- Positivo senhor!
Encontra-se próximo do centro dessa galáxia. É uma singularidade desconhecida,
não há registros. Acho espantoso algo ter entrando por ele e mais difícil ainda
conseguir fazer sair, mesmo que seja uma transmissão - comenta Petronius.
- Então existe uma
passagem pelo buraco negro?
- Senhor. Confirmamos
que essa mensagem foi transmitida através dele. Mas não temos certeza se eles
atravessaram por esta passagem, teoricamente existem muitas possibilidades, mas
na prática seria um desastre, não há como sobreviver.
- Eles estavam em
Gir! Não poderiam ter partido para o buraco negro direto daqui!
- E não foi –
confirma Petronius – A viagem deles foi acompanhada por esta estação! Seguiram
para o Planeta Mondena. Nenhum rastro de radiação, eles partem de Gir e surgem
em outro planeta, dois pontos de lados opostos. Sem dúvidas usaram um portal
intergaláctico.
O comandante respira fundo:
- O embaixador
estava certo. Um portal foi aberto.
Petronius confirma:
- Senhor! Se
usaram um tipo de nave, é mais rápida do que o Sankta Spirito e a Lua Negra.
- Mondena! É para
lá que vamos! Ponte teletransporte! Todas e coordenadas para Rhivis! Planeta
Mondena!
O Cruzado Sankta Spirito emite o som
característico que antecede um salto na hipervelocidade e segue para a Galáxia
de Rhivis. A visão que Mei teve anteriormente mas uma vez se concretizou.
Enquanto isso, num fim de tarde no Planeta
Mondena, um halo de luz surge no solo de uma bela planície materializando
corpos.
- Onde estamos? –
pergunta Yusuke, ainda passando a mão nos olhos ofuscado pela luz que aos poucos
se dissipa.
Lunn utiliza o consulte e mesmo antes de
responder, Yusuke olha para o céu e reconhece o lugar:
- Mondena! Estamos
em Mondena! Olhe! Nem que passe mil anos esqueceria aqueles anéis no céu!
Mei se emociona, ela sabe que aquele planeta
foi onde Yusuke perdeu seu grande amor. Dareh se aproxima do amigo:
- Finalmente
consegui conhecer esse planeta que tanto falava! Tinha razão! É muito bonito!
- Infelizmente não
há tempo de apreciar a beleza desse planeta – disse Khufu abrindo os braços - a
nossa fuga ainda não se completou.
Yusuke caminha em direção de Khufu:
- Não entendo?
Escapamos de Gir! Conheço bem esse planeta e sei como poderíamos sobreviver
aqui por muitos anos se for necessário.
- Essa guerra vai
acabar em breve e Viga não mais perseguirá os deuses, mas para isso acontecer,
seus filhos precisam fazer um último esforço – disse Khufu.
- E qual seria
esse esforço em que nós não fazemos parte? – pergunta Lunn esticando o braço e
trazendo Mei para junto do seu ombro.
- Vocês precisam
continuar a fuga – insiste Khufu sem revelar detalhes.
- Estamos nisso
juntos e passamos por muitas dificuldades, não somos apenas amigos, mas uma
família – diz Dareh.
- Família – fala o gigante deluviano – Rakrat vai
junto.
- Agora que tenho uma irmã caçula, não
quero ficar longe dela – disse Aveline sorrindo.
Yusuke
anda alguns passos em direção do crepúsculo que reflete nos anéis do planeta.
Ele respira fundo e diz:
- Ficaria o resto de minha vida aqui
em Mondena, mas não seria totalmente feliz sozinho.
- Da nossa parte está tudo certo –
decide Lunn – Ficaremos todos juntos! E pelo tempo que for preciso!
Khufu se emociona em saber que pode confiar em seus novos amigos.
- E para onde vamos? E como faremos
isso dessa vez? – pergunta Aveline.
- Precisamos esperar um pouco mais –
explica Khufu – é uma ação que não depende de nós.
Yusuke observa as primeiras estrelas e algo lhe vem em mente:
- O que houve? – pergunta Dareh.
- A posição dos anéis – responde o
médico – Acho que foi na mesma época do ano em que estive aqui com a expedição.
- Posso calcular isso no consulte.
- Obrigado amigo, mas acho que não
precisa. Veja que maravilha! – disse Yusuke apontando para as flores
fosforescentes de uma árvore nativa do planeta.
- São muito bonitas – elogia Lunn que
mostra para Mei.
Yusuke explica:
- Essas flores brilhantes se
desprendem dos galhos e voa com o vento para dispersar sementes onde outras
árvores nascerão. Esse fenômeno só acontece na primavera desse planeta.
- Mondena é uma palavra antiga em
Rhivis e significa “Pouso de luz” – revela Gruner.
- Certamente devido aos anéis que
circulam o planeta – comenta Dareh – parecem pontes luminosas.
- Seria bem convincente – disse Khufu
– mas sempre existem outras versões para esses topônimos.
- Qual seria a outra? – pergunta
Dareh, curioso.
- Aquela – aponta Khufu para uma luz
branca, brilhante e esférica que se forma em uma clareira, cem metros abaixo de
onde eles estão.
O grupo observa admirado que um objeto flutuante, transparente e em
forma de losango parece emergir da luz.
Sem perder tempo, Lunn observa os resultados no consulte.
- Tem 40 metros de altura! Sua
estrutura é formada por quasicristais! Existe um núcleo na parte central que
acredito que seja sua fonte de energia!
O objeto se ergue completamente
da luz e a mesma se apaga fazendo-o descer, mas não tocando o solo por uma
distância de centímetros. A estrutura brilha novamente, lançando raios de luz
de cores e intensidades variadas. Dezenas de micro esferas brancas e luminosas
circulam ao seu redor como se estivessem polindo-a e mantendo-a brilhante. Nos
intervalos de intensidade da luz é possível perceber a existência de algo vivo
e em movimento em seu interior. Em alguns momentos parece ser orgânico e
descrito como um feto em um ambiente uterino, que desmaterializa em segundos
após um curto arrebol, formando uma nebulosa semelhante a milhares existentes
no universo. O grupo se dirige em sua direção ficando à poucos metros.
- É uma nave? – pergunta Dareh.
- Acho que não – responde Lunn – Não
conheço nenhuma nave que “respira”.
- Respira? – pergunta Mei curiosa.
- Seja lá o que for, absorve a
atmosfera em seu entorno e o libera em forma de partículas carregadas
eletricamente.
- Elétrons – completa Aveline – Como
as auroras boreais nos pólos de alguns planetas.
- Mas então o que será? – pergunta
Yusuke.
- É a chave! – fala Rakrat
- A chave? – diz Aveline, no que o
objeto responde intensificando raios de luzes como um sol.
- Parece que a chave entendeu e
confirmou o que você disse.
Aveline não se convence disso e Yusuke que se aproxima do objeto:
- Olá! Você entende o que eu digo?
Tem alguém aí dentro?
Nesse instante, o consulte de Lunn emite um sinal eletrônico rápido e
alegre. Ele olha para o display e uma frase luminosa em humarante é postada e
projetada no ar em holograma:
- Saluton!
Mei põem as mãos na boca impressionada.
Khufu se aproxima do objeto e se ajoelha em sinal de respeito. Um tentáculo de
luz aparece e o faz levantar ajudado pelas esferas pequenas.
- Parece que a chave
não gosta de bajulação – diz Yusuke, sussurrando no ouvido de Dareh – Mas se é
uma chave, deve abrir alguma coisa! O que será?
- Não faço idéia.
Khufu escuta algum som que é compartilhado
apenas pelos filhos dos deuses. Aveline, Dareh e os doutores Yusuke e Lunn nada
ouvem.
- O que há com eles!
Parecem hipnotizados! – disse Yusuke.
- Entraram num tipo de
freqüência mental que provavelmente só eles podem captar – explica Lunn.
Os filhos dos deuses começam a andar em
direção ao objeto e desaparecem na sua luz.
- Para onde eles foram?
– pergunta Dareh.
- Não sei amigos, mas
tenho a impressão que nós seremos os próximos! – disse Lunn olhando para o
consulte e que não teve tempo de explicar o que iria acontecer, pois foram rapidamente
envolvidos pelas esferas brancas, suspensos pelos tentáculos de luz que os
faziam levitar, e atraídos para dentro da estrutura em forma de losango.
A chave intensifica a luz e segue para o
espaço em direção ao buraco negro, desaparecendo dentro dele.
Algumas horas depois o Cruzador Sankta
Spirito chega à órbita do Planeta Mondena. Aurora entra na ponte de comando:
- Algum sinal deles?
- Gosto quando você
está por perto – disse o Comandante Akash.
- Minha presença apenas
distrai seus olhos – responde Aurora com um sorriso discreto.
- Chegaram nesse
planeta e já partiram – disse o comandante – Está ficando difícil encontrá-los.
- Estamos no Sankta
Spirito. É tudo tão imenso e belo. Temos aquela certeza íntima que essa nave
pode fazer muito mais, que foi construída para um propósito maior.
- Uma promessa para explorar
os mistérios do universo.
- Mas do que isso
Akash. Acredito que um dia ela chegará aos limites dele. Devem existir alguma
finitude ou finitudes lá fora, um caminho que ainda está sendo vislumbrado por
nós e que devemos segui-lo um dia.
- Creio que já estamos nos
preparando para isso e fico feliz em saber que você está comigo.
- Nunca mais quero
ficar longe de você – Aurora abraça o comandante.
Petronius Brasos se aproxima:
- Desculpe
comandante.
- Temos boas
notícias?
- Infelizmente não
senhor. Existem muitas variáveis e poderíamos nos perder para sempre no
tempo-espaço. Isto se considerarmos o fato de não sermos aniquilados.
- Não acredito que
não seja possível. Essa nave tem uma estrutura diferenciada, poderíamos seguir
pela singularidade.
- Precisaríamos de
uma referência confiável, uma linha de tempo que nos servisse de guia. A
estrutura de cobertura da nave é composta de NRs e teoricamente se ajustariam
na freqüência certa para proteger o casco na travessia.
- Essas galáxias
são bem definidas as suas localizações – comenta Aurora.
- É para onde queremos ir – explica Petronius – mas sem um sinal
específico que identifique sua posição no tempo, os NRs não codificariam. Teoricamente
se sobrevivermos a passagem, poderíamos chegar anos antes ou depois da chegada
deles. Não sabemos com que estamos lidando. Com todo respeito senhor,
caminhamos para um suicídio em massa.
- O que os NRs tem
haver com isso além de proteger o casco da nave? – pergunta Aurora.
- Um grupo de NRs
seguiram com eles senhora. Isso nos daria uma vantagem o mais aproximado
possível da localização. Os NRs interagem entre si e o Sankta Spirito faz o
resto do trabalho, algo como seguir pelo instinto.
- Que proporção de
vantagem nós teríamos com os NRs?
- As melhores
possíveis. Ainda assim, seria como trocar algo do tamanho de uma unha por uma
mão.
- Prometi que os
levaria de volta – disse o comandante – Mas aceito as suas orientações. Seria
imprudente atravessar esse buraco negro.
- Precisamos de
uma pequena garantia senhor! Apesar de todos os riscos iminentes.
- Aqui nesses
arquivos informa que é a segunda vez que o Sankta Spirito está em Mondena –
relata Aurora.
- Sim, é verdade –
confirma Akash – na época do Comandante Prismo Enar havia muitas missões de paz
em Rhivis.
- Mas esse planeta
não é habitado, é uma reserva.
- Sim, de fato. É
uma reserva. E onde existem reservas existem pesquisadores e expedições. O
Sankta Spirito sempre colabora quando tem oportunidade.
- Interessante –
disse Aurora enquanto realiza novas pesquisas.
- Acho algo?
- Uma família humarante
realizou coletas aqui, pai, mãe e uma menina.
- Nem sempre se
podem conciliar as duas coisas: coleta de campo e família. Eles encontraram uma
maneira original de estarem juntos. A garotinha deve ter se divertido muito.
- Acho que sim
Akash. Hoje deve ser uma humarante adulta e com muitas lembranças
interessantes.
- Houve uma época
que era mais comum os pais estarem com seus filhos em missões científicas. Sua
amiga Aveline e o Dr. Lunn são exemplos bem próximos de você.
- É verdade – diz
Aurora com saudosismo – Aguardo o momento de rever meus pais.
- Eles devem estar
bem. Os conflitos aconteceram nos principais planetas da federação. Em breve
estaremos todos juntos.
Um sinal eletrônico chama atenção de
todos.
- O que temos aqui
– diz o comandante olhando para uma tela contendo o mapa estelar da Galáxia de
Rhivis.
- Algo saiu do
buraco negro e passou tão incrivelmente rápido por nós que quase não foi possível
captar! – disse Petronius.
- Estava na
hipervelocidade? – pergunta Aurora.
- Além disso! Só
poderá ser parcialmente captado por tecnologias iguais ou superiores ao Sankta
Spirito. Captamos fragmentos de rastros.
- Trajetória? –
pergunta o comandante.
- Não sabemos do
que se trata, seus rastros dissolvem! Impossível calcular trajetória, sabemos
que saiu daquela singularidade – explica Petronius.
Outro sinal eletrônico é ouvido.
- O que será
agora? – pergunta Aurora.
Petronius analisa os dados e fica
surpreso:
- É um consulte!
Temos um consulte lá fora senhor! Deve ter sido largado pelo objeto misterioso!
- O consulte do Lunn
eu presumo – diz o comandante.
- Exato senhor! A
freqüência é idêntica.
- Traga-o para
bordo imediatamente.
O consulte que flutua no espaço é atraído
para a nave e levado a ponte de comando. Petronius avalia o estado do
equipamento e atesta sua perfeição ligando-o.
- Tem apenas um
diretório exclusivo com coordenadas e uma gravação destinada ao senhor
comandante. Possui senha de voz.
O comandante se aproxima do consulte e se
identifica, o equipamento libera no ar a imagem de uma gravação, onde se ver.
Lunn e Mei. Ao fundo da imagem capta um cenário formado pela silhueta de uma
floresta.
- Comandante
Akash, se está assistindo essa gravação é por que o consulte conseguiu retornar
com pouca diferença em relação a sua atual linha de tempo. Deixei coordenadas
de onde estamos e um sinal que foi captado pela Estação Sul. Não tivemos
oportunidade de identificar o mundo em que estamos e de sinalizar melhor a
nossa localização. Não aconselho nos procurar antes de conhecer melhor a
natureza dessa singularidade! A nossa travessia foi realizada em circunstâncias
muito especiais e desconhecidas.
Mei se aproxima um pouco mais e antes de
falar olha para cima, para alguma coisa que faz o vento se tornar intenso, como
se o tempo estivesse esgotando.
- Estamos todos
bem! Por enquanto, acreditamos que estamos a salvos. Vamos conhecer melhor o
mundo em que chegamos e descobrir como sobreviver nele.
- Adeus
comandante! Obrigado – disse Lunn
encerrando a gravação.
O Comandante Akash anda em direção a
grande janela do cruzador e fica em silêncio por alguns minutos observando o
buraco negro.
Petronius apresenta novas revelações:
- Senhor, a
mensagem enviada para a estação foi realizada pelo Dr. Lunn? Isso é incrível!
Nem mesmo ele sabia disso quando captou os primeiros sinais!
- Observou que Mei
olhava para cima? – disse o comandante.
- Senhor? –
responde Petronius.
- Ela olhava para
algo que estava se preparando para deixar aquele mundo e estavam com pressa de
lançar o consulte, para que de alguma forma chegasse até nós.
- Um tipo de nave
ou algo parecido e com tecnologia de uma superioridade jamais imaginada. Passou
por nós tão rápido que mal podemos identificar.
- Você agora tem
seu guia Petrônius. Ajuste as coordenadas, vamos atravessar a singularidade, o
cruzador será conduzido pelos NRs que formam o seu casco e unidos com os NRs da
tripulação!
- Senhor, não há
garantias de chegarmos à linha de tempo mais próxima de onde estão! Só teremos
uma oportunidade!
- E vamos
aproveitá-la.
O comandante abraça Aurora e se dirige
para uma plataforma:
- Estarei no Ponto
Lumo. Não se preocupe, vamos conseguir.
- Nunca duvidei
disso – responde Aurora.
O comandante Akash mais uma vez se reporta
a tripulação, que atenta, aguarda a resposta da incerteza sobre a travessia do
buraco negro:
- Humarantes!
Ainda não conhecemos todo o potencial do Cruzador Sankta Spirito. Essa nave
pode não deter a melhor tecnologia do universo, mas existe algo nele que o faz
especial: os NRs e nós!
A tripulação se agita e aumenta a
expectativa:
- Temos irmãos
perdidos! Que em fuga pela sobrevivência e sem condições de lutar, estão em
algum lugar após aquele buraco negro! Eles são a razão de estarmos aqui! É a
nossa missão! Conseguimos descobrir a localização deles, mas o resgate é
arriscado e não há garantias de retorno, pois atravessar duas vezes um buraco
negro é uma façanha nunca realizada pela nossa espécie.
