PARTE 3 A
Episódio III - A Luz de Áxis (20 capítulos) (2013)
A raça humana atingiu o seu apogeu como civilização, mas até isso acontecer foram necessários extremos sacrifícios e um deles foi abandonar o mundo em que vivia: O Planeta Terra.
Também embarcou nessa viagem, todo o conhecimento cultural, científico e genético disponíveis. Em uma pequena galáxia distante milhões de anos luz, um novo lar se apresenta como uma segura esperança de futuro. Não demorou muito para que os humanos descobrissem que nessa remota região do universo, eles não estavam sozinhos. Com o tempo, uma vez estabelecida em vários mundos, a supremacia dos humarantes, como é conhecida a antiga raça humana, é reconhecida pelos habitantes dos sistemas planetários e galáxias vizinhas. Um pacto diplomático, com objetivo de facilitar acordos comerciais e conhecimentos tecnológicos, foi firmado como muitos governos e posteriormente, serviu de base para a criação de uma federação. Os principais objetivos era manter a ordem e defesa, apaziguar conflitos, conservar e auxiliar mundos e seres em desenvolvimento, respeitando o curso natural de suas evoluções. Mas uma antiga ameaça volta a atormentar os humarantes. Dessa vez mais forte, numerosa e com a participação de seres com estratégias e habilidades jamais imaginadas por eles. A intenção do inimigo era matar, escravizar e punir os humarantes, simplesmente para atrair a atenção dos deuses cocriadores e seus aliados. Era preciso lutar e superar as limitações, confiar na tecnologia e no próprio instinto de sobrevivência, numa batalha que seria a última de sua história.
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Durante todo o dia, Dareh só pensava no jantar e estava surpreso com a
presença do General Meadhas e sua filha. Fazia alguns anos que ele havia
treinado Mei com instruções de pilotagem. Ela sempre revelou com grandes
habilidades em tudo o que era ensinado.
Boa leitura
Episódio III
A LUZ DE ÁXIS
Capítulo
1
PLANEDO URBO
(Planeta Cidade)
Um homem corre exausto em campo aberto. Ele tenta alcançar e encontrar proteção
dentro de um bosque. A luz do dia começa a esmaecer e mais uma vez uma perseguição
se inicia. Ofegante e pensando em conseguir uma vantagem, ele enfrenta os
obstáculos do caminho em saltos largos entre as árvores e arbustos. Os galhos
espinhosos riscam a sua roupa, mas não o machuca, ela é feita de uma malha de
aço, tecida com pequeninos aros que dificultam a penetração de objetos
pontiagudos. Em cima dela, uma armadura feita sob medida, para que os
movimentos do guerreiro não ficassem limitados. No topo da cabeça usa um elmo,
capacete fabricado com finas placas de resistente metal e que serve para
amortecer o peso dos golpes deferidos pelo oponente. Nas mãos, um tipo de luva também
de metal conhecida como manopla, montada mediante encaixe de rebites que
facilita o manuseio da sua espada.
O cavaleiro decide parar e respirar. Põem as mãos entre os joelhos e
abaixa o dorso, levanta a cabeça aos suores e não mais escuta o som dos cavalos
e os gritos dos seus perseguidores. Mais ainda não terminou, precisava achar
uma saída e completar a sua tarefa. Ele continua devagar e encontra o que
procurava: uma pedra grande no meio de uma clareira, que está 50 metros abaixo
de um barranco.
- La ŝtono! (A pedra!)
Sem perder tempo, ele desce as pressas se equilibrando com dificuldade,
e por uma distração tropeça e escorrega até o fim.
- Damnet! (Maldição!)
Levanta-se com dificuldade e caminha em direção ao centro da clareira.
Escuta vozes dos outros cavaleiros que já o encontraram, não há mais o que
correr, precisa chegar até a pedra. Ao dar os primeiros passos, uma flecha fixa
no solo próximo aos seus pés. Ele insiste em caminhar e outra flecha é
arremessada como sinal de aviso. Ao olhar para cima, ver outro cavaleiro de
roupas negras com uma arma do tipo besta. Ao virar-se, ele se depara com mais
cinco cavaleiros de espada em punho prontos para atacar. Não poderá chegar à
pedra sem antes enfrentar seus oponentes.
Ele retira a espada e demonstra disposição para lutar, iniciando uma
seqüência de golpes de ataque e defesa. A cada adversário que ele consegue
ferir mortalmente é evaporado como um encanto. Uma luta injusta, desleal, mas
mesmo assim ele consegue sair vitorioso, pelo menos, parcialmente. O cavaleiro
negro já está em seu encalço, e uma nova luta se inicia. A habilidade do
cavaleiro negro é superior, seus movimentos e reflexos são perfeitos, parecendo
prever os movimentos do outro cavaleiro que cai pela segunda vez, tendo a ponta
da espada apontada para a sua garganta.
- Laca? (Cansado?)
- Mi estas neniam laca! (Eu
nunca estou cansado!)
- Ne povis ludi! (Não pode jogar!)
- Mi ter volas ludi! (Eu
quero muito jogar)
O cavaleiro negro não atende ao pedido do seu oponente e lhe desfere o
golpe fatal.
- Adiaŭ (Adeus!)
Ao abrir os olhos, ele retira um dispositivo brilhante da sua têmpora
esquerda. Está deitado no chão em um lugar escuro. Um foco de luz sobre o seu
corpo lhe chama atenção.
- Não foi dessa vez, Dareh! – diz um
amigo gozador, indo embora com outros companheiros.
As luzes acedem. Os sete homens encontram-se num salão de piso e paredes
azuladas e levemente brilhantes. Algumas janelas largas nas paredes se abrem
como uma íris de um olho e um vento suave da noite adentra no recinto.
- Levante-se! Você foi bem dessa vez!
Está melhorando a sua habilidade com a espada!
- Não tenho muita certeza, seu
cavaleiro negro mais uma vez me derrotou.
Outro amigo se aproxima:
- Não sei por que instrutor, ele insisti
nessas lutas virtuais!
- Eu venci os cinco, acha pouco? –
Estira o braço para receber ajuda do amigo para se levantar - Obrigado Yusuke.
- Essa aula deu fome, que tal
comermos algo? Tenho uma receita nova, você vai gostar.
- Tenho certeza que sim, mas vou
deitar cedo. Amanhã tenho novatos no curso de pilotagem.
O instrutor de história antiga e medieval da cultura Tero Unua, Argos
Aury, humarante sapiens de 45 anos, explica para Dareh quais foram as falhas no
combate e como pode melhorar seu desempenho. Elogia mais uma vez a sua força na
luta e completa:
- Tenho certeza Dareh, que se fosse
uma luta real pela vida, o cavaleiro negro não teria vencido. Esses
treinamentos virtuais estão sendo sempre aperfeiçoados, mas há um componente
que não pode ser reproduzido: a autopreservação.
- Mestre Argos aceita o meu convite?
– disse Yusuke.
- Sim doutor! Não perderia por nada.
O Planeta Cidade é o centro comercial, industrial e cultural da Federação
Áxis. É um dos maiores planetas da galáxia, tanto em diâmetro quanto em massa.
É cem vezes maior que o Planeta Terra, com atmosfera habitável e cercada por
duas luas orbitais. Nunca foi habitado por seres conscientes, possui rotação de
18 horas dia e noite, com variações de translações sazonais a cada três anos de
seu principal sol e, com picos de inverno extremos em muitas regiões. O planeta
possui vasta área de terra firme, sendo 40% montanhosa e com pouca
biodiversidade nativa. A maioria dos animais e plantas foi introduzida ou
modificada geneticamente. São espécies trazidas da antiga Tero Unua (Terra
Primeira). Os oceanos são agitados e profundos, com raras atividades vulcânicas
e sísmicas. Os rios são extensos e abundantes e se precipitam em altas
cachoeiras. Neste cenário, foi fixada com êxito, a primeira civilização
humarante. Uma cultura com avançada tecnologia e padrões positivos de qualidade
de vida. Extremamente sustentável, possui índices muito baixos de
poluição.
Dareh Borisav é um humarante sapiens, 35 anos, piloto de nave comercial
cargueiro nível três, transporte de minérios, é engenheiro espacial e instrutor
de pilotagem dessa categoria e de caças. Nas horas vagas estuda história de Tero
Unua (Terra Primeira), cultura
humana ancestral e base da civilização humarante. Ele tem preferências por
esportes interativos e virtuais, principalmente os jogos de armas antigas.
Yusuke Jun, humarante sapiens, 36 anos, médico. Passou 13 anos como
membro de pesquisa bio-espacial e toxicologia alienígena. Atendeu o convite do
amigo de infância Dareh e está há dois anos exercendo funções em naves
comerciais cargueiras. Nas horas vagas participa de cursos virtuais de
manipulação de alimentos.
No Continente Norte do Planeta Cidade, na região montanhosa de Sudaj
Ventoj (Ventos Súbitos) e construída em um dos seus platôs, está sediada a Ambasado Unuiĝinta (Embaixada Unida). Um complexo
de edifícios que congrega os representantes das civilizações da galáxia e suas
diversas raças e culturas humarantes (A humana: Homo sapiens, e outra aumarante:
Homo aumarantes), distribuídas em diversos planetas e jurisdições da Federacio
Axis (Federação Áxis).
Próximo ao Planeta Cidade, no mesmo sistema solar, encontra-se o Planedo
Kolonjo (Planeta
Colônia). A sua sede é Urbo Kristalo (Cidade de Cristal), a única existente no
planeta. A sua sociedade é formada por poucas famílias de castas e ordens
religiosas conhecidas como Majstro de Lumo (Mestres da Luz). A pequena
população se divide em especialidades diversas que garantem a manutenção e o
funcionamento primário da cidade. Seu projeto urbanístico é distribuído por
diversas praças, onde o visitante se encanta com os jardins, pomares e fontes
de água, inspirados pela beleza das cores e luminosidade dos seus templos e
prédios públicos construídos de puro cristal.
Apesar da atmosfera equilibrada, com o clima ameno e constante do menor
planeta dessa galáxia, fora dos limites da cidade não existe vida. Um grande
deserto de fina areia branca destaca o planeta no espaço. Além de ser
considerado sagrado, é uma relíquia histórica das primeiras colonizações humarantes.
O acesso à cidade é restrito, assim como algumas de suas instalações. Não
existem plataformas ou espaço-porto para desembarques. Quando autorizado, tudo
que chega ou sai da cidade é tele transportado. O domínio dessa e outras
tecnologias avançadas, inclusive de ataque e defesa, tornam o Planeta Colônia o
mais protegido da federação.
No Planeta Cidade ou Urbo, o piloto Dareh já havia chegado à plataforma
de instrução e treinamento. Era a última fase de testes para a admissão de uma
nova turma de pilotos de caças e posteriormente ingresso para co-piloto em
naves cargueiras. Duas fileiras de naves estavam em formação com os motores
ativados e em suspensão no ar, aguardando o sinal de Dareh para prosseguir.
Após a confirmação, as naves sobem aos céus e fazem manobras evasivas e
movimentos rápidos próximo ao solo, atirando em alvos fixos e móveis. Todos os
pilotos têm excelentes desempenhos, no entanto um se destaca completando níveis
difíceis em menor tempo. Dareh acompanha na tela holográfica os dados desse
piloto, não acreditando que ele tivesse sucesso neste último teste decisivo:
- Ele pilota como um veterano não é
senhor?
- Tenho acompanhado os testes do
piloto Aturo e sinceramente estou surpreso com ele! – elogia Dareh.
- É verdade senhor, ele voa como um
verdadeiro líder de esquadra! Um grande piloto!
- Sem dúvida! – responde Dareh,
quando reconhece que a voz dos comentários ao seu lado é do próprio piloto
Aturo.
- Aturo! O que faz aqui? Está
bastante atrasado, faz alguns dias que tento entrar em contato com você. Onde
estava?
- Elogiando o meu trabalho senhor?
Fiz uma rápida visita ao meu pai que estava em trânsito, próximo a Urbo.
Lamento não informá-lo com antecedência.
- Tudo bem! Falaremos disso depois.
Mas quem está pilotando aquela nave?
- Não sei senhor. Estava pronto para
entrar quando fui avisado que o senhor gostaria de falar comigo antes. Estou
tão surpreso e curioso para também saber quem pegou a minha nave. Mas seja lá
quem for, é muito bom.
Dareh aguarda a conclusão dos testes e segue direto para a plataforma.
Queria saber quem estava pilotando:
- Aturo. Vamos agendar outro dia para
o seu teste.
- Como queira senhor. Posso lhe
acompanhar até a plataforma? Desconfio que esse piloto não seja da nossa turma.
- Eu tenho certeza que não. Nada foi
comunicado, vamos!
O caça com o piloto desconhecido foi o último a pousar. Ao descer da
cabine e ainda com o capacete, foi aplaudido pelos outros pilotos e caminhou em
direção ao instrutor Dareh. O piloto retira o capacete e sorrir:
- Mei?
- Olá Dareh.
- O que faz aqui?
- Assombrando esses meninos.
- Mei. Você atrapalhou um teste final
de um piloto! O que faz aqui?
- Precisava testar se ainda lembro
tudo que você me ensinou.
- Ninguém me avisou que você faria um
teste hoje, quem autorizou?
- Foi...
Antes que Mei pudesse dizer algo:
- Eu autorizei Dareh! Espero que não
tenha lhe causado grandes transtornos.
- General?
- Como vai Dareh. Ela é fantástica
não é?
Mei corre, abraça e beija a face do General Anor Meadhas:
- Obrigado pai, prometo que não vou
mais incomodar! - Sorrir
- Você não incomoda meu anjo. Onde
está Solaris?
- Ni estas em urbo (Nós estamos na
cidade)
O piloto Aturo Levigo, humarante da raça aumarante, de 23 anos, é um
jovem oficial que está sendo convocado para conduzir cargueiros comerciais, mas
tem um sonho: fazer parte da frente de defesa militar da Federação Áxis. Além
de nas horas vagas ser um excelente cultivador de orquídeas, é filho único da Embaixadora
Suna Levigo, 45 anos, humarante aumarante e representante do Planedo Gardeno (Planeta
Jardim) conhecido
pelas belezas naturais e cultivo de diversas espécies de flores. Nesse planeta existem também dezenas de
jardins botânicos e gigantescos campos cultiváveis, fornecendo alimentos para
vários mundos da federação. Não é do agrado de sua mãe, que Aturo participe de
atividades militares, apesar da federação nunca ter registrado conflitos na
Galáxia de Áxis, habitada exclusivamente por humarantes. Desde as primeiras
colonizações, nunca foi encontrado vida inteligente nesse ponto do universo,
apesar de existir centenas de planetas de condições habitáveis. Na maioria das
vezes, quando solicitado, a federação participa de missões de paz e ajuda nos
mundos não aliados de galáxias próximas e que possuem relações amigáveis, mas
nunca interferindo diretamente com ações militares e sim, diplomáticas.
- É um prazer revê-lo general – disse
Dareh.
- Na verdade, estou aqui para falar
com você. Podemos nos encontrar num jantar mais tarde na embaixada?
- Achei a idéia excelente pai –
comenta Mei.
- Na embaixada? Sim, claro general.
Estarei lá.
Dareh sufoca a curiosidade de perguntar ao general do que se tratava
esta conversa, mas sabia que seria algo importante.
- Com licença! – aproxima-se Aturo –
Gostaria de pessoalmente parabenizar a piloto, acho que de agora em diante
aquela nave não vai querer voar mais comigo.
- Meu nome é Mei. Aceito sem modesta
seu elogio – ela olha de lado sorrindo e provocando Dareh, e este olha para o
céu encenando buscar paciência.
- Sou Aturo Levigo.
O general fica surpreso:
- Olha só! Hoje é o meu dia sorte! Você
é filho da embaixadora?
- Sim general, é uma honra conhecê-lo
também.
- A honra é minha meu jovem. Da
última vez que lhe vi era uma adorável criança. Sou amigo e admirador dos seus
pais, principalmente do trabalho de sua mãe na embaixada.
- Conhece meus pais?
- Sim. Seu pai foi indicado para
coordenar o envio de suprimentos de alimentos para as bases militares na
galáxia. E revelou seu interesse em trabalhar conosco.
- Ficaria muito orgulhoso general!
- Então aceita?
Aturo olha nervoso para todos e quase sem acreditar que o próprio
General Anor Meadhas lhe faz esse convite.
- Sim senhor! Aceito sim!
- Muito bem, seja bem-vindo a Força
Militar da Federação Áxis. Mas antes comunique a embaixadora à boa notícia e
diga que foi um pedido que não poderia negar ao seu pai. Se apresente em cinco
dias, acho que será tempo suficiente para você se organizar. Você participará
das escoltas dos cargueiros.
- Mas do que suficiente general!
Permissão para me retirar!
- Permissão concedida.
Aturo sai às pressas sem se despedir dos demais. Dareh elogia.
- É um bom piloto general.
- Sei disso, ele sobreviveu ao seu
exigente instrutor.
Mei faz um comentário:
- Não alimente muito o ego dele pai. São
poucos os que conseguem chegar até aqui.
- Apenas quero lhes dar o melhor de
si. Apesar de não participarmos de conflitos, não podemos perder o instinto de
sobrevivência, saber defender é tão importante como atacar – Dareh se lembra das
instruções de Argos Aury.
- Muito bem! É assim que se fala.
Preciso ir, nos veremos no jantar.
- Até mais general.
Eles se afastam e Mei se vira dando um adeus balançando os dedos.
Mei Meadhas, 21 anos, humarante sapiens, filha do General Anor Meadhas,
59 anos, comandante supremo da força militar da Federação Áxis e sua esposa,
Solaris Meadhas, humarante sapiens, 48 anos, membro do conselho religioso de Urbo
Kristalo (Cidade de Cristal). Mei uma das raras crianças que cresceram no Planedo
Kolonjo (Planeta
Colônia). Viveu cercada de extremos cuidados e disciplina, recebendo de muitos
mestres vastos conhecimentos da cultura humarante, mais do que uma jovem da sua
idade poderia ter acesso. Apesar da rígida educação, Mei nunca reclamou ou teve
dificuldades em seus aprendizados, sua inteligência, curiosidade de aprender e
percepção causavam espanto. Sempre muito alegre e simpática, cativava todos com
que convivia. Além de um sorriso iluminado e uma beleza física divina, Mei
algumas vezes possui um temperamento impulsivo e bastante determinado em suas
decisões. Nenhuma das atividades na Galáxia de Áxis desperta seu interesse,
principalmente no que se refere ao religioso, comum em Urbo Kristalo (Cidade de
Cristal), que tanto admira e emociona. Os sentimentos que agitam a alma de Mei
orientam para explorações no espaço e das distantes fronteiras e regiões do
universo. Como sabe da impossibilidade de realizar seus sonhos, Mei se
conformaria em viver e trabalhar no Stacio Limo (Estação Fronteira), que são
bases de observação e monitoramento do universo, espalhados nos limites da
galáxia. Dessa forma, Mei poderia está mais próxima dos seus interesses.
O General Meadhas já percebeu as aspirações de Mei, ele conhece bem o
poder de convencimento da filha que tanto ama. Dizer não ou manobrar situações
para evitar ou ganhar tempo para que ela mude de idéia, além de ser injusto em
limitar suas potencialidades, causaria uma pequena dose de infelicidade que seu
pai dificilmente suportaria em pensar. Por outro lado, Mei entende, em parte,
as razões de proteção exagerada do seu pai, ao contrário de sua mãe que tem
muita fé nas razões que regem os nossos destinos.
Horas depois, a nave de Dareh sobrevoa Sudaj Ventoj (Ventos Súbitos), a
visibilidade nessa época do ano é pouca, com muitas nuvens carregadas de
chuvas. O seu monitor recebe sinais de boas vindas do hangar interno, que fica
na base de uma montanha da Embaixada Unida, autorizando aterrissagem.
Para a sua surpresa, Mei estava a sua espera.
- Saluton! (Olá!)
- Saluton! – responde Dareh
- Dum la tuta nokto estis aýdataj la
tondroj. (Durante toda noite eram ouvidos os trovões).
- Neniam pluvis tiel forte, kiel
hodiaý. (Nunca choveu tão forte como hoje.)
Após uma curta caminhada, Dareh e Mei entram num elevador que os
conduzirá vários andares a cima até um salão, de ambiente agradável e quente,
onde uma mesa encontra-se servido o jantar. Uma grande janela no fim de um
corredor revela os primeiros raios e trovões da noite. O General Meadhas e sua
esposa Solaris se aproximam com calorosa recepção e sem formalidades.
- Seja bem-vindo Dareh.
- Obrigado General. Senhora Solaris.
- Dareh, que bom revê-lo.
- Também estou feliz em vê-la
senhora.
- Kiel vi fartas? (Como
você está passando?)
- Bone! Dankon! (Bem! Obrigado!)
Dareh é convidado para sentar à mesa e
todos se servem, relembrando a época em que Mei, ainda adolescente, aprendia a
pilotar com seu instrutor. Após o jantar, o general convidou todos para uma
sala em anexo onde explicaria o motivo da visita de Dareh.
- Gostaria de
lhe fazer uma proposta para que você acompahasse Mei por um tempo na Estação
Fonteira Sul – adianta o general, sem rodeios.
- Stacio Limo? (Estação de
fronteira?)
- Sim! É um pouco solitário,
reconheço. No entanto, dois dos três membros da estação completaram seu período
de permanência. Um cientista de comunicação preferiu ficar, alegando ter
identificado sinais incomuns naquele ponto da galáxia.
- Que sinais general?
- Aparentemente nada que mereça
atenção militar, provavelmente emissões de ondas estelares da nebulosa. Mas o
jovem Dr. Lunn Aodh é muito dedicado ao seu trabalho e arranja qualquer motivo
para também não tirar férias. Ele não deixaria nenhum detalhe, mesmo que
simples, passar despercebido.
- Já ouvi falar no Dr. Lunn. Ele fez
um curso básico de pilotagem em Urbo com outro instrutor, na época eu estava
exclusivamente com Mei. Ele teve um bom rendimento, inclusive sugeriu melhorias
para bloquear e interferir em comunicações de naves inimigas.
- Exatamente! A engenharia militar
acatou suas sugestões e implantou em nossas naves. Fizemos vários convites para
ele trabalhar conosco, mas não tivemos sucesso.
- Ele é um cientista pai. Tenho certeza
que é feliz onde está – comenta Mei.
- Certamente! Imagino se eu seria feliz
ficando confinado por meses numa estação sob um asteróide – fala o general com
humor, arrancando sorrisos de todos.
Solaris, a esposa do general também concorda:
- Não consigo imaginar meu querido.
Você carrega uma nobre e honrada tradição nos homens da família.
Mei aproveita a oportunidade:
- Eu tenho certeza que ficarei muito
feliz trabalhando lá. Infelizmente, não me interessei em seguir a tradição da
família. Desculpa pai.
- Minha filha, as escolhas são suas,
não nossa. Mantive a tradição por gostar do que faço.
- Se entendi bem, Mei quer trabalhar
na Stacio Limo?
– pergunta Dareh.
Mei se levanta animada e fica perto de Dareh.
- Sim, gostaria muito. E achei que
você poderia sair um pouco da sua rotina de instrutor.
- Gosto da minha rotina Mei – sorrir
Dareh, disfarçando não gostar muito da idéia.
Solaris percebe:
- Na verdade Dareh, Mei nesses
últimos anos teve muitas experiências em vários trabalhos e gostou de todos
eles, porém não se apegando a nenhuma, inclusive até acompanhou o pai em
manobras militares. Mas ela sempre teve curiosidade em trabalhar nos limites da
galáxia. Não fico surpresa pelo seu interesse nesse trabalho na Stacio
Limo.
- Ficaremos apenas nós três?
- Não Dareh. Deixaremos um pequeno
efetivo militar e um corpo médico a disposição, uma nave ficará próxima
seguindo o protocolo de segurança.
- Esqueci de perguntar, quanto tempo
ficaremos?
- Bom. Você não respondeu se aceita a
proposta.
- Qual seria mesmo a proposta,
senhor?
- Após a sua permanência na Stacio
Limo, você seria instrutor de alguns templários em Urbo Kristalo, uma pequena
reivindicação de alguns jovens templários. Então? O que acha?
- Seria uma grande honra senhor! – anima-se
Dareh – Sempre quis conhecer a cidade.
- A experiência que Mei teve em pilotar
naves foi vista com bons olhos, assim como, a sua curiosidade em expandir seus
conhecimentos. Os dedicados jovens de ordem religiosa e filosófica de várias
castas demonstraram interesse de que, pelo menos em um período de recesso nas
suas atividades, participem de aprendizados extras.
Mei olha para Dareh com gratidão:
- Não se preocupe. Não pretendo ficar
muito tempo. Preciso sentir um pouco do isolamento no espaço, aprender na
prática como se processam as transmissões na federação, escutar as estrelas e
os sons do universo.
- Pela sua animação, imagino que não
sejam semanas?
- Quem sabe um pouco mais – Sorrir
Mei, temendo que seu antigo instrutor desista.
- Então? – pergunta o general – Temos
um acordo?
- Claro! Senhor. Aceito com prazer.
Mei está certa, essa experiência será útil para mim também, afinal, sair um
pouco da rotina faz bem.
- Você foi bem recomendado Dareh, um
pequeno conselho em Urbo Kristalo aprovou seu nome e eu faço muito gosto, pois
sei da amizade que Mei tem por você.
- É recíproco general.
- Partirão em cinco dias numa nave de
Urbo Kristalo:
o Cruzador Sankta Spirito (Espírito
Santo),
a mesma que os levarão para o Planedo Kolonjo.
- Façam uma boa viagem – deseja
Solaris.
- Obrigado senhora.
Ao sair, Dareh da meia volta e fala com o general:
- Perdão senhor. Mas faria uma
pequena gentileza?
- Se estiver ao meu alcance!
- Poderia convidar meu amigo
Dr.Yusuke Jun para fazer parte da equipe na estação?
O general faz um semblante de indecisão, como se vasculhasse pelo seu
cérebro uma lista de nomes de médicos disponíveis.
- Temos um pequeno inconveniente aqui
Dareh.
- Foi só uma sugestão senhor. Não
estou a pressioná-lo e...
- Não é isso. Claro que seria um
prazer atender um pedido seu, mas é que o Dr.Yusuke Jun estará em uma de nossas
naves de apoio na órbita da estação. Preciso achar outro médico para que seu
amigo possa ficar exclusivamente com vocês.
- Achei que seria prudente ter um
médico na estação – disse Dareh.
- Também acho, apenas não faz parte
dos exercícios médicos ficarem tanto tempo num local em que não possa realizar
seus trabalhos. Alguns até adoeceriam de tédio! – O general solta uma
gargalhada do próprio comentário.
- Tem razão, senhor – Sorrir o
instrutor.
- Bom! Não haverá problema, comunicaremos ao
Dr.Yusuke que em poucos dias a sua rotina será abalada.
- Obrigado senhor!
- Se precisar de algo, estarei em
contato.
Dareh e Mei seguem para uma ampla e iluminada sacada. A chuva quase que
instantaneamente havia parado, assim como os raios e trovões. Pouco menos de um
quilômetro de onde estão, eles admiram o volume de água de um imensa cachoeira
que cai a centenas de metros, onde a espuma que se forma não possibilita
enxergar o fundo. Após demorada e silenciosa contemplação, Mei encosta suavemente
a cabeça no ombro do amigo:
- Dankon (Obrigada)
- Nedankinde (De nada)
Apesar de toda a beleza da paisagem, os
pensamentos de Dareh estavam voltados para a grande responsabilidade que se
ocultava na confiança dos pais de Mei. Sabia que o convite para acompanhá-la
era mais do que uma simples escolha. Certamente, todos que fazem parte da
tripulação do Sankta Spirito, das naves auxiliares e da própria presença do Dr. Lunn Aodh, todos estavam voltados
para garantir a segurança da talvez a mais mimada e conhecida garota da
federação.
Por mais que se evite uma demasiada exposição de Mei em relação a sua
evidente e merecida celebridade, ela inspira muito mais do que o desejo de
vivenciar suas emoções na plenitude, numa sociedade que vive permanentemente em
situação de paz e equilíbrio, diferente em tudo do que se poderia esperar em
outras galáxias conhecidas do entorno. Mei é especial, apesar dela não se
apropriar dessa idéia, existe algo mais por trás do véu de mistérios que
envolvem a sua vida.
- Você já foi alguma vez numa estação
de fronteira? – pergunta Mei.
- Uma vez. Escoltava um cargueiro de
suprimentos, mas foi na Estação Norte próximo a Galáxia Griza (Cinzenta).
- Já fez contato com alguma cultura
de lá?
- Diretamente não. Mas vi algumas
movimentações de suas naves. Os contatos são feitos na grande maioria pelos
embaixadores.
- E quando é um alienígena não
conhecido pelos militares, certo?
- De preferência, mas dificilmente
antes de um primeiro contato a federação já não o tenha pesquisado. Existe uma
orientação para não contatar ou interferir em certos mundos, poderia impactar o
livre desenvolvimento da sua cultura.
- Aprendi sobre isso nas aulas em Kolonjo – comenta
Mei.
- O trabalho do Dr. Lunn segue estas
orientações, ele pode captar sinais grosseiros de rádio ou mensagens para
decodificação, mas nunca responder imediatamente.
- E ele capta com freqüência?
- Conheço esse olhar brilhante e
curioso! Mei, Não está pensando...
- Não! Não! – sorrir – Não faria nada
que desrespeite as regras, entendo que é muita responsabilidade contatar novos
seres.
- Fico mais tranqüilo.
- E na Galáxia Griza, como foram
contatados?
- Uma raça alienígena superior forçou
a situação e tivemos que intervir. Existe um minério no planeta por eles
desejados que é vital para a sua sobrevivência chamado de ilmenita. Não tentaram fazer um contato
amistoso e se aproximaram com extrema hostilidade.
- O como foi essa intervenção?
- Defendemos o povo desse planeta com
nossas armas militares, os agressores não aceitaram nossa presença e nos
atacaram também.
- Como é? – Mei se agita indignada.
- Pois é! – mas não houve feridos do
nosso povo e eles levaram a pior.
- E como vocês reagiram? Atacaram de
volta?
- Não Mei - sorrir Dareh,
pacientemente – Poupamos suas vidas, atiramos em seus motores com um forte
impulso eletromagnético e os deixamos a deriva no espaço por um bom tempo até
suas necessidades básicas se exaurirem. Eles tomaram um grande susto ao
perceberem que estavam lidando com seres bem mais evoluídos tecnologicamente.
- E moralmente, acredito. Se não os
haveriam destruído sem piedade – gesticula Mei.
- Acho que quando a fome chegou aos
limites, eles pensaram se éramos bondosos, antes que moralmente corretos.
- E como terminou?
- A nave que eu lhe falei que vi
manobrando na fronteira, é da raça que antes era inimiga e hoje é pilotada
pelos que foram atacados. Tivemos que ter muita paciência para contornar o
pânico daquele pacato povo que tira seu sustento da terra em que vive.
- Agricultores?
- Isso mesmo. Acontece que o minério
em grande abundância naquele planeta, não tinha a menor serventia para os
donos. No entanto, os inimigos tinham máquinas que ajudariam no trabalho de
lavrar o solo e outras para transportar e assim se estabeleceram num acordo
comercial que dura até hoje. Ambos fazem parte dos mundos aliados da federação.
E eles também se comprometeram em respeitar o acordo de não violação de mundos
primitivos ou em desenvolvimento.
- Se não! Ficaram magrinhos de fome!
Certo? – sentencia Mei.
- Está certo! – Sorrir Dareh.
Quando se sente à vontade, a inteligência de Mei é substituída por
resquícios da adolescente que Dareh conheceu no passado. É como se cada fase da
sua vida completasse a sua personalidade sem perder a originalidade. Não era
uma Mei, mas um mosaico delas, todas acessas e vibrantes. Ela poderia
facilmente sair de uma situação que exigiria uma maturidade em decisões e logo
depois de resolvido, sair correndo pelos campos e brincando sozinha como
criança.
Um sinal eletrônico avisa que uma mensagem está sendo solicitada para
completar. Dareh toca num tipo de relógio em forma de bracelete transparente e
uma pequena luz se desprende do mesmo e forma uma imagem holográfica suspensa
no ar.
- Dareh! Já sabe da novidade?
- Yusuke!
- Fui convidado para acompanhá-los na
estação de fronteira, não é uma maravilha?
- Quem bom que você gostou!
- Ah sim! Gostei muito, mas sei que
foi um pedido seu.
- Pedi ao general.
- Entendo. Creio que não foi pela
minha especialidade médica e sim pelos meus incríveis dotes de culinária.
Vamos! Confesse!
- Você acha que eu viveria muito
tempo numa estação de fronteira com aquela ração?
- Eu sabia! Por isso, já reservei
nosso estoque de especiarias. Com o que tenho meu amigo, faria de qualquer
ração militar um banquete digno para embaixadores.
Dareh sorrir:
- Não tenho a menor dúvida.
- Dareh! Argos e eu sentimos a sua
ausência hoje na instrução. Eu o convenci naquele jantar para que o cavaleiro
negro não fosse tão duro com você.
Dareh põem a mão na cabeça.
- Esqueci completamente de avisá-lo!
Que vergonha!
- Mi atendis vin tutan horon. (Eu te esperei durante uma hora)
- Damne! (Maldição!)
O Dr. Yusuke tenta acalmá-lo:
- Tudo bem amigo! Fiquei no seu
lugar.
- Não acredito! Você?
- Cansei todos os adversários que me
perseguiam!
- Que bom! Você lutou com as espadas?
- Que nada, corri feito um louco,
ainda estou ofegante. Eles desistiram de me pegar! Não sei como você tem
coragem de participar daquilo, é uma tortura!
Dareh não resiste e cai em gargalhadas.
- Entende agora por que precisamos de
você? Seu humor cura qualquer tédio.
- Pois é! Nunca teste meu humor
quando os temperos acabarem. Essa senhorita é quem estou pensando?
- É sim! Desculpa Mei, esse é o meu
amigo Yusuke.
- Agrablas renkonti vin (Prazer em conhecê-lo).
- Agrablas!
Dareh pergunta ao amigo:
- Kiam vi venos? (Quando você virá?)
- Chegarei no dia da partida, tenho que orientar meu
substituto para assumir minhas aulas e separar algumas sementes para cultivo,
não me informaram quanto tempo ficaremos.
- Não muito, espero.
- Anime-se amigo! Faz tempo que não temos uma boa aventura,
viajar de vez em quando faz bem a saúde.
- Recomendações médicas?
- Pode ser! Um tempo sem lutar com espadas lhe fará bem.
- Aceito o conselho doutor!
- Aceita? Assim? Tão rápido? Você começa a me preocupar
Dareh!
- Acho que vai ser divertido. Então, no vemos em cinco dias.
- Chegarei antes do café da manhã, me espere!
- Vou esperar! Não se atrase! Ĝis! (Até!)
- Ĝis!
- Luta de espadas?
- Sim Mei. É uma simulação. Fazia
parte da cultura Tero
Unua.
- Entendo.
- Mei. Mi estas laca. (Estou cansado)
- Pluvas. (Está chovendo)
Dareh boceja
demonstrando querer dormir:
- Vou descansar.
- Que pena, nossa conversa estava muito agradável.
- Vamos ter bastante tempo para conversar. Prometo.
- Mas antes de dormir, me diga uma coisa, como é o Dr. Lunn?
- É um pouco mais velho que você.
Muito inteligente e parece que se diverte com seu trabalho. Não conheço
pessoalmente, mas tive boas informações a seu respeito. A sua família é de Urbo
e não tem irmãos, como a maioria de nós.
- Eu lhe considero como um irmão,
Dareh.
- Tenho esse sentimento também,
irmãzinha – sorrir
Mei salta abraçando o pescoço de Dareh quase derrubando o amigo e saem
juntos para seus aposentos, combinando em organizar os detalhes da viagem nos
primeiros dias. Eles programam uma folga para passear na região de Sudaj
Ventoj.
Nas regiões desérticas do Planedo Urbo, encontram-se gigantescos lençóis
subterrâneos de um minério utilizado para a renovação de oxigênio, purificação
do ar, equilíbrio dos níveis de pressão interna e suporte de vida para os
diversos tipos de naves. Nas luas orbitais, existem indústrias que processam
todo minério, inclusive os radiativos encontrados em seus solos, usados para
amplificar grandes quantidades de energia na utilização de condensadores que
armazenam eletricidade. São usadas para gerar fusão nuclear de hidrogênio para
a propulsão mais rápida que a luz. As
naves são lançadas no subespaço ou hiperespaço, num salto temporal em grandes
velocidades para pontos longínquos da galáxia. Dependendo da distância, uma
viagem que duraria centenas e milhares de anos luz com motores de baixa
propulsão, é realizada em algumas horas ou semanas aproximadamente. Para viajar
em regiões interplanetárias comerciais ou em atmosferas, são usados naves com
propulsores de velocidades menores.
Durante os primeiros dias, todos os preparativos para a viagem foram
providenciados. O Cruzador Sankta Spirito já
se encontra na órbita do Planedo Urbo e pequenas naves cargueiras
conduzem os últimos suprimentos.
O General Anor Meadhas encontra-se a bordo do cruzador e acerta os
detalhes com o Comandante Akash Abhaya,
44 anos, humarante sapiens. Após liberar a frota de apoio que deixará Mei,
Dareh e Yusuke na estação, o cruzador seguirá para outras missões em sistemas
planetários próximos. O tempo de permanência de Mei e seus amigos na estação
estão relacionados à conclusão destes trabalhos, em aproximadamente oito
semanas.
No espaço, uma frota militar de apoio composta de quatro pequenos
cruzadores, liderada pelo Comandante Sarte Sigmar,
que fará a segurança na Stacio Limo. É
Iniciando acoplagem no casco do Cruzador Sankta
Spirito, concluindo assim, todos os
preparativos para seguir viagem.
Dareh entra nos aposentos de Mei:
- Atrapalho?
- Pode entrar!
Estava aqui concluindo minha pesquisa sobre o Dr. Lunn.
- O que achou?
- Acho que vai desperdiçar a sua
juventude se dedicando tanto ao seu trabalho.
- Ele tem algum tipo de lazer?
Dareh sorrir:
- Que eu saiba não. Ele é bem
reservado e concentrado em seu trabalho.
- Realmente, ele parece ser
brilhante. Poderia ser um excelente instrutor.
- Dr. Lunn? Acho difícil. Sua
inteligência rivaliza com a sua timidez. Quase não tem vida social. Seus pais
foram um dos pioneiros no desenvolvimento das estações de fronteira e como ele,
vivia nelas. Cresceu aprendendo na prática a lidar com muitas questões difíceis
no campo da comunicação e decodificação de mensagens. Seu brinquedo predileto e
acho até que atualmente seja seu passatempo, é direcionar as antenas e
telescópios localizados na exogaláxia para vasculhar o universo.
- Interessante! Acho que nem tem
namorada – Mei pensa em voz alta.
- O que disse?
- Nada não! Pensei alto.
Uma voz ecoa no corredor:
- Mi estas
malsata! – (Estou com fome).
- Conheço essa
voz!
- Saluton Dareh!
- Bonan matenon! (Bom dia!), Chegou
agora?
- Faz algum tempo, estava negociando no embarque as
minhas malas extras.
- Comida, no mínimo!
- Sabe Dareh, Você ainda vai me causar uma úlcera com
seus comentários indiscretos! Claro que é comida!
- Úlcera? O que isso? – pergunta Mei.
- Hã! - Esquece, deixa prá lá! – responde
Yusuke com um simpático sorriso.
- Dr. Yusuke, acaba de me lembrar
algo muito importante! Não tomamos café da manhã.
- Sabe mocinha, acho que vamos nos
entender muito bem - Dr. Yusuke aperta a mão de Mei – Pode me chamar de Yusuke.
- Pode me chamar apenas de Mei –
retribui sorrindo.
- Vi estas bela (Você é bonita!)
- Dankon
– (Obrigada)
-
Nedankinde – (De nada)
- Então! Vamos comer? – convida
Dareh.
- Konsentite! –
(De acordo!) – confirma Dr.
Yusuke – Obrigado por esperar.
-
Falando nisso, os pais de Mei já devem está nos aguardando, vamos embarcar em
duas horas.
- Que
bom! Gosto de uma mesa com muita gente.
Após uma descontraída conversa no café da manhã, Mei se despede dos pais
e segue para a plataforma de embarque, acompanhada pelo Dr. Yusuke e Dareh. Eles partem de
Urbo em
direção a sua órbita, embarcando novamente no Cruzador Sankta Spirito, que após fazer uma pequena manobra de acerto de curso,
se precipita em frações de milésimos de segundos num flash de luz que se forma
em sua frente, saltando para outra região da Galáxia de Áxis.
Capítulo
2
PLANEDO TRYARI
(Planeta Tryari)
Distante milhões de anos luz da Galáxia de Áxis encontra-se outro
aglomerado de estrelas e sistemas planetários, resultado da colisão de dezenas
de galáxias chamado de Rhisvi.
Assim com Áxis, Rhisvi é uma das mais antigas e remotas galáxias, ambas
formadas centenas de milhões de anos depois do nascimento do universo, estando
aproximadamente 13 bilhões de anos-luz da Terra.
Palco de inúmeros conflitos entre diversas espécies alienígenas
conscientes, muitas delas completamente extintas, a Galáxia Rhisvi foi uma das
mais atingidas pela fúria devastadora de seres oriundos de distantes e
desconhecidas regiões do universo, mentalmente escravizados e liderados por uma
misteriosa e poderosa entidade conhecida como Viga.
O caos em Rhisvi, inclusive a mobilização de corpos celestes como opção
de ataque, é fruto das investidas cruéis das forças de Viga. Foram centenas de
planetas destruídos e milhares de seres retirados dos seus mundos, raptados e
escravizados.
De tudo que se compreende em relação aos motivos de tão enigmática
entidade, seria destruir um grupo de seres cuja sua natureza e origens também
são desconhecidas. Estes seres são responsáveis pela semeação de vidas no universo
desde que os mesmo surgiram. Idolatrados com vários nomes de deuses em milhares
de culturas espalhadas em inúmeras galáxias, os co-criadores cumprem as suas
divinas missões, semeando e criando condições para que a vida prospere no
universo por onde passam, formando um mosaico de heranças e semelhanças.
Acredita-se que na simples passagem dos co-criadores, a energia vital
que desprendia de suas formas esféricas, de variados brilhos e cores, foi o
suficiente para “adubar” a matéria escura abundante no espaço. Não se sabe ao
certo de onde vieram e para onde foram, sabe-se que muitos passaram e alguns
retornaram na intenção de proteger as suas criações.
A presença de Viga e suas investidas nos “Berçarios dos Deuses” indicam
para um único motivo: Atrair os co-criadores. Se suas intenções fosse
simplesmente destruir o que existe de vida no universo, provavelmente ela o já
teria feito, mesmo tendo consciência do grande desgaste de tempo e energia que
isso poderia causar.
Viga deseja algo valioso, extraordinário e enigmático até para as
culturas conscientes mais avançadas. E o seu objeto de desejo está relacionado
a algo do conhecimento dos co-criadores e que também motivou a presença deles.
No início, Viga seguia as pistas cósmicas dos co-criadores e usava das
mesmas versatilidades e poder de se deslocar no espaço-tempo. Observava o
progresso de culturas e guiada por uma intuição particular, identificava os
sinais deixados por eles, na sua maioria alguns tipos de sóis. Estas estrelas
foram cascas embrionárias de outros co-criadores que seguiram trajetória
desconhecida. Assim, Viga e seus aliados aterrorizavam nesses mundos na
intenção de chamar a atenção.
Quando um co-criador estava pronto e adaptado ao novo ambiente
dimensional, libertava-se do casulo e uma esfera luminosa surgia. Para desviar
das intenções de Viga, os deuses que retornaram tiveram que se desprender de
suas esferas e para isso, precisariam de um corpo orgânico, chegando até por
longos períodos de esquecer temporariamente das suas verdadeiras identidades.
As esferas que foram liberadas no espaço, com o tempo aumentavam de
tamanho, gerando estrelas especiais. Onde se encontravam essas estrelas, os
aliados de Viga estariam investigando. Os deuses por outro lado se disfarçavam
e se uniam, planejando ganhar tempo para que Viga não atingisse seus
propósitos.
Viga não pode usar o artifício de possuir um corpo orgânico neste
universo, a sua natureza não permite e, se fosse possível, sua força seria
exaurida e essa fragilidade permitiria aos co-criadores identificá-la e
aprisioná-la. Ao contrário de Viga, os co-criadores sabem da sua localização,
sentem a sua energia e tem o apoio de muitas de suas criações. Antecipa algumas
vezes, providências de defesa em muitos mundos, não mais tolerando que vidas
inocentes sejam destruídas.
Seres evoluídos como os humarantes, tryarianos e deluvianos auxiliam
indiretamente os co-criadores, mas para não chamar a atenção de Viga, também
são poucos e desconhecidos os escolhidos membros em seus mundos, que seguem uma
vida normal e tranquila. Eles são detentores das esferas matrizes que não se
tornaram sóis, dos deuses Navan, Luna, Nana e Lilith, e que são fontes
inesgotáveis de energia e poder, usados para combater as forças de Viga e seus
servidores. As esferas matrizes transformam simples planetas em poderosas astronaves
de combate.
A articulação desses deuses é regida por um líder co-criador, conhecido
por um nome terráqueo de Rá, sendo apoiado por outros deuses de igual poder.
Uma herança dos deuses traçou o
destino de raros filhos semideuses: Mei, filho de Navan e Luna; Gruner, filho
de Navan e Lilith; Solaris, filha de Dracon e Nana; Khufu, filho de Snefru e
uma terráquea chamada Hetepheres. Com exceção de
Khufu, os demais semideuses desconhecem suas paternidades divinas.
O gigante Planeta Tryari é repleto de estranhas e bizarras formas de
vida que povoam os seus ambientes escuros, hostis e insalubres. A sua geografia
é bastante irregular, rochosa e acidentada, agravada com regulares atividades
vulcânicas. O clima é geralmente quente, amenizando próximo aos pólos, região
evitada pelas feras, onde a luminosidade é sempre crepuscular. Nessa parte do
planeta existe um belo oceano com águas cristalinas e muitos arquipélagos com
cidades governadas por um regime monárquico.
Gruner Ar é o único filho da Deusa Lilith e apesar da pouca idade, 21
anos, é o regente de Tryari. Nunca teve contato com seus pais e lhe foi dito
que ambos haviam morrido, quando ainda era criança, combatendo as forças de
Viga. Foi criado por um tutor chamado Giambo Zoolie, um ser humanóide, rosado,
baixo e corcunda, aparentando ser um ancião, de uma raça chamada Bitinus.
O Regente Gruner Ar tem a forma humana dos seus pais e que enaltece a
idolatria dos tryarianos que o considera filho dos deuses. Assim como Giambo,
os bitinus são criaturas ordeiras, humildes e prestativas.
Outro grupo de alienígenas que representam a força de defesa no reino
são os deluvianos, seres que tiveram seu mundo devastado num passado longínquo
pelas forças de Viga e que encontram no Planeta Tryari a paz de uma vida sem
ameaças. Os deluvianos são seres grandes que atingem cinco metros de altura na
fase adulta. São guerreiros inteligentes, fortes, corpulentos e um pouco
temperamentais. Alguns grupos isolados servem e protegem os deuses Rá, Luna,
Navan, Nana e Lilith. Os deluvianos também são os principais operadores das
naves estrelas: Navan e Lua Negra.