Segundos de silêncio absoluto. O
comandante continua:
- Mas temos que
fazer a travessia juntos! Nós e nossos NRs! Unidos ao Sankta Spirito. Não posso
exigir que nenhum de vocês assuma esse risco, por isso, aquele que não desejar
ir se manifeste agora no primeiro minuto e com os demais, se dirijam para o
hangar principal. Uma nave de carga estará esperando e seguirá para Tryari,
planeta sede da Galáxia de Rhivis.
O comandante espera silenciosamente
durante um minuto e ninguém da tripulação se apresenta com a intenção de
abandonar o “cruzador dos sonhos”.
- Obrigado irmãos
– disse o oficial líder com uma voz calma e resignada – Quando aceitei comandar
essa nave extraordinária, sabia que seria impossível sem uma tripulação também
extraordinária. Sou grato por essa oportunidade e honrado em estar aqui com
todos vocês.
O comandante entra em contato com a ponte
e confirma com Petronius que as coordenadas estão ajustadas e aguardando
sincronia com os NRs. Ele pede a tripulação que ponham as mãos nas paredes do
cruzador. Quando isso acontece, todos os NRs internos da tripulação são
ativados, fazendo-os perder a consciência e partes da estrutura do casco
formados também por NRs começam a cobrir seus corpos, protegendo-os dos efeitos
da travessia.
O corpo do Comandante Akash também é
protegido, no entanto a sua consciência é mantida no Ponto Lumo em nível
dimensional.
O Cruzador Sankta Spirito emite o som de
alerta geral de que vai entrar na hipervelocidade. Os Nanorobs estão todos sincronizados
e fazem a nave atingir seu brilho máximo, semelhante a uma estrela anã azul.
Na Ponto Lumo, o Comandante Akash
acompanha a entrada no buraco negro e confirma que apesar da intensa trepidação
e altos níveis de radiação não houve comprometimento do casco e da integridade
física da tripulação.
O Cruzador Sankta Spirito completa a
travessia.
Próximo ao Planeta Urbo, a Arca-Lua recebe
a confirmação de que o Cruzador Sankta Spirito parou de emitir sinal na Galáxia
de Rhivis. O General Anor
Meadhas retorna do campo de batalha e assume a ponte de comando.
As naves mães da categoria Oceano
e o Cruzador Marte informam que os inimigos abandonaram o campo de batalha e
partiram do Planeta Gir para local ignorado fora da Galáxia de Áxis. Os demais
que estavam feridos ou rendidos, foram presos e encontram-se sob confinamento e
cuidados médicos.
- Nenhum sinal – lamenta o general –
Se a batalha foi interrompida é por que eles conseguiram capturá-los. O inimigo
simplesmente sumiu! Não há rastros.
A Embaixadora Suna Levigo conforta o general:
- Não temos certeza de disso. Tivemos
uma grande vantagem em todas as batalhas, apesar do maior número de inimigos,
inclusive um grupo deles se tornou nossos aliados.
- Está calmo demais. Tenho um
pressentimento. Alguma coisa está acontecendo lá fora.
Um oficial de comunicação se aproxima:
- General! Estamos captando uma área
de intensa radiação!
- A que distância?
- 300 milhões de quilômetros senhor!
- É uma saída de hipervelocidade? São
eles retornando para um novo ataque?
- Não temos leitura de naves senhor!
É algo extraordinariamente grande! Um estranho turbilhão de vapor está se
formando e se precipitando em nossa direção! As análises indicam que é água!
- Água?
- Está muito perto – disse a
embaixadora.
- Ativar a Arca-lua e se aproxime
para averiguação! – ordena o general.
No Planeta Urbo, a população consegue visualizar no céu a estranha
formação de luzes e cores, deixando todos assustados e mais vez retornar aos
abrigos subterrâneos.
- E agora! O que será isso? Nunca vi
nada assim! – comenta o general.
- Ninguém de nossa raça viu até hoje
– responde a embaixadora com desolação.
- Você sabe o que é?
- Se minha intuição estiver correta,
estamos diante de Viga – responde a embaixadora olhando para o general com uma
olhar de tristeza.
- Então é assim que acaba o povo
humarante? Depois de tantas fugas, guerras, mortes e perdas irreparáveis?
- Sempre soubemos que Viga é um ser
poderoso, apesar de não conhecermos a sua natureza. Sua força e determinação
tem perseguido nossos deuses co-criadores desde inimagináveis tempos.
- Tudo tem um ponto fraco! Viga deve
ter um! – insiste o general.
- Sim ela tem, a certeza de que sua
missão foi cumprida.
- Mas qual será essa missão?
Destruir-nos! – a Arca-lua diminui a velocidade e para inexplicavelmente.
- O que houve? – pergunta o general
ao oficial.
- Senhor! A Arca-lua está sob
influência de algo que pousou sobre ela!
- O que está me falando!
- Sinto muito general não sabemos do
que se trata! Está bloqueando a energia da esfera núcleo e drenando a energia
operacional e de emergência! Temos aproximação de duas astronaves! A Lua Negra
e ...
- Oficial! – Insiste o general.
- Não vai acreditar senhor! É a
Estrela Navan!
O General Meadhas olha pela janela e confere as duas mais poderosas
astro naves conhecidas no universo, ambas servindo de escolta para a Arca-lua e
iniciando o movimento de seu eixo gerando energia e se preparando para ataque e
defesa. Milhares de caça esferas vermelhas e negras são lançadas protegendo um
perímetro.
- Ative a iluminação química! –
ordena o general.
- Senhor! Não temos energia em breve
perderemos a ....
Silêncio de transmissão.
- Estamos sem comunicação, as escuras
e a deriva no espaço – confirma a embaixadora olhando de uma outra grande janela
a paisagem vazia da Arca-lua.
- O que está acontecendo aqui! Aquela
coisa nos desligou! – irrita-se o general.
A embaixadora fecha os olhos e capta uma mensagem sutil.
- Não foi Viga.
Uma pequena nuvem de luz, brilhante e multicolorida se aproxima da
janela pelo lado externo.
- Mais o que isso? – pergunta
admirado o general.
- Não se assuste general –
tranqüiliza a embaixadora – É um ser do bem.
Um tentáculo de luz atravessa a janela e envolve a cabeça do general e
da embaixadora produzindo uma sensação de paz e confiança.
A Chave havia pousado na Arca-lua e faz contato com o general e a
embaixadora que entram em transe e se vêem num ambiente branco e luminoso.
Nesse estágio mental, a chave projeta uma silhueta humanóide, pequena e
graciosa que se aproxima, levitando e abrindo levemente os braços. O General
Meadhas escuta a voz de Mei, olha para o lado e a ver se aproximando. O general
tenta alcançá-la esticando o braço mas não consegue. Mei fala com o general,
ela diz que está segura com seu irmão e amigos. Imagens aparecem no ar com
extrema nitidez, quando Mei passa a narrar os recentes acontecimentos,
inclusive mostrando a travessia do Cruzador Sankta Spirito no buraco negro na
tentativa de resgatá-los.
Enquanto isso, a Embaixadora Suna Levigo tem um encontro emocionante
como seu filho Aturo Levigo, que foi morto por aturianos. Ela o abraça e sente
a sua presença física, olhando com carinho e acariciando seu rosto. Aturo
revela que os ancestrais e que todos que lutaram na guerra estão com suas
consciências preservadas e habitando o Cruzador Sankta Spirito. Ela explica que
Viga está presente, mas que não haverá mais destruições, encontra-se aqui para
conduzir a chave para o seu mundo de origem.
As imagens desaparecem. O general agora sabe que ela está viva e que um
dia estará com ela.
Após alguns segundos, outra imagem
aparece na mente do general e da embaixadora. Um ser jovem e angelical, sem um
rosto definido e irradiando as mais belas luzes se faz presente levitando. Um
som estranho surgiu de início lembrando as ondas espumantes das praias e depois
se escutava o que parecia um coral de vozes humanas exaltando mantras. A Chave
tentava se comunicar da melhor maneira possível diante da incompreensível
diferença evolucionária entre eles. Até que uma voz suave se fez compreender:
“Agradeço pela oportunidade de
encontrá-los, foi uma jornada longa e inesquecível. Agora, preciso retornar
para casa e levarei para junto dos meus, as lembranças que há muito foram
perdidas nas sinuosas passagens do tempo e espaço. Não temas, continuem
seguindo o caminho. Existem várias moradas que levará seu povo ao destino final
da sua evolução”
A embaixadora lentamente se aproxima do ser que a observa com delicada
atenção, movendo a cabeça para direita e para a esquerda. A embaixadora tem a
impressão de ter visto seus olhos. Que pareciam grandes, um pouco arqueados e
brilhantes. Bastou alguns segundo olhando para eles, que a embaixadora
percebesse que representava a mais pura expressão de sentimentos nobres e
ingenuidade.
- Somos gratos pela sua presença –
disse a embaixadora mentalmente.
O general continua parado, mais não resiste em perguntar a sua origem:
- Quem é você e de onde vem?
“Somos o limite da sua última
evolução. O elo de uma nova existência. Na origem, em partes, somos vocês”
A imagem se desfaz. O general e a embaixadora abrem os olhos. A energia
da Arca-lua volta ao normal. O general pede imagem do objeto pousado na área
externa e fica surpreendido em ver a chave, em uma de suas formas físicas,
iluminada e cercada de pessoas desconhecidas e sem trajes espaciais.
- Quem são eles? – pergunta o
general.
- Não os reconhece? – responde a
embaixadora – Estamos testemunhando um dos encontros mais extraordinárias já
vistos em nossas vidas.
- São os deuses! – diz o general com
voz baixa e admirado. Ele aproxima a imagem para ver detalhes.
- Sim, são eles – confirma a
embaixadora.
Os deuses Navan, Luna, Nana, Lilith, Dracon e Latem estão diante da
chave. Não se consegue saber ou entender o que fazem ali. Sabe-se que de alguma
forma estão se comunicando, apesar de não se perceber movimentos labiais.
De repente uma grande explosão de luz surge no espaço. As naves inimigas
que ainda resistiram e comandadas por Sparis Orie seguem em sua direção e
retornam aos seus universos e dessa vez, para sempre. A luz se retrai e outra
explosão luminosa sem efeitos destrutivos se faz presente.
Um turbilhão de água de milhares de quilômetros se forma e depois se
estabiliza formando um aquário em forma de cilindro.
A água no interior do túnel se
movimenta como se algo estivesse lentamente sugado. Pequenas cepas luminosas
são expulsas no espaço como um vulcão entrando e erupção. Não demora muito e um
ser gigantesco de cor lilás, semelhante a uma arraia encontrada nos mares e com
capacidade de bioluminescência, se aproxima e para no limite aquático.
A temerosa Viga acaba de chegar.
Ela inicia um tipo de comunicação luminosa com a chave, que responde da
mesma forma. Os deuses olham para Viga, e com uma expressão de insatisfação em
seus rostos, transformam-se em pontos luminosos e desaparecem. A chave levanta
vôo em direção a Viga, transpassa a barreira aquática seguindo para o fim do
túnel e desaparece.
Sem mais esperar, Viga retorna pelo mesmo caminho seguido pela chave e o
turbilhão de água vai diminuindo. Uma última explosão de luz acontece, e no
espaço só ficam vestígios da presença extraordinária de dois seres que retornam
para seus mundos.
O general olha para a embaixadora:
- Entendo que seja o fim de uma longa
perseguição.
- Sim Anor. A guerra acabou, voltemos
para casa, temos muito trabalho a fazer, muito para se reconstruir.
- Minha felicidade estará completa
quando o Sankta Spirito retornar com eles.
- Eles retornarão – responde a
embaixadora, pondo a mão no ombro do general - Akash
Abhaya nunca perdeu uma missão.
O general abre um sorriso, abraça a embaixadora e depois anuncia o fim
da guerra e o retorno imediato para o Planeta Urbo. Os cruzadores e naves
aliadas se confraternizam, a notícia se espalha e em pouco tempo a Galáxia de Áxis
está novamente segura e em paz.
É nesse momento de alegria que Solaris e Khufu são teletransportados de
Mondena para Urbo. Ela encontra o General Meadhas e confirma que Mei e seus
amigos foram levados pela Chave e estão em segurança.
O Embaixador Nuada retorna com a frota para o Planeta Oceano e inicia o
plano de colonização do povo de Ur. No Planeta Rugo, a população comemora com
muito entusiasmo e também restabelecem a sua estação de fronteira.
As astronaves manobram e seguem para regiões diferentes: A Lua Negra
retorna para Rhivis e a Estrela Navan segue para o quadrante onde se localiza o
Planeta Oceano. Mas antes, os comandantes deluvianos entregaram ao General
Meadhas e a Conselheira Suna Levigo, uma mensagem dos deuses avisando que
retornarão.
Os trabalhos de reconstrução dos
mundos afetados são iniciados em poucos dias, seguidos de belas e emocionantes
celebrações fúnebres. Os humarantes retornam as suas rotinas.
Capítulo
18
NOVA MONDO
(Novo
Mundo)
Uma revoada de pássaros chama a atenção dos pequenos animais que se
escondem numa floresta de carvalho e faias. Os galhos e folhas altas indicam
que algo grande passa correndo entre elas.
- Então? Pegou? – grita Yusuke.
- Sim! Mas elas estão atrás de mim!
Corra! – responde Rakrat trazendo algumas casas de abelhas, recheadas de mel e
sendo perseguido por milhares delas.
Yusuke corre sem destino e depois de alguns minutos percebe que está
perdido na floresta. Ele agora caminha devagar, olhando para o alto das árvores
e para o chão, tentando encontrar uma pegada de Rakrat.
- Ele não passou por aqui – pensa o
médico.
Era fim de tarde, o frio não era tão intenso como nos outros planetas em
que conheceu, mas o suficiente para matá-lo, caso não conseguisse um abrigo
para se aquecer.
- Deveria ter pegado um pouco daquele
mel – disse ele em voz alta, se sentido exausto e faminto.
Já havia caminhado quase duas
horas quando Yusuke finalmente reconheceu que estava perdido e que Rakrat
certamente o procurou e não teve sucesso.
- Como uma coisa tão grande como
aquela não consegue me achar? – pensou ele, enquanto aproveita o resto de luz
solar para colher algumas nozes e frutos no chão.
Um grupo de esquilos se aproxima curiosos.
- Olá amiguinhos! Onde é à saída
dessa floresta? Vocês viram um monstro grande passando por aqui?
Os esquilos correm assustados.
Passada algumas horas, já de noite, Yusuke encontra um pedra grande na
floresta e senta perto dela. Sua a aparência demonstra fadiga, mas apesar de
está perdido se mantém calmo.
- Já passei perigos maiores – fala em
voz baixa – Fui perseguido por lagartos montei em dromis e voei com gruns. O
que é uma noite nessa bela floresta comparada com isso? Aqui só tem pequenos
animais.
O médico humarante se levanta e começa a juntar pedras em um círculo e
após encher com musgos, folhas e gravetos utiliza sua caneta lazer para acender
uma pequena fogueira.
Ele volta a sentar perto da rocha, cruza os braços, fecha os olhos e
adormece exausto.
Rakrat se aproxima de uma caverna já iluminada com tochas e sente o
cheiro de comida.
- Ele já deve ter chegado – fala
Rakrat.
Ao
entrar, encontra Mei com uma colher de pau grande, mexendo uma sopa.
- Boa noite Rakrat! Vejo que se atrasaram
bastante hoje – ela derrama um pouco da sopa na mão e prova.
O deluviano olha triste para ela retirando vários favos de mel de uma cesta
e entregando para Aveline.
- Você está bem? Onde está Yusuke?
- Está perdido na floresta.
Mei retira a colher de pau e a deixa próximo a panela de barro e anda na
direção do gigante.
- Calma Rakrat – disse ela segurando
a mão dele – Vamos encontrá-lo.
- Rakrat procurou, mas não achou.
Nesse momento Lunn, Dareh e Gruner entram na caverna trazendo água,
lenha e caça para ajudar na alimentação de Rakrat.
- O cheiro está muito bom – disse
Lunn.
- Aprendi a fazer essa sopa com
Yusuke – responde Mei – parece que dessa vez fiz bem.
Mei apanha a colher, retira um pouco da sopa e oferece para Lunn provar.
- Está excelente! – diz ele dando um
beijo rápido da boca de Mei.
- Onde está Yusuke? – pergunta Dareh.
- Ele se perdeu na floresta –
responde Aveline.
- Rakrat havia pegado casas de mel e
eles eram muitos! – diz o deluviano que ainda, não domina bem a complexa língua
humarante – Rakrat não sente nada, pele dura. Yusuke correu para dentro da
floresta!
- Não vai ser uma noite confortável –
disse Lunn – Yusuke nunca se separa da sua caneta lazer. Vai fazer uma
fogueira.
- A noite nesse planeta tem poucas
horas – disse Dareh – Ao amanhecer seguirei com Rakrat e vamos encontrá-lo.
O deluviano se levanta.
- Voltei para avisar! Rakrat vai
retornar e trazer Yusuke.
Lunn olha para o bracelete.
- Ele está no perímetro abaixo de 15
quilômetros e pode está distante de onde o viu pela última vez. Seus sinais
vitais estão normais, veja! está azul.
Rakrat olha para Dareh.
- Ele está certo. Yusuke já
participou de muitas expedições em vários planetas. Ele gosta do contato com a
natureza, desde que tenha comida.
Mei e Aveline não conseguem segurar o sorriso e o clima fica mais
descontraído.
- Se pelo menos eu tivesse com meu
consulte – lamenta Lunn.
- Faz cinco dias que estamos nesse
planeta desconhecido e tudo que estamos fazendo é garantir água e alimento para
a nossa sobrevivência. Em algum momento teremos que explorar melhor e descobrir
se é habitado – comenta Gruner.
- A boa notícia é que não encontramos
sinais da existência de predadores – diz Aveline.
- Estive olhando o céu nas últimas
noites - comenta Lunn – Não reconheço as constelações, mas Mei é de uma
intuição extraordinária e levantou uma possibilidade baseado na sua formação na
Cidade de Cristal.
Todos olham para Lunn. Rakrat para de mastigar um pedaço de carne que
acabava de morder de um coelho assado.
- O satélite natural desse planeta é
muito parecido com a primitiva Kolonjo, onde Mei foi criada e educada. Apesar
de nós observadores de fronteira da Federação Áxis conhecer como ninguém as
galáxias, tivemos poucas informações sobre Tero Unua.
Rakrat mastiga rapidamente duas vezes o pedaço de carne e para. Mei que
estava sentada levanta-se. Ela apanha um graveto, limpa a areia do chão e
começa a fazer riscos.
- Sempre fui curiosa sobre tudo. Em
Kolonjo, tinha liberdade de circular livremente e meu lugar preferido era os
arquivos relacionados a Tero Unua. Não poderia ser diferente, como toda
humarante legítima, de ter pelo menos um mínimo de interesse pela astronomia.
Quando era criança, minha orientadora fazia jogos na escola e um deles se
relacionava as constelações de Tero Unua. Nos divertíamos correndo entre os diversos
símbolos usados pelos antigos, inclusive os zodiacais. Lembro perfeitamente das
imagens antigas da lua de Tero Unua e as semelhanças com a que existe aqui é
impressionante.
Mei desenhou as constelações. Rakrat para de comer e se levanta admirado
com o desenho. Ele concentra o olhar de tal forma que parece ter sido
hipnotizado.
- Rakrat! Reconhece essas
constelações? – pergunta Gruner.
- Sim majestade. Eu fazia parte da
tripulação da Estrela Navan nessa época (responde Rakrat em idioma tryari)
Gruner olha para Aveline e os demais e fica constrangido por Rakrat não
responder no idioma humarante:
- Rakrat! Nossos amigos não falam
tryari! – disse Gruner com autoridade moderada.
- Pardonon – responde o gigante em
idioma humarante – Os desenhos da menina Mei faz sentido para Rakrat. Não
poderia reconhecer esse mundo como o conheci. Está diferente, era mais quente.
Rakrat se abaixa e redefine os desenhos de Mei e a posição das estrelas.
- O que está tentando fazer Rakrat.
Aveline se aproxima e percebe o que o deluviano está pensando:
- Ele está simulando a posição das
estrelas baseado em seus movimentos no tempo.
Rakrat sai da caverna e vai lá fora olhar o céu. Todos vão correndo
atrás dele.
- Então? Reconhece alguma coisa? –
pergunta Aveline.
O gigante olha para ela:
- Essa galáxia não é desconhecida
para mim. Rakrat está tentando lembrar, mas muita coisa ruim vem na mente.
Mei se aproxima e toca na mão dele:
- Tente relaxar e tire as coisas
ruins da mente e se concentre.
O deluviano Rakrat é um dos mais antigos da sua raça que se tem
conhecimento. Ele começa a lembrar também que foi deixado num planeta inóspito
com o seu povo pelos irmãos draconianos, em suas experiências temporais. Rakrat
olhava muito para as estrelas. Sonhava com o dia em que o socorro chegaria.
Os deluvianos não demonstram suas emoções de uma forma que os sentidos
humarantes conseguem captar. Mas era perfeitamente possível pelo timbre de voz
de Rakrat, perceber que algo o emocionava muito. Havia aquele deluviano, visto
coisas terríveis e passado por sofrimentos traumáticos. A impressão que se
tinha, é que se olhassem profundamente para os seus olhos poderiam ver
projetadas as imagens trazidas de suas memórias. É a enigmática sensibilidade
de seres como os deluvianos, que os fazem preferidos dos deuses em conduzir e
zelar a Estrela Navan e a Lua Negra.
- Não olhava para estrelas quando
cheguei aqui – disse o gigante.
- Rakrat? – disse Mei suavemente,
tocando-lhe as mãos.
O gigante respira e retorna olhar para Mei:
- Não é a Tero Unua que conheci –
disse ele.
Mei puxa sua mão suavemente e pergunta se ele tem certeza.
- Não é Tero Unua. Rakrat tem
certeza!
Todos suspiram desanimados, apesar de imaginarem que seria algo
improvável estarem em Tero Unua que foi destruída anos depois que o povo
humarante a deixou. Mas queriam saber qualquer sinal que indicasse uma
esperança de onde estão.
- É outra Tero Unua! - revela Rakrat.
- O quê? – pergunta Gruner – Rakrat!
Você quer nos enlouquecer?
Rakrat olha para o céu. Uma brisa forte sopra e agita as folhas das
árvores. Ele gira o corpo cheirando o ar:
- Estamos numa ilha, uma ilha grande!
Sinto o cheiro do mar. Sinto também o cheiro da chuva.
Todos empinam o nariz tentando captar o cheiro do mar e procurar alguma
nuvem carregada de chuva numa noite estrelada.
- Estamos no norte do planeta! É igual
a outra Tero Unua! – insisti Rakrat.
Gruner olha para Mei e ambos parecem sentir que pode haver fundamento no
comentário de Rakrat, mas são cautelosos em oferecer apoio.
Mei faz um comentário:
- Fizemos uma viagem insólita,
trazidos por um ser desconhecido que só desejava nos proteger, mas foi embora.
A última lembrança que temos foi de ter deixado o Planeta Mondena. Confio em
Yusuke quando disse que esse mundo oferece condições de sobrevivência e nossos
conhecimentos favorecem ainda mais as nossas oportunidades. Sejam quais foram
as circunstâncias que nos trouxeram até aqui, temos que fazer o melhor para
continuarmos vivos e esperar um resgate, se é que um dia ele venha a acontecer.
Gruner apóia a irmã:
- Mei tem razão. Temos um novo mundo
para viver e aceitaremos o nosso destino com dignidade. Manteremos viva a
esperança de retornar para a nossa casa um dia, mas até esse momento chegar,
precisamos sobreviver nesse mundo.
Aveline se emociona e lembra-se da família com saudades. Ela pede
desculpa e entra para a caverna chorando. Mei olha para Gruner.
- Devemos descansar agora – disse
Gruner - amanhã encontrarmos Yusuke, vamos elaborar um plano de exploração
desse mundo.
- Melhor depois da chuva – disse
Rakrat, também seguindo para a caverna.
O dia amanhece e Yusuke é acordado por esquilos que passam pulando sobre
ele e roubando-lhe as nozes do bolso.
- Hei! Meu café da manhã!
Yusuke se levanta, confere que a fogueira está bem apagada arrastando
terra sobre ela. Ele estica os braços num curto alongamento e olha a direção do
sol escutando a vocalização animada de aves. Ele anda duzentos metros e se
depara com um campo aberto e uma pequena lagoa onde as aves buscam seu
alimento.
- Água fresca! Começamos bem.
O médico anda em direção ao lago e percebe que não está só. Ele ver uma
pessoa abaixada na beira d’água enchendo um pote.
- Uma mulher! Não é uma das nossas.
Ele se aproxima com calma e a certa distância se anuncia:
- Bonan matenon! (Bom dia!)
A mulher ainda de costas, para de encher o
pote. Ela vira levemente o rosto de lado.
- Mi bezonas helpon!
(Preciso de ajuda!) – Insiste Yusuke.
A mulher se levanta sem coragem de se
virar, pois achava que se tratava de uma alucinação.
- Ninguém fala
humarante nesse mundo! Devo está ficando louca.
Yusuke continua andando e pensa se naquele
mundo alguém fala humarante:
- O que estou
fazendo! Posso está assustando essa nativa.
Ainda de costas, a mulher resolve arriscar
uma pergunta:
- Cu vi perdis la
vojon? (O senhor está perdido!)
Yusuke para de andar e por um momento seu
coração bate mais forte de emoção.
- Essa voz! – pensa
ele no que responder – Você fala humarante! Muito bom saber disso!
A mulher fecha os olhos emocionada e
abraça o pote junto ao peito.
- Não pode ser!
Yusuke! – diz ela com a voz baixa e se virando lentamente.
Ao ver a mulher, Yusuke fica eufórico:
- Macha! Machaaa!
A mulher solta o pote e corre em direção
ao médico, abraçando-o de uma forma que só os amantes separados por muito tempo
sabem fazê-lo.
- Mas como? – pergunta
ele.
Macha recupera o fôlego e olha para Yusuke
com a mão em suas faces:
- Seis dias atrás,
vi uma luz no céu. Achei em princípio que fosse um meteorito, até quando a luz
retornou para o céu. Ficamos muito assustados e aguardamos alguns dias, como
mais nada aconteceu resolvemos ir até o local.
- Um momento Macha,
calma – diz Yusuke passando as mãos no cabelo dela – Você disse nós?
- Existe uma
comunidade primitiva aqui nesse planeta, nessa ilha. Pensei que poderiam ser
descendentes de humarantes mais a linguagem deles é diferente. Há dois anos
quando aqui cheguei, fui encontrada inconsciente no mesmo lugar onde possívelmente
você deve ter chegado. Os nativos me fizeram entender por gestos que viu uma
luz caindo do céu e retornando.
- Dois anos? Macha,
faz cinco anos que você desapareceu em Mondena, procuramos por você até o
limite dos nossos recursos. Desde então minha vida se tornou um vazio que só a
dedicação ao trabalho me confortava.
Os olhos de Macha se enchem de lágrimas e
ela o beija com paixão e saudade.
- Não tinha um dia,
desde que cheguei aqui que eu não pensava em você. Meu coração dizia que te
encontraria novamente, mesmo que fosse na luz.
Yusuke pega na mão da amada, olha a cicatriz e beija com delicadeza. Ela
sorrir.
- Faz cócegas? –
pergunta Yusuke.
- Não é isso, nunca
pensei que pudesse ver novamente o escudo da Federação Áxis em um uniforme.
Yusuke sente algum desconforto.
- Você não me parece
bem.
- Temos muito que
conversar, mas agora sinto muita sede e fome. Passei a noite na floresta.
- Venha até a lagoa,
a água é fresca e pura.
Chegando perto da água, Yusuke bebe com
tanto prazer que imediatamente sente-se bem.
- Deliciosa – diz
ele enquanto molha o rosto e cabeça.
- É um mundo bonito.
- Tenho muitas
perguntas.
- Também tenho
bastante, mas antes vamos para a minha cabana, fica logo aqui perto – disse ela
olhando para o céu e prevendo chuva – Farei uma comida quente para você.
O casal segue para uma pequena cabana que
fica próximo a borda da floresta. Yusuke elogia a construção. Ele entra na
cabana e observa os cômodos simples e com utensílios básicos e senta em um
banco de madeira:
- Uma moradia
interessante.
- Quando viajamos,
levamos os nossos conhecimentos. Pode parecer estranho, mas os nativos daqui me
consideram um tipo de divindade, apesar das minhas tentativas de provar ao
contrário. Ensinei muitas coisas para eles, curei doenças e em troca recebi
respeito e solidariedade. Eles me forneceram essas roupas, sempre trazem
presentes utilitários e com minha orientação construíram essa cabana.
- Ensinou a língua
humarante?
- Tentei, mas eles
rejeitam. Não se sentem dignos de falar a língua de uma divindade. Mas algumas
crianças inteligentes e curiosas aprenderam algumas palavras e frases curtas
como: bom dia, boa noite, obrigado. Aprendi um pouco o idioma deles.
- Crianças. Gostaria
de ser pai de muitas delas – diz o médico enquanto observa Macha acedendo um
fogão feito de barro – Uma pena que o controle de natalidade em Áxis ainda seja
controlado.
Macha apanha uma cesta de frutos e com um
sorriso maroto põe na sua frente.
- Aqui nesse mundo
não tem controle de natalidade e as mulheres são muito férteis. Ajudei a fazer
muitos partos.
- Que notícia
agradável. Até meu apetite parece que melhorou.
Macha volta com um pote e dois copos de
madeira:
- Aceita uma bebida?
- Você produziu
bebida aqui?
- Não é bem assim –
sorrir ela – os nativos é que produzem. É uma fermentação feita com água e um
líquido viscoso e doce de um inseto que existe aqui.
- Sei do que está
falando. Foi por causa deles que me perdi na floresta.
Yusuke prova a bebida e elogia.
- Maravilhoso! Você
é uma mulher muita prendada Dra. Macha. Daria uma excelente esposa.
Macha se aproxima sensualmente de Yusuke,
beija a sua boca suave e repetidamente.
- Eu adoraria – diz
ela em seu ouvido.
Um raio seguido de trovão faz Macha correr
e fechar portas e janelas.
- Acho que vamos ter
muito tempo para conversar – disse ela.
Yusuke se levanta, vai em direção da amada
e a beija. Ela corresponde abraçando-o forte. Eles se olham profundamente e
começam a se despir.
Seus corpos nus se deitam e ambos fazem
sexo pela primeira vez. Uma explosão de prazeres, odores e respirações
ofegantes envolve o casal no clima de amor e cumplicidade.
Abraçados eles adormecem.
Ao acordarem, Yusuke revela que não tinha
sentido tanta felicidade como naquele momento. Macha sorrir e diz o mesmo, temendo
acordar de um sonho.
- Macha. Como foi
que você desapareceu?
- Estava no campo em
Mondena e escutei um som, algo diferente que chamou minha atenção. Não lembro
dos detalhes, seja lá o que aconteceu apagou da memória ou está escondido no
meu subconsciente. Mas lembro perfeitamente da sensação de uma presença reconfortante
e amistosa. Senti que partia de Mondena.
- Você não fugiu?
- Sempre penso
nisso, mas acho que não poderia, era uma experiência sensorial tão incrível. No
íntimo sentia que eu precisava vivenciar aquilo, que eu merecia está ali, que era meu destino. De repente uma luz me
envolve e quando recobro a consciência estou aqui nesse planeta. Reconheci que
era uma reserva, mas depois percebi que não havia nada que indicasse se tratar
de algo em Rhivis ou Áxis. Estava perdida. Se não fossem os nativos que me
acolheram e me deram sentido para continuar, acho que teria morrido de solidão.
Até hoje pela manhã, ainda não havia compreendido todo mistério.
- E qual foi?
Macha apóia a cabeça no peito de Yusuke.
- Encontrar você é
um deles. E o restante será decidido por você.
Yusuke beija a cabeça da amada.
- Vai ficar tudo
bem. Voltaremos para Áxis. Mei entrou em contato com o Comandante Akash e tenho
esperanças que o Sankta Spirito apareça a qualquer momento.
- Mei? Mei Meadhas
está aqui? – disse Macha se levantando.
- Bom. Agora é a minha
vez de contar como chegamos no paraíso.
Yusuke faz um resumo de como havia chegado
naquele planeta e dos fatos que o antecederam. Macha ficava atônita com os
relatos, sendo que algumas vezes chorava.
A tarde já havia chegado e a chuva perdeu
força. Macha trouxe roupas nativas e calçados para Yusuke.
- Ficou perfeito! –
disse ela
- Onde há charme e
elegância, qualquer vestimenta cai bem!
Macha sorrir:
- Quero que continue
sempre assim. As roupas da federação não causam boa impressão por aqui. O modo
camuflagem os assusta.
De repente ouve-se um chamado:
- Yusuke! Yusuke!
- É Dareh! – O
médico corre e abre a porta gritando – Estou aqui!
Os dois amigos correm e se abraçam.
- Yusuke! Que susto
você nos deu!
- Estou bem! Onde
está Rakrat?
- Está logo ali na floresta.
O deluviano se aproxima em silêncio.
- Olá amigão! Sentiu minha falta? – pergunta
Yusuke.
- Ele nem jantou ontem de
preocupação! – responde Dareh com humor.
- Ele? Acho difícil! –Yusuke solta
uma gargalhada.
Rakrat fica com cara de inocente, olha para um e para o outro e fica
confuso, sem ter o que dizer. Mais uma vez ele não entende o senso de humor dos
humarantes.
Perto dali, Macha fica na porta da cabana assistindo a cena e com a mão
na boca, impressionada por ver um deluviano pela primeira vez.
- Pode vir Macha, ele não morde! –
disse Yusuke.
Rakrat olha para Yusuke e vira a cabeça de lado, exatamente como fazem
os cães quando parece entender algo. Ele volta o olhar para Macha.
- Navan! Macha. Sou Rakrat, de Rhivis
– diz o deluviano postando a palma da mão com os dedos para cima.
A cientista perde o medo diante da delicadeza do gigante e se aproxima
também imitando a saudação.
- Navan! Rakrat. Sou Macha Liam, de Áxis.
Na alegria da emoção, Dareh não tinha prestado atenção no nome da
mulher, mas agora ele fica completamente atordoado.
- Ela disse se chamar...
- Isso mesmo! Macha.
- Incrível!