O centro do poder no Planeta Tryari está no reinado de Ar tok, e seus
limites são habitados por dezenas de outras raças alienígenas refugiados de
outros mundos da Galáxia de Rhisvi. Eles colaboram com os deluvianos no
desenvolvimento de tecnologias e construções de naves em troca da sua proteção
e preservação de suas ameaçadas culturas.
O patrulhamento em Rhisvi é realizado pelos deluvianos sob o comando de
Truskas Zim, um dos antigos guardiões da esfera Navan no Planeta Éris da
Galáxia Via Láctea. Truskas conhece a verdade sobre Gruner, foi designado como
o seu protetor.
Uma das principais tarefas do reinado de Ar tok, é unir e reconstruir a
maior quantidade de mundos possíveis em Rhisvi, fornecendo armas e naves para
defesa e trânsitos comerciais.
Curiosamente, um tipo de animal voador conhecido como grun, vive nos
arredores do rústico e imponente Castelo de Ar tok, que tem esse nome em
referência a vocalização produzida por esses animais. São feras negras,
voadoras e espertas, com mais de três metros de altura e que se comportam como
guardiões. São vistas a distância, como gárgulas sobrevoando os cumes das
torres e vigiando sob os beirais de edifícios. Os gruns são protegidos e nunca
molestados, sua imagem aparece em símbolos reais, esculturas, naves e
indumentárias, sendo fácil para qualquer povo em Rhisvi, descobrir o planeta
cujo objeto decorativo foi adquirido. Os gruns reconhecem e obedecem, por
conexão telepática, exclusivamente ao monarca ou indicado por ele, permitindo
montá-los quando este deseja sobrevoar a cidade.
Os gruns
são endêmicos do Planeta Tryari, mas no passado muitos foram capturados pelos
aliados de Viga e também sofreram intervenção mental e orgânica para servi-la.
Os gruns são os primeiros a atacar a suas vítimas, seu voo é silencioso e pode
atingir grandes alturas, suportando bem o frio e o calor. Acasalam-se a cada
cinco anos, tendo uma cria por vez, onde realiza em bandos, uma longa migração
para as regiões altas e montanhosas do planeta. A única fraqueza destes seres é
que são sensíveis a luz, seus hábitos são crepusculares e noturnos e seus vermelhos olhos
conseguem identificar fontes de calor a grande distância. Em Tryari, seu
planeta natal, os gruns se alimentam exclusivamente da resina adocicada de um
tipo de árvore comum existente no planeta: o rasmus. Se um grun ingerir
qualquer outra fonte de alimento, provocará o desenvolvimento e mutação de
bactérias nocivas em seu organismo. Essa voraz bactéria se espalha pelo sistema
circulatório dos gruns e passa a se alimentar do seu próprio corpo
multiplicando cada vez mais. Os gruns para não morrerem, precisam se alimentar
de carne não contaminada por essa bactéria e qualquer arranhão provocado por
eles transmite a doença. Por isso que existem muitos relatos do cheiro fétido
que é sentido quando essas feras estão contaminadas, servindo aos aliados de
Viga, o que causa muita tristeza na população de Tryari.
Capítulo 3
Os habitantes de Tryari cultivam hábitos simples e não se preocupam com
suntuosidades e acúmulos de riquezas. O que mais apreciam é manter a tradição
de confeccionar objetos e armas artesanais e se aventurarem a caçar feras nas
regiões quentes do planeta.
No alto do palácio, um servo bitinus corre para uma sacada e sopra uma
longa trombeta para chamar a atenção dos gruns. Ele olha para o horizonte para
ter certeza que foi ouvido e logo recebe confirmação visual de dezenas de gruns
manobrando nos ares e retornando. O servo se agita e se retira as pressas com a
chegada de Giambo. Os gruns se aproximam liderados por Gruner, que está montado
em um deles. O animal abana as asas e pousa suave na sacada. Gruner desce e
sinaliza para o alto e todos os gruns voam para as torres.
- Algum problema? – pergunta Gruner.
- Meu senhor. Truskas Zim avisa que
chegará trazendo gruns contaminados para a reserva.
- Onde foram encontrados?
- Em nossa galáxia, meu senhor.
- Estarei em meus aposentos, avise-me
quando ele chegar.
- Assim será, meu senhor – Giambo se
retira respeitosamente.
Gruner se aproxima da sacada e olha para cidade, pensativo. A presença
de gruns contaminados indica que as forças de Viga estão agindo na galáxia,
pois havia décadas que isso não acontecia. Mas está satisfeito em saber que os
gruns doentes serão tratados e curados com a simples alimentação da resina de
rasmus e depois serão libertados antes da migração.
Uma
pequena nave aterrissa na plataforma do palácio. Truskas Zim se dirige para a
recepção real e é servido de uma caneca com refrescante bebida de boas vindas.
Foi oferecido por servos bitinus, que tiveram dificuldade em trazê-la num tipo
de reboque. O deluviano bebe de uma só vez e enxuga a boca com o braço. Giambo
abre uma porta para a passagem do seu senhor.
- Truskas!
- Saudações majestade – fala o
deluviano com a sua voz potente e grave.
- É verdade que acharam gruns?
- Sim, um grupo de oito, estavam
fracos e adormecidos.
- E quem os entregou?
- Encontramos uma pequena
nave abandonada que
emitia um sinal de socorro nos limites Rhisvi. Não havia tripulação e identificamos a presença
de gruns contaminados.
-
Descobriram
a procedencia da nave?
- Rastreamos o seu sistema que indica
que partiram de uma região escura próxima a Áxis. O modelo da nave é
desconhecido.
- Sabemos que não existem gruns em Áxis,
isso indica que Viga está agindo. Mas por que se arriscariam em se aproximar do
povo humarante?
- Não sabemos majestade. O único
mundo que possui vida naquele quadrante é o Planeta Gir.
- Qual é a situação desse planeta?
- É pequeno, de atmosfera habitável,
mas sem civilização, apenas com animais nativos.
- Já ouvi falar desse planeta –
Gruner olha para Giambo.
- Sim, Majestade. Em nossas antigas
aulas lhe falei sobre esse planeta onde vivem criaturas fantásticas chamadas de
dromis.
- Sim, os dromis! Lembro-me agora.
- O que faremos majestade – pergunta
Truskas.
- Onde está a nave em que se
encontravam os gruns?
- No setor de descontaminação. E os
gruns já estão sendo tratados com rasmus.
- Quero uma análise precisa de cada
parte da nave e reúna o conselho, precisamos descobrir mais detalhes antes de
contatar a Federação Áxis.
Algum tempo depois, Gruner se encontrava reunido com o conselho formado
exclusivamente por silenciosos deluvianos. Aguardavam a chegada dos primeiros
relatórios de investigação da nave, mas já haviam decidido em comunicar a
Federação Áxis.
Uma porta se abre e Giambo entra acompanhado de Truskas que trás um
cristal de dados.
- Então? Temos mais informações?
- Sim, majestade – responde Giambo.
Truskas se aproxima de um painel e introduz o cristal e uma imagem
aparece num tipo de tela.
- As primeiras pesquisas não identificam a
origem da nave – explica Truskas – Seu sistema de propulsão é diferente das
demais naves conhecidas.
- Poderia nos explicar?
- Certamente, majestade.
- A propulsão foi desenvolvida com
uma tecnologia que utiliza um tipo de algas na criação de combustível
renovável.
- Biocombustível!
- Sim majestade, desenvolveram
enzimas capazes de extrair açúcares dessas algas e usar como fonte de energia e
biomassa. Um composto residual desse processo possui alto valor nutricional.
- Interessante! A mesma energia usada
para mover a nave é utilizada para se alimentar?
- Exatamente, majestade. O composto
possui um baixo conteúdo calórico e de gordura, no entanto possui alta
concentração de minerais, vitaminas e proteínas. Até o momento, essas
desconhecidas algas parecem ser bastante tolerantes as variações de
temperaturas e se desenvolvem rapidamente num compartimento de cultivo
específico.
- Nesse caso, a nave não tem
propulsão para hipervelocidades?
- Não, majestade. Acreditamos que
foram construídas para viajar em pequenas distâncias ou como recurso de fuga.
- Fuga?
- É uma nave pequena, o suporte de
vida estava em níveis normais, não existem avarias no casco. Poderia funcionar
como uma câmara de hibernação e permitir que a tripulação fique longos períodos
à deriva no espaço, aguardando um resgate.
- Mas não foi ativado hibernação?
- Não majestade, não seria compatível
para uma tripulação alienígena dividir o mesmo espaço com gruns. Inimaginável,
no entanto necessário dizer, que nenhum grun possui capacidade para operar
nenhum tipo de tecnologia.
- Então os gruns foram entorpecidos,
jogados dentro da nave e enviados para a nossa galáxia?
- Em princípio sim, majestade. Porém
seu navegador não tinha uma rota estabelecida, o que faz duvidar de que vieram
para cá deliberadamente. Apesar do casco da nave está em perfeitas condições,
encontramos vestígios radioativos de poeira produzida por energia fotônica. Uma
explosão deve ter lançando a nave aleatoriamente para os limites da nossa
galáxia.
- Possui armas? Relatório de tempo de
percurso?
- Nenhum tipo de arma foi encontrado,
majestade. Apesar de não ter sido observado nenhuma queimadura somática nos
gruns produzida por radiação, os vestígios encontrados no casco devem ter sido
provocados por disparos. Também nada encontramos na área de carga.
- E o tempo de percurso – insiste
Gruner
- Duas semanas de nosso padrão de
tempo, majestade.
Gruner se levanta da cadeira e vai até uma janela onde observa um grupo
de gruns sobrevoando as torres. Volta calmamente o olhar para o conselho e com
uma expressão de que está muito perto de entender o problema fala com bastante
convicção:
- Isso confirma que foi usada como
uma cápsula de fuga, mas não explica o que um grupo de gruns estava fazendo
nela e sem a tripulação. Que tipo de confronto ocorreu nos limites de Áxis, que
pelas regras do acordo de cooperação dos mundos aliados, certamente eles
haveriam nos comunicado o ocorrido. E outro mistério, é como uma nave sem hiper
propulsão, sem câmara de hibernação ativada, consegue chegar a nossa galáxia,
partindo do outro extremo da Galáxia de Áxis. Isso levaria centenas de anos
luz!
Os demais membros do conselho se entreolham.
- Algum risco biológico? – pergunta o
regente.
- Fizemos coletas no gruns, os
primeiros testes confirmam apenas a contaminação típica da sua alteração
fisiológica. Outros exames químicos precisam de tempo para ter resultados
contundentes.
- Precisamos saber a origem desta
nave! É a única pista que temos.
- Enviaremos os primeiros relatórios
para a Federação Áxis. Não encontramos nada em nossos arquivos que revele a
origem desta nave. Podemos está diante de uma civilização não contatada - explica
Truskas.
- E certamente, já está sendo vítima
de Viga!
- Possivelmente, majestade.
- Fizeram um bom trabalho! Assim que
sair os últimos resultados dos exames e resposta da Federação Áxis, quero ser
informado imediatamente.
- Assim será, meu senhor – Giambo
antecipa a resposta.
Nas cidades de cada arquipélago, a população está eufórica com os
preparativos da festa comemorativa da migração de acasalamento dos gruns.
Alguns machos já ostentam estrias prateadas no abdômen, indicando o início de
um novo ciclo reprodutivo.
Os membros do conselho se retiram da sala de reuniões. Giambo fecha a
porta e percebe que o Gruner está de volta à janela.
- Estou achando os gruns um pouco
agitados. Faz muito tempo que eles circulam as torres.
- Deve ser devido à aproximação da
migração, meu senhor.
- Não tenho certeza disso, consigo
perceber uma ansiedade diferente neles. Parece que está relacionada à presença
dos gruns recém chegados.
- Meu senhor, os gruns estão
praticamente curados da sua contaminação, estão calmos e bem dispostos – disse
Giambo – Poderão conquistar a liberdade e migrarem com os demais. Nunca tivemos
problemas com eles.
- Talvez eu esteja mais alerta que
eles, devido os últimos fatos.
- Sim, meu senhor. Uma preocupação
justa, quando se trata de Viga. Mas tenho observado que meu senhor não tem
dormido bem. Tenho visto na varanda dos seus aposentos, absorvido por pensamentos.
- É verdade. Tenho tido sonhos
estranhos.
- Que tipos de sonho, meu senhor.
- Uma jovem humarante que nunca
encontrei. Seus olhos têm o azul dos nossos mares e sua voz é doce e
confortante.
- Uma jovem humarante meu senhor?
- Sim Giambo. Existe muita
familiaridade entre nós.
- Familiaridade?
- Sim, como uma irmã.
- E como é este sonho?
- Confuso e sempre termina da mesma
forma quando damos as mãos.
- Meu senhor já conheceu outras mulheres
humarantes quando visitou Áxis.
- Mas essa é diferente e já faz um
longo tempo em que estive em Áxis.
- Certamente, majestade.
- É como se fosse um chamado, um
encontro. Não sei explicar. Quando estou com ela sinto uma grande felicidade e
paz.
- Não seria o momento de sua
majestade pensar em casamento?
Gruner esboça um sorriso e toca na cabeça do seu tutor.
- Não se trata de casamento meu fiel
amigo. No momento certo, encontrarei a futura rainha.
- Será uma grande alegria para nosso
reino, meu senhor. Será finalmente rei.
- O sentimento pela humarante do
sonho é fraternal, mas não faz nenhum sentido, pois não tenho irmãos.
- Sente falta de está com pessoas da
sua raça?
- Sou feliz aqui e nunca tive essa
necessidade, sou sincero quando digo isso.
- Suas palavras são sempre
verdadeiras, meu senhor.
- Sabe Giambo! Estava pensando em
fazer uma nova visita a Galáxia de Áxis.
- Seria maravilhoso, meu senhor. Mas
qual seria a justificativa do nosso regente se deslocar para tão longe?
Gruner desanima diante dos argumentos de Giambo. Não faria muito sentido
deixar Rhisvi apenas por um desejo pessoal, movido por uma curiosidade de um
sonho.
- Tem razão e, além disso, Truskas
tem sido um excelente porta voz.
- Porta voz? Majestade – disse Giambo
com fina ironia.
Gruner não resiste e sorrir descontraidamente com o humor ácido de
Giambo, fazendo uma referência aos deluvianos que praticamente não são de falar
muito.
Capítulo 3
PLANEDO OCEANO
(Planeta Oceano)
Localizado em outro extremo da Galáxia de Áxis, encontra-se uma das mais
belas civilizações do mundo humarante: O Planeta Oceano. A sua superfície é
quase totalmente coberta de água.
São águas de baixa densidade, pura, cristalina e de um azul brilhante e
fosforescente, devido à presença de algas que fazem cintilar ao menor toque do
vento. É também um dos maiores planetas, sendo 2.600 vezes maior que o Planeta
Terra e assim como esta, possui uma lua orbital. A sua população na maior parte
é formada por humarantes Homo aumarantes.
A única poção de terra tem pouco mais de 8 milhões km², um minúsculo
arquipélago em comparação com o volume de massa líquida do planeta.
A maioria das cidades encontra-se
flutuantes ao longo dos oceanos, submergindo quando necessário nos períodos de
alterações climáticas. Na porção de terra firme conhecida como Kampo Verdo (Campo Verde), as
cidades possuem o formato de longas e luminosas torres com limitada uma
população.
Dezenas delas estão espalhadas
estrategicamente pelo continente, construídas com o mínimo de impacto
ambiental, preservando o ambiente original do planeta.
Já era noite quando a cidade Turo
Orienta
(Torre Leste), recebe a comunicação do Cruzador Sankta Spirito que se encontra para a sua primeira parada na órbita
do Planedo Oceano. A missão do cruzador nesse planeta é deixar o
embaixador humarante aumarante, Nuada Nin, 256 anos, filho do lendário
Conselheiro Netuno de Tero Unua,
e que estava um longo período no Planedo
Kolonjo, participando de decisões diplomáticas que envolvem a adesão de
novos mundos à Federação Áxis.
Na sacada de uma ampla janela panorâmica do cruzador,
encontra-se Mei, Yusuke e Dareh conversando com o Embaixador Nuada.
- Kiel belas la luno ĉi-vespere! (Que
lua bonita temos esta noite!) – disse Mei.
- Ŝi estas bela (É bonita)
– responde o embaixador – É
tão bela quanto a lua de Tero Unua,
sinto saudades do nosso antigo mundo.
-
Quando o senhor volta para Urbo Kristalo?
- Kiel eble plej baldaŭ (O mais breve possível), enquanto não indicar um
substituto para as minhas funções.
- O
senhor deixará a embaixada? – pergunta Yusuke.
- La arto estas longa, la vivo mallonga (A
ciência é duradoura, mas a vida é breve) – responde o embaixador – É preciso seguir
para outros aprendizados.
-
Soube que o senhor pratica luta com espada? – comenta Dareh.
-
Uma luta solitária com o vento – sorrir o embaixador - Quando tenho tempo
livre, gosto de praticar, ajuda a manter a mente e o corpo em alerta. Ganhei
uma espada samurai de presente do meu pai quando era criança. Seu interesse não
é por acaso, eu suponho.
-
Também gosto de praticar no campo virtual, apesar de ter melhor desempenho com
arco e flecha. Recebo aulas com o instrutor Argos Aury.
- Conheço Argos Aury. Esteve uma vez
aqui em Oceano participando de um campeonato. Ele é muito habilidoso, você tem
um excelente instrutor.
Um oficial humarante se aproxima e avisa
ao embaixador que o transporte está pronto.
-
Preciso ir meus amigos, tenham uma boa viagem.
-
Obrigada embaixador – Mei se aproxima e abraça Nuada.
O embaixador segura suavemente a face de
Mei com as duas mãos.
-
Existe um brilho especial em seu olhar jovem Mei.
-
E existe muita bondade nos seus embaixador. Sentirei falta das nossas
conversas.
-
Teremos outras oportunidades. Navan! – o embaixador levanta a mão direita em
saudação.
-
Navan! Embaixador.
O cruzador recebe sinais de boas vindas e, uma nave pilotada
pelo próprio Comandante Akash Abhaya,
se desloca seguindo em direção ao planeta. Ele tem aterrissagem programada na
cidade flutuante de Sireno (Sereia).
- Não precisava se dar ao trabalho de
me trazer comandante – comenta o embaixador com ternura.
- É uma honra que não resisto em
dispensar, senhor embaixador. Também não queria perder a oportunidade de ver
esse belo oceano de perto.
- Será bem-vindo sempre que quiser.
Os segredos desse oceano são conhecidos por poucos.
- Aceito com agrado o convite senhor.
E os segredos são necessários e compreensíveis.
Ao se aproximar de Urbo Sireno,
eles são cercados por outras dezenas de pequenas naves que fazem um escolta,
deixando rastros luminosos no céu. O mesmo acontece com todas as cidades em
terra firme, projetando longos feixes de luzes coloridas para o céu. Da sacada
da nave, os três amigos observam.
- Eles sabem como receber bem seus
visitantes – disse Yusuke – Mas interessante! Não vejo mais a nave de
transporte, sumiu nas nuvens.
- Estão felizes com a chegada do
embaixador – comenta Mei - Ele é extraordinário e muito querido!
- Imagino quanto conhecimento habita
em seu ser – diz Dareh, pensativo.
- Alguém sabe qual a próxima parada?
– pergunta Yusuke.
- Stacio Limo Nordo (Estação
Fronteira Norte) – responde Dareh.
- Estamos do lado oposto do nosso
destino, essa viagem vai demorar mais do que imaginava.
- Gostaria de conhecer essa estação –
revela Mei, curiosa.
- Você vai gostar – diz Dareh – Ela
fica próximo a um pequeno planeta chamado Ruĝo (Vermelho). Foi a primeira e mais antiga estação de
fronteira de Áxis, é tradicionalmente formada por descendentes do Planedo Marso (Planeta Marte).
- O planeta é
vermelho?
- Não, o planeta não
é vermelho, na verdade é cinza-azulado e muito frio. Sua atmosfera ainda está
sendo processada pelas máquinas de terra formação e que já é possível respirar
sem ajuda de trajes. O nome vermelho é como eram chamados os habitantes do
Planeta Marte que ficava 12 minutos-luz de Tero Unua.
- Bem perto.
- Sim, mas num
passado remoto, uma viagem de ida durava seis meses. Mas com o avanço da tecnologia
espacial foi diminuindo gradualmente.
- É muito tempo de
viagem.
- Sim, eles eram
determinados e corajosos.
Yusuke escuta a conversa:
- Eu morreria de
fome! Nem pensar numa viagem dessas!
- Ele é sempre
assim? Só pensa em comida?
- Não Mei, só quando pensa em ficar
sem ela – sorrir Dareh.
- Por que você não passa um tempo na
cozinha do cruzador – sugere Mei – Assim você se acalma.
- Sabe que você me deu uma excelente
idéia – Yusuke estala os dedos.
Dareh e Mei se entreolham e sacode os ombros sem entender as intenções
do médico. Minutos depois a chegada do Comandante Akash,
o cruzador se movimenta para fora da órbita do Planeta Oceano. Com uma nova
rota traçada, a nave acende e acelera os motores sub-luz, desaparecendo mais
uma vez na escuridão do espaço, deixando um rastro de partículas.
Capítulo 4
Capítulo 4
STACIO LIMO NORDO
(Estação Fronteira Norte)
A migração do povo humarante para a Galáxia de Áxis e os séculos que
sucederam após isso, não foram suficientes para enfraquecer alguns hábitos de
comportamento e enraizadas tradições.
Os habitantes do Planeta Vermelho é um dos melhores exemplos de que a
cultura vai junto com o viajante. Descendentes dos humanos que viviam no
Planeta Marte, os vermelhos praticamente não foram influenciados pela cultura
unida humarante.
Houve necessários ajustes e adaptações para que o seu estilo de vida
pudesse ser preservado. A cultura humarante estimula e aprecia as antigas
tradições, e as aulas e instruções sobre Tero Unua são à base da educação desse
povo. Também encontram no aperfeiçoamento da ciência, as condições para o
desenvolvimento e sobrevivência.
Numa sociedade tão pacífica como a humarante, como se comportaria diante
de uma guerra? Uma civilização inserida numa pequena galáxia que desde a sua
chegada nunca foi ameaçada e, quando houve, foi a centenas de anos no Planeta
Terra.
Os humarantes não conhecem ameaças, fome, doenças e outros conflitos que
só conhecem mediante a história, quando no passado foi obrigado a enfrentar
perigosos inimigos e posteriormente, se tornar um dos seres mais poderosos do
universo. A expectativa de vida chega até 210 anos para os humarantes sapiens e
330 anos para os humarantes aumarantes. Essa longevidade está relacionada à
qualidade de vida, o avanço da medicina e das próprias características
genéticas de cada raça.
Para os mundos que vivem com a paz e a segurança sempre ameaçados,
torna-se essencial a formação de uma ordem militar, no investimento de esforços
e tecnologias bélicas capazes de se defender e atacar. Mas quanto maior o poder
das armas, maior a responsabilidade em usá-las.
Mas como criar um efetivo militar se não existe uma cultura de guerra?
Com exceção dos vermelhos, os humarantes não pensam nisso, nem tão pouco em
conflitos e revoluções. Eles sabem o poder de fogo e destruição de suas armas.
Quando existe a possibilidade de usar algum tipo de força, está acontece pelo
campo diplomático e em casos extremos, algumas armas de baixo impacto são
ativadas e disparadas, mas sempre pensando em poupar as vidas dos adversários.
O Planeta Vermelho continua a mesma tradição do Planeta Marte: Formar
soldados e oficiais, que na prática, trabalham juntos com algumas funções
distintas. Em confrontos diretos, o comando de naves armadas e de caças são
atribuições exclusivas dos militares, sendo que escoltas de cargueiros podem
ser executadas por pilotos civis.
A vida dos vermelhos difere dos antigos marcianos em pequenas, mas
profundas mudanças. O clima e a atmosfera são opostos, pois Marte possuía
temperaturas elevadas, enquanto o atual planeta é rigorosamente frio com
amenidades em alguns períodos, permitindo realizar passeios ao ar livre, o que
em Marte só poderiam ser feitos com o uso de roupas especiais.
O Planeta Vermelho possui uma população bastante rotativa. É basicamente
um campo de instrução militar, sendo poucos os que lá nasceram. A grande
maioria pertence a outros mundos humarantes da Galáxia de Áxis.
A Stacio
Limo Nordo (Estação
Fronteira Norte) se orgulha de ser a primeira no gênero, criada para o
monitoramento de comunicações. Localiza-se no ponto histórico de “entrada” do
primeiro contato com a galáxia, onde os primeiros viajantes humarantes
chegaram, partindo da Via Láctea. Foram guiados por um co-criador em sua forma
original chamado de Deus Áxis, originando assim, o nome dessa galáxia em sua
homenagem.
Esse co-criador nunca mais foi visto, tornando-se quase uma lenda entre
o povo humarante, que acredita que ele retornará para mais uma vez guiá-los a
outras distantes regiões do universo.
Para quem comanda uma estação de comunicação como se fosse um front de
defesa, Aveline Mars não é muito de conversa, comportamento típico dos antigos
marcianos. Aos 25 anos de idade, recebe essa responsabilidade com louvor. Assim
como do Dr. Lunn Aodh, ela também passou a infância entre os sofisticados
equipamentos e conhece cada estrela que circunda os céus de Ruĝo.
Aveline foi além do seu tradicional
silêncio e timidez que lhe emprestam um charme enigmático, somado a sua beleza
desprovida de vaidades exageradas. Como não poderia deixar de ser para os que
nascem no Planeta Vermelho, ela é um Mars, título que a identifica como uma
militar. Foi treinada para o uso de armas e artes marciais. Devido a sua
experiência empírica comprovada, não precisou ser ensinada em comunicações e
apenas aperfeiçoada nas ciências físicas e matemáticas em que é mestra.
Aveline trabalha com uma amiga chamada
Aurora Mi, 28 anos, uma humarante sapiens que já está há quatro anos com os
vermelhos. Seu planeta natal é Coroni, que se localiza na fronteira leste da
galáxia. A sua população é formada de uma ordeira sociedade de agricultores. O
planeta possui um clima estável com terras férteis. Os coronianos são
trabalhadores alegres e orgulhosos dos seus filhos que decidem ficar no planeta
seguindo a tradição dos seus pais e, saudosos daqueles que atenderam o chamado
de outras vocações e vivem em outros mundos.
Aurora sente muita falta da família.
Estava decidida em voltar para o planeta natal quando recebeu o convite de
Aveline para trabalhar com ela. Conhece a solidão e disciplina rotineira que é
reservado aos que trabalham nas estações de fronteiras. Aurora ficou feliz pelo
convite de Aveline, só não sabia como se relacionar com uma brilhante
profissional e colega de trabalho, que ao contrário dela, fala pouco.
- Trouxe chá – disse
Aurora entregando um copo para Aveline que acaba de acordar para assumir seu
turno.
- Dankon (Obrigada).
- Está do jeito que
você gosta, bem forte.
- Está muito bom.
- Sua face está bem
relaxada, o descanso lhe fez bem.
Aveline pergunta as horas e uma voz
computadorizada responde. Ela não acredita:
- Não entendo...acho
que estamos com alguma falha no despertador.
- Não temos falha
amiga, eu desativei.
- Mas por que?
- Você estava muita
exausta, deixei você dormir mais um pouco.
- Obrigada, mas não
deveria fazer isso. Nossos horários são programados e precisamos manter nosso
ritmo biológico.
- Aveline, não se
preocupe, está tudo bem. Apenas compensei o tempo de 2 horas a mais que você
ficou de vigília.
- Não posso lhe
culpar.
- Você passou do seu
horário e não é primeira vez.
- Mas você passou do
seu tempo de repouso e agora? Como ficamos? Você também vai dormir mais?
- Só um pouco, quero
lhe acompanhar mais tarde na transmissão de chegada do Sankta Spirito.
- Sankta Spirito?
- Sim Aveline. O
cruzador chega em 4 horas. Descansarei um pouco e te encontro na célula.
- Tudo bem – Aveline
olha nos olhos de Aurora e começa a sorrir.
- O que foi?
- O Sankta Spirito tem
realizado paradas regulares por aqui.
- Você notou?
- Sim,
principalmente o Comandante de Akash, que sempre faz questão de vir pessoalmente.
Um pouco tímida, Aurora disfarça a
conversa:
- Ele trás algumas
encomendas de minha família.
- Muito gentil da
parte dele – Aveline tenta ficar séria.
As duas amigas não resistem e passam a
sorrir juntas.
- Ele gosta de
você.
- Também gosto
dele, mas como amigo.
- Vocês poderiam
trabalhar juntos no Sankta Spirito. Já pensou?
- Aquele cruzador é
um sonho. Poderia ver minha família muitas vezes.
- Então?
- Mas o meu coração
não acendeu para ele.
- Não vejo nada de
errado com ele.
- Ele é perfeito! Acho
que esse é o problema. Já lidamos demais com precisões e perfeições aqui, não
precisaria agora de um marido perfeito.
- Temos perfeitos
imperfeitos aqui em Ruĝo se preferir.
- Mas são muito
apegados ao planeta e o seu trabalho é a sua diversão.
Aveline faz uma careta que desaprova o
comentário.
- Desculpa. Não
queria ofender.
- Não ofendeu amiga
– Aveline segura a mão de Aurora e se levanta da cama.
- Sabe Aveline, eu sou
feliz aqui e não consigo imaginar fazendo outra coisa, mas não queria criar falsas
esperanças para alguém e, além do mais, é preciso sentimento.
Ainda vestindo um uniforme de trabalho,
Aveline escuta com paciência o desabafo da amiga como se estivesse
recompensando pelas horas a mais de descanso que sua colega proporcionou desligando
o despertador.
Mas na verdade, Aveline entende e concorda
com Aurora. Nada em Áxis é mais importante que o seu trabalho, é até mais
importante que a própria família. Monitorar as fronteiras, os sinais e as
possibilidades de improváveis ataques inimigos é algo que nunca se pode
descuidar. Os recursos tecnológicos para esse trabalho estão sendo sempre
aperfeiçoados e testados. Fazer parte disso é uma experiência fantástica, pois
não há solidão para aqueles cujo trabalho é escutar o universo. Aveline tem
orgulho do que faz e mais do que escutar universo, apesar de ninguém comentar
sobre o assunto, existe a grande expectativa de localizar um sinal do Deus Áxis,
um co-criador e guia dos humarantes.
- Você já se
interessou por alguém?
- Meu coração ainda
não brilhou – sorrir Aveline, que se despede da amiga para assumir seu turno.
A célula de observação de uma estação é
algo de extraordinário, sua estrutura é muito parecida com os antigos
planetários da Terra. Localizar e escutar o universo com tantos recursos
tecnológicos facilita explorar e identificar qualquer movimento a centenas de
anos luz. Todos os sinais das quatro estações na Galáxia de Áxis estão
sincronizados, permitindo assim uma riqueza de detalhes das imagens de cada
astro ou objeto não identificado no espaço.
Aveline senta numa confortável poltrona
que parece flutuar no ar e tudo acende ao seu redor quando ela toca sua mão
numa estrutura de cristal que está no fim do braço da cadeira. A uma voz
eletrônica avisa da atualização dos últimos protocolos e confirma a chegada do Cruzador
Sankta Spirito, no horário indicado por Aurora.
As Estação Fronteiras, são bases de monitoramentos, observação e
escutas do universo. São instaladas em asteróides com poucos quilômetros de
extensão e que possuam órbitas regulares e estáveis. As estações estão
adaptadas para oferecer o máximo de conforto e qualidade de vida para os seus
tripulantes. Em cada quadrante da Galáxia de Áxis, estão espalhados milhares de
satélites que auxiliam as estações com potentes lentes e antenas. Cada satélite
possui um sofisticado banco de dados e coletas que analisa com precisão em seu
campo de orbitagem. Esses dados filtrados nos satélites podem ser aperfeiçoados
nas estações de fronteiras gerando novas perspectivas de informações.
Após sincronizar as informações solicitadas pela Estação Fonteira
Sul, Aveline encontra uma equação matemática codificada e infiltrada no sinal.
Ela conclui a charada e identifica a assinatura de uma mensagem secreta do Dr.
Lunn em antigo dialeto marciano, dizendo: “Não acionei protocolo de registro
para esse outro sinal. Preciso da sua opnião”.
Aveline acessa os dados usando uma rede
privada e segura.
- São
dois sinais? – fala ela em voz baixa e curiosa.
Durante horas, Aveline gera milhares de calculos no computador da
estação para entender o mistério do segundo sinal, não mais importante e
preocupante que o primeiro, já identificado e pronto para ser compartilhado com
as demais estações, chegando ao conhecimento da sede da federação. O primeiro
sinal, é referente ao som emitido por um buraco negro que ainda não tinha sido
registrado. O computador informa resultados não conclusivos com o pacote de dados
que foi enviado pelo Dr. Lunn que se refere ao segundo sinal, no entanto,
indica a presença de rastros de partículas fotônicas e uma grande quantidade de
neutrinos na órbita do Planeta Gir. Essas duas combinações são comuns quando
ocorre um evento de uma batalha e movimentação de naves com capacidade de
hipervelocidades. Acontece que nada foi detectado pela estações, principalmente
a Estação Sul, a mais próxima do planeta.
Aveline recebe outra mensagem codificada:
“Tenho captado outros sinais estranhos, talvéz juntos possamos decifrar.
Consiga permissão para vir aqui”. Aveline responde também com sinal codificado:
“ Mas como vou fazer isso agora? Não posso deixar minha parceira!” Dr. Lunn
responde: “Em alguns minutos você poderá responder ao Comandante Akash, a próxima
parada do Sankta Spirito será aqui na Estação
Sul”
Um
sinal eletrônico na estação é ativado, informando a saída de uma nave da
hipervelocidade, próximo ao asteróide da estação. Aveline não se deu conta do
tempo em que ficou distraída na tentativa de entender o segundo sinal
misterioso. Quando vai tentar responder para o Dr. Lunn, toma um susto com o
toque de Aurora em seu ombro:
- Desculpa amiga,
não queria te assustar.
- Tudo bem. Só
estava concentrada.
- Do que se trata?
-Uma mensagem da
Estação Sul – responde Aveline, cancelando discretamente o contato com o Dr.
Lunn.
Aurora olha no terminal o relatório de
sincronismo.
- Mais um buraco
negro para o nosso catálogo? Por isso você ficou tão concentrada. Tem
fascinação por singularidades e já tem um relatório bem adiantado.
- Na verdade,
considero minha especialidade.
- Conheço esse
olhar Aveline, não está pensando em...
- Aurora. Preciso
que você complete o relatório para a federação com os dados da Estação Sul.
- Você começou tão
bem, é sua especialidade, por que não termina?
- Não tenho dados
suficientes, usarei outro terminal no laboratório e farei um relatório
complementar.
A voz do Comandante Akash interrompe a
conversa:
- Saudações
estação!
- O Sankta Spirito chegou
– disse Aurora.
- E não veio
sozinho. Um certo comandante veio junto.
- Lá vem você de
novo Aveline! – sussurra Aurora - Comandante Akash seja
bem-vindo a Stacio Limo
Nordo. Aguardando instruções.
- Obrigado Aurora. Temos
algumas novidades por aqui. Recebemos uma solicitação da Estação Sul de
convidar e conduzir a Tenente Aveline para compartilhamento direto. Caso ela
aceite, tem uma hora para embarcar.
Aurora balança negativamente com a
cabeça para Aveline não aceitar.
- Aceito o convite
senhor e sempre estou de malas prontas.
- Já imaginei isso
tenente.
- Aurora. Preciso ir
até a Estação Sul e descobrir mais sobre isso com Lunn.
- Vou ficar aqui
sozinha?
Aveline retoma o contato com o comandante:
- Imagino que o
senhor deve ter providenciado companhia para Aurora.
- Sem dúvida que
sim, as duas devem vir para o Sankta Spirito.
- Não entendemos
senhor.
- Explico. O
Embaixador Novik do Planeta Coroni, ficou sabendo da situação e autorizou
férias para Aurora. Ela ficará um tempo com a família.
- O que? – Aurora
não acredita no que ouve.
- O cruzador a
deixará em casa. Dois técnicos de Rugo já estão a caminho, chegaram em poucos
minutos.
Um sinal eletrônico solicita a abertura de
hangar para aterrissagem da nave de apoio, enquanto outro sinal informa a
chegada de uma pequena nave do Planeta Rugo saindo da hipervelocidade.
- Bem movimentado
por aqui hoje?
- Capitão Adani.
Seja bem-vindo – responde Aveline.
- Trouxemos reforços
para a estação.
- Pode descer no
hangar 2 capitão.
O Capitão Adani Mars olha
para seu companheiro de viagem.
- Enquanto estamos
chegando, elas estão saindo. Parece que não temos sorte.
- Já estou
convencido disso – comenta o Tenente Lido Mars – Agora vai demorar em
vê-las de novo.
- Mas não perdi as
esperanças tenente.
Aurora olha para Aveline e comenta com
humor:
- Um certo capitão
também está chegando na estação.
- Quem?
- Você nunca
desconfiou do jeito que o capitão olha para você?
- Sinceramente, não.
Mas observei que o Tenente Lido tem o hábito de seguir seus passos.
- Lido? Você anda
vendo demais Aveline!
- Sei.
- Foi tudo tão rápido?
– disse Aurora.
- O que foi rápido?
- Essas decisões? A
sua ida para a Estação Sul, minhas férias com a família, a nossa substituição?
- Não achei. Somos
treinados para sermos eficientes.
- Você acha que Akash articulou
tudo?
- Acho que não, ele
não teria motivos – responde Aveline tentando ficar séria. Aurora não resiste
ao ver o esforço da amiga e ambas compartilham um sorriso.
A cumplicidade permite a sinceridade da
amizade:
- Vamos Aurora, dê
uma chance para ele. Não há nada de errado em pelo menos ouvir o que ele tem a dizer.
Sua resistência não faz sentido. Não tenha medo de se apaixonar.
- E o capitão? – pergunta
Aurora.
- Gosto dele sim,
como amigo. Tivemos poucas oportunidades em Rugo de conversar sobre
sentimentos. Mas se eu tivesse metade do que você sente e não quer admitir por Akash, eu não o
evitaria tanto.
- Nossa! Sempre
quis conhecer o Sankta Spirito. É uma nave linda não é?
- Sim. E misteriosa
– comenta Aveline – Existem compartimentos não revelados no passeio virtual de
conhecimento.
- Você acha?
- Desconfio que sim.
Os próprios Planetas Colônia e Oceano são envolvidos em mistérios, foram poucos
os humarantes que lá estiveram de verdade.
- O Planeta Colônia
é um local sagrado e a casa dos Mestres da Luz, é natural que tenha suas regras
e seus mistérios, mas sinceramente, não tenho curiosidade deles – revela
Aurora.
- Pois ao contrário
de você, eu tenho uma vocação e atração por mistérios.
- Quem sabe você não
encontra alguns mistérios na Estação Sul.
- Desconfio que
vamos encontrar sim. Lunn não faria um pedido de compartilhamento direto se não
considerasse importante. Ele é muito intuitivo e um dos melhores no que faz.
Aveline e Aurora estão descontraídas e
felizes com os recentes acontecimentos. Vivendo e trabalhando numa estação de
fronteira durante meses, faz de qualquer evento uma grandiosa quebra de rotina.
Aveline se mantém equilibrada para não demonstrar a sua ansiedade em saber o
que o Dr. Lunn descobriu.
A prática de enviar mensagens sem uso de
protocolos entre as estações não é considerado contra as regras, simplesmente
não é muito usual, no entanto seria violar o direito de cada um de ter acesso
as suas comunicações pessoais. Os relatórios enviados pelas estações são
extremamente específicas, conclusivas, prontas e inquestionáveis. O fato de
Aveline não compartilhar a informação enviada pelo Dr. Lunn, se deve em
circunstâncias que ela mesma nunca pensou em fazer. Conhecendo seu amigo, ela
sabe que o Dr. Lunn não enviaria uma complexa mensagem que poderia passar despercebido
como uma falha na filtragem de dados, provocada pelo atraso de ajustes
orbitais. Aveline, assim como o Dr. Lunn, pretendem informar a federação o que
observaram e suspeitaram, mas antes, precisam ter certeza, pois não querem que
suas reputações sejam questionadas. Alguns médicos da federação já
identificaram alguns males relacionados à excessiva permanência e solidão nas estações
de fronteiras, um deles estaria relacionado a vestígios de sinais inimigos que
invadiram os domínios da galáxia. A mobilização militar nessas áreas tornou-se
tão rotineiras e desgastantes que foram necessários aplicar novos parâmetros de
análises, fazendo com que os técnicos das estações fossem mais comedidos nas
informações de seus relatórios. No caso da Tenente Aveline e Dr. Lunn, pode-se
considerar uma exceção, pois ambos foram criados nesse ambiente e certamente
sabem a diferença entre ilusão de ótica e realidade.
A possibilidade de rever a sua família e
amigos no seu planeta natal, desperta em Aurora um sentimento de grande
alegria. Além do mais, chegará em grande estilo, a bordo da mais bela nave da
federação. A resistência de Aurora em ceder aos bons sentimentos do Comandante Akash, se deve ao
fato de que sua prima Nida Cenina, assessora do Embaixador Novik, havia lhe
confessado seu interesse pelo comandante. Sabendo que as suas funções na
estação e em Rugo seriam incompatíveis com os interesses do comandante e, para
não ferir as expectativas da sua amada prima, Aurora sempre evitou a
possibilidade se sentir-se culpada em atrapalhar seus planos amorosos. O
Comandante Akash sempre demonstrou interesse por Aurora, apesar de desconfiar dos
olhares meigos e apaixonados de Nida. A menor possibilidade de que o Sankta Spirito passe
pelo quadrante onde se encontra a Estação Norte, o comandante sempre encontra
um justo motivo de lá chegar, mesmo que rapidamente, apenas para ver Aurora e
deixar seus agrados, na maioria das vezes, produtos cultivados por sua família
em Coroni.
O Comandante Akash aguarda a
apresentação e troca de funções na estação. Aveline se retira da célula de
avistamentos e, se encontra com o Capitão Adani e o Tenente Lido que ficarão
provisoriamente na estação até o retorno de Aveline, que geralmente é de poucas
semanas.
- Então capitão!
Seja mais uma vez bem-vindo a estação – disse Aveline, com uma saudação
militar.
- Dankon
O capitão responde a continência e
desabafa.
- Estou começando
a me acostumar nessa estação, mas fica muito solitária sem a presença de vocês.
Aveline olha para Aurora para saber se ela
captou o interesse dos dois oficiais. Como se fosse duas telepáticas, Aurora
tenta disfarçar as faces vermelhas e se controla para não sorrir. Para
disfarçar, ela se vira numa pequena dispensa e apanha alguns copos, enchendo-os
com sucos e sugerindo um brinde:
- Se me permite
senhor! Um brinde de agradecimento a tão gentis palavras – Aurora não olha para
Aveline por que iria estragar tudo e criar um constrangimento.
O capitão e o tenente aceitam os gestos
das belas colegas e Aveline percebendo a situação de Aurora, sugere para que
ela confira suas malas.
- Bem lembrado,
farei isso – Aurora se retira e o Tenente Lido se oferece para ajudar.
O capitão olha para Aveline e ergue o copo
num brinde:
- Pretende ficar
muito tempo fora?
- Acredito que desta
vez passe pelo menos quatro semanas. Espero que não esteja fora das suas
possibilidades, sinto-me segura quando a estação está em suas mãos.
O capitão respira fundo pronto para
desabafar o coração, mas Aveline foi mais rápida.
- Sabe que lhe tenho
muita estima e admiração e ficaria muito feliz que numa próxima folga
pudéssemos conversar mais sobre outros assuntos.
O capitão discretamente adianta um passo,
olha para trás se certificando de que estão a sós:
- Eu adoraria
tenente. Seu trabalho nessa estação é de fundamental importância e amplamente
reconhecido pela federação. O povo de Rugo sempre cita seu nome com muito
orgulho.
- Apenas faço o meu
trabalho, todos são muito bons em Rugo no que sabem fazer de melhor.
Um pequeno silêncio envolve os dois:
- Aveline, acredito
que você já percebeu que...
Aveline põem suavemente a mão nos lábios
de Adani.
Seu olhar é doce e sincero, mas sua expressão é bem convincente.
- Não precisa
dizer, conheço seus sentimentos e lhe garanto que muito me agrada
O Capitão Adani segura a mão dela:
- Você já pensou
na possibilidade?
- Sim, claro que
pensei. Você acha que aqui nesse asteróide não há tempo de pensar em nossas
próprias vidas? No amor?
O capitão esboça um sorriso.
- Parece que a
vida aqui lhe deixa mais bonita.
Aveline fica alguns segundos olhando Adani
e pensando que seria feliz com ele, mas seus sentimentos só tem espaço para uma
grande amizade. Ela se afasta um pouco e olha para um monitor na parede e
observa Aurora com duas pequenas mochilas e o Tenente Lido checando a nave de
apoio da estação. O capitão se aproxima e olha para uma janela:
- Estava com
saudades daqui. Tem a sua presença, mesmo quando está ausente.
Aveline se aproxima do capitão e, face a
face com ele, dá um beijo suave em seu rosto.
- Sei que antes de
qualquer coisa, somos grandes amigos Adani.
- Eu sei. Desde
que te vi pela primeira vez na escola de instrução pensei: Essa garota vai ser
minha grande amiga!
Aveline sorrir.
- Sou muito grata
a você por tudo. Ter seu apoio e paciência foi...
Adani retribui o gesto e põem as pontas
dos dedos nos lábios de Aveline:
- Tudo o que tem
na sua vida foi conquistado com seus méritos sabe disso. Sou muito feliz em ser
seu amigo, mas faço uma exigência! Quero ser o melhor amigo.
Aveline brincando faz um movimento de que
está pensando no assunto:
- Pode ser! Já
tenho uma melhor amiga, falta um melhor amigo!
- Faltava, agora
você já tem – responde Adani, que observa o monitor e ver Lido e Aurora na nave
principal retirando alguns equipamentos.
- Trouxe novos
brinquedos?
- Na verdade é uma
arma. Da última vez notamos que não existem por aqui.
- Não achei
necessário, aqui é uma simples estação de comunicação e pesquisa.
- Tudo bem, mas
enquanto eu estiver tomando conta desta preciosidade quero boas companhias. Um
antigo hábito marciano.
- Entendo. Existe
um compartimento de tiro lá em baixo caso precise testá-la.
- Já testamos. São
para uso externo. Falando nisso, os trajes estão em ordens?
- Estão novos.
Nunca usamos, as antenas estão sempre funcionando e quando necessário,
recolhemos a estação inteira para o solo.
- Vou precisar ir
lá fora fixar esses equipamentos. Trouxemos cargas extras e potentes para os
propulsores externos.
Aveline não acha estranho o excesso de
preocupação do Capitão Adani com os procedimentos de defesa, pois é bem típico
do povo de Rugo. Mas seria a primeira vez que se faz isso numa estação de
fronteira.