- Você não faz idéia quanto! – disse
Yusuke pondo a mão no ombro do amigo.
- Hã? Não entendi? – disse Dareh.
- Deixa pra lá! – disse o médico
sorrindo
- É uma honra em conhecê-lo Dareh.
- A honra é toda minha doutora! Sua
fama a precede.
- Posso imaginar – disse ela sorrindo
e olhando para Yusuke.
Nesse instante, Rakrat eleva o nariz para o alto.
- Temos companhia!
Um grupo de nativos sai da borda da floresta. Eles gritam, se assustam e
correm ao ver Macha com estranhos, sendo um deles um gigante.
- Eles estão assustados! Devem ter
achado as pegadas de Rakrat na floresta. Vão retornar com guerreiros e
caçadores! Querem me proteger! – disse Macha, aflita.
- Temos que voltar para o acampamento
urgente! – alerta Dareh.
- Eu vou com vocês! Mas acho melhor
levar as roupas nativas para vestirem.
Rakrat olha para Macha. Ela olha rapidamente para o gigante.
- Com exceção de você Rakrat!
Macha apanha todas as mudas de roupas nativas e as entrega para Rakrat
conduzir. O grupo segue em direção as cavernas, onde se encontra o acampamento.
Eles caminham apressados e segue as orientações de Macha que conhece um
atalho por um rio.
- Você teve tempo de explorar esse
mundo? – pergunta Dareh
- Não muito. Os nativos são
seminômades e durante o tempo que estive com eles tive que acompanhá-los. Já
andei muitos quilômetros por essa ilha.
- Como pode ter certeza?
- Seguindo por esse rio por 100
quilômetros aproximadamente, chegamos ao mar. Essas planícies são cercadas por
várias montanhas e constatei que o limite destas terras é sempre água. Os
nativos me confirmaram que em locais mais distantes também encontramos um
litoral. Minha conclusão é que estava numa ilha.
- Estamos numa ilha! – repete Rakrat.
- Nosso amigo gigante aqui já havia
nos dito e nem precisou andar tanto.
O grupo se aproxima da caverna e Dareh se anuncia em voz alta. É
correspondido por um aceno de Lunn.
- Chegaram – disse ele para Mei.
- Tem mais alguém entre eles –
observa Mei.
- É uma mulher! Uma humarante?
Aveline e Gruner também se aproximam e ficam surpresos.
- Yusuke! Espero que esteja bem –
disse Gruner que se aproxima e abraça o médico.
- Olá princesa! Sentiu minha falta? –
falou Yusuke para Mei que o abraça.
- Já estávamos começando a ficar
preocupados! – disse Mei olhando para a convidada – Desculpe, meu nome é Mei.
- Eu lhe conheço, Mei Meadhas, certo?
– disse Macha com um simpático sorriso.
- Então você é humarante?
- Macha Liam, sou botânica. Desapareci
em Mondena faz alguns anos e assim como vocês terminei aqui nesse mundo
desconhecido.
Mei olha para Yusuke, abre um sorriso e controla a emoção tentando ser
discreta.
- É incrível! – responde Mei – Esse é
Gruner meu irmão, Lunn e Aveline.
- Uma honra conhecê-los.
Yusuke pega na mão de Macha e fala sem cerimônias.
- Bem, para quem não conhece a nossa
história, Macha é mais que uma brilhante cientista, ela é o meu grande afeto
que estava desaparecido.
- Ela também tem a mesma conclusão de
Rakrat de que estamos numa ilha, inclusive já chegou ao litoral – informa
Dareh.
- É uma ilha! – diz Rakrat, sem
entender o motivo da teimosia dos humarantes.
Macha confirma:
- Sim, é uma ilha! E muito mais do
que isso. Tem muitas características físicas, atmosféricas e biológicas das
histórias e lendas de Tero Unua.
- Jaz conversamos muito sobre essa
possibilidade – disse Mei.
- Vislumbramos a ação de um retorno
temporal ou universo paralelo – completa Lunn sem muita segurança nas palavras
– sei que parece loucura mas...
Macha interrompe:
- Desculpe doutor. Mas o senhor corre
o risco de está certo. Estou nesse planeta há mais tempo e ainda não encontrei
uma teoria mais convincente.
- Um universo paralelo? – disse
Yusuke desanimado – Agora tenho certeza que nunca voltaremos para casa.
Lunn tenta explicar:
- Na teoria não é impossível, mas
nunca foi possível provar. Concordo que estamos numa galáxia desconhecida, num
planeta com uma lua semelhante a de Tero Unua, mas não temos como afirmar que
atravessamos para um mundo paralelo.
- Ele tem razão Yusuke – afirma Aveline
– Na estação já vimos muitos sistemas solares parecidos com este e com planetas
em zonas habitáveis. Enviamos uma mensagem e um sinal para o espaço usando o
consulte.
Macha olha para Yusuke, lembrando dos nativos:
- Tudo bem amigos, podemos discutir
isso depois. Temos outros problemas.
- Que tipo de problemas? – pergunta
Gruner.
- Existem grupos nativos que estão
vindos para cá.
- Que tipos de nativos?
- Do tipo parecido com nós – disse
Dareh – Eu os vi muito assustados com a presença de Rakrat.
Macha pede calma e explica o
motivo dos nativos estarem seguindo para lá e a sua relação com eles desde a
sua chegada.
- Divindade? – pergunta Aveline.
- Para a minha sorte, sim. Meus
conhecimentos humarantes influenciaram positivamente minha convivência com
eles. Por isso tive a necessidade de viver isolada deles para que não
interferisse muito em sua evolução natural.
- Eles são evoluídos, produzem
bebidas – disse Yusuke – Quero dizer, podem ser sociáveis, ter uma cultura e
comportamento não selvagem.
- Yusuke tem razão. São rústicos mas
não são selvagens, eles só querem me proteger por pura gratidão.
- O que aconselha? O que devemos
fazer? – pergunta Mei.
- Pedi a Rakrat para trazer essas
roupas. São artesanais e estão limpas. Estes uniformes da federação são
eficientes, mas se quiserem ter bons vizinhos é melhor fazer uso da moda local.
- E quanto a Rakrat? – pergunta
Aveline.
- Ele ficará ao meu lado, sentado no
chão. Assim perceberão que ele não representa ameaça para mim nem para eles.
Depois de um tempo, todos com exceção de Rakrat, estão vestidos com as
roupas nativas e as risadas são inevitáveis.
- Só faltava pêlos longos no rosto,
ficaríamos perfeitos! – disse Yusuke.
Macha concorda:
- Ficaria mesmo, mais isso foi
removido geneticamente ao longo da existência humarante. Mas todos os nativos
tem pêlos e seus hormônios parecem que estão sempre ativos.
Rakrat eleva a narina e sente o cheiro de algo.
- O que foi Rakrat? – pergunta
Gruner.
- Eles estão perto majestade e trazem
tochas.– responde o gigante.
Todos saem da caverna e observam uma fileira de nativos se aproximando
pela planície e outro grupo vindo pelo rio.
- Estamos cercados! – disse Dareh.
Macha observa com cuidado:
- Eles se uniram com outros clãs.
- Quantos clãs existem nessa ilha?
- A maioria se concentra no lado
oeste. Nessa região identifiquei três clãs.
- Estão andando devagar e cautelosos,
chegarão aqui no início da noite! – disse. Lunn.
Yusuke se aproxima, olha sem muito interesse e volta para a caverna:
- Bem amigos, confesso que estou
cansado de batalhas. Vou fazer o que sei de melhor além da medicina.
Ele pega na mão de Macha e entra na caverna.
- O que vai fazer? – pergunta Dareh.
- Vou cozinhar um ensopado, em outras
palavras, preparar o jantar. Os nativos estão chegando e devem está famintos.
Dareh olha para o Yusuke e fica imaginando o que se passa na cabeça do
amigo. Aveline se aproxima de Gruner e Lunn:
- O que faremos? Estamos mais uma vez
em perigo!
- Sem armas e sem aliados – responde
Gruner.
Mei observa com atenção a aproximação dos nativos.
- Eles estão com medo. Durante várias
gerações, eles nunca tiveram de conviver com seres do nosso tipo. Possivelmente
já tiveram guerras entre si, mas nunca enfrentaram o desconhecido que somos
nós.
- Não conhecemos o seu idioma, isso
torna as coisas mais difíceis – disse Lunn.
- Macha conhece um pouco, poderá ser
útil em convencê-los a não tentar nos matar – diz Gruner.
- Precisamos ficar calmos e
demonstrar que não queremos fazer mal – fala Mei com suavidade – Até agora não
houve violência direta, se eles perceberem que Macha está do nosso lado.
O gigante escuta a conversa de longe e se aproxima.
- Eles temem Rakrat! Eu sou
diferente! Sou uma besta para eles.
- Não diga isso amigo – comenta Mei –
Eles apenas não lhe conhece.
Gruner anda em direção ao deluviano e sussurra em idioma tryari:
- Sei que já pensou em algo, mas seja
lá o que for estamos todos juntos.
Rakrat olha fixamente para Gruner e também responde em tryari:
- Majestade! Sou responsável pela sua
segurança e não posso esperar que os nativos sejam amigáveis. Posso fazer
muitas coisas e eles podem ser mortos ou feridos com facilidade. Sabe que não
pode me impedir de protegê-lo e usarei todos os recursos para isso.
- Não faça nada por enquanto. Estamos
pensando em alguma coisa.
- Só existem duas coisas majestade:
ficar ou fugir. Se devo proteger os humarantes, preciso que sua majestade deixe
fazer do meu jeito.
- Você conheceu muitas raças e
culturas Rakrat! Já lidou com várias situações de conflitos. Não deixe que uma
lembrança ruim de uma experiência antiga domine seus instintos – adverte
Gruner.
Rakrat tem fragmentos de memória em que ele e seus irmãos deluvianos
eram perseguidos e encurralados por nativos em circunstâncias semelhantes.
- Rakrat! – diz Gruner com voz firme.
O gigante desperta do transe.
- Farei o melhor possível, majestade.
Mas preciso que todos entrem na caverna e só saiam quando for seguro.
Mei e Lunn ouvem os sussurros de Gruner com Rakrat.
- Estão falando em tryari – comenta
Lunn – Gruner parece um pouco exaltado.
- Ele está preocupado com Rakrat e do
que ele é capaz de fazer para nos proteger.
- Posso imaginar o estrago. Aquele
bracelete é uma arma poderosa, já vi em ação. Mas, você entende o que eles
dizem?
- Sim! Por isso tenho esperança de
ter sorte com os nativos.
- Pela expressão do seu irmão, acho
que ele não está gostando muito da conversa. Mas confio nas suas habilidades.
- Essas habilidades ou percepções
estão cada vez mais ativas, se manifestam naturalmente. Não posso evitá-las e
nunca sei qual será a próxima.
- Sempre tive certeza que você é uma
pessoa especial. Mas nunca imaginei que poderia ser amado por uma semideusa.
Desde que chegamos em Gir que não temos paz. Yusuke está certo, estamos
cansados de guerras.
Mei se aproxima com um leve sorriso e beija Lunn. Ela põe a palma da mão
na testa dele, que experimenta uma agradável sensação de paz e confiança.
- Amo você Lunn. Tudo vai terminar
bem. Vamos para a caverna.
Gruner termina de conversar com Rakrat, estende a mão para Aveline que
está sentada numa pedra e a convida para entrar.
- Vamos para a caverna?
Aveline sem questionar pega na mão de Gruner e ele, ainda tenso com a
conversa com Rakrat, não mede a força em que puxa Aveline. Ela vai forte para
perto dele, encostando-se ao seu peito e com seus rostos e lábios quase se
tocando.
- Achava que esse método antigo de
convidar uma mulher para entrar numa caverna havia sido extinto – diz Aveline,
tirando os cabelos do rosto com a mão.
Gruner percebe que exagerou na força. Seus olhos estavam fixos nos olhos da humarante. Ele sentiu o cheiro
do seu corpo e a uma forte atração física. Soube naquele momento que ela seria
a mulher que o destino havia lhe reservado.
- Eu...eu...desculpe!
Aveline responde com uma sensualidade discreta:
- Não precisa. Eu até que gostei.
Todos, com exceção de Rakrat, seguem para o interior da caverna. O
cheiro da sopa feita por Yusuke e Macha pode ser sentido a distância. Dareh não
resiste:
- Amigo! Esse parece o melhor caldo
que você fez, que cheiro delicioso! Posso experimentar?
- Desse não, meu amigo. Esse caldo
são para os convidados. O nosso está reservado ali e também está muito gostoso.
- Não entendo?
- É que Macha e eu colocamos alguns
ingredientes especiais nesse caldo. Mas não se preocupe, não é veneno.
- Nunca imaginaria isso.
- Meu amigo, você não imagina o que
uma mente sobrecarregada de medo é capaz de fazer. Mas, se uma sopa bem
cheirosa e saborosa tiver um componente relaxante...
- Você trouxe aquela erva? Você vai
colocar dezenas de nativos para dormir?
- Qual é o problema? Dormir faz bem. Pedirei
para que Rakrat leve essa grande tigela de madeira que ele mesmo fez para poder
tomar o seu caldo e deixar na clareira logo a baixo. Ele se retira discretamente
e volta para a caverna.
- Os nativos vão chegar famintos e
não vão resistir o cheiro e comerão. Isso é incrível! Mas será que vão comer
mesmo?
- Macha disse que eles apreciam esse
caldo, ela mesmo fez para eles e quantidade de erva tranqüilizante que
trouxemos é pouca. Usaremos toda a comida que temos, os frutos as caças e até o
líquido doce daqueles insetos nervosos.
- Um banquete? Você vai oferecer as
boas vindas com comida?
- Sim, funciona em muitas culturas e
acho que eles vão entender a nossa mensagem o problema é convencer Rakrat a não
comer.
Risos.
- Rakrat escutou! – falou o deluviano
lá fora – Rakrat entendeu! Não tenho fome agora.
- Ah! Isso é muito animador. Agradeço
a sua colaboração.
Em pouco tempo, Rakrat já havia levado toda a comida para a clareira
logo abaixo, o único caminho que os nativos certamente teriam que passar até
subir uma pequena elevação até a caverna.
A noite já havia chegado, e com ela dezenas de nativos segurando tochas
com fogo alto. Como planejado, Rakrat viu a aproximação de alguns nativos mais
corajosos. O Gigante se levantou com calma, olhou para eles e os saudou.
- Navan!
Os nativos estranharam a saudação e constataram que não era um animal
feroz e devorador.
Rakrat vira de costas e segue andando tranquilamente para a caverna.
Como era esperado, outros nativos se aproximam seduzidos pelo aroma da comida e
aos poucos vão saciando a fome e sede. A erva tranqüilizante começa a fazer efeito
e alguns apresentam os primeiros sinais de sono, mas o grupo que Rakrat saudou
não comeram e seguiu os passos do gigante que entra na caverna.
- Reconheço esses nativos, são
líderes de três clãs, são muito respeitados e corajosos – comenta Macha.
- O que você disse para eles Rakrat?
Estão vindo para cá. – pergunta Yusuke.
- Rakrat os saudou – responde ele.
- Bem. Acho que eles entenderam
alguma coisa na língua deles para seguir você.
Os anciões nativos começa a falar em sua língua rudimentar. Macha escuta
atentamente o que eles dizem e compreende o sentido. Rakrat continua na porta
da caverna e nada passaria por ele.
- Eles querem me ver! – Disse Macha,
que seguindo para fora da caverna levanta os braços para Rakrat – Está tudo bem! Conheço ele, é o líder do
clã que me ajudou.
- Macha! – disse o líder nativo.
- Cruthin! – responde ela.
Macha vai ao encontro do líder, faz uma reverência como a suas tradições
e o abraça. Ele disse algo para ela e põem a mão em sua cabeça e aponta para os
outros líderes de clã que se aproximam.
Ainda com dificuldade, Macha reverencia e conversa com os outros
líderes, sendo um deles um adulto jovem segurando uma lança.
Rakrat imóvel, observa tudo com atenção.
- Parece que está havendo uma boa
comunicação lá fora – disse Aveline.
Lunn concorda:
- Não estão exaltados e ela entende
um pouco a língua deles.
Macha se aproxima da entrada da caverna e chama seus amigos:
- Está tudo bem, eles não querem nos
machucar, vieram por Rakrat.
- O que eles querem com Rakrat? –
pergunta Dareh
- Eles o idolatram. Acreditam que
seja um deus e querem lhe oferecer as honras.
- Rakrat não é um deus – disse o
gigante.
- Se eu tivesse a sua altura e força
eu com certeza seria – disse Yusuke – Vamos lá amigo, aceite a situação. Olhe
para eles! Todos gostam de você e lhe respeitam.
Rakrat olha para Gruner que o estimula a aceitar:
- Aqui nesse mundo, meu fiel amigo,
você é o soberano.
- Majestade, não sou nenhum deus.
- Então eu ordeno que seja! Para a
nossa segurança e paz desse povo acolhedor e pacífico.
Rakrat se aproxima dos líderes e faz uma reverência. Os líderes se
abaixam até o solo e todos os nativos fazem os mesmos, com exceção daqueles que
estão dormindo devido ao caldo sonífero.