- Está esperando
uma guerra? – pergunta Aveline, curiosa.
O capitão
procura em outro monitor o mapeamento do asteróide, localizando os melhores
pontos e fica satisfeito com o que encontra.
- Perfeito, já
tenho os pontos certos. E respondendo a sua pergunta tenente, não gosto da
forma que alguns médicos da federação concluem os diagnósticos dos
observadores.
- Nunca tivemos
problema nessa estação.
- Sei disso. Vocês
são muito comedidos nas informações. Mas os demais que trabalham nas outras
estações captaram alguma coisa e isso deveria ser levado em consideração.
- Não seja injusto
capitão. Claro que eles levaram em consideração, acontece que existem alguns
fenômenos na massa escura que podem passar como miragens, alguns raros reflexos
de luz em gases e até em vapores de água, a nossa galáxia é rica desses
componentes. Nós mesmos já observamos algumas vezes.
- Acredito em tudo
isso, mas não vou hesitar em atirar nelas se nossas vidas dependerem disso.
Além do mais, que mal faz atirar em miragens?
Aveline balança a cabeça negativamente e
sorrindo:
- Como quiser capitão.
Uma mensagem do Cruzador Sankta Spirito é
escutada no sistema de áudio interno solicitando o embarque.
- Precisamos ir.
O capitão fica de frente com Aveline com
as duas mãos pousadas em seus ombros.
- Faça uma boa
viagem amiga.
- Obrigado amigo.
Cuide de minha estação!
Ambos se despedem com um abraço.
- O Tenente Lido
levará vocês até o cruzador e...
Antes mesmo de concluir a frase, o capitão
observa o corpo de Aveline se tornando transparente e evaporando no ar. Ela
ainda tem tempo de dar um rápido aceno com a mão.
- Sankta Spirito! –
Diz o capitão olhando para cima – Ainda não me acostumei com isso.
O capitão olha para o monitor e ver o
tenente olhando para o vídeo gesticulando com os braços abertos. Ele ainda
queria ter breves momentos com Aurora que também foi tele transportada.
Sem perder tempo, o Capitão Adani avisa
para o tenente que vai usar os trajes e instalar os equipamentos em pontos
estratégicos do asteróide.
Capítulo 6
Horas depois, os dois oficiais completam
os sincronismos dos aparelhos que são mastros de 10 metros com esferas nas
pontas, alimentadas por cilindros nucleares fixados na base.
O Tenente Lido entra na célula de
observação, senta na cadeira e inicia as transmissões de protocolo, comunicando
a federação e outras estações de fronteiras que a estação norte realizou a
troca provisória de equipe.
O Capitão Adani continua na ponte revendo
os dados de monitoramento deixado por Aveline e busca nos arquivos por
informações referentes às miragens. Tem acesso ao arquivo privado, mas encontra
uma senha:
- Não acredito!
Senha? Por que ela colocaria uma senha exatamente nos arquivos de análises das
miragens?
O capitão fica alguns minutos olhando para
a janela de senha do monitor imaginando qual seria. E mesmo a contragosto,
digita de primeira tentativa o nome AMIGO e imediatamente surgi um vídeo de
Aveline:
- Olá amigo.
Desculpe a senha. Sabemos que os bons amigos não têm segredos, por isso se
conhecem bem e, suas ações são previsíveis. Não pude deixar de perceber que da
última vez você tentou achar essas anotações, mas eu ainda não havia
registrado. São anotações pessoais das miragens e não foram protocoladas. Não
queríamos passar pelas avaliações dos médicos da federação. Espero que o amigo
não corra esse risco.
O vídeo encerra. O capitão passa a mão
sobe os cabelos e sorrir:
- Aveline...Aveline!
O capitão localiza os arquivos deixados
pela tenente onde estão as coordenadas dos pontos onde foram vistos as
miragens. Ele gera um arquivo e transfere para a célula de observação, onde o
amigo sem perguntas orienta as antenas para elas.
- É miragem que eles
querem? É miragem que eles terão! – disse o capitão, que com um simples toque
num teclado de luz, faz os mastros espalhados na área externa liberar gases e
faíscas elétricas, fazendo em poucos segundos todo o asteróide desaparecer.
O Tenente Lido confirma:
- Estamos invisíveis!
- Pode desligar!
Ponha o alarme de luz no perímetro avançado e fique no primeiro turno. Qualquer
alteração me chame. Se eu estiver certo e com um pouco de sorte vou desvendar
esse mistério! – disse o capitão, desconfiado de que as miragens sejam outras
coisas.
Capítulo
5
SANKTA SPIRITO
(Espírito Santo)
O teletransporte de Aveline e
Aurora para o Cruzador Sankta Spirito é concluído. As duas amigas estão
visivelmente surpresas de como uma ação real pode se parecer com uma virtual. A
tecnologia que consegue desfragmentar cada molécula da matéria e conduzi-la
para outro ponto determinado é uma experiência incomum para a grande maioria
dos humarantes. No início, sente-se um pequeno formigamento no corpo provocado
por uma leve estática, seguido de um rápido frio intenso que se dissipa em milésimos
de segundos, onde os olhos do transportado apenas percebem uma sobreposição de
imagens do lugar que está saindo para onde está chegando. Na primeira vez é
sempre estranho e confuso, mas depois é sempre reconfortante e divertido.
- Isso é
simplesmente incrível! – alegra-se Aurora - Você está bem?
- Estou
ótima! Realmente é uma viagem estranha.
Aveline olha para o seu redor deslumbrada
com as paredes e o teto imaculadamente brancos e brilhantes do interior da nave.
- Olhe Aurora,
o asteróide e a estação. Estão manobrando a nave – aponta Aveline para um deque
transparente.
Uma nota longa de um som grave, semelhante
a uma buzina de navio, é escutada em toda nave. É emitido sempre para chamar a
atenção da tripulação e passageiros de que o cruzador está entrando ou saindo da
hipervelocidade. Algumas vezes é utilizado para anunciar sua presença quando
chega aos céus de algum planeta da federação.
O deque se ilumina, Aurora e Aveline só
conseguem enxergar luzes difusas no exterior da nave.
- Sejam
bem-vindas – disse o Comandante Akash.
- Dankon – responde
as duas, quase ao mesmo tempo.
O comandante sobe na plataforma circular e
gentilmente ajuda com as mochilas das convidadas e as entrega aos cuidados de
um soldado. Ele segura na mão de Aurora e acompanha na descida de um baixo e
único degrau.
- Muita gentileza
comandante.
- Nedankinde –
responde o comandante – O Soldado Lear mostrará seus aposentos, aconselho que
vocês descansem um pouco. Daqui a 6 horas nos encontraremos.
- Algo em
especial comandante? – pergunta Aveline.
- A presença de novos
passageiros nesta nave
é
sempre um momento especial tenente. Vamos nos reunir num jantar no deque superior.
Temos outros passageiros que gostaria de apresentá-las.
Aurora fica um pouco desconfortável com o
anúncio do jantar:
- Será uma honra,
apesar de geralmente não trazermos roupas adequadas para essas ocasiões.
- Não se preocupem
com vestimentas, temos uma rouparia de ocasião. Vocês podem acessar no terminal
de seus aposentos e escolher o que lhe agradar.
O comandante olha para o soldado, e este
mostra o caminho a ser seguido. Eles entram num elevador panorâmico que após
subir alguns metros, entra na parede e vai deslizando e parando na porta de
cada aposento. Aveline é a primeira a ficar:
- Tenha uma boa
estada tenente – deseja o soldado.
- Dankon.
Antes do elevador subir, ela recebe um
aceno lento de Aurora.
- Ĝis! – Aveline retribui o aceno, sem muita empolgação.
Aurora está entusiasmada com as
acomadações. Assim que entra, ele escuta uma suave voz feminina dando as boas
vindas com o sotaque típico dos povos do seu planeta natal, indicando o local
de armário, de banho, a luminosidade, alimentos e outras coisas que ela já
sabia, quando conheceu a nave numa situação virtual.
- Incrível!
Pessoalmente é muito melhor. Esse perfume quase imperceptível relaxa e dá uma
sensação de paz.
Aurora deita na cama e adormece.
Enquanto isso, Aveline aproveita para
tomar um banho de vapor floral e escolher uma roupa militar mais adequada, algo
diferente dos macacões vermelhos tradicionais usados na estação. Ela aciona um
display que projeta uma imagem em três dimensões e sem muito interesse, começa
a pesquisar alguns modelos de roupa. Toda vez que ela acha uma peça
interessante, separa com a mão para outro campo holográfico e a uma imagem
igual a dela surge no quarto, girando lentamente, como uma modelo virtual.
- Acho que este
serve. Combina com a cor da nave – pensa Aveline. Escolhendo um macacão branco.
Aveline solicita a roupa e em poucos
segundos, os objetos se materializam num
nicho transparente na parede, acompanhado de um par de sapatos, meias leves e
alguns adornos opcionais
- Isso é que é
rapidez!
Ela veste a roupa, penteia os cabelos
curtos e usa alguns dos produtos e adornos sugeridos e, ao se afastar da
parede, seu reflexo de espelho desaparece.
Sente fome e abre um compartimento
retirando uma rugônia, fruta típica de Rugo, uma das raras cultivadas no
planeta por sistema hidropônico. A fruta tem textura e consistência semelhante
a uma maça e seu sabor é uma mistura que se aproxima da pêra com a refrescância
de uma hortelã.
Ela se dirige para uma mesa e senta-se
numa confortável cadeira. Ela aciona em display luninoso de informações. Sem
perder tempo, se conecta com a Estação Fronteira Sul. Um sinal eletrônico é
emitido com a saída de uma pequena esfera de luz que flutua, se desloca e se
expande ao tocar o chão. Uma perfeita imagem do Dr. Lunn aparece.
- Como vai
Aveline?
- Olá Lunn. Já
estou no Sankta
Spirito.
- Que bom, estou
acompanhando vocês daqui.
- A rapidez desta
nave é sempre algo interessante de acompanhar.
- Isso é verdade.
- Temos escala? – pergunta
Aveline.
- O comandante tem
instruções de seguir direto para cá. Tem uma passageira ilustre entre vocês.
Aveline dá uma mordida na fruta e dobra
uma perna na cadeira e fica bem relaxada:
- Não me diga que é
Aurora?
- Mais ilustre um
pouco.
- Não faço idéia,
algum embaixador?
- Mei.
Aveline dá outra vigorosa mordida na
fruta.
- Olha só! Uma
celebridade entre nós – Sorrir.
- Ela está
acompanhada de seu antigo instrutor e adivinhe do que mais? –
Desafia Dr. Lunn.
- Pela sua cara de
felicidade, só pode ser um médico.
- Acertou! Você é
muito esperta.
- Não foi difícil,
agora me fale uma boa notícia.
- Essa é a boa
notícia. A má notícia é que eles vão ficar aqui com a gente por um tempo.
Aveline tira o pé da cadeira e se aproxima
lentamente da imagem:
- Você está
brincando não é Lunn?
- Pura verdade! Mas
fique tranqüila. Será por poucas semanas.
- Poucas semanas? –
Aveline ergue a sobrancelha – Poucas semanas foram tudo o que consegui de tempo
para ficar na sua estação e vou retornar em outra nave militar que com certeza
não será o Sankta Spirito.
- Agradeço em
atender o meu pedido Aveline! Não lhe chamaria se não fosse urgente.
- Não estou acostumada
com muita gente na estação, principalmente envolvendo pesquisa de
compartilhamento direto, não é nada pessoal, apenas metódico, compromete a
nossa concentração – desabafa Aveline.
- Sei como se sente,
penso da mesma forma. Mas entenda, não tive como evitar, não poderia esperar
que eles fossem embora – responde o Dr. Lunn com habitual tranquilidade –
Recusei minha temporada de férias assim que tive contato com os primeiros
registros.
- Desde quando você
tira férias? – Aveline ironiza com humor.
- Tenho programas
virtuais de pescarias por aqui e assisto alguns jogos da federação.
- Muito divertido!
- Você sabe que me
considero seu melhor amigo e faria de tudo para deixar as condições favoráveis
para o nosso trabalho, mas foi um pedido do General Meadhas, não poderia
recusar.
Quando o Dr. Lunn falou que se considera
seu melhor amigo, o pensamento de Aveline se voltou para a Estação Norte.
Lembrou do último encontro que teve com o Capitão Adani.
- O que eles estão aprontando
na minha estação? – fala sozinha e com voz baixa.
- O que disse?
Aveline improvisa uma resposta:
- Mei e seus amigos
sempre serão bem vindos em todas as Estações de Fronteiras que quiserem
conhecer e você é sim, um dos meus melhores amigos.
- Acredito nisso, só
não me coloque na sua famosa lista, ficarei em desvantagem alfabética – sorrir
Aveline retribui:
- Não seja bobo.
Agora quero saber se aqueles registros que você mencionou estão sendo compilados?
- Já está tudo
pronto, esperando apenas você chegar. Antes que eu me esqueça, você está muito
bonita, vai para um encontro?
- Encontro? Lunn!
Até você!
O Dr. Lunn se deixa levar numa curta
gargalhada, ele sabe que os assuntos relacionados ao amor provocam timidez em
Aveline.
- Por que não? Não
vejo a hora de conhecer o sortudo que vai domar esse coração.
- Encarcerado nessa
estação? Acho muito difícil de você conhecer.
- Como queira amiga.
Aproveite a mordomia do Sankta Spirito, nos veremos em 72 horas.
Aveline se despede do Dr. Lunn e aproveita
as horas restantes para caminhar pelas dependências da nave. Está acostumada a
dormir pouco e está ansiosa em chegar à Estação Sul. Pensou em chamar Aurora
para acompanhá-la, mas imaginava que ela estaria ocupada escolhendo roupas para
o jantar.
Quando fez a sua viagem virtual pelo Sankta
Spirito, Aveline gostou muito de um lugar em especial. Trata-se de um jardim
bastante acolhedor, com fontes coloridas, sons da natureza e alguns hologramas
de pássaros e insetos. Seria um ambiente perfeito para relaxar a sua mente, até
o momento de retornar aos aposentos e aguardar o chamado do comandante.
Aveline encontra um ambiente ideal e
solitário numa área do jardim. Ela se senta e encosta-se num banco, esticando
as pernas, de frente para um pequeno lago. Ela fecha os olhos e começar a
meditar. Aos poucos vai se entregando naquela paz e relaxando continuamente.
Pouco tempo depois, sua aguçada audição percebe passos sutis se aproximando,
ela continua de olhos fechados enquanto uma jovem mulher se aproxima.
Percebendo que estaria incomodando a meditação e privacidade de alguém, a
mulher discretamente se retira, mas Aveline chama a sua atenção.
- Pode ficar Mei.
Não está incomodando.
Mei para e se vira, observando
detalhadamente aquela mulher que ela seguramente, sabe que não lhe foi
apresentada.
- Desculpe, parecia
tão concentrada, não quis incomodar. Como sabia que era eu?
- Esta é uma nave militar
com uma tripulação com muitos afazeres – fala Aveline, ainda com os olhos
fechados – Além de mim e minha amiga que está nos seus aposentos, fiquei sabendo
que tem mais dois homens e uma mulher.
- Mas existem outras
mulheres aqui na nave, como poderia saber que seria eu?
- A tripulação de
mulheres não usa florais aldeídos, extraída de flores naturais. Um sensível e
delicado perfume que acredito ser um dos preferidos pelas mulheres que vivem em
Urbo Kristalo. Uma
cidade que possui os mais belos jardins da federação, onde as pessoas por
hábito gostam de ficar recolhidas e, também onde esta nave foi construída.
Mei fica tão impressionada e admirada pelos comentários de Aveline que
se deixa sorrir ingenuamente, como uma criança que se diverte. Aquele som de
sorriso tão atípico, captado pelos ouvidos de Aveline a faz abrir os olhos,
virar a cabeça e conferir pessoalmente a presença de Mei.
Aveline ainda se depara com um lindo sorriso de Mei, que vai sumindo
como um belo por do sol e com dois radiantes olhos azuis que parecem resumir
todos os mistérios do universo. Aveline pisca demoradamente os olhos como se
quisesse despertar de um sonho.
- Você deve ser Aveline, acertei? –
disse Mei, brincando com o jogo de interpretações.
Aveline fica curiosa e com simpatia pergunta.
- Como pode saber?
- Você está usando trajes de
visitantes, está apresentável para uma ocasião especial, mas se manteve fiel ao
macacão, acredito que seja uma das roupas usadas por observadores da estação.
Estava de olhos fechados e percebeu a minha presença. Mesmo relaxando, a sua
audição e olfato estava em alertas, uma qualidade de uma militar que só poderia
ter sido treinada em Rugo. E o fato de você não está em seus aposentos...Bem,
você deve ter vindo para o jardim para acalmar a mente. Está envolvida com seus
pensamentos e responsabilidades com a estação que comanda. E você é bem
diferente do que o Comandante Akash descreveu
do que poderia ser Aurora.
- Muito bem! Estou impressionada!
Acertou em tudo – Aveline se levanta.
As duas se aproximam e se abraçam:
- Prazer em conhecê-la Mei. Não posso
dizer que nunca havia falado de você, pois não seria uma verdade.
- Prazer também em lhe conhecer
Aveline.
Ambas seguram as mãos da outra:
- Não sabia que era tão popular – sorrir
Mei.
- É diferente – comenta Aveline – São
poucas as crianças que nascem no Planeta Colônia e sou de um povo naturalmente
curioso.
- Curiosos?
- Sim. Quer dizer, temos um padrão de
civilização, um idioma e vários mundos na nossa galáxia. Mas sempre existem as
variáveis. Algum povo mantém antigas tradições, surgem sotaques e
interpretações culturais diferentes. Nascer, ser criada e educada na Cidade de
Cristal deve ser uma experiência maravilhosa.
- Entendo o quer dizer. Acha que eu
seria sincera em dizer que penso o mesmo do seu planeta? Da sua cultura e do
seu jeito de falar e vestir?
- É por isso que está aqui?
- Em parte sim. Tive oportunidade de
conviver com outras atividades, mas estar numa estação de fronteira sempre foi
meu objetivo, para o desespero do meu pai.
- Ficar longe da popularidade?
Mei sorrir:
- Acredite, não sabia que era tão
popular. E não se preocupe que não me considero a mais importante personalidade
deste universo. Mas sempre desconfiei pelo excesso de zelo dos meus pais e
amigos. Ser filha do general que comanda as forças de defesa da federação, por
si só não justifica tantos cuidados. Não vejo perigo iminente de ter um
cruzador me escoltando, um antigo e confiável instrutor e veja só! Um médico! –
Mei põem a mão na cintura.
- Principalmente um médico – concorda
Aveline com ironia.
- Não reclamo, por que sei que este
zelo é sincero e amoroso. Mas meus amigos, filhos de pessoas ilustres de
Cristal, não recebem os mesmos cuidados.
- Você está adulta e sente que lhe
tratam como uma criança – comenta Aveline.
- Poderia pensar assim, mas não é.
Meu pai tem muita paciência comigo e o dobro de preocupação. Acho que ele pensa
como poderia proteger uma federação se não consegue controlar os impulsos de
curiosidade da própria filha.
Aveline sorrir concordando:
- Você é muito bonita, já tem
namorado? – Aveline percebe que foi direta demais – Desculpe, não queria
parecer inconveniente. Acho que meus modos devem ser muito rudes para você. Não
temos vida social na estação para polir certas expressões.
- Se eu lhe responder, podemos tentar
ser amigas? Você me contaria tudo sobre a estação?
Aveline olha atentamente para Mei e percebe que não seria difícil ser
sua amiga. A pergunta que ela considerou indiscreta para se fazer a alguém que
conheceu há poucos minutos, já seria uma prova de que havia uma sintonia entre
elas. Apesar da sua beleza e delicadeza, Mei é mais forte e determinada do que
Aveline imaginava, inclusive com semelhanças de personalidade iguais a dela.
- Então você trocaria um pedido de
desculpas por uma amizade?
- Há algum problema das duas virem
juntas?
- Não – sorrir Aveline – Venha
sentar-se aqui e vamos descobrir.
Mei e Aveline iniciam uma longa e animada conversa.
Em algum momento, Aveline tem a impressão de ter visto alguém caminhando
do outro lado do jardim, um vulto transparente. Ela não dá muita atenção e
conclui que deve ser um dos muitos efeitos holográficos do lugar.
O tempo passa rápido, elas estão distraídas e envolvidas em seus
assuntos que nem percebem que está próximo da hora do jantar de recepção.
- Nossa! Estamos atrasadas – disse
Aveline.
- Nos encontramos no Jantar?
- Sim, claro! E você vai conhecer
quem é na verdade, a maior celebridade desta nave – Aveline pega a mão de Mei e
incentiva uma pequena corrida.
- Não vai ser difícil – Sorrir Mei –
Aurora!
- Isso mesmo!
Aveline e Mei se despedem. A tenente vai direto para os aposentos de
Aurora. Ao parar em frente à porta, uma mensagem de voz informa a Aurora que
Aveline solicita vê-la.
- Entre! – fala Aurora, ainda
terminando de por um par de brincos.
A porta desmaterializa em luz:
- Aveline! Peguei no sono e quase
perdi a hora e...
- Desculpa! Entrei no quarto errado –
Aveline se retira ensaiando uma brincadeira.
- Ei! Sou eu! Então? Estou bem?
Aveline volta, olha para Aurora da cabeça aos pés:
- Não te reconheci. Você está muito
bem com esse vestido. Onde você descobriu?
Aurora veste um salwar kameez branco com
listas lilás e discretos adornos.
- Você não imagina o que tem nesses
registros! É uma roupa indiana de Tero Unua, não é linda! Não sei como eles
fazem isso!
- Estou impressionada! Aliás, hoje
parece que as pessoas resolveram me impressionar – disse Aveline, conferindo
seu macacão branco num espelho.
- Não entendi.
- Ah! Não é nada. Depois te conto. E
eu? Como estou?
- Avançamos muito com esse macacão
branco. Você fica bonita de todo jeito Aveline.
- Amigas não metem viu?
- Não se preocupe, está apresentável,
acho que eu que exagerei.
Aveline se aproxima da amiga:
- Você está incrível! Aproveite a
ocasião.
- Você deveria experimentar.
- Quem sabe em outra ocasião.
Uma voz feminina avisa para Aveline e Aurora para se dirigirem para o
deque inferior, o mesmo em que chegaram à nave.
Elas acompanham os sinais luminosos no piso indicando o elevador. Ao
chegar ao deque, o Soldado Lear está esperando e pede para elas subirem na plataforma, já
imaginando o que iria acontecer.
- Existe outra forma de chegarmos ao
nosso destino? – pergunta Aurora ao soldado.
- Sim, por uma via expressa, mas
levaria mais tempo, a nave tem alguns quilômetros de extensão.
- Você não vai querer amassar sua
roupa vai? – pergunta Aveline sussurrando no ouvido de Aurora. Ela responde
negativamente meneando a cabeça.
- Então segura a minha mão e respira
fundo!
O soldador Lear se diverte com a situação esboçando um sorriso discreto.
Ele se afasta da plataforma e as duas amigas são tele transportada para o outro
lado da nave.
Elas reaparecem em outra plataforma. O Comandante Akash as recepciona mais uma vez.
- Sejam bem-vindas
– O comandante abre os braços com alegria, vestindo um traje militar de muito
bom gosto. Ele não faz cerimônia em mais uma vez segurar a mão de Aurora,
ajudando-a a descer da plataforma.
- Você está linda
– sussurra em seu ouvido.
- Dankon. O senhor
está muito elegante.
- Por favor, me
chame de você.
O esforço do comandante em ser discreto
com a presença de Aurora é quase inútil. Toda tripulação da nave e outros
lugares da federação sabem do amor que ele sente por Aurora. Não um amor
declarado e confesso, mas um amor de atitudes que é observado e incentivado por
todos. O Comandante Akash é muito querido na federação e nos mundos aliados.
Ele é natural de Urbo e seu irmão Horus Abhaya, 65 anos, é o embaixador que representa o planeta.
Dotado de uma rara habilidade diplomática, uma tradição em sua família, sempre
teve um carisma, bom senso e espírito humanitário. Comandar um cruzador militar
nunca fez parte das suas intenções. Tem na música seu passatempo predileto e
coleciona artes plásticas de vários mundos que visita. Costumava auxiliar o
irmão em minimizar conflitos em mundos não aliados e, numa destas situações,
presenciou num encontro diplomático para dois povos inimigos que vivem no mesmo
planeta. Houve o início de uma discussão e um confronto físico direto entre
eles. Antes mesmo que a guarda de segurança agissem para debelar a briga dos
alterados agressores, eles param de repente e se rendem a uma bela música que
sai de um violino tocado pelo Akash
Abhaya. Inebriados pelos acordes, eles se acalmam e dias depois conseguem se
entender e aceitar a ajuda da federação. Alguns meses depois, vivendo em paz e
sob uma só nação, os Iabiz fundaram a orquestra sinfônica de Opar e, se
apresentaram no teatro da embaixada em Urbo. Nesta noite inesquecível, Akash teve uma especial participação com seu
violino, sendo acompanhado por um coral infantil formado por vários povos da
federação, inclusive a pequena Mei, nessa época, fazia parte do grupo. Eles
cantavam a música Sankta Spirito Brilas (Espírito
Santo brilhando).
Os métodos de Akash não eram
convencionais, mas funcionava como a liga que faltava para estreitar laços
entre povos e mundos diversos. Organizou dezenas de exposições de obras de
artes representando a cultura humarante e de outros seres que se aliavam a
federação.
Os engenheiros do Planedo Kolonjo criaram
o maior, mais bonito e rápido cruzador intergaláctico da federação. Um símbolo
de união, cujo objetivo era estreitar as distancia entre os povos de mundos
aliados, oferecendo ajuda, transportando seus representantes e não rara às
vezes, se fazer presente na atmosfera de planetas em festas comemorativas.
Quando chegou o momento de substituir o comando do cruzador, o nome de Akash
Abhaya foi unanimidade para comandar esta nave
especial, cujo nome foi batizado de Sankta
Spirito em
homenagem a música célebre.
O comandante segue acompanhado de Aurora e
Aveline para a área próxima, reservada ao jantar. Lá os demais convidados já
estão presentes: o Comandante
Sarte Sigmar, Mei, Dareh, Yusuke.
- Senhores estas são as nossas outras
convidadas, Aveline Mars e Aurora Mi da Estação
de Fronteira Norte – apresenta o Comandante Akash.
De início, apenas Dareh e Yusuke se levantam e cumprimentam Aveline e
Aurora. Os demais já se conhecem e apenas acena com a cabeça. Mei vai em
direção de Aurora.
- Prazer em conhecê-la Aurora.
- É um prazer e honra conhecê-la
também Mei.
Aveline se aproxima de Mei.
- Como vai? Há quanto tempo? – brinca
Aveline. Aurora acha estranho a intimidade da amiga para com Mei.
- Tenente! Como é bom revê-la!
Mei esclarece que já haviam se conhecido ocasionalmente no jardim.
O Comandante Sarte Sigmar, Aurora e
Aveline também já se conhecem devido à relação de trabalho entre eles. Todos se
acomodam em suas cadeiras em volta de uma mesa, decorada com flores e frutas, o
branco como sempre é a cor do ambiente. O Comandante Akash senta-se ao lado
Aurora.
- Estou muito
feliz com a presença de todos e espero que as suas estadas sejam bastante
proveitosas, apesar de rápido. Normalmente, o nosso cardápio em bem simples,
porem nutritivo. Em algumas ocasiões, respeitamos os hábitos alimentares de
alguns povos e permitimos algumas exceções. O Dr. Yusuke além de conceituado
médico é também um gastrônomo e nós pediu para que ele mesmo sugerisse, ou
melhor, faria o nosso jantar, sem fugir é claro dos conceitos nutritivos.
Risos.
- Espero que gostem
– disse Yusuke.
- Eu conheço os
dotes culinários de Yusuke e lhes garanto que continuaram vivos após prová-las.
Outros risos.
- No mínimo morreram
com suas papilas gustativas felizes.
Yusuke devolve a brincadeira e o humor
definitivamente se instala no ambiente.
- Mi estas
ĉiomanĝanto (Eu como de tudo) – diz Comandante Sarte.
- O mais
interessante desse jantar – continua o Comandante Akash – É que os ingredientes
foram trazidos por ele. Apesar do formato da comida ser muito parecido com o
que servimos na nave, estávamos desprovidos de alguns temperos não usuais.
Mantendo o humor, Yusuke faz uma
observação:
- Um toque
especial, para um momento especial. Caso não gostem, fico feliz do comandante
ter disponibilizado essas suculentas frutas, assim não correrão o risco de
dormir com fome.
Risos.
O Comandante Akash toca na mesa e o jantar
se materializa. Os olhares são de surpresa.
- Senhoras e
senhores! Hoje teremos bolinhos de tsampa! Uma rara iguaria tibetana da cultura
Tero Unua – disse
Yusuke, de pé e se exibindo com estilo.
Os convidados gostam da
apresentação do prato e do aroma, sendo Dareh o mais satisfeito, pois é um dos
preferidos quando aceita os convites de Yusuke em Urbo.
- E para acompanhar! Um excelente
vinho! – Yusuke olha para o comandante, que se encontra distraído olhando para
Aurora – Comandante!
- Sim! O nosso acompanhamento! Claro!
Uma fina jarra de cristal, taças e talheres aparecem.
- Esse médico parece bem simpático,
talvez ganhe a minha confiança se não for um dos que concordam que os
observadores imaginam coisas no espaço e nos asteróides – sussurra Aveline no
ouvido de Aurora.
- Saberemos em breve – responde à
amiga.
O Comandante Akash se levanta e serve o
vinho nas taças.
- O Dr. Yusuke, só
para constar, foi aplaudido pela equipe de alimentação da nave e me foi
solicitado convidá-lo para fazer parte da tripulação, infelizmente tive que
recusar por medida de segurança de saúde e para que não nos tornássemos obesos.
Risos.
- O Dr. Yusuke
compreendeu a minha decisão e lhe sou muito grato – continua o comandante.
- Acredito que a
obesidade seria o seu menor problema com a tripulação comandante, também sou um
apreciador de vinhos – responde Yusuke.
- Acho que não
conseguíramos estabelecer nossas rotas com precisão – disse o Comandante Sarte e ninguém consegue
segurar os risos, principalmente Mei, que não se lembra da última vez que riu
tanto. Seus olhos lacrimejam.
- Um brinde a vida! Um brinde a luz!
Todos correspondem ao chamado do comandante anfitrião erguendo as taças -
Bonan apetiton! (Bom apetite!)
O jantar é muito apreciado e se torna
ainda mais divertido com as histórias de Yusuke. Ele conta com detalhes, os
momentos em que ficou algumas horas preso no Planeta Atar. Foi uma situação em
que suspeitavam que ele fosse um aturiano disfarçado. O povo de Atar foi o que
mais sofreu com as investidas de cópias de falsos seres aturianos, que assim
ficaram conhecidos, pois se desconhecia a sua origem planetária. A federação
conseguiu expulsar os falsos atarianos que para diferenciar dos nativos,
ficaram sendo chamados de aturianos.
O Dr. Yusuke participava da equipe que
“desinfetava” esse mundo. Ele havia se afastado de uma delegação diplomática, a
primeira e última que participou, para colher amostras de plantas medicinais em
uma pequena comunidade agrícola que não o conhecia. Ele esqueceu de informar as
autoridades locais que faria esse passeio em seu pequeno momento de folga.
Durante a prisão, os guardas atarianos lhe ofereceram um prato de comida. Ele
pegou o prato e cheirou e, como sempre anda com amostras de temperos, fez uso
deles no prato e compartilhou com os guardas. Foi um sucesso, alguns chefes de
clãs foram visitá-lo e confirmaram que se tratava de um representante da
federação.
O Dr. Yusuke foi solto imediatamente com
pedidos de desculpas, ensinou como plantar e usar as ervas aromáticas e, voltou
para a sede diplomática com a promessa de não comunicar oficialmente o
“incidente”.
Outros
assuntos foram conversados, como por exemplo, a presença de Mei e seu interesse
pelas estações de fronteiras, as férias de Aurora, os trabalhos realizados por
Dareh e Yusuke em Urbo. O comandante relatou algumas aventuras da nave enquanto
transportava autoridades diplomáticas de outros mundos. E desmistificando
alguns casos paranormais de que alguns passageiros juravam que escutavam vozes
e vultos nos corredores e deques da nave.
O jantar havia terminado. O Comandante Akash convida todos
para subirem na plataforma. Ele gostaria de compartilhar um momento final para
encerrar o encontro. Todos são tele transportados para o ponto mais superior e
extremo da nave. Encontram-se agora numa cúpula, onde a luz disforme da hiper velocidade
que se encontram, não permite nada identificar do lado de fora.
O comandante faz um anuncio:
- Meus amigos. Estamos muito próximo
da constelação de Niar. Sairemos da hipervelocidade no centro do seu principal
aglomerado de estrelas e iluminaremos temporariamente os nossos olhos. Para
compensar, vamos acelerar para 50% a nossa velocidade. Não queremos que se
atrasem.
Aveline e Aurora ficam entusiasmadas, conhecem bem essa constelação
vista de estação, mas nunca estiveram presentes. O ambiente fica escuro e o piso
e as paredes transparentes. Depois que o som de aviso de saída da
hipervelocidade é escutado, tudo se ilumina com a beleza das brilhantes
estrelas. Todos parecem flutuar no espaço, um momento de puro êxtase que o
comandante não dispensaria para encantar Aurora.
- É de uma beleza que não se cansa em
admirar – Disse ela.
- De fato, uma beleza divina –
responde o comandante, olhando para Aurora com paixão. Ela retribui com um
sorriso e segura a sua mão.
A nave segue com seus propulsores iluminados e todos contemplam as
estrelas e nebulosas, acompanhado pelo som de uma música clássica vibrante da
cultura Tero Unua, escolhida pelo Comandante
Akash.
Na Estação de Fronteira Sul, o Dr. Lunn
acompanha a nave na célula de observação e registra o desaceleramento.
- Reduziram a
velocidade? Devem está admirando Niar – pensa.
O grupo se espalha no recinto. Mei conversa com Dareh e fala do encontro
que teve com Aveline. Yusuke se aproxima de Aveline e arrisca uma conversa
elogiando a nave e o trabalho dela na estação.
Aveline não perde tempo e vai direto ao assunto:
- Lamento que nem todos os médicos da
federação confiem em nosso trabalho!
- Posso lhe garantir que nunca
concordei com esses procedimentos. Tive a oportunidade de ler os laudos e são
inconclusivos.
- Sério? Alguns colegas simplesmente
foram afastados de suas funções, apenas as estações norte e sul mantiveram suas
equipes.
- Em parte, a Estação Sul foi quase
toda substituída, apenas o Dr. Lunn insistiu em não aceitar as férias, continua
sozinho na estação.
- Sabemos disso, estou indo ajudá-lo.
Será que as férias de Aurora se devem a isso? Ela está com problemas de
miragem?
O Dr. Yusuke sorrir amigavelmente. Ele compreende a preocupação de
Aveline.
- Nenhum registro recente consta nada
sobre Aurora. Tive a curiosidade de perguntar ao comandante e ele disse que era
uma surpresa boa para ela.
Ambos olham discretamente e observa o comandante muito próximo de
Aurora.
- Espero que sim. Ela é muito
especial para nós – disse Aveline.
- E muito mais para ele.
Um pouco afastados, o Comandante Akash e Aurora conversam silenciosamente.
- Tenho uma
notícia para lhe dar – fala o comandante – Mas antes quero lhe tranqüilizar em
dizer que suas férias não estão relacionadas com estresse de trabalho.
- Você quer dizer,
os observadores de miragens – Aurora sorrir.
- Sim. Mas está
também relacionado a um evento muito importante que diz respeito a nós dois.
- Nós?
- Você está
voltando também, por que a sua prima Nida vai casar. Ela quer você como a sua
madrinha.
- Casar? Mas eu
achava que ela e você...
- Nunca a quis – interrompe
o comandante – Aurora, eu sei que já é do conhecimento de toda galáxia o amor
que sinto por você e que todos correspondem com isso. Mas preciso saber.
O comandante abre uma caixinha de cristal.
Em seu interior uma fina corrente de puro ouro e um pingente de diamante.
- O que quer
saber? – os olhos de Aurora brilham de alegria.
- Você aceita
casar comigo?
Aurora olha para os lados e emocionada diz
que aceita.
Os
dois se aproximam ficando face a face. Aurora olha para o ambiente ainda um
pouco iluminado pelas estrelas de Niar. O comandante entende as suas intenções
e em poucos segundos tudo fica escuro, tempo suficiente para eles se beijarem
discretamente, sem que os outros vejam.
Novamente o som de aviso é ouvido, a nave
volta a entrar na hipervelocidade. O Comandante Akash se despede e todos seguem
para os seus aposentos.
Antes de dormir, Aveline acessa uma
memória de vídeo de seus pais que faleceram bastante idosos. Ela relembra com
emoção os momentos de infância na estação e quando brincava em Rugo com seu
amigo Adani.
Também em seu quarto e escutando uma
ritmada música popular de Urbo, Yusuke negocia com o display em autorizar uma
pequena jarra de vinho com uma graduação alcoólica um pouco maior. Depois de
muita insistência tem o seu pedido atendido por Turim, um atariano que é chefe
de alimentação da nave e que se tornou seu novo amigo, recomendando moderação. Yusuke
agradeceu a gentileza e disse que não se preocupasse que ele tem um remédio
instantâneo para ressaca, o que muito agradou o chefe de alimentação que ficou
de visitá-lo em Urbo nas próximas folgas.
Dareh aproveita para conversar um pouco em
frente a um holograma, com o seu instrutor Argos Aury. Ele fala do encontro que teve com o Embaixador
Nuada e da possibilidade de um dia vir a participar de um campeonato no Planeta
Oceano.
A tripulação do Sankta Spirito está recolhida, com exceção da ponte de
comando que está sendo apresentada a Aurora pelo Comandante Akash. Ela fica impressionada com os painéis
luminosos e com a avançada tecnologia muito superior da encontrada na estação
de fronteira que ela vive e trabalha.
Durante um sono profundo, Mei tem um pesadelo envolvendo Gruner. Ele
está preste a cair em um precipício e ela tenta erguê-lo. Sem forças
suficientes, ela não consegue segurar sua mão por muito tempo e o ver cair. Ela
acorda assustada e senta na cama. Já havia tido outros sonhos com esse homem
misterioso, mas nunca em circunstâncias tão assustadoras.
Mei perde o sono e escuta vozes fora dos aposentos e resolve ir
conferir.
Usando uma camisola branca de seda, ela põe os chinelos macios e
silenciosamente vai seguindo pelo corredor. Ela ver dois vultos luminosos
seguindo em direção ao jardim, mas perde a coragem de segui-los quando se
lembra do caso relatado pelo comandante de visões e vultos. Ela sente um cheiro
adocicado e convidativo que fica próximo de uma porta. Curiosa, ela se aproxima
e um sinal eletrônico é acionado. A porta se abre e Yusuke aparece de pijamas,
segurando um prato de frutas com doces e calda de caramelos.
- Jovem Mei? Pensei que estava
dormindo.
- Tive um pesadelo, perdi o sono.
- Bom eu não sei se estou dormindo,
mas esses doces são um sonho.
Mei sorrir.
- O cheiro é bom.
- Posso pedir mais se você se quiser.
- Não seja guloso doutor, o que tem
neste prato é o suficiente para nós dois.
- Hum, está bem! Acho que calculei
mal a minha gula. Entre um pouco, ainda não tenho sono, podemos conversar sobre
o seu pesadelo.
Mei aceita o convite e elogia o doce.
- Diga-me Mei, como é possível ter
pesadelos nessa nave maravilhosa? Tem algo haver com as estórias do comandante?
- Você não vai acreditar.
- Não vai saber se não me disser.
- Depois que eu tive o pesadelo,
escutei vozes e fui olhar. No final do corredor avistei dois seres
transparentes e luminosos, não consegui identificar.
Yusuke põe a mão no queixo e pergunta bem sério:
- Você não trabalhou em estação de
fronteira, trabalhou?
- Não. Por quê?
- Não é nada importante, esqueça. É o
seguinte Mei, o espaço pode ser um lugar muito interessante, mas não sabemos de
todos os seus mistérios.
- Então acredita em mim?
- Mas claro! Você é jovem e saudável.
Não há motivos para se preocupar.
- E as visões?
- Essa nave é grande, existe muito
espaço aqui dentro. Acredito que possa ser retornos de ecos. Também existem
muitas imagens holográficas por aqui, principalmente perto dos jardins. Se
fosse algo inteligente ou que pudesse levantar suspeitas e, até mesmo nos
ameaçar, o comandante saberia disso. Enfim, é uma nave muito segura.
- Tem razão, acho que me deixei levar
pela imaginação. Até nisso essa nave é incrível. E quanto aos meus sonhos, faz
alguns meses que os venho tendo.
- São recorrentes?
- Não exatamente. São circunstâncias
diferentes, mas sempre tem a presença de um homem desconhecido.
- Alguma das raças humarante?
- Humarante sapiens, com certeza.
- Algum detalhe que possa ser mais
específico como vestimentas e idioma?
- Apenas as vestimentas, são
diferentes. Mas não há diálogo, apenas entendo os sentimentos.
- Sem querer se indiscreto. Esses
sentimentos são os mesmos que o comandante sente por Aurora?
Mei sorrir como menina.
- Não, de forma nenhuma. É um amor
fraterno, uma linguagem corporal de família. É como a alegria de um reencontro.
Dr. Yusuke pensa um pouco e arrisca um diagnóstico.
- Para que você não vá dormir sem
respostas, posso dizer que durante o jantar você falou que essa viagem é um
antigo desejo seu de procurar novos desafios e se reencontrar com a sua
verdadeira natureza. Não sou especialista nessa área, mas acredito que o seu
subconsciente se manifesta em seus sonhos tentando encontrar uma comunicação.
- O que devo fazer?
- Deixe os sonhos lhe trazer as
respostas. Não fique ansiosa em querer interpretá-los e aproveite suas
vivências da melhor maneira possível.
Mei dá um abraço em Yusuke. Ele põe a mão em sua cabeça e entrega um
frasco de florais para ela beber.
- Isso lhe ajudará a dormir.
- Obrigada.
Yusuke acompanha Mei até a porta do seu aposento. Ao retornar se depara
com um vulto luminoso suspenso, sorrindo e olhando para ele, distante uns
trinta metros. O médico fecha e abre os olhos, achando que capturou a sugestão
de Mei ou das estórias do comandante. Pensou em tudo, até em se recusar que foi
o excesso de vinho que bebeu. Ele se esforça para observar melhor o rosto do
ser que se desloca e desaparece.
- Um draconiano?
Ele se adianta um pouco mais para tentar ver novamente, mas só existe
silêncio. Yusuke volta aos aposentos e liga o display, procurando consultar
arquivos draconianos. Ele tem acesso a vários registros. O rosto é draconiano,
mas as vestimentas muito rústicas. Não encontra nada parecido.
O médico se convence dos próprios conselhos que deu para Mei. Ele toma
uma dose do floral e vai deitar, dormindo rapidamente.
Durante o tempo restante na nave, os passageiros se dedicam as suas
atividades corriqueiras e, nem Mei ou Yusuke comentam sobre as visões.
Dareh faz treino virtual com espada, ensinando alguns truques para Mei
que se diverte. Aveline é acompanhada pelo Soldado Lear
para conhecer algumas armas novas e praticar tiro virtual. Yusuke se encontra
com médicos da tripulação, alguns são velhos conhecidos.
Aurora está passeando no jardim com o
Comandante Akash. Ele revela seus planos para uma nova vida.
- Aurora, quase
não consegui dormir pensando em nós, fazendo planos e de como você aceitou meu
pedido de casamento sem hesitar.
- Eu escondi
meus sentimentos pelo amor que tenho a minha prima, mas agora sei que ela vai
casar, me libertei dessa culpa.
- Não deveria
ter passado por isso. E não há culpa em amar. Entendo suas razões.
- Quem será seu
marido?
- O filho do Embaixador Novik.
- Smarvi?
- Ele mesmo. Está
estudando para no futuro assumir as funções do pai. Nida tem muita experiência
nesses assuntos, já acompanha o embaixador há muitos anos. Ela e Smarvi estavam
muito próximos e descobriram que havia algo em comum entre eles alem da
diplomacia.
- O amor – sorrir
Aurora.
O comandante convida Aurora para sentar em
um banco perto de uma fonte de água natural.
- Aurora. Estou há
muitos anos no comando do Sankta Spirito. Durante esse tempo, tive muitas
experiências inesquecíveis e acredito que correspondi as expectativas. Quero
viver com você em Coroni, colaborar no com seu povo em tudo que for possível e
ficar mais próximo da sua família e criar nossos filhos.
Aurora se emociona.
- Você vai deixar o
comando?
- Sim. Existem
outros irmãos comandantes muito bem recomendados para assumir a nave. Conversei
com o General Meadhas e ele foi muito simpático e aceitou meu pedido. Mas tudo
dependeria de você aceitar o meu amor e casar comigo.
- Aceito todos os
termos comandante – sorrir Aurora – Mas quando será?
- Muito em breve,
algumas semanas. Deixarei você em Coroni e completarei algumas missões, a
última delas é retornar com Mei para a Cidade de Cristal. Participarei da
cerimônia de transferência de função e o novo comandante me conduzirá para
perto de você, na minha última viagem no Sankta Spirito.
- Estarei esperando
por você Akash. Estou muito feliz, parece que estou vivendo um
sonho. Sentirei falta de Aveline e da estação, mas nada se compara está com
você e minha família.
O tempo passa e o Sankta Spirito finalmente
chega a Estação de Fronteira Sul. Todos sobem no deque de transporte. Aurora se
aproxima de Aveline e dá um abraço cruzado e alternado à antiga moda marciana,
hábito preservado em Rugo.
- Boa sorte amiga –
responde Aurora – Posso contar com a sua presença em meu casamento?
- Não perderia por
nada.
Aurora se despede dos demais e vai para
perto do Comandante Akash. Em poucos segundos, são tele transportados para a
estação. O Comandante Sarte
Sigmar desloca os cruzadores do casco do Sankta Spirito e segue para o asteróide, ficando perto de
sua órbita.
Aurora e o Comandante Akash observam a
movimentação na estação, onde naves menores descem dos cruzadores levando
suprimentos e outros equipamentos. O som de partida é anunciado, o cruzador se
ilumina de luz branca e o entra na hipervelocidade.
Capítulo 6
STACIO LIMO SUDA
(Estação Fronteira Sul)
A materialização na estação se completa, o Dr. Lunn dá as boas vindas
para todos e começa a explicar o funcionamento da estação. Yusuke percebe uma
discreta desatenção do chefe da estação para com ele.
- Bom, como perceberam a estação tem
poucos alojamentos e espaço para circular livremente. O suporte de vida possui
a capacidade máxima de dez pessoas. Abastecida, ela tem uma autonomia de dois
anos. Sua estrutura permite suportar pequenos fragmentos do espaço e, quando
necessário, ativamos os escudos eletromagnéticos. Quando estão em funcionamento,
nossas comunicações ficam comprometidas temporariamente. O asteróide foi
adaptado com propulsores de ajustes de orbita, o que evita que fiquemos girando
aleatoriamente – conclui Dr. Lunn.