O líder Cruthin, fala para Macha que ao amanhecer eles irão embora e que
em cinco dias voltarão para onde ela mora e construirão mais casas para eles,
inclusive a maior que for possível ser feita para Rakrat.
Macha agradece e promete estar em casa quando eles chegarem.
A noite foi fria e tranqüila, não havia chovido. Aos primeiros raios de
sol os nativos já se movimentavam de volta para seus lares. Estavam felizes por
ter agradado seu deus. No alto de uma colina, Rakrat os observa, para alegria
deles.
Mei assim como todo o grupo, estava feliz e surpresa.
Aveline e Gruner sorriam pelos cantos, lembrando da dificuldade que os
nativos tiveram em carregar os que tomaram a sopa. Yusuke se defende:
- Eu não convidei ninguém para comer,
eles comeram por si próprios.
- Para eles não faziam diferença –
explica Macha – poderiam dormir o resto da vida ou até mesmo morrerem. O que
eles comeram foi oferecido pelo seu deus.
- Então Yusuke, você foi promovido a
cozinheiro do deus Rakrat, como se sente? – diz Dareh em tom de brincadeira.
- Finalmente ocupo o posto que
mereço! – responde Yusuke, arrancando sorrisos de todos, menos de Rakrat, que
continua sem entender o humor dos humarantes.
Todos retornaram para a casa de Macha. E após os cinco dias, os nativos
haviam retornado como prometido e trabalharam durante semanas para construir as
casas.
Os meses foram passando e a convivência dos humarantes com os nativos
eram os melhores possíveis. Tiveram a oportunidade de conhecer toda a ilha e de
compartilhar com outros clãs.
Realizaram o casamento de Macha e Yusuke e no ano seguinte comemoraram o
nascimento do primeiro humarante fora da Galáxia de Áxis. Yusuke faz o parto
com a ajuda de Mei e Aveline e olha emocionado para a sua filha que acaba de
nascer.
- Se chamará Unua Liam Jun – diz o
pai.
- Um belo nome – comenta Aveline.
Mei está tão emocionada que não consegue dizer uma palavra. Ela beija a
testa de Macha e sai para dar a notícia. Dias depois, os nativos chegam com
presentes.
A vida segue seu curso. Os humarantes estão perfeitamente adaptados ao
planeta, não sentem mais os efeitos da gravidade pesada, do contato direto com
a natureza e dos recursos tecnológicos que haviam a disposição na evoluída
sociedade humarante. Estavam felizes com suas vidas, suas rotinas de trabalho e
dos conhecimentos que adquiriam. Aprenderam a língua local e faziam todo o
possível para não interferir no desenvolvimento dos nativos e evitavam produzir
equipamentos sofisticados. Já estavam conformados de que não retornariam para
Áxis. Com o tempo, pararam de pensar nisso.
O relacionamento amoroso entre Mei e Lunn não poderia está melhor, assim
como o de Aveline e Gruner. Todo o ano, Dareh fazia viagens na primavera, na
companhia de Rakrat e só retornavam no verão. Se beneficiava de ser considerado
o melhor amigo do seu deus e alguns nativos comentavam que Dareh se envolvia
com belas nativas do litoral oeste. Não existia uma companheira para o gigante,
mas Rakrat não se importava com isso e ajudava com sua força a construir casas,
muralhas e derrubar árvores.
Durante as inúmeras viagens, eles conversavam sobre tudo que havia
ficado no passado. Numa noite, Dareh e Rakrat estavam no interior de uma
caverna. Eles falavam sobre os deuses e se o fato de estarem naquele planeta
foi por decisão deles. Rakrat dizia que se os deuses decidiram assim era para o
bem deles. Dareh aprendia aos poucos a língua deluviana. Todas as vezes que
viajava, fazia uso, escondido dos nativos, da caneta lazer que Yusuke havia lhe
emprestado. Ele usava basicamente para acender fogo ou fazer marcas nas pedras
por onde viajava. Mas uma vez escreveu em uma lasca de pedra, na língua
humarante, uma frase religiosa dos deluvianos que ele achava muito
interessante: “Em teu ser, a minha vida prospera”. Ao perguntar para Rakrat o
que significava, ele dizia que era uma frase muita antiga, quase uma lenda
entre os deluvianos. Dareh não alcançou completamente o sentido da frase,
apesar do esforço de Rakrat fazê-lo entender, mas percebeu intuitivamente que
fazia uma alusão de que o universo em que vivemos é uma imensa “bolha” que
flutua e se encontra dentro de outro universo de aspecto e natureza totalmente
diferente.
Rakrat desconfia que os deuses que ele serve a tanto tempo, atravessaram
essa “bolha” e que agora tentam retornar por ela. Dareh tinha muito orgulho de
ser amigo de um deluviano, no entanto achava que Rakrat tinha algumas
ingenuidades, apesar de nunca ter dito para ele. Dareh era muito prático e as
questões místicas e religiosas não atraiam a sua atenção.
Em outra situação, caminhando por uma relva florida, Dareh perguntou ao
gigante quem deu o nome dele de Rakrat. O deluviano respondeu que Rakrat é o
que os humarantes chamam de apelido e significa “desconfiado” na língua tryari.
- Um nome bem sugestivo – disse
Dareh.
Rakrat concorda sem questionar.
- Mas então, qual é seu nome de
verdade?
O deluviano para de caminhar, olha para o amigo e diz:
- Meu nome é Gumerzind. Todos da
minha linhagem se chamavam assim.
- Gumerzind? Estranho, me soa
familiar. Mas prefiro continuar lhe chamando de Rakrat.
- Como preferir – diz o gigante em
língua deluviana.
- Eu não tenho apelido, na verdade
são poucos os humarantes que o possuem.
- Eu o chamaria de Quasar.
- Quasar! A estrela? É o que significa?
- É um nome antigo. Para mim
significa “amigo inseparável” – revela o gigante.
- Prefiro sem apelido, mas gosto do
significado.
Rakrat enquanto caminha, eleva a palma da mão esticada até a testa
imitando o gesto de continência dos militares.
- Lembra disso?
- Acho que é uma antiga saudação
militar – responde Dareh.
- Bem lembrado – diz Rakrat, sem
explicar o motivo.
Dareh muda de assunto e passa a reclamar de dores no pescoço:
- Rakrat! Você sabia que nasceu uma
vértebra nova no meu pescoço de tanto olhar para cima enquanto falo com você?
Dessa vez Rakrat esboça um traço de sorriso discreto no canto da boca,
parece que finalmente começou a entender o humor dos humarantes.
- Ande distante de Rakrat, assim não
vai precisar olhar para cima – disse o gigante.
Dareh aceita a sugestão, caminha dezenas de metros assim, mas aos poucos
vai se aproximando do amigo deluviano.
- Desistiu? – pergunta Rakrat.
- Gosto de conversar quando caminho e
distante teria que gritar.
E os dois amigos continuam sua jornada.
Numa certa manhã, a garotinha Unua se levanta da cama trazendo uma
boneca de palha e tecido. Seus pais ainda estão dormindo e ela caminha curiosa para
frente da casa.
A natureza ao redor está silenciosa, nenhum pássaro canta. Uma leve
brisa passa a se tornar um vento mais forte. A pequena Unua, que agora tem seis
anos de idade, olha para cima e ver uma imensa sombra que sai das nuvens,
fazendo o dia escurecer. Ela anda tranquilamente para dentro da casa, sobe na
cama dos pais e tenta acordá-los.
Macha desperta:
- O que foi meu anjo?
- Mamãe, tem uma coisa grande lá fora.
Yusuke escuta a conversa:
- Filha, levantou cedo? Está tudo
bem?
- Ela disse que tem uma coisa grande
lá fora – repete Macha.
- Deve ser Rakrat – responde Yusuke,
ainda sonolento.
- Não é Tio Rakrat – responde a
garotinha.
- Onde exatamente lá fora meu
anjinho? – pergunta Macha.
A pequena Unua levanta o braço e aponta o dedo para cima.
- No céu.
- No céu?
- No céu? – fala Yusuke, pulando da
cama e quase tropeçando em um cesto.
Macha já grávida do segundo filho, pega a mão de Unua e segue o marido
até o jardim. Lá fora eles já encontram Rakrat, Dareh, Mei, Lunn, Gruner e
Aveline, todos olhando para cima. Yusuke levanta a cabeça bem devagar e se depara
com a exuberância do Cruzador Sankta Spirito, surgindo em companhia de nuvens
brancas descarregando faíscas elétricas.
- Pelos deuses!
O médico observa com tristeza a alegria de Mei e Lunn se abraçando e se
beijando. Aveline começa a chorar sendo abraçada por Gruner. Dareh observa
emocionado, enquanto Rakrat acompanha os movimentos da nave.
- O que é isso mamãe? – pergunta
Unua, com doce inocência.
- São nossos amigos que vieram do céu.
A nave para e segundos depois esferas saem de compartimentos voando
baixo nas casas e no entorno, identificando o local e conferindo se é seguro.
Uma luz desce da base do cruzador e materializa seis soldados armados da
federação e em seguida outra luz traz o Comandante Akash.
- Saudações meus
queridos irmãos, espero não ter demorado muito – disse o comandante abrindo um
largo sorriso.
Mei grita o nome de Akash e corre em
direção dele abraçando-o demoradamente.
- Como vai minha
menina? Sinto muito não ter chegado em Gir a tempo.
- Gir? Faz tanto
tempo que não escuto esse nome – disse Mei, em lágrimas.
- Roupas
diferentes majestade, quase não reconheci. Espero que esteja bem.
- Comandante Akash Abhaya! Que bom que está aqui! Como
pode ver, estou muito bem.
- Muito bom saber disso.
- Meu pai e minha mãe? Como estão? –
pergunta Mei – Fomos trazidos para cá, mas ela e Khufu não vieram.
- Khufu? Sinto muito Mei, mas não o
conheço. Minha missão é resgatá-los.
- E a Guerra? – pergunta Yusuke.
- Não conheço os detalhes, mas até
onde sei, parecia que estava no fim – responde o comandante enquanto caminha em
direção ao grupo.
- O senhor está bem Dr. Yusuke?
- Só um pouco tonto, acho que é a
emoção. Sempre imaginei quando seria esse dia.
- Há quanto tempo estão aqui?
- Mais de seis anos – responde Macha
enquanto ampara Yusuke.
- Respire meu querido.
- Seis anos?
- Como conseguiram nos achar? –
pergunta Lunn.
O comandante olha para um dos soldados e faz um sinal para entregar algo
e diz:
- Acho que isso lhe pertence.
- Meu consulte! Então funcionou?
–Lunn segura seu computador quântico de multifunções e finalmente acessa as
coordenadas geográficas do planeta.
- Sem ele não teríamos encontrado
vocês.
- E afinal? Onde estamos? – pergunta
Aveline.
- Sinceramente, não sabemos ao certo.
Não tivemos tempo de explorar esse sistema. Existem muitas perguntas sem
respostas, mas agora temos que voltar para casa.
- Mas nós estamos em casa – fala
Unua, com ingenuidade infantil.
- E essa bela garotinha?
- É nossa filha, senhor – responde
Yusuke – Seu nome é Unua.
- Belo nome – diz o comandante pondo
a mão na cabeça dela.
- Temos que ir agora? – pergunta
Macha.
- As circunstâncias que nos trouxeram
aqui são raras e inacreditáveis meus amigos, mas acho que nosso tempo está
acabando, precisamos ser rápidos.
- Rakrat está pronto – disse o
gigante.
O comandante olha para os demais que também confirmam estarem prontos
para partir, com exceção de Yusuke e Macha.
- Algum problema doutor?
Yusuke olha para esposa.
- Foi isso Macha, que você quis dizer
quanto ao mistério que seria resolvido por mim?
- Sim, meu querido. Sua família o
seguirá para qualquer destino em que seu coração estará feliz.
- Já não acreditava, assim como
vocês, que algum dia poderia retornar para Áxis. O que agora é diferente de
retornar para casa – explica. Yusuke com os olhos emocionados – Sempre me achei
uma pessoa feliz, mas está aqui com Macha, minha filha e vocês nesse planeta é
algo que foi além das minhas expectativas.
Dareh se aproxima:
- O que você quer dizer com isso meu
amigo?
- Unua tem razão. Já estamos em casa
– responde o médico – Sentirei sua falta meu amigo e lembre-se que todos
estarão em nossas lembranças. Só peço que entendam a minha decisão.
- Você é um maluco sabia? – disse
Dareh, que abraça fortemente o amigo – sentirei saudades.
Macha abraça e beija seu marido.
- Sim, estamos em casa. Na morada em
que foi reservada para nós.
Yusuke com um simples toque, retira a pulseira de localização do punho e
entrega a Lunn.
- Acho que não vou precisar mais dela
– disse ele.
- Fique com o consulte, será de
grande utilidade.
- É uma tecnologia muita avançada
para existir nesse mundo meu amigo. Temos as ferramentas que precisamos,
ficaremos bem.
Os amigos se despedem de Yusuke, Macha e Unua. Logo depois, eles ficam
próximos aos soldados.
- Adeus Tio Racrat! – disse Unua
sorrindo. O deluviano ergue a mão em saudação.
- Navan! Pequena Unua.
- Navan! Tio Racrat!
Um facho de luz desce da nave e os teletransporta. O Comandante Akash
foi o único que ainda ficou em solo. Ele se aproxima e se também despede:
- Foi um momento breve, mais muito
feliz Dr. Yusuke. Tem algo que ainda eu possa fazer por vocês?
- Sim comandante. Macha e eu
gostaríamos que os nossos NRs fossem removidos. Viveremos conforme a natureza
deste mundo permite. Não queremos que no futuro, nossos filhos tenham a
aparência de ser mais velhos que seus pais.
O comandante reflete um pouco sobre a decisão deles:
- Entendo doutor. Mas vocês mesmos
podem fazê-lo, os NRs podem sair se assim, seus hospedeiros desejarem. Apenas
fechem os olhos, façam o pedido com sinceridade e eles atenderão.
O casal de mãos dadas segue a orientação do Comandante Akash e em poucos
segundos dois minúsculos pontos de luz do tamanho de um grão de arroz saem de
suas bocas. O NRs flutuam em direção ao comandante e pousam na palma de sua
mão.
- Seu pedido foi atendido. Sejam
felizes nesse mundo.
- Obrigado senhor. Façam uma boa
viagem de retorno.
Um último facho de luz desce sobre o comandante que retorna para a nave.
O Cruzador Sankta Spirito se ergue lentamente
e acelera para o espaço. Yusuke e sua família observam com entusiasmo acenando.
Eles escutam a nave emitir o som de aviso e entra na hipervelocidade, deixando
para traz um rastro eletromagnético luminoso.
O comandante vai ao laboratório de
quarentena e encontra seus amigos. O médico de bordo confirma que estão em
perfeita saúde e não há riscos para a tripulação.
O grupo se banha, troca de roupa e lhes é
oferecido uma refeição leve. Logo depois são conduzidos para um salão de
recepções e são aplaudidos e ovacionados pela tripulação. Aveline não se contem
de alegria quando encontra a sua amiga Aurora.
Mei pede ao comandante para que autorize
ela e os amigos ficarem na ponte com ele.
- Acho bom – disse
ele com humor – Não quero perder vocês de vista.
Já na ponte de comando, os Doutores Lunn e Petronius
trabalham juntos em compilar todos os dados possíveis do planeta em estiveram e
conferir o curso da nave em direção ao buraco negro.
- O comandante
tinha razão – disse Petronius – A singularidade está fechando.
- Tenho minhas
dúvidas que isso possa ser um buraco negro – afirma Lunn – Mas pelo que você
relatou, está mais para uma passagem interdimencional.
O Comandante Akash chega na ponte:
- Estamos prontos!
Tomem suas posições! – Fala alto e em bom tom para toda tripulação escutar.
Os NRs voltam a deixar a tripulação
inconsciente e cobrem seus corpos e todo o casco do cruzador, que entra no
buraco negro e desaparece.
Todos sabiam que os riscos eram grandes e
que apenas o NRs poderia garantir a chegada do cruzador na Galáxia de Áxis em
segurança.
No planeta sem nome, Unua se encontra nos
braços de Yusuke. Ainda olhando para o céu, ela pergunta:
- Pai. Eles
voltaram!
- Não sabemos
minha filha. Mas eles não foram, estão aqui agora com a gente. Em nossos
pensamentos. Agora vá brincar um pouco.
A pequena Unua sai correndo para um
balanço feito por Dareh.
Macha deita a cabeça no ombro do marido.
- Ficamos sem
saber onde estamos – disse ela.
- Mas eles sabem –
responde Yusuke, que segurando a mão da esposa, retornam para a cabana para
fazer o café da manhã.
Capítulo
19
LA LUMO DE AXIS
(A Luz de Áxis)
Um criado bitinus sobe apressado pelas escadarias do Castelo de Ar tok.
Ele atravessa um longo corredor até encontrar dois guardas protegendo uma
porta.
- Tenho uma mensagem para o tutor!
Um dos guardas bate na porta e em menos de um minuto é aberta.
- O que está havendo? – pergunta
Giambo Zoolie.
- Uma nave da Federação Áxis atravessou
a nossa galáxia! Wustah Drac pede a sua presença no salão nobre!
- Estou indo!