Yusuke fala baixo no ouvido de Aveline:
- Acho que ele não gosta de mim. Será
que ele pensa que sou do time de médicos que dá férias para os observadores?
- Não se preocupe, deixe Lunn comigo.
É uma ótima pessoa e um bom amigo. Falarei com ele sobre a sua situação.
O Dr. Lunn encaminha o grupo para os alojamentos e depois vai
recepcionar os militares no hangar e receber os suprimentos. Aveline acomoda
Mei em seu beliche e pede para ela descansar um pouco para se acostumar com o
nível de gravidade.
- Fique tranqüila. Nas primeiras
horas é comum sentir algum desconforto, depois passa. Se precisar de algo é só
me chamar. Vou para a célula de observação enquanto Lunn atende os militares.
- Estou bem – responde Mei – Esse
floral que Yusuke me deu é milagroso.
Aveline sorrir e beija a sua testa.
Em outro alojamento Dareh observa Yusuke muito calado.
- O que houve? Parece preocupado. Já
sei! Você acha que o Dr. Lunn não foi com a sua cara? Eu percebi seu
comportamento, mas acho que ele lhe conhecendo melhor vai mudar de idéia.
- Esse é o menor dos meus problemas –
comenta Yusuke – Aveline disse que falaria com ele sobre mim. É uma pena que os
médicos da federação sejam tão desprezados pelos observadores. Também não os
culpo, meus colegas exageraram.
- Então? Por que essa cara?
- Estou com saudades do display da
nave e principalmente da sua cozinha. Fico pensando que o General Meadhas tinha
razão, acho que eu enlouqueceria aqui dentro.
Dareh tenta animar o amigo:
- O que é isso Yusuke, não exagera!
São apenas algumas semanas.
- Algumas semanas comendo ração de
estação. Mas tudo bem! Está valendo à pena. Tem algum planeta civilizado aqui
perto?
- Estamos numa estação de fronteira,
isso te lembra alguma coisa?
- Sim. Que não vamos achar um
restaurante descente num raio de cem anos luz – gesticula Yusuke com os braços.
Aveline segue direto para a célula de observação e começa a ler os registros
que Lunn deixou disponível. Ela começa a acessar com bastante rapidez os
modelos de simulação e fica muito impressionada com o que ver.
Lunn entra na célula:
- Interessante não é?
- Isso é muito interessante! O
primeiro sinal que você me enviou era típico de um buraco negro, um som de
tambor, mas este sinal é intrigante. Vem da mesma região.
- Chegou a uma conclusão?
- Sim! Tudo indica que seja um pedido
de ajuda. Mas de quem ou de que? E principalmente de onde?
- Infelizmente Aveline, não temos
como gerar aqui os cálculos mais complexos. Levaria meses só para criar
simulações das prováveis coordenadas de onde esse sinal está sendo enviado.
Seja lá o que for esse pedido de ajuda, o sinal atravessou a singularidade numa
relação de espaço e tempo de milhões de anos.
- E os outros registros?
Lunn aciona outro canal privado e criptografado.
Aveline observa os detalhes das conclusões do amigo e mais uma vez além
de surpresa fica visivelmente preocupada.
- Lunn! O que é isso? São concentrações
de partículas atômicas?
- Exatamente! Mas como pode ver,
essas subpartículas são desconhecidas, nunca foram registradas.
- Elas estão espalhadas em bolsões e em
quantidades na nossa galáxia.
- Percebe os intervalos? Não há
variação de massa, eles estão aqui e depois ali. São as nossas famosas
miragens. Olhe aqui no mapa estelar. Elas se concentram próximo das estações
Leste e Oeste, exatamente onde os nossos colegas foram substituídos.
- Elas também se deslocam para aqui e
a estação norte!
- Exato! Deslocam-se numa rota
definida e coordenada, mas não há rastros, é como estivessem “submergindo” na
matéria escura e voltando para a superfície para “respirar” ou, para ver se
estão seguindo no caminho certo, o que seria muito inteligente para partículas
atômicas.
- Orientação de posicionamento! Inteligente
demais para minha compreensão. Mas o suficiente para uma investigação militar.
- Desconfio que estejam viajando na
subluz.
- Como ninguém pode ver isso Lunn?
- Nós vimos, mas não foi dada a
credibilidade. O fenômeno de fato, se comporta muito similar aos demais
existentes no universo, mas quando você dirige o foco para confirmar, já sumiu.
- Mas você os seguiu?
- Sim Aveline, apesar dos registros
quânticos serem inconclusivos. Mas quando fiquei sozinho na estação, quebrei
todos os protocolos que um observador poderia fazer. Acho que a minha carreira
aqui está no fim. Não poderia coordenar os focos compartilhando com as outras
estações. Não queria chamar a atenção e ser mais um a sair de férias forçadas
por algum médico da federação.
- E como chegou a essa conclusão de
migração consciente de partículas viajando na subluz? – pergunta Aveline,
digitando novas formas de gerar simulações.
- Não tenho conclusão real, mas
estamos tendo uma ajuda de um amigo nosso em comum.
Aveline para a digitação e olha fixamente para Lunn.
- Adani!
Lunn se defende:
- Não me olhe assim! Sabemos que a
Cidade de Cristal é o único lugar em Áxis em que tem condições e tecnologia
para compilar esses dados e gerar as simulações praticamente sem margem de
erros.
- Então, como um cientista ousado,
que não tem simpatia por militares resolve exatamente chamar um Mars?
- Aveline! Você é um Mars, mas também
é a chefe da estação. O que temos aqui é uma movimentação coordenada suspeita se
concentrando próximo das estações de fronteiras. Eu sei que estou errado em não
informar a federação sobre isso, mas corremos o risco de sermos substituídos e
ignorados, como aconteceu com os outros.
- Adani não deveria esconder isso de
mim!
- Não fique decepcionada, Adani gosta
muito de você e respeita seu trabalho. Ele só quer lhe proteger e está se arriscando
muito nessa operação. Apesar da força militar de Rugo ter mais autonomia do que
os outros povos, ele sabe que é seu dever investigar.
- Ele disse que levava armas para
estação, o que você sabe disso?
Lunn suspira e continua:
- É verdade! Ele levou algumas armas
e outros equipamentos. Sabemos que você não usa armas.
- Nenhuma estação usa! Sabe disso.
- Claro que sei, não teria utilidade
aqui. Mas nesse caso, já sinto falta de ter algumas.
- Pode me dizer o plano? Ou também é
segredo?
- Adani vai tentar realizar uma
coleta das partículas migrantes. Coordenei esses registros com ele em Rugo e
chegamos à conclusão que outro grupo de partículas está seguindo para lá. Vai
passar próximo ao asteróide da sua estação.
- Como pretende fazer isso?
- Pelos nossos cálculos, haverá uma
emersão em breve. Adani fará um desvio da orbita do asteróide para se
posicionar exatamente no lugar certo. Seus saltos são bem previsíveis. Ele
posicionou antenas eletromagnéticas para ativar e desativar os escudos por
alguns segundos. Nesse tempo, o asteróide ficará invisível e uma projeção dele
estará nas coordenadas antigas, apenas por medida de segurança Nesse tempo, a
estação vai ser desligada e toda a energia concentrada na “armadilha”, ficará
obviamente sem transmitir e captar sinais.
- E como capturar um fantasma, como
pretende fazer?
- Adani levou uma cápsula de
contenção. O tamanho é exagerado para abrigar ínfimas amostras, mas era o que
tinha disponível.
- E assim será possível identificar
fragmentos de unidades biológicas básicas?
- Será possível, assim como outros
tipos de unidade. Sabemos que a vida se manifesta no universo em formas e
composições diferentes. Mas com essas provas completas, poderemos apresentar à
federação que as nossas observações não eram miragens, e mais do que isso,
torcer que seja apenas um fenômeno físico inusitado e não conhecido.
- Adani sabia da chegada do Sankta Spirito?
- Não sabia. Você e Aurora voltariam para Rugo. Ele sabia
que você o ajudaria se contasse a verdade. Como eu disse, ele queria lhe poupar
da acusação de cumplicidade. Entrei em contato com o Comandante Akash, ele é
razoável e atencioso com os observadores de estação. Disse que precisava da sua
ajuda e que os substitutos estavam chegando de Rugo, ele deixou que você
decidisse. Mandei parte dos registros para estimular a sua vinda para cá.
Depois, tive tempo de informar para Adani. Confesso que esse cruzamento de
coincidências saiu melhor do que esperava.
- É minha estação, é
meu trabalho e minha responsabilidade está lá. Você fez um excelente trabalho
aqui Lunn. Todos os dados foram incrivelmente simulados e intuídos, mesmo com
os poucos recursos técnicos da estação. Acho que não haveria necessidade da
minha presença só para confirmar suas conclusões ou me proteger. Posso tomar
minhas próprias decisões – desabafa Aveline.
- Não gostou de
viajar no Sankta Spirito?
- Uma experiência
inesquecível! Mas não fui convidada para a sua festa!
- Aveline, foi uma
exigência de Adani, não tenho influência sobre ele, e como seu amigo, concordei
que poderia ser perigoso para você. Desculpe se te magoamos, não foi nossa
intenção, acredite.
Aveline apóia os braços no painel, baixa a
cabeça, respira fundo e olha para Lunn.
- Desculpa amigo.
Acho que faria o mesmo por vocês. Mesmo assim, preferia ter ido para Rugo.
Minha viagem de volta será mais demorada sem o Sankta Spirito.
- Ainda acha que sua presença aqui foi desnecessária não
é?
Aveline
balança a cabeça afirmativamente.
- Vamos lá Lunn! Eu lhe
conheço bem, não é só isso?
- Não. Veja esses
registros!
Lunn abre outro arquivo.
Demonstrando um pouco de cansaço, Aveline
analisa outros registros da estação. Para ela, as leituras dos mesmos são
simples, mas o suficiente para dessa vez, seu semblante mudar de cor.
- São resíduos de
energia fotônica e uma concentração anormal de neutrinos na órbita do Planeta
Gir!
- Exatamente! Agora
você entende os motivos
por que lhe chamei aqui. Quero que me ajude a decidir qual desses três
problemas vamos resolver primeiro. Você não só foi convidada para a festa, como
também está bem no meio dela.
- Lunn! Não podemos esconder isso dos
outros!
- Você tem toda a razão, poderemos
formar uma equipe. Mas e o médico?
- Yusuke? Eu queria falar com você
sobre isso. Ela é contra o comportamento dos médicos e não acredita nos
diagnósticos deles. Ele não participou disso, mas teve acesso aos registros.
Nada justificava a saída dos nossos colegas das estações leste e oeste. É um bom
homem e um excelente gastrônomo.
- Isso me deixa mais tranqüilo.
Enquanto Lunn e Aveline se concentram em suas decisões, Mei se levanta
de sua cama e vai caminhando pela estação. Ela chega numa sala que tem uma
imagem panorâmica do asteróide. Mei observa as estrelas, a paisagem rochosa e
sem vida. Aos poucos, ela vai sentindo uma sensação estranha e subitamente seus
olhos vêem o Cruzador Sankta Spirito no espaço sob a estação. Ela observa a
nave manobrando, escuta som de aviso e entra na hipervelocidade. Mei se sente
fraca e, antes de desmaiar, é amparada por Dareh.
- Mei! O que houve!
Ela não responde, está inconsciente.
Dareh chama Aveline e Lunn pelo
comunicador e leva Mei nos braços para a enfermaria. Todos correm para lá e Yusuke
se aproxima.
- Deixe-me eu ver
isso!
Todos se afastam.
Yusuke faz um exame clínico inicial e
utiliza um scanner de mão que emite uma luz azul que percorre da cabeça aos
pés.
- Então Yusuke! O
que houve?
- Não encontrei
evidências. Os níveis de oxigênio no sangue estão normais, não é síndrome de adaptação.
Mei começa a recuperar os sentidos e tenta
se levantar. Yusuke a impedi.
- Tenha calma jovem,
devagar.
- Eu estou bem
Yusuke, não sei o que houve.
- Você desmaiou. Lembra
de alguma coisa?
- Por favor! Não
comentem nada ao Comandante Sarte, ele não permitiria que eu ficasse aqui.
- Calma, não se
preocupe ninguém falará nada.
Mei se levanta, convencendo a todos que
está melhor.
- Quando eu estava
na janela, vi o Sankta Spirito. Ele fazia manobras e entrava na
hipervelocidade, parecia que tinha bastante pressa.
- Mas a nave já se
foi há muito tempo? - disse o Dr. Lunn.
- Sim eu sei. Foi um
sonho, uma visão.
- Você está melhor?
- Estou sim Lunn,
acredite!
- Tenho uma receita
médica excelente para todos! Uma boa sopa de cogumelos frescos! Alguém pode me mostrar
onde fica a cozinha? – pergunta Yusuke.
Lunn se apresenta:
- Faço questão de
lhe mostrar.
- Não se preocupem!
Já provei essa sopa e posso garantir que é deliciosa – elogia Dareh.
- Nos encontramos no
refeitório em 40 minutos – diz Aveline, sinalizando com o olhar para Lunn,
avisando que seria um bom momento para explicar para todos o que está
acontecendo.
No caminho, Lunn fala mais atencioso com Yusuke
e diz que Aveline falou sobre ele.
- Dr. Yusuke, quero
me desculpar pelo meu comportamento, sei que não foi adequado.
- Desculpas aceitas,
na condição de que me chame apenas de Yusuke! Entendo suas razões, acho que
agiria da mesma forma Dr. Lunn.
- Lunn! Por favor.
- Sinceramente – continua
Yusuke - Não entendo por que fazem isso? Não há razão para afastar vocês.
- Também considerei
algumas possibilidades e nunca houve registros disso nos históricos das
estações. Aceito ou não, Tudo era relatado, nunca houve férias forçadas.
- Não quero parecer
grosseiro Lunn, mas ainda acho estranho você ainda está aqui sozinho.
- Não foi fácil.
Acho que Aveline e eu fomos poupados devido ao grande respeito que a federação
tem pelos nossos pais e...
Lunn olha para Yusuke dando seu primeiro
passo rumo a uma confiança mútua.
- Vamos Lunn. Suas
leituras faciais revelam preocupação e um desejo incontrolável de dizer um
segredo para um novo amigo.
O Dr. Lunn sorrir.
- Tem razão. Nós
sustentamos os registros, não enviamos os relatórios e a única pessoa que
compartilhei foi Aveline. Violei dezenas de protocolos e possivelmente serei
afastado da estação.
- Então a coisa
parece ser grave!
- Mas do que
imagina! Na verdade só pude revelar alguns segredos quando consegui trazer
Aveline para cá.
Eles
chegam à cozinha e Yusuke começa a preparar a sopa.
- Tenho certeza que
algo de grande e perigoso está acontecendo. Essa estação foi o único lar que
conheci, vivi muito tempo aqui com os meus pais que eram observadores como eu.
Conheço cada equipamento, antigo e novo e nenhum pedaço desse céu me escapa.
- Podemos ajudar?
- Acredito que sim.
Após o jantar, Aveline e eu contaremos tudo que sabemos e formaremos uma equipe
de decisões.
- Pode contar
comigo! – disse Yusuke que aperta a mão de Lunn.
Todos estão reunidos no refeitório da
estação. A sopa de Yusuke é elogiada e ele agradeceu envergando o tronco em
agradecimento e espalhando simpatia:
- Meus amigos,
obrigado! Acho que a sopa foi uma sugestão muito bem aceita. Mais existe alguns
fatos que o Lunn e Aveline querem nos contar. Temendo que sejam notícias
indigestas, resolvi deixar a sobremesa para outra ocasião.
Yusuke procura seu acento e aguarda que os
observadores revelem seus segredos.
Lunn e Aveline vão direto ao assunto. Eles
relatam os três registros, gerando muita curiosidade e insegurança. Sugere a
criação de uma equipe e que provisoriamente nada seja comentado com o
Comandante Sarte.
Dareh e Yusuke concordam em colaborar, mas
tem ressalvas em não comunicar ao comandante e a própria federação, pois a sua
maior preocupação é com a segurança de Mei.
Aveline entende a situação de Dareh e Yusuke.
Sabe da grande responsabilidade de está salvaguardando o bem estar de Mei. Mas
revela que não tem certeza se no momento existe algum lugar seguro na
federação. Lunn tranqüiliza, dizendo que tudo depende de um teste que será
feito na estação norte e, que acha precipitado alertar o comandante. Ele falou
da situação difícil dos observadores. Houve unanimidade, de que algo muito
estranho está acontecendo.
- É possível que um combate ocorresse
na atmosfera desse planeta e que a estação não conseguisse detectar? – pergunta
Mei.
Lunn responde:
- Estive observando as últimas
imagens dos telescópios de órbita que focalizou o Planeta Gir. As últimas
imagens e leituras indicam forte tempestade magnética na atmosfera do planeta.
Um fenômeno metereológico rápido, intenso e atípico nunca observado. Quando
parei as atividades normais da estação e me concentrei apenas nas miragens,
procurei todo tipo de registro anormal nas áreas mais próximas do asteróide
onde estamos. Não encontrei nada que chamasse a minha atenção, com exceção da
tempestade em Gir. Na oportunidade e movido pela curiosidade, foquei as antenas
para compartilhar leituras mais precisas na sua atmosfera, movendo um
telescópio que estava mais próximo do planeta.
- Identificando assim os elevados
níveis de radiação? – pergunta Dareh.
- Exatamente! Avançadas naves que
utilizam hipervelocidades sempre deixam suas assinaturas na matéria escura, os
rastros de neutrinos e energia fotônica são comuns nesses casos. Aqui mesmo da
estação, já observamos e identificamos os trânsitos de muitas naves da
federação, inclusive do Sankta Spirito.
- E na órbita do
Planeta Gir essas assinaturas não foram identificadas? – pergunta Mei.
- Não foram. Em
última hipótese, uma troca de motores subluz de uma nave já produziria uma
variante nova.
- Mas o tempo de
vida útil desses propulsores é praticamente ilimitado – interrompe Dareh.
- O que não seria o
caso – completa Aveline – Não há rota comercial em Gir e também não está
incluído na lista de planetas de apoio. Lendo aqui os registros, diz que é um
planeta frio e montanhoso com poucas planícies e baixa biodiversidade. Não
existe colônia nativa de seres conscientes. É uma área de reserva.
Lunn continua com as informações;
- A principal função
das estações de fronteiras é monitorar a entrada de seres não aliados da federação.
Como isso nunca ocorreu, nos dedicamos a monitorar as nossas próprias
movimentações e pesquisar os corpos celestes. Produzimos excelentes materiais
científicos que muito nos ajudou a conhecer a nossa galáxia
- O suficiente para
saber que o fenômeno de Gir não era normal? – pergunta Yusuke.
- Nossos antecessores
nunca registraram nada parecido. Não podemos ficar aqui parados enquanto o
Capitão Adani e o Tenente Lido se arriscam na estação norte!
Dareh fica visivelmente preocupado com a
segurança de Mei. Ela percebe isso e toma a iniciativa.
- Será que não seria
melhor ir ao planeta e conferir de perto?
Aveline concorda:
- Precisamos reunir provas
eficazes do que aconteceu no Planeta Gir.
O Yusuke
olha para Dareh.
- Senhores! – continua
Aveline – Não sabemos o que aconteceu! Alguma coisa estranha entrou em nossa
galáxia e não sabemos ao certo há quanto tempo isso acontece. Essa
investigação, antes de ser científica é de responsabilidade militar, como
convenceremos o Comandante Sarte a liberar uma escolta até o planeta?
Yusuke desvia o olhar para Mei.
- O nosso passaporte
está bem aqui!
- Eu?
- Claro que sim Mei!
O que motivou a sua vinda para cá foi seu interesse em conhecer o trabalho da
estação. Você diz ao comandante que tem interesse em conhecer o Planeta Gir e
tenho certeza que ele não negará o pedido.
Aveline confirma que chegou o período de
visitas científicas. Pediremos autorização de um acesso provisório e rápido.
- Não! Acho
arriscado – Dareh não concorda.
Mei se aproxima de Dareh e põem a mão em
seu rosto.
- Dareh. Até agora
tem sido muito bom e divertido tudo o que passamos, mas não é isso que quero
para minha vida. Estamos diante de algo novo e misterioso e que pode colocar em
risco a segurança de toda a federação. Não podemos nos esquivar da nossa
obrigação. Temos escolta militar, excelentes cientistas e muitas dúvidas. Não
sou uma especialista, mas conheço um pouco de cada coisa e posso ser útil.
Precisamos ir naquele planeta!
Dareh sabe que Mei está certa. Sua
exagerada preocupação com ela rivaliza com a confiança e as recomendações do
General Meadhas em acompanhá-la.
- Todos concordam? –
Pergunta Dareh no que os demais confirmam positivamente - Tudo bem! Quando
partiremos?
Lunn acessa um holograma:
- Os nossos
equipamentos de pesquisa são portáteis e fáceis de conduzir. As mochilas com os
matérias básicos de exploração podem ser disponibilizadas pelo comandante. Em
duas horas vocês poderão partir, ficarei aqui na estação aguardando o contato
do Capitão Adani.
- Falarei com o
comandante sobre a nossa visita ao planeta – conclui Mei.
Sem saber das reais intenções do grupo, o
Comandante Sarte concorda com a didática pesquisa de Mei e libera dois
cruzadores e um destacamento para acompanhar os trabalhos em solo, na condição
de que ele também esteja na equipe. Na célula de observação, o grupo observa um
holograma do planeta e escolhem alguns pontos para aterrissagens e acampamento.
- Estamos com sorte
– disse Lunn – Chegaremos nesse ponto com luz. Esse planeta tem uma rotação
lenta, são 48 horas com luminosidade para cada duas congelantes noites com o
mesmo tempo.
- O planeta é muito
longe daqui? – pergunta Yusuke.
- Não é distante e
dispensa a hipervelocidade. Na velocidade da luz, em uma hora e quarenta minutos
estaremos em sua órbita.
Aveline chama a atenção do grupo:
- Temos três eventos
misteriosos que podem estar relacionados. Precisamos começar a entender o que é
possível no momento. Não queremos que ninguém aqui corra riscos desnecessários.
Ficaremos todos juntos.
Aveline convida Dareh e Yusuke para
ajudá-la com os equipamentos de pesquisa que fica em outra seção da estação.
Mei fica sozinha com Lunn, aprendendo mais sobre o planeta.
- Você está melhor?
- Sim Lunn. Estou
ótima. É que desde a presença no Sankta Spirito que coisas estranhas acontecem
comigo.
- Mei, nos
conhecemos há pouco tempo, mas quero que saiba que poderá confiar em mim. Tenho
uma curiosidade. Por que você escolheu esta estação?
- Bom. Na verdade
foi o meu pai que escolheu. A estação estava praticamente vazia e sua fama lhe
precede.
- Posso dizer o
mesmo de você. Sempre tive curiosidade de lhe conhecer pessoalmente. Quando
tenho oportunidade, acompanho alguma notícia em que você está envolvida.
Conheci uma garotinha que disse que quando crescer quer ser igual à Mei. Você é
uma inspiração sabia?
Mei fica tímida e olha para Lunn e, pela
primeira vez, seus olhos se encontram revelando muito mais que admiração.
- Desculpe. Não tive
a intenção de...
- Não precisa se
desculpar. Antes de vir para estação fiquei curiosa com o seu trabalho e li o
seu histórico. Se meu pai não escolhesse essa estação, eu mesmo o faria.
- Fico feliz em
ouvir isso. Aqui não temos muita vida social. Nossos amigos são os outros
observadores de fronteiras, militares em transito e algumas vezes a Cidade de
Cristal. Depois que os meus companheiros de trabalho foram afastados me
concentrei no trabalho.
- Uma vida muito
solitária.
Lunn aciona o holograma e com movimentos
da mão procura imagens da flora e fauna do Planeta Gir. Ele encontra uma flor
muito bonita, segura a imagem holográfica na mão e entrega para ela que
agradece e faz de conta que está sentindo o aroma.
- Linda!
- Essa planta
floresce nas montanhas, é muito rara.
- Você é feliz aqui?
- Está aqui é uma
realização para mim. Era melhor na infância antes dos meus pais seguirem para
luz. Eu corria por esses corredores e aprendia muito com eles na célula de observação.
- Você tem família?
Irmãos?
- Não tenho. E
atualmente, Aveline e Adani são o que tenho de mais próximo de uma família.
- Você e Aveline são
muito próximos não é? O mesmo trabalho, as mesmas aspirações. Tem muito em
comum – Mei insinua que existe algo mais.
Lunn percebe as dúvidas de Mei e resolve
poupá-la.
- Tenho Aveline como
minha melhor amiga ou uma irmã que nunca tive.
- Entendo.
- E você? Já pensou
em um dia sair da estação? Fazer outro trabalho?
- Sim. Aqui existe
tempo para pensar em muitas coisas, de fazer planos. Além do mais, existe uma
longa lista de espera de outros cientistas que desejam trabalhar aqui
provisoriamente. Pensei em ceder minha vaga várias vezes.
- E que te impede de
fazer isso?
- Está com alguém
especial. Ter minha própria família, aprender coisas novas.
- Existe alguém
especial em sua mente?
Lunn sempre admirou Mei. E com o tempo,
essa admiração foi se tornando num inexplicável sentimento, mais forte e ao
mesmo tempo impossível. Mas agora, Mei estava na sua frente. Podia sentir a sua
presença com todo o seu esplendor. O destino a levou até ele.
- Desculpa Lunn.
Agora foi a minha vez de ser indiscreta.
- Você disse que
coisas estranhas acontecem com você. Entendo o que quer dizer.
- Entende? – Mei
fica curiosa.
- Já faz algum tempo
que tenho sonhos de um realismo incrível.
- Sonhos?
- Sim, sonhos. Neles
estou sempre com uma mulher num lugar bonito, diferente, em um planeta
desconhecido para mim. Nesses sonhos, sinto a força do seu amor e também a
admiração de um povo nativo simples e hospitaleiro – revela Lunn.
- E essa mulher,
consegue saber quem é?
- Sim.
Lunn se levanta e vai para perto de uma pequena
janela e observa o espaço.
- Lunn – Mei se
aproxima, toca em seu ombro. Ele se vira e olha bem fundo nos seus olhos
fazendo seu coração acelerar. Mei não
precisava saber o nome da mulher dos sonhos de Lunn, sabia que era ela. E
quando em Urbo viu a sua imagem pela primeira vez, teve uma forte intuição de
que ele era especial. Nunca sonhou com ele, mas o que estava acontecendo
naquele momento era muito forte e transpirava emoções e desejos. Os dois
estavam cada vez mais próximos, seus lábios quase se tocam, mas são
interrompidos com um chamado de Aveline para que eles sigam para o hangar.
Uma nave de transporte estava chegando.
Eles não perceberam que o tempo havia passado tão rápido e se afastam silenciosamente.
Lunn retira uma pequena placa de cristal do painel. Serve para gerar imagens
holográficas de coordenadas. Ele olha para Mei com ternura e estende a mão.
- Precisamos ir.
Mei segura à mão de Lunn e ainda
respirando um pouco ofegante o abraça, encostando a cabeça em seu peito.
- Sim. Precisamos.
- Tenha cuidado.
Estarei em contato com vocês.
- Ficaremos bem.
Antes da nave de transporte aterrissar no
asteróide, Lunn entrega uma fina e pequena lâmina de cristal para cada um.
- O que isso? Uma pequena
lembrança da estação? – pergunta Yusuke.
- É um antigo
projeto dos meus pais. É um localizador biométrico. Ele interage com o DNA dos
seus usuários e permite que cada um de vocês conheça o estado de saúde do outro
– explica Lunn.
- Interessante –
fala Yusuke – E como funciona?
- Assim que nós
colocarmos sob o dorso da mão, ela se expande e forma um fino e transparente
bracelete. É quase imperceptível. Quando você toca na parte de cima uma vez,
ela emite uma luz branca e cinco pequenas formas geométricas básicas e
luminosas aparecem. Corresponde à distância que se encontra de quem deseja
localizar: Azul está perto, verde está num raio de 500 metros, Amarelo está até
15 km. Tocando na parte de baixo, no pulso, terá uma leitura da energia vital:
Azul está normal, Amarelo está doente ou ferido e vermelho... – Lunn dar uma
pausa – Bom. Vermelho está em coma.
- E depois do coma?
– insiste Yusuke.
- A luz
correspondente pisca incessantemente indicando que está morto. Mas a sua
localização de aproximação ainda funciona – conclui Lunn.
- E como saberemos
quais as formas que indica cada um? – pergunta Dareh.
- Por etapa de
ativação, vou mostrar como se faz.
Lunn ao colocar a lâmina sob o punho, ela
se movimenta para os lados se fundindo no pulso. Um losango acende e na parte
de baixo uma luz azul. Mei e os demais repetem o processo. No dela surge um círculo,
em Aveline um triângulo, em Dareh um retângulo, e Yusuke um quadrado.
- Observem. Cada
bracelete possui agora os cincos desenhos e todos estão saudáveis e próximos.
- Qual a fonte de
energia desses braceletes? – Pergunta Yusuke.
- O bracelete possui
uma nano bateria que emite radiação laser de baixa intensidade e bem conhecida
pelos médicos da federação.
Yusuke concorda:
- É verdade.
Utilizamos a radiação laser de baixa intensidade em terapias. Se o ajuste
estiver nos níveis certos, funciona como um estimulante fisiológico. Também
ajuda a transportar pelo fluxo sanguíneo, os nutrientes para partes
necessitadas do corpo. Parabéns! Seus pais fizeram um belo trabalho por aqui.
- Eles tiveram ajuda
dos humarantes do Planeta Oceano. É apenas um protótipo que teria seu uso
desnecessário em nossa população. Na verdade foi concebido para monitorar um
garotinho hiperativo que vivia aqui na estação.
Risos.
- Meus pais
apresentaram aos militares, e os testes em operações arriscadas em mundos não
aliados se mostraram satisfatórias. Certamente eles devem ter aperfeiçoado, mas
estes modelos são únicos.
- Como assim? – pergunta
Mei.
- Quando fui
indicado para trabalhar aqui, encontrei mensagens secretas dos meus pais com
instruções de localizar um pequeno cilindro de titânio que estava numa rocha
específica no asteróide. Dentro dele encontrei os braceletes. A diferença
destes é que eles podem interagir com os nossos NRs (Nanorobs), mas desconheço
como pode ser essa interação.
- Como assim
desconhece? – pergunta Dareh – Seremos os primeiros a testá-las?
- Parece que sim –
responde Lunn – Os militares por medida de segurança, não concordariam que seus
soldados compartilhem interações com seus NRs o que seria também desnecessário.
Mas fiquem tranquilos! Meus pais não fariam nada que prejudicasse a saúde de
quem utilizasse os braceletes.
- Interagir com
nanorobs! Muito curioso! – fala Yusuke.
Dareh olha para o objeto em seu punho:
- E se eu quiser
tirar o bracelete? Como faço?
- Acreditem. Depois
de um tempo usando o bracelete você não vai querer tirar. Eu pesquisei as
anotações dos meus pais que diziam que os nanorobs potencializavam todos os
benefícios e funções dos braceletes e a interação é opcional. Nessas
circunstâncias, acredito que apenas o seu nanorob pode desativar o bracelete,
se assim você desejar.
- Mas nós não
interagimos com o nanorob – Comenta Dareh.
- É verdade, não é
uma relação simbiótica. Mas nesse caso, se acontecer, teremos que aprender a
lidar com isso.
Aveline fica em silêncio e apreensiva. Ela
interagiu quando criança com seu nanorob. Tudo começou em Rugo, quando ela caiu
numa fenda que expelia gases tóxicos. Ninguém conseguiria resgatá-la a tempo e
a exposição prolongada aos gases lhe mataria em poucas horas. O seu nanorob se
manifestou espontaneamente e começou a orientá-la de como poderia sair da
fenda, deslizando por corredores estreitos nas rochas. Se fosse um adulto,
dificilmente sobreviveria. Quando finalmente conseguiu sair, Aveline agradeceu
ao que ela pensava ser a voz de um anjo e perguntou o seu nome. O “anjo” disse
que seu nome é Iron e que ela prometesse não revelar o que aconteceu. Aveline
cresceu interagindo algumas vezes com o seu anjo, até saber pelo próprio, que
todos os humarantes têm um dentro de si. Esses casos pessoais de interação com
o NRs são pouco revelados e conhecidos.
- Aveline! Está tudo
bem? – pergunta Mei – Está um pouco distraída.
- Sim, estou bem.
Pensava na paciência que o meu nanorob deve ter comigo.
Todos riem.
- Acho que ele gosta
muito de você – disse Mei brincando.
- Creio que sim.
A nave de transporte aterrissa e após o
embarque, todos com exceção do Dr. Lunn seguem para o cruzador de comando. Sem
perder tempo, ele corre para a célula de observação e inicia contato privado
com o Capitão Adani.
Da janela da nave, Mei observa a estação e
fica triste por saber que mais uma vez Lunn se encontra solitário. Seu coração
já sente saudades da voz e dos seus olhares. Ela sorrir ao lembrar-se do
primeiro beijo que não aconteceu e das incertezas que o futuro lhes reserva. Algumas
lágrimas escorrem dos seus olhos. Definitivamente, Mei reconhece que está
apaixonada.
Capítulo 8
Capítulo
7
LA NANOROBS
(Os Nanorobs)
No antigo Planeta Terra, a raça
humana que vivia na superfície se uniu a raça aumarante que vivia nas
profundezas da terra e dos mares. Essa coexistência foi celebrada com a criação
de um único povo: Os humarantes.
Essa próspera união foi motivada inicialmente pela sobrevivência em
defender seus mundos das forças destrutivas dos aliados de Viga, que enviou
seus guerreiros da morte. Seres mentalmente dominados, para capturar e
escravizar o povo do Planeta Terra.
Com a ajuda de outros seres dimensionais igualmente poderosos chamados
de deuses, que viviam infiltrados e com a mesma aparência humana, o povo
humarante finalmente pode vencer o inimigo. Por muitos anos, eles usufruíram de
todas as suas potencialidades e viveram gloriosos dias de paz e desenvolvimento
cultural e científico.
Uma das primeiras celebrações entre os dois povos seria de unificar a
língua. Para os aumarantes não haveria dificuldades, pois a sua capacidade
mental lhes permitiam aprender e falar rapidamente todas as línguas e dialetos
conhecidos na Terra. Sendo assim, ficou para o povo da superfície decidir qual
seria a língua oficial humarante. Esse processo não foi demorado, pois havia
poucos troncos lingüísticos que sobreviveram aos duros tempos, em que a
geologia e o clima do planeta enfrentavam profundas transformações.
Numa tentativa de unificação,
foi sugerida uma língua antiga, que na época foi criada para facilitar a
comunicação entre os povos do mundo inteiro, e que se adaptaria
perfeitamente a essa nova realidade: O esperanto.
Então, uma nova língua
oficial do povo humarante foi estabelecida, não obstante, a livre escolha de
que cada cultura ou clã preservasse seus tradicionais idiomas.
Com o tempo, houve a necessidade do povo
humarante de garantir a sobrevivência e variabilidade genética das suas raças,
sua população estava em declínio e as crianças eram raras. Durante séculos
houve um rígido controle de natalidade, num planeta de limitado recursos
naturais. A solução seria encontrar outros planetas que tivessem condições
favoráveis para abrigar toda a população e que principalmente, não fosse
habitado por alguma civilização. Os humarantes não levariam as suas
necessidades ao extremo, ao ponto de dominar e colonizar mundos indefesos,
mesmo que isso lhe custasse à própria extinção.
Os draconianos, uma raça alienígena amiga
dos humarantes, que conviveu com os maus tratos e toda sorte de sofrimentos
provocados por Viga, e que viviam nos limites do mesmo sistema solar,
ofereceram cordialmente um dos seus planetas mais parecidos com a Terra.
Apesar dos draconianos acharem que tem uma
dívida de gratidão para com os humarantes em libertá-los da escravidão, não foi
possível aceitar a oferta. O planeta não acomodaria satisfatoriamente a raça
humarante em longo prazo. O povo draconiano estava vivendo um rápido progresso
e reestruturação da sua sociedade.
O Planeta Terra já enfrentava dificuldades
com frequentes abalos sísmicos e intensas tempestades solares. Em razão da aproximação da Galáxia Via Láctea
com a Nuvem de Oort, considerada um berçário de cometas, estavam na rota de
vários asteróides e, apesar dos muitos esforços de desviá-los no espaço, em
algum momento a situação ficaria crítica e incontrolável.
Também havia as colônias humanas no
Planeta Marte, Ceres e algumas expedições que iniciavam tentativas de
colonização em luas que orbitavam outros planetas no sistema solar externo.
Houve uma retenção do progresso nessas colônias pelas mesmas razões da Terra:
Não havia segurança.
No entanto, o que causava mais
constrangimento aos humarantes era o que fazer com os robs, os seus mais fiéis colaboradores,
na possibilidade de uma viagem a outro mundo. Não havia grandes naves
suficientes para conduzir todos. Os robs, seres cibernéticos que foram os
responsáveis em apoiar nas principais conquistas, pediram deliberadamente que
os humarantes seguissem em busca de um novo lar, enquanto a maioria ficaria no
Planeta Terra. Obviamente, isso não foi aceito, pois o planeta seria, cedo ou
mais tarde, destruído.
Os robs são o que se poderia chamar do apogeu
tecnológico dos humarantes em termo de interatividade com máquinas. Houve uma
extraordinária evolução deles ao ponto de alguns se tornarem autoconscientes e
com corpos e atitudes semelhantes aos humanos, porém, estavam longe de
experimentar as emoções mais simples em sua totalidade.
Mas deixar o sistema solar em busca de
planetas habitáveis era o menor dos problemas do humarantes, pois eles eram
guardiões dos seres mais singelos e extraordinários já conhecidos: Os
aumarinos.
Criados pelo Deus Navan, os aumarinos,
antigos habitantes do Planeta Sinos, conhecido pelos humanos como Marte,
representava a uma parte dos mistérios que envolvia os interesses de Viga. Por
milhões de anos, eles hibernaram no interior da Lua, e foram reanimados pelos
deuses Navan e Luna.
Os aumarinos já haviam completado sua
rápida evolução biológica enquanto viveram em um novo mundo com atmosfera
saudável, oceanos e lagos. A lua não era mais a mesma, tinha se tornado azul. E
seria a primeira a sofrer os efeitos de uma catástrofe natural em massa já
anunciada.
Por
razões desconhecidas dos humarantes, os deuses havia desaparecidos. Na verdade,
estavam disfarçados em corpos de outros seres em longínquos locais do universo,
evitando que Viga pudesse atingir seus objetivos.
Até que um dia, a Esfera Navan surgiu na
atmosfera da Lua e recolheu toda água e toda vida aumarina, transportando-os
para um lugar ignorado do universo. Os deluvianos que controlam a astro-nave
informaram apenas que foi ordem do próprio Deus Navan e que os aumarinos já
estavam prontos para cumprir a sua missão. A Lua mais uma vez foi transformada,
mas ainda preservando uma fina camada de atmosfera e água.
Nesse período, um contato foi realizado com
os deluvianos por Khufu,
filho do Deus Snefru. Ele tinha o poder e os recursos necessários para manter a
comunicação. Khufu era o mensageiro silencioso dos humarantes e os deluvianos
eram o elo entre ele e os deuses.
Antes de partirem, os deluvianos deixaram instruções aos humarantes de como deveriam se preparar para a
grande viagem e que a Deusa Luna sabia das necessidades deles. A esfera da
deusa foi transportada do antigo mundo do fundo dos oceanos e com a atuação da
tecnologia humarante, atuou e desenvolveu um novo mundo no interior da Lua. Como
aconteceu com os aumarinos em remotos tempos, todo o povo humarante foi
transportado e concentrado em câmaras de hibernação. Depois, todo o
conhecimento cultural, científico e amostras genéticas da biodiversidade
conhecida na Terra foram recolhidos.
Esse grande esforço coletivo de trabalho
que duraram incansáveis 10 anos, não teria acontecido, se não fosse a
imprescindível colaboração dos robs.
Os robs eram máquinas de fundamental
importância para os humarantes, pois as suas vidas estavam literalmente em suas
mãos biossintéticas. Foram eles que manipularam a esfera azul que passou a gerar
energia para o deslocamento da Arca Lua, como passou a ser chamada. Os robs
faziam todo esse trabalho rapidamente e com precisão. Todas as leituras e
cálculos de rotas definidas pelos deluvianos, nos intermináveis e complexos
caminhos do universo, foram minuciosamente conferidos pelos robs.
Viajando na hipervelocidade, a Arca Lua
fazia paradas regulares a cada 100 anos e nesses intervalos, ficavam expostos
às investidas dos aliados de Viga que os perseguiam, mas eles sempre escapavam.
A Arca Lua não era uma astronave de
combate, era um antigo casulo que foi adaptado para viagens intergalácticas.
Possuía limitações de velocidades, de suporte de vida e desprovida de nenhum
armamento de combate no espaço. Era frágil nesse aspecto. Seus escudos de
energia até poderiam suportar uma batalha, mas não a sua preciosa carga.
Durante toda a viagem, os robs monitoravam
as funções vitais dos humarantes. Durante os intervalos da Arca Lua, os
principais líderes de clãs eram reanimados de suas câmaras. Passavam alguns
dias reunidos, recebendo relatórios de viagens e realizando exames clínicos.
Foi nesses exames, que os robs perceberam que os organismos dos humanos sofriam
mais as consequências da prolongada viagem do que os aumarantes. Havia o risco
de morte ou falência de órgãos a cada 500 anos que estavam na câmara de
hibernação, e esse foi o maior desafio dos robs, salvar a vida dos seus
criadores.
Os aumarantes conseguiram desenvolver a
transmigração de consciência e memória genética, mediante a cultura de corpos
clonados. Mas esses procedimentos só funcionavam com a sua raça e com a
estrutura que tinham na Terra. Os corpos humanos não possuíam uma predisposição
orgânica favorável para certos procedimentos como a dos aumarantes, uma herança
adquirida dos aumarinos por milhares de anos de evolução.
Quando uma nova reanimação dos líderes foi
realizada, os robs relataram a situação. Houve momentos de muito silêncio, não
tinham como prever quanto tempo os corpos poderiam sobreviver e quanto tempo
duraria a viagem. A Arca Lua já estava com novas coordenadas definidas e sua
esfera de energia recarregada e pronta para seguir sua jornada. Até que os robs apresentaram a solução. Eles
usariam a nanotecnologia e passariam a viver e interagir dentro dos corpos
humarantes. Como nanorobs, poderiam controlar as funções vitais dos adormecidos
e garantir sua sobrevida.
Os líderes humarantes não tiveram outra
opção a não ser aceitar e, autorizaram o procedimento. Um pequeno grupo de robs
que cuidavam da navegação da Arca Lua e outros que eram médicos, não passaram
pelo processo. Os demais robs, passaram a fazer parte do corpo dos humarantes.
O resultado dessa decisão foi positivo, os corpos mantiveram as suas funções
vitais e durante mil anos assim permaneceram.
Quando a Arca Lua fez a sua última parada,
se encontrava dentro de uma desolada vastidão. Nesse espaço intergaláctico do
universo, onde não havia estrelas, os robs viram se aproximar uma gigantesca
esfera de luz de uma categoria não conhecida. Eles receberam sinais
reconfortantes de que não era hostil, que se nome era Áxis e que estava ali para
conduzi-los ao seu destino final.
A esfera revelou para os robs a sua
nobreza e hierarquia, e enviou novas coordenadas a serem seguidas. Os robs
informaram que os corpos adormecidos nas câmaras estavam debilitados e que a
energia da esfera da Deusa Luna e os nanorobs é que os mantinham vivos. Os robs
sabiam que a situação era crítica e que todos os recursos disponíveis já tinham
sido feitos. O Deus Áxis fez algumas manobras em torno da Arca Lua, e como um
scanner, lançou um poderoso foco luminoso sobre ela, confirmando as informações
dos robs. O casulo não tinha condições de prosseguir. Foi quando a benevolente
esfera se expandiu e absorveu totalmente a Arca Lua. Em poucos segundos depois,
já estavam na entrada de uma bela galáxia. A viagem havia chegado ao fim.
O Deus Áxis como os robs o chamavam,
indicou alguns planetas muito próximos em que os humarantes deveriam
provisoriamente ficar e onde existiam condições de sobrevivência. Durante esse
período, os corpos eram reanimados por etapas e a Arca Lua realizava o
transporte entre os mundos enquanto descobriam outros.
Os humarantes ficavam confusos durante a
recuperação, não acreditavam que passaram mil e trezentos anos viajando. Eles
relatavam eventos e lembranças de atividades constantes e corriqueiras na Arca
Lua, mas não lembravam que estavam em câmaras de hibernação. Isso se deve, por
que os nanorobs sincronizaram projeções e emoções em seus cérebros. Os
humarantes estavam em profunda letargia, mas tinha uma vida, produzida virtualmente
pelos seus nanorobs. Foi quando já despertados e revitalizados, os humarantes
perceberam que não existiam mais robs entre eles. Coube aos líderes de cada
clã, explicar as medidas desesperadas que foram autorizadas para que todos
pudessem ficar vivos. Houve muita comoção e agradecimento mental aos nanorobs,
onde muitos deles sucumbiram no esforço de manter viva a maior herança de Tero
Unua.
Após dezenas de anos, a civilização humarante conseguiu florescer
rapidamente. Em reconhecimento a grande obra dos robs e nanorobs, foi decidido
que eles voltariam a conviver com os humarantes, que fariam parte deles e cada
nova criança que nascesse em Áxis, seria agraciado pelo seu próprio nanoanjo,
como foram carinhosamente chamados.
E assim são os nanorobs, que há vários séculos depois da chegada do povo
humarante ao seu novo lar, ainda habitam silenciosos os interiores dos seus
corpos. Eles finalmente conseguiram perceber e experimentar as emoções e mais
do que isso, adquiriram o prazer de um ser consciente, vivo e feliz.
Capítulo 8
LA ATAKO
(O Ataque)
Todos os preparativos para a celebração da migração dos gruns estão
prontos. O pátio do Castelo de Ar tok está totalmente ocupado pela sua
população que se amontoaram aos milhares. A maioria dos presentes é nativa de
Tryari, que já possui uma população multirracial bastante expressiva da Galáxia
de Rhisvi.
O monarca Gruner Ar acena para multidão e é ovacionado quando surgiu na
sacada no alto do castelo, de onde sinalizará aos gruns para se concentrarem e
partirem para a migração. O seu tutor Giambo Zoolie e o deluviano Truskas Zim
estão ao seu lado e quando é dada a ordem, alguns bitinus sopram as grandes
trombetas ao mesmo tempo. A população fica eufórica e levanta os braços
entoando canções que desejam boa viagem e retorno seguro aos gruns. Após se
acasalarem e seis meses depois, os gruns retornam com os seus filhotes,
representando o início de um novo ciclo no calendário do planeta.
Mas nem todos estavam ali nesse momento solene e importante na cultura
de Tryari. Um pequeno grupo de cientistas, orientados pelo tryariano Wustah
Drac, recebe o resultado dos exames químicos dos oitos gruns que foram
resgatados. O cientista chefe quando olha o resultado num cartão de cristal,
fica eufórico e emite um alerta para que a segurança comunique ao regente
imediatamente.
Nesse mesmo instante, centenas de gruns já sobrevoam em círculo ao redor
do pátio, e alguns muito próximos de onde se encontra Grunner. O regente ergue
os braços e aos poucos, os gruns finalmente iniciam sua migração.
Diante de tanto barulho, da população, das trombetas e dos gruns, Gruner
não percebe que um dos gruns que está alguns metros acima da sacada, fecha as
asas se precipita sobre ele para atacar. No momento é que o animal abre as
garras para lhe desferir o golpe fatal, o líder dos gruns intervém, jogando o
grun agressor contra a parede. Gruner cai no chão e é amparado por Giambo.
O grun inimigo se recupera rapidamente do impacto e parte para cima do
grun líder e uma seqüência sanguinária de golpes mortais acontece no ar. Eles
se prendem em suas garras e caem girando batendo nas paredes das torres. Wustah
chega com uma guarda e avisa para Truskas que os gruns capturados são na
verdade aturianos disfarçados. Os outros gruns inimigos também partem em vôo
rasante para atacar Gruner e são defendidos por outros gruns que o defende.
Truskas retira uma arma escondida em suas vestimentas e atira nos gruns
aturianos. A munição luminosa desvia dos gruns amigos e acerta os gruns inimigos
fazendo-os derreter.
As maiorias dos gruns que migraram não perceberam o ataque, apenas os
gruns do regente que são últimos a deixá-los. No pátio, a população observa
atônito o estranho evento e se dissipa assustada. O grun líder voa para o alto
da sacada, trazendo desmaiado o primeiro grun que liderou o ataque contra
Gruner. Ao jogá-lo no chão, a guarda de segurança lança um jato de líquido
amarelo no animal, prendendo-o no chão.
Truskas se aproxima de Gruner:
- Está ferido?
- Não. Eu estou bem! Mas o que está
acontecendo aqui?
Wustah se aproxima:
- Comentemos um grande erro
majestade! Liberamos os gruns cedo demais. Os exames provaram que seus corpos
possuíam resíduos de arsênico, típico dos aturianos.
- Um ataque premeditado – comenta
Truskas
Gruner se movimenta até o parapeito da sacada e observa a população:
- Não tenho dúvidas disso! Fomos
ingênuos e confiantes demais. Todo cuidado é pouco quando se trata de
aturianos. Alguma contaminação em nosso povo?
Wustah responde com segurança:
- Seguramente não houve. Os gruns
foram liberados no momento que os demais estavam prontos para migrarem.
Gruner chama os gruns de sua proteção pessoal que lutaram com os
inimigos e faz sinal para que eles entrem na janela da torre. Os animais
obedecem e a janela se fecha. O grun líder não entrou, ele se aproveita da
distração de todos e desce para o abismo que fica abaixo do castelo.
- Esses gruns estão de quarenta! Se
não foram contaminados liberte-os para cumprir a sua jornada.
- Sim majestade – responde Wustah –
Dessa vez precisamos de menos tempo para confirmar isso, o exame será bem
específico, amanhã serão liberados.
Gruner se aproxima do grun aturiano, Truskas adianta o corpo insinuando
cuidado. Gruner balança a cabeça informando que está tudo bem, mas Truskas
recarrega a arma e o acompanha.
- Por que me atacou? O que quer? – pergunta
Gruner
Com uma voz gutural, o inimigo totalmente imobilizado responde com
grande esforço:
- Você ou seu povo! Você se entrega a
nós e seu povo vive!
- Por que eu faria isso? – Gruner
pega a arma de Truskas e aponta para a cabeça do prisioneiro.
- Vai me matar? Seu pai seria mais
tolerante! – engasga o falso grun.
- Do que está falando?
- Príncipe Gruner, filho de Navan e
Lilith! Nunca lhe contaram? Está sendo traído por aqueles que lhe protegem!
O monarca chama os guardas e estes anestesiam o grun, levando-o de volta
ao cativeiro com redobrada segurança.
Gruner olha para Truskas e Giambo.
- O que ele está falando?
- A verdade que sempre esteve em seu
coração majestade, e que precisava ser revelada no momento certo – explica
Giambo.
- Verdade? Sobre os meus pais?
- É uma longa história senhor – interrompe
Truskas – Sugiro que se recupere em seus aposentos e mais tarde lhe contaremos toda
a verdade.
Com as mãos, Giambo humildemente mostra o caminho para Gruner.
- Por favor, majestade, confie em
nós.
Em silêncio, Gruner se dirige para a sacada e ainda ver o restante da
população seguindo para os seus lares. No horizonte, ainda percebe a sulhueta
de gruns em sua longa viagem até as altas montanhas. Ele se vira e olha para
Truskas e Giambo.
- Quem mais poderia confiar? Encontro
vocês nos meus aposentos. Não se atrasem.
Gruner se retira entregando a arma para Truskas e pondo a mão
gentilmente na cabeça de Giambo. Os dois se entreolham.
- O momento chegou – disse Giambo –
Ele tem o direito de saber!
- Nunca negamos esse direito, só o
protegemos dele – responde Truskas.
- Como será que ele vai reagir?
- Ele ama seu povo e todos dessa
galáxia. Saberá tomar a decisão certa.
No fundo do precipício, pousado numa
pedra, o grun líder observa no solo a chegada de um homem encapuzado que se
aproxima devagar. O animal alça vôo e pousa em sua frente.
- Essa foi por pouco! – disse o encapuzado
– Nos surpreendeu.
O grun líder se ilumina e se transforma em Seth.
- Vão perceber em breve a minha
ausência, preciso retornar a torre.
O homem retira a cobertura e o rosto de Latem aparece.
- Faça isso, aguardarei você na Lua
Negra.
Seth
volta a se iluminar, transforma-se no grun líder e alça vôo. Latem observa com
atenção, põem a cobertura na cabeça e segue andando tranquilamente, em pouco
tempo estará fora da cidade.
Gruner entra em seu quarto. Troca de roupa e segue para o cativeiro sem
que Giambo e Truskas soubessem. Ele encontra Wustah e pede explicações mais
detalhadas sobre essa habilidade dos aturianos em imitar formas.
- Essas imitações nem sempre são
perfeitas majestade. Mas nesse caso é impressionante! O aturiano replicou
perfeitamente o nosso grun. Acredito que ele seja mais próximo de uma raça
pura.
- Então quanto mais puro, mais
perfeita é a cópia?
- Sim majestade. Temos muitos
registros antigos que confirmam isto. Mas é a primeira vez que nos deparamos
com um caso assim.
- Ele pode copiar sem que toque ou
coma o ser em questão?
- Uma amostra de sangue é o
suficiente. Mas quanto mais contato tiver com o ser original, mais rápido é
transformação.
- Desperte-o! Quero ficar a sós com o
prisioneiro. Fique do lado de fora, não quero que ninguém saiba que estou aqui.
Wustah obedece, borrifa um spray no rosto da fera e ao sair, não resiste
à obrigação de falar com o regente:
- Tenha cuidado majestade. São seres
muito ardis.
- Veremos!
O aturiano desperta um pouco confuso. Gruner inicia o interroga:
- Então Viga já está com planos de
nos atacar de novo. E para isso, manda a sua escória de aturianos!
Engasgado, o aturiano não consegue articular a palavra na forma de grun:
- Renda-se!
Gruner percebe que não vai conseguir extrair informações do grun
aturiano. Ele chama Wustah e ordena que mantenha o prisioneiro sedado.
- O que sabemos sobre a fisiologia
dessas criaturas, além de copiar outras?
- Temos alguns registros enviados
pela federação. Um deles se refere à preservação de memórias corporais
antecedentes.
- É possível reverter alguma delas?
Esse grun não consegue falar. E o mais curioso, fala a nossa língua.
Wustah acessa um banco de dados:
- Os humarantes conseguiram fazer
algumas reversões pesquisando e usando drogas com efeitos semelhantes aos
inibidores neurais. O idioma Tryari é o mais falado em nossa galáxia,
possivelmente esse aturiano absorveu essa habilidade de alguma cópia. A
reversão de últimas cópias varia para cada aturiano. Quanto mais puro, mais
cópias são possíveis reverter, aqui diz que a memória linguística é permanente,
uma habilidade nata da sua espécie e não adquirida, não se conhece sua forma de
comunicação original.
- Nós temos como produzir essas
drogas?
- A federação compartilhou com vários
povos aliados a formula para a produção de um composto que identifica um
aturiano, a mesma que usamos em Tryari, esse espécime deve ter desenvolvido
alguma resistência natural, dificultando sua identificação.
- E quanto à reversão?
- Majestade, a federação também
descobriu como processar a reversão.
Essa última necessita de uma amostra pura do DNA da última espécie
copiada. Os aturianos copiam muitos seres no universo que são praticamente
impossíveis de coletar amostras.
- O que não é o nosso caso, temos
amostras dos nossos gruns?
- Temos tudo sobre os gruns,
majestade. Nossa tecnologia não é avança como a dos humarantes, mas até nisso
eles pensaram.
Wustah vai até um armário e retira uma caixa hermeticamente fechada com
um display de segurança. Ele digita algumas séries e um lacre se abre. Gruner
se aproxima curioso.
- Aqui está majestade. Em algumas
horas com esse equipamento, a formula estará pronta. Só para complementar, se
as cópias reversas demorarem mais de uma hora não haverá como reverter o
processo.
- É permanente?
- Não se sabe ao certo. Mas usando a
formula inicial não será mais possível, seu organismo já fez uma leitura de
defesa, teria que ser outra droga. São criaturas complexas. Todos os DNAs
absorvidos de cópias reagem diferentes ao tempo de permanência, o que se sabe é
que os inibidores fazem seu corpo perder a capacidade de copiar, regenerar e de
se curar.
- Então morre?
- Sim, majestade. Foi o que aconteceu
em todos os testes. Eles não só absorvem as características dos seres que
copiam, mas também as suas deficiências genéticas e suas doenças. Ele morre
sofrendo de todas elas ao mesmo tempo. Seu corpo vai apodrecendo e depois
resseca. Um sofrimento muito justo pelo custo de vidas por eles ceifadas.
- Prepare a fórmula! Vamos usá-la!
Avise-me assim que estiver pronto.
- Farei majestade.
Gruner vai ao encontro de Giambo e Truskas. Ele entra na sala e os
encontra com uma fisionomia preocupante.
- Majestade – saúda Giambo.
- É bom vocês terem uma boa história
para contar e, por favor, só a verdade!
- A verdade é tudo que nos interessa,
majestade – disse Giambo – Estamos cumprindo nosso dever como foi determinado
pela sua mãe, a Deusa Lilith.
- Deusa? Então ela não morreu?
- Não, majestade. A expressão deusa
não é por acaso. Ela é ser dimensional, uma co-criadora. O senhor é um semideus
e...
Gruner interrompe:
- Meus amigos. Conheço vocês há muito
tempo e vamos deixar as formalidades de lado. Sabem que nunca apreciei isto.
Truskas olha para Giambo:
- Existe uma maneira mais fácil dele
entender.
- Entender o que? Vamos lá! Chega de
mistério! Temos um problema sério para resolver, nosso povo foi ameaçado! –
Gruner começa a perde a paciência.
Truskas fecha os olhos e levanta a cabeça para cima. Mentalmente ele
envia uma mensagem. O ar na sala se torna frio e três fachos de luz recaem
sobre eles.
Gruner fica surpreso. Encontra-se numa galeria vazia, dividida em arcos
cujo teto é suportado por altas e grossas colunas.
- O que está havendo?Onde estamos?
- Fomos teletransportados, majestade
– explica Truskas – Estamos dentro da Lua Negra, próximo ao Planeta Tryari. Sabemos
que tem muitas perguntas. Queira nos acompanhar.
Giambo acelera os passos logo atrás.
Eles caminham pelo corredor da galeria.
- Lembra-se bem dos nossos estudos? E
da presença dos deuses em nossas vidas?
- Sim Giambo, lembro. Mas sempre
achei que seria mais uma lenda do nosso povo.
- Não é majestade. Esse lugar, por
exemplo, é um legado da sua mãe.
- Existe outra igual a essa?
- A Estrela Navan – responde Truskas
– A mais poderosa de todas. Esses corpos celestes foram criados para percorrer
imagináveis distâncias no universo, sua força de ataque e defesa são perfeitas.
- As forças de Viga sempre sucumbem
quando ela está presente – completa Giambo.
- Muitas vidas foram perdidas, muitos
povos e planetas extintos. Nem sempre estavam quando foi preciso. A Galáxia
Rhisvi foi uma das mais devastadas – lembra Gruner, instruído pelas histórias
de Giambo.
- É verdade majestade – responde
Truskas – Não conhecemos as movimentações dos deuses, mais confiamos nas suas
providências. A perseguição de Viga é implacável. Suas forças sempre atacam e
escravizam os seres indefesos para chamar atenção.
- A Lua Negra foi deixada pela sua
mãe para ajudar na sua proteção e de Rhisvi. Estamos seguros, majestade – diz
Giambo.
- Nunca é o suficiente. Sempre haverá
falhas. Um grupo de aturianos copiados de gruns penetrou nossas defesas e nos
atacou. O que mais virá? O que Viga deseja não são as criaturas do universo,
ela quer algo mais. O aturiano disse “Você ou seu povo! Você se entrega a nós e
seu povo vive!”.
- Uma ameaça a mais majestade –
Giambo tenta convencer.
- Quem é o meu pai?
- O Deus Navan majestade. Sua
concepção aconteceu no mesmo planeta em que os humarantes vieram, a Tero Unua.
Por isso a sua semelhança física. Os seus pais assumiram uma forma orgânica.
Sua mãe lhe deixou aos nossos cuidados com recomendações de lhe revelar toda a
verdade.
- Filho de deuses, concebido em Tero
Unua? Isso me faz um semideus humarante?
- De fato majestade. É a sua espécie.
Gruner analisa os fatos:
- Pelo que percebi nas histórias, os
deuses se escondem entre as criaturas tomando suas formas, não é muito
diferente dos aturianos nesse aspecto! –
- Uma comparação um tanto exagerada
majestade – adverte Giambo – Seus pais protegeram muitas vidas nesse universo.
- E por que não eliminam Viga? Acaba
logo com esse sofrimento? O que tanto Viga deseja? O que os deuses temem?
- Não sabemos majestade.
- Você tinha razão Giambo! São muitas
perguntas e vagas respostas! Queriam os meus pais, como eles não estão aqui,
querem o seu filho! Eles não querem me matar, querem algo que eu tenha ou que
possa representar!
Truskas e Giambo observam o comportamento temperamental de Gruner,
típico do povo de Tryari, conflitando com as conclusões lógicas e sensatas dos
seus pais.
- Então explica tanto esforço dos
aturianos – continua Gruner - Eles queriam me capturar e não copiar o meu DNA. Mas
com qual propósito? Usar de isca para atrair os deuses? Não sou mais importante
do qualquer outra criatura que vive nesse universo!
- Ter a sua vida em risco é uma razão
muito forte para Viga conhecer a fúria dos deuses, majestade. Ela não ousaria.
Mas não sabemos o que está acontecendo de fato, pode ter sido uma insurgência
localizada – comenta Giambo.
- Truskas! Já recebemos respostas da
Federação Áxis?
- Não majestade. Já deveriam ter
respondido.
Gruner abre os braços e gira lentamente o corpo.
- Estão vendo? Garanto que se
enviarmos agora um aviso de emergência eles não vão responder!
Truskas e Giambo sabem que por ser um semideus, Gruner tem poderes
intuitivos que ainda não sabe controlar e que sempre foram seus verdadeiros
guardiões. Eles não podem interferir nessa manifestação divina, mas entregariam
as suas vidas para ela numa simples ordem do filho dos deuses.
Gruner escuta uma voz feminina chamando o seu nome. Ele para e pergunta
a Truskas e Giambo se eles escutaram. Ambos dizem que não. Gruner vai andando
lentamente e chega à área central da galeria. No piso, encontra-se uma mandala
de círculos separados por outros. Gruner caminha até o meio do círculo, toca a
mão sob o piso e uma brilhante esfera negra surge, flutuando sobre ele. Mais
uma vez, ouve uma voz doce e amigável.
- Gruner, meu filho. Sou eu, sua mãe.
- Mãe?
Truskas e Giambo não conseguem ouvir a voz, mas sabem que a Deusa Lilith
com quem ele está falando. Eles se ajoelham em sinal de respeito, e depois
ficam completamente surdos. Observam os lábios de Gruner articulando palavras,
mas não conseguem entender.
Gruner agora consegue ver a sua mãe, mas não pode tocar na sua imagem. A
deusa explica que está muito longe dali e que espera o dia em se encontrar com
ele. Ela explica o que está acontecendo e deixa instruções para o filho seguir.
A audição de Truskas e Giambo volta ao normal, eles não só conseguem escutar a
deusa com também vê-la.
- Levantem meus fiéis amigos. Sou
grata por tudo que fizeram pelo meu filho. Estamos novamente enfrentando tempos
difíceis. Os inimigos se preparam para atacar e desta vez estão mais fortes e
em maior número. Nossos filhos carregam em seu ser, a chave que abrirá o
caminho para os deuses continuarem a sua jornada e finalmente libertar essa
dimensão da tirania. Mas para isso, é preciso que todos os seres se unam e nos
ajude nessa última batalha pela vida, pelo direito de existir, de evoluirmos e
conhecer outras verdades.
- Nosso povo é grato pela vida e pela
formação da nossa existência, minha deusa. Também lutaremos pelo nosso destino
divino, que um dia seguirá seus passos – responde Giambo.
Truskas entoa um mantra ritualístico sagrado dos deluvianos e completa a
frase em sua língua nativa que diz: “Em tua vida, a nossa vida prospera”.
Eles não percebem, mas um coral de vozes de dezenas de deluvianos que os
cercam, repetem a frase sagrada proferida por Truskas. Esses deluvianos que
discretamente se aproximaram atraídos pela forte vibração da deusa, são os
antigos guardiões e condutores da Lua Negra.
A Deusa Lilith se despede do filho e a esfera retorna para o interior da
astronave. Gruner se aproxima de Truskas e Giambo:
- A verdade já é conhecida. Sou
grato.
- Estamos aqui para lhe servir
majestade, sabemos que os deuses têm um propósito para todos nós – responde
Gruner.
O deluviano pergunta do regente:
- O que faremos?
- Vamos nos encontrar com Wustah no
laboratório! Tive uma idéia e acho que vamos ganhar tempo.
- Tempo? Majestade – pergunta Giambo.
- Os aturianos querem capturar os
filhos dos deuses, somos partes de algo muito maior, para que os co-criadores
completem a sua jornada. E Viga quer impedi-los. Tivemos sorte de descobrir a
tempo de poder protegê-los. Vocês já sabiam disso eu presumo?
- Não conhecemos todos majestade. Mas
sabemos que Mei é sua irmã – responde Truskas.
- Como vamos encontrar os demais? – pergunta
Giambo
- Usaremos a Lua Negra. Quando eu
estiver com a minha irmã, conseguiremos encontrar os outros semideuses. Mas
antes, precisamos convencer as forças de Viga que o filho do Deus Navan e da
Deusa Lilith foi finalmente capturado.
Giambo não endente os planos de Gruner que pede a Truskas o retorno para
Tryari.
No laboratório, o ambiente fica frio. Um deslocamento de ar faz vibrar
alguns equipamentos. Wustah não consegue entender o que está acontecendo e
antes de sair correndo, se depara com as faixas de luz trazendo Gruner, Truskas
e Giambo.
- Vai a algum lugar? – pergunta
Gruner, se divertindo um pouco com a expressão de medo de Wustah.
- Majestade!
- Se acalme, preciso que você nos
ajude!
- O que devo fazer?
- É verdade que alguns povos adoravam
os aturianos e havia sacrifícios voluntários para servi-los?
- É só uma lenda majestade. Não temos
como provar.
- Acredite Wustah! Algumas lendas têm
um fundo de verdade – Gruner olha para Giambo e Truskas.
- Não estou entendendo, majestade –
disse Wustah.
Gruner se aproxima do grun aturiano:
- Chegamos à conclusão que este
prisioneiro aturiano é muito próximo da raça pura. Eu pergunto: Uma doação
voluntaria de fluidos poderia criar uma cópia perfeita de outro ser? E o mais
importante! Poderia sustentar essa imagem por vários dias?
- Em teoria sim. Majestade. Mas o
doador deveria ter uma saúde perfeita, uma vitalidade de um jovem e um motivo
muito forte para fazer isso.
Gruner olha fixamente para Wustah ao ponto dele compreender as suas
intenções:
- Não! Majestade. O senhor não
pretende...
Gruner oferece o braço para que Wustah colha a quantidade necessária de
sangue e outras amostras para fazer um composto e injetar no grun aturiano. Ele
explica os detalhes de quais alterações genéticas devem ser feitas e segue para
os seus aposentos.
Horas depois, Wustah avisa para todos voltarem ao laboratório.
- Aqui está majestade – disse Wustah
– Esse composto é perfeito. Estou impressionado com a qualidade da sua saúde,
suas taxas são incrivelmente equilibradas até para os da sua espécie.
- Podemos fazer o teste?
- As sua ordens majestade.
Truskas engatilha a arma e olhar para Gruner.
- Apenas por precaução – fala o
gigante deluviano.
Wustah injeta o composto no grun e este começa a se contorcer e se
transformar em poucos segundos numa cópia nua e perfeita de Gruner.
- Funcionou! – Giambo fica
impressionado – Está respirando.
- Quanto tempo levará para confirmar
suas condições? – pergunta Gruner.
Wustah retira uma amostra de sangue do falso Gruner adormecido e põem
num equipamento de leitura.
- Impressionante! Não temos leitura
de degeneração celular acentuada, e não há nenhum sinal evidente que seja um
aturiano. Ele não pode mais copiar nenhum ser vivo – revela Wustah – Mas por segurança vamos
esperar alguns dias.
- Quero que minha cópia seja bem
tratada e que tudo fique em segredo! Ninguém além de nós pode entrar nesse
laboratório.
Gruner caminha para sair do local quando o aturiano fala com a voz
sonolenta:
- Tenho fome.
- Espere majestade. Acho que já
podemos tirar algumas conclusões – disse Wustah.
O cientista se aproxima do aturiano.
- Você sabe falar?
- Sim.
- Quem é você? – pergunta Gruner.
- Não lembro.
- Seu nome é Gruner, monarca de
Tryari.
- Gruner, monarca de Tryari. – repete
o aturiano.
O verdadeiro Gruner faz sinal para que todos fiquem em silêncio.
- Você está aqui para proteger o seu
povo – Gruner inicia uma série de sugestões hipnóticas.
Truskas se aproxima de Wustah.
- É perigoso?
- É difícil dizer, mas acho que no
momento ele é um ser que acabou de nascer. O inibidor cerebral é muito potente,
criou uma disfunção mental permanente, como era previsto. Ele não terá
discernimento, apesar de parecer receptivo a sugestões mentais, sua expressão
será essa, de um ser derrotado, fraco e humilhado.
- Ele recebeu um sangue saudável,
geneticamente perfeito, sua expectativa de vida poderá se prolongar indefinidamente,
como ele morrerá? – pergunta Giambo.
Wustah responde:
- Não podemos arriscar em deixá-lo
viver sem nosso controle, por isso alteramos a sua imunidade a nível celular. Ele
estará vulnerável a qualquer ambiente insalubre, viroses e bactérias. O fato de
não existir degeneração celular acentuada, não quer dizer que ele já não esteja
morrendo.
- Então ele poderá adoecer ainda em
nosso convívio?
- Sim Giambo, isso é possível.
Infelizmente não podemos manter o laboratório esterilizado, ele necessita de
uma câmara de hibernação.
- Truskas! O que você sugere? – pergunta
Gruner.
- Temos câmaras de hibernação ativas
na nave em que os gruns contaminados vieram. Poderemos deixá-lo lá, pronto para
entregar ao inimigo. Podemos fazer ajustes para que a nave seja controlada a
distância, assim não arriscará a vida de nenhum piloto.
- Perfeito! Prepare a nave o mais
rápido possível e deixe-a na plataforma real. Quero uma guarda permanente no
local, ninguém poderá entrar ou sair!
- Será providenciada, majestade –
Truskas se retira do laboratório.
- Giambo e Wustah! Preciso que vocês
estejam atentos ao que vou dizer. Vou seguir com Truskas para a Galáxia de Áxis,
preciso encontrar minha irmã.
- Irmã? Majestade – Wustah fica
confuso.
- Isso mesmo! Minha irmã, seu nome é
Mei. Sei que parece estranho, mas confie em mim, Giambo explicará tudo para
você. Não sabemos quando o inimigo chegará, mas sinto que será em breve. Eu não
estarei aqui, seguirei com a Lua Negra.
- O que faremos majestade? – pergunta
Giambo.
- Mantenha o povo calmo. Acredito que
as forças de Viga não atacarão o planeta se o seu líder se entregar
pacificamente. Ative o controle da nave e envie esse aturiano para eles. Quando
partirem, quero que alerte toda a Galáxia de Rhisvi, que eles se preparem para
a uma guerra.
Giambo abaixa a cabeça e é consolado por Wustah que põem a mão em seu
ombro.
- Sempre temi esse dia majestade.
Desde que a rainha mãe retornou de Tero Unua que acompanho a sua gestação e
tive a honra de ser seu tutor. Agora, vejo que os tempos de paz mais uma vez
chega ao fim – lamenta Giambo.
- Meu fiel tutor. Não tema. Faremos
todos os sacrifícios possíveis para que a paz volte a reinar, não só aqui em
Rhisvi, mas em todo o universo. Use todos os recursos necessários para manter o
inimigo distante do nosso povo. Ela estará em suas mãos, eu voltarei!
- Farei o que ordena majestade. Tenha
cuidado! – Giambo abraça o regente.
Gruner partiu com Truskas para a Lua Negra e segue para a Galáxia de Áxis
na esperança de achar a sua irmã.
Capítulo
9
PLANEDO CORONI
(Planeta Coroni)
Já fazia alguns dias que Aurora Mi havia
chegado à Cidade de Estania, a capital do Planeta Corini, localizado na extremidade
oeste da Galáxia de Áxis.
Uma grande reunião de familiares e amigos
de outros clãs estão presente às margens do Lago Lujik para a celebração de
casamento de Smarvi Novik e Nida Mi.
Aurora está feliz ao lado da prima e
sonhando como será o seu casamento com Akash. Mantendo a tradição, os casamentos
são sempre realizados na Cidade de Estania, uma bela região cercada de muitos
lagos e rios com águas translúcidas. Foi no passado, um dos primeiros pontos de
desembarque de humarantes trazidos pela Arca Lua, tornando-se com o tempo um
lugar sagrado, de contemplação, meditações e cerimônias.
Não existe atividade mais importante no
planeta que não seja a agricultura e tudo a ela relacionados. O Planeta Coroni
é o principal fornecedor de alimentos para a Federação Áxis, e a qualidade dos
seus produtos é o resultado de muito trabalho e dedicação do seu povo.
Os hábitos do Coronianos são muito
simples. As crianças desde cedo aprendem a lidar com a terra, conhecer as
sementes e plantá-las adequadamente. Quando são jovens, escolhem as mais
diversas profissões que darão suporte as atividades agrícolas. O seu calendário
de eventos é o mais celebrado dos povos humarantes. Com exceção dos casamentos
e nascimentos, as demais festas estão reservadas em agradecimento as colheitas.
Todo coroniano tem duas residências, uma
no Hemisfério Norte e outra no Sul. Eles se movimentam de acordo com o clima e
sazonalidade das estações. Esta migração não é obrigatória, mas necessária,
apesar de sempre ficarem alguns mantenedores em suas regiões. Os períodos
relacionados às fortes chuvas e nevascas, deixam o solo impróprio para o
cultivo numa parte do planeta, enquanto que em outras é o momento certo de
plantar. Para cada clima se desenvolve várias técnicas de cultivo sustentável e
as migrações em família são sem dúvida um dos momentos mais esperados.
Aurora se aproxima da prima:
- Você está muito
bonita!
- Dankon! Soube
que Akash
lhe pediu em casamento e estou muito feliz por você.
- Você não imagina
quanto prima!
Nida se aproxima de Aurora e sussurra em
seu ouvido:
- Sempre soube que
Akash te amava, o que eu sinto por ele é uma profunda admiração. Mas me diga
prima, quem em Áxis não sente isso – Sorrir Nida.
- É verdade! Ele é
maravilhoso – Aurora retribui o sorriso.
- Quando pretende
se casar?
- Ele estará em
breve entregando o comando do Sankta Spirito e vem para Coroni definitivamente.
Meus pais já sabem das suas intenções e também estão muito felizes.
- E a estação? O
seu trabalho?
- Nada agora é
mais importante do que está no meu planeta natal, com minha família e o meu
amor. Vou decidir com Akash onde daremos a nossa colaboração. Também queremos
ter filhos.
- Entendo – Nida
segura à mão da prima – Vocês serão muito felizes.
- Vocês ficaram na
embaixada?
- Sim! O trabalho
na embaixada me uniu a Smarvi. Há muito o que fazer, temos muitos planos. Ele assumira
o lugar do pai.
- Tenho certeza que
vocês farão uma grande diferença e o deixará muito orgulhoso. Venha nos
visitar.
- Sempre que for
possível. Será mais fácil agora, que viajaremos com Sankta Spirito. Diga-me,
estou curiosa, como é lá dentro?
- É incrível! Não
foi possível conhecer tudo, mas você entenderá quando estiver lá.
- Não vejo a hora.
Smarvi se aproxima exibindo um elegante
traje de cerimônia:
- Atrapalho as damas
em tão animada e secreta conversa?
- Smarvi! – Aurora o
abraça e beija a face – Assuntos femininos, mas bem interessantes!
- Posso imaginar –
Smarvi ergue as sobrancelhas – Vamos? O sagrado nos aguarda.
Todos se reúnem ao redor dos noivos. As
cores do entardecer parece moldar o cenário romântico. Todos estão em silêncio
e compenetrados nas palavras do Sagrado, representante de cerimonial religioso,
que segura duas taças de puro cristal com água do Lago Lujik. Perto dali,
algumas crianças se divertem no gramado atirando fitas para o ar.
Smarvi e Nida se emocionam com as doces
palavras e votos. Bebem a água das taças e se beijam. Os convidados atiram
fitas para o ar e uma pequena orquestra e coral jovem completam a cerimônia.
Os noivos são cumprimentados e abraçados
pelos familiares e amigos.
Inesperadamente, a luz do crepúsculo é
ofuscada por negras nuvens que se deslocam. O céu escurece deixando todos
curiosos.
- O que será isso? –
pergunta Smarvi.
Nida o abraça assustada.
- Esta se movendo em
nossa direção! – alerta Aurora.
Perto do lago, algo assusta as crianças
que correm e choram apavoradas.
- As crianças! –
Grita Smarvi – Peguem as crianças!
Por instinto e medo, todos correm para os
abrigos e tentam se proteger. Muitos caem no chão, enquanto outros ajudam a
levantar e ninguém entende o que está acontecendo. Um zumbido forte abafa os
pedidos de socorro.
Aurora segura uma criança e corre com ela
nos braços. Ela tropeça e cai, tenta se levantar e não consegue, sua visão fica
turva, seu corpo entra em espasmo. Ela tateia o solo com as mãos tentando achar
a criança, mas está sem forças. Ela se deita ela olha para o céu chamando o
nome de Akash. Um alienígena se
aproxima e a observa de perto. Aurora perde os sentidos.
Capítulo
10
KAPTILO
(Armadilha)
Já
havia se passado vários dias na Estação Fronteira Norte. O Capitão Adani e o Tenente Lido pacientemente revezavam as atividades de
monitoramento. Toda energia da estação havia sido canalizada para célula de
observação e os mastros fixados no asteróide. Nenhum trabalho rotineiro de comunicação
estava sendo realizado. A estação estava temporariamente desligada. O Tenente
Lido permanecia relaxado na cadeira da célula, parecia dormir, no entanto
estava concentrado em escutar o menor sinal específico das partículas migrantes.
A monotonia e o silêncio aumentavam as expectativas dos oficiais, até que um
bip eletrônico muda tudo. O Tenente Lido avisa que tem leituras da aproximação:
- Vou para o deque
de embarque! Quanto tempo até chegar aqui?
- Estão avançando
rápido! Já estou deslocando para posicionamento!
O asteróide da estação ativa os
propulsores e segue para um ponto determinado no espaço, exatamente onde as
partículas migratórias vão passar. O Capitão Adani confere mais uma vez a
armadilha e aguarda o sinal do Tenente Lido.
- Algum contato
visual? – pergunta o Capitão.
- Tenho as miragens!
Estamos em seu caminho! Faltam 10 minutos!
- Ative a
invisibilidade e concentre a energia para a câmara!
Os mastros do asteróide iniciam o
funcionamento criando uma atmosfera de gases e faíscas elétricas tornando-se
invisível. A estação fica completamente escura.
- Faltam 30 segundos!
– avisa o tenente – A câmara já está programada para ser ativada.
- Muito bem!
Silêncio de rádio.
No momento exato, uma pequena luminosidade
aparece dentro da câmara seguida de uma névoa com movimentos rápidos. O Capitão
Adani se aproxima do vidro de proteção, ele observa curioso. O que havia
capturado não é exatamente o que imaginava.
- Mas o que será
isso?
A névoa se dissipa e surgi um ser
alienígena desconhecido dentro da câmara. As luzes de emergência da estação
acendem.
- Adani! Já estão
fora de alcance! Capitão! Capitão! – insiste o tenente.
- Estou aqui!
Contate as estações de fronteiras! Emita um alarme e envie as provas!
- Não consigo! Ainda
tenho muita estática! O campo eletromagnético do asteróide ainda não dissipou!
- Continue tentando!
Use todos os satélites de órbita!
- Não recebo sinais
das estações!
- O que? Envie o
sinal de alerta para a Estrela Farol em Rugo!
- Não consigo! O
campo de partículas migratórias bloqueou a transmissão! Eles estão seguindo
para Rugo!
- Damne!
(Maldição) – o capitão se irrita com a situação fora de controle.
- Kio okazas? (O
que está acontecendo?)
- Temos um alinígena
aqui na câmara! E pequeno e dos mais feios!
- Mi ne
komprenas! (Eu não entendo!)
- É uma invasão
silenciosa em Áxis! Nunca vi essas criaturas antes! Parece
com anfíbios!
Deixe as gravações abertas e compartilhadas com os sinais
de transmissão!
Venha para o deque! Rápido!
Silêncio no rádio e som de disparos:
- Lido! Tenente
na escuta! – o capitão insiste.
A criatura confinada na câmara desperta e
solta gritos horrendos.
O Capitão pôem a mão nos ouvidos e cai no
chão. O vidro da câmara estilhaça. A
criatura sai devagar e confusa, cheirando e identificando o ambiente.
- Mas o que é
você? – disse o capitão.
O alienígena vira a cabeça e olha para ele
que retira as mãos sangrando dos ouvidos.
- É cego? – pensa
o capitão, que põem a mão no coldre, mas não consegue retirar a arma. Sua mente
e corpo estão dominados. Ele escuta os pensamentos da criatura em sua cabeça.
- Vi estas stultulo!(Você
é um idiota!) – pensa o alienígena, enquanto balança os dedos e move a cabeça
de uma lado para outro.
- Quem é você! –
Fala alto o capitão.
- Mia nomo
estas... (Meu nome é...)
A criatura deixa sair lentamente dos seus
dedos, garras longas e afiadas como agulhas.
- La morto! (A
morte!)
Salta em cima do Capitão Adani, que a
única reação que pode ter é fechar os olhos.
O capitão sente sua mão ser puxada.
- Adani! – chama
o Tenente Lido.
O capitão abre os olhos e ver o tenente.
Ele não escuta bem, a sua audição foi comprometida pelo som da criatura. Mas
fica feliz ao saber que recuperou os movimentos do corpo. Ele se levanta com a
ajuda do tenente e olha para a criatura queimada com um tiro preciso do
tenente,
- Tre bone!
(Muito bem!)
- Adani! Temos
que sair do asteróide!
- Não escuto
bem!!! – grita o capitão.
- Temos que sair
do asteróide! – grita o tenente no ouvido do capitão – O campo eletromagnético
não dissipou por que outros alienígenas, diferente desse, estão se
materializando na estação! Atirei em dois deles até chegar aqui! São grandes e
feios!
- Sempre são
feios! Vamos para nave!
As luzes vermelhas de emergência agora
piscam com um som de alarme. A estação identificou presença alienígena e travou
as portas automaticamente. O capitão e o tenente por sorte, estavam no deque e
próximo a sua nave. As portas se envergam com as fortes batidas e gritos. A
plataforma de lançamento se ergue e uma escotilha no teto se abre. A nave deixa
para trás o asteróide.
- O que vamos
fazer! – grita o tenente.
- Não grite! Meu
ouvido doi! Vamos explodir a estação!
- A estação não
tem sistema de autodestruíção!
- Não tinha! Mas
nos trouxemos as cargas extras para os mastros lembra? Posso acioná-las daqui
em modo de autodestruição! Vai causar uma reação em cadeia e uma grande
explosão nuclear!
- Entendi! Vai
matar aqueles monstros e as estações de Rugo vão captar a explosão do
asteróide!
- É essa a idéia
tenente! Acelere! A coisa vai esquentar!
O capitão aciona o controle remoto das
cargas e uma explosão de luz em forma de bolha, lança uma onda de choque no
espaço no exato momento em que a nave desaparece na hipervelocidade.
Capítulo
11
PLANEDO KOLONJO
(Planeta Kolonjo)
Na Cidade de Cristal, a
Embaixadora Suna Levigo é avisada que o General Anor Meadhas solicita uma
audiência. Ela segue para um salão de recepção e observa o teletransporte do
oficial.
- Saudações, Embaixadora Levigo.
- Seja bem-vindo, General Meadhas.
Ambos fazem uma reverência abaixando levemente a cabeça.
- Vim conferir pessoalmente os
preparativos para a troca de comando do Cruzador Sankta Spirito e também o
treinamento dos templários que solicitaram instrução de pilotagem, acredito que
minha experiência ajudará numa boa conversa.
- Certamente general. A sua presença
já está entusiasmando os nossos futuros pilotos. Todo aprendizado aqui é muito
valorizado.
- Sabemos disso. Faremos tudo ao
nosso alcance para que esse aprendizado seja o mais proveitoso possível.
- O instrutor Dareh Borisav aceitou
seu convite?
- Sim e com muito orgulho. Fique
certa que ele formará excelentes pilotos.
- Fico feliz por isso.
- Em se tratando de felicidade... Seu
filho Aturo deve está aos saltos.
- Imagino quanto, se bem que ele está
atrasado nos testes finais para piloto, mas acredito que o seu instrutor será
compreensivo.
- Testes finais? Aturo não lhe falou?
A embaixadora muda a expressão do rosto.
- Do que está falando general.
- Estive com seu filho faz alguns
dias em Urbo. Ele me garantiu que falaria com a senhora. Ele foi aceito para a
escolta de cargueiros e já deve está atuando nesse momento. Foi um pedido do
seu marido que eu não poderia negar.
Um profundo silêncio se faz entre os dois.
- General. Meu marido me falaria
sobre isso e eu aceitaria, apesar das minhas opiniões pessoais serem contra.
Ver meu filho feliz é tudo o que me interessa.
- Sei como pensa senhora. Faço o
mesmo por Mei.
- O que faz dessa sua comunicação
algo sem sentido para mim. Aturo estava com Assis em um cargueiro. Certamente
não haveria tempo de chegar para os testes e nem mesmo ter conversado com o
senhor.
- Mas senhora, eu estive com ele. Mei
e Dareh podem confirmar isso. Eu mesmo o convidei para a armada, com
recomendações de que lhe comunicasse. Ele estava muito empolgado e agradecido.
Seu filho não lhe comunicou nada?
- Não general. Assis havia me dito
que ele partiu em uma nave militar com a intenção de chegar aqui um dia depois
do teste que havia perdido.
- Isso tudo está muito confuso.
Podemos acessar um terminal de consultas?
- Evidente, me acompanhe.
Após consultar os protocolos e arquivos de vídeos, eles confirmam ambas
as versões.
- Como pode ser? Ele de fato esteve
no treino no dia em que fui com Mei. Ele se aproximou se apresentando.
- Aqui diz que ele embarcou numa nave
militar na ida e na volta, com permanência de 12 horas no Cargueiro Apox – disse
a embaixadora.
- A senhora está certa, não haveria
tempo para chegar ao treino naquele dia.
Uma imagem holográfica de um técnico de rastreamento de Nanorobs
interrompe a conversa.
- Senhora embaixadora, lamento
informar que recebemos uma comunicação NR do seu filho. Encontra-se no
quadrante 86 em rota de colisão com a Estrela Naus.
- O que?
O general põe a mão sobre o ombro da embaixadora.
- Calma senhora! Resgataremos o seu
filho!
- Não pode ser! Sabemos que um NR só
se manifesta quando...
A expressão de angústia do técnico é visível diante do sofrimento da
embaixadora.
- Qual é seu nome filho?
- Tarid, senhor.
- Tarid, qual é o cruzador mais
próximo do quadrante 86?
- O Cruzador Eta.
- Abra um canal! Urgente. E envie as
coordenadas.
Imediatamente, outro holograma aparece.
- General.
- Comandante Paolo. Temos uma
emergência!
- Recebendo as instruções senhor.
Temos uma diferença das leituras de dados aqui na transmissão. Estamos
acelerando os motores subluz em direção ao Q-86. Tempo de chegada em 12
minutos.
- 12 minutos? – a embaixadora tenta
conter a emoção.
Durante esse tempo, a Cidade de Cristal se ilumina de vermelho acionando
um alerta silencioso. Uma equipe médica se aproxima da embaixadora e inicia a
emanação de luzes que sai de um dispositivo na palma das mãos e de cores variadas.
O Cruzador Eta volta a se comunicar.
- General! Localizamos o sinal e
resgatamos uma cápsula de fuga. Não houve danos externos, o NR ativou os
escudos de emergência. Usou todos os recursos para manter a vida no corpo do
piloto Aturo e de preservar o casco da cápsula na radiação de entrada na coroa
da estrela. O NR foi exaurido senhor.
- Sinais vitais do piloto?
- Muito fraco senhor, está morrendo.
Sinto muito.
- Envie o holograma dele!
A Embaixadora Suna Levigo teve uma rara oportunidade, nesses casos, de
poder ver o filho dar o último suspiro e dizer poucas palavras.
- Meu filho!
Com a voz fraca, olhos fundos e pele esmaecida, Aturo se esforça para
responder.
- Mãe...atur...atur...aturianos!
- O que houve com a tripulação! – insiste
o general
- Cap..capturados!
- Mãe...nos ver..veremos na luz...
- Meu filho! – chora a embaixadora –
Nos veremos na luz meu amor!
Aturo morre com um leve sorriso nos lábios e um parco brilho molhado nos
olhos.
- Sinto muito senhora – disse o general,
emocionado e surpreso.
A equipe médica consegue sedar a embaixadora e a teletransporta para uma
câmara de repouso. O general recebe novas informações do Comandante Paolo.
- Não há dúvida senhor, foi um ataque
aturiano! O NR ainda conseguiu fazer leitura de DNA arsênico. Não sabemos como
e onde houve o contato e a contaminação. Os demais três tripulantes sumiram com
a nave. Acredito que Aturo ainda teve tempo de escapar.
- Sinais dos NRs da tripulação.
- Negativo senhor. Devem está em
regiões muito distantes para captar a frequência ou bloqueadas por escudos
eletromagnéticos.
- Encontre o Cargueiro Apox e faça o
alerta geral de quarentena! Quero scaneamento de DNA em toda frota.
- Já estamos emitindo senhor – o
holograma desaparece.
- Tarid!
- Senhor general.
- Envie um sinal de análise química
de vestígio aturiano para todos os NRs da Federação Áxis.
Com o brilho da Cidade de Cristal, todas as forças de defesa da galáxia foram
ativadas. Envolvido com o transtorno da embaixadora e de todas as ordens de
comando a serem feitas, o general sente o coração palpitar ao lembrar-se da
segurança da própria filha.
- Mei!
Capítulo
12
PLANEDO DECAN
(Planeta Decan)
Em outra remota região do universo, dominado pelos aliados de Viga, dezenas
de naves com formatos variados e bizarros surgem em sequência saindo da hipervelocidade.
As naves seguem adiante e desaparecem na massa escura, reaparecendo em seguida
na órbita de um planeta árido e de poucos recursos naturais. O motivo do súbito
desaparecimento das naves é uma estratégia de camuflagem para que o planeta e a
sua localização não sejam detectados pelos inimigos.
As naves seguem voando próximas ao solo e atravessam as paredes de
grandes montanhas. No interior do Planeta Decan, vive uma grande civilização
formada de várias espécies alienígenas, muitas delas desconhecidas da Federação
da Áxis, e que se preparam para executar um plano de invasão e destruição de
mundos próximos as galáxias de Áxis e Rhisvi.
A maior população do planeta é formada por aturianos, seres que possuem
especiais características genéticas que permitem copiar formas de outros seres
com um simples contato físico.
A presença de vários grupos de alienígenas no planeta é uma formação de
mentes excepcionalmente inteligentes a serviço de Viga, que ampliando e
aprimorando o conhecimento de suas espécies, conseguem com sofisticadas
tecnologias, desenvolver suas táticas para combater os humarantes e tryarianos,
os seus principais inimigos.
Uma ordem disciplinada de cinco líderes de várias raças e fiéis
guerreiros chamados de Trois, muitos deles subjugados pelas forças e
influências mentais de Viga, se reúnem em cerimônia para avaliar as recentes
situações.
Todos estão sob o comando de Sparis Orie, um ser dimensional escolhido
por Viga para comandar os ataques aos seus inimigos.
Os líderes da Ordem Trois, grupos anfíbios formado por chefes de três
clãs de seres humanóides intraterrenos: Chaz Ato do Planeta Ficks. Um ser
ardil, excelente estrategista e intolerante com os inimigos. Foi o principal
responsável pela devastação de mundos na Galáxia de Rhisvi. Possui mais de 2
metros de altura, com pele úmida, enegrecida e com manchas amarelas, possui
braços e dedos longos, seu suor é puro veneno. Ledorn Cinka do Planeta kers. Seres
de estatura média, a raça possui pele esbranquiçada e enxergam pouco, não
obstante, seu sentido de audição é extremamente sensível e o vocal é
excepcional. Variando em decibéis, podem enlouquecer uma criatura incauta. Não
tolera luz solar e como todos de sua raça, vivem e se movem com habilidade
pelos caminhos subterrâneos e insalubres, são exclusivamente, poderosos
telepatas. Hurt Isua do Planeta Tarta. São inteligentes e habilidosos em
entender e copiar tecnologias, são migratórios e exploradores de mundos viáveis
para produção de algas, seu único e indispensável alimento. Apesar de viverem
em subterrâneos, ocasionalmente caminha na superfície e tolera a luz. São
pequenos, em torno de 1 metro de altura, pele avermelhada, cabeça grande e
alongada com protuberâncias na testa. São lentos e frágeis, possuem sacos
aéreos no interior da garganta que expele gases inodoros, incolores e venenosos
quando ameaçados. Os demais chefes são de clãs planetários: Juix tu, aturiano
sem planeta natal definido. Seus genes são os mais puros que se aproximam do
primeiro de sua raça, evitando conviver com outras raças aturianas “impuras”.