Ao chegar ao salão, ele encontra os conselheiros de Tryari e uma imagem
no painel estelar de uma rápida luz atravessando a Galáxia de Rhivis.
- Alguém pode informa o que está
acontecendo?
- Desculpe incomodá-lo tão tarde –
responde Wustah Drac – Identificamos essa nave e fizemos estudos gráficos
detalhados da sua origem.
- Federação Áxis?
- O Cruzador Sankta Spirito, para ser
preciso. No entanto um pequeno e importante detalhe é suficiente para
desacreditar nisso.
Giambo Zoolie se aproxima da imagem e repete algumas vezes.
- Onde foi gravada?
- Em menos de uma hora, próximo a
Mondena.
- É muito rápido!
- Na verdade, essa imagem foi gravada
em um momento de desaceleração. Durou apenas quatro segundos e depois sumiu.
- Como assim, sumiu? Deve ter deixado
alguma assinatura ao entrar na hipervelocidade.
- Infelizmente não encontramos
nenhuma assinatura. Não sabemos de onde veio e nem para onde vai.
- E como você pode afirmar que seja o
cruzador da federação?
Wustah Drac mostra no painel as silhuetas da nave e as semelhanças.
- Veja! Até os pontos mais
expressivos do casco, o tamanho, a cor branca.
- Está mais brilhante – observa
Giambo Zoolie.
- Desde que recuperamos as
comunicações com a federação, faz mais de um ciclo que o cruzador desapareceu e
seu último curso foi para Mondena.
- Eles estavam a procura de um grupo
desaparecido no Planeta Gir e sabemos que o regente teve contato com eles.
- A federação não os encontrou no
Planeta Gir. Sempre acreditamos que houve uma fuga e que estariam vivos em
algum lugar.
De repente, um deluviano surgiu no painel de comunicação:
- Navan! Giambo Zoolie – disse
Truskas Zim, falando da Lua Negra.
- Navan! Precisamos de boas notícias
meu amigo.
- Felizmente as tenho senhor. Confirmamos
que a nave é o Cruzador Sankta Spirito. Também captamos uma mensagem
criptografada que informa a presença do regente e nosso irmão Rakrat. Seguem
curso para a Galáxia de Áxis.
- Estão vivos! – alegra-se Wustah
Drac.
- A Lua Negra seguirá para Áxis nesse
momento, manteremos informados – encerra Truskas Zim.
Toquem as cornetas! Acordem o povo! Avise toda a Galáxia de Rhivis que o
regente está vivo! – ordena Giambo Zoolie.
Em pouco tempo, a população de Tryari estava em festa e ansiosa para
rever seu amado governante.
No Planeta Urbo, o General Meadhas encontra-se temporariamente afastado
das suas funções militares. Muitos oficiais foram substituídos e outros
nomeados após a grande guerra.
Isolado em um jardim, o general, sempre no início das manhãs, se dedica
em cuidar das flores que Mei cultivava caprichosamente. Não havia um dia em que
ele não pensasse na filha, apesar de que sabia que ela estava viva e segura,
desde o seu último contato com a Chave e a confirmação da sua esposa Solaris,
que entra no jardim.
- Mei vai ficar orgulhosa de você
quando ver suas flores tão bonitas.
O general se vira e olha para Solaris:
- Estou me esforçando, mas acho que
sou melhor em funções militares.
- Disso não temos dúvidas – diz ela
beijando o marido – Você já se tornou uma lenda na federação.
O comunicador de pulso do general emite um sinal de mensagem. E ele
atende:
- Sim!
Uma pequena esfera luminosa sai do comunicador e flutua na frente dele
projetando uma imagem de um oficial.
- General! Recebemos uma mensagem do
governo de Rhivis! O Cruzador Sankta Spirito está de volta!
O general fica tão emocionado que não consegue falar.
- General!
- Onde estão? – pergunta o general
com Solaris o abraçando.
- Não temos essa resposta senhor. Mas
de acordo com a velocidade que foi observada chegará em Áxis a qualquer
momento.
- Envie uma nave de transporte,
seguirei agora para Sudaj Ventoj! Comunique a Embaixada Unida.
- Imediatamente senhor.
O Cruzador Sankta Spirito finalmente desacelera próximo a órbita do
Planeta Urbo. Ao sair do buraco negro, os NRs haviam liberado os corpos da
tripulação, estavam todos novamente conscientes, no entanto os NRs que
protegiam o casco permaneceram na mesma velocidade.
A tripulação não sabia explicar o motivo dos NRs se manterem como escudo
protetor, uma vez que só era necessário no momento de entrar e sair do buraco
negro.
Lunn e Petronius descobriram um sinal deixado pela Chave, orientando os
NRs a seguirem o mesmo curso traçado por ela, sendo assim, chegariam a Urbo em
um extraordinário tempo, nunca antes realizado por uma nave da galáxia, com
exceção das astronaves conduzidas pelos deluvianos.
Ao se aproximarem de Mondena, Lunn percebeu que haveria na programação
da Chave uma curta desaceleração e que se poderia enviar uma mensagem para o
governo de Tryari, e assim foi feito, confirmado posteriormente pela Lua Negra
que visualizou o cruzador no subespaço.
- O que aconteceu? Já estamos em
Urbo? – pergunta Mei.
- Em alguns minutos. Entramos num
tipo de vácuo deixado pela Chave – responde Lunn.
- É extraordinário! – completa
Aveline – Atravessamos de uma galáxia para outra em pouco mais de uma
hora!
- Fico imaginando as distâncias que a
Chave consegue atingir percorrendo o universo – diz Petronius.
O Cruzador chega ao Planeta Urbo:
- Estamos em manobra de aproximação –
diz o comandante – Seremos tele transportados para a embaixada. Estão todos
prontos?
- Mas do que prontos, senhor – disse
Dareh.
- Muito bem – responde o comandante,
que ao lado de Aurora, abre o canal de áudio para toda a nave.
- Tripulação do Sankta Spirito.
Durante nossa longa e árdua missão, experimentamos sensações indescritíveis.
Sentimos medos e incertezas, sofremos
com perdas irreparáveis de familiares e amigos queridos. Enfrentamos o inimigo
e mergulhamos corajosamente no desconhecido e dele retornamos, voltamos para
casa. Essa nave, tem dimensões maiores do que muitas vilas e cidades que
visitamos na galáxia. Mais do que tripulantes, somos uma parcela significativa
da população humarante que não herdou o sentimento de sobrevivência por acaso,
pois desde a nossa histórica e quase lendária partida de Tero Unua, existimos
para sobreviver. Falo em particular para cada um de vocês, inclusive muitos
quem nem cheguei a conhecer pessoalmente, que foi uma honra servir a causa da
nossa raça em sua companhia. Estou deixando o comando desta nave, como já havia
sido anunciado, mas meu coração e meus pensamentos estarão selados junto com os
de vocês para sempre. Permito-me como último ato de comando, ordenar que toda a
tripulação retorne para suas casas e aproveitem do merecido descanso se assim
desejarem. Quando retornarem, estarão sob o chamado amigo do seu futuro
comandante que ainda será conhecido. Muito obrigado – conclui o comandante.
Toda a tripulação que está na ponte e seus amigos, aplaudem o oficial e
o abraçam.
O cruzador se aproxima da atmosfera de Urbo e desce ao planeta parando
no céu há poucos quilômetros de altitude sobre a Embaixada Unida. A nave emite
um som grave, diferente daquele que anuncia a partida quando entra na hipervelocidade,
um som com notas longas e variadas que anuncia a alegria de sua chegada.
Naves de transportes começam a sair e entrar nos hangares abertos do
cruzador, conduzindo em viagens de ida e volta dezenas de novos substitutos de
técnicos, militares e grupos de diversas especialidades, que passarão muitos
meses cuidando e reparando a grande nave.
Uma multidão se aglomera nos largos jardins da embaixada. Em um local
alto e reservado aos embaixadores e autoridades, encontra-se o General Meadhas,
na companhia de Solaris e Suna Levigo.
O cruzador emite outro som, rápido e forte. E todos observam os feixes
de luzes que se projetam sobe um piso, cujo um desenho em forma de mandala
decora o mosaico de ladrilhos brilhantes.
Quando a luz esmaece, todos podem ver o Comandante Akash na companhia de
Aurora, Mei, Lunn, Dareh, Gruner, Aveline e Rakrat.
Como já era esperado, Mei corre em direção aos seus pais. Ela abraça o
general e Solaris ao mesmo tempo e chora de alegria. A Embaixadora Suna Levigo,
falando é língua Tryari, se aproxima do regente Gruner Ar e oferece as boas
vindas em nome de todos os representantes da Federação Áxis que ali se fazem
presentes. Ela também cumprimenta respeitosamente Rakrat, utilizando a saudação
Navan. Sem cerimônias a embaixadora abraça Dareh, Lunn, Aveline e Aurora.
Mei vem caminhando com o General Meadhas segurando a sua mão. Ao chegar junto
de Gruner ela o apresenta:
- Gruner esse é o meu querido pai
Anor Meadhas. E pai, esse é o meu querido irmão.
O general estende a mão e Gruner corresponde apertando-a com as duas.
- É uma honra senhor.
- A honra é toda minha. De hoje em
diante, aceite a minha família como sua.
Solaris abre um largo sorriso e abraça Gruner.
- Será amado por todos nessa galáxia
– disse ela.
Gruner responde as gentilezas:
- A semelhança física confirma que
minha irmã e eu somos biologicamente de descendência humarante, assim como
desejaram os deuses. E agora mais do que nunca, sinto que já faço parte de uma
família maior e isso me alegra. Tryari é meu mundo natal, foi onde minha mãe
confiou a minha proteção e formação. Áxis agora é o meu futuro e minha redenção.
Gruner olha para Aveline, e com um gesto de mãos a chama para perto dele:
- Desejo a permissão desse amado
povo, que é sinônimo de força, esperança e liberdade, que as nossas uniões
sejam brevemente seladas pelos filhos das duas galáxias irmãs.
A Embaixadora Suna Levigo faz com um gesto silencioso, confirmando o
desejo do regente de Tryari em se casar com uma humarante.
O general ainda bastante emocionado agradece a Gruner e os demais por
ter protegido Mei e tê-la trazido para casa.
- Na verdade general, Mei e que nos
salvou – disse Lunn.
Mei segue em direção a ele e o abraça falando em voz baixa em seu
ouvido:
- Preciso chegar em casa e conversar
com meus pais. Há muito que ser dito, passamos muitos anos no planeta sem nome,
mas para eles foi pouco mais de um ano. Prometo que não demoro em te procurar.
- Estarei esperando.
O general um pouco constrangido, percebe a ligação íntima de Mei com
Lunn. Solaris olha para ele a alisa seu braço suavemente:
- A nossa menina que viajou para a
estação de fronteira, voltou mais experiente, mais forte e transformada numa
bela mulher – disse ela.
Antes que o general falasse uma palavra, Mei já o agarra e chama para
voltar para casa:
- Vamos pai! Temos muito que conversar.
- Teremos jantares maravilhosos,
podemos chamar seus amigos em breve – comenta Solaris.
- Acho uma excelente idéia – responde
Mei.
Gruner e Rakrat são conduzidos as dependências da embaixada, onde terão
todas as atenções e cuidados. Dareh e Lunn encontram seus parentes e Aveline,
que foi para a base militar da embaixada, foi calorosamente recebida por um
grupo de representantes do Planeta Rugo que estava de visita diplomática. Ela
encontra também o Capitão Adani e a Comandante Diana.
Ao chegar na entrada dos aposentos, Gruner tem um pedido a fazer a
Rakrat:
- Providencie um contato com castelo,
preciso falar com Giambo.
- Será feito majestade. Quanto tempo
pretende ficar em Urbo?
- Vamos nos reunir com a federação e
conhecer todos os fatos que ocorreram nessa guerra. Tenho muitas perguntas sem
respostas sobre Viga e o fim desta guerra. Reforçaremos a nossa aliança com
eles. Tenho uma forte intuição que os deuses ainda não terminaram sua missão.
- E quanto a Aveline?
- A Lua Negra chegará em breve.
Partiremos para Rugo, onde nos casaremos e apresentarei ao povo de Tryari a sua
nova rainha.
- Isso deixará o povo muito feliz.
- Estou pensando em formar uma
comunidade humarante em Tryari e sugerir algo parecido aqui em Áxis – comenta
Gruner, bastante confiante.
- Uma excelente idéia majestade. Por
coincidência, o povo de Rugo de onde nasceu à futura rainha seria o mais
recomendado no momento.
- Foi exatamente nisso que pensei –
falou Gruner, percebendo um ar melancólico em Rakrat.
- Está tudo bem com você?
- Sim majestade. Apenas lembrei-me de
Yusuke.
- Ele fez a escolha certa, está feliz
com sua família num belo planeta.
- Sim, está feliz – diz Rakrat.
Mal havia se acomodado em seus aposentos, Gruner foi informado da
chegada da Lua Negra que se encontrava próximo ao Planeta Urbo. O regente
informou a Truskas Zim que gostaria da sua presença na reunião com o conselho
de Áxis.
Em sua casa, Mei explica tudo que se passou com ela desde a chegada na
estação de fronteira até o resgate do Cruzador Sankta Spirito. O general e
Solaris ficaram impressionados com as aventuras da filha e como ela foi forte
em suportar tantas adversidades. Ele revela para Mei que teve contato com a
chave na Arca-lua e que aquele ser enigmático havia lhe confortado sobre a sua
segurança e retorno.
- Pouco depois que a chave chegou a Arca-lua,
podemos visualizar um grupo de deuses próximo a ela. Não sabemos o que estavam
fazendo, mas ficou evidente que havia alguma ligação entre eles.
- A chave partiu com Viga? – pergunta
Mei.
- Sim filha, foi algo extraordinário
para ser descrito. Um portal dimensional se abriu em nossa galáxia e uma
criatura aquática se aproximou por um túnel de água.
- Nunca imaginei que Viga fosse assim
– disse Mei.
- O mesmo de todos nós. O importante é
que Viga conseguiu o que procurava e junto com todas aquelas criaturas que a
serviram, partiram definitivamente.
- Então Áxis e Rhivis estão em paz?
- Sim filha, tudo neste universo está
livre destas forças estranhas e que pela sua natureza não eram para estarem
aqui.
- Assim como os deuses?
- Os deuses tinham um propósito e
sempre se preocuparam com muitas civilizações, principalmente com a humarante.
Não estaríamos aqui se não fosse a intervenção deles. Mas agora, houve um fato
em que me faz crer que eles partirão.
- Como tem certeza disso?
- Sua mãe pode falar melhor do que eu.
Solaris que estava em pé se aproxima da filha e senta ao lado dela.
- A Estrela Navan partiu do Planeta
Oceano. Captou uma grande quantidade de água, o suficiente para encher alguns
compartimentos.
- Água? Por que foi tão longe?
- Sabemos que a água daquele planeta
é a mais pura e cristalina do universo. O povo de Oceano se esforça para que
sempre seja assim.
- Conheci Oceano da sua órbita. É
muito bonito.
Solaris e o general sorriem. Mei retribui o sorriso mas não entende.
- O que você viu foi uma projeção do
que seria o Planeta Oceano – disse o general – a localização certa do planeta
nunca foi conhecida.
- Nem os observadores de fronteira
sabem onde fica?
- Não poderiam, a camuflagem é
perfeita.
Solaris explica:
- Os observadores captaram uma explosão
do falso Planeta Oceano. Mas não conseguem localizar o verdadeiro.
O general anda até a varanda:
- Apesar de mantermos constantes
comunicações, nunca foi possível rastrear sua posição, inclusive o Conselheiro
Nuada sempre nos estimulou em fazer isso. Ele diz que no dia que conseguirmos
localizar, outra raça mal intencionada também poderá fazê-lo.
- Para que a Estrela Navan precisa de
tanta água? – pergunta Mei.
- Os deluvianos que comandam a
estrela, nos deram instruções para um encontro aqui em Urbo.
- Os deuses virão?
- Sim filha.
- Eles estão com os aumarinos e farão
uma longa viagem para a última fronteira.
- Os lendários aumarinos ainda
existem? Mas para onde vão?
- Não somente os aumarinos, mas todos
os deuses, inclusive os desconhecidos para nós. Estão retornando para as suas
origens, mas os deluvianos me confirmaram que é muito mais distante do que a
nossa imaginação possa alcançar. Os limites do universo.
Mei se levanta e anda até a janela apreciando a noite e com muitas
saudades de Lunn.
- Tem algo para nos contar – pergunta
o general.
- Pai. Durante a nossa permanência no
planeta sem nome, ficamos todos como uma família. Depois de um tempo estávamos
tão adaptados a nossa condição que já não pensávamos mais em retornar para Áxis,
apesar da saudade que ainda nos faziam sofrer – explica Mei.
- Posso imaginar filha. A decisão de Yusuke
em ficar já confirma o que você está dizendo.
- Sim. Éramos felizes. Confesso que
ainda sinto muitas saudades. Uma felicidade diferente daqui de Áxis, acompanhada
de riscos, de perdas e incertezas. Mas também era a felicidade que havíamos
construído. Fizemos uso de nossos conhecimentos básicos para garantir a
sobrevivência e proporcionar um pouco de conforto e segurança.