São quase sagrados e admirados por suas habilidades de copiar seres, podendo
fazê-lo com incrível perfeição. Nas reuniões. É sempre difícil descrever em que
corpo escolhe se apresentar. Adaptam-se em qualquer ambiente natural e em
situação de perigo podem se dividir, criando uma falsa cópia para distrair o
inimigo, o que os enfraquece de sobremaneira. O último chefe de clã, não menos
importante, é Rima Ad, uma raça que fisicamente mais se aproxima dos
humarantes, possui a pele clara e desprovida de pelos e não usa nenhum tipo de
vestimenta, possivelmente, devido a sua principal habilidade que é em se transformar
em animais. Acredita-se que ela seja uma semideusa persuadida por Viga.
Todos os chefes de clãs estão reunidos em um platô no alto da montanha,
aguardando a chegada do líder maior. O céu anoitecido e nublado, cujo único som
é o zumbido do vento, é aquecido com aromas vindo do solo arenoso. Inquietações
de aturianos impuros, que costumam gemer antes de adormecer, atestam um
ambiente temeroso. Alguns grupos de gruns contaminados são vistos no horizonte,
voando e dilacerando algo que não se consegue identificar.
Ledorn Cinka demonstra sinais de inquietação, sua sensibilidade aguçada
é um sinal de que todos devem respeitosamente se curvar.
Após alguns minutos, um halo luminoso surgiu entre os chefes de clãs,
materializando parcialmente um ser humanóide de pele azul, olhos negros e
altura mediana: Sparis Orie acaba de chegar.
- Saudações, senhores dos clãs – Fala
com um tom de voz suave e aveludada.
Silêncio no ambiente.
- Venho em nome da Deusa Viga,
renovar os votos de confiança e prosperidade para os trois. Desta vez, os
nossos inimigos conhecerão o poder da nossa união. Os artifícios dos
co-criadores já são conhecidos, não haverá benevolência desta vez para os seres
por eles protegidos.
O corpo etéreo de Sparis Orie circula no ambiente. O halo se desfaz e a
materialização se torna mais densa.
Chaz Ato responde:
- Estamos bem posicionados em nossos
postos e já iniciamos o plano, não haverá falhas. O Planeta Gir foi atacado e
conseguimos chamar a atenção da Estrela Navan.
Sparis Orie caminha até o fim da plataforma, onde seus pés beira um
precipício. De costas para os chefes de clãs, escuta pacientemente os
comentários.
- Guerreiros aturianos se
sacrificaram na batalha, não sabemos ao certo quantos sobreviveram – relata
Juix tu, modificando seu corpo para a forma de Aturo Levigo, filho da
Embaixadora Suna Levigo – Mas sabemos que a nossa recompensa será a nossa
glória e sobrevivência.
Sparis Orie observa que mais cinco auxiliares de Juix Tu também tem a
forma humarante. Ele pergunta ao chefe do clã aturiano onde estão os originais.
- Procuramos não desperdiçar um bom
alimento para nossos gruns, isso os deixa muito motivados – disse Juix Tu, com
sarcasmo apontando para o horizonte.
- Um farto banquete – comenta Sparis Orie
abrindo os braços – A recompensa é mais do que sobrevivência, será o início de
uma nova vida.
- A Galáxia de Áxis entrará em alerta
em breve. Ficarão confusos e temerosos, há séculos que não enfrentam um
conflito de guerra – diz Chaz Ato.
Sparie Ori se vira e se aproxima dos chefes trois:
- Confusos sim, temerosos nem tanto.
Não subestime as habilidades e coragem do povo da Deusa Luna. Por enquanto
estamos em vantagem e os planos estão perfeitos.
Capítulo
13
PLANEDO GIR
(Planeta Gir)
O cruzador que partiu da Estação Sul encontra-se na órbita do Planeta
Gir. Uma nave de transporte entra na sua atmosfera escoltada por duas naves de
combate.
Em poucos minutos, as naves voam baixo pelos continentes do planeta
deixando Mei admirada com a bela paisagem.
- Estamos próximos do ponto de
aterrissagem – avisa o piloto – Aguardando liberação.
As naves de combate fazem uma rápida varredura de identificação no
local, certificando-se de que é seguro. A nave de transporte, suspensa no ar, é
liberada para pouso e desce suavemente ao solo.
- Esse planeta possui ar respirável,
mas é necessário usar roupas especiais para o frio. A gravidade é pouco menor
do que estamos acostumados e pode causar algumas reações – alerta o Comandante
Sarte – Não se afastem do grupo.
Aos poucos, todos estão do lado de fora da nave. Uma escolta de soldados
observa o perímetro.
Aveline olha para o céu e ver os efeitos luminosos de uma aurora boreal.
Ela utiliza um aparelho portátil de leitura e balança a cabeça afirmando suas
convicções:
- Vejam! Como eu pensei. Resíduos
nucleares. Realmente houve um intenso combate aqui – disse Aveline em voz
baixa, conferindo se o comandante não está ouvindo.
- Tem certeza? – pergunta Mei.
- Não há dúvida!
- O que faremos? Avisamos ao comandante?
- Não temos alternativa, dependemos
dele para realizamos uma busca por destroços o algo que confirme a nossa
teoria.
Dareh e Yusuke se aproximam:
- Então? – pergunta Dareh.
- Ela confirmou a teoria de Lunn – responde
Mei – Mas precisamos explorar melhor a região em busca de pistas.
Dareh não gosta da idéia:
- Nem pensar! O comandante não
permitiria se soubesse disso.
- Interessante! – comenta Yusuke –
Quer dizer que algo ou alguém comemorou algum evento festivo usando ogivas
nucleares!
- Mas do que isso Doutor! – explica
Aveline – Foi um combate e pelos meus cálculos aconteceu há poucas semanas. A
exosfera do planeta ainda está saturada gerando essa luminosidade no céu, o que
prova que foi bem intenso.
Dareh fica confuso:
- Um combate de quem? Não há seres
conscientes aqui. É apenas uma reserva.
O Comandante Sarte se aproxima do desconfiado grupo:
- Tenente! Poderia me confirmar esse
espetáculo de luzes no céu?
- Tempestade eletromagnética senhor!
- Já vi algumas tempestades eletromagnéticas
em outros planetas, mas sempre próximo aos pólos. O sol desse sistema não
parece tão próximo e tão intenso a julgar pelo frio congelante do planeta –
disse o comandante.
- Cada planeta e sistemas têm suas
particularidades, senhor – Aveline tenta disfarçar.
- Uma vez – fala o comandante – Vi
uma particularidade destas num teste nuclear, realizado num planeta de povos
não aliados da federação. É exatamente igual.
Yusuke tenta dissuadir teatralmente:
- Será que alguém fez um teste
nuclear não autorizado por aqui comandante? A natureza do lugar parece
equilibrada e esse frio está longe de ser um inverno nuclear. Pelo menos, é a
minha teoria?
Mei aproveita a situação:
- Já que viemos aqui explorar um
pouco o planeta, por que não observamos mais por aí? A Tenente Aveline se
incomodaria de ser minha professora por algumas horas?
- Seria um prazer.
- Eu ficaria muito satisfeito em
coletar algumas plantas – disse Yusuke.
O comandante olha para Dareh que abre as mãos e sacode os ombros:
- Bom. Foi para isso que viemos aqui
não é comandante? Um passeio didático?
- Muito bem! Estão autorizados. Levantaremos
as barracas térmicas e um domo de aquecimento. Podem usar um veículo de solo, o
Sargento Kais conduzirá vocês.
- Dankon! – agradece Mei.
- Tenente! Leve isso – O comandante
entrega uma arma para Aveline – Quero vocês aqui em duas horas! Não lembro há
quanto tempo alguém da federação esteve por aqui. Algo pode ter mudado.
- Não se preocupe, estaremos bem –
diz Mei com um sorriso, acenando para o Sargento Kais que ao se aproximar,
recebe a ordem do comandante para acompanhar o grupo.
A versatilidade do veículo permite se descolar facilmente pelos campos
abertos da região. Ao longe, eles observam uma gigantesca cadeia de montanhas
com o pico coberto por gelo.
- Que beleza de cordilheira!
- Sim Dareh! Devem ter de 8 a 15 mil
metros de altitude – calcula Aveline.
- Deve ser difícil existir formas de
vida naquele lugar.
- Estive com Lunn olhando a
biodiversidade daqui – comenta Mei – Existem alguns animais e plantas
interessantes, inclusive espécies raras encontradas na montanha. Alguns
registros rápidos foram feitos há muito tempo por uma equipe da Cidade de
Cristal. Nunca instalaram uma base de pesquisa aqui.
- Alguns predadores? – pergunta Dareh.
- Não há registros de predadores, mas
acredito que esse mundo não foi completamente explorado, e isso é fascinante.
Aveline faz comparações:
- Esse planeta possui melhores
condições de vida que Rugo, mas não acho estranho que a federação não o tenha
colonizado. Existem muitos planetas em Áxis que oferecem condições habitáveis.
- A maioria dos planetas da federação
são relativamente próximos tenente, com exceção de Rugo e Oceano – comenta o
Sargento Kais enquanto dirige o veículo.
- Rugo é mundo com atmosfera
controlada sargento, também é muito frio, mas muito bonito e agradável de viver.
Aceitamos no passado em participar dos projetos e experiências de
terra-formação e decidimos ficar.
- É verdade tenente! É incrível o
trabalho que foi realizado. Admiro muito a história do seu povo.
O veículo percorre vários locais, mas algo especial chama atenção. Um
grande espelho d’água que refletia ao longe, com rios e lagos. O sargento para
o veículo e todos sai para observar com potentes binóculos.
- Muito bonito! – comenta Mei –
Parece ser perfeito para viver.
- Está longe! Não teremos tempo de ir
lá com esse veículo – observa Yusuke.
- Pelo menos uns 15 km – afirma o
sargento consultando o relógio – Infelizmente temos que retornar.
- Sargento! Observei a topografia da
região, acho que não haverá problemas se retornarmos em círculo. Passaremos
próximos de um curso de rio que chegará ao acampamento – sugere Aveline.
- Sim senhora! – O sargento segue
para a direita, retornando pelo caminho indicado.
O passeio exploratório não deu os resultados esperados. Nenhum fragmento
de batalha era visto no solo. Aveline acredita que se houve destroços, eles
foram queimados ao entrar na atmosfera. O veículo passa perto do rio e outra
surpresa aparece. Um grupo de mescas pastando tranquilamente.
- Olhem! Que animais interessantes! –
aponta Dareh.
Mei se admira:
- Parecem cavalos! São muito bonitos!
- Cavalos grandes e peludos – completa
Yusuke.
Aveline pesquisa o arquivo no equipamento portátil.
- Aqui diz que é o Caballu girenses,
um endemismo interessante do planeta, são dóceis e vivem em pequenos grupos.
Existem algumas raças.
O veículo se aproxima do acampamento. O horizonte começa a ficar
crepuscular e o frio já se faz sentir, quando um bando de centenas de anilos
cruzam o céu vocalizando.
- São aves? – pergunta Dareh.
Aveline encontra no arquivo:
- Ainda não. Aqui diz que é o
Girnopterus minor, uma transição evolutiva, algo semelhante a um réptil e uma
ave. Também são inofensivos.
Dareh observa outros bandos distantes. Todos estão seguindo para a mesma
cordilheira.
- Eles devem está se recolhendo.
- Deve ser o abrigo deles – disse
Mei.
- Devemos fazer o mesmo – alerta Yusuke
– A temperatura aqui baixou muito. Não simpatizo muito com o frio.
- Estaremos protegidos na cúpula de aquecimento
– explica Aveline – Na segunda noite esses campos atingem 45 graus negativos.
- Perfeito para uma sopa quente e revigorante.
- Temos um bom suprimento de sopas
Dr. Yusuke – disse o sargento com humor.
- Ração militar? Obrigado sargento! O
senhor é muito gentil, mas não se for incômodo gostaria de cuidar do nosso
jantar.
- Seria maravilhoso doutor, sua fama
de cozinheiro o precede.
- Sério! Que ótima notícia! Tenho
certeza que eu nasci para fazer isto!
- Tenho um primo que o conheceu no
Sankta Spirito, ele trabalha com alimentos. É uma honra tê-lo entre nós.
Yusuke olha para os demais:
- Este é o segredo! Sempre alimente
as boas amizades.
Sorrisos.
O sargento atende o chamado do rádio comunicador:
- Estamos próximos do acampamento
senhor! Chegaremos no horário previsto. Positivo senhor! Repassarei a mensagem
– o sargento desliga.
- Algum problema sargento? – pergunta
Aveline.
- Estamos sem comunicação com o
cruzador da órbita. O comandante precisa que a senhora retorne. É bom ter uma
especialista por perto.
- Agradeço o elogio sargento! Pode
acelerar!
Na Estação Sul, o alarme do sistema de segurança é ativado. Lunn
descobre que as comunicações das outras estações estão interrompidas. Quando isso
acontece, todas as transmissões são direcionadas para a única estação que está
em funcionamento. Ele recebe várias transmissões automáticas e imediatamente,
retransmite o sinal aberto com toda a potência para os principais comandos da
Federação Áxis: A Cidade de Cristal, o Cruzador Sankta Spirito e para a
embaixada no Planeta Urbo. Nas transmissões também constam as coordenadas
enviadas pelo Capitão Adani, das regiões onde as partículas de migração
alienígenas estão se deslocando.
- Estão vindo para cá! – Pensa Lunn.
Ele retira o cristal de dados do bolso e conecta ao computador da
estação para compilar todos os dados recentes e começa a preparar a ativação do
modo de transmissão automática. Durante a atualização de dados, um sinal do
sistema chama a atenção para indicar uma complementação. Às pressas, Lunn
conclui o que estava fazendo e retorna para a célula de observação e fica muito
surpreso.
- Damne! –
(Maldição!) – Tenho pouco tempo!
Lunn pega novamente o cristal e mais uma
vez, dezenas de mensagens rebatidas das outras estações começam a chegar. Ele
consegue acessar uma delas mas não pode mais gravar. Ele corre para o deque de
desembarque e se prepara para abandonar a estação, mas antes, liga a contagem
regressiva e alinha os propulsores de órbita para lançar o asteróide para bem
longe daquele ponto. Ele tem poucos
minutos para decolar.
Durante o voo em direção aos cruzadores de apoio, que estão próximos da
órbita do asteróide, Lunn avisa e explica aos outros três comandantes, o que
está acontecendo e que se preparem para um ataque alienígena.
- Dr. Lunn! Não temos nada acusando
em nossos monitores! – disse o 2º Comandante – O objeto mais próximo é o
cruzador que se encontra no Planeta Gir.
- Os monitores não conseguem detectar
comandante! Será que não estamos diante de mais um caso de miragens? O senhor
está bem?
- Não são miragens! São partículas
que se movimentam na subluz! – insiste o Lunn. Veja as transmissões da Estação
Norte!
Lunn conecta o cristal de dados no computador da nave de transporte e
envia para o 2º Comandante. Após alguns segundos sem respostas, ele acessa os
dados de um programa específico criado por ele para localizar as partículas
alienígenas.
- Comandante está me ouvindo!
Comandante responda!
O monitor faz o rastreamento e indica que os três cruzadores estão
mergulhados numa massa de partículas. Lunn para a nave e observa de longe um
luminoso campo eletromagnético nos cruzadores, que estão com todas as luzes
internas e externas apagadas.
- Comandante está me ouvindo!
Comandante responda!
Lunn escuta apenas estática. Ele utiliza o zoom da nave de transporte
para melhorar a visualização dos cruzadores e percebe que alguns compartimentos
internos das naves apagam e acedem.
- Pelos Deuses! Estão atirando!
Os soldados dos cruzadores tentam reagir com bravura o ataque dos
alienígenas que se materializaram em várias seções. Lunn desliga o sinal de
rádio por precaução. Os cruzadores se movimentam para os lados e parecem tentar
realizar manobras evasivas, mas na verdade estão se aproximando em rota de
colisão. O monitor da nave de transporte avisa a Lunn que o sistema de
autodestruição dos cruzadores foi ativado, iniciando uma contagem regressiva
rápida. Ele entende que foi a única atitude possível e desesperada dos comandantes
em destruir os inimigos, morrendo com eles.
- Sinmortigo! (Suicídio)
Lunn fica imobilizado e sem ação, parece
não acreditar na ameaça maléfica que o povo humarante está para conhecer. Seus
olhos ficam imóveis e seus pensamentos se voltam para os familiares, amigos e
os pacatos mundos da Galáxia de Áxis.
A nave de transporte por segurança, não
espera a decisão de Lunn de se afastar
da zona de impacto da explosão e, automaticamente acelera o propulsores que
carregam os motores luz. A nave inicia o salto.
Nesse momento, os cruzadores se chocam e
explodem, gerando uma forte onda de energia.
Os amortecedores de inércia da nave de
transporte sentem o impacto e ajuda despertar Lunn do transe. A nave orientou a
sua rota para o Planeta Gir, seguindo o sinal do outro cruzador.
No acampamento no Planeta Gir, o grupo
desce do veículo e segue rapidamente para o domo de aquecimento. Yusuke e Dareh
aquecem as mãos nos vapores que são expelidos de dezenas de cilindros que capta
o ar frio e transforma em quente. Mei acompanha Aveline até a barraca do
comandante. Eles decidiram revelar as suas conclusões.
- Então senhor? O que houve com as
comunicações? – pergunta Aveline.
- Não conseguimos fazer contato
com o cruzador! Estamos nos comunicando por sinais lazer. Aparentemente os
equipamentos estão em ordem.
Aveline testa os aparelhos.
- Não são os equipamentos senhor.
É uma forte estática. A quantidade de resíduos nucleares na exosfera do planeta está causando
esse efeito.
- O que faremos?
- Não temos como evitar até ser
dissipado no espaço. Pelo que observamos em nossa curta exploração, não houve
danos aparentes a biosfera de Gir.
- Comandante, o cruzador sabe da
nossa situação? – pergunta Mei.
- Sim. Usamos uma linguagem com
códigos luminosos, eles também estão com dificuldades. Receberam mensagens do
Dr. Lunn, mas ainda não retransmitiram para nós.
O coração de Mei acelera quando ouve o
nome de Lunn. Um sentimento estranho lhe diz que algo não vai bem.
- Temos que retornar ao cruzador
imediatamente! – disse o comandante – Ainda estamos no crepúsculo, não podemos
ficar duas noites nessa situação.
Aveline se adianta e resolve comunicar os
fatos ao comandante:
- Senhor! Temos que lhe falar o
motivo da nossa vinda a este planeta!
- Conheço os motivos tenente. No
entanto acredito que nestas circunstâncias, Mei compreenderá minha decisão.
Podemos retornar a Gir em melhores situações.
- Não se trata de mim comandante. É
muito mais sério.
O comandante olha desconfiado para Aveline
e Mei no exato momento em que Dareh e Yusuke entram na barraca.
- Chegamos bem na hora! – Yusuke
esconde as mãos embaixo dos braços cruzados para aquecê-las.
- Seja o que for que está
acontecendo tenente é melhor dizer logo!
- Comandante. As suas observações
relacionadas à exosfera do planeta estão corretas. Com a diferença que não foi
um teste, e sim, uma batalha. Desde a nossa permanência na estação que estamos
tentando reunir provas concretas.
- O Dr. Lunn descobriu quase por
acaso. Foi necessário vir ao planeta e conferir pessoalmente – completa Mei.
- Desde que resolveram pedir para
vir aqui, eu desconfiei que vocês estivessem escondendo algo. Nunca estive
nesse planeta antes, então achei que seria uma boa oportunidade para eu também
conhecê-lo um pouco. Notei que a sua exosfera estava estranha, mas estava
seguro por que tinha uma especialista confiável na equipe. Quer dizer, não sei
agora se é tão confiável.
- Comandante...Sei que parece
estranho o meu comportamento e assumo toda a responsabilidade. Mas não
arriscaria deixar de vir aqui para confirmar fatos importantes e de segurança
militar. Precisava de provas e com todo respeito, isto sim é atitude confiável.
Sou militar, mas também sou cientista.
Dareh se aproxima
- Não queremos que você assuma
toda a responsabilidade Aveline. Todos nós concordamos em vir aqui, conhecíamos
os riscos.
Yusuke tenta aconselhar:
- Comandante seja razoável. O
senhor sabe que alguns médicos da federação não têm deixado a situação dos
observadores muito confortáveis ultimamente. Ter seu trabalho desacreditado por
supostos esgotamentos mentais é inaceitável.
O comandante anda na direção de Yusuke:
- Supostos? –– O senhor acha que
os médicos estão errados? Que essas ditas miragens espaciais são reais?
Yusuke se defende:
- Pesquisei os arquivos comandante
e, posso lhe garantir que arriscaria a minha reputação e meu trabalho como
médico de que aqueles diagnósticos não fazem o menor sentido. Se para o senhor
as miragens são frutos da imaginação de treinados e experientes cientistas, até respeito o seu ponto de vista. Mas o que
me diz como militar, em reconhecer provas concretas que houve uma batalha nos
céus deste planeta bem debaixo dos nossos queixos?
Aveline tenta convencer o comandante:
- Não sabemos precisar ao certo,
senhor! Mas acredito que tenha algumas semanas. Essa é uma região remota na
periferia da galáxia e pouco monitorada.
- Esse é um dos trabalhos dos
observadores tenente!
- Senhor! Os rastros dessa batalha
só foram visto devido ao empenho do Dr. Lunn, que seguindo um planejamento de
trabalho de rotina, percebeu o fenômeno. Os telescópios de órbita não estavam
programados para registrar esses fenômenos. Suas coordenadas se posicionam para
detectar e rastrear a aproximação e trânsito de naves.
Yusuke provoca questionamentos:
- Isso é bem estranho! Então um
grupo de naves, ou seja lá o que for, aparecem por aqui e brincam de guerra sem
deixar pistas?
- Muito incomum Yusuke – responde
Aveline, poupando o oficial superior.
O Comandante Sarte da meia volta e olha para os
monitores de comunicação.
- Muito bem! Fizeram um excelente
trabalho. Mas agora, diante da falta de contato, precisamos retornar para a
segurança do cruzador. Poderíamos vasculhar outras regiões do planeta
procurando algum vestígio, mas não será possível. Acredito que isso seria a sua
sugestão tenente.
- Não sabemos o que está acontecendo
senhor! Precisamos comunicar a federação.
- Partiremos agora! Levem apenas o
necessário, enviaremos depois outro grupo para recolher o acampamento – disse o
comandante já apanhando objetos em sua mesa e passando as ordens pelo rádio
para retirada de emergência.
- Lá se vai o jantar – resmunga Yusuke,
que retorna a sua barraca com Dareh.
Aveline se aproxima de Mei que está solitária e pensativa:
- Conheço você o suficiente para
saber que não está bem. O que houve? Outra visão?
Mei olha para Aveline com uma expressão que ela nunca tinha visto. Sua
face perdeu os traços de menina e agora parecem sério e adulto.
- Não foi uma visão. É como se escutasse
o pensamento de Lunn. Posso sentir a sua angústia. Ele gritava dizendo para
ficar aqui no planeta.
- Mas Mei, não podemos ficar.
Precisamos informar a federação, o comandante está visivelmente preocupado com
a sua segurança, na verdade todos nós estamos. Sabemos que Lunn enviou uma
mensagem para o cruzador, se aqui for mais seguro retornaremos.
Aveline abraça Mei reconfortando-a.
Subitamente o Sargento Kais entra eufórico na barraca:
- Comandante!
- O que houve sargento?
- Aqui fora senhor! No céu!
Todos correm para fora e ficam parados e impotentes diante da trágica
visão que se apresenta. Uma forte luz é vista no céu e destroços do cruzador em
chamas e milhares de detritos caindo na atmosfera como estrelas cadentes.
- Pelos deuses! – Grita Yusuke.
O Sargento Kais põe as mãos na cabeça num impulso de desespero. Outros
soldados ainda com algumas caixas nas mãos parecem estátuas olhando incrédulos
a desoladora cena.
Em outro ponto do céu, eles observam um objeto incendiando e explodindo
na entrada da atmosfera. Um ruído crepitante do fogo consumindo os destroços
alcança o grupo, fazendo até os mais fortes se emocionarem.
- É outra nave! – grita Dareh.
O comandante usa um potente binóculo e percebe que algo foi lançado
antes de explodir e vai em direção ao solo.
- Uma cápsula de fuga! Sargento!
Organize um grupo de resgate!
Sem perder tempo, Mei toca em seu bracelete e ver o desenho losango de.
Lunn na cor amarela.
- É Lunn! Ele está na cápsula!
Os outros conferem a informação em seus braceletes.
- Comandante, por favor! Deixe-me ir
com o grupo! – implora Mei.
- Não sabemos o que vamos encontrar!
Pode ser perigoso! Você e Aveline fiquem aqui! O Dr. Yusuke e Dareh
acompanharão o grupo – ordena o comandante.
- Senhor! A nave está pronta! – comunica
o Sargento Kais.
- Rápido! Leve os dois com vocês e
cuidado!
A nave de resgate levanta vôo e segue em direção ao sinal da cápsula.
Dareh e Yusuke observam as pulseiras.
- Estamos encrencados não é Dareh? –
pergunta Yusuke.
- Não sabemos o que está acontecendo,
não vemos outras naves no céu. O cruzador explodiu e Lunn aparece aqui no
planeta?
- Ele deve ter abandonado a estação
por algum motivo.
- Não podemos sair do planeta! Não é
seguro, precisamos depois encontrar o núcleo de dados do cruzador.
- O que ele está dizendo? – pergunta Yusuke.
- O núcleo de dados é uma placa de
diamante revestido de baquelite e carbono. É resistente e suporta impacto e o
calor. Podemos descobrir informações preciosas do que aconteceu com o cruzador
– explica Dareh.
- Temos visualização da cápsula
sargento! – avisa o piloto.
A nave desce lentamente próximo da cápsula. Dois soldados descem
correndo e se aproximam do visor fazendo um sinal positivo.
- Ele está vivo sargento!
Inconsciente, mas vivo!Vamos removê-lo agora.
Os soldados retiram Lunn da cápsula, põem um tipo de máscara de oxigênio
e o carrega numa maca metálica flutuante para dentro da nave.
No acampamento, Mei resiste em não entrar para a área aquecida.
- Está frio Mei! Vamos nos abrigar! Podemos
vê-los chegarem!
Mei olha para Aveline com as faces trêmulas de frio e aceita o convite
da amiga. Um soldado se aproxima com uma xícara quente de chá energético e dar
a boa notícia:
- Acabei de falar com o comandante. Já
resgataram o Dr. Lunn. Ele está vivo.
Mei abre um sorriso de alívio.
- Vamos! Ele vai ser levado para
barraca médica – avisa Aveline – Acho que ficará animado em ver seu rosto
quando chegar.
A nave surge no horizonte. A noite e o frio se fazem cada vez mais
presentes. Um grupo de apoio está apostos para conduzir Lunn para enfermaria.
Na tenda médica, Mei observa a maca flutuante. Ela corre para perto dele.
Yusuke a conforta:
- Ele está inconsciente, mas vai
ficar bem. Fique com Aveline, assim que ele acordar lhe aviso. Ele precisa de
repouso.
Mei segue a maca com os olhos. Aveline se aproxima:
- Vamos Mei, Yusuke está com ele.
Precisa comer e descansar um pouco.
- O que será que está havendo? De
repente tudo acontece ao mesmo tempo.
Aveline mostra o cristal de dados para Mei e faz um sinal discreto com
as mãos chamando Dareh:
- O cristal de Lunn?
- Vamos para a nossa barraca e olhar
o que tem aqui. Talvez possamos antecipar algumas respostas.
Na barraca, Aveline encaixa a pequena placa de cristal num equipamento
de leitura e procura as informações mais recentes na tela.
- Vamos ver, vamos ver... Aqui!
- Então? - pergunta Mei.
- Lunn conseguiu captar e grava
muitas informações!
Aveline muda o semblante ao ver as imagens da Estação Sul, enviadas pelo
Capitão Adani:
- O que isto?
- Não sei Mei! Nunca vimos! São alienígenas
desconhecidos. Atacaram a estação norte. Adani enviou as coordenadas de
aproximação para Lunn.
- Atacaram a Estação Sul?
- Sim! E destruíram os cruzadores.
Lunn escapou do asteróide na nave de transporte um pouco depois de chegarmos
aqui no planeta. Tivemos sorte em estar aqui.
- É o que parece? – disse Mei, com
tristeza – Mas como eles invadiram e destruíram os cruzadores?
Aveline passa os arquivos:
- Aqui está tudo explicado. As partículas
migrantes viajam na subluz e se materializam atacando a tripulação. São
milhares deles.
- Então foram os mesmos que atacaram
o cruzador aqui?
- Sim Mei. Tudo indica que sim.
- Vamos ser atacados?
Aveline se concentra nos dados enviados por Lunn e fica eufórica.
- É isso! Claro!
Dareh entra na barraca:
- Posso saber? Desculpe a demora.
Aveline se vira para Mei.
- Lembra que você havia me dito que
escutava os pensamentos de Lunn que dizia para ficarmos no planeta?
- Sim. E ainda confio neles.
- Por enquanto temos alguma vantagem
em ficar aqui.
Dareh fica olhando com curiosidade e Aveline explica para ele o que
encontrou no cristal de dados.
- Alienígenas? Estamos realmente com
problemas! – Dareh passa a mão atrás da nuca.
- É muito séria a nossa situação! Mas
temos algum tempo para pensar em algo – continua Aveline.
- Precisamos avisar a federação!
Estamos desprotegidos aqui!
- Acredite em mim Dareh! Este planeta
agora pode ser o lugar mais seguro em Áxis.
- Não estou entendendo Aveline!
- Escute com atenção! A saturação da
exosfera do planeta, provocada pelos misteriosos ataques atômicos, criou uma
fina proteção que além de não permitir transmissões de rádio impede a passagem
dos alienígenas.
- Nesse caso, enquanto essa saturação
existir estaremos a salvo? – pergunta Mei.
- Não podemos dizer ao certo. Preciso
gerar simulações, mas acredito que temos alguns dias antes que alguns buracos
na exosfera comecem a surgir. Vamos! Temos que explicar ao comandante.
Aveline, Mei e Dareh se dirigem para a barraca do comandante e explicam
a situação.
- Somos alvos fáceis aqui – responde
o Comandante Sarte – Precisamos nos esconder e nos abrigar do frio. A nossa
localização é conhecida, estamos expostos.
- Ele está certo Aveline – confirma
Dareh – Não podemos ficar esperando, temos que achar uma saída.
Mei escuta um leve bip na pulseira.
- Veja! O losango está azul! Lunn
está melhor!
Mei se alegra e olha para o comandante esperando a autorização dele para
ir a enfermaria.
O comandante balança a cabeça confirmando e deixa escapar um leve
sorriso.
Mei corre para a enfermaria.
- Temos muito que salvar – fala o
comandante se referindo aos sentimentos que Mei sente por Lunn.
- Senhor! Pelos meus cálculos o
Cruzador Sankta Spirito será o primeiro a captar as mensagens – informa
Aveline.
- Mas tenente como faremos? Como
avisar do perigo! Esses alienígenas simplesmente aparecem dentro das naves.
- Mas pelo menos eles saberão disto.
O Dr. Lunn passou todas as informações de segurança. Eles encontraram uma saída
para evitar o ataque.
Na barraca da enfermaria, Mei encontra Lunn seminu vestindo uma roupa de
frio.
- Mei!
- Desculpa! Eu... – Mei vence a
timidez e salta nos braços de Lunn beijando-o, sem ele dar tempo de dizer mais
nada.
- Mei! Estava tão preocupado.
- Escutei os seus pensamentos e senti
seu coração – responde Mei beijando-o mais uma vez – Como você se sente?
Lunn sorrir:
- Foi o melhor beijo que já tive na
vida. Estou bem. Apenas com muito frio – ele termina de fechar o zíper do
casaco.
Mei olha para Lunn esperando dele alguma informação dos ataques:
- Sei o que deseja saber. Mas não
tenho confirmação de que as mensagens foram captadas. Há muito mistério e confusão
lá por cima.
- Quero saber dos meus pais. Eles
devem está preocupados comigo e não temos como responder.
Mei baixa a cabeça triste.
- Calma. Não fique assim.
Lunn toca com carinho no queixo de Mei fazendo-a olhar para ele:
- Alguém da federação ou de mundos
aliados vai captar as mensagens e vão saber que você está aqui. Tomei todas as
precauções, o asteróide e a estação não foram destruídos e ainda está
retransmitindo continuamente o pacote de informações para toda a galáxia e fora
dela.
- Aveline me explicou o que você me
pediu. Ficar aqui no planeta?
- Você escutou? É incrível! Usei toda
a força do meu coração.
Ele beija as mãos de Mei:
- É mais seguro agora. Mas temos que
sair daqui assim que o dia voltar.
O Comandante Sarte entra na barraca, acompanhado de Dareh e Aveline.
- Dr. Lunn! Seja bem-vindo.
- Obrigado comandante. Tive muita
sorte.
- Sorte é o que vamos precisar para
conseguir sobreviver nesse planeta – disse Yusuke que entra na barraca trazendo
uma sopa quente e pondo na frente de Lunn.
- Sopa? Yusuke foi você que fez?
- Aqui está amigo. Já que seu coração
já está aquecido, acho melhor fazer o mesmo com o estômago.
Mei sorrir com timidez.
- Eu estava pensando – continua
Yusuke – Não haveria uma maneira de explodirmos alguma coisa nuclear na
atmosfera? Assim ganharíamos mais tempo com aquelas criaturas.
- Não teríamos carga nuclear
suficiente para cobrir todo o planeta – responde o comandante.
- Na teoria a idéia é boa, Yusuke –
Fala Lunn enquanto toma a sopa – Mas teria que ser feito de cima, mais
precisamente do espaço para baixo e não ao contrário. Mas infelizmente isso já
foi feito com explosão do cruzador.
Aveline confirma:
- Ele está certo. Não podemos
comprometer a estratosfera. Poderíamos arruinar a vida nesse planeta, inclusive
nós.
Yusuke balança a cabeça afirmando:
- Foi o que pensei. Agora, por favor!
Alguém poderia sugerir outras idéias?
O comandante se aproxima de Lunn.
- Diga-me doutor! O que está
acontecendo?
- Perdemos muito tempo para entender
comandante. As estações de fronteiras já haviam detectado o fenômeno e os
observadores foram considerados incapazes. Milhares de seres alienígenas de
espécies desconhecidas se infiltraram nos mundos de Áxis. Não sabemos há quanto
tempo isso já acontecia, mas com certeza foi uma ação inteligente e muito bem
planejada.
- Monitorávamos o acesso à nossa
galáxia identificando naves. Isso é algo nunca imaginado – revela o comandante.
- Existe a possibilidade de eles
estarem aqui? – pergunta Yusuke.
- Nas rotas que registramos não havia
direcionamento para esse planeta. Mas eles não esperavam que o Capitão Adani
fizesse a descoberta, capturando um dos seus e alertado a federação. Todos os
sinais das outras estações foram bloqueados e retransmitidos para a Estação Sul.
- Isso só aconteceu em simulações – lembra
Aveline – As estações Leste e Oeste foram atacados?
- Tudo indica que foi uma ação
sincronizada – responde Lunn – Mas não tivemos registros de alertas destas
estações, elas simplesmente pararam de transmitir. A Estação Sul foi a única a
transmitir e por isso foi atacada.
- Ela também explodiu? – pergunta
Mei.
- Não. Foi lançada para uma rota que
não interessa aos alienígenas. A estação norte acionou a autodestruição, assim
como todos os cruzadores.
- É uma ação extrema para conter uma
ameaça, não tiveram escolha – disse o comandante, com uma expressão triste no
olhar.
- Conseguir escapar a tempo e ao
chegar à órbita de Gir, entendi que o mesmo acontecia com o cruzador. Segui
direto para o planeta, mais duas daquelas criaturas se materializaram na minha
nave.
Mei se aproxima por trás de
Lunn e põem as duas mãos em seus ombros.
- Estava prevenido quanto a isso. Só
tive tempo de acionar a cápsula de fuga e os deixar queimarem na entrada da
atmosfera.
- Assistimos essa tragédia! Uma a
imagem que jamais esqueceremos – disse Dareh.
Yusuke senta à mesa e olha para o comandante:
- Ainda acho muito estranho que
alguns médicos fizeram com os observadores. Acho que temos algumas infiltrações
que colaboraram com isso.
- Também desconfio – diz Aveline – Os
observadores substitutos são pessoas que nunca conhecemos, apesar de sabermos
da existência deles. São novatos nesse trabalho.
Dareh fica curioso:
- E não conseguiram convencer a
federação de substituir as estações norte e sul?
- Em parte sim. Lunn ficou sozinho
por um bom tempo e nunca informou miragens em seus relatórios. O mesmo
aconteceu com a Estação Norte.
- Nós observamos os registros, mas
tivemos que tomar precauções e violar muitos protocolos. Aquilo tinha que ter
uma explicação! – comenta Lunn.
Dareh anda pelo ambiente:
- E agora? O que faremos?
Ainda sem muita certeza, Aveline arrisca sugestões:
- Imagino que a explosão do cruzador
na exosfera desse planeta tenha colaborado um pouco para a nossa proteção. Temos
duas naves de combate e uma de transporte, mas com esse tempo seria impossível
descobrir algum local seguro para nós.
Lunn completa as informações e procura algo nos bolsos e na cama:
- Se atravessarmos a exosfera seremos
alvos fáceis. Essas criaturas são hostis e determinadas em matar. Tenho
arquivos deste planeta. Aproveitaremos o tempo de confinamento aqui para
pesquisar a sua geologia e encontrar uma solução antes da ajuda chegar.
O comandante fica atento:
- Ajuda? Parece bem confiante nisso.
O que procura Doutor?
- Sim comandante, Estou confiante. No
momento é a nossa primeira esperança.
- Espero que seja uma boa notícia,
estamos sem muitas opções – comenta Dareh.
- Antes de deixar o asteróide,
recebemos dezenas de transmissões rebatidas para a estação. Não havia tempo de
gravar e identificar todas elas, mas uma em especial chamou atenção. Uma
mensagem de Tryari, sede da Galáxia de Rhisvi.
- O que diz a mensagem doutor? – pergunta
o comandante. Um soldado entra na barraca e entrega um equipamento a Lunn.
- Estava na cápsula senhor!
- Há! Obrigado! É o meu consulte!
Lunn aciona o equipamento:
- Aqui está comandante! O Regente
Gruner Ar informou que houve um ataque de aturianos disfarçados de gruns. Esses
animais foram resgatados em uma nave desconhecida que partiu da órbita do Planeta
Gir.
- Mas o que faz crer que ele viria
até aqui? – insiste o comandante.
- A mensagem não será transmitida a
tempo para a federação.
- Devido o que aconteceu com as
estações? – interrompe Dareh.
- Exatamente. Em algum momento a
federação vai captar todas as mensagens, poderá entender o que está acontecendo
na galáxia e planejar uma reação. Eles são os maiores aliados da federação, tem
trânsito livre. O fato de não receberem respostas da federação, certamente vão
querer investigar esse planeta e com sorte nos resgatar.
- Eles estarão vulneráveis também
Lunn – disse o comandante – Sabemos que a tecnologia dos tryarianos é inferior
a nossa. Como vão conseguir vencer os alienígenas?
- Tenho esperanças que captem nossos
sinais de alerta.
Yusuke esfrega as mãos e sopra um hálito quente:
- Acho que os alienígenas não teriam
interesse de enfrentar esse frio congelante.
Lunn concorda:
- Bem lembrado Yusuke. Estava
pensando na fisiologia deles, algo muito semelhante a anfíbios. Durante a
viagem até aqui, revisei alguns vídeos enviados pela Estação Norte e percebi
alguma intolerância de um deles a luz artificial, ficou confuso e seus olhos
eram cegos.
- O que indica que não toleram luz do
dia?
- Sim. É muito provável.
- Passaremos duas noites aqui Lunn!
Sem luz do dia, perfeito para um ataque não acha?
- Concordo em parte Yusuke. Mas se
existir alguma característica anfíbia nesse ser em especial, ele evitará o frio
intenso.
Aveline consulta a lista de animais do planeta.
- Bom! Pelo menos aqui em Gir não há
relato de nada parecido com anfíbios.
Lunn anda até a entrada da barraca e pelo domo, observa a noite fria:
- O que me preocupa é o outro ser que
também estava na estação, de característica semelhante e muito maior. Parecia
mais ágil e inteligente, infelizmente não observei nenhuma fraqueza.
- Mas o que atacou o capitão foi
morto com facilidade com um tiro certeiro do Tenente Lido e isso também é uma
fraqueza – disse Aveline.
O comandante dá alguns passos em direção a uma caixa e retira uma arma:
- Não toleram frio, luz e tem corpos
frágeis como os nossos. Podem ser mortos! Para mim é suficiente! Muito bem
doutor! Ajudou bastante, agora sabemos algumas fraquezas dos nossos inimigos.
- Uma pequena vantagem comandante.
O oficial entrega a arma a Lunn.
- Aqui está a sua vantagem! Sabe
atirar doutor?
- Nunca usei comandante.
- Temos poucos soldados aqui, por
isso estou recrutando vocês! Tenente Aveline! Ensine seus amigos como usá-las!
O comandante vai se retirando da barraca, mas antes para e olha
friamente para o grupo:
- E lembrem-se! Nunca hesitem em
atirar se querem ficar vivos!
- Ensinarei a eles senhor! – responde
Aveline com firmeza.
Yusuke balança a cabeça negativamente.
- Algum problema Yusuke? – pergunta
Dareh.
- Sabe que não gosto de armas! Sou
médico, salvo vidas não as mato.
Aveline se aproxima do médico:
- O comandante está certo Yusuke. Para
que você possa salvar vidas é preciso que fique vivo. Não é para matar é
auto-defesa!
- Sinto muito Aveline! Não teria
coragem de fazer isso.
- Diga-me uma coisa Yusuke! – pergunta
Dareh - O que você mais gostaria de ter nas mãos quando um alienígena perigoso
estiver há poucos metros de lhe atacar mortalmente? O convidaria para jantar?
- Provavelmente! Se eu soubesse o que
ele gosta de comer.
- Ótimo!Agora temos uma tática perfeita!
“Alimente seus inimigos” – disse Dareh, preocupado com a recusa do amigo em não
usar armas para se defender.
Mei se aproxima de Yusuke.
- Sei como se sente, também não quero
armas. Descobriremos outras maneiras de nos mantermos vivos.
Aveline olha para Dareh e Lunn esperando respostas.
- Não precisa Mei! Já descobri uma
maneira! Aveline temos armas maiores?
A tenente abre uma caixa:
- Temos sim Dareh. São as melhores!
Temos esse com mira lazer e projéteis de nêutrons que perseguem o alvo!
- Já usei essa arma em simulação!
Muito eficiente! Quero um desse e muita munição!
Lunn levanta a mão:
- Consiga duas!
Aveline se aproxima de Mei e Yusuke.
- Tenho armas boas para vocês! Não
são letais, mas podem atrasar bastante o inimigo.
- Começamos a nos entender! – Disse
Yusuke, que olha para Dareh.
- Como são essas armas? – pergunta
Mei.
- São armas paralisantes. Se as
criaturas tiverem pelo menos um sistema nervoso em seus corpos, vão cair fáceis
com os disparos. Você pode ajustar para projetar cinco disparos ao mesmo tempo.
- São perfurantes?
- Não Yusuke. São projeteis plásmicos
com cargas elétricas.
- E também perseguem os alvos?
- Até o inferno! – disse Aveline com
determinação, levando a mão para o alto e destravando a arma.
- Hum. Isso vai ser divertido.
- Mei poderá usar algo mais leve.
Essa pistola sônica de longo alcance. Vai atordoar seus inimigos. Seu raio é de
30 graus. Quando a luz do dia retornar faremos alguns testes.
Enquanto Aveline falava, Lunn
digitava em seu consulte no pulso:
- Temos uma geologia interessante
nesse ponto do planeta. Aquela cadeia de montanhas pode ser responsável pelo mau
funcionamento de alguns equipamentos da cápsula de fuga.
- Como assim? – pergunta Mei.
- Não tenho certeza. Temos que chegar
mais próximo para fazer leituras corretas. Mas se eu estiver certo, podemos nos
abrigar em alguma caverna com a vantagem das criaturas não se materializarem lá.
Yusuke respira profundamente:
- Boas notícias sempre são
bem-vindas!
Capítulo
14
KREITAJXO SENBRUA
(Criatura Silenciosa)
O Cruzador Sankta Spirito estava seguindo para o Planeta Kolonjo quando
subitamente saiu da hipervelocidade. O casco da nave mudou sua cor e brilho,
passou de branco para um vermelho vivo. As luzes internas também ficaram
vermelhas por alguns segundos, sinalizando alguma emergência.
Foi um alerta atípico e extremamente preocupante. O Comandante Akash estava em seus aposentos, envolvido com pensamentos
distantes e recordando o passado. Ele recolhia e acondicionava alguns objetos
pessoais numa caixa, pois em breve deixaria seu posto militar e a liderança do
cruzador.
- Isso não é bom!
– pensa o comandante, achando estranho a ponte demorar em fazer contato e
relatar o motivo da nave parar.
O sinal sonoro avisa que alguém está na
porta. O comandante autoriza a entrada e ver o Soldado Lear parado com
a cabeça baixa.
- O que houve
Lear?
O soldado sem levantar a cabeça e
extremamente constrangido vai direto ao assunto.
- O Planeta
Coroni foi atacado por alienígenas desconhecidos. Há mortos e desaparecidos na Cidade de Estania.
Foi um ataque silencioso e rápido. Recebemos agora a mensagem de um grupo de
comunicadores de montanha que fica próximo ao Lago Lujik. Existem sinais de
resistência militar e proteção de sobreviventes em outras cidades do planeta,
eles pedem socorro imediato.
Um silêncio sepulcral envolve o
comandante. O soldado levanta a cabeça com os olhos visivelmente emocionados.
Seu rosto ainda estava úmido das lágrimas que em vão tentava esconder e enxugar
com a ponta dos dedos. Os oficiais da ponte o escolheram para dar a triste
notícia.
- Nós sentimos
muito, Senhor – disse o soldado com a voz embargada.
O Comandante Akash respira
profundamente, se aproxima do soldado pondo a mão em seu ombro.
- Ponte!
Transfira!
A ponte de comando obedece e
teletransporta os dois.
Os oficiais e técnicos observam em
silêncio a chegada do comandante e aguardam instruções.
O comandante com um tom de voz frio e
olhar penetrante olha para outro oficial:
- Capitão!
Relatório.
O Capitão Galen Menon, oficial humarante
aumarino, inicia o resumo dos fatos exibindo projeções holográficas.