- E essa felicidade se tornou mais
significativa com o amor que você sentia pelo Dr. Lunn – diz o general.
- O senhor já sabia?
- Observei como vocês se olharam na
chegada e quando se separaram. O Dr. Lunn é homem de muita sorte, conquistou o
coração mais precioso de Áxis.
Mei abre um sorriso.
- Nos casamos – diz ela – E foi uma
cerimônia linda.
- Tenha certeza que faremos de tudo
que for possível para que essa felicidade se mantenha – disse o general pegando
em suas mãos.
Emocionada, Mei o abraça.
- Termos uma reunião do Conselho de Áxis
com o governo de Rhivis no próximo crepúsculo. Ficaria honrado em ter o Dr.
Lunn para o café da manhã. Acredito que ele não se incomodaria em acertar
detalhes de uma segunda cerimônia de casamento em Áxis.
- Claro que não! – responde Mei
animada – Isso era o que ele mais falava caso um dia voltássemos.
- Estamos acertados – disse Solaris –
Cuidarei pessoalmente do café da manhã e depois da cerimônia, mas isso só quando
os deuses seguirem seu curso.
Na órbita do Planeta Oceano, a Estrela Navan conclui a trabalho de
captação de água. O Embaixador Nuada inspeciona com Truskas Zim, o reservatório
de água destinado aos aumarinos.
- Tão pura quanto existia no Planeta
Sinos. Fizeram um excelente trabalho embaixador.
- Obrigado. A água é a nossa fonte de
vida comum, somos uma extensão dela. Não evoluímos sem a sua presença.
- Os deuses e nós deluvianos,
ficaríamos honrados com a sua presença nessa viagem de retorno no tempo para
trazer os aumarinos.
- Estou honrado e feliz pelo convite
meu amigo. Preciso ficar em Oceano e cumprir o ritual de transmigração de alma
como programado. Assim como o meu pai e nossos ancestrais, a transferência para
corpo mais jovem é a nossa garantia de perpetuar os nossos conhecimentos e garantir
a sobrevivência de nossa raça. Mas ficaria muito feliz em rever a Tero Unua do
passado.
- Entendo embaixador. Conheci o jovem
Netuno e ele me reconheceu. Em breve sua lembranças estarão plenas e poderá
assumir as funções que antes foram tão bem conduzidas pelo filho.
- E poderei voltar a praticar com minha
espada com o mesmo vigor de antes –
disse o embaixador com o rosto iluminado.
- Estarei aqui para presenciar isto,
é uma promessa.
- Estou pronto para a minha última
missão diplomática em Urbo. Até um dia amigo. Navan.
- Navan. Embaixador. Até um dia.
Truskas Zim mentalmente ordena a ponte da Estrela Navan seguir para a
sua missão. A astronave se desloca para fora da órbita do Planeta Oceano e progressivamente
aumenta a sua velocidade, desaparecendo em seguida.
Na Embaixada Unida, os representantes da Galáxia de Áxis e Rhivis
avançam em suas alianças. E com o simbolismo do prometido casamento entre
Gruner e Aveline, as propostas de ampliar o intercâmbio de conhecimentos
científicos e culturais, assim como a criação de colônias em domínios de ambas
as partes para exercício de livre comércio, foram bem aceitos. A reconstrução e
união das duas forças tornavam-nas as espécies mais poderosas daquela longínqua
região do universo.
Dias depois, a chegada da Lua Negra e da Estrela Navan foi um
acontecimento que chamou atenção de toda população humarante em Áxis. As Estações
de Fronteiras retransmitiam também para as centenas de civilizações dos mundos
aliados que acompanhavam as notícias.
Havia a intuição na população de que algo maior estava para acontecer e
que os deuses poderiam aparecer.
A Estrela Navan chegou à orbita
de Urbo. Sua luz vermelha e brilhante conduz seres aumarinos que estavam em
hibernação e agora estão reanimados. Eles nadam tranquilos em águas puras e
cristalinas. O som característico destes seres aquáticos encanta quem os ouve
pela sua beleza singela. Eles estavam felizes e ansiosos, pois sabiam que a
seus destinos estavam próximos de serem concluídos.
Os deluvianos comunicaram a embaixada de que a Lua Negra e a Estrela
Navan estavam prontas para seguir, mas antes os deuses gostariam de se despedir
dos humarantes e de seus filhos.
Na aurora do dia seguinte, uma grande concentração de humarantes se
aglomerava em um espaço aberto no centro da Cidade de Urbo. Uma grande festa
motivava todos com alegria e curiosidade. O espaço porto da cidade estava
congestionado de naves que chegavam de vários pontos do planeta, todos queriam
ver os deuses.
Uma plataforma de cerimônia foi instalada no alto, para que todos da
população pudessem acompanhar.
Antes do crepúsculo, um intenso brilho vermelho é visto no céu. A
população grita de alegria e acena as mãos com minúsculas luzes e observa
fachos que descem do céu e dentro deles fagulhas menores de várias cores e
tamanhos que atingem a plataforma de cerimônia.
Os primeiros a chegarem são os gigantes deluvianos Truskas Zim e Rakrat,
logo depois surgem os deuses: Snefru, Áxis, Rá,
Seth, Lilith, Luna e Navan.
A forma de apresentação dos deuses
dessa vez não era a humarante. Seus corpos tinham a silhueta humanóide, sem
textura de pele e sem nenhuma indumentária que apresente alguma referência de
idade, tipo ou cultura. Eles apenas emitiam luminosidades de cores diferentes,
destacando-se a púrpura de Lilith, o azul de Luna e o vermelho de Navan.
Nuvens de NRs vindos de várias regiões se compactavam e assumiam a forma
de ilustres personalidades humarantes, homenageados ao longo da história. Do
Cruzador Sankta Spirito, todos os NRs se materializavam e o que se via era a
representação de várias espécies alienígenas e suas diversas raças que
compartilham da Federação Áxis.
A Embaixadora Suna Levigo e os principais representantes humarantes
estavam presentes, mas apenas os filhos Mei, Gruner, Solaris e Khufu se
aproximaram.
Um domo de energia se eleva cobrindo os deuses e seus filhos. Algumas
aves que estavam próximas se assustam e alçam vôo. Ninguém pode ouvir o que
eles conversam, pois não articulam palavras, toda a comunicação é mental.
Nesse ambiente, os deuses tomam a
forma humarante. A Deusa Luna vai primeiro ao encontro de Mei e a abraça. Em
seguida a Deusa Lilith faz o mesmo com Gruner. O Deus Navan vai logo depois, é
abraçado pelo casal de filhos.
Khufu finalmente conhece o seu pai, o Deus Snefru, e a emoção
experimentada por todos se tornavam indescritíveis. Havia muito tempo, ainda na
época ancestral humarante, a última vez em que os deuses foram vistos por
todos. A integração com a raça humarante havia chegado ao fim. Mas ainda havia
muitos mistérios que ficaram sem respostas, inclusive sobre as origens dos
deuses? De onde vieram? Para onde vão? E por que precisam tantos dos aumarinos?
Essas perguntas os filhos não resistiram em perguntar e os deuses responderam
da melhor forma possível:
- Nunca descobrimos de onde viemos –
inicia a Deusa Lilith – despertamos nossa consciência ao mesmo tempo em nosso
modelo de universo, totalmente branco e com milhares de outros iguais a nós que
brilhavam na imensidão.
A Deusa Luna participa das explicações:
- Tivemos que reconhecer a nossa
natureza e potencialidades por intuição. Uma parte do que fomos criados se
manifestava em consciência, se reconhecia e a fonte de tudo estava a nossa
frente. Nossa natureza exploratória nos
impulsionava a segui-lo. Uma jornada cujo fim, seria descobrir qual era a nossa
origem e propósito.
O Deus Rá relata outros fatos:
- Passamos por muitos planos
dimensionais seguindo os sinais deixados ao longo do caminho. O fator tempo é
algo que nunca o percebemos como vocês, diferente para os padrões entendido por
muitas civilizações. Em nossas jornadas, víamos muitos irmãos de natureza
semelhante a nossa, descendo para planos vibracionais diversos, fazendo uso de
seus livres arbítrios e seguindo por outros caminhos. E assim, criando
universos, resolveram procurar por suas respostas e perceberam o poder de
criação que foram herdados, pois assim como aconteceu conosco, partes de suas
essências ficavam para trás e se desenvolviam. Novos seres conscientes eram
formados a partir de combinações de energias e do caos surgiam estágios
evolucionários.
O Deus Navan colabora:
- Houve um momento em nossa jornada,
sempre executada nas bordas dos campos vibratórios mais densos, que encontramos
um ser evoluído e que nos chamou atenção da sua presença naquelas paragens,
pois ele nos conhecia. Havia dito que a sua origem surgiu em um plano existente
há várias camadas abaixo de nós. Um dos muitos planos de existências aquáticas,
repleto de vida, e que irmãos da nossa natureza haviam mergulhados. Este ser em
especial havia retornado aquelas paragens, queria fazer o percurso de volta e conhecer
as existências que lhe deram origem. Ele havia momentaneamente ficado para trás
dos outros da sua mesma espécie.
O Deus Áxis se aproxima e relata mais acontecimentos:
- Não poderíamos seguir viagem com
aquela dúvida: Como ele nos conhece? E após relutarmos, a curiosidade de
investigar prevaleceu. Foi então que percebemos o que motivou os outros irmãos
em desviar do caminho e mergulhar nas experiências do desconhecido no universo
aquático e enfrentar as possíveis conseqüências dessa decisão. E aquele ser em
especial, de alguma forma havia testemunhado algo que nos envolvia.
Na sequência de informações telepáticas, o Deus Snefru detalha as
respostas:
- Para chegar nesse mundo, tínhamos
que atravessar uma fronteira de consistência diferente e líquida de um plano
desconhecido para nós. Sabíamos que não poderíamos atravessar e ficamos sem compreender
por que outros de natureza semelhante a nossa podia fazê-lo sem dificuldades. E
o ser que encontramos, sabia como atravessar e nós o seguimos, mas sempre com o
propósito de não interferir. Assim como nós, aquele ser não tinha nome e foi
nessa existência dimensional que encontramos o sentido de um nome apropriado e
passamos a chamá-lo de a Chave. Foi aquele ser, que já havia atravessado o
último nível evolucionário naquele universo que abriu a passagem.
A Deusa Seth participa:
- Diferente dos nossos irmãos. O
nosso grupo não provocou nenhuma perturbação energética nessa dimensão. Eles
criaram bolsões naquele ambiente aquático e criaram mundos que se copiavam e
interligavam. Mas nós não queríamos fazer isso, nosso objetivo era apenas
atravessá-la e acompanhar a Chave em vislumbrar e lembrar-se das suas origens.
Queríamos entender o que nos motivou a vir e depois retornar ao nosso caminho.
A Deusa Lilith continua:
- A Chave sabia da nossa natureza e
que estaria protegida por aqueles que também dela necessitava. Mas algo
inesperado aconteceu, não fomos reconhecidos pelos seres que habitavam o
universo aquático. Imediatamente entendemos por que não conseguíamos penetrar
nele: Não foi feito para nós. Assim nos tornamos intrusos potenciais,
semelhantes a um grupo de vírus ou bactérias que invadem um corpo. E como todo
sistema imunológico eficiente, fomos perseguidos por seres poderosos que a
Chave conhecia como vigas, caçadores daqueles mundos que eles ajudavam em
manter em perfeito equilíbrio. Apenas a Chave não era identificada com um corpo
estranho, pois ela mesma surgiu e evoluiu naquele mundo.
A Deusa Luna continua:
- A Chave havia conquistado seus
objetivos, a memória da linha de tempo estava preservada e tudo podia ser
observado e havia se lembrado de tudo. Tinha um tesouro a compartilhar com os
da sua espécie e poderia seguir a sua jornada e nós também. Mas não poderíamos
fazer a travessia de volta, apenas a Chave. As vigas jamais permitiriam, pois
poderíamos contaminar seu mundo e o de outros.
Percebemos então que apesar do nosso desejo de não interferir, erramos
ingenuamente da pior maneira possível, uma vez que violamos as leis naturais
daquele mundo, que é literalmente existente dentro de um ser vivo, de
proporções inimagináveis. As vigas foram surpreendidas, não poderam evitar a
nossa entrada, mesmo assim seguimos a Chave atravessando um túnel de energia e
só depois que fomos identificados como hostis. As caçadoras jamais permitiriam
o nosso retorno, mas a Chave podia fazê-lo quando quisesse, mas não partiria
sem nós.
O Deus Rá continua:
- Chegamos próximo das muitas
fronteiras do mundo aquático e identificamos uma que seria a nossa saída. É uma
região pouco habitada e não havia rastros da passagem das vigas. Teríamos que
sair para esse universo sem causar prejuízos, pois já havíamos feitos isso em
muitas de nossas inúmeras tentativas de nos escondermos. As vigas se
convenceram de que não poderiam nos destruir e que haveria caos maiores se o
fizessem. Também não tínhamos a intenção de um confronto direto, apesar da
nossa certeza que o nosso poder era suficiente para aniquilar as vigas. Foi
então que quando decidimos enfrentar o perigo e realizar a primeira tentativa
de travessia com a Chave, as vigas ingressaram nesse universo e se utilizaram
de todo o seu poder para atrair seres de vários mundos e dimensões paralelas
para ajudar na caçada e pior, destruiu mundos, promovendo um caos que quase
aniquilou as origens da Chave. Desistimos da fuga e voltamos a esses mundos para
tentar impedi-la. Nessa dimensão, tivemos a colaboração de legítimos deuses
locais como Dracon e Ísis, cujo povo draconiano sofreu as conseqüências, isso
sem mencionar os deluvianos que foram praticamente extintos. A maioria do nosso
grupo ficou próximo da saída escolhida para a segunda tentativa de realizar uma
travessia bem sucedida.
O Deus Navan continua:
- Não poderíamos chamar sua atenção e
muitas vezes tínhamos que nos esconder em vários mundos, se utilizando de
várias formas, perdendo inclusive as nossas esferas. Infelizmente a nossa
determinação de não influenciar essa dimensão havia chegado ao fim,
precisávamos sair, a Chave precisava sair. E foi a própria Chave que abriu uma
fissura na fronteira aquática, no local que havíamos escolhido, e nos trouxe
amostras de um código de vida. O material genético de uma espécie do universo
aquático ficou sob a minha responsabilidade.
Usaria meus poderes para cultivá-lo em número suficiente para que o
nosso grupo pudesse atravessar. Viga usou de muitos recursos para nos destruir,
assim como, os seres viventes que ela julgava por nós criados. Os aumarinos pertenciam
ao universo aquático e mesmo se desenvolvendo nessa dimensão, foram quase
extintos por Viga.
O Deus Áxis continua:
- Agora que Viga cumpriu o seu
trabalho de ter conduzido a Chave de volta ao seu plano de existência e
acreditar ter destruído os aumarinos, não terá motivos para atormentar esse
universo, convencida de que ficaríamos confinados para sempre. Agora podemos
utilizar os aumarinos e alguns corpos sem consciência para realizar a travessia
sem chamar a atenção das vigas. Os humarantes que vivem no Planeta Oceano
realizam as transmigrações de alma há muito tempo e isso foi uma inspiração
para a nossa fuga.
Gruner olha para os irmãos que concordam, mentalmente, com a próxima
pergunta aos deuses:
- Mas por que tivemos que existir?
Qual seria a função dos semideuses?
O Deus Snefru responde:
- A esfera do Deus Áxis está oculta
na estrutura física do Cruzador Sankta Spirito. Uma vez desmembrada, terá o
poder de abrir a uma passagem para o mundo aquático. Mas isso não será o
suficiente, precisaremos de todos os NRs disponíveis nessa galáxia para formar
o túnel por onde atravessaremos com os aumarinos. Vocês possuem uma parte
específica da nossa natureza e também são seres de origem aquática, esses
elementos combinados com a interação mental, guiarão os NRs para nos
impulsionar, evitando que a passagem seja regenerada durante a travessia. Sem a
participação dos filhos dos deuses, um de nós teria que fazê-lo e ficar aqui
para sempre.
Mei e os demais ficam tão impressionados com os relatos dos deuses que
não conseguem pensar em nada que não seja ajudá-los. Tudo naquele momento fazia
sentido e uma grande decisão estava para ser tomada. Ficou claro para os filhos
dos deuses que a Chave é um descendente dos humarantes e que poderia ser
qualquer um deles presentes naquele domo ou um dos muitos cidadãos que os
observam aos milhares em toda a galáxia.
O Deus Rá se aproxima:
- Entendo que seja uma decisão
difícil e que pensam se realmente possui a capacidade de nos ajudar. Acreditem,
já testemunhei muitas realizações, em muitas espécies conscientes nesse
universo e nunca encontrei uma mais determinada que os humarantes. Temos a
capacidade de vislumbrar o nível de evolução dessa espécie e analisando pela
nossa perspectiva de tempo, estão muito próximos de atingir o ápice. Uma
eternidade de conhecimentos e experiências os espera, assim como, centenas de
civilizações necessitarão do auxílio dos humarantes para se desenvolverem. Não
seria nenhum sacrifício para qualquer um de nós ficarmos aqui, eu mesmo já me
posicionei como voluntário diante dos meus irmãos, caso vocês não aceitem.