- Durante a
hipervelocidade, o cruzador acumulou centenas de mensagens na galáxia,
provocando uma parada de segurança. A grande maioria das mensagens são
rebatimentos das estações de fronteiras e do Planeta Kolonjo. Temos registros
de presença alienígena hostil não autorizada em Áxis, com informes de ataques
no Planeta Coroni, nas estações de fronteiras, em especial nos cruzadores de
apoio da Estação Sul e uma nave de escolta do Cargueiro Apox.
- Quantos mortos?
- Existem desaparecidos, mas nossa
estimativa é entorno de um milhão, duzentos e vinte mortos.
- Qual a situação no Planeta Coroni?
- Segundo o rastreamento remoto
realizado pelos comunicadores de montanha, a população de Estania foi impiedosamente atacada senhor. A
ação foi rápida, não houve tempo de reação militar. Em outras cidades tivemos resistência com muitas baixas. Temos seis
técnicos em confinamento na montanha solicitando resgate.
- Capitão!
Classifique as informações. Complete as de Coroni.
- Não sabemos ao
certo como os comunicadores de montanha sobreviveram. Talvez esteja relacionado
com o campo eletromagnético da central, mas nada conclusivo. No momento não há
sinais de sobreviventes em Estania, mas existe a possibilidade de encontrarmos
devido aos abrigos subterrâneos. Temos algumas imagens do ataque que comprova
que foi expressiva a presença inimiga no planeta.
O Comandante Akash observa as
cenas, ele cerra o punho com tanta força que parece que vai quebrar os dedos.
- Quem são eles?
- Nenhum registro
destes seres, comandante. Temos ataques sincronizados de duas espécies
aparentemente anfíbias. Uma atacou do lado dia do planeta, a outra iniciou no
crepúsculo do anoitecer. A primeira parece se materializar no solo e a segunda
surgiu das águas. Acrescenta ao ataque, um tipo desconhecido de vespas
venenosas com mais de um metro de comprimento que surgiram em nuvens aos
milhares.
O capitão continua falando e o comandante
sem piscar os olhos procurava em vão achar Aurora nas imagens.
- Comandante! Comandante
o senhor está bem? – chama atenção o capitão.
- Informe sobre Kolonjo!
Outro holograma com um mapa estelar aparece na apresentação do capitão
evidenciando a região Q-86. O capitão continua o relato:
- Uma tripulação de escolta do cargueiro
foi invadida por aturianos. Dos quatros tripulantes, três estão desaparecidos e
outro foi encontrado numa cápsula de fuga. Um piloto chamado Aturo, filho da
Embaixadora Suna Levigo, que morreu minutos depois de ser resgatado pelo
Cruzador Eta. Um alerta geral de quarentena foi ordenado pelo General Anor
Meadhas para scaneamento de DNA em toda frota, com foco de análise química de
vestígio aturiano para todos os NRs da Federação Áxis.
- Onde está o Cruzador Eta?
- Seguiu para interceptar e dar apoio
ao Cargueiro Apox.
- De onde partiram os primeiros
alertas?
- Surgiu da Estação de Fronteira
Norte e retransmitido pela Estação Sul. Recebemos informes de ataques em todas
as estações e curiosamente a Estação de Fronteira Sul é a única que está
transmitindo sinais apesar de se encontrar em órbita aleatória.
- Estação Sul?
- Positivo senhor.
- Mortos?
- Temos mortos confirmados nas
estações leste e oeste. O comando de Rugo informou que o Capitão Adani e o
Tenente Lido foram resgatados pelo Cruzador Marte. Eles escaparam da Estação
Norte antes de uma grande explosão.
- Algum contato com os cruzadores
próximo a Estação Sul?
- Não temos sinais dos cruzadores
senhor, mas recentes imagens dos telescópios de órbita confirmam explosões em
suas antigas posições próximas ao asteróide da Estação Sul.
- Ataques externos?
- Não senhor, não havia naves. Foram
surpreendidos por materializações de milhares de alienígenas em todas as
instalações das naves. Houve reação militar mal sucedida, não tiveram tempo
para entender o que estava acontecendo. Os comandantes ativaram o sistema
automático de autodestruição. Uma tragédia senhor – O capitão baixa a cabeça em
sinal de respeito.
- Existe sobreviventes no asteróide
da Estação Sul?
- As leituras termais indicam que se
encontra vazio. Temos confirmação de que a equipe da estação, acompanhada pelo
Comandante Sarte seguiram para visita exploratória no Planeta Gir antes dos
cruzadores serem atacados. Infelizmente não sabemos a suas posições e se estão
vivos.
- O mal retorna para aterrorizar
nossas vidas!
- Não tenho dúvidas disso senhor! Aqui
tem outra mensagem que confirma isto! Vem de Tryari, sede da Galáxia de Rhisvi.
Houve ataque de aturianos disfarçados em falsas cópias de gruns que estavam em
nave de origem desconhecida. Aqui diz que a última procedência de rota foi
calculada numa região próxima ao Planeta Gir.
- Houve vítimas?
- A situação foi controlada a tempo.
Felizmente não houve vítimas. Toda a Galáxia de Rhisvi está em alerta.
- O que sabemos sobre esses seres?
- Desconhecidos, senhor. O pouco que
sabemos de sua natureza foi enviado pela Estação Norte. Sua presença em Áxis
tem relação comprovada com as miragens identificadas pelos observadores de
estação. O mais incrível disso senhor, é que eles viajam aos milhões pelo
espaço, desfragmentados em partículas subatômicas. O Capitão Adani marcou suas
rotas migratórias e neste momento eles estão seguindo para os Planetas Urbo,
Kolonjo, Rugo e Oceano.
- Alguma presença em Gir?
- Não sabemos senhor! Perdemos todas
as comunicações de fronteiras e os telescópios de orbita não captam. Mas de
acordo com os cálculos do Capitão Adani, os demais planetas habitados em Áxis
por enquanto estão salvos. O alerta chegou a todos os mundos da federação, o
efetivo militar foi reforçado e a população foi recolhida em abrigos.
- Um ataque estratégico! Coroni é um
dos principais planetas que fornecem alimentos para a federação. Agora estão
direcionados para planetas sedes. Eles não temem a morte, são suicidas com a
única intenção de chamar atenção utilizando o medo, o pânico e a dor.
- Faz sentindo senhor. E estas forças
têm poderosos aliados totalmente desconhecidos para nós.
Um oficial de comunicação se aproxima.
- Senhor! O General Meadhas está no
canal privado. Solicita a sua presença no Ponto Lumo.
A mensagem causa uma ansiedade na
tripulação da ponte de comando.
O Comandante Akash se dirige para uma
pequena plataforma, olha para todos ao seu redor e sinaliza com a cabeça para o
capitão, ordenando que seja teletransportado para o Ponto Lumo (Ponte Luz).
Esse compartimento só foi utilizado pelos
últimos quatro comandantes do Cruzador Sankta Spirito, todos eles já haviam
falecidos em avançada idade.
O seu segredo só é conhecido pela alta
cúpula da federação. O Comandante do cruzador é o único oficial autorizado para
isso, mas até entrar no Ponto Lumo, desconhece a função desse lugar especial.
Ao ser transportado, o comandante
encontra-se em ambiente escuro. Em seguida uma grande fresta vertical de luz
branca se abre como uma cortina, circulando todo o recinto, tornando-o agora
totalmente branco e brilhante. Ele escuta uma voz masculina e conhecida.
- Seja bem-vindo a
Ponto Lumo, Comandante Akash!
- Dankon
(Obrigado)
O comandante procura a origem da voz.
Um
ser transparente, trajando uma túnica branca, surge poucos metros a sua frente.
- Sua presença nos
honra meu amigo.
- Comandante
Prismo!
- Apenas Prismo.
Ainda estamos no Sankta Spirito lembra? E você é o comandante. Fico feliz em
revê-lo. Este é um momento especial Akash. Estou aqui para lhe orientar sobre o
uso do Ponto Lumo. Esse conhecimento só pode ser repassado de um ex-comandante
para outro.
- Também estou
surpreso e emocionado em revê-lo. O que devo fazer?
- O Sankta Spirito
é uma nave poderosa. Existem muitos mistérios ainda não revelados aqui. Mas o
que você deve fazer é relativamente simples.
O ambiente fica novamente escuro e um
caminho iluminado aparece, guiando até uma cadeira reclinável. Prisma ergue o
abraço, convidando o comandante ir até ela.
- Daqui comandarás
o Sankta Spirito, ou melhor, todos eles.
- Eu não entendo.
- Você entenderá
quando sentar na cadeira Akash. Sua mente será sincronizada com o conhecimento
da sua operação e ativada de acordo com as necessidades. Não tema, feche os
olhos, relaxe e respire fundo. Sinta o poder que deverá ser sabiamente
conduzido. Até breve.
A imagem de Prismo desaparece.
O Comandante Akash senta na cadeira e
reclina o corpo. Fecha os olhos e segue as orientações projetadas em sua mente.
Ao abrir novamente os olhos, o comandante vislumbra todo o espaço sideral ao
seu redor. Consegue deslizar na parte externa e interna do Cruzador Sankta
Spirito. Consegue ouvir as vozes de toda a tripulação e também seus
pensamentos. O Comandante Akash tem todos os seus sentidos do corpo
harmonizados e ampliados. O Ponto Lumo completou sua sincronia.
Uma imagem facial do General Meadhas aparece.
- Comandante!
- General.
- Comandante, sei que não há muito
que dizer nesse momento de profunda tristeza. Estamos sendo mais uma vez,
vítimas de inimigos implacáveis e desconhecidos. Tomamos todas as providências
possíveis para proteger nosso povo e o Sankta Spirito é um legado poderoso
contra os nossos inimigos.
- O que devo fazer general?
- Interceptar o inimigo e neutralizá-los,
utilizando todos os recursos do Ponto Lumo. Estamos desenvolvendo táticas de
proteção na atmosfera, mas não sabemos há quanto tempo estes seres já estão
entre nós. Já temos relatos de aparições em algumas regiões em Urbo. As estações
de fronteiras foram destruídas, mas o Sankta Spirito possui uma capacidade
tecnológica superior para provisoriamente substituir essas funções de
transmissões.
- Estamos prontos general! Manteremos
informado.
- Faça isso! E amigo, falando extra
oficialmente, encontre a minha filha.
- Mei e os demais estão
desaparecidos, mas acredito que ainda estão vivos. Vamos encontrá-la general! É
uma promessa!
A imagem do general se desfaz.
Sempre na cadeira, o comandante concentra
o pensamento e se desdobra mentalmente para a ponte tradicional. Ele ver os
técnicos e oficiais de comando e se aproxima do Capitão Menon que não percebe a
sua presença. O comandante envia uma mensagem que é escutada em toda a nave.
- Tripulação do
Sankta Spirito! Aqui é o Comandante Akash. Informo que o Ponto Lumo foi mais
uma vez ativado. Agradecemos aos deuses e os nossos ancestrais por esta feliz
oportunidade. A federação está sendo mais vez ameaçada por forças aliadas
desconhecidas estão causando dor e sofrimento ao nosso povo.
A tripulação fica imóvel, olhando para
cima, sem acreditar no que está acontecendo.
- Estamos seguros
aqui e não tememos a morte! O que é verdadeiro vence o tempo, a imaginação e a
realidade. Nesse momento! Cada átomo, cada ar respirado, cada emoção e
pensamento são compartilhados entre nós, faz parte da estrutura e da alma desta
nave. Por que somos agora, o Sankta Spirito!
A tripulação aclama emocionada e sente na
pele a emoção de está ali, apesar das tristes circunstâncias.
O Cruzador tem sua energia desligada. Tudo
fica escuro. A tripulação se acalma aguardando o som de aviso, e quando
acontece, o Cruzador Sankta Spirito se torna mil vezes mais radiante do que
era. Em outros povos, esse momento raro da nave o fez conhecido com o nome de
Estrela brilhante.
A luminosidade interna da nave se torna
extremamente nítida, o ar tem a pureza e o frescor das montanhas. Enquanto o
Ponto Lumo estiver ativo, a tripulação não precisará falar para serem
compreendidos, pois todos agora se comunicam mentalmente. Não haverá sono,
fadiga, fome ou sede. Seus corpos se mantêm constantemente revitalizados e um
sentimento de plenitude e de conhecimento é compartilhado com o Ponto Lumo.
No painel de controle da ponte tradicional,
surgem novas funções e novas ordens do comandante:
- Capitão! Vamos
desmembrar o cruzador! Transmutação de Projeção do Sankta Spirito 2.
- Desmembramento
iniciado senhor!
Lentamente, desprendendo-se como um
espírito que deixa o corpo físico, surge outro cruzador, etéreo e de cor
violeta, tão brilhante quanto o primeiro. Miríades brilhantes cintilam ao seu
redor.
- Sankta Spirito 2
desmembrado senhor! Aguardando destino!
- Planeta Gir! – ordena
o comandante.
O cruzador violeta faz uma rápida manobra,
intensifica mais ainda o seu brilho e desaparece.
- Capitão! Nova
rota para o Sankta Spirito! Siga para o Planeta Coroni!
- Planeta Coroni,
rota estabelecida senhor!
- 100 % de
velocidade e organize as tropas de reconhecimento! Estamos em alerta máximo!
O som avisa a tripulação. O cruzador salta
na hipervelocidade.
No Planeta Kolonjo, Solaris Meadhas chega à Cidade de Cristal. Ela se encontra com o general em
um dos terraços. Solaris o abraça:
- Anor! Finalmente!
- Que bom que está aqui! Estou muito
aflito com desaparecimento de Mei, não temos notícias dela.
Solaris acaricia o rosto do general:
- Acalme-se meu querido, sinto que
ela está bem.
- Como você pode garantir isso?
- Não sei explicar, mas é uma certeza
forte dentro de mim. Sim, ela corre riscos como todos nós, mas temos que
confiar naqueles que a protegem. Ela é especial e tem um poderoso instinto de
preservação.
O general lembra quando Prismo Enar, o
antigo comandante do Cruzador Sankta Spirito entregou Mei para eles. Na
ocasião, havia dito que a criança foi teletransportada para a nave em
circunstâncias não reveladas, e que havia recomendações para que fosse adotada
por eles. Curiosamente, a própria Solaris também havia sido adotada. O nome Mei
foi sugerido por Flavius Fídio, padrinho, instrutor e grande amigo do General Meadhas, quando ele ainda morava no
Planeta Coroni, sua terra natal.
Solaris não engravidava e também se recusava a submeter-se a métodos
artificiais para conseguir. Quando Mei entrou em suas vidas, parece que tudo no
mundo começava a fazer sentido.
- Tenho confiança que eles estejam no
Planeta Gir.
- Alguma nova informação dos nossos
irmãos de Coroni?
- O Comandante Akash está a caminho com uma tropa de reconhecimento.
Acharemos os sobreviventes.
Os dois se abraçam. O general recebe uma
mensagem. Uma minúscula esfera de luz se aproxima flutuando e gerando uma
imagem holográfica.
- Sim!
- General! Temos
dois médicos da federação em confinamento. O rastreamento químico encontrou vestígio aturiano! – informa Tarid.
- Mais alguém?
- Não senhor! Esses médicos trabalham
em Urbo, exclusivamente com os diagnósticos dos observadores das estações de
fronteiras.
- Minhas ordens são para que coloque
os dois nas câmaras de hibernação! Transfira-os para um cruzador e siga na rota
de encontro do Sankta Spirito imediatamente.
- Entendido
senhor! – a bola de luz se dissipa.
O general volta a falar com Solaris.
- A Embaixadora Suna Levigo está se recuperando na
câmara e em algumas horas estará em seus aposentos. Você poderia fazer-lhe
companhia? Ela está muito abalada.
- Sim. Vim para ficar ao seu lado e
ajudar no que for possível. Em Urbo a população está apreensiva e assustada.
- São tempos difíceis, vamos reagir,
eu prometo!
Mais uma vez a esfera de luz se aproxima.
- General! As
sondas de órbita indicam que temos alterações negativas de visualizações de
brilho em 80 % das estrelas de várias constelações! As partículas migratórias
já envolvem Kolonjo! Estamos com distúrbios eletromagnéticos e perdendo
comunicação com Rugo, Urbo e Oceano! Estão atravessando a exosfera senhor!
- Acione o alerta!
A Cidade de Cristal vai submergir!
O general olha para Solaris:
- Preciso ir!
Fique com a embaixadora!
Eles se abraçam mais uma vez. O general
ordena que sejam tele-transportados.
Uma gigantesca cúpula de energia envolve a
cidade que aos poucos desce sob as brancas areias para o núcleo do planeta.
Portas e janelas de todos os prédios são fechadas automaticamente. Uma nuvem
com bilhões de vespas acompanhadas de guerreiros trois começam a se materializar no solo. O Planeta Kolonjo se prepara para o ataque.
O General Meadhas está de pé numa ponte de comando, olhando as
imagens da invasão e aparentando muita tranqüilidade. Ele orienta um oficial nos
procedimentos e pede para que aguarde o sinal.
- Quero que todos eles desçam!
Em solo, o inimigo fica confuso, pois não ver o que atacar. Só areia e
vento.
- Temos confirmação senhor! Estão
todos abaixo da atmosfera e em solo!
- Oficial! Faça as honras da casa!
- Será um prazer senhor!
A ventania se intensifica em todo o Planeta Kolonjo. Intensas rajadas de
vento e areia espalham as vespas e imobiliza os trois que perdem o equilíbrio e
tentam em vão ficarem de pé, vocalizando como loucos.
Descargas elétricas intensificam o início de fenômenos atmosféricos
violentos e centenas de colunas de ar tocam o solo formando gigantescos
tornados com quilômetros de altura e velocidades superiores 800 km/h sugando
todo o oxigênio para o interior do planeta.
Aos poucos, os trois agonizam pela falta de ar, perdendo a consciência e
sendo despedaçados pela força dos tornados. O céu azul do planeta não mais
existe, não há mais atmosfera, apenas o perigoso vácuo do espaço e partes de
corpos flutuando. O Planeta Kolonjo retorna a sua forma original: A Arca-lua.
- Arca-lua em ativação senhor!
- Perfeito! Conseguimos capturar
alguns?
- Temos uma espécie de cada senhor!
Estão inconscientes seguindo para a quarentena.
- Quando despertarem, vamos
finalmente descobrir muito sobre eles! Transfira-me para as câmaras de hibernação,
estarei com a Embaixadora Suna.
No Ponto Lumo do Cruzador Sankta Spirito, o Comandante Akash altera sua freqüência cerebral e entra em
estado alfa. Sua consciência e estado emocional são transferidos para o Sankta
Spirito 2.
O comandante percebe que não está no Ponto Lumo. Encontra-se de pé, numa
espaçosa sala de observação panorâmica. Ele caminha e ver uma mulher de costas,
contemplando a velocidade com que a nave se desloca por entre as estrelas. Trata-se
da Embaixadora Suna Levigo.
- Embaixadora?
- Comandante Akash! Estava lhe aguardando.
- Senhora, soube o
que aconteceu ao seu filho, lamento profundamente.
- Houve mortes de
muitos filhos, todos nós lamentamos. Felizmente, Gardeno ainda está seguro.
- Existe algo que
eu possa fazer para apaziguar tamanha tristeza?
- O senhor já está
fazendo comandante. Terá a oportunidade de conduzir o destino do nosso povo.
- Sem dúvida, uma
grande honra senhora. Mas antes tenho contas a acertar com recentes inimigos.
- Poderia haver
alguma nobreza e respeito em chamá-los de inimigos? Um grupo de seres covardes que
nos deseja a extinção?
-Teremos que
enfrentá-los com nossas próprias forças, minha senhora. Os deuses não nos
abandonaram, apesar do inimigo já bater em nossa porta.
- Na verdade
comandante, eles já entraram. Apesar de hostis, alguns deles são aliados fracos
e desarmados, suicidas em potencial. Foram derrotados pelo General Meadhas. A
Arca-lua ressurgiu e estamos seguindo para ajudar Urbo.
- Fico feliz por
isso, senhora.
A embaixadora segura às duas mãos do
comandante.
- Sei que está
fazendo um grande esforço para controlar a sua fúria e tristeza, mas tenha fé
comandante. Precisamos da sua força e do seu equilíbrio.
- Farei o melhor
possível. Sou grato pelas palavras.
A embaixadora olha para a janela
panorâmica.
- O espaço visto
dessa dimensão é maravilho!
- Hipnotiza a alma. Para mim está sendo
uma experiência inexplicável.
- Esta se saindo bem comandante.
Espero que tenhamos outra oportunidade de nos encontrar-mos.
- Será um momento feliz, senhora.
- Agora preciso ir comandante. Já
escuto a voz do general ordenando meu despertar da câmara.
A embaixadora se despede com as mãos postadas e uma expressão serena.
Sua imagem desaparece.
O comandante caminha um pouco pela nave para se familiarizar e depois
retorna a sua consciência para o Ponto Lumo, comunicando a tripulação sobre o
triunfo do General Meadhas em Kolonjo. A notícia é comemorada.
Dos inimigos que não se materializaram e sobreviveram à explosão nuclear
da Estação Norte, uma parte de dividiu e seguiu em direção ao Planeta Gir. A
outra parte chegou ao Planeta Rugo, onde aos poucos vão se materializando e
procurando desconfiados por suas vítimas, mas nada encontram. O Planeta Rugo,
que tem uma população pequena e basicamente militar parece está desabitado.
Um alienígena encontra um dos seus, morto no chão. E antes mesmo de
vocalizar um alerta, tomba misteriosamente. Um som metálico e giratório
perturba os inimigos que vão caindo feridos e lacerados um a um, assim como, as
grandes vespas. Eles percebem a emboscada e se deslocam para se protegerem
subindo em colinas e procurando fendas nas rochas e no chão. Ouvem-se disparos
e explosões, e mais criaturas são mortas.
Uma centena deles que surgem em outros pontos do planeta enfrentam as
mesmas situações. Não conseguem ver nada, e os únicos sons percebidos são do
vento e dos grunhidos de dor e da voz aguda de alguns.
Próximo a Cidade Rugo, sede do planeta, um pequeno grupo de alienígenas
feridos não conseguem atravessar uma barreira de força, estão encurralados.
Sentem a presença dos seus agressores, mas não conseguem se defender.
Numa tentativa desesperada, eles emitem sons de alta freqüência que não
causa os efeitos esperados.
- Capitão Adani! Estamos concluindo o
vôo de reconhecimento. O inimigo foi destruído em toda a superfície!
- Muito bem tenente! Tenho alguns
rapazes encurralados aqui, vamos prendê-los.
Toda a população civil de Rugo estava no interior da cidade, protegida
por um campo de força, cuja vibração não permitia a passagem das partículas
inimigas, esmagando-as com o impacto.
O restante militar estava fora, no ar e no solo, espalhados pelo
planeta. Para ter vantagens sobre o inimigo, eles utilizaram um disfarce
plasmônico, avançada tecnologia que permite envolver qualquer material
tridimensional e fazê-lo invisível no ambiente natural em qualquer direção ou
ângulo. Outra arma letal também usada no combate foi às milhares de lâminas dos
discos giratórios, que também invisíveis, causaram grandes estragos no corpo
dos inimigos.
O Capitão Adani ordena para todos desligarem os dispositivos de
invisibilidade. Os alienígenas observam os militares e ficam atentos, vocalizam
novamente, na tentativa de afastá-los. O perigo som não causa efeitos, pois
todos os soldados estão usando protetores auditivos, esse ataque nefasto do não
podem feri-los.
- Vamos acalmar nossos visitantes!
Congele-os!
As criaturas recuperam as forças e se reorganizam. Numa última tentativa
desesperada avançam para cima dos soldados aos saltos longos. Mas antes que
consigam, caem completamente imóveis com os jatos de gás congelante.
- Sempre soube que eles não gostam de
frio! Ficam lentos - disse o capitão, tocando em um dos alienígenas no chão com
a ponta da bota.
- Foi um combate fácil, capitão!
- Não subestime o inimigo soldado!
Isso não foi um combate foi uma carnificina. Veja! Eles não usam armas
tecnológicas, apenas a natural, garras venenosas, força e agilidade, uma voz
mortal que faz estourar a sua cabeça e sabe os deuses o que mais!
- Espero que esses sejam os últimos,
senhor! – fala outro soldado aliviado.
- Não conte com isso! A festa só está
começando! Eles estão nos testando por alguma razão e não gosto disso!
- Senhor! Temos transmissões do
Sankta Spirito! Kolonjo venceu o inimigo! A Cidade de Cristal está salva!
A tropa comemora.
- Avise ao Comandante Akash que Rugo
também fez a sua parte!
- Com prazer senhor! – anima-se o
soldado de comunicação.
No Planeta Oceano, todas as cidades flutuantes submergiram nas águas,
enquanto outros milhares de esferas de combate saem dela, ficando estacionadas
no céu. As cidades-torres se retraíram e centenas de mastros surgem do solo
laçando raios para o céu e alterando o clima na alta atmosfera para
temperaturas abaixo de zero.
Na cidade flutuante de Sireno,
o Embaixador Nuada Nin observa tranquilamente as imagens da concentração das
partículas em um ponto da galáxia.
Um oficial se aproxima:
- Embaixador. Todas as formas de
destruição destes seres já foram testadas com êxito. Sabemos que o frio não os
mata, mas os tornam lentos e vulneráveis. Mesmo assim eles insistem em atacar.
- Desconfio que não seja um suicídio
sem propósitos. Eles sabem que correm riscos de morte e mesmo assim avançam
como se disso dependessem as suas vidas.
- Não há possibilidade de
sobreviverem. Não chegarão vivos.
As primeiras criaturas iniciam as materializações e atravessam a
atmosfera sendo incinerados antes de chegarem ao solo. Uma intervenção
eletromagnética impossibilitou de localizar o solo e as camadas de gelo na
atmosfera os confundiram.
Uma cena jamais imaginada acontece, onde milhares de corpos das
criaturas materializadas que conseguiram entrar na atmosfera, literalmente
caindo mortas do céu. Algumas mais resistentes começam a sufocar por não ter
sido vacinadas contra um poderoso vírus, desenvolvido e controlando pelos
cientistas de Oceano.
Para proteger o seu frágil e preservado ecossistema, nenhum ser do
universo sobrevive nesse planeta se não for vacinado, até mesmo os aturianos.
Todos os humarantes já nascem com imunidade ao vírus e tem trânsito livre.
Outros seres, uma vez respirando ou tendo contato com o ar, o sistema orgânico
entra em colapso em poucos segundos.
Uma nave inicia a coleta de alguns corpos, enquanto as esferas de ataque
disparam nos demais, desintegrando-os no ar. O inimigo foi totalmente
neutralizado.
Algumas horas depois a bordo do Cruzador Sankta Spirito, o Comandante Akash recebe uma comunicação.
- Senhor! Os
inimigos foram destruídos em Oceano! Não chegaram a tocar o solo.
- Boas notícias. Mas
não esperava outro resultado, seria um insulto aquele lixo anfíbio sujar um
belo planeta.
- Senhor! O
embaixador Nuada está em canal privado.
Uma
imagem holográfica se projeta a frente da cadeira do comandante.
- Embaixador, é
uma honra revê-lo.
- Sinto a mesma
alegria comandante. Tomamos as providências para que a sua promessa de passar
uma temporada com nosso povo esteja garantida.
- Parabenizo a
todos, embaixador.
- Agradecemos
comandante. Temos novas informações sobre o inimigo. Analisamos alguns corpos
no laboratório e constatamos que as criaturas são hermafroditas e possuem um
mecanismo de auto-reprodução por esporos.
- Impressionante!
Penso no efeito que isso causa.
- Sem dúvida. Infelizmente
esse conhecimento chegou atrasado. Todos os planetas que foram atacados por
eles, com exceção de Oceano, correm perigo. Mesmo mortos, o contato dos esporos
com a água acelera o desenvolvimento embrionário, induzindo um crescimento de
curtas fases de metamorfose.
- Isso é
inesperado embaixador.
- Digo que bem
planejado comandante, sabia que ficaria surpreso. São criaturas silenciosas e
obscuras. Identificamos duas espécies anfibinóides e suas anatomias indicam que
podem sobreviver em qualquer ambiente aquático ou terrestre que possuam
condições análogas a nossa espécie. Existem indícios que vivam em regiões
subterrâneas. Os nossos cientistas comentam que essa espécie poderia num
processo evolutivo diferente, se tornarem uma raça semelhante a nossa.
- Embaixador. Não
podemos produzir o mesmo vírus utilizado em Oceano em grande escala. Temos
alguma vantagem?
- A vantagem
existe para os planetas e regiões com baixas temperaturas e com uma fauna que
possa atacar essas criaturas na fase larval, apesar de não sabermos as
conseqüências disto. O vírus foi desenvolvido para proteger o Planeta Oceano de
alienígenas, além de não oferecer risco para o povo humarante, também não
oferece riscos para a nossa biodiversidade. Nunca foi nossa intenção em fazer o
mesmo em outros mundos, a sobrevivência de nossa raça está ligada a pureza das
águas.
- O que faremos
então?
- Sugiro uma
migração em massa das populações para as regiões mais frias de seus planetas.
- Os esporos
sobreviventes ainda é uma ameaça.
- Comandante. É
preciso que sejam capturados vivos, enquanto um vírus específico que possam
detê-los seja pesquisado e produzido. Mas para isso, precisamos de espécimes
para realizar os testes, todos que atacaram Oceano estão mortos.
- Tivemos
confirmação de algumas capturas em Rugo, ordenarei para que os envie para
Oceano.
- Faça isso,
comandante. Temos uma biosfera no laboratório, estarão protegidos do vírus e
poderemos estudá-los melhor.
A imagem se desfaz. O comandante transmite
para todos os mundos que se desloquem para as regiões frias e que as criaturas,
se possível, sejam capturadas vivas. Em Rugo, o Capitão Adani recebe instruções
para participar da condução dos corpos dos inimigos para o Planeta Oceano.
Capítulo
15
INVADO
(Invasão)
O General Anor Meadhas ordenou a transferência da população, cujos
planetas foram atacados pelos anfibinóides,
para que permaneçam nas regiões geográficas mais frias. Essa operação gerou uma
grande mobilização de naves militares, civis, de transportes comerciais e
cargueiros. Tudo foi deixado para trás por milhares de famílias que agora se
abrigam em cidades subterrâneas.
No Planeta Urbo, apenas os embaixadores e
seus auxiliares permanecem na sede da Embaixada Unida. Toda a região de Sudaj Ventoj está fortemente
protegida, aguardando o ataque inimigo que já cruza a exosfera se dirigindo
para a superfície do planeta.
As primeiras centenas de criaturas iniciam as materializações. Surgem no
solo e nas águas, no alto das torres, em ruas desertas e dentro de instalações
e residências. Eles gritam, quebram o que está pela frente, se irritam. Um dos
líderes vocaliza chamando seu grupo e se reúnem num grande pátio da cidade.
O silêncio já indicava que não havia ninguém para atacar, mas eles estão
inquietos, percebem um som de baixa freqüência que se desloca em alguns
quilômetros do entorno.
O vento se intensifica cada vez mais, sendo substituído por uma forte
neblina que cobre a cidade.
Outros grupos inimigos se
reúnem no pátio e dessa vez com a chegada de um enxame de vespas que rodopiam
nos ares. Aos poucos a neblina vai dissipando, fazendo surgir uma dezena de
soldados humarantes, curiosamente desarmados e exibindo indumentárias que
representam várias culturas da federação.
Sem perder tempo, os inimigos correm furiosamente para atacar os
soldados que continuam imóveis, apenas observando. Faltando alguns metros para
serem atingidos, os soldados se desfragmentam numa fina poeira contendo bilhões
de cepas nanorobs que os envolvem. As microscópicas máquinas penetram nos olhos
e bocas dos anfibinóides e vespas,
dilacerando-os por dentro e posteriormente fazendo-os acender e queimar com
intensa luz radioativa. Nenhum esporo-ovo ou traço de DNA sobrevive a esta
exposição, que acontece simultaneamente na Embaixada Unida e em todas as
regiões ameaçadas do planeta.
Algumas horas depois, na Embaixada Unida,
uma nuvem de nanorobs entra por uma janela e se compacta perante os
embaixadores. Assumindo a forma de um jovem humarante aumarino e com uma voz
eletrônica, ele informa que o inimigo foi neutralizado e que o planeta está
desinfetado, não correndo riscos de desenvolvimento de vida alienígena.
Um sentimento de alívio é experimentado e
compartilhado entre os embaixadores, auxiliares e militares. A forma humarante
se desfragmenta, deixa a sala e se uni em nuvens, as demais espalhadas pelo
planeta, dirigindo-se para local desconhecido.
O Cruzador Sankta Spirito chega a orbita
do Planeta Coroni, mas não se limita a ela. Penetrando na atmosfera, o cruzador
se aproxima alguns quilômetros do solo, acima da Cidade de Estania, produzindo
uma grande sombra sobre ela.
O Comandante Akash ordena a saída das
naves de reconhecimento e ataque. Uma nuvem de nanorobs, semelhante a que
defendeu o Planeta Urbo, são lançadas do cruzador a procura de sinais
alienígenas em todo o planeta. O processo de desenvolvimento dos esporos-ovo é
rápido, já havendo metamorfoses de anfibinóides completando o estado adulto em
algumas regiões.
Os nanorobs interferem e finalizam os
ataques e desenvolvimento do inimigo e durante horas localizam humarantes
feridos e escondidos em abrigos.
- O Planeta Coroni
está desinfetado, senhor – avisa o oficial.
- Reúna todos os
irmãos que não estão feridos e que podem ajudar no trabalho de recolher os
corpos. Estou descendo ao planeta!
O Comandante levanta da cadeira e segue
para uma plataforma.
Próximo ao Lago Lujik, Akash se
materializa. Ele está diante do que sobrou da cerimônia de casamento de Smarvi
Novik e Nida Mi. Ele caminha apressado, procurando localizar o
corpo de Aurora. Outros soldados e voluntários se apresentam para ajudar.
Quase uma hora depois, um soldado se
aproxima do comandante e informa que o corpo de Aurora Mi não foi localizado em
nenhum lugar do planeta.
Akash olha silencioso para o soldado e
imagina onde estaria Aurora. Ele tinha certeza de que ela participava da
cerimônia. E caso tivesse oportunidade de se esconder, os nanorobs já teriam
encontrado.
- Senhor! Está me
ouvindo? – disse o soldado, chamando a atenção do comandante que está absorvido
em pensamentos.
- O que disse?
- O que faremos com
os corpos senhor?
- Leve-os para as
câmaras de criogenia! Quando isso acabar, prestaremos nossas homenagens
póstumas.
O soldado se retira e Akash olha mais uma
vez para o pátio de cerimônia, um vento seguido de um pequeno redemoinho de
poeira chama a sua atenção. No local ele ver um pequeno brilho no solo.
Curioso, ele caminha até o local, procura com cuidado, se abaixa e encontra o
colar que havia dado de presente para Aurora. Akash se emociona ao lembrar-se
do momento em que a entregou. Ele aperta o objeto na mão e fecha os olhos na
esperança de sentir a sua presença.
Desde a ativação do Ponto Lumo, as
faculdades psíquicas de Akash foram intensificadas e começam a se manifestar
progressivamente.
No momento em que ele toca no pingente do
colar, a habilidade de psicometria o faz observar tudo o que aconteceu nos
últimos instantes de Aurora. Ele a ver correndo ao tentar salvar uma criança e
observa que um ser alienígena alto e de pele úmida toca o seu braço, fazendo-a
perder os movimentos e cair poucos metros depois. O esforço de Aurora é inútil
e ela vai perdendo a capacidade de se movimentar. Ela segura o colar com as
mãos trêmulas, enquanto o alienígena se aproxima e o arranca a força. Aurora
desmaia chamando pelo nome de Akash.
O coração do comandante acelera diante das
fortes cenas. Ele agora ver a face do inimigo que segurando a corrente, fala
algo impronunciável, mas que mentalmente o comandante consegue entender e ouvir
como um sussurro rouco.
“ Akash? Chaz Ato volas infanoj unu dioj!” (Akash? Chaz Ato quer filhos dos deuses!)
“Lian
vivon! En sia mano!” (A vida dela em suas mãos!)
O comandante abre os olhos. Sua testa está
suada e sua respiração ofegante.
- Ela
está viva! Ela está viva!
O comandante se abaixa um pouco tonto. Um
soldado se aproxima e pergunta se ele está bem. Sem responder, Akash faz um
sinal com a mão afirmando que sim. O soldado não se convence e ajuda-o a se
levantar, comunicando o ocorrido a ponte do Cruzador Sankta Spirito que o teletransporta
imediatamente.
Enquanto isso, no Planeta Decan, Chaz Ato se materializa no platô da montanha
e diante dele, encontra-se o líder Sparis Orie que logo pergunta:
- Fizemos progressos?
- Certamente. As perdas das nossas
espécies foram muitas, mas quantidade não é problema, teremos quantas forem
necessárias.
- Trouxe a prisioneira?
- Está confortável em sua câmara, vai
sobreviver.
- O Comandante Akash desmembrou o
cruzador, um está no Planeta Coroni e outro dimensional segue em rota para o planeta
que chamam de Gir. O que será de tão importante que ele procura?
Chaz Ato acessa um painel e surge a imagem do planeta:
- Ainda temos trois na órbita, estão
impossibilitados de descer. Os cruzadores foram destruídos e o que possa
existir de humarantes no planeta é insignificante para a nossa causa. Não
existe transporte para eles retornarem e o frio é tão letal para eles quanto
para nós.
Hurt Isua se materializa:
- Uma das unidades de comunicações
não foi destruída e ainda transmite informações para a federação.
Sparis Orie se movimenta pelo platô:
- Mas é tudo o que queremos que faça!
Estamos completando cada etapa do nosso plano.
- Provavelmente o Cruzador Sankta
Spirito esteja atrás de confirmação de sobreviventes? – disse Hurt Isua.
Chaz Ato olha para Sparis Orie e esse insiste desconfiado:
- Ou deixaram alguém importante e
desprotegido para trás.
Próximo a um paredão de rochas escuras e lodosas, outra criatura misteriosa se aproxima:
- Ledorn Cinka! Estou impressionado
com o trabalho do seu povo! – elogia Sparis Orie.
- Captamos sinais mentais dos nossos.
Eles estão confinados em um cruzador que partiu do Planeta Rugo com rota
indicativa para o Planeta Oceano.
- Os aturianos infiltrados em Tryari
não responderam! Certamente foram descobertos e mortos! Vamos iniciar as
invasões em Rhivis e Áxis! Quero que entreguem os filhos dos deuses, em troca,
seus povos serão poupados! – ordena Sparis Orie.
Ledorn Cinka se aproxima:
- E quanto ao Planeta Gir e os nossos
que estão aprisionados no cruzador? Não podemos deixar que conheçam nossas fraquezas!
Sparis Orie cria uma nova missão:
- Retire seu povo da órbita do
Planeta Gir e ataque o cruzador de Rugo! Quero uma distração para que Rima Ad
siga agora para o Planeta Gir com uma legião de aturianos! Precisamos saber o
que o Sankta Spirito está interessado!
Um grande lagarto desce sorrateiro pela parede chegando ao chão. O
animal se transforma numa mulher humarante, completamente desnuda. Juix tu,
ainda na forma de Aturo Levigo, vem logo atrás, com uma manta cobre gentilmente
o seu corpo da mulher.
- Já estou pronta! Não tenho problemas
com o frio ou calor – disse Rima Ad.
Sparis Orie a observa:
- As forças de defesa da federação
estão protegendo seus planetas habitados e não tem interesse de enviar
cruzadores para o Planeta Gir. Seja discreta e tente descobrir o que está
acontecendo! Mantenha os aturianos guerreiros escondidos enquanto isto!
Sem responder, Rima Ad se retira para cumprir a sua missão.
Juix tu também a observa com admiração e se aproxima de Sparis Orie:
- Conseguiremos convencer o
Comandante Akash a entregar os filhos dos deuses?
- Ele não terá escolha. Dessa vez os
humarantes e Tryarianos estão em desvantagens, mesmo com ajuda dos deuses.
Juix tu demonstra satisfação:
- Um confronto final! O fim dos
humarantes! E poderemos então desfrutar desta galáxia.
- Sim! Os deuses não deveriam ter
penetrado nesta dimensão! Foi um erro! E como todo erro, gerou conseqüências
- Se pelo menos soubéssemos onde os
filhos dos deuses estão!
- Tenho fontes seguras que afirmavam
que um deles estava sob a proteção da Arca-lua e o outro reinando no Planeta
Tryari.
- E os demais?
- Ainda não sei, mas descobriremos!
- Os humarantes é uma espécie difícil
exterminar, são muito poderosos, mesmo sem ajuda dos deuses! Não podemos correr
o risco de subestimá-los! –alerta Juix tu.
Sparie Orie responde com tranqüilidade:
- E não vamos! Para mim será uma
diversão observar como os humarantes se desgastarão em tentativas ousadas e
inteligentes em nos vencer, no entanto, inúteis. Eles não estão preparados para
o que os espera.
Sparie Orie caminha, como de costume, para perto do precipício. Ele olha
para o céu escuro, frio e nebuloso do Planeta Decan e ver milhares de grandes
naves deslocando-se na hipervelocidade, provocando repetidos estrondos na
atmosfera.
No interior da montanha, um grupo de aturianos acompanha uma câmara
metálica em forma de caixão fúnebre que levita, transportando o corpo de
Aurora. Eles entram numa cela úmida e quente e faz a câmara descer até o chão.
Um aturiano se aproxima, observa a leitura dos sinais vitais, aperta um
dispositivo e todos se retiram.
A câmara destrava deixando escapar uma fina névoa de gás brilhante.
Dutos de ventilação começam a funcionar tornando o ambiente respirável para um
humarante. Confusa, Aurora abre os olhos e se levanta devagar, sua mente ainda
está entorpecida pelo veneno contraído no momento em que o suor de Chaz Ato
tocou em seu braço. O antídoto que foi aplicado em Aurora a salvou, mais ainda
produz alguns efeitos colaterais. Com esforço, ela desliza para fora da câmara
e rasteja, sem saber ao certo onde quer ir. Seu corpo expele suores em demasia,
está pálida e desidratada. Aurora começa a ter convulsões e tosses. Ela levanta
a cabeça e tenta respirar como a sua vida dependesse disto. Ao olhar para cima,
ela ver uma fenda no alto da cela, lembra alguns instantes do Comandante Akash
e tentar se levantar. O som dos motores das naves se decolando lhe dar forças
para observar qualquer situação que lhe possa explicar onde se encontra. Aurora
alcança a fenda e observa grandes quantidades de naves subindo ao céu.
Esforça-se para olhar as estrelas e tentar identificar sua provável
localização, mas não é possível, o céu é tingido por uma forte luminosidade
crepuscular.
Ao descer, Aurora começa a lembrar de alguns detalhes. Sabia que foi
poupada por algum motivo e sente no fundo de sua alma que todos que estavam na
cerimônia de casamento estavam mortos. Ela chora e se enverga, sentindo a dor
da perda das pessoas queridas e importantes da sua vida. Devido ao seu esforço,
ela adormece.
Passado algumas horas, Aurora abre os olhos e encontra um recipiente com
água. Ela bebe com ansiedade, se esforçando para superar o sabor amargo.
Próximo de onde está, ela ver outro recipiente contendo pequenas larvas. Apesar
de sentir muita fome, tem ânsia de vômito só em pensar em comê-los e se afasta
com a mão na boca.
O Cruzador Marte encontra-se na metade do caminho para chegar ao Planeta
Oceano. Os corpos dos anfibinóides estão vivos e
conservados nas câmaras de suspensão. A
Comandante Diana Mars argumenta com o
Capitão Adani que deseja seguir para o Planeta Gir.
- Capitão! Não temos certeza se estão
vivos. Toda frota que se encontrava na órbita de Gir foi destruída, sua
exosfera está cercada de anfibinóides prontos para descer.
- É exatamente por isso que tenho
razões para acreditar que eles ainda estejam vivos! O planeta tem condições
atmosféricas adversas a sua natureza, sabemos que eles não toleram frio, mas
algo os faz insistir em lá permanecer!
- Precisamos primeiro entregar essas
criaturas em Oceano e aguardar instruções, não sabemos o próximo passo do
inimigo! – esclarece a comandante.
O Tenente Lido se aproxima:
- Com licença comandante. Temos
recentes leituras de migrações de partículas inimigas a nossa frente.
- Isso não acaba! – impacienta-se a
comandante – De onde surgiu tenente?
- As únicas concentrações de massa
destas partículas em Áxis estavam no Planeta Gir, nossos cálculos indicam que
são as mesmas.
- Então a atmosfera de Gir está
livre? – pergunta o capitão.
- O que não significa que uma parte
não tenha descido senhor. Os registros espectrais são conclusivos de que não
houve variação de massa. Fizemos alguns estudos baseados na separação das
partículas durante o ataque aos cruzadores próximo a Estação Sul e o
deslocamento para Gir.
- Então? – pergunta a comandante.
- Não houve variação. Toda massa de
partículas simplesmente afastou-se da órbita do planeta e “submergiu” na
matéria escura. Há poucas horas “emergiu” e estão em rota de colisão com o
cruzador.
- Eles querem os prisioneiros! – diz
o capitão.
- Não acredito nisso! – disse a
comandante – Eles não têm sentimentos em relação aos seus. Parecem que não se
incomodam com resgates. Acho que pretendem seguir para Rugo e nos encontraram
no caminho.
- Oceano está distante, não temos
como receber reforços! – lamenta o tenente.
- Acho que temos uma solução! Vamos
deixá-los lentos! – diz a comandante olhando para o capitão.
O Capitão Adani concorda:
- Mas é claro! É nossa única
oportunidade!
- Vamos baixar drasticamente a
temperatura interna do cruzador e bloquear o suprimento de oxigênio! Quero toda
tripulação com roupas espaciais e fortemente armada! Não vou perder mais um
cruzador da federação para esses animais! – ordena a comandante.
O Cruzador Marte sai da hipervelocidade e para no espaço. A temperatura
interna está abaixo de zero e quase todos os principais compartimentos estão
selados e sob vigilância. A Comandante Diana observa o painel espectral.
- Estamos dentro!
Estrondos e batidas são escutados no casco do cruzador e centenas de
anfibinóides se materializam no interior da nave. Como era previsto, os
inimigos reagiram mal aos efeitos do frio intenso. Eles corriam tentando
escapar dos disparos dos soldados e dos jatos de ar frio que descia dos
condutores de ar. Muitos se aglomeravam para tentar se aquecer e eram mortos
com facilidade. Alguns mais resistentes conseguiam atacar, mas também eram
eliminados pela tripulação. Após ajudar no combate na ponte de comando, a líder
do cruzador observa no monitor que alguns estavam confinados em áreas vazias no
setor de cargas.
- Isolem aquela área! Vamos aumentar
nossa encomenda para os testes em Oceano.
Foram necessárias 43 horas para que todo o cruzador estivesse livre dos
anfibinóides. A comandante informa a tripulação que o inimigo foi derrotado e
que não houve baixas, apenas alguns feridos sem gravidades.
O Capitão Adani estava isolado e pensativo. A Comandante Diana se
aproxima:
- O que houve capitão? Está tudo bem?
- Uma ação tão simples teria evitado
tantas mortes em outros cruzadores.
- Não conhecíamos as fraquezas do
inimigo capitão.
- Também lamento capitão. Fomos pegos
de surpresa. Está em nossas mãos fazer justiça.
- Tem razão. Precisamos seguir em
frente.
O Cruzador Marte é desinfetado, estabiliza o suporte de vida, e quando
se prepara para acionar os motores subluz algo inesperado acontece.
- Comandante! Temos dezenas de
desconhecidas naves inimigas saindo da hipervelocidade – alerta o Tenente Lido.
- Algum contato?
- Não senhora! Estão abrindo hangares
e ativando armas! Vão atacar!
O Capitão Adani aciona um painel:
- São muitos! Estão nos cercando!
- Senhora! – alerta o tenente -
Lançaram naves de combate! Tempo de chegada em 4 minutos!
- Não teremos tempo de fazer um
salto! Potência máxima no escudo e lancem as naves autônomas! – ordena a
comandante.
As naves inimigas iniciam os disparos em direção ao cruzador e este
reage contra elas. As naves autônomas que não são tripuladas combatem no
entorno do cruzador evitando enfraquecer o escudo que protege a nave.
Os primeiros combates são favoráveis ao cruzador, mas o inimigo está em
maior número e fortemente armado.
- Senhora! Outras naves inimigas
estão saindo de hipervelocidade! – diz o tenente.
- Ainda acha que eram muitos capitão?
– disse a comandante.
- Retiro o que disse! O que está
acontecendo aqui? Reuniram todos os soldados do universo contra nós?
- Considero isso uma honra para eles!
– responde a comandante.
- Naves inimigas se aproximando senhora!
Abrindo hangares e ativando armas!
- Relatório!
- Temos muitas baixas de autônomos!
Os escudos estão em 90%
- Encurralados e sem muitas opções –
diz o capitão.
- Isto aqui é um cruzador de guerra
capitão! Tripulado pelo povo de Rugo! Não somos treinados para pensar em
opções! O que fazemos de melhor é combater e essa a nossa única opção! Se
tivermos de retornar a luz que seja, mas antes vamos fazer alguma limpeza nessa
galáxia! – disse a comandante, com determinação.
- Então vamos entrar na festa! – disse
o capitão.
A comandante ordena que um oficial imediato assuma a ponte e siga os
caças que utilizam manobras evasivas evitando disparos diretos. Quase toda
tripulação do cruzador segue para os hangares e partem em seus caças direto
para confronto, entre eles, a Comandante Diana e o Capitão Adani.
- Mantenham os autônomos protegendo
os motores! Vamos abrir uma passagem para o cruzador! Acelere no máximo e nos
siga! – ordena a comandante.
Uma seqüência interminável de disparos, explosões e fragmentos se
misturam. As grandes naves inimigas iniciam disparos de longo alcance e o
cruzador lança contramedidas. A comandante e o capitão lideram com sucesso a
destruição dos caças inimigos e ordena para que o cruzador inicie o salto na
hipervelocidade.
O
imediato reporta problemas:
- Temos apenas 70% de escudo senhora!
O cruzador poderá desintegrar no salto!
- Não terão outra oportunidade! Ative
agora e saiam daqui! É uma ordem! Encaminhe os autônomos restantes para nos dar
cobertura!
O cruzador carrega os motores subluz e desaparece na hipervelocidade.
- Já foram! Conseguiram! – diz o
capitão, eufórico.
- Eu disse que não perderia outro
cruzador! – diz a comandante, que é perseguida por um grupo de caças inimigos
que são destruídos por autônomos.
Os caças e autônomos do cruzador diminuem a velocidade e se reúnem em
torno da comandante. Eles percebem que as naves maiores se aproximam e que um
novo cerco está se formando. Não há como escapar, mas pelo menos o cruzador foi
salvo com a preciosa carga.
- Bem! Foi uma honra lutar com a
senhora comandante!
- Só me fale quando acabar capitão!
- Seria uma boa hora de fazer outra
promessa e nos tirar dessa! – diz o capitão.
- Diante das circunstâncias capitão,
estou disposta a aceitar opções.
- Infelizmente, só nos resta lutar
com honra até a morte! – disse o capitão resignado.
A comandante ordena que os caças fiquem alinhados, aguardando o ataque
inimigo. Ao se aproximarem, as naves alienígenas param e as de ataque reduzem a
velocidade.
- É impressão minha ou eles
desistiram de nos atacar? – diz o Capitão Adani.
- Não aposto nisso!
- Esperam uma rendição? – insiste o
capitão.
-Fico impressionada capitão quando
você atribui valores humarantes no comportamento dessas criaturas!
- Com todo respeito comandante, penso
que uma vez capturado, posso compreender um pouco soube eles.
- Quem sabe eles pensem o mesmo em
relação a você e estejam curiosos como deve ser seu corpo por dentro ou que
sabor tem! Prefiro uma honrosa batalha! Não se engane capitão! Essa seria a
única forma de nos igualarmos! Mas retardar um ataque, concordo que não
esperava por isso!
O monitor do caça da comandante emite um sinal indicando uma grande
massa de energia.
- Capitão! A resposta para as suas
perguntas encontra-se bem atrás de nós!
- Estou captando em meus sensores!
Pelos deuses! É a lendária Lua Negra!
A astronave se aproxima lentamente e inicia um contato.
- Navan! Povo humarante!
- Navan! Sou a Comandante Diana do
Cruzador Marte!
- Sou Truskas Zim da Galáxia de
Rhisvi!
- Sejam bem-vindos à Áxis! Poderia
nos ajudar? Estamos com sérios problemas aqui!
- Será um prazer comandante! Mas eles
é que estão com problemas agora! Aguardem instruções para resgate! Poupe os
seus soldados e deixe o inimigo com a gente!
- São todos seus senhor!
A Lua Negra estaciona e lança um facho de luz de cor lilás sobre os
caças humarantes atraindo-os para o seu interior.
As naves e caças alienígenas não se intimidam com a Lua Negra e a
aceleram para atacar. A comandante, o capitão e os demais pilotos ficam
impressionados com a grande quantidade de esferas de combate que partem da Lua
Negra, passando por eles em alta velocidade.
- Acho que agora vamos equilibrar as
coisas! – diz o capitão.
- Disso eu não duvido! – responde a comandante,
aliviada.
As incríveis manobras das esferas e precisões dos disparos destroem
todos os caças inimigos mais próximos. Os demais fogem retornando para as naves
mães. O resgate dos soldados humarantes foi concluído e a Lua Negra acelera sua
rotação gerando um brilhante campo de energia que alcança as naves mães
inimigas fazendo-as explodir.
No interior da Lua Negra, Truskas Zim e Gruner Ar recepcionam a
Comandante Diana e seus pilotos.
A aproximação e altura do Truskas Zim causam um pouco de ansiedade e
suspense entre os pilotos humarantes, pois eles nunca haviam se deparado com um
lendário deluviano antes.
- Estamos felizes de chegarmos a
tempo! – fala Truskas Zim – Este é o nosso líder, Gruner Ar, regente de Tryari.
- Majestade! Quero agradecer a sua intervenção
em nome da Federação Áxis
O Capitão Adani procurava alguma expressão no rosto do deluviano que
confirmasse a sua afirmação de que estava feliz com alguma coisa.
- Somos mais que aliados, comandante
– diz Gruner – o povo de Rhisvis e Áxis
são irmãos, e em nome dessa irmandade que aqui estamos.
A comandante discretamente chama atenção do capitão que parece
hipnotizado, olhando para o deluviano a sua frente.
- Este é o Capitão Adani, majestade.
Foi um dos primeiros a enfrentar os inimigos na Estação de Fronteira Norte.
- É uma honra conhecê-lo majestade. Tenho
ouvido muitas histórias a respeito da Galáxia de Rhisvis, da generosidade do
seu líder e coragem do seu povo.
- Seu povo muito nos inspirou
capitão. Agora meus irmãos, precisamos saber o que está acontecendo em nossas
galáxias.
O capitão e a comandante relatam os fatos que são dos seus conhecimentos
desde o ataque na Estação Norte. Gruner relata que foi atacado em Tryari, e que
aturianos disfarçados de gruns chegaram em uma desconhecida nave alienígena.
Truskas Zim também relata os fatos:
- Fizemos várias tentativas de
contatos com a federação e não obtivemos respostas, foi então que percebemos que
existia uma anormalidade. Esperávamos que a federação nos ajudasse a
identificar a origem dessa nave.
- Essa nave alienígena, onde foi
encontrada? – pergunta o Capitão Adani.
- Curiosamente, foi encontrada nos
limites de Áxis, próximo ao Planeta Gir.
- É para onde estávamos indo quando
detectamos atividade hostil nesse quadrante – diz Gruner – Foi então que
observamos que vocês estavam com problemas.
- Então vocês resolveram investigar
de perto essa região, apenas motivados por uma nave alienígena desconhecida? –
pergunta a comandante.
- Na verdade, havíamos comunicado a
federação dessa ocorrência. O nosso mundo está sendo ameaçado e não temos
recursos suficientes para combater um inimigo que parece está cada vez mais
fortalecido e numeroso.
- Somos gratos por não esperar os
contatos da federação majestade. Sabemos que numa situação semelhante faríamos
o mesmo.
- Acredito nisso comandante. Mas
respondendo a sua pergunta, o motivo da nossa vinda para cá foi ordenado
diretamente pela Deusa Lilith. Precisamos ir ao Planeta Gir e encontrar a filha
dos deuses, minha irmã.
A comandante e o capitão se entreolham surpresos.
Posso entender perfeitamente o que vocês estão pensando e sentindo nesse
momento. Eu mesmo não sabia que tinha uma irmã, mas sempre soube que sou parte
humarante.
- Gir? – O capitão se entusiasma e
olha para a comandante que percebe imediatamente as suas intenções.
- Precisamos comunicar a federação –
disse a comandante.
Truskas Zim responde:
- Seria uma das razões urgentes das
nossas comunicações. Se não fosse a Lua Negra não teríamos chegado a tempo para
ajudá-los naquela batalha e também na poderíamos ter a proteção suficiente para
cumprir uma ordem da deusa. Em todo caso, teríamos depois que nos reportar ao
conselho em Urbo, ou tentar descobrir o que houve com as suas comunicações.
A comandante se aproxima do regente:
- Temos problemas em Gir, majestade.
Perdemos contato com uma equipe militar que escoltava civis numa exploração de
conhecimento, não sabemos se estão vivos.
- Estamos a sua disposição comandante,
podemos ajudar – informa Truskas Zim.
- Somos gratos! Mas a missão de vocês
precisa ser concluída. Não temos o direito de interferir.
- Esta guerra também é nossa,
comandante – disse Gruner – temos interesses comuns e não podemos deixar que as
dificuldades de comunicação entre nossos mundos se transformem em vantagens
para o inimigo.
- Concordo majestade. Mas não temos
informações gerais de tudo o que acontece, o Cruzador Sankta Spirito é o único
que faz as transmissões seguras.
- O que não impede de compartilharmos
as nossas informações aqui, tentar entender esse mosaico de acontecimentos e
planejar corretamente as nossas ações.
- Tem a nossa inteira colaboração majestade.
- Muito bom. Então podemos começar a
ter algumas respostas, como por exemplo, o que fazia corpos alienígenas em
câmaras de congelamento em seu cruzador?
A comandante olha para o capitão e sua expressão fica muito séria:
- Como sabe disso majestade? Não que
isso seja um segredo entre nós, é que era a nossa missão conduzir estes corpos
para o Planeta Oceano.
Truskas Zim comenta o fato:
- Nunca tínhamos vistos seres assim
até a extensão do universo que conhecemos
- São seres estranhos e desconhecidos
para nós também – disse o capitão.
- Então, o cruzador não conseguiu
chegar em Oceano – lamenta a comandante.
- Ainda não – disse Gruner –
Interceptamos o seu cruzador no espaço subluz com sérios problemas estruturais.
Não ficaria na hipervelocidade por muito tempo e seriam presas fáceis.
Gruner olha para Truskas Zim e este aciona um dispositivo em seu pulso
fazendo abrir uma grande escotilha, onde todos observam a certa distância, o
Cruzador Marte em suspensão no ar.
Centenas de pequenas máquinas voadoras lançam raios no casco da nave
concluindo reparos.
- Sua nave está pronta comandante e
sua tripulação foi avaliada e estão todos bem – disse Gruner.
A comandante abre um sorriso de alívio e por impulso quebra o protocolo
e abraça Gruner.
- Desculpe majestade...é que eu
estou...
- Feliz – interrompe Gruner, sorrindo
– também estamos comandante, e não precisa se desculpar em demonstra seus
sentimentos.
- No Planeta Oceano, os nossos
cientistas vão tentar descobrir a origem destes seres, suas fraquezas e o que
fazem em nossa galáxia – responde a comandante.
- São criaturas frágeis do ponto de
vista orgânico, mas extremamente perigosas para nós, com uma capacidade
reprodutiva e de adaptação incríveis – relata o capitão. Conseguimos impedir
que nos atacassem dentro da nave. Reduzimos a temperatura em níveis abaixo de
zero e comprovamos sua vulnerabilidade a ambientes frios. Acredito que devido a
essa intolerância a baixas temperaturas retardou a descida destes seres ao
Planeta Gir e possivelmente de outros na galáxia. Conferir que a rotação
noturna está prestes a ser concluída em Gir e haverá dois dias de luz,
aumentando a temperatura. Se houver uma nova investida as coisas ficarão
difíceis para os sobreviventes.
Gruner põe a mão no queixo:
- Isso não é bom, a julgar pelos
motivos em que a nossa galáxia está sendo ameaçada. Eles querem os filhos dos
deuses e estão determinados em conseguir. Esses seres devem fazer parte de um
plano maior a serviço dos aliados de Viga.
Truskas Zim faz novos relatos:
- Por enquanto podemos nos
tranqüilizar em relação aos seres que não gostam de frio. Confirmamos que o
entorno do Planeta Gir está livre deles e uma dispersão radioativa está
acontecendo.
- Radioativa? – pergunta a
comandante.
- Certamente provocado por uma forte
explosão nuclear o algo do gênero – responde o deluviano.
Enquanto isso, na Galáxia de Rhisvi, dezenas de naves mães se aproximam
da órbita do Planeta Tryari com a missão de executar as ordens de Sparis Orie.
O conselho é avisado e imediatamente segue as orientações de Gruner Ar.
- Eles chegaram conforme havíamos
suspeitados – disse Giambo Zoolie ao conselho.
- Já temos um sinal de comunicação! –
disse Wustah Drac que liga a tela holográfica.
Uma imagem de um comandante aturiano se forma, e com ele, uma ameaça de
morte.
- Tryarianos! Temos ordens para
destruir todas as raças desta galáxia se nossas exigências não forem cumpridas!
Entreguem seu líder! O regente Gruner Ar! Imediatamente!
Giambo Zoolie se aproxima da imagem.
- Saudações! Sou tutor e assessor do
regente. O meu senhor está doente e acreditamos que não viverá muito, creio que
seria de pouca utilidade para os seus propósitos!
- Isso somos nós que decidimos! Temos
recursos para curar várias doenças e faremos isso com seu líder se for
necessário!
- Estamos com o nosso conselho
reunido comandante, e o nosso monarca não está em condições de decidir os
nossos destinos, peço-lhes um pouco mais de tempo para comunicarmos ao nosso
povo.
- Eu disse imediatamente! – grita o
comandante aturiano.
- Senhor comandante, nosso monarca é
muito amado pelo seu povo e em outros mundos em Rhisvi! Mesmo com suas grandes
quantidades de naves, um povo enfurecido poderá agravar a situação e preferir
lutar e muitas mortes e destruições de ambos os lados poderão ser evitados!
Acredite nas palavras desse velho e humilde servo!
- Daremos uma rotação de tempo do seu
planeta para que entreguem seu líder! Enviaremos uma de nossas naves para
apanhá-lo! Não aceito recusas!
- Cumpriremos o prazo senhor! – disse
Giambo Zoolie.
A imagem se desfaz. O conselho se entreolha.
- Perfeito! Ganhamos tempo – diz
Wustah Drac – Agora só precisamos ensinar aquela coisa a dizer adeus para o
povo!
- Não será difícil – completa Giambo
Zoolie – Já completei a hipnose na criatura e tudo saíra como planejado.
- Acredito que o verdadeiro Gruner Ar
seria mais convincente em fazer o povo aceitar de que está se entregando para
protegê-los – disse Wustah Drac – A coragem e inteligência do nosso monarca é
conhecida em toda galáxia, uma demonstração de fraqueza no mínimo suspeita.
- Vamos ter que arriscar! – diz Giambo
Zoolie.
- O nosso planeta está cercado por
dezenas de naves fortemente armadas e com um poder de destruição avassalador,
mas nós também possuímos nossas defesas eficientes – insiste Wustah Drac.
- No momento certo poderemos usar
toda força que possuímos. Mas o monarca preferiu usar outras armas, e ele
confiou em nós para executar seus planos! Não podemos falhar!
Giambo e Wustah seguem para o laboratório e providenciam todos os
preparativos para que o aturiano fale ao povo com as palavras que foi condicionado.
Um comunicado foi feito, e toda a população de Tryari começa a se reunir
no largo do palácio, ansiosos e curiosos aguardando a aparição do seu líder. A
notícia que o planeta está cercado pelo ameaçador inimigo causa os mais
variados sentimentos, mas o de lutar é a maior motivação.
Gritos de ordem são escutados em vários lugares “Morte ao
inimigo...Morte ao inimigo!”. Visitantes de outros mundos de Rhisvi são
impedidos de embarcarem para retornarem aos seus lares, os espaço portos estão
bloqueados pela guarda. Nenhuma nave entra ou sai do planeta.
O falso monarca se aproxima da sacada, o povo ovaciona seu líder. Giambo
Zoolie levanta os braços pedindo silêncio e a população corresponde.
- Povo de Tryari! Irmãos de Rhivis!
Um inimigo poderoso nos ameaça e tudo aquilo que amamos está prestes a acabar –
diz o falso monarca – Mas eles não querem vocês! Querem a mim!
O povo se exalta irritado, Giambo Zoolie intervém pedido ordem.
- Eles terão a mim, mas não terão a
liberdade do nosso povo. Aceitem pacificamente a minha decisão e retornem em
segurança para as suas casas! Continuem construindo a paz e todos os valores
que a nossa sociedade protege!
O povo continua em silêncio. Uma nave inimiga atravessa as nuvens e
pousa próxima a sacada do castelo. O falso monarca caminha em direção a ela, e
sem olhar para trás é recolhido pelos aturianos.
Um sentimento de profunda tristeza é compartilhado, até o próprio
conselho que sabe da farsa se emociona com a cena.
- Fez um bom trabalho Giambo – elogia
Wustah Drac.
- Os aturianos não só copiam bem as
formas que se apossam, copiam bem as frases. A hipnose foi apenas para por
sentimento nas palavras, habilidade que eles não tem.
Um soldado se aproxima do conselho e informa que as naves inimigas
partiram de Rhivis. Giambo Zoolie olha pensativo para o povo que se dispersa.
- O que faremos agora? – pergunta
Wustah Drac.
- Esperar o retorno do regente, até o
momento, estamos seguros. Vamos reforçar todas as nossas defesas e pedir ajuda
aos mundos aliados de Rhivis. Algo me diz que não termina por aqui.
O Cruzador Sankta Spirito 2 chega à orbita do Planeta Gir. A sua
presença não pode ser identificada aos olhos físicos ou por equipamentos
convencionais, pois se encontra numa frequência dimensional. Não obstante, pode
ser detectada por outros que possuam condição similar.
Do Ponto Lumo, a consciência do Comandante Akash é transferida para a nave desmembrada. Ele observa que a radiação
na exosfera do planeta havia dissipado e que também não existia ameaça de
anfibinóides.
O comandante se concentra nas possíveis
regiões do planeta, na intenção de localizar sinais mentais dos sobreviventes
humarantes. Ele pensa em Mei e vislumbra o local exato onde ela se encontra.
Mas se detém um pouco, ao descobrir que não estão sozinhos no planeta.
No acampamento, um espectro do comandante
flutua próximo ao solo, passando pelos soldados que matem atenta vigilância,
mas não conseguem sentir nem ver a sua presença na noite fria e pouco iluminada. Atravessando a barraca onde Mei e Aveline se
encontram em sono profundo, o comandante se aproxima de Mei.
- Encontrei você,
minha menina. Mei sou eu, Akash! Acorde!
Os sussurros na mente de Mei a faz
despertar, ainda adormecida e confusa. Ela abre os olhos e reconhece o
comandante que está envolvido numa aura brilhante, num corpo transparente.
- Comandante! É o
senhor mesmo?
- Sim, Mei. Não é
um sonho, é um dos incríveis recursos do Sankta Spirito que eu mesmo desconhecia.
Preciso que me escute com atenção, seu pais estão muito preocupados com a sua
ausência e não podem vir aqui para resgatá-la, a nossa galáxia está sendo
atacada por seres desconhecidos. Já houve muitas mortes e não sabemos ao certo
com que estamos lidando.
- Não vamos sair
daqui? – disse Mei, falando em voz baixa para não acordar Aveline.
- Claro que sim,
minha menina. Mas a sua vida e dos seus amigos correm perigo fora daqui. Vocês
precisam se esconder nas montanhas e não chamar atenção.
- Por que não
somos transportados agora para o Sankta Spirito? Lá estaremos seguros.
- O cruzador
físico encontra-se anos luz daqui, no quadrante próximo a Coroni, sou neste
momento apenas uma projeção astral. Estamos seguindo para resgatá-los, mas
vocês precisam se proteger e lutar para se manterem vivos. Quero que sigam para
as montanhas.
- Mas comandante,
em que lugar das montanhas poderemos nos esconder? Esse planeta é desconhecido
para nós.
- Ao rastrear a
geografia do planeta, encontrei uma câmara em uma das cavernas. Também
identifiquei vestígios de um sinal ou transmissão dimensional, um antigo código
de pedido de socorro direcionado para a Estrela Navan. Na minha condição, posso
captar pensamentos e foi isso que aconteceu, existe vida consciente naquela
região e não são hostis. Precisam encontrá-los! Eles podem ajudar em
protegê-los enquanto não chegamos.
- Uma transmissão
para a Esfera Navan? Pensei que fosse uma lenda humarante.
- Algumas lendas
são baseadas em verdades minha menina, é uma longa história.
- Estes seres
conscientes, como eles são?
- Não me detive a
conhecer a sua natureza física e sim, mental – disse o comandante, que
aproximando a mão da testa de Mei, lança uma projeção em seu cérebro de um mapa
a ser seguido. Mei se assusta com a experiência, fazendo Aveline se movimentar
em sua cama que fica próximo.
- É estranho, mas
agora sei como chegar lá.
- Evitem utilizar
as naves e comunicadores portáteis, elas são alvos fáceis de localização. Vai
ser uma jornada longa, sejam corajosos.
O sistema de segurança do Sankta Spirito 2
alerta que a projeção astral do cruzador está perto de ser identificado e uma
tentativa de rastreamento de localização está em curso.
- Alguém descobriu
que estamos aqui! Preciso ir e confundir minha localização. Logo vai amanhecer,
preparem-se! Estamos chegando!
O comandante se despede de Mei e antes de
retornar ao cruzador, lança um
pensamento para Aveline.
- Acorde tenente!
Estão em perigo!
Aveline de um sobressalto se levanta
segurando uma arma e olha para Mei.
- O que foi isso?
Ouvi a voz do Comandante Akash!
Mei se aproxima de Aveline.
- Não sei explicar
ao certo, mas ele esteve aqui e falou comigo. Precisamos acordar os outros,
temos que sair daqui urgente!
- Para onde? Mei
tem certeza que não foi um sonho?
- Você ouviu a voz
não foi?
- Sim mas...
- É possível
termos o mesmo sonho? Aveline acredite em mim, precisamos ir para as montanhas,
o Sankta Spirito está vindo nos resgatar.
Mei e Aveline acordam os amigos e explicam
o ocorrido ao Comandante Sarte.
Na Lua Negra, a tripulação de condução
identifica a presença do Cruzador Sankta Spirito. Mentalmente, Truskas Zim recebe o comunicado e
repassa para Gruner.
- Majestade! Confirmamos a presença
de uma projeção astral no quadrante próximo ao Planeta Gir.
- Parece que não somos os únicos
interessados nesse pequeno planeta. Alguma comunicação?
- Não temos sinais diretos, está numa
freqüência de dispersão. Provavelmente tentando confundir sua localização.
- Por que faria isso? Não somos
inimigos! – surpreende-se o Capitão Adani.
- Não é para nós que ele tenta
despistar a sua presença. Acredito que ele nem saiba da nossa presença e que
nada pode se esconder da Lua Negra, não importa a freqüência dimensional que se
encontra.
- Então nossos inimigos possuem essas
habilidades? – pergunta a Comandante Diana
Mars.
- Não haveria outra razão para o
Sankta Spirito fazer essas manobras. Ele induz o erro do predador levando-o
para longe do ninho, protegendo-o. Os nossos inimigos estão sendo orientados
por poderosos aliados de Viga, o que faz destas habilidades uma rotina simples
para eles.
- Eles podem nos ver? Digo, os nossos
inimigos podem localizar a Lua Negra? – pergunta o capitão.
Truskas Zim responde pacientemente:
- Não capitão. Apenas outra esfera,
cuja origem seja a mesma. Nem mesmo o Sankta Spirito ou Viga com todo o seu
poder consegue nos ver.
- Nesse caso ele precisa de ajuda. Se
eu entendi sua explicação, o cruzador está desviando a atenção do inimigo para
longe do Planeta Gir!
- É o que parece.
O Capitão Adani olha fixamente para o deluviano na intenção de que ele
entenda as suas razões. Truskas Zim toca suavemente nos ombros do capitão e
diz:
- Falarei com o monarca. Seu coração
não terá paz se não chegar aquele planeta certo?
- Você entendeu o que eu pensava?
- Claramente.
- É incrível, preciso aprender a
fazer isso um dia.
Truskas Zim gosta do entusiasmo do capitão:
- É muito fácil. Basta você...
Gruner estava conversando próximo com ao lado da comandante e se
aproxima do deluviano.
- Truskas! Quero que atraia o cruzador
para cá! Precisamos ajudá-lo em sua tentativa de despistar a sua presença.
O capitão não pisca os olhos aguardando a revelação do deluviano.
- Basta?....basta?....
- Numa outra oportunidade explicarei
com todo o prazer capitão – disse Truskas Zim, que é teletransportado para a
ponte da astronave.
O capitão fica sem saber o que fazer diante daquela rara oportunidade.
- Tudo bem! Numa próxima
oportunidade! Quem sabe nas minhas férias!
- Algum problema capitão? Falando
sozinho? – pergunta a comandante.
- Está tudo bem comandante! Espero –
pensa o capitão.
As luzes internas da Lua Negra se apagam, e no alto surge a projeção
flutuante do Cruzador Sankta Spirito. Belíssimas ondas de nebulosas se expandem
em variadas cores.
Um foco de luz desce ao piso e
a imagem do Comandante Akash é projetada. Truskas
Zim e Gruner se aproximam:
- Seja bem-vindo à Lua Negra
comandante – disse Gruner – Esse é o meu comandante Truskas Zim.
- Navan! Comandante Akash, é um
prazer conhecê-lo – Saúda Truskas Zim
A projeção do comandante abre um sorriso de contentamento e surpresa.
- Obrigado majestade, Navan! Truskas
Zim. Faz um bom tempo que não escuto essa saudação. É um raro momento está a
bordo desta maravilhosa astronave. A ajuda chegou em boa hora.
- Pelo visto, está se tornando uma
agradável rotina, temos humarantes a bordo que concordam comigo.
- É uma honra também, ter a presença
do enigmático Cruzador Sankta Spirito entre nós em sua sublime forma astral –
comenta Gruner.
- Estávamos tentando interferir nossa
localização no Planeta Gir. Acho que
conseguimos.
- Sim comandante,
suas manobras astrais foram precisas, o inimigo não o localizou ou pelo menos
saberá que não está no planeta, mas podem ter intuído sobre o seu destino,
antes mesmo de chegar à Gir – comenta Truskas Zim.
- Não duvido disso. Temos cidadãos de
Áxis aqui?
O Capitão Adani e a Comandante Diana se aproximam.
- Um dos melhores, senhor.
- Sem dúvida – responde o Comandante
Akash, inclinando a cabeça respeitosamente.
- Comandante Akash! O senhor esteve no Planeta Gir? Nossos irmãos estão vivos?
- É bom revê-lo
também capitão! Sim estão vivos, no entanto correm sérios perigos. Eu tinha a
localização do Cruzador Marte e havia perdido o sinal, iria pedir reforços para
proteção dos nossos amigos até a chegada do Sankta Spirito.
- Qual a sua
localização senhor? – pergunta a Comandante Diana.
- Estamos seguindo
para interceptar em poucas horas um cruzador da federação. Saíram de Urbo
trazendo um grupo de médicos que foram de alguma forma infectados pelos aliados
de Viga. Eles foram responsáveis por afastar observadores das estações e assim
facilitar a não identificação do fenômeno de miragens. Tentaremos descobrir com
os recursos do Sankta Spirito alguma informação que nos possa ser útil.
- Fomos interceptados
pelos anfibinóides senhor. Vencemos a primeira batalha, mas logo em seguida uma
grande quantidade de naves inimigas nos atacaram. Estaríamos na luz se não
fosse a intervenção da Lua Negra. O Cruzador Marte foi resgatado e revitalizado,
estamos prontos para seguir com a nossa missão de levar corpos inimigos
capturados em Ruĝo para Oceano.
O capitão olha para a comandante.
- Senhora. Não podemos abandoná-los a
própria sorte. O planeta oferece poucas condições de sobrevivência!
- Sei disso capitão. Agora tenho
fortes razões para acreditar que a filha dos deuses que sua majestade procura
esteja realmente em Gir. A determinação dos alienígenas em descer ao planeta
seria injustificável se fosse motivado apenas para atacar uma pequena equipe
humarante de exploradores. Se eles conseguiram resistir até agora, acredito que
possam esperar o resgate do Sankta Spirito.
O Comandante Akash tenta tranquilizar o capitão:
- Usaremos toda velocidade possível,
mas sozinhos, sem uma força militar de apoio, cada segundo é imprevisível para
eles. Tenho ordens imediatas do General Meadhas
no que se refere à proteção de Mei e os que acompanham.
Gruner adianta os passos.
- Mei? O que ela
tem de tão especial?
- Além de ser a
filha do General Meadhas, é uma jovem muito querida em toda a federação –
explica o capitão.
O comandante Akash continua:
- Existe algo
maior que envolve a vida de Mei e que está relacionado os recentes eventos em Áxis.
- Não entendo
comandante – disse o capitão.
Gruner que estava apenas escutando a
conversa pede para o Comandante Akash gerar uma imagem holográfica de Mei.
- É ela! Minha
irmã! – diz Gruner.
- O senhor a
conhece majestade? – pergunta a Comandante Diana.
- Não
pessoalmente. É uma longa história, mas agora tenho a confirmação de que estou
no caminho certo para encontrá-la.
Nesse momento, Truskas Zim se materializa entre
eles.
- Majestade! Detectamos grande
movimentação de naves mães inimigas.
- Em que lugar?
- Várias janelas de saídas de
hipervelocidade nos Planetas Oceano e Coroni, com agravantes de grande poder
bélico em maior número em Urbo. Estão fechando um cerco de invasões
sincronizadas! Um grupo de naves aturianas estão em rota para Gir.
- Tinha razão Comandante Truskas! O
inimigo usou de intuição – disse o Comandante Akash com tristeza.
- Comandante Akash! O que houve? –
pergunta o Capitão Adani.
- O Cruzador Haerentia que transportava os médicos para o Sankta Spirito
foi destruído! Estão seguindo em direção a nós! Preciso retornar!
O Capitão Adani se volta para Gruner:
-
Majestade! Libere o Cruzador Marte! Seguiremos para Gir e protegeremos nossos
irmãos.
Truskas Zim não concorda:
-
Majestade, está sob a nossa proteção, não podemos arriscar a sua vida!
Gruner já se decidiu:
- Preciso encontrar Mei! A Lua Negra seguirá para ajudar a federação e
proteger Urbo. Seguirei com cruzador para Gir.
- Como queira, meu senhor – responde
o deluviano.
A Comandante Diana se concentra em sua missão:
- E os corpos do anfibinóides? É importante
entregá-los em Oceano.
- Truskas, qual a capacidade de
velocidade de Lua Negra? – pergunta Gruner.
- Viajamos na velocidade do
pensamento em corredores dimensionais, mas sempre encontramos alguma
resistência no ambiente de matéria escura. Mesmo assim, podemos atravessar toda
a galáxia em reduzido tempo. O que está pensando? Senhor.
- Projete uma simulação de tempo.
Haveria possibilidade de entregarmos os corpos no Planeta Oceano e seguir para
Urbo a tempo de intimidar o ataque?
Truskas Zim recebe mentalmente de outros deluvianos, os cálculos para
atender a pergunta do regente:
- Chegaríamos a tempo no Planeta
Oceano, entregaríamos os corpos. Mas, chegaríamos um pouco atrasados em Urbo.
- Comandante Akash! O Sankta Spirito
poderá seguir direto para Gir?
- Sim, majestade. É exatamente isso
que pretendo fazer. Precisamos de mais tempo para chegar a Gir e o Cruzador
Marte é a nossa única esperança de proteção aos nossos irmãos.
- O cruzador chegará um pouco antes
dos inimigos – conclui Truskas Zim.
- Está feito! Manteremos contato –
disse Gruner.
A imagem do Comandante Akash se desfaz e a projeção do Sankta Spirito 2
segue para encontrar a Arca-lua. Mentalmente, sem os que demais percebessem, Gruner
enviou uma mensagem com instruções ao Comandante Akash para contatar Suna
Levigo. Ela deveria revelar a Solaris Meadhas sobre a sua natureza divina e a
relação com os demais semideuses, fruto dos interesses dos inimigos.
Os corpos dos anfibinóides são teletransportados do Cruzador Marte,
reaparecendo em instalações de quarentena na Lua Negra. Truskas Zim se aproxima
da Comandante Diana, do Capitão Adani e de Gruner.
- Esse é Rakrat, seguirá com vocês.
- Bem, será um prazer tê-lo conosco.
O Capitão Adani faz um comentário:
- Sem querer ofender, mas ele é um
pouco grande para os nossos compartimentos, sentirá desconfortável.
- Não se preocupe, vão gostar das
melhorias que fizemos no cruzador – disse Truskas Zim, numa expressão facial
que poderia se acreditar o início de um pequeno sorriso.
A comandante fica curiosa:
- Melhorias? Que tipo de
melhorias....poderia...
E antes dela concluir a frase, os quatros são teletransportados para o
cruzador que já se encontra em órbita da Lua Negra.
No interior da nave, na ponte de comando, a oficial Diana e o capitão
são aplaudidos pela tripulação. Gruner é cumprimentado pelos demais.
- Estamos de volta! – disse o capitão
- Onde está...o deluviano Rakrat? – pergunta
a comandante.
A voz grave do deluviano é ouvida no ambiente. A tripulação da ponte de
comando, sem entender, olha para cima e para os lados procurando a origem do som.
- Estou pronto comandante – responde
Rakrat.
- Onde está?
- Estou na cobertura da nave.
A comandante ordena projetar imagens do exterior da nave e todos ficam
surpresos ao verem um novo compartimento, acoplado sobre ela.
- O que eles fizeram em minha nave?
- Cortesia da Lua Negra – responde
Gruner, com satisfação.
- Senhora. Para onde vamos?
Comandante – pergunta o oficial de navegação.
- Coordenadas para o Planeta Gir!
Velocidade máxima! Missão de resgate e
preparar para combate!
O Cruzador Marte inicia a aceleração para entrar na hipervelocidade e os
motores subluz se iluminam cem vezes mais que o normal. Uma inércia de
deslocamento em sentida pela tripulação. O oficial de navegação olha atônito
para o mapa estelar no painel.
- Oficial! O que houve?
- Não sei explicar comandante! Não
manipulamos os controles! Dobramos em potência de aceleração, estamos há
milhares de distâncias do ponto de partida e com contagem regressiva de poucos
segundos para uma hipervelocidade extrema! Não sei se a estrutura da nave vai
suportar!
Um escudo de luz envolve o cruzador.
- Rakrat! O que você fez?
- Seguindo suas ordens senhora –
responde calmamente o deluviano.
A comandante olha animada para o capitão e esse sacode os ombros
arriscando uma teoria e sorrindo:
- Parece que eles fizeram melhorias,
é melhor se segurar!
O Cruzador Marte desaparece num estrondo de luz em forma de halo.
Na Arca-lua, o General Anor Meadhas recebe o aviso de que o Cruzador Haerentia foi destruído e interceptado num
cerco de numerosas naves mãe inimigas que acabavam de sair da hipervelocidade.
-
Quero identificação das naves! – ordena o general.
- Não
é possível, senhor! São completamente desconhecidas da federação! Estão
seguindo para Urbo e Oceano.
-
Contate o Conselheiro Nuada!
- Sim senhor.
Em seus aposentos, a Embaixadora Suna Levigo desperta horas depois de
ser retirada da câmara de revitalização. Ao seu lado, encontra-se Solaris
Meadhas.
A embaixadora abre um sorriso ao ver a amiga:
- Como vai?
- Solaris, que bom que esteja aqui.
Estou melhor agora.
- Sinto pelo ocorrido, estou aqui
para ajudá-la.
- É tudo que desejo que faça minha
amiga, mas não é por mim e pela minha perda.
- Não entendo o quer dizer – Solaris
segura a mão da amiga.
- Não temos muito tempo, a galáxia
está sendo atacada por seres poderosos que se aliaram aos antigos. Enquanto
estava na câmara, tive um encontro astral com o Comandante Akash. Mei está
viva.
Solaris põem as duas mãos no coração.
- Pelos deuses! Onde ela está?
- No Planeta Gir, fica nos limites de
Áxis, está acompanhada de seus amigos. Solaris, o que vou lhe dizer é muito
importante. Eles estão correndo perigo e o Sankta Spirito está seguindo para
ajudá-los. Um cruzador de Rugo está a caminho para protegê-los com o regente de
Tryari a bordo.
-
Gruner Ar? O que ele faz em Áxis?
- A
Galáxia de Rhivis também foi ameaçada e ele foi conduzido pela Lua Negra para
encontrar Mei. Eles são irmãos, semideuses filhos de Navan, Luna e Lilith.
Solaris escuta com atenção. Não teria como
duvidar de uma das conselheiras humarantes mais respeitadas da federação. A sua
voz tranqüila e o seu olhar sincero e acolhedor, demonstra naturalmente toda a
verdade que possa ser transmitida.
- Por
alguma razão, Viga deseja chamar a atenção dos deuses raptando seus filhos.
- Até
então achava que tudo não passava de lendas – disse Solaris.
A
embaixadora se aproxima:
- De
fato, nossa cultura não poderia deixar que tão importantes eventos da nossa
história fossem resumidos a simples e bonitas lendas, mas tudo isso tem um
propósito.
- Que
propósito seria tão relevante?
-
Proteger os filhos dos deuses, para garantir harmonia, prosperidade e
felicidade aos povos de Áxis.
- Por
que me revela isso agora? Você disse que o regente de Tryari é irmão de Mei?
Que são semideuses?
-
Solaris, quantos filhos de Áxis desconhecem a sua origem? Todos nós sabemos
quem são nossos pais, mas houve algumas exceções. Você e Mei são uma delas.
-
Conheço meus pais e em relação a Mei, foi adotada.
-
Assim como você, minha amiga. As condições que Mei foi entregue ao Sankta
Spirito foram iguais as suas. Mei é sua filha e você é mãe dela, não há dúvidas
nesse poderoso sentimento que as uni. O quero dizer é que vocês foram
concebidas em situações especiais e raras.
- Conte-me
tudo, por favor! Preciso entender o que se passa.
- Não
há tempo para tanto, mas seu amor por Mei fará abrir a sua mente para o que
tenho a revelar. No seu tempo e nas condições ideais, você saberá de tudo o que
precisa.
A Embaixadora Suna Levigo se levanta e segurando nas mãos de Solaris se teletransportam
para um local escuro da Arca-lua.
- Onde
estamos? – pergunta Solaris, um pouco assustada.
- Num
local sagrado e secreto. Fique tranqüila, não há o que temer.
- Só a
verdade – responde Solaris.
Uma voz masculina e não reconhecida por
Solaris é ouvida:
- A
mesma verdade que liberta e que nos dá força para continuar a nossa jornada
Um foco de luz cai sobre elas e outro
aparece alguns metros. Solaris observa o piso brilhante, sente um reconfortante
perfume no ar, apesar da atmosfera um pouco fria.
-
Nunca ouvi falar deste lugar – diz Solaris.
- Nem
poderia – responde a voz masculina – como bem falou a embaixadora, é sagrado e
secreto.
- Quem
é você? – pergunta Solaris.
- Meu
nome é Khufu, filho de
Snefru e de uma antiga mulher de Tero Unua chamada Hetepheres. Sou um semideus como você Solaris, filho de Dracon e
Nana.
A embaixadora sorrir e levemente balança a cabeça afirmando o que aquele
estranho homem dizia.
- Por favor, aproximem-se. Não tenha
medo Solaris, estamos aqui pelas mesmas razões, encontrar Mei.
O rosto de Solaris se ilumina de alegria.
- Como posso encontrar minha filha?
- O Comandante Akash está seguindo
para o Planeta Gir, minha antiga morada de incontáveis luas, mas até chegar lá,
Mei e seus companheiros estão correndo riscos. Uma legião de inimigos se
aproxima na tentativa de capturar a filha de Navan e Luna. Temos condições de
evitar isso e poupar a Galáxia de Áxis e Rhisvi de serem destruídas. A Lua
Negra está vindo nos ajudar, pois a Arca-lua não conseguirá sustentar sozinha a
poderosa força bélica dos aliados de Viga. Os filhos dos deuses precisam estar
juntos no Planeta Gir.
- Mas como poderemos fazer isso? Você
mesmo disse que a Arca-lua e a Lua Negra estão indisponíveis! O Comandante
Akash não chegará a tempo com o cruzador mais rápido da federação! O que
faremos? – pergunta aflita, Solaris.
- Minha amiga. É comovente a aflição
do Comandante Akash, que com toda a sua tristeza de ter possivelmente perdido o
seu grande amor, literalmente se desdobra para proteger todos nós,
principalmente Mei, mas sempre existe uma alternativa.
- Sim, nós temos essa alternativa –
revela Khufu – Precisamos pensar que todos nós, semideuses devemos ficar juntos
e desviar a atenção dos inimigos, principalmente de Viga. O Planeta Tryari foi
poupado quando entregou seu regente e todas as naves se retiraram
pacificamente. Na verdade, o verdadeiro Gruner foi substituído por um aturiano
modificado, não há garantias de quanto tempo essa farsa irá se sustentar até
eles voltarem para a galáxia vizinha. Gruner está no Cruzador Marte a caminho
do Planeta Gir, em breve estará com Mei e os demais.
- Precisamos ir para o Urbo. Existe
uma câmara secreta nas montanhas de Sudaj Ventoj (Ventos Súbitos) que está
conectada a outra câmara existente no Planeta Gir.
- Uma herança do meu pai – completa
Khufu – Nestas câmaras existem pirâmides que permitem viajar entre os mundos
habitáveis de Áxis. Mas apenas os deuses e semideuses podem fazê-lo. Poderemos
nos deslocar para locais seguros.
- Se Viga quer os filhos dos deuses,
não importa o quanto nos transportemos para os mundos – comenta Solaris – a
galáxia não estará segura e em algum momento teremos que nos entregar.
- Mas podermos ganhar tempo – insiste
Khufu – Preservar a nossa segurança e juntos tentar contatar nossos pais. Eles
serão os únicos que podem finalizar essa guerra.
- Anor jamais permitiria que eu
ficasse em Urbo.
A embaixadora tranqüiliza Solaris:
- Já estamos seguindo para resgatar
os embaixadores. Deixe que eu me entendo com o general. Explicarei a você todos
os detalhes do nosso plano. Descerei com vocês em Urbo, mas retornarei só.
- Como chegaremos à câmara? São
muitas montanhas? – pergunta Solaris.
- Khufu conhece bem as passagens nos
subterrâneos da embaixada, ninguém notará a presença de vocês. Existe um módulo
que servirá de transporte em túneis nas montanhas, a parada final é na câmara.
- Estranho, eu não ouvi falar de você
– disse Solaris para Khufu.
- Meus hábitos de vida sempre foram
reservados. Utilizando as pirâmides, visitei muitos mundos em Áxis tentando
achar o meu pai, mas ainda não o encontrei.
- Possivelmente seja tão bom em se
esconder quanto você – disse Solaris com um sorriso amigável.
Khufu também sorrir, aceitando o bom humor da nova amiga. A embaixadora
entrega uma lâmina de cristal a Solaris e Khufu.
- Suas descidas na embaixada não
serão autorizadas pelo general. Esses cristais estarão conectados comigo. Assim
que eu for transportada, vocês simultaneamente também serão. Haverá alguns
segundos de transparência no processo de desmaterialização de vocês, não se
preocupem, é normal.
- Nunca reclamo de boas caronas –
disse Khufu, ensaiando um bom humor.
- Nos veremos em breve.
A embaixadora mais uma vez se teletransporta com Solaris para a ponte de
comando da Arca-lua.
No Planeta Oceano, o Embaixador Nuada Nin é avisado da aproximação da
Lua Negra. Uma imagem holográfica surgiu na sala de comando da cidade flutuante
de Sireno
(Sereia).
- Navan! Planeta Oceano – saúda
Truskas Zim – Temos uma entrega de corpos anfibinóides. Pedimos permissão para
teletransporte.
- Seja bem-vinda, Lua Negra –
responde o comando de Sireno – Transporte os corpos precisamente para as
coordenadas indicadas.
O Embaixador Nuada Nin se aproxima da imagem holográfica:
- Navan! Truskas Zim, saudações ao
povo deluviano. É bom revê-lo.
O deluviano responde animado:
- Embaixador Nuada! A honra é toda
minha! Achei que estaria em Urbo?
- Precisei retornar para Oceano,
haveria de indicar um substituto para as minhas funções, mas devido às atuais
circunstâncias terei que adiar meus planos.
- Sendo assim conselheiro, estou
feliz com a sua decisão, uma vez que terá mais tempo para visitar os amigos.
- Tinha isso em mente, mas agora estamos
impossibilitados. Detectamos problemas com Cruzador Marte, houve preocupação
entre nós. Saberia que só uma intervenção da Lua Negra poderia salvá-los, tem
meus sinceros agradecimentos.
- Aceitamos seu agradecimento de bom
grado embaixador.
Os corpos dos anfibinóides são tele transportados para uma biosfera de
reclusão e quarentena. Ao longe, no espaço, já se observa as primeiras luzes de
saída de hipervelocidade de naves mães alienígenas seguindo para atacar o
Planeta Oceano.
- Conselheiro, poderíamos ficar aqui
e ajudar com esses intrusos!
- Agradecemos velho amigo. Podemos
enfrentá-los daqui. Nesse momento, Urbo e a embaixada precisam da sua ajuda.
- Seguiremos imediatamente
Conselheiro. Navan!
- Navan!
A Lua Negra segue para o Planeta Urbo.
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