Gruner adianta os passos na frente e responde por todos.
- Já nos decidimos. Ajudaremos na
travessia, ninguém ficará para trás. E também compartilhamos da esperança de um
dia nos encontrarmos novamente.
- Não esperávamos uma resposta
diferente, mas a decisão teria que ser de vocês – comenta a Deusa Seth – posso
garantir que não haverá danos para a saúde e que os NRs envolvidos na operação
ficarão intactos. Os deluvianos o trarão de volta em segurança e tudo será
muito rápido.
- Aceitamos os riscos – conclui
Gruner.
- Somos gratos – responde o Deus
Navan.
O domo de energia que os cobria se desfaz e as aves que se assustaram no
início, ainda estão alçando vôo. O tempo para quem estava fora, observando os
deuses e seus filhos, durou pouco mais de 1 segundo.
Mei se volta para os pais e os abraça.
- Está tudo bem filha? – pergunta o
General Meadhas.
- Os deuses necessitam da nossa ajuda
para voltar ao seu mundo.
- Quando vai ser?
- Nesse exato momento. Precisamos que
todos os NRs disponíveis sejam tele transportados imediatamente para a Estrela
Navan. Partiremos assim que eles chegarem.
O general olha para Mei com ternura:
- Faz tão pouco tempo que você chegou
e já vai partir novamente?
- Dessa vez os deuses nos garantiram
que voltaremos rápido. Ficaremos bem.
- Tenha cuidado – disse o general que
usa um comunicador ordenando que todos os NRs sigam para a Estrela Navan.
Mei abraça seus pais e vai ao encontro de Lunn e segura as suas mãos:
- Você espera por mim?
- O tempo que for preciso.
Ao se aproximar do irmão Gruner, Mei olha para a Deusa Seth e avisa que
estão prontos. A plataforma onde estão se ilumina e um facho de luzes
multicores sob aos céus. O público entusiasmado aplaude e se confraterniza. O
general conversa com a Embaixadora Suna Levigo e cabe a ela explicar ao povo
humarante motivo da presença dos deuses.
Uma nuvem de NRs se concentram em vários planetas da federação e entram
em pirâmides, transportando-se para a Estrela Navan. Algumas horas depois,
todos os NRs disponíveis já estão reunidos. Já era noite quando várias naves e
a tripulação de manutenção receberam a ordem de sair e se afastavam do Cruzador
Sankta Spirito. A grande nave emite o sinal que indica partida e se ilumina
intensamente. Uma esfera branca, a luz de Áxis, se desprende lentamente do
casco e sobe em direção ao espaço.
Ao entrar na Estrela Navan, a esfera branca interage com os NRs
iniciando um processo de sincronia. A Lua Negra e a Estrela Navan começam a
girar em seu próprio eixo e desaparecem.
Em casa, o General Meadhas e Lunn observam a partida das astronaves.
Eles seguem para uma sala de jantar, conversam e fazem planos para o futuro.
Durante a viagem, os filhos dos deuses observam que estão numa região do
universo que não havia estrelas, um deserto além da expansão que se imaginava
do universo. Minutos depois, eles têm a impressão que estão retornando, pois
passam a observar alguns grupos de galáxias.
- Estamos retornando? – pergunta Mei.
- Não é o que parece – diz Gruner,
que pergunta a Rakrat.
O deluviano observa com calma.
- É um espelho produzido pelo
universo aquático que produz esse efeito que reflete e amplia de onde viemos,
não estamos retornando, estamos próximo da fronteira.
- Isso é incrível! – disse Khufu.
Rakrat é avisado mentalmente que os filhos dos deuses devem se unir ao
aumarinos no reservatório d’água.
- Vocês precisam ir agora, os deuses
os esperam.
O pequeno grupo de humarantes é teletransportado para uma área da
Estrela Navan que mais parece um grande lago com águas límpidas e brilhantes.
Rakrat aponta a plataforma onde eles devem permanecer e guiar os NRs.
- Como vamos chegar até lá? –
pergunta Mei.
Antes de Rakrat responder, eles começam a levitar e com o pensamento se
deslocam por vários quilômetros sob a água, chegando à uma plataforma circular,
aberta no meio, onde se ver dezenas de aumarinos nadando alegres e eufóricos.
- São lindos! – diz Mei, deslumbrada.
Fora da plataforma, alguns aumarinos se aproximam. E mentalmente
agradecem aos humarantes. Eram os deuses, muitos deles desconhecidos, habitando
temporariamente os corpos de aumarinos.
De repente, pequenas ondas começam a bater na plataforma e o processo de ativação da esfera Áxis se inicia.
Os filhos
dos deuses dão as mãos e se concentram. Logo em seguida ouve-se o som dos NRs
sob as águas e seus corpos mais uma vez são cobertos. Abaixo da plataforma, no
círculo aberto, surgi a esfera branca e os milhões de NRs se ligam a ela
formando uma longa cauda.
Tudo ao
redor fica escuro, apenas a esfera e sua cauda de NRs brilha. Os filhos dos
deuses conseguem visualizar o ponto a ser lançado e ao sinal de Rakrat, eles
lançam a esfera branca que sai da Estrela Navan em grande velocidade e atinge a
membrana do universo aquático, provocando a saida de um jato d’água que
rapidamente congela.
Os NRs se
expandem formando um tubo, onde toda a água conduz os aumarinos e os deuses,
penetrando no universo aquático em poucos segundos. Os deuses finalmente
conseguiram atravessar.
Um tipo de alarme soa na Estela Navan. A
Lua Negra se aproxima, recolhe os NRs teletransportando-os e ambas astronaves
desligam e ficam invisíveis. Duas caçadoras vigas se aproximam do universo
aquático, atraídas pelo movimento dos aumarinos. Elas não perceberam que uma
passagem foi aberta, devido a rápida regeneração da membrana, e se concentraram
apenas nos aumarinos. As vigas realizam movimentos circulares e alguns sons
iniciam uma comunicação entre eles. Entende-se que as vigas não querem que os
aumarinos permaneçam nessa região e atraem outras criaturas, semelhantes aos animais
bentônicos protistas
que vivem nos mares profundos. Eles se
aproximam dos aumarinos que acoplam sobre eles.
Nadando
graciosamente, as vigas e os demais se afastam, desaparecendo na escuridão do
universo aquático.
A
estratégia dos deuses fucionou, conseguiram atravessar e mais uma vez
escondidos, enganaram as vigas. As criaturas que transportavam os aumarinos
seguiram para zonas mais próximas da superfície e depois encontrariam outros
seres que completariam a jornada, deixando-os no que seria a coluna de água
daquele mundo.
Os deuses
se libertariam dos corpos aumarinos lançando-se novamente na atmosfera do
universo branco. Seus corpos originais, esferas brilhantes, seriam refeitas e
como co-criadores, encontrariam a Chave vivendo entre os seus.
Havia
cinco dias que os deuses haviam partido. Na cidade de Urbo, o General Meadhas
estava com Lunn e o Comandante Akash. Eles estavam no centro de apredizagem
para pilotos e observavam as excelentes performaces de Dareh como instrutor.
- Nossas naves estão cada vez melhores – elogia
Lunn.
- Nossos pilotos de caça também fizeram a diferença
nessa guerra – lembra o general – Não havia mais naves autônomas para enfrentar
o inimigo e eles foram os vedadeiros heróis.
- Testemunhamos a coragem desses homens e mulheres –
avalia o comandante.
O
comunicador do general chama a atenção.
- Meadhas!
- General! O Cruzador Marte encontra-se na órbita de
Urbo.
- Avise a Comandante Diana que nos encontraremos
amanhã na embaixada.
- Senhor!
O caça de
Dareh aterrisa e Lunn vai ao seu encontro. O general Meadhas olha para o
Comandante Akash e pergunta:
- Tem certeza da sua indicação?
- Nunca tive dúvidas senhor.
- Então nos veremos também a amanhã na embaixada.
- Estarei lá.
O general
põem a mão sobre o ombro do comandante:
- Sabe Akash, eu nunca conseguirei agradecer o
suficiente o que fez pelo povo humarante, em especial a minha família.
- Não haveria conseguido, se a Federação Áxis não
tivesse a sua força para guiar as nossas ações.
Nesse
momento, o Cruzador Sankta Spirito emite um som grave. Eles olham para o ceu e
observam milhares de NRs sendo absorvidos pela nave. O comunicador do general
aciona mais uma vez.
- General! A Estrela Navan e a Lua Negra acabaram de
chegar! Sua filha e esposa estão sendo teletransportados para a sua casa! Estão
todos bem!
- Estou a caminho!
- Chegaram, finalmente – disse o Comandante Akash.
- Não aguentava mais de ansiedade – disse o general
acenado para Lunn e chamando-o.
Dareh
recebe a comunicação da chegada das astronaves e já avisava a Lunn.
- Deve ser isso que o general lhe chama. Mei está de
volta meu amigo!
A
população humarante mais uma vez comemora.
Na manhã
seguinte, uma bela solenidade é realizada na embaixada, com muitas
condecorações. O regente Gruner relata o sucesso da missão e confraterniza com
a Embaixadora Suna Levigo a ratificação de amizade das duas galáxias. A
Comandante Diana é ovacionada após o anúncio de que ela será a nova líder do
Cruzador Sankta Spirito. Já o Capitão Adani, passa a comandar o Cruzador Marte
e o Tenente Lido como primeiro oficial. O Comandante da Frota da Federação, Sarte Sigmar
é promovido a general e comandante supremo da força militar da Federação
Áxis, assumindo assim, o posto do General Anor Meadhas.
Com o passar dos dias, a vida e a rotina de cada humarante se renova.
Akash Abhaya e Aurora Mi se casam no Planeta Coroni, com uma
cerimônia simples em família e alguns amigos. Eles resolvem morar e trabalhar
na terra natal de Aurora e lá se estabelecer definitivamente, mas antes, eles
são convidados a passar a lua de mel no Planeta Oceano e serem padrinhos do
ex-embaixador Nuada, cuja alma foi transmigrada para um corpo infantil.
Com os noivos Mei Meadhas e Lunn Aodh, o casamento
deles foi um acontecimento assistido por todos os mundos da galáxia. Eles
passam alguns meses na Cidade de Cristal, uma vez que a Arca-Lua voltou a ser o
Planeta Kolonjo. Posteriormente retornam para o Planeta Urbo e se tornam
embaixadores especiais de Áxis na Galáxia de Rhivis, o que faz com que Mei
possa visitar seu irmão com freqüência.
No Planeta Tryari, os gruns retornam de uma nova temporada e são
acrescidos de novos filhotes que se instalam e rodopiam em volta da torre do
Castelo de Ar Tok. Tudo isso na mesma época em que Gruner Ar se tornar Rei de
Rhivis ao lado de Aveline, a sua amada rainha. Nunca o povo dessa galáxia
esteve tão feliz.
Próximo a órbita do planeta, toda a espécie de gigantes deluvianos estão
novamente reunidos como uma família e observam em silêncio e orgulhosos da
missão que haviam cumprido. Eles receberam dos deuses, o direito de domínio da
Estrela Navan e Lua Negra. As astronaves giram em seu próprio eixo e
desaparecem, seguindo para uma região ignorada do universo. Os deluvianos nunca
mais foram vistos.
Viajando pela Constelação de Niar e a bordo do Cruzador Sankta Spirito,
a Comandante Diana recebe uma mensagem holográfica do General Sarte Sigmar, que se encontra em Urbo.
- Comandante Diana.
- Sim general.
- Temos uma nova missão. Um comboio
de centenas de naves está se aproximando da nossa galáxia.
- Captamos o sinal. Aguardamos
instruções. São inimigos?
- Não vai acreditar comandante. São
refugiados de uma antiga civilização amiga dos humarantes. Seus planetas natais
também entraram em colapso natural e tiveram que abandoná-los. Estão há muitas
gerações no espaço.
- Quem são senhor?
- São descendentes do povo draconiano
da Galáxia Via Láctea. Temos autorização da embaixada para recebê-los em Áxis e
ajudar a integrá-los na federação.
- Onde iremos acolher o povo
draconiano senhor?
- No único mundo disponível e
compatível com a sua biologia: O Planeta Gir.
- Estamos partindo para interceptar e
guiá-los senhor.
- Boa viagem Diana – encerra o
general, deixando transparecer a sua relação íntima e pessoal com a comandante.
Como um navio que zarpa de um cais, o Cruzador Sankta Spirito emite o
típico sinal grave, avisando a tripulação para se preparar. Os motores
aceleram, acendem intensamente e a nave salta para a hipervelocidade, deixando
para trás um rasto de partículas brilhantes.
Capítulo
20
PLANETA TERRA – DIAS ATUAIS
Cidade de Navan – Condado de Meath – Irlanda
Coordenadas: 53.6528º N º W 6,6814
O especialista em linguística Dr. Liam
Gein, 45 anos, estava em sua biblioteca consultando alguns documentos sobre
arqueologia e lendas irlandesas. Já passava da meia noite quando escutou vozes
em seu jardim. Ele foi até a janela e viu um casal se aproximado da porta e bateu
levemente chamando-o pelo nome.
O Dr. Liam é solteiro e nunca teve
empregados, sempre viveu modestamente apesar de possuir excelentes recursos
financeiros que recebeu de herança de seus pais. Desde criança que se
interessava por línguas estrangeiras e quando não estava viajando pelo mundo
ministrando palestras pela universidade, era sempre convidado para a função de
interprete, pois sempre foi considerado um excelente poliglota.
- Dr. Liam Gein? – Uma
voz de mulher insiste em bater na porta.
- Estou indo! Apenas um
minuto, por favor – responde ele, colocando um casaco.
Ao abrir a porta o casal se identifica:
- Boa noite senhor.
Desculpe incomodá-lo a essa hora da noite. Sou a agente Mirela Kelly e este é
meu parceiro Kevin Rian. Podemos entrar por um momento?
- Ah sim! Claro! Por
favor. Desculpe meus trajes, não esperava receber visitas.
- Seremos breve – disse
Mirela Kelly – Estamos investigando um desaparecimento de um turista que estava
num passeio no Parque Nacional Glenveagh, no Condado de Donegal.
- Em que posso ajudar?
- Aqui está a foto dele –
diz Kevin Rian – Não considerou as regras do parque e se afastou do grupo
voluntariamente para explorar uma caverna. Um dos instrutores seguiu seu rastro
e encontrou apenas a sua mochila. No local não há sinais de agressão, acidente
ou suicídio. Este homem simplesmente desapareceu.
Mirela Kelly entrega o objeto ao Dr. Liam:
- Foi realizado uma
minuciosa varredura no local e não existe nada que ligue ao seu desaparecimento
ao não ser essa lasca de pedra que estava na sua mochila.
- Se observar com
atenção, verá que tem algo escrito numa língua que desconhecemos – comenta
Kevin Rian – O senhor foi muito bem recomendado para nos ajudar. Consegue
entender o que está escrito?
- Posso tentar.
Acompanhe-me a biblioteca.
O Dr. Liam acende a luz em sua mesa e com
ajuda de uma lupa começa a decifrar a frase escrita na pedra:
- Em via esti mia vivo prospera.
Os investigadores ficam animados em saber que o Dr. Liam entendeu a
estranha frase.
- Então doutor. Pode nos dizer o que
leu? – pergunta Mirela Kely.
- Está escrito em esperanto, é uma
língua construída, formada de aglutinações e...
O investigador Kevin Rian interrompe:
- Desculpe Dr. Liam. Respeitamos o
seu trabalho e não queremos ser indelicados. Poderia apenas nos dizer o que
significa?
O Dr. Liam percebe a ansiedade dos investigadores.
- Ah sim. Desculpe. Eu sempre me
empolgo. O que está escrito nessa pedra é uma frase que diz: “Em teu ser a
minha vida prospera”.
- Faz algum sentido para o senhor? É muito antigo?– pergunta Mirela Kely.
- Sinceramente. Nenhum sentido. Poderia
ter alguma interpretação religiosa ou filosófica, mas não acho que seja um
artefato muito antigo.
- Por que diz isso?
- O esperanto é uma língua artificial
criada no final do século 19. Observe o corte na pedra. As letras foram
escritas com um instrumento moderno de precisão. Não foram esculpidas.
Os investigadores se entreolham e Kevin Rian estendendo a mão, solicita
a devolução da lasca de pedra.
- Pelo visto, parece que vocês já sabiam
disso – O Dr. Liam entrega sem restrições.
- Agradeço a sua ajuda doutor, foi
muito importante. Mais uma vez queremos nos desculpar pelo incômodo.
- Foi um prazer ajudar. Eu os
acompanho até a saída.
O Dr. Liam abre a porta e vai a até a entrada do jardim. Observa os
investigadores entrando no carro e partindo. A noite estava fria e uma neblina
cobria a rua deserta.
Quando voltava para entrar em casa, algo chama atenção do Dr. Liam.
Curioso, ele olha para trás e anda até a rua. Algo se aproxima e ele fixa bem o
olhar. Consegue ver um pequeno redemoinho com quase dois metros de altura que
desliza em sua direção e para por alguns segundos em sua frente. Ele se
impressiona com aquele fenômeno e quando estende a mão para tocar no
redemoinho, ele se afasta e segue para o outro lado da rua, desaparecendo na
escuridão da noite.
FIM